Pesq. Vet. Bras. 37(12):1545-1553, dezembro 2017 DOI: 10.1590/S0100-736X2017001200030 1545 RESUMO.- Esse estudo teve como objetivo a padronização de um ensaio imunoenzimático competitivo (cELISA) in house para a determinação das concentrações plasmáticas do fator de crescimento semelhante a insulina I (IGF-I) total para a espécie bovina, utilizando o sistema de amplificação biotina-estreptavidina peroxidase. O IGF-I foi extraído das proteínas ligadoras do fator de crescimento semelhante a insulina I (IGFBP), utilizando o tampão glicina acidificado seguido de neutralização do pH com hidróxido de sódio. As microplacas foram sensibilizadas com anti IgG de coelho, e as dosagens realizadas utilizando duas abordagens, um mé- todo com incubação prévia das amostras com o anticorpo anti-h-IGF-I e outro sem incubação prévia (adição simultâ- nea de IGF-I biotilinado e amostra). Os melhores resultados foram obtidos utilizando o método sem incubação prévia, com a sensibilização da placa com 0,25μg/poço de anti-IgG de coelho, o anticorpo específico na diluição 1:250.000 e 0,06ng/poço de IGF-I biotinilado. O ensaio in house apre- sentou um limite inferior de detecção de 50ng/mL, uma correlação de 0,945 entre doses quando comparado a uma metodologia comercial. Os coeficientes de variação inter- -ensaio de 12,94% (345,8ng/mL) para os controles alto e 20,71% (131,6ng/mL) para o baixo. Dessa forma, conclui- -se que a metodologia imunoenzimática para quantificação de IGF-I total utilizando o sistema de amplificação biotina- Padronização da quantificação do fator de crescimento semelhante à insulina I (IGF-I) em plasma bovino por ELISA1 Marcos Antonio Maioli2* e Guilherme de Paula Nogueira2 ABSTRACT.- Maioli M.A. & Nogueira G.P. 2017. [Standardization of ELISA for the mea- surement of Insulin-Like Growth Factor I (IGF-I) in bovine plasm.] Padronização da quantificação do fator de crescimento semelhante a insulina I (IGF-I) em plasma bovino por ELISA. Pesquisa Veterinária Brasileira 37(12):1545-1553. Departamento de Apoio a Produção e Saúde Animal, Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba, Universidade Estadual Paulista, Unesp-Araçatuba, Rua Clóvis Pestana 793, Araçatuba, SP 16050-680, Brazil. E-mail: maioli_marcos@hotmail.com This study aimed to standardize an in house competitive enzyme-linked immunosor- bent assay (cELISA) to determine plasma concentrations of total insulin-like growth factor I (IGF-I) for the bovine specie using the amplification biotin-streptavidin peroxidase system. The IGF-I was extracted from insulin-like growth factor binding proteins (IGFBPs) using the acidified glycine buffer followed by the pH neutralization with sodium hydroxide. The mi- croplates were coated with anti-rabbit IgG, thereafter the measurements were carried out using two approaches, one with a prior incubation of samples with the anti-h-IGF-I antibody and another without previous incubation (simultaneous addition of IGF-I and biotinylated sample). The best results were obtained using the method without the prior incubation, us- ing the following combination of reagents: microplates were coated with 0.25µg/well of an- ti-rabbit IgG, the specific antibody at a dilution of 1:250,000 and 0.06ng/well of biotinylated IGF-I. The in house methodology showed sensitivity of 50ng/ml, a correlation between doses of 0.945 when compared to a commercial method. In addition, after 33 assays (quantifica- tion of 1114 samples) the proposed methodology presented a good precision, with inter-as- say variation coefficients of 12.94% and 20.71% for the high and low controls, respectively. Finally, we concluded that ELISA method for the quantification of total IGF-I using the system biotin-streptavidin-peroxidase amplification in a competitive assay is established and is pre- sented as a useful tool for studies aimed at monitoring the IGF-I concentrations. INDEX TERMS: Insulin-like growth factor I, IGF-I, plasm, bovine, ELISA, hormone, validation. 1 Recebido em 29 de janeiro de 2016. Aceito para publicação em 11 de abril de 2017. 2 Departamento de Apoio a Produção e Saúde Animal, Faculdade de Me- dicina Veterinária, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Fi- lho (Unesp), Rua Clóvis Pestana 793, Dona Amélia, Araçatuba, SP 16050- 680, Brasil. E-mail: gpn@fmva.unesp.br, *Autor para correspondência: maioli_marcos@hotmail.com Pesq. Vet. Bras. 37(12):1545-1553, dezembro 2017 1546 Marcos Antonio Maioli e Guilherme de Paula Nogueira -estreptavidina peroxidase em um ensaio competitivo está estabelecida e apresenta-se como uma ferramenta útil para estudos que visem o monitoramento das concentrações de IGF-I. TERMOS DE INDEXAÇÃO: Fator de crescimento, insulina I, IGF-I, plasma, bovino, ELISA, hormônio, validação. INTRODUÇÃO O fator de crescimento semelhante à insulina I (IGF-I), ou somatomedina C, é um peptídeo com peso molecular de aproximadamente 7,6kDa composto por 70 aminoácidos pertencente à superfamília da insulina, devido a sua relação estrutural com a pró-insulina (Andoh 2005). É um potente mitógeno sintetizado por diversos órgãos, principalmente pelo fígado, em resposta ao hormônio de crescimento pro- duzido pela hipófise (Yakar et al. 1999) e que atua como mediador metabólico relacionado com o início da puberda- de em novilhas (Radcliff et al. 2004, Beltran 2007). A atividade estimulatória sobre os processos reprodutivos desempenhada pelo IGF-I ocorre de duas maneiras, uma por ação local nos ovários estimulando o crescimento fo- licular que deriva em maior produção de estradiol com consequente liberação de picos do hormônio luteinizante (Simpson et al. 1991) e outra por ação direta no hipotálamo induzindo a liberação de kisspeptina que é um importante neurotransmissor estimulatório da secreção do hormônio liberador de gonadotrofinas (Hiney et al. 2010). O peso e a condição corporal, durante o período pré-pu- beral, são fatores determinantes para a primeira ovulação (Garcia et al. 2002) e apresentam correlação de 0,88 a 0,92 com as concentrações circulantes de IGF-I (Lacau-Mengido et al. 2000). Além da associação com os processos reprodu- tivos, a concentração periférica de IGF-I pode também ser utilizada como um parâmetro indicador do status nutricio- nal (Ketelslegers et al. 1995). Contudo, mesmo perante a reconhecida importância fi- siológica desse hormônio sobre os aspectos produtivos e reprodutivos, as metodologias disponíveis para dosagem de IGF-I em sua grande maioria não foram corretamente validadas para a espécie bovina e apresentam um elevado custo, limitando o estudo desse hormônio em pesquisas desenvolvidas com elevado número de animais. Sendo as- sim, o objetivo dessa pesquisa consistiu na padronização um ensaio imunoenzimático competitivo (cELISA) para a determinação das concentrações plasmáticas de IGF-I total para a espécie bovina, utilizando o sistema de amplificação biotina-estreptavidina peroxidase. MATERIAL E MÉTODOS Preparação do IGF-I conjugado com biotina Para a conjugação, a biotina utilizada foi o éster do ácido bioti- namidohexanóico N-hidroxisuccinimídico (Biotinamidohexanoic acid N-hydroxysuccinimide ester, Sigma-Aldrich, cod. B2643) e o hormônio h-IGF-I (Sigma-Aldrich, cod. I3769). Inicialmente, foi preparada uma solução de biotina 1mg/mL em dimetilsulfóxido (DMSO) e 25µg de IGF-I foram solubilizados em 200µL de PBS (50mM NaPO4 e NaCl 150mM) pH=7,4. Em seguida, em um frasco protegido da luz, 29,6µL da solução de biotina foram misturados com 200µL da solução contendo o hormônio, sendo respeitada a razão de 20mol de biotina para cada mol de hormônio (20:1, mol/ mol) e foi realizada uma incubação por 3 horas à temperatura am- biente sob agitação constante. Ao final da incubação, a conjugação foi interrompida com 20µL de NH4Cl 1M por 30min à temperatura ambiente. Posterior- mente, ao conjugado foram adicionados 2mL de PBS acrescido de BSA 1%. A biotina livre e o excesso de sais foram removidos por filtra- ção, utilizando uma coluna de dessalinização (Vivaspin 2, GE He- althcare, cod. 28-9322-40) com filtro de 3kDa. Foram realizadas 3 centrifugações a 3000x g por 50 minutos a 4oC, e a cada centrifu- gação, o volume do filtrado no interior da coluna era reposto pela adição do mesmo volume de PBS (50mM NaPO4 e NaCl 150mM) pH=7,4. Por fim, ao hormônio biotinilado foi adicionado glicerol na proporção 1:1 (v/v), e este aliquotado e estocado a -20oC. Para posterior utilização nos ensaios, o antígeno conjugado teve sua concentração estimada levando-se em consideração a massa de IGF-I utilizada (25µg) e o volume final obtido (2,9mL), sendo a concentração estimada de 8,62µg/mL Extração para quantificação de IGF-I total O método adotado para extração das amostras, ou seja, desli- gamento do IGF-I das proteínas ligadoras do fator de crescimento semelhante à insulina I (IGFBP) foi o mesmo descrito por Lalman et al. (2000). Em tubos de polipropileno 12x75mm foram adicio- nados 460µL de tampão de ensaio, composto por 120mM de NaCl, 20mM Na2HPO4, 10mM de EDTA, 0,05% de Tween 20, 0,02% de sulfato de protamina e gelatina 1%, pH=7,3, 10µL de amostra e 400µL de tampão glicina 1M pH=3,2. Os tubos foram tampados, o conteúdo homogeneizado em vórtex multitubos (VWR, mode- lo VX-2500) e incubados por 48 horas a 37oC. Após esse período de incubação em meio ácido, o pH foi neutralizado pela adição de 130µL de NaOH 0,5N. Nesse sistema de extração do IGF-I são utilizados 10µL de amostras que posteriormente são diluídos em 990µL de uma combinação de reagentes (tampão de ensaio, tampão glicina e NaOH), resultando em um fator de diluição de 1:100 que será con- siderado na elaboração da curva padrão. Preparo das microplacas (sensibilização e bloqueio) Para sensibilização das microplacas de 96 poços (Nunc, Ma- xisorp, Thermo Scientific, cod. 80040LE0910) foi utilizada IgG de cabra anti-IgG de coelho (Sigma-Aldrich, cod. R2004). A cada poço foram adicionados 100µL de tampão carbonato 0,0522M, pH=9,6 contendo anti-IgG de coelho (em diferentes concentrações). Após incubação overnight a 4oC, as placas foram lavadas com 300µL/ poço de solução de Tween 80 0,05% por 2 vezes, utilizando lava- dora de microplacas Thermo Scientific (cod. 5165000). Posteriormente, foram realizados dois bloqueios dos sítios de ligação remanescentes nos poços, com a adição de 300µL/poço de PBS-BSA 1%, pH=7,2. A cada bloqueio as placas foram incubadas a 37oC por 50 min e submetidas a duas lavagens com solução de Tween 80 0,05%. Estabelecimento da curva padrão Para elaboração dos padrões foi utilizado o h-IGF-I recombi- nante (Sigma-Aldrich, cod. I3769) sendo considerado nesta etapa a diluição de 1:100 induzida pelo processo de extração. Dessa for- ma, foi eliminada a necessidade de correção da dose após a quan- tificação das amostras. Foi preparada uma solução estoque com 12ng/mL, o equi- valente a 1200ng/mL, e a partir dessa solução foram realizadas diluições seriadas para elaboração dos demais padrões. As con- centrações utilizadas foram as equivalentes a 2,34; 4,68; 9,36; Pesq. Vet. Bras. 37(12):1545-1553, dezembro 2017 1547Padronização da quantificação do fator de crescimento semelhante a insulina I (IGF-I) em plasma bovino por ELISA 18,75; 37,5; 75; 150; 300; 600ng/mL. Essa faixa de concentração foi escolhida por abranger as concentrações fisiológicas de IGF-I no soro de bovino como apresentado por Buratini et al. (2000) e Cooke et al. (2013). Foram realizados testes com diferentes volumes da curva pa- drão (20; 40; 60 e 80µL/poço), com o intuito de identificar o mais adequado para o ensaio. Para isso, os dados foram plotados em gráficos, sendo que no eixo X foram inseridas as concentrações dos padrões convertidas em logaritmo de base 10 e no eixo Y fo- ram inseridos os valores das densidades ópticas e aplicada a re- gressão logística de 4 parâmetros. Os critérios adotados para escolha do volume foram: índice de correlação entre a densidade óptica obtida e as doses ≥0,9 assim como os valores de IC50 (concentração efetiva do antígeno que provoca a redução de 50% da variação total da densidade óptica). Procedimentos adotados para estabelecimento do ensaio Testes de ligação. Previamente ao estabelecimento da curva padrão e quantificação de amostras, foram realizadas avaliações para encontrar a melhor combinação entre a concentração do an- ticorpo específico, anticorpo de captura e do antígeno marcado para utilização nos ensaios. Foram testados dois protocolos experimentais: (i) após a sensibilização das microplacas com diferentes concentrações de anti-IgG de coelho (0,25; 0,5; 0,75 e 1µg IgG/poço), como descri- to no item preparo das placas, foram adicionados 100µL de di- ferentes diluições de anticorpo anti-h-IGF-I (Hormone & Pituita- ry Program, Harbor-UCLA Medical Centre, Carson, CA, USA, cod. AFP4892898) preparadas em tampão de ensaio, seguida pela adição de diferentes concentrações de IGF-I conjugado a biotina (0,04; 0,08; 0,16; 0,32ng/100 µL/poço) diluído em tampão de en- saio, sendo então realizada uma incubação a 4oC por 4 horas; (ii) consiste nos mesmos passos descritos acima, contudo as diluições do anticorpo específico e do antígeno marcado foram ampliadas, assim como o tempo de incubação (24h). Em ambos os protoco- los, durante esta etapa, não foram realizadas lavagens entre a adi- ção do anticorpo específico e antígeno biotinilado. Após a incubação com o antígeno marcado, em ambos os sistemas citados, foram realizadas duas lavagens com Tween 80 0,05%, com posterior adição de 2,5mU de peroxidase/100 µL/ poço (Streptavidin-POD conjugate 500U/mL, Roche). As micro- placas foram protegidas da luz e incubadas por 30 minutos a 4oC, uma vez que a peroxidase é sensível à luz. Ao término da incu- bação as placas foram submetidas a 3 lavagens com Tween 80 0,05%, e então foram adicionados 100µL/poço de substrato com- posto por 2mM 3,3’,5,5’-Tetrametilbenzidina (TMB), 100 mM de ácido cítrico, 10,63 mM de peróxido de ureia, 126,8mM de Na2H- PO4 e 4% de DMSO. As microplacas foram incubadas a 37oC, protegidas da luz, por 40 minutos e a reação de oxidação do substrato pela enzima foi interrompida pela adição de 30µL/poço de ácido sulfúrico 2M. A determinação da densidade óptica foi imediatamente realizada em leitor de microplacas (Sunrise, Tecan, cod. 16039400), utili- zando o comprimento de onda de 450nm. Ensaio para quantificação de IGF-I. Foram testados dois protocolos experimentais, sendo a principal variação entre os dois a existência ou não de uma pré-incubação entre as amostras e o anticorpo anti-IGF-I para posterior adição do antígeno mar- cado. O primeiro protocolo, com incubação prévia, teve início com a sensibilização da microplaca com posterior bloqueio. Foram adicionados sequencialmente os padrões, amostras (nos poços referentes a ligação não específica, ligação máxima e branco foi adicionado tampão de ensaio) e 100µL/poço do anticorpo anti- -IGF-I, seguida de incubação de 24 horas a 4oC. Posteriormente, as microplacas foram lavadas por duas vezes com solução de Tween 80 0,05% e após a lavagem adicionou-se 100µL/poço do IGF-I biotinilado e uma nova incubação a 4oC por 4 horas foi realizada. Ao final desse período, foram realizadas duas lavagens com Tween 80 0,05% e os passos posteriores (adi- ção da peroxidase, substrato e leitura) foram os mesmos adotados nos testes de ligação. No segundo protocolo, sem incubação prévia, após a sensibili- zação e bloqueio das placas, foram adicionados sequencialmente os padrões, amostras (nos poços referentes à ligação não especí- fica, ligação máxima e branco foi adicionado tampão de ensaio), 100µL/poço do anticorpo anti-IGF-I e 100µL/poço do IGF-I bio- tinilado, não sendo realizadas incubações ou lavagens das micro- placas entre as adições dos reagentes citados. Após a inclusão dos reagentes acima citados foi realizada uma incubação de 24 horas a 4oC, seguida por duas lavagens com Twe- en 80 0,05%. Os passos subsequentes (adição da peroxidase, subs- trato e leitura) foram os mesmos realizados nos testes de ligação. Procedimentos de validação do método in house Exatidão e Precisão. A exatidão foi avaliada por meio da com- paração das concentrações obtidas pelos diferentes protocolos in house de ELISA apresentados nesse estudo (com e sem incubação prévia das amostras com o anticorpo específico) e as obtidas, com as mesmas amostras, utilizando o kit comercial de ELISA adqui- rido da Anshlabs (cod. AL-121) para quantificação de IGF-I total, seguindo as instruções do fabricante. Para isso, foram quantificadas 37 amostras de plasma coleta- das de 3 novilhas da raça Nelore durante os 7 primeiros meses de vida em experimento realizado entre os anos de 2011 e 2013. A quantificação das amostras utilizando o kit comercial foi realizada em duplicata, já as quantificações das amostras com o método in house foram realizadas em dois ensaios independentes e em du- plicata. As doses obtidas entre as duas metodologias foram corre- lacionadas e a diferença percentual calculada. A avaliação da precisão do método in house foi realizada ape- nas no método sem incubação prévia. Em amostras de plasma, coletadas de vacas no quarto dia pós-parto, foram adicionados 350 e 100ng/mL de IGF-I e realizado o processo de extração para posterior quantificação. O plasma descrito acima, utilizado como matriz de diluição, foi submetido a dosagem de IGF-I utilizando o kit fornecido pela Anshlabs e apresentou concentrações inferiores a faixa de detec- ção do kit (7,5ng/mL), valores similares aos apresentados por Piechotta et al. (2014). A principal razão do uso do plasma como diluente foi simular os efeitos da matriz de diluição, além disso para evitar que o IGF-I livre adicionado ficasse ligado às IGFBP presentes no plasma foi realizada a extração. Essas amostras enriquecidas foram utiliza- das como controles alto e baixo e a precisão dos ensaios in house foi avaliada pelos coeficientes de variação das doses desses con- troles intra e inter-ensaio. Sensibilidade e limite de quantificação inferior. A avalia- ção desses parâmetros foi realizada utilizando o teste de para- lelismo, sendo que para o correto estabelecimento desses parâ- metros foi levada em consideração a necessidade do processo de extração, por esse motivo a diluição sequencial foi realizada na amostra previamente a extração. Para isso, uma amostra foi dosada utilizando o método in hou- se sem ou com diluição sequencial, utilizando como diluente o tampão de ensaio (1:2, 1:4, 1:8, amostra/tampão). Essas amostras foram extraídas em duplicata e quantificadas em triplicata em 2 ensaios independentes. Os resultados foram comparados com a dose obtida com o kit e a dose estimada resultante das diluições subsequentes. Pesq. Vet. Bras. 37(12):1545-1553, dezembro 2017 1548 Marcos Antonio Maioli e Guilherme de Paula Nogueira Avaliação da linearidade do método. O estudo da lineari- dade do ELISA in house proposto, ou seja, a avaliação da lineari- dade da variação da densidade óptica, em reposta à inclusão de concentrações crescentes de IGF-I, foi feita nas 4 curvas padrão realizadas durante os ensaios de quantificação de IGF-I nos testes de aplicabilidade do método. Os valores calculados pela equação resultante da conversão dos dados foram comparados com a concentração nominal dos padrões e os resíduos (diferença entre as doses nominais e as cal- culadas) plotados em gráficos para avaliação da dispersão. Esses resultados foram comparados com os obtidos com a equação logística de 4 parâmetros (método não linear de cálculo das doses). Análise estatística. O modelo estatístico utilizado para aná- lise e elaboração da curva padrão foi a regressão logística de 4 parâmetros. Para avaliação da exatidão do método analítico, foi realizada a correlação de Pearson seguida pela regressão linear, nos testes de linearidade foram realizadas avaliações da distribui- ção de resíduos. O programa utilizado para os cálculos estatísticos foi o GraphPad Prism, versão 6.0 para Windows. RESULTADOS Testes de ligação No teste de ligação com incubação de apenas 4 horas a combinação de diluições que resultou em uma densidade óptica próxima a 1,0 foi 0,25µg de IgG anti-coelho/poço, 0,08ng de IGF-I conjugado à biotina/poço e o anticorpo anti-IGF-I na diluição 1:80.000 (Fig.1A). Para o teste de ligação com incubação de 24 horas (Fig.1B), foram obtidas densidades ópticas mais eleva- das, por esse motivo além das concentrações testadas anteriormente foram testadas diluições maiores do an- ticorpo (1:160.000; 1:200.000; 1:250.000 e 1:300.000) e menores quantidades de IGF-I biotinilado (0,04; 0,06; 0,08 e 0,16ng/poço). Nesse caso, a combinação escolhida foi 0,25 µg de anti- IgG de coelho/poço, 0,06 ng de IGF-I biotinilado/poço e o anticorpo anti-IGF-I nas diluições de 1:80.000 e 1:250.000 que resultaram em uma densidade óptica próxima a 2,0. Curva padrão Inicialmente, foram elaboradas 11 soluções padrão de IGF-I com concentrações crescentes: 2,34; 4,68; 9,37; 18,75; 37,5; 75; 150; 300; 600; 750 e 1000ng/mL. Na Figura 2A estão representados os resultados da va- riação do volume das soluções da curva padrão utilizando apenas o método com incubação prévia das amostras com o anticorpo anti-h-IGF-I. A utilização de 20 ou 40µL das so- luções da curva padrão produziram diminuição na densida- de óptica apenas a partir de 300 (2,47 unidades de log) e a 75ng/mL (1,87 unidades de log), respectivamente. Os melhores resultados foram obtidos com 60 e 80µL, que promoveram redução na densidade óptica a partir de 18,75ng/mL, com coeficientes de correlação de -0,9232 e -0,9528 e r2 0,9978 e 0,9905, respectivamente (Fig.2A). Todavia quando comparados os valores da soma de qua- drados (SQ) e o desvio padrão dos resíduos (DPRes), o uso de 60µL das soluções padrão apresentou valores de 0,0075 e 0,0205, sendo esses inferiores aos obtidos com o uso de 80µL (0,0354 para DP e 0,0444 para DPRes). Outro aspec- to avaliado foi o IC50, ou seja, a concentração que provoca a redução de 50% da variação total da densidade óptica Fig.1. Testes de ligação realizados com incubação a 4oC por (A) 4 horas e (B) 24 horas. As setas indicam as diferentes concentrações de anti-IgG de coelho utilizadas para sensibilização dos poços e as linhas pontilhadas delimitam os intervalos das diluições do anticorpo anti-IGF-I. DO = densidade óptica. Pesq. Vet. Bras. 37(12):1545-1553, dezembro 2017 1549Padronização da quantificação do fator de crescimento semelhante a insulina I (IGF-I) em plasma bovino por ELISA obtida na curva padrão, e o uso de 60 µL resultou em um IC50 de 224,1, superior ao obtido com 80µL (210,3) sendo assim escolhido como volume a ser utilizado para a realiza- ção dos ensaios. Além do estabelecimento do volume da curva padrão, as soluções com concentrações equivalentes a 2,34; 4,68; 9,37; 750 e 1000ng/mL foram retiradas da curva padrão em virtude da baixa variação na porcentagem de ligação (B/B0), inferior a 3% (Fig.2A). Sendo assim, as concentra- ções dos pontos da curva padrão variaram entre 18,75 e 600ng/mL. A partir desse ponto, as avaliações começaram a ser re- alizadas também com o protocolo sem incubação prévia, utilizando os mesmos parâmetros estabelecidos anterior- mente (volume e concentração dos padrões), porém com diferentes diluições de anticorpo anti-IGF-I (1:80.000; 1:160.000; 1:200.000; 1:250.000 e 1:300.000). Essa modificação resultou em redução na densidade óptica, sendo esta dependente do aumento da diluição do anticorpo anti-IGF-I, assim como na amplitude de variação da D.O. (Fig.2B,C). Os coeficientes de correlação e da regres- são no método sem incubação prévia das amostras com o anticorpo específico apresentaram valores numericamen- te superiores ao método com incubação prévia, além dis- so houve uma redução nos valores da soma de quadrados, bem como do desvio padrão dos resíduos, principalmente nas diluições de anticorpo 1:250.000 e 1:300.000, e o IC50 dessas curvas apresentou valor similar (Quadro 1). Exatidão e precisão Com o intuito de avaliar a exatidão do ensaio 37 amos- tras com concentrações altas, médias e baixas de IGF-I, fo- ram quantificadas utilizando-se kit comercial e os resulta- dos foram comparados com as concentrações obtidas nos métodos in house com ou sem incubação prévia. O ensaio com incubação prévia das amostras com o anticorpo apresentou concentrações inferiores (entre 90 a 66%) as obtidas com o kit comercial (Fig.3A), contudo o comportamento dos ensaios apresentou similaridade e uma correlação de 0,8065 entre os resultados. Já quando foi empregado o método sem incubação prévia, com diluição do anticorpo específico 1:80.000, as concentrações encon- tradas foram mais próximas ao método comercial, princi- palmente, nas amostras com concentrações de IGF-I eleva- das (Fig.3B), e a correlação entre as doses foi de 0,7746. Em função desses resultados, as amostras foram quan- tificadas novamente utilizando o protocolo que não reali- zava incubação previa das amostras, porém utilizando uma diluição maior do anticorpo (1:250.000). Como pode ser observado nas Figuras 4A e 4B, o aumento na diluição au- mentou a exatidão do método, sendo esta comprovada pela maior correlação (r=0,945) e pela linha de tendência entre as doses que apresentou r2 de 0,893. Como consequência do aumento da exatidão, foi obser- vada uma redução da diferença percentual, uma vez que 78% das amostras apresentaram diferença percentual in- ferior a 22% entre as doses obtidas com a metodologia in house em relação a comercial. Fig.2. Curvas padrão usadas como referência para quantificação de IGF-I. (A) Variação nos volumes dos pontos da curva padrão utilizando o protocolo com incubação prévia. (B) Curva padrão em ensaio sem incubação prévia utilizando 60µL das soluções padrão e anticorpo anti-IGF-I na diluição 1:80.000. (C) Curva padrão em ensaio sem incubação prévia utilizando 60µL das soluções padrão com diferentes diluições de anticorpo anti-IGF-I. Os experimentos foram realizados em triplicata e os resultados apresentados como média ±EPM. Quadro 1. Comparativo dos indices de correlação, r2, IC50, SQ e DPRes obtidos após a titulação do anticorpo anti-IGF-I no método sem incubação prévia das amostras com o anticorpo anti-h-IGF-I Diluição Correlação r2 IC50 SQ DP Res Anticorpo (ng/mL) 1:80.000 -0,9264 0,9902 240,2 0,1763 0,0469 1:160.000 -0,9661 0,9940 195,8 0,1433 0,0423 1:200.000 -0,9809 0,9933 209,9 0,1329 0,0407 1:250.000 -0,9910 0,9984 207,6 0,0025 0,0178 1:300.000 -0,9877 0,9974 145,4 0,0032 0,0199 r2 = coeficiente de regressão, IC50 = concentração capaz de provocar 50% do efeito máximo, SQ= soma de quadrados (escala logarítmica), DP Res = desvio padrão dos resíduos (valores absolutos da D.O.) Quadro 2. Avaliação da sensibilidade analítica após diluições seriadas de amostra de plasma em tampão de ensaio Fator de % da Valor Valor obtido % obtida diluição dose esperado* ± EPM do valor da amostra total (ng/mL) (ng/mL) esperado 1:2 50 173,3 146,6±4,86 42,2 1:4 25 86,65 69,4±2,68 20 1:8 12,5 43,32 46,8±3,49 13,5 Os dados apresentados são representativos de 2 extrações com 2 quan- tificações independentes realizadas em quadruplicata. *Concentração determinada pelo kit comercial. Pesq. Vet. Bras. 37(12):1545-1553, dezembro 2017 1550 Marcos Antonio Maioli e Guilherme de Paula Nogueira A metodologia sem incubação prévia e diluição do anti- corpo específico de 1:250.000 proporcionou boa precisão, pois os coeficientes de variação intra-ensaio para o contro- le alto e baixo, calculados após 33 ensaios realizados em 4 etapas com intervalos de 3 dias (5, 8, 10 e 10 ensaios/ dia), foram de 9,05±4,06% (com média de 345,8ng/mL) e 10,51±4,86% (com média de 131,6ng/mL), respectiva- mente. Já os coeficientes de variação inter-ensaio foram de 12,94% para o controle alto e 20,71% para o controle baixo. Limite de quantificação inferior Como apresentado no Quadro 2, as concentrações men- suradas pelo ensaio in house apresentaram redução pro- porcional em função do aumento da diluição da amostra até a razão de 1:8, ou seja, o equivalente a 12,5% do total de IGF-I presente na amostra (346,6±9,19ng/mL de IGF- -I, mensurado pelo kit comercial). A partir dessa diluição (1:8) a metodologia analítica apresentou início de perda na sensibilidade, sendo por isso estabelecido o limite de de- tecção próximo a 50ng/mL. Linearidade O ensaio in house de quantificação de IGF-I apresentou a variação da D.O. da curva padrão com comportamento não linear, por esse motivo a regressão logística de 4 parâme- tros foi aplicada (Fig.5A). Após a transformação das con- centrações dos padrões em log de base 10 e a conversão da D.O. em % B/B0 seguida pela aplicação da função logit, os dados passaram a apresentar característica linear (Fig.5B). No entanto, ao aplicar-se a equação linear para o cálcu- lo das concentrações dos padrões, houve uma maior dis- persão dos resíduos em relação a concentração nominal de cada padrão quando comparada com os resultados obtidos com a regressão logística de 4 parâmetros (Fig.5C,D). DISCUSSÃO O método descrito nesse trabalho é pioneiro na quantificação de IGF-I plasmático total utilizando a técnica de duplo anti- corpo com o sistema IGF-I-biotina-estreptavidina. Os méto- dos imunoenzimáticos (ELISA) atualmente disponíveis para quantificação desse hormônio são no sistema sanduíche, que utiliza um anticorpo específico para sensibilização da micro- placa e o marcado (especifico para outro epítopo do mesmo antígeno) ligado à peroxidase (horseradish peroxidase, HRP). Fig.3. (A) Correlação entre as doses obtidas com o kit comercial e o ensaio in house com incubação prévia ou (B) sem incuba- ção prévia da amostra com anticorpo anti-IGF-I na diluição 1:80.000. As dosagens com o kit foram realizadas em duplica- ta/amostra e as da metodologia in house em dois ensaios inde- pendentes realizados em duplicata/amostra e os resultados apresentados como média ±EPM. Fig.4. Comparativo das concentrações obtidas com a metodologia comercial e ensaio in house sem incubação prévia da amostra com anticorpo anti-IGF-I na diluição 1:250.000. (A) Amostras organizadas de forma decrescente em função da dose encon- trada com o kit comercial. (B) Correlação entre as doses obti- das com o kit e a metodologia sem incubação prévia das amos- tras com o anticorpo anti-h-IGF-I. As dosagens com o kit foram realizadas em duplicata/amostra e as da metodologia in house após dois ensaios independentes realizados em duplicata/ amostra e os resultados apresentados como média ±EPM. Pesq. Vet. Bras. 37(12):1545-1553, dezembro 2017 1551Padronização da quantificação do fator de crescimento semelhante a insulina I (IGF-I) em plasma bovino por ELISA A utilização de um anticorpo secundário (IgG produzi- das em cabra contra IgG de coelho) na sensibilização das placas apresenta-se como uma alternativa ao ELISA do tipo sanduíche, uma vez que reduz o coeficiente de variação in- tra-ensaio e diminui a quantidade de anticorpo específico (Meyer 1986) utilizado no ensaio. O primeiro passo para o estabelecimento do ELISA de captura consistiu na elaboração de testes de ligação que es- timam a melhor concentração do anticorpo secundário, do anticorpo específico e do IGF-I biotinilado. O antígeno biotinilado nesse método apresentou boa capacidade de ligação, na maioria das combinações de di- luição dos anticorpos testados e nos diferentes períodos de incubação, uma vez que as densidades ópticas ficaram acima de 1,0. Isso pode ser justificado pela possível conju- gação de mais de uma molécula de biotina em cada molécu- la de IGF-I, visto que a fonte de biotina utilizada apresenta elevada afinidade com aminas primárias presentes na lisi- na, e de acordo com Rinderknecht e Humbel (1977) esse hormônio possui 3 lisinas em sua estrutura. Ainda considerando os resultados dos testes de ligação, a concentração inicial do anticorpo de captura para ela- boração dos testes foi de 1µg de IgG de cabra anti coelho/ poço (anticorpo de captura), além de serem testadas con- centrações inferiores (0,25; 0,5 e 0,75µg/poço). A redução das concentrações do anticorpo de captura não foi um dos fatores limitantes (interferiu na DO final), indicando que o sistema de captação do complexo antígeno-anticorpo não foi afetado. O correto estabelecimento da quantidade de anticorpo anti IgG de coelho a ser utilizada para adsorção na micro- placa é importante nesse ensaio de captura em fase sólida, pois a inserção de grandes quantidades de anti-IgG pode induzir a formação de camadas sobrepostas com menor estabilidade em função das fracas interações das ligações existentes entre as proteínas dos anticorpos, o que com- promete a reprodutibilidade do ensaio (Butler 2000). Ao avaliarmos a influência das diluições do anticorpo específico e do antígeno conjugado à biotina na densidade óptica, foi possível observar que o maior fator de interfe- rência foi a concentração do IGF-I biotinilado, e com menor influência as diluições do anticorpo específico, utilizamos 0,06ng/poço de IGF-I biotinilado e a diluição 1:80.000 do anticorpo específico. Após o estabelecimento das proporções dos constituin- tes principais a serem utilizados nos ensaios, foram elabo- radas curvas padrão com diferentes volumes dos padrões (20, 40, 60 e 80µL). Para a escolha do volume mais adequa- do dos padrões e amostras para ser utilizado nos ensaios, os parâmetros considerados foram o índice de correlação entre a densidade óptica e o aumento das concentrações das soluções padrão (r), a confiabilidade da regressão (r2), o valor do IC50, a soma dos resíduos e o desvio padrão dos resíduos. Fig.5 Curvas padrão elaboradas utilizando o protocolo in house sem incubação prévia das amostras com o anticorpo anti-IGF-I na di- luição de1:250.000 e análise dos resíduos das doses nominais e das doses calculadas. (A) Regressão logística de 4 parâmetros. (B) Regressão linear após linearização dos dados com função log-logit. (C) Resíduos das doses calculadas pela regressão logistica de 4 parâmetros. (D) Resíduos das doses calculadas pelo metodo log-logit. Os dados, expressos pela média ±EPM, são representativos de quatro curvas padrão realizados em 3 dias diferentes e em duplicata. Pesq. Vet. Bras. 37(12):1545-1553, dezembro 2017 1552 Marcos Antonio Maioli e Guilherme de Paula Nogueira De acordo com o preconizado pela resolução RE899 (Anvisa 2003), em testes quantitativos para a determina- ção de princípio ativo em produtos farmacêuticos ou ma- térias primas (categoria I), os valores de r e r2 devem ser iguais ou superiores a 0,9 para utilização da curva como padrão de cálculo das concentrações das amostras. Com a utilização de 60 e 80µL os valores desses coeficientes fo- ram superiores a 0,98. Os critérios finais para a escolha entre os dois volumes acima citados foram a soma de quadrados (SQ) e o desvio padrão dos resíduos (DPRes), pois estas medidas de dis- persão indicam o quanto as D.O. estão distantes da equa- ção traçada (Souza 1998). O uso de 60µL dos calibradores apresentou valores inferiores de SQ e DPRes, por esse mo- tivo foi escolhido como volume a ser utilizado. Além disso, dos 11 padrões estabelecidos inicialmente, foram retiradas da curva as concentrações equivalentes a 2,34; 4,68; 9,37; 750 e 1000ng/mL. Com os parâmetros básicos do ensaio já determinados, foi realizada a quantificação do IGF-I de 37 amostras uti- lizando os dois protocolos in house, já descritos, com an- ticorpo específico na diluição de 1:80.000. O método com incubação prévia apresentou doses mais similares às do kit comercial quando comparado com o método sem incuba- ção prévia, todavia em amostras com baixas concentrações de IGF-I houve menor sensibilidade na detecção. Com base nesses resultados, o método com incubação prévia das amostras com o anticorpo específico deixou de ser utiliza- do e as quantificações foram novamente realizadas, agora utilizando apenas o método sem prévia incubação e com o anticorpo anti-IGF-I diluído para 1:250.000. O aumento da diluição do anticorpo específico, além de tornar o ensaio sem incubação prévia mais sensível à de- tecção de IGF-I, ampliou a exatidão do método sendo ob- tida uma correlação entre doses de 0,945 e uma diferença percentual menor entre as concentrações apresentadas pelo kit em relação ao método in house. Dessa forma, pode- -se dizer que a melhora dos resultados foi consequência de uma associação entre a redução da quantidade de anticor- pos específicos disponíveis, aliada a adição simultânea do antígeno marcado e da amostra. Contudo, a utilização do protocolo sem incubação pré- via diverge dos princípios adotados para a quantificação do mesmo hormônio por radioimunoensaio, visto que nas me- todologias descritas por Lacau-Mengido et al. (2000), Lal- man et al. (2000) e Breier et al. (1991) é realizada uma pré- -incubação das amostras com o anticorpo específico para posterior adição do IGF-I marcado com o radioisótopo. Mesmo com o desenvolvimento de um teste com eleva- da exatidão, e com uma evidente melhora na sensibilidade, foram realizados testes de paralelismo para comprovação da sensibilidade do método e estabelecimento do limite de quantificação inferior, de acordo com as exigências da reso- lução publicada pela ANVISA em 2003. Os testes demonstram que o método para quantificação de IGF-I produziu resultados bem próximos aos teóricos, calculados em função da diluição aplicada antes da extra- ção. Com esse mesmo teste foi possível observar que com diluições superiores a 1:8 (12,5% de amostra e 87,5% de tampão) aplicadas a uma amostra com 346ng de IGF-I/mL os resultados passaram a ser mais distantes da dose cal- culada. Em virtude disso, foi estabelecido como limite de quantificação inferior a dose de 50ng/mL, que se encontra bem abaixo das concentrações relatadas na literatura para espécie bovina, que pode variar de 150 a 600ng/mL (Cooke et al. 2013, Buratini 2000, Beltran 2007). Durante as análises de paralelismo também foram ava- liados os possíveis erros provocados pela extração das amostras. Em linhas gerais, o IGF-I produzido pelo fígado antes de ser liberado na corrente sanguínea é ligado à pro- teína transportadora de fatores de crescimento semelhan- tes à insulina (IGFPBs) com o intuito de facilitar o transpor- te e aumentar a meia vida do hormônio (Ballard et al. 1989, Blum et al. 1989). Nesse contexto, métodos que objetivam a quantificação de IGF-I total, e não apenas da fração livre, exigem um processo prévio de desligamento do hormônio das IGFPBs. A extração consiste na indução do desligamento pela acidificação da amostra com posterior neutralização, sendo amplamente difundidos os métodos que utilizam etanol- -ácido (Breier et al. 1991) e o tampão glicina acidificado (Lalman et al. 2000). No presente estudo, a extração foi re- alizada utilizando o tampão glicina 1M acidificado seguido da neutralização com NaOH, uma vez que esse método não exerce efeito negativo sobre a interação do antígeno com o anticorpo, induz eficientemente o desligamento do hor- mônio de sua proteína transportadora, além de não utilizar etanol, já que o uso de álcoois (principalmente com dois ou mais carbonos) pode alterar a conformação proteica difi- cultando a interação com o anticorpo nos sistemas imuno- enzimáticos (Von Maltzan & Pruet 2011). Dentre as inúmeras variações disponíveis em ensaios imunoenzimáticos, o ELISA do tipo sanduíche é reconheci- do como o de maior especificidade, pois o uso de dois an- ticorpos específicos (um adsorvido a fase sólida e o outro ligado a HRP) amplia a especificidade na detecção do antí- geno de interesse (Gan & Patel 2013). Comparando-se as doses do método in house de competição em relação ao kit, a proximidade encontrada entre as doses indica que não houve perda da especificidade mesmo utilizando apenas um anticorpo especifico policlonal nos ensaios. De acordo com a RE899 (Anvisa 2003), outro parâmetro que deve ser considerado durante a validação de ensaios quantitativos é a linearidade, ou seja, a variação nas con- centrações do analito deve produzir resposta linear e caso essa não exista deve se realizar transformação matemática para que seja atingida. No entanto, uma das características de ensaios imunológicos é a ausência de resposta linear e uma das transformações mais utilizadas para a lineariza- ção de dados é a Log-Logit (Deshpande 1996). Ao aplicar essa transformação nas D.O. da curva, os da- dos passaram a apresentar linearidade, ainda assim, foi re- alizada uma análise da dispersão dos resíduos das doses calculadas pela equação linearizada e as concentrações nominais dos padrões utilizados na curva de calibração, e posteriormente o mesmo foi realizado utilizando um méto- do não linear (regressão logística de 4 parâmetros). A dispersão dos resíduos quando aplicada a linearização Pesq. Vet. Bras. 37(12):1545-1553, dezembro 2017 1553Padronização da quantificação do fator de crescimento semelhante a insulina I (IGF-I) em plasma bovino por ELISA apresentou maior heterogeneidade de distribuição, princi- palmente nos extremos da curva padrão, sendo observado o oposto com a regressão logística. Essa heterogeneidade de distribuição indica que a equação não intercepta cor- retamente os pontos nos extremos da curva, provocando alteração na inclinação da equação e aumentando o nível de imprecisão. Sendo assim, o modelo mais adequado para conversão da densidade óptica das amostras para doses foi o não linear, mesmo apresentando característica não desejável pela resolução da ANVISA, a norma do INMETRO DOQ-CGCRE-008 (Inmetro 2007) permite a utilização des- se tipo de modelo para métodos analíticos que apresentam resposta não linear. CONCLUSÃO A metodologia imunoenzimática para quantificação de IGF-I total utilizando o sistema de amplificação biotina- -estreptavidina peroxidase em um ensaio competitivo está estabelecida e apresenta-se como uma ferramenta útil para estudos que visam o monitoramento das concen- trações de IGF-I. REFERÊNCIAS Andoh T. 2005. Development of non-radioisotopic immunoassay systems for measuring flounder IGF-I. Zool. Sci. 22:1023-1030. Anvisa 2003. 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