UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS CÂMPUS BOTUCATU “AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DOS CONTROLES E MOSTRADORES DO POSTO DE TRABALHO DO OPERADOR DE TRATORES” ANDRÉ LUIS DA SILVA Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP - Campus de Botucatu, para obtenção do título de Mestre em Agronomia - Área de Concentração em Energia na Agricultura. BOTUCATU - SP Janeiro – 2006 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS CÂMPUS BOTUCATU “AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DOS CONTROLES E MOSTRADORES DO POSTO DE TRABALHO DO OPERADOR DE TRATORES” ANDRÉ LUIS DA SILVA Orientador: PROF. DR. JOÃO EDUARDO GUARNETTI DOS SANTOS Co-Orientador: PROF. DR. MÁRIO MORIO ISA Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP - Campus de Botucatu, para obtenção do título de Mestre em Agronomia - Área de Concentração em Energia na Agricultura. BOTUCATU - SP Janeiro – 2006 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO TÉCNICA DE AQUISIÇÃO E TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO – SERVIÇO TÉCNICO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO UNESP - FCA - LAGEADO - BOTUCATU (SP) Silva, André Luis da, 1973- S586a Avaliação ergonômica dos controles e mostradores do posto de trabalho do operador de tratores / André Luis da Silva. – Botucatu, [s.n.], 2006. xvi, 137 f. : il. color., tabs. Dissertação (Mestrado) -Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agronômicas, Botucatu, 2005 Orientador: João Eduardo Guarnetti dos Santos Co-Orientador: Mário Morio Isa Inclui bibliografia 1. Ergonomia. 2. Tratores agrícolas. 3. Máquinas agríco-las. 4. Trabalho. I. Santos, José Eduardo Guarnetti dos. II. Isa, Mário Morio. III. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Campus de Botucatu). Faculdade de Ciências Agronômicas. IV. Titulo. II III DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a Deus, À minha família, aos meus pais Silvério da Silva e Maria Salete da Silva, e minha esposa Alexsandra Oliveira por terem me apoiado em todos os momentos. IV AGRADECIMENTOS A minha esposa Alexsandra, pela paciência, amor e colaboração nos momentos mais difíceis desta trajetória. Aos meus pais, Silvério e Salete por acreditarem em mim, e sempre me apoiarem tanto financeiramente como moralmente, me instruindo no caminho correto a seguir. Aos meus irmãos Ana Paula, Ana Carolina e Adolfo, minha cunhada Marizana e minha sobrinha Amanda, por me agüentar nos momentos de empolgação e por me apoiarem nos momentos de dificuldade. A grande família Oliveira que me acolheu como um filho em sua casa, não só na alimentação, mas com o apoio que precisei, ao Sr. Ariovaldo meu sogro, Dna. Zilda minha sogra, meus cunhados Kátia e Júnior. A Cristiane Affonso e Davi, pela amizade, apoio e pelos bons momentos nas viagens. A Rejane e Maria Tereza, Dani, Cibele e Flávia, super amigas, que me apoiaram desde o início desta jornada e me auxiliaram nos momentos difíceis. Aos professores do Departamento de Design, pelo apoio e compreensão neste período. Aos amigos da Secretaria do CECA e Dna. Graça, que me auxiliaram na realização deste trabalho. Ao amigo Prof. Dr. Otávio Jorge Grigoli Abi-Saab e aos alunos e funcionários da UEL, que me auxiliaram na pesquisa. Ao meu amigo Ademilson Coneglian (Macatuba), pelos bons momentos, pelas pizzas na janta e pelo apoio. Ao meus orientadores e amigos, Prof. Dr. João Eduardo Guarnetti dos Santos e Prof. Dr. Mário Morio Isa, pela orientação e por acreditar em mim e neste trabalho. Aos membros da banca, Prof. Dr. João Cândido Fernandes, Prof. Dr. Marcos Roberto Bormio e Dr. Jair Rosas da Silva, pelas sugestões que enriqueceram este trabalho. A todos da FCA - Unesp de Botucatu, pela colaboração e a realização deste trabalho. V SUMÁRIO 1 RESUMO.................................................................................................................................1 2 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................3 3 REVISÃO DE LITERATURA..............................................................................................6 3.1 Histórico do trator..............................................................................................................6 3.2 Energia humana .................................................................................................................8 3.3 Ergonomia .......................................................................................................................10 3.4 Posto de trabalho .............................................................................................................16 3.5 Antropometria..................................................................................................................27 3.6 Biomecânica ....................................................................................................................30 3.7 Controles e manejos ........................................................................................................39 3.8 Dispositivos de informação .............................................................................................52 3.8.1 Cores e contrastes .....................................................................................................54 3.9 Sistema CAD ...................................................................................................................56 3.10 Normas ..........................................................................................................................60 4 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................63 4.1 Material............................................................................................................................63 4.1.1 Tratores utilizados para avaliação ............................................................................63 4.1.2 Operadores................................................................................................................66 4.1.3 Ambiente de coleta de dados para a pesquisa...........................................................67 4.1.4 Equipamentos ...........................................................................................................67 4.2 Métodos ...........................................................................................................................67 4.2.1 Metodologia para a avaliação do posto de trabalho. ................................................67 4.2.2 Levantamento de dados ............................................................................................69 4.2.2.1. Obtenção das Medidas do Posicionamento dos Controles e Mostradores do Posto de Trabalho...........................................................................................................70 4.2.3 Avaliação Ergonômica .............................................................................................71 4.2.4 Pesquisa de opinião ..................................................................................................72 4.2.4.1. Introdução à pesquisa...........................................................................................72 Página VI 4.2.5 Análise estatística dos dados da pesquisa com o operador.......................................73 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .........................................................................................74 5.1.1 Trator modelo New Holland 7630............................................................................75 5.1.2 Trator modelo Massey Ferguson 292 .......................................................................79 5.1.3 Trator modelo Valtra BM 100..................................................................................83 5.1.4 Trator modelo John Deere 6405 ...............................................................................87 5.2 Controles..........................................................................................................................91 5.2.1 Avaliação do controle do interruptor de partida.......................................................91 5.2.2 Avaliação do controle da partida a frio ....................................................................91 5.2.3 Avaliação do controle de tração ...............................................................................92 5.2.4 Avaliação do controle de redução de marcha...........................................................93 5.2.5 Avaliação do controle da tomada de força. ..............................................................94 5.2.6 Avaliação do controle da velocidade da tomada de força ........................................96 5.2.7 Avaliação do controle do controle remoto 1 ............................................................96 5.2.8 Avaliação do controle do controle remoto 2 ............................................................97 5.2.9 Avaliação do controle da alavanca de profundidade ................................................98 5.2.10 Avaliação do controle de levantar e abaixar o implemento agrícola......................99 5.2.11 Avaliação do controle do limitador de altura .......................................................100 5.2.12 Avaliação do controle da velocidade de descida do implemento.........................101 5.2.13 Avaliação do controle do limitador de curso........................................................102 5.2.14 Avaliação do controle do seletor de sensibilidade................................................102 5.2.15 Avaliação do controle do bloqueio do diferencial................................................103 5.2.16 Avaliação do controle do acelerador manual .......................................................104 5.2.17 Avaliação do controle do acelerador de pé...........................................................104 5.2.18 Avaliação do controle do freio .............................................................................105 5.2.19 Avaliação do controle da embreagem ..................................................................106 5.2.20 Avaliação do controle do freio de estacionamento...............................................106 5.2.21 Avaliação do controle da alavanca de mudança/câmbio ......................................108 5.2.22 Avaliação do controle da alavanca alta e baixa/grupos........................................109 5.2.23 Avaliação do controle da alavanca de regime ou reversor ...................................109 5.2.24 Avaliação do controle da luzes/farol ....................................................................110 Página VII 5.2.25 Avaliação do controle da luzes/farol – alta e baixa ..............................................111 5.2.26 Avaliação do controle do volante .........................................................................111 5.2.27 Avaliação do controle do botão de alerta .............................................................112 5.2.28 Avaliação do controle da alavanca de seta ...........................................................112 5.2.29 Avaliação do controle da buzina ..........................................................................113 5.2.30 Avaliação do controle da regulagem da inclinação do volante ............................113 5.3 Mostradores ...................................................................................................................114 5.3.1 Avaliação do mostrador do conta-giros..................................................................114 5.3.2 Avaliação do mostrador do marcador de combustível ...........................................115 5.3.3 Avaliação do mostrador do horímetro ....................................................................116 5.3.4 Avaliação do mostrador da temperatura da água....................................................116 5.3.5 Avaliação do mostrador de pressão de óleo ...........................................................117 5.3.6 Avaliação do mostrador da carga do alternador .....................................................118 5.3.7 Avaliação do mostrador do indicador do bloqueio do diferencial..........................119 5.3.8 Avaliação do mostrador do indicador de obstrução do filtro de ar ........................119 5.3.9 Avaliação do mostrador do indicador da tomada de força ligada ..........................120 5.4 Resultado da Pesquisa ...................................................................................................120 5.4.1 Pergunta 1 ...............................................................................................................120 5.4.2 Pergunta 2 ...............................................................................................................121 5.4.3 Pergunta 3 ...............................................................................................................122 5.4.4 Pergunta 4 ...............................................................................................................122 5.4.5 Pergunta 5 ...............................................................................................................123 5.4.6 Pergunta 6 ...............................................................................................................124 5.4.7 Pergunta 7 ...............................................................................................................125 5.4.8 Pergunta 8 ...............................................................................................................125 5.4.9 Pergunta 9 ...............................................................................................................126 5.4.10 Pergunta 10...........................................................................................................127 5.4.11 Pergunta 11...........................................................................................................128 5.4.12 Pergunta 12...........................................................................................................128 5.4.13 Pergunta 13...........................................................................................................129 5.4.14 Pergunta 14...........................................................................................................130 Página VIII 5.5 Análise dos resultados ...................................................................................................131 6 CONCLUSÃO.....................................................................................................................132 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................133 Página IX LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Máquina a vapor ano 1869. ........................................................................................7 Figura 2 - Auto-arado de Hackney ano 1912. .............................................................................7 Figura 3 - Representação esquemática das principais funções do metabolismo humano. ..........9 Figura 4 - Exemplos de gastos energéticos (kcal/min) em algumas tarefas típicas. .................10 Figura 5 - Quadro correspondente aos procedimentos de pesquisa em ergonomia e as etapas da análise ergonômica de uma situação de trabalho. ....................................................16 Figura 6 - Diagrama homem-máquina.......................................................................................17 Figura 7 - Redesign do posto de trabalho. .................................................................................18 Figura 8 - Substituição do arado de tração animal, pelo trator..................................................19 Figura 9 - Tratorista ideal. .........................................................................................................20 Figura 10 - Dimensões recomendadas para o posto de trabalho sentado. .................................21 Figura 11 - Zonas de alcances preferenciais e máximos para a posição sentado. .....................22 Figura 12 - Espaço de preensão horizontal no plano sagital. ....................................................22 Figura 13 - Alcances verticais máximos, abrangendo 99% da população dos Estados Unidos, referente ao homem. ..............................................................................................23 Figura 13 - Alcances horizontais máximos, abrangendo 99% da população dos Estados Unidos, referente ao homem.................................................................................24 Figura 14 - Área ótima e máxima para controles ativados com os pés. ....................................25 Figura 14 - Postura das mãos e cotovelos em relação ao corpo. ...............................................26 Figura 15 - Postura das mãos e cotovelos em relação ao ombro...............................................26 Figura 16 - Linha normal de visão. ...........................................................................................27 Figura 17 - Os músculos opera em condições desfavoráveis de irrigação sanguínea durante o trabalho estático, com a demanda superando o suprimento, enquanto há equilibrio entre a demanda e o suprimento durante o repouso e o trabalho dinâmico...........32 Figura 18 - Estrutura dos ossos da bacia – visão da tuberosidade isquiática. ...........................33 Figura 19 - Os músculos funcionam sempre em pares, de modo que, quando um deles se contrai, o seu antagônico se distende. Esse mecanismo torna possível realizar movimentos musculares suaves............................................................................34 Figura 20 - Representação dos principais movimentos relacionados ao antebraço e mão........34 Página X Figura 21 - Representação dos principais movimentos relacionados à mão .............................35 Figura 22 - Movimento de circundução ....................................................................................35 Figura 23 - Movimentos de flexão, extensão e hiperextensão. .................................................36 Figura 24 - Movimentos de dorsiflexão e fexão plantar............................................................37 Figura 25 - Movimentos de abdução e adução. .........................................................................37 Figura 26 - Movimentos de eversão e inversão.........................................................................38 Figura 27 - Movimentos de rotação da perna. ...........................................................................38 Figura 28 - Figura dos princípios da associação dos movimentos de mostradores com os dos controles.................................................................................................................41 Figura 29 - Exemplos de botões de pressão. .............................................................................44 Figura 30 - Interruptor de alavanca. ..........................................................................................45 Figura 31 - Exemplos de alavancas. ..........................................................................................46 Figura 32 - Exemplos de botões rotativos, “track ball”, empunhadura e “joystick”.................47 Figura 33 - Exemplos de manivelas, volantes e roda cruz. .......................................................47 Figura 34 - Exemplos de pedais. ...............................................................................................48 Figura 35 - Exemplos para prevenção de acidentes no uso de controles. .................................49 Figura 36 – Exemplos de manejo fino e grosseiro. ...................................................................50 Figura 37 - Forma adequada de pega. .......................................................................................51 Figura 38 - Exemplos de mostradores quantitativos. ................................................................52 Figura 39 - Exemplos de mostradores qualitativos. ..................................................................53 Figura 40 - Etapas do sistema CAD. .........................................................................................58 Figura 41 - Projeto de trator fabricado pela AGCO. .................................................................59 Figura 42 - Acomodação do assento do operador, vista lateral.................................................61 Figura 43 - Acomodação do assento do operador, vista superior..............................................61 Figura 44 - Posição do pedal em relação ao SIP .......................................................................62 Figura 45 - Trator New Holland 7630. ......................................................................................64 Figura 46 - Trator Massey Ferguson 292. .................................................................................65 Figura 49 - Exemplo da obtenção das coordenadas. .................................................................70 Figura 50 - Zona de alcance recomendada no plano sagital para os membros superiores e inferiores do operador no posto de trabalho do trator New Holland 7630, segundo McCormick (1980) e Tilley e Dreyfuss (2001). ..................................................75 Página XI Figura 51 - Espaço do plano sagital vertical para os membros superiores e linha normal de visão do operador no posto de trabalho do trator New Holland 7630, segundo Grandjean (1998). ..................................................................................................76 Figura 52 - Zona de alcance recomendada para o plano sagital horizontal e área útil para controles ativados com os pés do operador no posto de trabalho do trator New Holland 7630, segundo Iida (2000), McCormick (1980) e Tilley e Dreyfuss (2001)....................................................................................................................77 Figura 53 - Zona de alcance para o plano sagital horizontal para membros superiores do operador no posto de trabalho do trator New Holland 7630, segundo Grandjean (1998)....................................................................................................................78 Figura 54 - Zona de alcance recomendada para o plano sagital para os membros superiores e inferiores do operador no posto de trabalho do trator Massey Ferguson 292, segundo McCormick (1980) e Tilley e Dreyfuss (2001)......................................79 Figura 55 - Espaço do plano sagital vertical para os membros superiores e linha normal de visão do operador no posto de trabalho do trator Massey Ferguson 292, segundo Grandjean (1998). .................................................................................................80 Figura 56 - Zona de alcance recomendada para o plano sagital horizontal e área útil para controles ativados com os pés do operador no posto de trabalho do trator Massey Ferguson 292, segundo Iida (2000), McCormick (1980) e Tilley e Dreyfuss (2001)....................................................................................................................81 Figura 57 - Zona de alcance plano sagital horizontal para membros superiores do operador no posto de trabalho do trator Massey Ferguson 292, segundo Grandjean (1998). ..82 Figura 58 - Zona de alcance recomendada para o plano sagital para os membros superiores e inferiores do operador no posto de trabalho do trator Valtra BM 100, segundo McCormick (1980) e Tilley e Dreyfuss (2001). ...................................................83 Figura 59 - Espaço do plano sagital vertical para os membros superiores e linha normal de visão do operador no posto de trabalho do trator Valtra BM 100, segundo Grandjean (1998). .................................................................................................84 Figura 60 - Zona de alcance recomendada para o plano sagital horizontal e área útil para controles ativados com os pés do operador no posto de trabalho do trator Valtra BM 100, segundo Iida (2000), McCormick (1980) e Tilley e Dreyfuss (2001)..85 Página XII Figura 61 - Zona de alcance para o plano sagital horizontal para membros superiores do operador no posto de trabalho do trator Valtra BM 100, segundo Grandjean (1998)....................................................................................................................86 Figura 62 - Zona de alcance recomendada para o plano sagital para os membros superiores e inferiores do operador no posto de trabalho do trator John Deere 6405, segundo McCormick (1980) e Tilley e Dreyfuss (2001). ...................................................87 Figura 63 - Espaço do plano sagital vertical para os membros superiores e linha normal de visão do operador no posto de trabalho do trator John Deere 6405, segundo Grandjean (1998). .................................................................................................88 Figura 64 - Zona de alcance recomendada para o plano sagital horizontal e área útil para controles ativados com os pés do operador no posto de trabalho do trator John Deere 6405, segundo Iida (2000), McCormick (1980) e Tilley e Dreyfuss (2001). ..............................................................................................................................89 Figura 65 - Zona de alcance para o plano sagital horizontal para membros superiores do operador no posto de trabalho do trator John Deere 6405, segundo Grandjean (1998)....................................................................................................................90 Página XIII LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Variáveis antropométricas do posto de trabalho. .....................................................29 Tabela 2 – Distribuição percentual do peso de partes do corpo. ...............................................32 Tabela 3 - Localização das dores no corpo................................................................................33 Tabela 4 - Variáveis antropométricas da biomecânica..............................................................39 Tabela 5 - Tabela dos princípios de economia de movimentos.................................................39 Tabela 6 - Distâncias entre controles vizinhos. .........................................................................42 Tabela 7 - Resistências dos controles. .......................................................................................43 Tabela 8 - Botões de pressão para dedos e mãos.......................................................................44 Tabela 9 - Interruptores de alavanca..........................................................................................44 Tabela 10 - Alavanca de mão. ...................................................................................................45 Tabela 11 - Botões e interruptores giratórios. ...........................................................................46 Tabela 12 - Pedais. ....................................................................................................................48 Tabela 12 - Dimensões mínimas de graduação. ........................................................................54 Tabela 13 - Características do homem e do computador. .........................................................57 Tabela 14 - Variáveis utilizadas na pesquisa.............................................................................69 Tabela 15 - Numeração dos comandos e mostradores. .............................................................71 Tabela 16 - Comando nº 1.Interruptor de partida......................................................................91 Tabela 17 - Comando nº 2.Partida a frio ...................................................................................91 Tabela 18 - Comando nº 3.Tração .............................................................................................92 Tabela 19 - Comando nº 4. Redução de marcha........................................................................93 Tabela 20 - Comando nº 5.Tomada de força (TDP/TDF) .........................................................94 Tabela 21 - Comando nº 6.Velocidade da tomada de força (TDP/TDF) ..................................96 Tabela 22 - Comando nº 7.Controle remoto1 (para acionamento de implementos agrícolas) ..96 Tabela 23 - Comando nº 8.Controle remoto2 (para acionamento de implementos agrícolas) ..97 Tabela 24 - Comando nº 9.Alavanca de profundidade (descida de implementos agrícolas) ....98 Tabela 25 - Comando nº 10.Controle de levantar e abaixar o implementos agrícolas..............99 Tabela 26 - Comando nº 11.Limitador de altura (limita o implemento a determinada elevação) .............................................................................................................................100 Página XIV Tabela 27 - Comando nº 12.Velocidade da descida do implemento (regula a velocidade que o implemento desce em relação ao solo). ...............................................................101 Tabela 28 - Comando nº 13.Limitador de curso (para manter sempre a mesma profundidade) .............................................................................................................................102 Tabela 29 - Comando nº 14.Seletor de sensibilidade (regula a profundidade do implemento em relação às condições do solo) ..............................................................................102 Tabela 30 - Comando nº 15.Bloqueio do diferencial (mantém as rodas traseiras na mesma velocidade)...........................................................................................................103 Tabela 31 - Comando nº 16.Acelerador manual......................................................................104 Tabela 32 - Comando nº 17.Acelerador de pé.........................................................................104 Tabela 33 - Comando nº 18.Freio............................................................................................105 Tabela 34 - Comando nº 19.Embreagem.................................................................................106 Tabela 35 - Comando nº 20.Freio de estacionamento .............................................................106 Tabela 36 - Comando nº 21.Alavanca de mudança/câmbio....................................................108 Tabela 37 - Comando nº 22.Alavanca alta e baixa/grupos......................................................109 Tabela 38 - Comando nº 23.Alavanca de regime ou reversor. ................................................109 Tabela 39 - Comando nº 24.Luzes/Farol .................................................................................110 Tabela 40 - Comando nº 25.Luzes/Farol – alta e baixa...........................................................111 Tabela 41 - Comando nº 26.Volante .......................................................................................111 Tabela 42 - Comando nº 27.Botão do alerta............................................................................112 Tabela 43 - Comando nº 28.Alavanca de seta .........................................................................112 Tabela 44 - Comando nº 29.Buzina.........................................................................................113 Tabela 45 - Comando nº 30.Regulagem da inclinação do volante ..........................................113 Tabela 46 - Mostrador nº 31.Conta-giros ................................................................................114 Tabela 47 - Mostrador nº 32.Marcador de combustível ..........................................................115 Tabela 48 - Mostrador nº 33.Horimetro ..................................................................................116 Tabela 49 - Mostrador nº 34.Temperatura da água .................................................................116 Tabela 50 - Mostrador nº 35.Pressão do óleo..........................................................................117 Tabela 51 - Mostrador nº 36.Carga do alternador ...................................................................118 Tabela 52 - Mostrador nº 37.Indicador do bloqueio do diferencial.........................................119 Tabela 53 - Mostrador nº 38.Indicador de obstrução do filtro de ar........................................119 Página XV Tabela 54 - Mostrador nº 39. Indicador da tomada de força ligada. .......................................120 Tabela 55 - Distribuição dos entrevistados, segundo trator utilizado no trabalho. .................120 Tabela 56 - Pergunta 2. Quantas horas diárias você trabalha com o trator?............................121 Tabela 57 - Pergunta 3. Já acionou algum comando acidentalmente? ....................................122 Tabela 58 - Pergunta 4. Qual? .................................................................................................122 Tabela 59 - Pergunta 5.Você conhece todos comandos do trator?..........................................123 Tabela 60 - Pergunta 6.Cite o comando que você utiliza com maior freqüência? ..................124 Tabela 61 - Pergunta 7. A distância do comando selecionado acima, é adequada para o seu acionamento? ........................................................................................................125 Tabela 62 - Pergunta 8.Você considera a pega de algum comando ruim?..............................125 Tabela 63 - Pergunta 9. Se a resposta for sim, qual o comando? ............................................126 Tabela 64 - Pergunta 10. Existe dificuldade para a visualização do painel devido ao reflexo do sol?........................................................................................................................127 Tabela 65 - Pergunta 11.A posição dos mostradores no painel é coerente com a sua importância? .........................................................................................................128 Tabela 66 - Pergunta 12. É possível a visualização integral do painel?..................................128 Tabela 67 - Pergunta 13. Quais comandos que devem ser modificados?................................129 Tabela 68 - Pergunta 14.Você teria alguma sugestão para melhorar o painel do trator utilizado? ..............................................................................................................130 Página XVI LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas ANFAVEA - Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores AET - Análise Ergonômica do Trabalho AMN - Associação Mercosul de Normalização CAE - Computer Aided Engineering CAD - Computer Aided Design COPANT - Comissão Pan-americana de Normas Técnicas ISO - International Standardization Organization MT - Ministério do Trabalho NBR - Norma Brasileira Regulamentadora NR - Norma Regulamentadora TDP/TDF - Tomada de força SIP - Ponto de Referência do Assento CRM - Company Resouce Management N - Newton W - Watt cm - Centímetro kg - Quilograma kcal - Quilocaloria cv - Cavalo-vapor 1 1 RESUMO O objetivo deste trabalho foi avaliar o posto de trabalho do operador de trator, utilizando dados antropométricos do perfil do trabalhador brasileiro para a análise dos controles e mostradores que os compõem. Como objeto da pesquisa, foram utilizados os tratores com potência média de 73.550 W. Foi realizado um levantamento do estado da arte em publicações pertinentes ao assunto, englobando o fator histórico do trator, a ergonomia, energia humana, posto de trabalho, antropometria, biomecânica, controles e manejos, dispositivos de informação, cores e contrastes, sistema CAD e as normas utilizadas pelas empresas. Utilizando a metodologia da Análise Ergonômica do Trabalho (AET), foi executada uma avaliação dos controles e mostradores do posto de trabalho dos tratores, considerando-se seus diferenciais ergonômicos; com esta triagem foi possível detectar os pontos positivos e negativos. Em seguida, efetivou-se um estudo estatístico com perguntas aos operadores de tratores, para verificar sua real necessidade confrontando-se as análises estatísticas dos questionários com a avaliação ergonômica. Os resultados desta avaliação demonstram que alguns controles e mostradores dos tratores avaliados possuem erros em relação à ergonomia e aos dados antropométricos da população brasileira, podendo este trabalho ser de grande valia para oferecer conforto ao operador de trator. 2 ERGONOMIC EVALUATION OF CONTROLS AND DISPLAYS CASES OF THE WORKSTATION OF THE OPERATOR OF TRACTORS. Botucatu, 2006. 137p. Dissertação (Mestrado em Agronomia/Energia na Agricultura) - Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista. Author: ANDRÉ LUIS DA SILVA Advisor: PROF. DR. JOÃO EDUARDO GUARNETTI DOS SANTOS Co-Advisor: PROF. DR. MÁRIO MORIO ISA SUMMARY The objective of this work is evaluating the workstation of the tractor operator, using given anthropometrics of the Brazilian worker's profile for the analysis of the controls and displays cases that compose them. As object of the research, the tractors were used with medium potency of 73.550 W. The rising of the state of the art was accomplished in pertinent publications to the subject, including the historical factor of the tractor, the ergonomics, human energy, workstation, anthropometric, biomechanics, controls and handlings, devices of information, colors and contrasts, CAD system and the norms used by the companies. Using the methodology of the Analysis Ergonomic of the Work (AET), it was executed an evaluation of the controls and displays cases of the workstation of the tractors, being considered their differential ergonomic ones; with this selection it was possible to detect the positive and negative points. Soon afterwards, a statistical study was executed with questions to the operators of tractors, to verify his/her real need being confronted the statistical analysis of the questionnaires with the ergonomic evaluation. The results of this evaluation demonstrate that some controls and displays cases of the appraised tractors possess mistakes in relation to the ergonomics and to the data antropométricos of the Brazilian population, being able to this work to be valuable to offer comfort to the tractor operator. Keywords: Ergonomics, work, agricultural tractors and agricultural machines. 3 2 INTRODUÇÃO Sendo o Brasil uma das grandes potências na agricultura mundial e tendo sua área de plantio como uma das mais extensas, o trabalho manual na agricultura vem sendo cada vez mais substituído pela máquina. Neste contexto o trator inclui-se como uma importante fonte de potência disponível. Segundo o anuário estatístico da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA, 2005), desde 1960 o Brasil já produziu 1.337.223 de tratores de rodas, sendo que em 2004 a produção foi de 52.768. Sendo de grande utilidade para o agricultor, não só no trabalho agrícola, mas também como transporte de produtos e do operador em estradas ou nas ruas em pequenas cidades, deve-se considerar a importância de um estudo que possa avaliar esse veículo usado diariamente pelo trabalhador rural. Arar, gradear, semear, adubar e pulverizar constituem algumas das tarefas que operador de trator executa. Este, além de conduzir o veículo, deve atentar não somente para o que ocorre à sua frente, como necessita de uma visualização constante do implemento que está sendo rebocado atrás do trator, sendo que em alguns casos pode ter de acionar algum comando no processo. Esta interface que o operador tem com o trator se dá por meio de controles, mostradores ou sinais sonoros, justificando, portanto, a importância da aplicação da ergonomia no desenvolvimento de um produto. 4 A ergonomia tende a harmonizar o processo da execução de uma determinada tarefa, conciliando a máquina com o homem, utilizando aspectos como a antropometria, psicologia, ambiente, biomecânica e a fisiologia humana, respeitando as características do homem para seu beneficio. A pesquisa delimitou-se no estudo de tratores com potência média de motor de 73.550 W, pois, segundo informações cedidas por fábricas e concessionárias, estão entre os mais vendidos em âmbito nacional. Apresenta, especificamente, a análise ergonômica do posto de trabalho do operador de trator, delimitando a área de estudos nos controles e mostradores, examinando o posicionamento, manejo, acionamento, tipos de controles, legibilidade, concordância e informações dos mesmos. A partir de uma prévia análise dos tratores, percebeu-se que alguns possuem problemas em seus controles e mostradores, referentes às condições ergonômicas recomendadas, dentre os quais destacam-se: - comandos posicionados entre as pernas do operador; - falta de informação nos comandos; - comandos posicionados fora do alcance do operador; - falha na seqüência operacional dos controles e mostradores; - números e símbolos dos mostradores parcialmente encobertos pelo ponteiro; - falta de informação em alguns comandos quando acionados; - comandos posicionados atrás da linha do ombro do operador; - uso de controles inadequados para certos comandos; - controles de difícil acionamento; - falta de conhecimento dos comandos e mostradores dos tratores; - falta de proteção em alguns comandos. Tendo em vista os problemas acima relacionados, tem-se por objetivo geral avaliar o posto de trabalho do operador de trator. E, por objetivo específico analisar os controles e mostradores que compõem o posto de trabalho, empregando os dados antropométricos específicos para o perfil do trabalhador brasileiro, confrontando-os com a norma NBR/NM/ISO 5353, utilizadas pelas 5 empresas de acordo com os dados ergonômicos. Para obtenção dos dados que norteiam o trabalho, utilizou-se o embasamento teórico da análise ergonômica do trabalho (AET). Realizou-se uma pesquisa com os operadores de tratores, sendo um total de sessenta e seis, os quais utilizam os modelos de tratores citados, pertencentes à região norte do Paraná, entre pequenos agricultores, funcionários públicos e estudantes universitários. Para a entrevista com o tratorista foi elaborado um questionário estruturado com quatorze perguntas fechadas, de caráter qualitativo e natureza exploratória, como vistas a elucidar os conntroles e mostradores do trator. As propostas e idéias apresentadas neste trabalho poderão ser aproveitadas para oferecer conforto e tornar esta função menos cansativa, adequando a máquina ao homem. Para tanto, a união do projetista com a engenharia pode trazer benefícios ao homem. 6 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1 HISTÓRICO DO TRATOR Segundo o Houaiss e Villar (2001), a palavra trator origina-se do inglês tractor proveniente esta de tractum do verbo trahere do latim que significa puxar, arrastar. Ferreira (1999) define-o como “veículo motorizado que, deslocando-se sobre rodas ou esteiras de aço, é capaz de rebocar cargas ou de operar rebocando ou empurrando, equipamentos agrícolas, de terraplenagem, etc”. A substituição da força animal pela força mecânica contribuiu para o homem aumentar a produtividade e subseqüentemente os lucros (MIALHE, 1996). Conforme Early (2002) demonstra na Figura 1, o precursor do trator moderno. Foi uma máquina de 8 cv usada para debulhar. Esta máquina a vapor era puxada por cavalo no local de trabalho. 7 Figura 1 - Máquina a vapor ano 1869. Fonte: Historylink (2004). Com a concepção do motor de combustão interna, utilizou-se a correia do debulhador nas rodas, assim foi possível arar os campos mais facilmente. Pode-se visualizar isso no modelo Hackney, conforma mostra a Figura 2. Figura 2 - Auto-arado de Hackney ano 1912. Fonte: Historylink (2004). Segundo Wandel et al. (1985, apud MIALHE 1996) em 1908, em Winnipeg (Canadá), começaram a ser realizados os primeiros testes em tratores a vapor e a gasolina, em relação ao desempenho em aração e em tração. Uma das primeiras empresas a produzir tratores em larga escala foi a 8 Fordson, começando em 1916. Seus tratores aravam a uma velocidade de 4,5 km/h. O combustível era querosene e tinha a capacidade de arar 3,23 hectares com um tanque de combustível (MIALHE, 1996). Com a evolução da humanidade, essa máquina agrícola não poderia ficar estagnada, e foi através da busca de um melhor desempenho da máquina e visando o conforto dos usuários que as empresas atuais desenvolveram e continuam pesquisando novas tecnologias para o projeto dos tratores (MIALHE, 1996). 3.2 Energia humana A energia humana, conforme McCormick (1980), é proveniente da alimentação. Parte desta alimentação destina-se à constituição de tecidos e outra atua como combustível para o funcionamento do organismo, podendo o excesso ser acumulado como gordura. O estudo dos aspectos energéticos do corpo humano define-se por metabolismo. Para comparação do consumo de energia do homem, a medida se refere à kcal (quilocalorias), em que 1 kcal é a quantidade de energia necessária para que 1 litro de água eleve sua temperatura de 14º C para 15º C. Segundo Grandjean (1998), quando um trabalho é realizado, há aumento considerável do consumo de energia e, quanto maior for à solicitação da musculatura, maior é o consumo. O autor ainda indica que nos países industrializados, grande quantidade de pessoas, executa o trabalho assentado, levando em consideração o seu tempo de transporte para o local de trabalho. Ele afirma que “o homem do século XX está no melhor caminho para tornar-se um animal sentado”. O conhecimento do metabolismo humano, representado na Figura 3, demonstra a importância da transformação dos alimentos em energia, que está sendo utilizada nos músculos lisos (órgãos com movimentos involuntários) e músculos estriados ou esqueléticos (sob o controle consciente do homem) (IIDA, 2000). 9 Figura 3 - Representação esquemática das principais funções do metabolismo humano. Fonte: Iida (2000). O corpo humano, mesmo em completo repouso, consome uma certa quantidade de energia denominada de metabolismo basal, a qual é o mínimo de energia para o corpo humano manter suas funções vitais. Essa energia é da ordem de 1.800 kcal/dia para homem e 1.600 kcal/dia para a mulher (IIDA, 2000). Estudo feito por Passmore e Durin (1955) indica uma variação do consumo energético em relação ao sexo, massa corporal, idade e outros fatores, como o nível das atividades glandulares de cada indivíduo. Enquanto uma datilógrafa ou uma costureira consome 2300 kcal/dia, um estivador que transporta sacos consome cerca de 4.500 kcal/dia. 10 Em alguns casos esses gastos energéticos pode-se elevar para 5.000 kcal/dia ou até para 6.000 kcal/dia em um curto espaço de tempo, pois o organismo não é capaz de restituir tanta energia. Como demonstram na Figura 4, alguns trabalhos e seu consumo energético. Figura 4 - Exemplos de gastos energéticos (kcal/min) em algumas tarefas típicas. Fonte: Passmore e Durin (1955). 3.3 Ergonomia Segundo Dul e Weerdmeester (1995), a palavra ergonomia deriva-se do grego e tem como significado: ergon (trabalho) e nomos (leis), os Estados Unidos também se utiliza o temo human factors (fatores humanos). A ergonomia, segundo Iida (2000), “... é o estudo da adaptação do 11 trabalho ao homem”. O termo trabalho tem um sentido um pouco mais amplo, não diz respeito só às máquinas e equipamentos, mas também entre a interação do homem com seu trabalho, sua interface com as máquinas e equipamentos, através de controles e mostradores. De acordo com Pheasant (1997, apud MORAES e MONT’ ALVÃO, 2000), a “Ergonomia é a ciência que objetiva adaptar o trabalho ao trabalhador e o produto ao usuário”. Segundo Vidal (2004), a prática da ergonomia visa alterar o sistema de trabalho ajustando a atividade existente às características, habilidades e restrições do homem em relação à execução, desempenho eficaz, cômodo e livre de perigo. Para Dul e Weerdmeester (1995), a ergonomia tornou-se mais forte durante a Segunda Guerra Mundial, quando se iniciou a mobilização harmonizadora de várias tecnologias e ciências humanas, como a Fisiologia, Psicologia, Antropologia, Medicina e o esforço de engenheiros em prol do desenvolvimento bélico. A indústria aproveitou essa nova fusão de conhecimentos e de informações aplicando-os em sua linha de produção, que na seqüência trouxe conforto para a vida cotidiana. Estando consolidada a ergonomia na indústria, nasce na Europa, em 1947, a Ergonomics Research Society e, dessa consolidação, surge a Human Factors Engineering ou HFE, que segue a prática da Ergonomia em uso civil, segundo relato de Vidal (2004). Com a utilização da ergonomia na atividade civil, Iida (2000) comenta que essa nova ciência deve ter como objetivo, aspectos do comportamento humano e outros fatores como, por exemplo: - homem: características físicas, fisiológicas, psicológicas e sociais do trabalhador, influência de sexo, idade, treinamento e motivação. - máquina: todas as ajudas materiais que o homem utiliza no seu trabalho, englobando equipamentos, ferramentas, mobiliário e instalações. - ambiente: as características físicas que envolvem o homem durante o trabalho, como temperatura, ruídos, vibrações, luz, cores, gases e outros. 12 - informação: as comunicações existentes entre os elementos de um sistema, a transmissão de informações, o processamento e a tomada de decisões. - organização: a conjunção dos elementos acima citados no sistema produtivo, incluindo-se aspectos como horários, turnos de trabalho e formação de equipes. - conseqüências do trabalho: as questões de controle como tarefas de inspeções, estudos dos erros e acidentes, além dos estudos sobre gastos energéticos, fadiga e “strees”. Para Leplat (1996), o propósito para a ergonomia é que um dos pontos principais é a gestão da complexidade que visa reduzir este fator no modo de trabalho, para que o trabalhador possa melhor predominar, sendo que para ele constitui dois fundamentos importantes na situação de trabalho, a alteração de tarefa ou a mudança do operador. Em reunião, o International Ergonomics Association (2004) caracterizando uma abordagem física, cognitiva, social, organizacional, ambiental e outros aspectos, distingue a ergonomia em: - ergonomia física: relacionada ás características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica em sua relação com a atividade física. São relevantes a postura no trabalho, o manuseio de materiais, os movimentos repetitivos, os distúrbios músculoesqueléticos relacionados ao trabalho, o projeto de postos de trabalho, a segurança e a saúde. - ergonomia cognitiva: relacionada aos processos mentais, tais como percepção, memória, raciocínio e resposta motora, conforme afetam interações entre seres humanos e outros elementos de um sistema. Sendo relevantes a carga mental de trabalho, tomada de decisão, performance especializada, interação entre homem e computador, stress e treinamento conforme estes se relacionam aos projetos que envolvem seres humanos e sistemas. - ergonomia organizacional: relacionada à otimização dos sistemas sócio-técnicos, com suas estruturas organizacionais, políticas e processos. Os tópicos relevantes incluem comunicações, gerenciamento de recursos de tripulações (CRM - domínio aeronáutico), projeto de trabalho, organização temporal do trabalho, trabalho em grupo, projeto 13 participativo, ergonomia comunitária e trabalho cooperativo, novos paradigmas do trabalho, cultura organizacional, organizações em rede, teletrabalho e gestão da qualidade. Santos (2004) entende que o ser humano é antropocêntrico na visão da ergonomia e que por isso deve executar mudanças no meio organizacional e produtivo em relação à qualidade do trabalho, requerendo-se a participação do trabalhador e a sua valorização. O mesmo autor afirma que a ergonomia se entende de três maneiras. Quanto à abrangência: - ergonomia de posto de trabalho: abordagem microergonômica; - ergonomia de sistemas de produção: abordagem macroergonômica. Quanto à contribuição: - ergonomia de concepção: é a aplicação de normas e especificações ergonômicas em projeto de ferramentas e postos de trabalho, antes de sua implantação; - ergonomia de correção: é a modificação de situações de trabalho já existentes. Portanto, o estudo ergonômico só é feito após a implantação do posto de trabalho; - ergonomia de arranjo físico: é a melhoria de sequências e fluxos de produção, através da mudança de leiaute das plantas industriais (por exemplo: mudança de um leiaute por processo por outro de produto); - ergonomia de conscientização: é a capacitação das pessoas nos métodos e técnicas de avaliação ergonômica do trabalho. Quanto à interdisciplinaridade: - engenharia: é o projeto e a produção ergonomicamente corretos, capazes de garantir a segurança, a saúde e a eficácia do ser humano no trabalho; - design: é a aplicação das normas e especificações ergonômicas no projeto e design de produtos; - psicologia: recrutamento, treinamento e motivação do pessoal; - medicina e enfermagem no trabalho: é a prevenção de acidentes e de doenças no trabalho; - administração: gestão de recursos humanos, projetos e mudanças organizacionais. 14 No que diz respeito à abrangência descrita por Santos (2004), Iida (2000) expõe as abrangências das contribuições ergonômicas para o sistema e o posto de trabalho, as quais são: - análise de sistemas: preocupa-se com o conjunto de uma equipe de trabalho, sendo utilizada uma ou mais máquinas, íniciando em aspectos mais abrangentes, como a repartição de tarefas entre o homem e a máquina, o ato de mecanizar tarefas e assim por diante. Examina se determinada tarefa cabe ao homem ou à máquina, analisando-se custo, confiabilidade, segurança e outros. Esta análise, para o seu coompreendimento, tende-se em se elevar gradadivamente até atingir o nível de cada um dos postos de trabalho do sistema. - análise dos postos de trabalho: é o estudo de uma parte do sistema na qual um trabalhador exerce sua atividade. Essa abordagem ergonômica do posto de trabalho é a análise da tarefa, da postura e dos movimentos do trabalhador e das suas exigências físicas e psicológicas. Imaginando-se um posto mais simples, onde o homem opera apenas uma máquina, a análise deve partir do estudo da inteface entre homem e máquina, ou seja, da ação conjunta do homem , máquina e ambiente. No Brasil, o Ministério do Trabalho (BRASIL, 2004), estabelece normas para o posto de trabalho, citado na NR 17 - Ergonomia (2004). O empregador deve aplicar as seguintes recomendações, conforme os subitens abaixo: - 17.1.1. As condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho, e à própria organização do trabalho; - 17.3.1. Sempre que o trabalho puder ser executado na posição sentada, o posto de trabalho deve ser planejado ou adaptado para esta posição. - 17.4.1. Todos os equipamentos que compõem um posto de trabalho devem estar adequados às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado. Para Chapanis (1972), deve-se definir as funções e tarefas dos operadores e dos equipamentos, pois com isso tem-se um dos resultados da análise do 15 sistema. O mesmo autor afirma que, para a divisão das funções, é necessário: - definir os objetivos do sitema e as limitações dentro das quais ele deve funcionar; - analisar as funções existentes ou prováveis; - propor e experimentar várias soluções, tornando válidas as soluções obtidas. Fialho e Santos (1997) recomendam, em primeira instância, definir qual a situação de trabalho a ser analisada e qual o aspecto relacionado ao ponto de vista ergonômico, como: concepção ou correção de um sistema de produção, concepção de produtos, introdução de novas tecnologias nos diversos setores da atividade humana, organização do trabalho, transferência de tecnologia, formação e qualificação profissional, higiene e segurança no trabalho, etc... Segundo os mesmos autores, a análise ergonômica do trabalho consta de três fases: análise da demanda, análise da tarefa e análise das atividades, as quais devem ser conduzidas em uma seqüência, enfatizando-se a fase de diagnóstico, e de acordo com esta, permite-se a inserção de um caderno de recomendações ergonômicas. A metodologia pedagógica divide-se em três áreas de conhecimento científico, relacionadas às etapas da análise ergonômica de uma situação de trabalho. Essas etapas obedecem a uma seqüência, o que não impede que possa haver uma seqüência alternativa, conforme Fialho e Santos (1997) representam na Figura 5. PROCEDIMENTO DE PESQUISA EM ERGONOMIA ETAPAS DE UMA ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO 1. Quadro teórico de referência. 1. Formulação da demanda. 2. Análise das referências bibliográficas sobre o homem em atividade de trabalho. 3. Questão de pesquisa. 2. Análise ergonômica da situação de trabalho. 4. Análise ergonômica da demanda: definição do problema (entrevista exploratória e problemática de pesquisa). 5. Análise ergonômica da tarefa: análise das condições de trabalho (elaboração do modelo de análise das atividades). 6. Análise ergonômica das atividades de trabalho: análise dos comportamentos do homem no trabalho (observação). 3. Síntese ergonômica da situação de trabalho. 7. Diagnóstico em ergonomia: a análise e tratamento dos dados (termos de referência da situação analisada). 8. Caderno de encargos e recomendações ergonômicas: conclusões da pesquisa. 16 9. Avaliação dos resultados: memorial descritivo dos avanços dos conhecimentos científicos em ergonomia. Figura 5 - Quadro correspondente aos procedimentos de pesquisa em ergonomia e as etapas da análise ergonômica de uma situação de trabalho. Fonte: Fialho e Santos (1997). 3.4 Posto de trabalho Para Laville (1977), o posto de trabalho faz parte da composição do sistema. A tarefa de um operador depende de tarefas realizadas por outros operadores; quando é necessário o trabalho em equipe exige que um operador execute outras tarefas em outros postos de trabalho. O mesmo autor afirma da contribuição da ergonomia, a qual tem como abrangência, o método da análise de um sistema. A definição de sistema - homem - máquina, segundo Grandjean (1998), é “a relação de reciprocidade entre a máquina e o ser humano que a opera”. De acordo com Dul e Weerdmeester (1995), é a partir da comunicação entre estes elementos que se dá o processo de decisão, o qual tem-se tornado cada vez mais rápido. Em conseqüência da evolução tecnológica, as máquinas se tornaram mais rápidas, precisas, confiáveis e “inteligentes” e, por isso, os operadores precisam ter maior conhecimento sobre os novos equipamentos, sobre seu trabalho e sobre o processo que está envolvido neste contexto (IIDA, 2000). Para Grandjean (1998), o sistema insere o homem em um ciclo fechado entre o homem e a máquina, se cujas etapas são: perceber a indicação do mostrador na máquina (número 1), interpretar os dados (número 2), refletir para a tomada de decisão (número 3), executar uma tarefa de manuseio do controle (número 4), verificar no indicador do controle se a alteração feita está correta (número 5), observar a produção (número 6) e visualizar o resultado no mostrador da máquina (número 7), representada na Figura 6. 17 Figura 6 - Diagrama homem-máquina Fonte: Grandjean (1998). Segundo o mesmo autor, a análise da tarefa é fundamental para o conhecimento aprofundado das reais necessidades e dificuldades dos usuários que atuam em um determinado posto de trabalho. Sell (1994), define trabalho como “tudo aquilo mediante o que o ser humano se mantém e se desenvolve juntamente com a sociedade, entre os limites estabelecidos por ela”. A mesma autora considera como bons postos de trabalho, em termos práticos: - postos de trabalho ergonomicamente projetados, o que inclui bancadas, assentos, mesas, disposição e alocação de comandos, controles, dispositivos de informação e ferramentas fixas em bancadas; - postos de trabalho, meios de produção, objetos de trabalho sem perigos mecânicos, físicos, químicos ou outros que representem riscos para as pessoas, isto é, sem partes móveis expostas, sem ferramentas cortantes acessíveis ao trabalhador, sem emissão de gases, vapores, poeiras nocivas, etc. É possível ver o posto de trabalho sob dois enfoques, segundo Iida (2000): o tradicional e o ergonômico. O tradicional mantém os fundamentos da economia dos 18 movimentos, a qual é uma visão taylorista1, já o enfoque ergonômico tende a desenvolver o posto de trabalho para reduzir as exigências biomecânicas, visando o conforto e um menor esforço físico do operador. Para isso deve-se projetar ou alterar um posto de trabalho adequado para as necessidades humanas, como é demonstrado na Figura 7. Figura 7 - Redesign do posto de trabalho. Fonte: Damon et al. (1971, apud IIDA, 2000). Para Montedo (2001), o agricultor fica á mercê de projetos mal elaborados sem que possa fazer valer a sua opinião, não obstante seja ele o indivíduo que tem o maior interesse e conhece a realidade de seu trabalho. _____________ 1 Sistema de organização do trabalho derivado das idéias de Frederick Winslow Taylor (1856-1915), que recomendava a adoção de métodos e normas visando à maximização do rendimento da mão-de-obra, com base numa análise minuciosa de cada tarefa a ser executada (FERREIRA, 1999). 19 Estudos feitos por Pheasant e Harris (1982) analisaram o difícil trabalho do tratorista, que está sujeito a vários fatores como ruído, vibração, poeira, calor, intempéries e monotonia. No início, o homem utilizava o arado de tração animal, tendo a sua visão direcionada para a frente, no mesmo sentido da tarefa, conforme representado na Figura 8. Figura 8 - Substituição do arado de tração animal, pelo trator. Fonte: Iida (2000). Essa substituição trouxe um grande problema ergonômico, para o tratorista, dependendo da tarefa executada, como, por exemplo, arar a terra, gradear, aspergir produtos químicos. O tratorista passa 40% a 60% de seu tempo com o olhar voltado para trás, verificando o implemento e tendo que dirigir o trator, com a sua visão para a frente. Essa situação exige do tratorista uma grande movimentação de cabeça e tronco, com tensão nos músculos lombares. 20 Figura 9 - Tratorista ideal. Fonte: Pheasant e Harris (1982) Para Pheasant e Harris (1982) o tratorista ideal, representado na Figura 9, deveria ter três pernas, dois olhos atrás da cabeça e uma coluna de ferro, apesar da evolução tecnológica, algumas destas recomendações para o agricultor ainda deve ser utilizada para alguns comandos. Segundo Gomes et al. (2005), há uma grande falha em projetos agrícolas no que diz respeito a indicações ergonômicas individuais e as de ambiente de trabalho, que pode ocasionar acidentes ao trabalhador rural. Para uma elaboração correta de um posto de trabalho é necessário verificar alguns aspectos, segundo Iida (2000), a saber: - análise de tarefas: define tarefa como um conjunto de ações humanas que possibilitam um sistema atingir seus objetivos. A análise da tarefa divide-se em dois níveis: descrição da tarefa, que dá uma visão mais abrangente do que é executado no posto de trabalho e descrição das ações, que visa um maior detalhamento dos atos exercidos pelo homem; 21 - arranjo físico - também chamado de leiaute do posto de trabalho, abrange a distribuição dos elementos no posto de trabalho, de forma a possibilitar alcançar o melhor desempenho no sistema homem-máquina-ambiente. Para se determinar este leiaute é importante saber as áreas de preensão horizontal e vertical alcançadas pelo homem. Estes alcances são demonstrados nas Figuras 9 a 12. Figura 10 - Dimensões recomendadas para o posto de trabalho sentado. Fonte: Norma Francesa AFNOR X-35-104 et al. (1980, apud IIDA 2000). 22 Figura 11 - Zonas de alcances preferenciais e máximos para a posição sentado. Fonte: Iida (2000). Figura 12 - Espaço de preensão horizontal no plano sagital. Fonte: Grandjean (1998). 23 As Figuras 13 e 14 representam, segundo Tilley e Dreyfuss (2001), indicam um percentil de 99%, sendo de uma pessoa com estatura de 192 cm, essa porcentagem se refere ao 99% da população dos Estados Unidos, sendo que esta estatura não é considerada a média nacional, e sim uma estatura máxima. Acima de 192 cm se considera o restante de 1% da população. Figura 13 - Alcances verticais máximos, abrangendo 99% da população dos Estados Unidos, referente ao homem. Fonte: Tilley e Dreyfuss (2001). 24 Tilley e Dreyfuss (2001) estabelecem a distância de 55,4 cm do ponto SIP (ponto de referência do assento) á projeção do calcanhar do operador no piso do posto de trabalho, para o homem comum. Figura 13 - Alcances horizontais máximos, abrangendo 99% da população dos Estados Unidos, referente ao homem. Fonte: Tilley e Dreyfuss (2001). Para a movimentação das pernas, Tilley e Dreyfuss (2001) recomendam uma angulação de 15º do membro inferior, a partir da articulação da perna no eixo horizontal. 25 McCormick (1980) mostra na Figura 14, a área para os controles dos pés, destinada as forças substanciais dos membros inferiores. A área recomendada para utilização de controles com os membros inferiores. Figura 14 - Área ótima e máxima para controles ativados com os pés. Fonte: McCormick (1980). 26 A postura do trabalhador com movimentações constantes dos braços, deve ser evitado o posicionamento dos mesmos atrás da linha do ombro, pois pode ocasionar lesões para no operador, como mostra a Figura 14, conforme afirma Dul e Weerdmeester (2000). Figura 14 - Postura das mãos e cotovelos em relação ao corpo. Fonte: Dul e Weerdmeester (2000). Para Dul e Weerdmeester (2000), as movimentações das mãos e cotovelos devem dar-se no nível dos ombros, devendo sua duração ser limitada, com descanso regular durante a tarefa, conforme Figura 15. Figura 15 - Postura das mãos e cotovelos em relação ao ombro. Fonte: Dul e Weerdmeester (2000). 27 Segundo Grandjean (1998), além destas informações, o campo de visão do trabalhador é primordial para o posicionamento dos painéis e comandos, os quais serão observados e acionados pelo mesmo. Figura 16 - Linha normal de visão. Fonte: Grandjean (1998). Conforme mostrado na Figura 16, a linha normal de visão situa-se entre 10º a 15° abaixo da linha horizontal. Esta linha definiu-se como posição de repouso dos olhos. É recomendável que os mostradores de instrumentos ou outros objetos fiquem em um ângulo de visão entre 5° acima e 30° abaixo de uma linha imaginária horizontal (GRANDJEAN, 1998). 3.5 Antropometria Para Santos (1997), o objetivo da antropometria é levantar dados dimensionais de diferentes partes do corpo, que sejam utilizados pela ergonomia. Segundo Siqueira (1976), a antropometria divide-se em: - antropometria estática: medidas referentes ao corpo parado ou com poucos movimentos. - antropometria dinâmica: a antropometria dinâmica mede os alcances dos movimentos. Os movimentos de cada parte do corpo são medidos mantendo-se o resto do corpo estático. O 28 seu uso é recomendado para projetos de máquinas ou postos de trabalho com partes que se movimentam. - antropometria funcional: refere-se a conjugação de diversos movimentos destinados á realizar uma função. Entendem por proporções antropométricas as medidas físicas do homem, específicas para estabelecer a diferenciação dos indivíduos e grupos. Devem considerar para testes antropométricos, alguns fatores que Iida (2000) recomenda, como: - dimensionamento: destina-se às proporções antropométricas do ser humano e as medidas recomendadas dos elementos existentes. - construção e teste: é desenvolvimento de um modelo tridimensional, para a verificação dos fatores do posto de trabalho. Para Añez (2004), deve-se conhecer o público específico a ser analisado quanto à idade, sexo, trabalho e raça. Em alguns casos, o usuário é um indivíduo ou um grupo reduzido de pessoas e existem algumas situações fora do comum. Em vista disso, Panero e Zelnik (1984) comentam sobre a importância das informações antropométricas, por referir-se a projetos que possuem um grande valor econômico e exigem altos investimentos. Segundo Iida (2000), os princípios para aplicação dos dados antropométricos são: a. primeiro princípio: Projetos para o tipo médio – A pessoa média é uma abstração matemática obtida de medidas quantitativas como peso ou estatura; b. segundo princípio: Projetos para indivíduos extremos – Se existir algum fato limitativo no projeto (pessoas acima ou abaixo de uma dada dimensão não estariam bem acomodadas), deveremos empregar o segundo princípio, que consiste em tentar acomodar os casos extremos, tanto o maior como o menor, dependendo do fator limitativo do equipamento; c. terceiro princípio: Projetos para faixas da população – São, por exemplo, os casos do assento do automóvel, cadeiras de secretárias, ou cintos com furos. No terceiro 29 princípio também se enquadram certos produtos que apresentam tamanhos discretos, como a numeração de camisas e sapatos; d. quarto princípio: Projeto para o indivíduo - São os casos de aparelhos ortopédicos, de roupas feitas “sob medida” no alfaiate ou de pessoas que tenham pé maior que o tamanho quarenta e quatro e que precisam encomendar os sapatos. Ainda que necessário, o Brasil não possui um banco de dados antropométricos atualizados. Os dados do presente trabalho foram retirados do Software Ergokit do IPT (Instituto de Pesquisa e Tecnologia) de Neveiro et al. (1998), como mostra a Tabela 1. Tabela 1 - Variáveis antropométricas do posto de trabalho. Descrição Unidade Mínimo Máximo Média Alcance dos antebraços, sentado cm 45 69,5 55,4 Alcance frontal máximo, sentado cm 69 105,5 85,6 Altura da cabeça, sentado cm 113 152 129,8 Altura das coxas, sentado cm 50,9 73,8 58,3 Altura do assento cm 32 52,5 41,7 Altura do cotovelo fletido, sentado cm 50,5 80,5 64,7 Altura do cotovelo fletido-assento cm 13,5 32 23 Altura do joelho, sentado cm 45,1 65,2 54,9 Altura do nível dos olhos, sentado cm 102,5 143 119,3 Altura do nível dos olhos-assento cm 63,5 90,5 77,5 Altura popliteal, sentado cm 36,6 56,3 44,2 Comprimento antebraço-mão, sentado cm 40 59,6 47,2 Comprimento do braço cm 29,4 42,7 35,4 Comprimento do membro superior cm 66,1 90,6 76 Comprimento interatic cotovelo-pulso cm 21 32 25,3 Comprimento máximo da mão cm 16,5 25,6 18,6 Comprimento máximo do pé descalço, em pé cm 22,4 30,8 26,5 Estatura cm 147,5 208 169,9 Largura bideltóide, sentado cm 30,8 55,2 44,3 Largura cotovelo a cotovelo, sentado cm 31,1 64 45,9 Largura da mão, no metacarpo cm 7,6 9,6 8,4 Largura do tórax entre axilas, sentado cm 20,6 41 29,7 Largura máxima do pé cm 8,3 12,7 10,2 Peso kg 38 133,6 67,2 Profundidade nádegas-joelho, sentado cm 48 80 59,7 Profundidade nádegas-popliteal, sentado cm 39 65,5 47,8 Fonte: Neveiro et al. (1998). Segundo Russo et al. (2004), os equipamentos e implementos 30 agrícolas não são projetados com dados antropométricos do agricultor brasileiro e não têm o seu dimensionamento correto para determinados acionamentos. Sendo projetados em outros países, essas máquinas possuem dados de regiões com perfil diferente do nosso, até mesmo dentro do território brasileiro. Por serem diferentes as colonizações étnicas, podem-se alterar essas dimensões. Para Gomes et al. (2005), existem variáveis incontáveis relacionadas à produção agrícola, na qual não se pode determinar um modelo característico do usuário. Entre estas variáveis, o mesmo autor cita a diversidade antropométrica, os biótipos da população, a alta rotatividade das tarefas, etc. 3.6 Biomecânica Biomecânica é a aplicação de princípios mecânicos ao estudo da estrutura e funcionamento do corpo humano. (ROEBUCK et al., 1995). A biomecânica é uma ciência interdisciplinar composta principalmente pela antropometria, mecânica, fisiologia e engenharia, a qual estuda a estrutura mecânica e o comportamento de materiais biológicos. (ROEBUCK et al., 1995). Para Nordin e Frankel (2001), a biomecânica é um ramo da bioengenharia e da engenharia médica, que estuda as aplicações da mecânica, examinando os sistemas fisiológicos e biológicos. Iida (2000) comenta sobre projetos incorretos de produtos e postos de trabalho impróprios que podem provocar tensões musculares, dores e fadiga. O mesmo autor faz uma análise dos tratores agrícolas, e considera que as soluções não são tão simples, por abranger um conflito básico entre a exigência humana e aquelas do trabalho. Conforme Nordin e Frankel (2001), existem dois tipos de trabalhos, em relação à biomecânica, o trabalho estático e o dinâmico, definidos a seguir: - trabalho estático é aquele que exige contração contínua de alguns músculos, para manter uma determinda posição; 31 - trabalho dinâmico é aquele que permite contrações e relaxamentos alternados dos músculos. Sell (2002) entende que o trabalho muscular estático tem características de contrações musculares demoradas, ao passo que o trabalho muscular dinâmico possui uma série sucessiva de movimentos de contração e relaxamento muscular. Em relação às duas situações de trabalho, Peres et al. (2005) explicam que o trabalho estático é muito fatigante; por isso, sempre que possível, deve-se evitar esta situação. Mas, em situações que não se pode evitar, recomenda-se mudanças de postura e melhores condições de peças e ferramentas ou se introduza medidas adequadas de apoio para as partes do corpo envolvidas, com o objetivo de simplificar as contrações estáticas dos músculos. Iida (2000) recomenda que o corpo assuma três posturas básicas, seja no trabalho seja em repouso, a saber: - posição deitada: na posição deitada não há contrações de tensão em nenhuma parte do corpo. O sangue flui sem obstruções para todas as partes do corpo, colaborando para expulsar os resíduos do metabolismo e as toxinas dos músculos provocadores de fadiga, já que seu consumo energético é mínimo, próximo ao metabolismo basal. - posição sentada: esta posição exige uma ação muscular do dorso e do ventre para se manter. A maior parte do peso do corpo é suportado pela pele que cobre o osso ísquio, nas nádegas. O consumo de energia é de 3% a 10% maior comparado ao gasto em posição horizontal. A postura com uma pequena inclinação para frente é menos fatigante que a postura ereta e o assento deve dar libertade para mudanças freqüentes de postura. - posição em pé: esta posição é altamente fatigante, pois exige um maior trabalho estático da musculatura envolvida para que seja mantida. O coração tem dificuldades em bombear o sangue para as extremidades do corpo. O trabalho dinâmico em pé oferece menos fadiga que a exigida nos trabalhos estáticos ou com pouca movimentação. Para as três posições mencionadas acima, deve-se considerar a demanda e o suprimento do fluxo de sangue, representado na Figura 17, conforme Iida (2000). 32 Figura 17 - Os músculos opera em condições desfavoráveis de irrigação sanguínea durante o trabalho estático, com a demanda superando o suprimento, enquanto há equilibrio entre a demanda e o suprimento durante o repouso e o trabalho dinâmico. Fonte: Iida (2000). Para entender posturas e os esforços envolvidos, Iida (2000) recomenda o conhecimento de partes do corpo e seu peso, representados na Tabela 2. Tabela 2 – Distribuição percentual do peso de partes do corpo. Partes do corpo % do peso total Cabeça 6 a 8 Tronco 40 a 46 Membros superiores 11 a 14 Membros inferiores 33 a 40 Fonte: Iida (2000). O mesmo autor aduz que a posição sentada é a melhor, por oferecer maior conforto em relação à posição em pé, visto que libera os membros superiores e inferiores para as tarefas. Já na posição em pé, devem-se manter os membros inferiores com o auxílio dos membros superiores para haver equilíbrio desta postura e com isso dificultando a realização de determinadas tarefas. Em vista disso, muitos projetos são impróprios para a atividade desenvolvida por um longo período de tempo, podendo ocasionar dores em alguns conjuntos de músculos. Como a posição sentada, a estrutura óssea da bacia, em específico a tuberosidades isquiáticas, suporta o peso do corpo, conforme a Figura 18. 33 Figura 18 - Estrutura dos ossos da bacia – visão da tuberosidade isquiática. Fonte: Iida (2000). A postura incorreta do corpo pode ocasionar dores e risco a saúde, conforme citado por Iida (2000), conforme Tabela 3. Tabela 3 - Localização das dores no corpo. Postura Risco de dores Em pé Pés e pernas (varizes) Sentado sem encosto Músculos extensores do dorso Assento muito alto Parte inferior das pernas, joelhos e pés. Assento muito baixo Dorso e pescoço Braços esticados Ombros e braços Pegas inadequadas em ferramentas Antebraços Fonte: Iida (2000). Segundo Hall (2005), quando ativado o músculo, desenvolve apenas uma função; uma contração muscular exigida para erguer um peso com o braço necessita a atuação conjunta de outros músculos, conforme se vê na Figura 19. 34 Figura 19 - Os músculos funcionam sempre em pares, de modo que, quando um deles se contrai, o seu antagônico se distende. Esse mecanismo torna possível realizar movimentos musculares suaves Fonte: Iida (2000). Para movimentos da mão, também trabalham em conjunto o punho e o antebraço. Segundo Panero e Zelnik (1984), esses movimentos são: pronação e supinação (antebraço); flexão dorsal e flexão palmar, desvio radial e desvio ulnar (punho); por último tem-se a hiperextensão, abdução, oposição e flexão dos dedos, representado nas Figuras 20 e 21. Figura 20 - Representação dos principais movimentos relacionados ao antebraço e mão. Fonte: Panero e Zelnik (1984) 35 Figura 21 - Representação dos principais movimentos relacionados à mão Fonte: Panero e Zelnik (1984). Segundo Hall (2005), existe um caso peculiar de deslocamento que envolve o movimento circular de uma unidade corporal, chamado circundução, exemplificado da Figura 22. Figura 22 - Movimento de circundução Fonte: Hall (2005). 36 Postula Hall (2005) que, para movimentos do braço, existem três movimentos primários no plano sagital, que são: - flexão: rotação no plano sagital, direcionada para frente, de cabeça, tronco e braço, antebraço, mão e quadril, bem como rotação no plano sagital, direcionada para trás, da extremidade inferior; - extensão: movimento que reloca um segmento corporal em sua posição anatômica a partir de uma flexão; - hipertextensão: rotação além da posição anatômica, oposta á direção da flexão. Figura 23 - Movimentos de flexão, extensão e hiperextensão. Fonte: Hall (2005). Nordin e Frankel (2001) classificam os movimentos no plano frontal dos membros inferiores, como dorsiflexão, flexão planar, abdução e adução, eversão e inversão, exemplificados nas Figuras 24 a 26. 37 Figura 24 - Movimentos de dorsiflexão e fexão plantar. Fonte: Hall (2005). Figura 25 - Movimentos de abdução e adução. Fonte: Hall (2005). 38 Figura 26 - Movimentos de eversão e inversão. Fonte: Hall (2005). Hall (2005) informa que a rotação à direita e à esquerda, a partir do eixo longitudinal, são utilizados para descrever movimentos da cabeça, pescoço e tronco. Já a rotação dos braços e pernas é chamada de rotação lateral e rotação medial, conforme exemplificado na Figura 27. Figura 27 - Movimentos de rotação da perna. Fonte: Hall (2005). 39 Em estudos, Neveiro et al. (1998) recomendam algumas variáveis de utilização de força máxima de alguns membros, demonstradas na Tabela 4. Tabela 4 - Variáveis antropométricas da biomecânica. Descrição mínimo máximo média Força máxima de compressão, membro inferior 537,3 N 3950,1 N 1586 N Força máxima de compressão, membro superior 203,8 N 1457,6 N 493,7 N Força máxima de tração, membro inferior 252 N 1624,3 N 592,7 N Fonte: Neveiro et al. (1998). 3.7 Controles e manejos A manipulação da máquina dá-se pelo princípio do movimento do controle, que é a transferência de uma força humana, para que a máquina possa executar alguma operação. Esse movimento pode ser através das mãos, pés ou da fala, como exemplo tem-se um simples apertar de botão com o dedo, ou o ato de fazer uma ligação do celular falando apenas o nome da pessoa (IIDA, 2000). Para um melhor aproveitamento dos movimentos corporais, o casal Frank e Lílian Gilbreth desenvolveram os vinte princípios de economia dos movimentos, que mais tarde foram aumentados para vinte e dois por Barnes (1977), na Tabela 5. Tabela 5 - Tabela dos princípios de economia de movimentos. PRINCÍPIOS DA ECONOMIA DOS MOVIMENTOS I.USO DO CORPO HUMANO 1. As duas mãos devem iniciar e terminar os movimentos no mesmo instante. 2. As duas mãos não devem ficar inativas ao mesmo tempo. 3. Os braços devem mover-se em direções opostas e simétricas. 4. Devem ser usados movimentos manuais mais simples. 5. Deve-se usar quantidade de movimento (massa x velocidade) em auxílio ao esforço muscular. 6. Deve-se usar movimentos suaves, curvos e retilíneos das mãos (evitando-se mudanças bruscas de direção). 7. Os movimentos “balísticos” ou “soltos” são mais fáceis e precisos que os movimentos “controlados”. 8. O trabalho deve seguir uma ordem compatível com o ritmo suave e natural do corpo. 9. As necessidades de acompanhamento visual devem ser reduzidas. 40 II.ARRANJO DO POSTO DE TRABALHO 10. As ferramentas e materiais devem ficar em locais fixos. 11. As ferramentas, materiais e controles devem-se localizar perto de seus locais de uso. 12. Os materiais devem ser alimentados por gravidade até o local de uso. 13. As peças acabadas devem ser retiradas por gravidade. 14. Materiais e ferramentas devem-se localizar na mesma seqüência de uso. 15. A iluminação deve permitir uma boa percepção visual. 16. A altura do posto de trabalho deve permitir o trabalho de pé alternado com o trabalho feita em posição sentada. 17. Cada trabalhador deve dispor de uma cadeira que possibilite uma boa postura. III.PROJETO DAS FERRAMENTAS E DO EQUIPAMENTO 18. As mãos devem ser substituídas por dispositivos, gabaritos ou mecanismos acionados por pedal. 19. Deve-se combinar a ação de duas ou mais ferramentas. 20. As ferramentas e os materiais devem ser pré-posicionados. 21. As cargas, nos trabalhos com os dedos, devem ser distribuídas de acordo com a capacidade de cada dedo. 22. Os controles, alavancas e volantes devem ser manipulados com alteração mínima da postura do corpo e com a maior vantagem mecânica. Fonte: Barnes (1977). A concordância dos movimentos da máquina para com o homem deve seguir o movimento natural do corpo, segundo Murrell (1965). O estereótipo popular é o movimento provável, ou seja, o movimento assimilado pela maioria da população, como se observa no ato de ligar ou aumentar. Relaciona-se ao sentido horário. Os que seguem o estereótipo popular são chamados de compatíveis, e os que não seguem, são chamados de incompatíveis (IIDA, 2000). Conforme o mesmo autor, a compatibilidade espacial dá-se no sentido do movimento indicado pelo controle e pelo mostrador e vice-versa. Com o deslocamento de uma alavanca para a direita, por exemplo, o mostrador tenderia a se movimentar para a mesma direção. Neste caso, a Figura 28 apresentada por Iida (2000) define os controles associados e os mostradores como: 1º. Princípio – Os movimentos rotacionais no sentido horário estão associados a movimentos de mostradores “para cima” e “para direita”. 41 2º. Princípio – Nos movimentos de controles e mostradores situados em planos perpendiculares entre si, o mostrador segue o movimento da ponta de um “parafuso” executado pelo controle, ou seja, a rotação do controle para a direita tende a afastar o mostrador e vice-versa. 3º. Princípio – Controles e mostradores executam os movimentos no mesmo sentido, no ponto mais próximo entre ambos. Em outras palavras, é como se existisse uma engrenagem imaginária, de modo que o movimento de um deles “arrastasse” o outro. Esse princípio aplica-se também a controles e mostradores situados em planos diferentes. Figura 28 - Figura dos princípios da associação dos movimentos de mostradores com os dos controles. Fonte: Iida (2000). Para a movimentação dos controles, deve-se considerar também a sensibilidade do deslocamento. Os controles de baixa sensibilidade têm um maior tempo de deslocamento e são mais fáceis de serem ajustados, são os chamados discretos, ao contrário dos controles de alta sensibilidade, chamados de contínuos, os quais movimentam mais rapidamente, mas são mais difíceis para ajustar. Segundo Grandjean (1998), deve ser observado as seguintes orientações para a escolha dos comandos: 42 1. Que se escolha controles que estejam adaptados à função e às características anatômicas dos membros: rapidez e precisão requerem operações dos dedos e mãos, força exige movimentos dos braços ou pés. 2. Que os controles das operações das mãos sejam facilmente alcançados a uma altura entre o cotovelo e ombro e sejam plenamente visíveis. 3. As distâncias entre os controles devem ser adaptadas às características anatômicas. Dois botões ou alavancas operados com o dedo devem estar a uma distância mínima de 1,5 cm; quando se usa toda a mão, a distância deve ser no mínimo 5 cm, demonstrado na Tabela 6. 4. Para operações de controle contínuo ou discreto com pequeno uso de força, pouco curso e alta precisão, são adequados botões de pressão, interruptores de alavanca e botões giratórios. 5. Para operações com grande uso de força, longo curso e relativamente pouca precisão, são adequados interruptores com grandes alavancas, manivelas, rodas de mão e pedais. Para o uso correto dos comandos, objetivando-se evitar acidentes, devem-se levar em consideração os seguintes aspectos apontado por Grandjean (1998): - Codificação: em algumas máquinas existem um grande número de controles, sendo possível o acionamento de algum controle por engano, em razão do seu formato, cor ou textura semelhantes. Para evitar erro no comando podem utilizar, formas, texturas e tamanhos diversos para cada controle, possíveis de serem diferenciados pelo tato do operador. - Distância: para uma diminuição de acionamentos acidentais, devem deixar as seguintes distâncias entre controles, apontados na Tabela 6. Tabela 6 - Distâncias entre controles vizinhos. distância na montagem (em cm) controles tipo de manipulação mínimo ótimo botão de pressão com um dedo 2 5 interruptor de alavanca com um dedo 2 5 com uma mão 5 10 alavanca com as duas mãos 7,5 12,5 roda de mão com as duas mãos 7,5 12,5 43 botão giratório ou botão indicador (seta) com uma mão 2,5 5 pedais com o mesmo pé dois pedais 5 10 Fonte: Grandjean (1998). - resistência: o uso prolongado dos controles pode ocasionar deformações, dificultando o ajuste em alguns casos. Aconselham-se as seguintes resistências: Tabela 7 - Resistências dos controles. movimentação resistência em N uma mão - rotação 2,0-2,2 Nm uma mão - movimento de pressão 10-15 Nm pedal - pressão 40-80 Nm Fonte: Grandjean (1998). - cor: a utilização das cores nos controles é necessária para a diferenciação de comandos. Delimita-se o uso de cinco cores em controles: verde para segurança e para ligar, vermelho para desligar e para perigo, azul, amarelo e laranja; aplica-se o contraste com a cor do fundo; as cores que atraem a atenção devem ser utilizadas com cautela. Porém as cores devem ser utilizadas em lugares com boa iluminação. Segundo Grandjean (1998), a escolha de um determinado controle dá- se pela sua função e pela sua necessidade de precisão; cada controle tem suas características para uma determinada utilidade. A seguir serão apresentados alguns modelos de controles: - botões de pressão para os dedos e mãos: possuem a vantagem de ocupar menos espaço e de poder serem identificados por cores. A área de contato tem de ser suficiente para a ponta dos dedos e para o pressionamento da mão. Os botões de pressão para os dedos podem ter uma pequena concavidade, ao passo que os botões de pressão para as mãos devem ter a forma convexa. As recomendações de seus dimensionamentos são monstrados na Tabela 8 e os modelos utilizados estão exemplificados na Figura 29. 44 Tabela 8 - Botões de pressão para dedos e mãos. Botões de pressão para dedos - recomendações Diâmetro 1,2-1,5 cm Para um botão solitário - Freios de emergência 3-4 cm Curso 0,3-1 cm Resistência 2,5-5,0 N Botões de pressão para mãos – recomendações Diâmetro 6 cm Curso 1 cm Resistência 10 N Fonte: Grandjean (1998). Figura 29 - Exemplos de botões de pressão. Fonte: Santos et al. (1997). - interruptores de alavanca: possuem uma segurança no manuseio: são de boa percepção para o operador. Podem alojar-se vários interruptores um ao lado do outro. Recomenda-se o sentido vertical para sua movimentação, devendo o mesmo apresente uma sinalização para suas funções. As recomendações de seus dimensionamentos são demonstrados na Tabela 9 e os modelo de alavanca para manejo fino, está exemplificado na Figura 30. Tabela 9 - Interruptores de alavanca. Interruptores de Alavanca – recomendações a - Ângulo 45º d - Diâmetro 0,25 cm c - Comprimento da alavanca 1,2 a 5 cm Resistência 2,5-15 N Fonte: Grandjean (1998). 45 Figura 30 - Interruptor de alavanca. Fonte: Grandjean (1998). - alavancas de mão: caso o comprimento exceda 5 cm e necessite de uma força maior, emprega-se alavanca de mão. A direção da força deve seguir um plano orientado, utilizando-se uma guia para mais de uma posição indicada, caso seja usada guia para um ajuste mais preciso, deve-se usar um apoio para o cotovelo, o braço ou o punho. As alavancas de mão que utilizam maior força são denominadas alavancas de câmbio e se enquadram no grupo de controles pesados. Para alavancas de manejo grosseiro deve-se seguir as recomendações conforme mostra a Tabela 10. A Figura 31 exemplifica alguns modelos de alavancas. Tabela 10 - Alavanca de mão. Alavanca de Mão – recomendações Empunhadura para os dedos (diâmetro) 2 cm Empunhadura de garra (diâmetro) 3-4 cm Empunhadura de cogumelo (diâmetro) 5 cm Alavanca de Câmbio - recomendações Força máxima 90 N Para frente e para trás / para os lados 130 N Ângulo para frente e para trás 90º Ângulo para os lados 45º Curso da alavanca para frente e para trás (máximo) 35 cm Curso da alavanca para os lados (máximo) 15 cm Fonte: Grandjean (1998). 46 Figura 31 - Exemplos de alavancas. Fonte: Santos et al. (1997). - botões giratórios de posição escalonada: as ranhuras permitem um controle mais preciso, permitindo uma pega melhor para os três dedos. Sendo a regulagem em degrau, recomenda-se uma resistência maior; as ranhuras devem ter uma distância de 15º entre si e de 30º quando fora do controle visual. Os botões giratórios utilizam o manejo fino; deve-se seguir as recomendações de dimensões conforme mostra a Tabela 10. A Figura 32 exemplifica alguns modelos de botões rotativos. Tabela 11 - Botões e interruptores giratórios. Botões Giratórios para Regulagem Contínua - Recomendações Diâmetro para manejo com dois a três dedos 1 - 3 cm Diâmetro para manejo com toda a mão 3,5 - 7,5 cm Altura para manejo com os dedos 1,5 - 2,5 cm Altura para manejo com a mão 3 - 5 cm Momento de rotação máxima para botões pequenos 0,8 N.m Momento de rotação máxima para botões grandes 3,2 N.m Fonte: Grandjean (1998). Botão Giratório - Recomendações Diâmetro - d 3,5 - 5 cm Altura - h 2 - 2,5 cm Momento máximo de giro 320 N.cm Resistência à operação 12 - 18 N Ângulo das posições intermediárias 15 - 40º 47 - botões giratórios para regulagem contínua: esse controle é adequado para regulagens finas e precisas, em faixas menores ou maiores; utilizam os dedos ou a mão, podendo utilizar-se ranhuras também. Figura 32 - Exemplos de botões rotativos, “track ball”, empunhadura e “joystick”. Fonte: Santos et al. (1997). - botões indicadores: sua aparência é em forma de seta, devendo ter visualização das posições indicadas rápida e fácil. O diâmetro recomendado para esse controle é de 2,5 cm a 3 cm. - volantes de mão: para utilizar em quando o manuseio necessita de uma grande força, quando seu uso recorre às duas mãos e em baixa rotação; é interessante ter saliências para uma melhor pega em sua parte externa. Exemplificado na Figura 33. Figura 33 - Exemplos de manivelas, volantes e roda cruz. Fonte: Santos et al. (1997). - pedais: acionados a partir dos pés, os pedais são utilizados tanto para trabalhos em pé quanto em posição sentada; na necessidade de grandes forças utiliza-se a perna (pedal de perna): neste caso deve-se considerar o peso da perna sobre o pedal. Nas máquinas agrícolas e de construção civil, a força gerada é acima de 98 N. Para inserção de pedais 48 deve-se verificar algumas recomendações demonstrdas na Tabela 11. A Figura 34 exemplifica alguns modelos de pedais. Tabela 12 - Pedais. Pedais- recomendações para assento com encosto alto Ângulo do joelho 140º até 160º Inclinação do pé 90º Inclinação da coxa 20º a 30º Pedais para grandes forças Curso do pedal (quanto menor o ângulo do joelho, maio o curso do pedal) 0,5 - 1,5 cm Resistência (máximo) 60 N Pedais de pequena força Curso do pedal (máximo) 6 cm Ângulo máximo do pedal* 30º Ângulo ótimo do pedal* 15º Resistência de operação 30 - 50 N Fonte: Grandjean (1998). * Ângulo do pedal: ângulo de ação entre o ponto zero e o ponto máximo, final do curso do pedal. Figura 34 - Exemplos de pedais. Fonte: Santos et al. (1997). Segundo Schlosser (2002), os acidentes com tratores agrícolas merecem atenção, pois representam porcentagem significativa. Na Europa, conforme Márquez (1986), cerca de 40% do total de acidentes ocorridos no setor agrário abrange máquinas agrícolas, sendo 50% provenientes do uso do trator agrícola. 49 De acordo com Iida (2000), devem ser tomados os seguintes cuidados com relação aos controles para evitarem acidentes com o operador a seguir e exemplificado na Figura 35 posteriormente. - localização: situar os controles para serem acionados seqüencialmente, dentro de uma determinada lógica de movimentos. - orientação: movimentar o controle na direção em que não possa ser movido por forças acidentais do operador. - rebaixos: inserir os controles no painel, de forma que não apresentem saliências. - cobertura: proteger os controles por um anel ou uma caixa protetora ou colocá-los no interior de caixas com tampas. - canalização: usar guias-feitas na superfície do painel para estabelecer o controle em uma determinada posição; o deslocamento é precedido de um movimento perpendicular ao usado para destravá-lo. - batente: o operador use as bordas para se manter em uma determinada posição. - resistência: atribuir ao controle atrito ou inércia para anular pequenas forças acidentais. - bloqueio: colocar algum obstáculo, para que quando for utilizado tenha que desbloquear para usar o comando. - luzes: agregar ao controle uma pequena lâmpada que acende quando o comando é ativado. Figura 35 - Exemplos para prevenção de acidentes no uso de controles. Fonte: Iida (2000). 50 Relacionado aos controles está o manejo, o qual é considerado como a área de pega para transmissão dos movimentos do homem aos comandos da máquina, para o que se utilizam quase sempre os membros superiores e inferiores. Os tipos de manejo são: - manejo fino: realizado com as pontas dos dedos; transmite uma grande precisão e velocidade, com pequena força, ao passo que a palma de mão se mantém praticamente imóvel. A força transmitida pelo dedo polegar em oposição aos demais, pode chegar a 98 N (Figura 36 a). - manejo grosseiro: os dedos são utilizados para segurar, sustentando a alavanca relativamente sem movimento e transmitindo maior força, com menor precisão e velocidade. Os dedos fechados em torno do objeto transmitem uma força de até 392 N; levantar e abaixar peso, sem usar o tronco, transmite uma força máxima de 265 N; já, para os movimentos de empurrar e puxar esta força é de 539 N (Figura 36 b). Figura 36 – Exemplos de manejo fino e grosseiro. Fonte: Iida (2000). A forma do manejo tem influência no desempenho do sistema homem-máquina, existindo basicamente dois tipos de formas, de acordo com Iida (2000): - manejo geométrico: assemelha-se com as figuras geométricas regulares, como o cilindro, esfera, cones e paralelepípedos. Essas formas apresentam pouco contato de superfície com as mãos, por serem diferentes da anatomia humana, porém permitem maior variação de 51 pega, podendo ser usadas por uma variedade maior de indivíduos sem que estes sejam prejudicados. Têm a desvantagem de concentrar as tensões em alguns pontos da mão e transmitir menos força. Um bom diâmetro para transmissão de força é de 3 cm a 5 cm, já os diâmetros de 5 cm a 7 cm permitem uma boa pega, mas não transmitem boa pressão sobre a superfície. A forma geométrica é a mais adequada para pequenas forças, devido à maleabilidade de uso, resultando num trabalho menos cansativo para o operador. O uso do manejo geométrico é representado na Figura 37. Figura 37 - Forma adequada de pega. Fonte: Dul e Weerdmeester (2000). - manejo antropomorfo: em geral apresenta uma superfície irregular, que molda a anatomia da parte do organismo usado para o manejo. Possui saliência para o encaixe da palma da mão, dos dedos ou da ponta dos dedos. Por apresentar maior contato com a superfície, proporciona maior firmeza e transmite muita força. Deve-se salientar que o uso contínuo des