UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP CÂMPUS DE JABOTICABAL DIFERENTES FRAÇÕES INSPIRADAS DE OXIGÊNIO ASSOCIADO AO AR COMPRIMIDO OU ÓXIDO NITROSO, EM LEITÕES ANESTESIADOS COM PROPOFOL E MANTIDOS SOB VENTILAÇÃO CONTROLADA E PEEP Eliselle Gouveia de Faria Biteli Médica Veterinária 2017 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP CÂMPUS DE JABOTICABAL DIFERENTES FRAÇÕES INSPIRADAS DE OXIGÊNIO ASSOCIADO AO AR COMPRIMIDO OU ÓXIDO NITROSO, EM LEITÕES ANESTESIADOS COM PROPOFOL E MANTIDOS SOB VENTILAÇÃO CONTROLADA E PEEP Eliselle Gouveia de Faria Biteli Orientador: Prof. Dr. Newton Nunes Coorientador: Profa. Dra. Patrícia Cristina Ferro Lopes Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp, Câmpus de Jaboticabal, como parte das exigências para obtenção do título de Doutora em Cirurgia Veterinária. 2017 Biteli, Eliselle Gouveia de Faria B624d Diferentes frações inspiradas de oxigênio associado ao ar comprimido ou óxido nitroso, em leitões anestesiados com propofol e mantidos em ventilação controlada e PEEP / Eliselle Gouveia de Faria Biteli. – – Jaboticabal, 2017 xvii, 220 p. : il. ; 29 cm Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 2017 Orientador: Newton Nunes Coorientadora: Patrícia Cristina Ferro Lopes Banca examinadora: Roberta Carareto, Vivian Fernanda Barbosa, Bruno Watanabe Minto, Paola Castro Moraes Bibliografia 1. Alquilfenol. 2. Atelectasia. 3. Colapso alveolar. 4. Suínos. 5. I. Título. II. Jaboticabal-Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. CDU 619:616-089.5:636.4 Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação – Diretoria Técnica de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de Jaboticabal. DADOS CURRICULARES DO AUTOR Eliselle Gouveia de Faria Biteli – Nasceu em 23 de março de 1986, na cidade de Minaçu, estado de Goiás; filha de Célia Leite de Gouveia Faria e Luiz Antônio Barcelos de Faria. Cursou Medicina Veterinária de 2004 a 2009 na Universidade Federal do Tocantins – UFT – Câmpus de Araguaína. Nesta oportunidade, foi bolsista por dois anos consecutivos (2007 e 2008) de iniciação científica, além de conduzir sete monitorias, nas áreas de histologia, farmacologia, anestesiologia e cirurgia veterinária, no decorrer do curso. Em 2010 ingressou no Programa de Aprimoramento Profissional – PAP – em Anestesiologia Veterinária, ofertada pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, no Hospital Veterinário ‘’Governador Laudo Natel’’ da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – FCAV – Câmpus de Jaboticabal, sob orientação do Professor Doutor Newton Nunes, concluindo o curso em 2012. Neste mesmo ano, ingressou no programa de Pós- graduação em Cirurgia Veterinária, com ênfase em Anestesiologia Veterinária, curso de mestrado, tendo sido bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP, sob orientação do Professor Doutor Newton Nunes, concluindo o curso em 2014. Neste mesmo ano, ingressou no mesmo programa de Pós- graduação para o curso de doutorado, sob orientação do Professor Doutor Newton Nunes, tendo dispensado a bolsa ofertada pela CAPES como pré-requisito para ingressar como docente na Universidade Paulista – UNIP – Câmpus de Bauru, onde atua até o momento, nas áreas de Anestesiologia Veterinária, Terapia intensiva, Farmacologia Veterinária e Toxicologia Veterinária. EPÍGRAFE “Os que se encantam com a prática sem a ciência são como os timoneiros que entram no navio sem timão nem bússola, nunca tendo certeza do seu destino”. (Leonardo da Vinci) DEDICATÓRIA Ao meu filho Luis Guilherme que mesmo sem entender agora, um dia saberá que minha ausência, hoje, é única e exclusivamente para enchê-lo de orgulho amanhã. AGRADECIMENTOS Creio que até as piores adversidades me permitiram superar e evoluir para concluir esse projeto tão sonhado, e por que não agradecer também por isso? Citar todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para finalização desta etapa tão importante para mim seria impossível, portanto, meu muito obrigada a todos vocês que direta ou indiretamente estiveram comigo ou passaram pelo meu caminho até aqui. Por eterna gratidão, sinto-me no dever de fazer alguns agradecimentos em especial: À Deus pela oportunidade de me tornar uma profissional, esposa e mãe. Agradecer todos os dias ao Criador seria insuficiente por tantas bênçãos concedidas. À minha mãe, irmã, pai e esposo por ajudarem a cuidar do nosso pequeno Luis Guilherme, enquanto me ausentei para redigir este trabalho. Ao meu filho, que mesmo tão jovem suportou ainda em meu ventre, todas as tensões passíveis de um doutoramento e que foi privado da minha presença, amor e cuidados em seu primeiro e tão importante ano de vida. É com lágrimas que escrevo isso meu bebê, mas espero que você me perdoe por submetê-lo a isso e que este título possa te encher de orgulho e preencher essa lacuna. Somente uma mãe compreenderá o significado dessas palavras. Aos meus orientadores Prof. Dr. Newton Nunes e Profa. Dra. Patrícia Cristina Ferro Lopes que foram, são e serão mais que conselheiros em minha vida. Vocês são dois seres iluminados e com missões muito especiais nesse plano terreno. Minha eterna gratidão à existência de vocês em minha trajetória. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP, pelo fomento concedido em forma de financiamento de projeto (processo 2013/25655-0). Aos bons amigos que fiz durante os anos de convivência em Jaboticabal e que foram companheiros inestimáveis. A toda equipe de trabalho que participou da etapa experimental deste estudo: Prof. Dr. Newton Nunes, Paloma do Espírito Santo Silva, Cleber Kazuo Ido, Ana Paula Gering, Mônica Horr, Helen Roberta Amaral, Rosana Wendler da Rocha, Diego Yamada, Rodrigo Lima Carneiro e Isadora Mestringer. Gratidão também aos companheiros que mesmo não fazendo parte da equipe nos auxiliaram no decorrer do experimento, Darcio Zangirolami Filho, Nathan Cruz e colegas do setor de radiologia. Ao Prof. Dr. Carlos Augusto Araújo Valadão por ter concedido o uso do laboratório de pesquisa em Anestesiologia de Grandes Animais para a fase experimental. Ao Prof. Dr. Luis Guilherme de Oliveira e sua equipe, pelo auxílio no manejo dos animais após o período experimental. Ao colega Thiago Francisco Ventoso Bompadre pela assistência impecável na análise estatística deste estudo. À toda equipe de trabalho da Unip, que me auxiliou no decorrer deste curso e me substituiu quando necessário. Em especial à Profa Dra. Silvia Sgarbosa que mais que coordenadora do serviço de Medicina Veterinária, tem sido amiga, conselheira e profissional exemplar. Meu muito obrigada à todos vocês. viii SUMÁRIO Página CEUA............................................................................................................... ....xi RESUMO ......................................................................................................... ...xii ABSTRACT ................................................................................................... ....xiii LISTA DE ABREVIATURAS .......................................................................... ....xiv 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 18 2. OBJETIVOS .................................................................................................. 20 2.1 Objetivo geral .................................................................................... 20 2.2 Objetivos específicos ........................................................................ 20 3. REVISÃO DE LITERATURA ......................................................................... 22 3.1 Propofol ............................................................................................ 22 3.2 Óxido Nitroso (N2O) .......................................................................... 24 3.3 Ventilação controlada à pressão (VPC) e pressão positiva ao final da expiração (PEEP) ............................................................................. 26 3.4 Fração Inspirada de Oxigênio (FiO2) ................................................ 29 4. MATERIAL E MÉTODOS .............................................................................. 32 4.1 Animais ............................................................................................. 32 4.2 Protocolo experimental ..................................................................... 33 4.3 Dinâmica respiratória ...................................................................... ..38 4.3.1 Parâmetros hemogasométricos ................................................ ..38 4.3.2 Avaliação dos parâmetros ventilatórios .................................... ..38 4.3.2.1 Pressão parcial alveolar de oxigênio (PAO2) .......................... ..38 4.3.2.2 Diferença alvéolo-arterial de oxigênio (P(A-a)O2 ou AaDO2 .. ..39 4.3.2.3 Conteúdo arterial de oxigênio (CaO2) .................................... ..39 4.3.2.4 Conteúdo venoso misto de oxigênio (CvO2) .......................... ..39 4.3.2.5 Mistura arteriovenosa (Qs/Qt) ............................................... ..39 4.3.2.6 Diferença de tensão entre o dióxido de carbono alveolar e o expirado [P(a-ET)CO2] ........................................................... ..39 4.3.2.7 Índice respiratório (IR) ........................................................... ..40 4.3.2.8 Relação artério-alveolar de oxigênio (a/A) ............................ ..40 4.3.2.9 Índice de oxigenação ............................................................. ..40 4.3.2.10 Oferta de oxigênio (DO2) e índice de oferta de oxigênio (IDO2)......................................................................................40 4.3.2.11 Consumo de oxigênio (VO2) e índice de consumo de oxigênio (IVO2) ................................................................................... ...40 4.3.2.12 Taxa de extração de oxigênio (TeO2) .................................. ...41 4.4 Dinâmica cardiovascular ................................................................. ...41 4.4.1 Frequência cardíaca (FC) ......................................................... ...41 4.4.2 Pressões arteriais sistólica (PAS), diastólica (PAD) e média (PAM) .................................................................................................... ...41 4.4.3 Pressão venosa central (PVC) ................................................. ...41 4.4.4 Débito cardíaco (DC) ................................................................ ...42 4.4.5 Índice cardíaco (IC) .................................................................. ...42 4.4.6 Volume sistólico (VS) e índice sistólico (IS) ............................. ...42 ix 4.4.7 Pressão média da artéria pulmonar (PAPm) e pressão média capilar pulmonar (PCPm) ......................................................... ...42 4.4.8 Variação de pressão de pulso (ΔPP) ....................................... ...43 4.4.9 Resistência periférica total (RPT) e índice de resistência periférica total (IRPT) ............................................................................... ...43 4.4.10 Resistência vascular pulmonar (RVP) e índice de resistência vascular pulmonar (IRVP).... .................................................. ...43 4.5 Parâmetros Intracranianos ............................................................. ...44 4.5.1 Pressão intracraniana (PIC) ..................................................... ...44 4.5.2 Pressão de perfusão cerebral (PPC) ........................................ ...44 4.5.3 Temperatura intracraniana (TIC) .............................................. ...44 4.6 Temperatura corporal (TC) ............................................................. ...44 4.7 Índice Biespectral (BIS) .................................................................. ...45 4.8 Delineamento estatístico ................................................................ ...45 5. RESULTADOS ............................................................................................ ...46 5.1 Dinâmica respiratória ...................................................................... ...46 5.1.1 Parâmetros hemogasométricos ................................................ ...46 5.1.1.1 Pressão parcial de oxigênio no sangue arterial (PaO2) ...... ...46 5.1.1.2 Pressão parcial de dióxido de carbono no sangue arterial (PaCO2) ............................................................................. ...48 5.1.1.3 Saturação de oxihemoglobina no sangue arterial (SaO2) .. ...50 5.1.1.4 Déficit de base do sangue arterial (DB) .............................. ...52 5.1.1.5 Bicarbonato do sangue arterial (HCO3 -) ............................. ...54 5.1.1.6 pH do sangue arterial (pH) ................................................. ...56 5.1.1.7 Pressão parcial de oxigênio no sangue venoso misto (PvO2) ................................................................................ ...58 5.1.1.8 Pressão parcial de dióxido de carbono no sangue venoso misto (PvCO2) .................................................................... ...60 5.1.1.9 Saturação de oxihemoglobina no sangue venoso misto (SvO2) ................................................................................ ...62 5.1.2 Parâmetros ventilatórios ........................................................... ...64 5.1.2.1 Volume corrente (Vt) ........................................................... ...64 5.1.2.2 Volume minuto (Vm) ........................................................... ...66 5.1.2.3 Tempo inspiratório (Tins) .................................................... ...68 5.1.2.4 Pressão parcial alveolar de oxigênio (PAO2) ....................... ...70 5.1.2.5 Diferença alvéolo-arterial de oxigênio (P(A-a)O2 ou AaDO2) ......................................................... ...72 5.1.2.6 Conteúdo arterial de oxigênio (CaO2) ................................. ...74 5.1.2.7 Conteúdo venoso misto de oxigênio (CvO2) ....................... ...77 5.1.2.8 Mistura arteriovenosa (Qs/Qt) ............................................ ...79 5.1.2.9 Diferença de tensão entre o dióxido de carbono alveolar e o expirado [P(a-ET)CO2] ....................................................... ...81 5.1.2.10 Índice respiratório (IR) ...................................................... ...83 5.1.2.11 Relação artério-alveolar de oxigênio (a/A) ....................... ...86 5.1.2.12 Índice de oxigenação (IO) ................................................. ...88 5.1.2.13 Oferta de oxigênio (DO2) .................................................. ...90 5.1.2.14 Índice de oferta de oxigênio (IDO2) ................................... ...92 5.1.2.15 Consumo de oxigênio (VO2) ............................................. ...94 x 5.1.2.16 Índice de consumo de oxigênio (IVO2) ............................. ...96 5.1.2.17 Taxa de extração de oxigênio (TeO2) ............................... ...98 5.2 Dinâmica cardiovascular ................................................................. ...100 5.2.1 Frequência cardíaca (FC) ......................................................... ...100 5.2.2 Pressão arterial sistólica (PAS) ................................................ ...102 5.2.3 Pressão arterial diastólica (PAD) .............................................. ...104 5.2.4 Pressão arterial média (PAM) ................................................... ...106 5.2.5 Pressão venosa central (PVC) ................................................. ...108 5.2.6 Débito cardíaco (DC) ................................................................ ...110 5.2.7 Índice cardíaco (IC) .................................................................. ...112 5.2.8 Volume sistólico (VS) ................................................................ ...114 5.2.9 Índice sistólico (IS) .................................................................... ...116 5.2.10 Pressão média da artéria pulmonar (PAPm) .......................... ...118 5.2.11 Pressão média capilar pulmonar (PCPm) .............................. ...120 5.2.12 Variação de pressão de pulso (ΔPP) ..................................... ...122 5.2.13 Resistência periférica total (RPT) ........................................... ...124 5.2.14 Índice de resistência periférica total (IRPT) .......................... .....126 5.2.15 Resistência vascular pulmonar (RVP) .................................. .....128 5.2.16 Índice de resistência vascular pulmonar (IRVP) ................... .....130 5.3 Parâmetros intracranianos ............................................................ .....132 5.3.1 Pressão intracraniana (PIC) ................................................... .....132 5.3.2 Pressão de perfusão cerebral (PPC) ...................................... .....134 5.3.3 Temperatura intracraniana (TIC) ............................................ .....136 5.4 Temperatura corporal (TC) ........................................................... .....138 5.5 Índice biespectral .......................................................................... .....140 5.5.1 Índice biespectral (BIS) ........................................................... .....140 5.5.2 Eletromiografia (EMG) ............................................................ .....142 5.5.3 Qualidade de sinal (QS) ......................................................... .....144 5.5.4 Taxa de supressão (TS) ......................................................... .....146 5.6 Correlação de Pearson e análise de regressão linear ................. .....148 5.6.1 Qs/Qt versus P(A-a)O2 ........................................................... .....148 5.6.2 Qs/QT versus IR ..................................................................... .....152 5.6.3 Qs/Qt versus IO ...................................................................... .....156 5.6.4 Qs/Qt versus a/A .................................................................... .....160 6. DISCUSSÃO ............................................................................................. .....164 7. CONCLUSÕES ......................................................................................... .....201 8. REFERÊNCIAS ......................................................................................... .....202 xi xii DIFERENTES FRAÇÕES INSPIRADAS DE OXIGÊNIO ASSOCIADO AO AR COMPRIMIDO OU ÓXIDO NITROSO, EM LEITÕES ANESTESIADOS COM PROPOFOL E MANTIDOS SOB VENTILAÇÃO CONTROLADA E PEEP RESUMO – Compararam-se os efeitos de diferentes frações inspiradas de oxigênio (FiO2) associado ao óxido nitroso (N2O) ou ao ar comprimido sobre a hematose, parâmetros cardiorrespiratórios, intracranianos e o índice biespectral (BIS), em leitões mantidos em ventilação espontânea ou controlada a pressão, associada ou não à PEEP (5 cmH2O). Foram utilizados 48 leitões, distribuídos em 6 grupos, submetidos à 10, 30 e 50% de ar comprimido (GA10, GA30 e GA50) ou N2O (GN10, GN30 e GN50), associadas às FiO2 de 0,9, 0,7 e 0,5, respectivamente. O GA30 mostrou maior proximidade do intervalo fisiológico da pressão parcial de oxigênio no sangue arterial. A PEEP não foi eficaz na pressão parcial de dióxido de carbono no sangue arterial, independente da FiO2, quando se utilizou o N2O. O pH, déficit base e bicarbonato no sangue arterial foram influenciados pela FiO2 e N2O. As alterações do volume corrente e volume minuto parecem correlacionadas à introdução da ventilação mecânica (VM) e PEEP. Na diferença alvéolo-arterial de oxigênio, a PEEP influenciou negativamente o GA30 e GN30 e não foi adequada para manutenção do shunt pulmonar. Já a pressão média da artéria pulmonar e pressão média capilar pulmonar apresentaram acréscimos após introdução da PEEP. A associação da PEEP com N2O (50%) ou ar comprimido (50%) parece ser a receita para desempenho inferior da variação de pressão de pulso. Para a pressão intracraniana, apenas o GN30 apresentou valor menor ao se instituir a VM quando comparado com o momento em que houve início do auxílio com a PEEP. Concluiu-se que, nenhuma concentração de N2O é segura para a manutenção dos parâmetros hemogasométricos. A VM e a PEEP não são eficientes para manutenção das variáveis respiratórias. A PEEP promove piora no desempenho de parâmetros cardiovasculares e intracranianos. Maiores taxas de oferta de N2O (50%) reduzem o BIS em suínos. Palavras-chave: Alquilfenol, atelectasia, colapso alveolar, shunt, suínos xiii DIFFERENT INSPIRED FRACTIONS OF OXYGEN ASSOCIATED WITH COMPRESSED AIR OR NITROSOUS OXIDE, IN PIGLETS ANESTHETIZED WITH PROPOFOL AND KEPT WITH CONTROLLED VENTILATION AND PEEP ABSTRACT – The effects of different fractions of inspired oxygen (FiO2) associated with compressed air or nitrous oxide (N2O) on lung oxygenation, cardiorespiratory parameters, intracranial parameters and the bispectral index (BIS) were compared in piglets maintained under spontaneous or controlled ventilation, with or without PEEP (5 cmH2O). Forty-eight piglets, distributed in six groups, were submitted to 10, 30 and 50% of compressed air (GA10, GA30 and GA50) or N2O (GN10, GN30 and GN50), associated with FiO2 of 0.9, 0.7 and 0.5, respectively. GA30 showed greater proximity to the physiological range of partial oxygen pressure in the arterial blood. When N2O was used, PEEP was ineffective in maintaining partial carbon dioxide pressure in the arterial blood, independent of FiO2. Arterial blood pH, base deficit and bicarbonate were influenced by FiO2 and N2O. Changes in tidal and minute volumes seem to correlate with the introduction of mechanical ventilation (MV) and PEEP. The difference in alveolar-arterial oxygen under PEEP negatively influenced GA30 and GN30 and was inadequate for pulmonary shunt maintenance. Mean pulmonary artery pressure and mean capillary pulmonary pressure increased following the initiation of PEEP. The association of PEEP with N2O (50%) or compressed air (50%) seems to result in lower performance of pulse pressure variation. Regarding intracranial pressure, only GN30 presented a lower value when MV was established compared with the time point when PEEP was initiated. In conclusion, no concentration of N2O is safe for maintaining blood gas parameters. MV and PEEP are inefficient in the maintenance of respiratory variables. PEEP promotes deterioration in the performance of cardiovascular and intracranial parameters. Higher N2O supply rates (50%) reduce BIS in pigs. Keywords: Alkylphenol, atelectasis, alveolar collapse, shunt, pigs xiv LISTA DE ABREVIATURAS [P(A-a) O2] Diferença Alvéolo-Arterial de Oxigênio ∆PP Variação de pressão de pulso % Porcentagem a/A Relação artério-alveolar AaDO2 Diferença de tensão entre o oxigênio alveolar e o arterial ASC Área da superfície corpórea em m2 BIS Índice biespectral C Complacência CaO2 Conteúdo arterial de oxigênio CcO2 Conteúdo capilar de oxigênio CvO2 Conteúdo venoso misto de oxigênio CEUA Comissão de Ética no Uso de Animais DB Déficit de base DC Débito cardíaco DI Diâmetro interno DO2 Oferta de oxigênio EMG Eletromiografia ETCO2 Dióxido de carbono no final da expiração f Frequência respiratória FC Frequência cardíaca FCAV Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias FiO2 Fração inspirada de oxigênio FSC Fluxo sanguíneo cerebral GABA Ácido gama-aminobutírico GA10 Grupo Ar Comprimido com FiO2 = 0,9 e ar comprimido = 0,1 GA30 Grupo Ar Comprimido com FiO2 = 0,7 e ar comprimido = 0,3 GA50 Grupo Ar Comprimido com FiO2 = 0,5 e ar comprimido = 0,5 GN10 Grupo Óxido Nitroso com FiO2 = 0,9 e óxido nitroso = 0,1 xv GN30 Grupo Óxido Nitroso com FiO2 = 0,7 e óxido nitroso = 0,3 GN50 Grupo Óxido Nitroso com FiO2 = 0,5 e óxido nitroso = 0,5 h Horas Hba Concentração de Hemoglobina no sangue arterial HCO3 - Concentração bicarbonato no sangue arterial HCO3 -v Concentração de bicarbonato no sangue venoso misto IC Índice cardíaco IDO2 Índice de oferta de oxigênio IM Por via intramuscular IO Índice de oxigenação IR Índice respiratório IRPT Índice da resistência periférica total IRVP Índice da resistência vascular pulmonar IS Índice Sistólico IV Por via intravenosa IVO2 Índice de consumo de oxigênio kg Quilograma MAP Pressão média nas vias aéreas mg Miligrama min Minuto N2O Óxido Nitroso O2 Oxigênio P(a-ET)CO2 Diferença de tensão entre o dióxido de carbono alveolar e o expirado PaCO2 Pressão parcial de dióxido de carbono no sangue arterial PAD Pressão arterial diastólica PAM Pressão arterial média PAO2 Pressão parcial alveolar de oxigênio PaO2 Pressão parcial de oxigênio no sangue arterial PAPm Pressão média da artéria pulmonar PAS Pressão arterial sistólica Pb Pressão barométrica ambiente PCPm Pressão média capilar pulmonar xvi PEEP Pressão positiva ao final da expiração pH Potencial hidrogeniônico no sangue arterial pHv Potencial hidrogeniônico no sangue venoso misto PIC Pressão intracraniana PoAP Pressão de oclusão da artéria pulmonar PPC Pressão de perfusão cerebral PPmax Pressão de pulso máxima durante o ciclo respiratório PPmin Pressão de pulso mínima durante o ciclo respiratório PVC Pressão venosa central PvO2 Pressão parcial de oxigênio no sangue venoso misto PvCO2 Pressão parcial de dióxido de carbono no sangue venoso misto QS Qualidade do sinal Qs/Qt Mistura arteriovenosa Rawi Resistência das vias aéreas na inspiração RPT Resistência periférica total RQ Quociente respiratório RVP Resistência vascular pulmonar SaO2 Saturação de oxihemoglobina no sangue arterial SNC Sistema nervoso central SvO2 Saturação de oxihemoglobina no sangue venoso misto TC Temperatura corporal TIC Temperatura intracraniana Tins Tempo inspiratório TIVA Anestesia intravenosa total TS Taxa de supressão UNESP Universidade Estadual Paulista VS Volume sistólico Vm Volume minuto VM Ventilação mecânica VO2 Consumo de oxigênio Vt Volume corrente xvii V/Q Relação ventilação-perfusão W Trabalho respiratório µg Micrograma 18 1. INTRODUÇÃO Se outrora estudos apontavam o propofol como o agente mais amplamente utilizado em induções da anestesia geral e os agentes inalatórios os de eleição durante a fase de manutenção anestésica, a análise de episódios adversos decorrentes do uso de halogenados durante o período operatório tem sido descrita por alguns autores. A título de exemplo, estudos investigaram eventos hemodinâmicos durante anestesia geral com sevoflurano ou propofol e episódios de taquicardia durante o procedimento anestésico foram mais frequentes no grupo onde o primeiro fármaco foi utilizado. Outrossim, existem outros aspectos dignos de nota que alicerçam o uso do propofol na manutenção da anestesia geral intravenosa, principalmente quanto aos tempos de recuperação, onde existem resultados conflitantes, demonstrando que o tempo de deambulação após anestesia geral com sevoflurano ou propofol foram significativamente diferentes e maiores no grupo de pacientes onde o sevoflurano foi utilizado. O mesmo estudo relata incidência de náuseas e vômitos de 8% no grupo do sevoflurano e de apenas 1% no grupo do propofol. Não menos importante, trabalhos que antes apontavam vantagens no uso de substâncias halogenadas quando aquilatadas à anestesia intravenosa não estabeleciam uma correlação de plano anestésico entre estudos comparativos de Anestesia Intravenosa Total (TIVA) e anestesia inalatória. Com o advento do índice biespectral (BIS) ficou mais fácil correlacionar o plano anestésico e estabelecer igualdade de administração de anestésicos venosos e inalatórios trazendo, portanto, à tona, dúvidas entre os profissionais anestesiologistas sobre essas duas modalidades anestésicas, abrindo portas para novos estudos utilizando o propofol na anestesia intravenosa. Complementarmente, apesar do propofol ser um fármaco benéfico em induções e manutenções na anestesia intravenosa, por proporcionar recuperação rápida e promover pouco efeito cumulativo, ele não possui ação analgésica relevante, sendo, muitas vezes, necessário associá-lo a fármacos analgésicos como os opioides ou mesmo gases anestésicos. 19 O óxido nitroso (N2O) é um gás anestésico que apesar de sua ineficiente potência, surge como alternativa para suplementar a analgesia inexistente nas características farmacológicas do propofol. Ademais, promove sedação e reduz consideravelmente o volume de anestésicos associados na anestesia. Em cães, o emprego do N2O a 70% parece não interferir nos efeitos depressores do propofol sobre o sistema cardiovascular e a pressão de perfusão cerebral. Porém, em Medicina Veterinária, os efeitos de diferentes concentrações de N2O sobre a hematose ainda não foram avaliados e devidamente esclarecidos. Já a fração inspirada de oxigênio (FiO2) e a solubilidade do gás inerte na mistura inspirada são fatores determinantes para a taxa de absorção dos gases nos alvéolos. Assim, quando o gás inspirado contém O2 e gás inerte, como óxido nitroso, a transferência da mistura é mais rápida, podendo acelerar a formação de colapso alveolar por absorção. Portanto, a escolha da mistura a ser utilizada na anestesia pode auxiliar na prevenção ou no agravo das áreas de colapso alveolar. Dessa maneira surge o questionamento de qual a melhor proporção de O2 e N2O a ser empregada, com intuito de prevenir o déficit na oxigenação oriundo da formação de áreas de atelectasia. Adicionalmente, é sabido que a ventilação mecânica (VM) contribui para modificações na hematose pulmonar, requerendo menores FiO2 quando comparada à ventilação espontânea. Somado a isso, um recurso da ventilação mecânica que pode auxiliar na prevenção das áreas de atelectasias é a pressão positiva ao final da expiração (PEEP), a qual promove distensão e previne o colapso alveolar, permitindo assim o uso de FiO2 menores. Todavia, seu emprego pode promover alterações hemodinâmicas, como diminuição do débito cardíaco com aumento da variação de pressão de pulso, exacerbando a característica da ventilação mecânica em reduzir o retorno venoso, ocasionando assim, o aumento das pressões venosa central e intracraniana. Questiona-se, portanto, se o uso do propofol, associado ao óxido nitroso seria vantajoso para a espécie suína. Do mesmo modo, indaga-se qual seria a concentração do gás anestésico ideal para manutenção da hematose nestes animais. Similarmente, pergunta-se qual a associação ideal entre fração inspirada de oxigênio e N2O para complementar a anestesia intravenosa, sem que haja déficit na 20 oxigenação oriunda da formação de aéreas de atelectasia. Seria ainda vantajosa a introdução da ventilação mecânica no intuito de reduzir a FiO2 em suínos? Ou a utilização desta modalidade ventilatória só teria benefícios se utilizada em conjunto à PEEP, permitindo assim não só a redução da FiO2 como também prevenção do colapso alveolar mesmo com os riscos inerentes ao seu uso? Por meio do estudo proposto, espera-se sanar tais questionamentos e demais dúvidas oriundas da metodologia implementada. 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Com este trabalho procurou-se determinar comparativamente os efeitos de diferentes concentrações do óxido nitroso e de oxigênio sobre a hematose, os parâmetros cardiorrespiratórios, intracranianos e o índice biespectral, em leitões anestesiados com propofol e mantidos em ventilação espontânea ou controlada a pressão associada ou não a PEEP, conduzindo-se o experimento em três fases, de modo a se esclarecerem os achados e responder as questões pertinentes. 2.2 Objetivos específicos . Avaliar os efeitos do emprego de diferentes concentrações de N2O sobre a anestesia com propofol em leitões mantidos em ventilação espontânea, controlada a pressão ou em associação à PEEP, por meio da avaliação dos parâmetros hemodinâmicos, respiratórios, intracranianos e do índice biespectral. . Estabelecer qual a melhor concentração de N2O a ser empregada durante a ventilação controlada a pressão ou a associação desta à PEEP. . Determinar qual a melhor FiO2 a ser empregada na ventilação controlada a pressão ou a associação desta à PEEP. 21 . Avaliar os efeitos da PEEP sobre a hematose, os parâmetros cardiorrespiratórios, intracranianos e o índice biespectral. . Verificar as intercorrências determinadas pela metodologia a ser empregada. 22 3. REVISÃO DE LITERATURA 3.1 Propofol O propofol, também denominado 2,6-diisopropilfenol, foi sintetizado e solubilizado na década de 70 por Glen e colaboradores (DUNDEE; WYANT, 1993). Por apresentar reações adversas, teve seu uso liberado para experimentação em humanos apenas na década seguinte. Este fármaco de peso molecular de 178, pH de 6 a 8,5 e pKa igual a 7,0 (MASSONE, 2002), é um líquido hidrófobo à temperatura ambiente e, por isso, foi formulado em emulsão lipídica a 1% contendo óleo de soja, glicerol e fosfato de ovo purificado (EGAN et al., 2003). Ademais, segundo Fantoni, Cortopassi e Bernardi, (1999), possui elevado grau de ligação às proteínas plasmáticas (97-98%), especialmente à albumina (95%). Trata-se de um anestésico intravenoso não barbitúrico, de duração fugaz, utilizado exclusivamente pela via intravenosa (IV). Por ser altamente lipofílico, atravessa rapidamente a barreira hematoencefálica (MIRENDA; BROYLES, 1995), acarretando perda da consciência entre 20 e 40 segundos após a administração intravenosa. Não obstante, a depuração do fármaco é relativamente demorada (DUKE, 1995), devido à eliminação lenta pelo tecido adiposo (SHORT; BUFALARI, 1999). Por exceder o fluxo sanguíneo hepático, se sugere metabolismo extra-hepático ou eliminação extrarrenal (GEOVANINI, et al., 2008). Em se tratando do mecanismo geral de ação, a literatura refere incompreensão, parecendo ter atuação sobre o sistema nervoso central (SNC), com potencialização da transmissão do ácido gama-aminobutírico (GABA) e modulação da ligação do GABA ao respectivo receptor (GUY; GELB, 1991), afetando todas as estruturas do SNC, porém de forma rapidamente reversível. Ainda segundo Kaiser e demais autores (2003), o propofol promove recuperação rápida em suínos e notável vantagem, para esta espécie, quando aquilatado aos efeitos dos halogenados, pois não está associado à ocorrência de 23 hipertermia maligna, relatado após o uso de gases anestésicos como o isofluorano (CLAXTON-GILL, et al., 1993). Já Foster, Hopkinson e Deboroug (1992), afirmaram que o uso do propofol em suínos pode provocar inúmeros efeitos conforme a dose preconizada. Segundo estes autores, este fármaco apresenta margem reduzida de segurança terapêutica nessa espécie. Assim, doses variando entre 4,0 a 20,0 mg/kg, por via intravenosa, foram descritas para uso em suínos na literatura científica. Neste intervalo, promove efeito hipnótico em associação ou não com outros fármacos para indução anestésica (FOSTER; HOPKINSON; DENBOROUG, 1992). Marqueti (2003), administrou em suínos pré-medicados com azaperona (1 mg/kg) e midazolam (0,2 mg/kg), o propofol para indução na dose de 4 mg/kg e manutenção da anestesia com 0,4 mg/kg/min. Em outro estudo, para essa mesma espécie animal, administrou-se 12mg/kg de propofol para indução anestésica e para manutenção 0,3 mg/kg/min do mesmo fármaco associado a 0,3 μg/kg/min de remifentanil (GIANOTTI, 2010). No sistema respiratório sob efeito do propofol, podem ser observadas cianose e apneia, além de diminuição do volume minuto, da frequência respiratória (f) e da pressão parcial de oxigênio no sangue arterial (PaO2). Em contrapartida, ocorre aumento da pressão parcial de dióxido de carbono no sangue arterial (PaCO2), conforme doses crescentes são utilizadas (SMITH et al., 1993; FANTONI; CORTOPASSI; BERNARDI, 1999). A depressão respiratória e apneia, decorrem principalmente da administração rápida do fármaco (MUIR III; GADAWSKI, 2002), enquanto injeções mais lentas reduzem significativamente a ocorrência desses efeitos (FERRO et al., 2005; LOPES et al., 2008a). Complementarmente, o propofol parece promover diminuição da pressão arterial, com aumento compensatório da frequência cardíaca (FC) segundo Short e Bufalari (1999), corroborando Muir III e Gadawski (2002). Estes autores ainda relataram que a administração do propofol está ligada à diminuição da resistência vascular, desempenho cardíaco e volume sistólico, causando também vasoconstrição, diminuição do fluxo sanguíneo, redução da taxa metabólica e de oxigênio, somado à queda da pressão intracraniana (PIC) e pressão de perfusão cerebral. No entanto, não promove hipóxia ou isquemia cerebral, conforme atestado por López e demais autores em 1994. 24 Somado a isso, Paula et al. (2010), em estudos que avaliaram os efeitos da infusão contínua de propofol ou etomidato sobre variáveis intracranianas em cães, concluíram que ambas as infusões mantém a perfusão e a autorregulação cerebrais. Finalmente, à luz da literatura é possível afirmar que o propofol é benéfico para pacientes submetidos à neurocirurgia, já que possui propriedades anticonvulsivantes e, por promover redução do fluxo sanguíneo cerebral, diminui o consumo de oxigênio local (BENSEÑOR; CICARELLI, 2003). 3.2 Óxido nitroso (N2O) Como já descrito, o óxido nitroso ou ainda monóxido de dinitrogênio, surge neste cenário com a função de promover efeitos desejáveis e inexistentes nas características do alquilfenol, tal qual a analgesia. Ademais, tem uso rotineiro associado, já que isoladamente não produz anestesia cirúrgica nas espécies domésticas (BUENO, et al., 2001). O mecanismo pelo qual este gás anestésico promove o efeito antiálgico ainda não está totalmente esclarecido. Steffey (1996), correlaciona isto ao efeito depressor do SNC. Porém, outros autores afirmam que estaria relacionado à liberação de opioides endógenos derivados de pro-encefalinas (FINCK; SAMANIEGO; NGAI, 1995), com potência suficiente para promover em humanos, analgesia correspondente a 10 e 15 miligramas de morfina sem, contudo, causar depressão respiratória (STENQVIST; HUSUM; DALE, 2001). Trata-se de um gás anestésico incolor, não irritante, com odor adocicado, não inflamável, tão pouco explosivo (MASSONE, 1999). Apresenta ainda coeficiente de solubilidade sangue/gás de 0,47 e é rapidamente absorvido pelos alvéolos. Para evitar hipóxia cerebral, recomenda-se associar o uso deste anestésico à pelo menos 30% de concentração de oxigênio (WYLIE; CHURCHILL-DAVIDSON, 1974). Possui excreção praticamente intacta no gás expirado, sendo que uma pequena quantidade é difundida através da pele (MARSHALL; LONGNECKER, 1996). A metabolização é insignificante (0,01%) quando pela flora intestinal (MORGAN; MIKHAIL, 1996). No sistema respiratório, o N2O causa depressão dose-dependente da contratilidade diafragmática. Isto ocorre principalmente devido às mudanças na 25 distribuição e regulação do impulso nervoso nos músculos respiratórios durante a anestesia (WARNER et al., 1998). É sabido que em suínos anestesiados, a frequência respiratória (f) sofre diminuição considerável (MUIR; HUBBEL, 2001). Nos casos de hipoventilação ocorre hipoxemia e aumento da PaCO2 (TRIM, 2001). Há descrições de insignificância na depressão da resposta ao dióxido de carbono quanto ao uso do N2O a 50%. Não obstante, se associado a outros fármacos anestésicos a depressão é expressiva (HORNBEIN, et al., 1969). Este gás anestésico tem efeito depressor direto e dependente da dose sobre o miocárdio, que pode ser compensado pela ativação simpática (HOHNER; REIZ, 1994), a qual pode contribuir com aumento da incidência de arritmias cardíacas (STEFFEY, 1996). Apesar disso, Bueno e demais autores (2001), anestesiaram cães com tiletamina-zolazepam associado ou não ao N2O (70%) e observaram estabilidade cardiovascular em ambos os grupos experimentais. Igualmente, Nunes e colaboradores, em 2005, concluíram que maiores concentrações de desfluorano induzem alterações discretas em diversas variáveis testadas e que a adição de N2O a 70% na mistura diluente não determinou interferências significativas nos achados da frequência cardíaca. Complementarmente, segundo Coste et al. (2000), em humanos, a adição de 60% de N2O à anestesia com propofol e remifentanil, não foi capaz de causar alterações no índice biespectral (BIS). Aprovado para a mensuração do grau de hipnose (JOHANSEN, 2000), o BIS vem sendo aplicado na prática em seres humanos desde 1997 (GIANOTTI, 2010). Em suínos, o BIS pode ser empregado como excelente ferramenta para avaliação do nível de consciência (HAGA; TEVIK, 1999). De acordo com Martín-Cancho et al. (2003) e Martín-Cancho et al. (2006), após avaliarem a efetividade do aparelho mensurando níveis de sedação e anestesia em suínos com isofluorano e desflurano, reafirmaram o uso do BIS para este fim. Estudos sobre os efeitos do N2O nas variáveis intracranianas em animais e seres humanos indicaram que o gás anestésico promove aumento do fluxo sanguíneo cerebral (PELLIGRINO, et al., 1984), metabolismo cerebral e PIC (REINSTRUP; MESSETER, 1994). Além disso, reduz a autorregulação cerebral (IACOPINO, et al., 2003), sem alterar o volume sanguíneo cerebral (REINSTRUP, et al., 2001). 26 Já Nishimori (2006) afirma que o N2O e o propofol exibem efeitos antagônicos na circulação cerebral, vasodilatação e vasoconstrição, respectivamente. Inaba et al. (2003), estudaram a interação entre o óxido nitroso (70%) e o propofol e concluíram que o efeito promovido pelo propofol é mais potente em relação ao do N2O, portanto, somente a vasoconstrição cerebral se manifestaria, resultando em redução do fluxo sanguíneo cerebral (FSC). Em estudos realizados na espécie canina não foi constatado alteração na PIC após administração de N2O a 70 ou 75% (SAIDMAN; EGER, 1965). Por outro lado, SAKABE et al. (1978) e Moss e McDowall (1979), notaram que 50% de N2O elevou a PIC em pacientes humanos com danos cerebrais graves. 3.3 Ventilação controlada à pressão (VCP) e pressão positiva ao final da expiração (PEEP) O entendimento da ventilação pulmonar surgiu no século XII, momento em que foi constatado que animais com o tórax aberto poderiam sobreviver com a utilização de pressão positiva nas vias aéreas (CARVALHO; TERZI, 2000). Somente seis séculos depois, já em 1774, com o aprimoramento da anestesiologia, descoberta do O2 e uso mais rotineiro do éter (e posteriormente clorofórmio), ampliaram-se as investigações sobre a ventilação mecânica pulmonar (EMMERICH; MAIA, 1992). Não obstante, em 1934, foi desenvolvido por Frenkner, um aparelho que fazia insuflação intermitente dos pulmões. Por isso, atribuiu-se a ele a criação da ventilação mecânica (CABRAL; CARVALHO, 1964). No âmbito da anestesiologia brasileira, a ventilação mecânica começou a ser praticada somente nos anos 50 do século passado. Finalmente, nos anos 90, o monitoramento da dinâmica respiratória tornou-se rotina. Neste período, estudos visando uso mais criterioso desta modalidade ventilatória começaram a surgir e despertar interesse de pesquisadores (POMPÍLIO; CARVALHO, 2000). A ventilação mecânica é uma ferramenta utilizada no intuito de corrigir ou ainda amenizar os efeitos depressores promovidos pela hipnose. Porém, seu uso indevido pode comprometer a atividade cardiovascular em detrimento da pressão positiva intratorácica (HARTSFIELD, 2007). Além disso, a ventilação artificial pode gerar lesão 27 pulmonar pelo potencial de redução do surfactante, aumento da permeabilidade capilar e ativação de células inflamatórias e formação de atelectasias (HAITSMA, 2007). Atualmente existem diversas modalidades ventilatórias, com características distintas. A ventilação controlada à pressão (VCP) exerce sua função com ciclagem a tempo e uma limitação de pressão inspiratória. Já na ventilação controlada a volume (VCV), a ciclagem leva em consideração o volume ou o tempo e apresenta pausa inspiratória (FORTIS et al., 2006). Esta refere-se ao período no qual o ar é mantido no interior dos pulmões (FORTIS et al., 2006). Segundo Castellana et al. (2003), dentre as vantagens da VCP cita-se, distribuição mais homogênea do volume corrente, respeitando as complacências regionais, menor risco de ocorrência de barotrauma e, consequentemente, menor incidência de lesões do parênquima pulmonar (TURKY et al., 2005). Além disso, promove maior estabilidade hemodinâmica e conforto do paciente, tendo em vista o menor esforço inspiratório (CASTELLANA, et al., 2003). Corroborando tais assertivas, Abraham e Yoshihara (1989), comparando ambas modalidades ventilatórias em pacientes humanos com síndrome da angústia respiratória aguda, constataram menor redução do débito cardíaco (DC) no grupo submetido à VCP. Os autores justificaram os resultados pela melhora da pós-carga do ventrículo direito em decorrência do melhor recrutamento alveolar, redução da resistência vascular pulmonar e diminuição da pressão intratorácica, propiciando melhor pré-carga de ambos os ventrículos. Igualmente, Auler Junior et al. (1995), indicaram a VCP como menos deletéria sobre a hemodinâmica, quando comparada à ventilação controlada a volume, em pacientes humanos com função cardíaca comprometida e DC baixo. Houve manutenção de maiores valores de índices cardíacos, diminuição da resistência vascular periférica (RVP) e das pressões inspiratórias, em face ao uso da VCP. Não obstante, Weiswasser, Luerders e Stolar em 1998, avaliaram a VCP e VCV em suínos com lesão pulmonar induzida e concluíram que a ventilação controlada a volume promoveu melhor oxigenação nessa espécie. Já em suínos anestesiados com isofluorano e submetidos à toracoscopia, não foram observadas alterações significativas nas variáveis fisiológicas avaliadas. 28 Ademais, a redução da pressão parcial de dióxido de carbono no sangue arterial (PaCO2) foi associada ao uso de bloqueadores neuromusculares em conjunto com a hiperventilação artificial (PULZ et al., 2009). Para esta mesma espécie, anestesiada com propofol associado ao remifentanil, sob diferentes FiO2 (0,8; 0,6 e 0,4), não foram observadas diferenças entre a VCP e VCV (GIANOTTI et al., 2010). Carareto (2007), investigou a ventilação controlada a volume ou à pressão em cães anestesiados com infusão contínua de propofol e sufentanil, mantidos em cefalodeclive e submetidos à diferentes pressões positivas expiratórias finais e concluiu que ambas as modalidades são igualmente eficientes na manutenção da estabilidade respiratória e cardiovascular de cães, nas condições experimentais propostas. Em cães com pneumoperitônio, a VCP determinou maior estabilidade dos valores da tensão de dióxido de carbono ao final da expiração (ETCO2) e da PaCO2, bem como menor variação nos valores do pH arterial, quando comparada a VCV (CARRARETTO et al., 2005). Em se tratando da dinâmica cerebral, o aumento da pressão média pleural com a ventilação mecânica reduz o retorno venoso, o que eleva a pressão venosa cerebral, aumenta a pressão intracraniana (PIC) e a pressão intraocular (PIO). A VCP pode ainda promover venoconstrição compensadora e ativação do efeito da transmissão da pressão transtorácica para a coluna vertebral, levando ao aumento da pressão liquórica e elevação da PIC. Finalmente, as alterações sobre a PaCO2, causadas pelos diversos modos de ventilação mecânica podem causar modificações da PIC (ARAÚJO NETO; CRESPO; ARAÚJO, 1996). A presença de atelectasias é o efeito deletério mais frequentemente notado no período pós-operatório imediato das cirurgias que envolvem o tórax ou quando se utiliza oxigênio puro, visto que seu uso reduz a tensão alveolar contribuindo para o fechamento dos bronquíolos. Neste sentido, a aplicação da pressão positiva ao final da expiração (PEEP) contribui para diminuição de atelectasia, melhorando as condições pós-operatórias (CASTRO, 2011). A PEEP consiste na aplicação de pressão acima da atmosférica sobre as vias aéreas, ao final da expiração. Esta manobra visa manter um arcabouço bronquíolo-alveolar permeável à passagem dos gases, preservando a função de trocas gasosas (TORRES; BONASSA, 2002). 29 Shankar, Moseley e Kumar (1991), citaram que, com a manutenção de PEEP na ventilação, existe maior possibilidade de expansão e esvaziamento alveolar, resultando em maiores frações expiradas de CO2 e assim ausência de espaço morto fisiológico. A utilização adequada da PEEP promove distensão e previne o colapso alveolar (BARBAS et al., 2005), proporcionando, portanto, melhora da relação ventilação-perfusão (V/Q), a redução das áreas de shunt (MEININGER et al., 2005) e o aumento da PaO2, mantendo assim certo volume no final da expiração (CONSOLO et al., 2002). Desta maneira, o emprego da PEEP permitiria o uso de menores FiO2, o que seria desejável em termos de prevenção de atelectasias no período intra e pós- operatório (BENSEÑOR; AULER, 2004). A PEEP de aproximadamente 5 cmH2O é recomendada por alguns autores (KUDNIG et al., 2006). Porém, eles ressaltam a possibilidade de efeitos hemodinâmicos adversos, mesmo com o uso de valores mais baixos. Do mesmo modo, nota-se o aumento desnecessário do trabalho mecânico do sistema respiratório devido ao seu emprego inadequado (FERREIRA et al. 1998). Assim, com aplicação de PEEP ocorre diminuição do DC e aumento da variação de pressão de pulso (∆PP). Além disso, se a ∆PP for alta (>13%) antes da instituição da PEEP, é provável que os efeitos deletérios hemodinâmicos sejam mais proeminentes após a instalação desse recurso ventilatório (CÔRREA, 2008). 3.4 Fração Inspirada de Oxigênio (FiO2) A fração inspirada de oxigênio é um parâmetro de ventilação mecânica comumente utilizado para otimizar a oxigenação tecidual. Apesar disso, o ajuste inadequado da FiO2 pode causar hipoxia ou hiperoxia e, consequentemente, efeitos nocivos ao organismo animal (CRAPO, 1986; BARAZZONE; WHITE, 2000). O suporte ventilatório utilizado durante a anestesia tem por objetivo a manutenção respiratória, mas isso não quer dizer que a troca gasosa será normal (KOH, 2007). Muito embora o oxigênio esteja associado quase sempre a ações benéficas, sob a visão leiga, seu uso indevido pode gerar muitos efeitos deletérios (THOMSON et al., 2002). Caso seja exacerbado, observa-se redução significativa do aporte sanguíneo coronariano e em áreas isquêmicas (RIVAS et al., 1980). 30 Sabe-se ainda que as alterações hemodinâmicas causadas pela hiperóxia variam desde a diminuição da FC e débito cardíaco, até o aumento da pressão arterial por vasoconstrição sistêmica (ANDERSON et al., 2005). Esta, por sua vez, impede o aporte de O2 nos tecidos e pulmões, diminuindo assim a oxigenação tecidual. A consequência prejudicial mais importante é a formação de áreas de atelectasia e processos inflamatórios pulmonares (THOMSON et al., 2002) os quais, propiciam a formação de shunt pulmonar. Caso isso ocorra de modo exacerbado, ocorre retardo ou mesmo complicações na recuperação de pacientes em unidades intensivas (STOCK, 2006). Mecanismos como a alta resistência das vias aéreas e o fornecimento de altas concentrações de oxigênio promovem deficiência de surfactante e remoção do nitrogênio alveolar desencadeando colapso alveolar (GROSSBACH, 2008). Corroborando tais assertivas, Silveira et al. (2004), ao estudarem a FiO2 na isquemia- reperfusão pulmonar em ratos, concluíram que 21% de oxigênio foi mais benéfico para a pressão arterial média sistêmica quando cotejado à porcentagem de 40% e 100%. Além disso, notou-se melhor relação entre a pressão parcial de oxigênio arterial e a fração inspirada de oxigênio, maiores valores nas medidas da glutationa reduzida, menor produção de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico e menor formação de edema pulmonar mediante o uso de FiO2 de 0,2%. Gianotti (2010), por sua vez, ao anestesiar suínos sob diferentes frações inspiradas de oxigênio (0,8, 0,6 e 0,4) e avaliar a dinâmica cardiorrespiratória indicou o uso de 0,4 de oxigênio. Além de otimizar a troca gasosa com menos perdas pulmonares, parece haver melhor estabilidade hemodinâmica nessa espécie com o fornecimento de O2 nesta concentração. Já Lopes et al. (2008b), concluíram que, em cães submetidos à infusão contínua de propofol, na dose de 0,7 mg/kg/min, e mantidos em ventilação espontânea, os parâmetros eletrocardiográficos não foram afetados pelo emprego de diferentes FiO2 (100%, 80%, 60%, 40% e 21%). Todavia, os autores desaconselham o uso da FiO2 de 21%, pois proporciona prejuízos à oxigenação arterial. Da mesma forma, Nunes et al. (2008), investigaram a hemodinâmica de diferentes frações inspiradas de oxigênio (100%, 80%, 60%, 40% e 21%) em cães também submetidos à infusão contínua de propofol e em ventilação espontânea. 31 Apesar das variáveis hemodinâmicas não terem sido afetadas pelo emprego de diferentes FiO2, ao avaliarem os dados hemogasométricos obtidos, indicaram a taxa de 0,6 como mais adequada à espécie canina para manutenção da dinâmica respiratória. Igualmente, Costa et al. (2011), também obtiveram estabilidade nos parâmetros ventilométricos, na eletrocardiografia e variáveis cardiovasculares ao anestesiar cães com propofol associado ao tramadol no modo de ventilação controlada a pressão, com FiO2 de 0,6. Lopes et al. (2008a), também avaliaram o índice biespectral em cães submetidos à infusão contínua de propofol sob diferentes FiO2 e confirmaram a inexistência de alterações nos parâmetros relacionados ao BIS nas condições propostas. Todavia, sugeriram que o monitoramento pelo BIS foi capaz de detectar alterações no equilíbrio do fluxo sanguíneo cerebral, oriundas das alterações ocasionadas na dinâmica respiratória pelo emprego das diferentes FiO2. Em cães com pressão intracraniana (PIC) elevada, anestesiados com propofol e mantidos em ventilação controlada, o emprego de diferentes concentrações de O2 não interferiu na PIC, na pressão de perfusão cerebral (PPC) e no índice biespectral (LOPES et al., 2011). Igualmente, Belmonte et al. (2012), afirmaram que em cães normocapneicos com pressão intracraniana aumentada, submetidos a infusão contínua de propofol (0,6 mg/kg/min) e mantidos em ventilação controlada, o emprego de FiO2 = 1,0 ou FiO2 = 0,6 não interferiu nas variáveis fisiológicas e eletrocardiográficas. 32 4. MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Animais Este projeto foi submetido à aprovação da Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA), da FCAV/UNESP (Protocolo no 026519). Foram utilizados 48 leitões, machos e fêmeas, da raça Large White, em fase de creche, com cerca de sete semanas de idade e peso entre 15 e 20 kg (15,96±2,15 kg), considerados hígidos após a realização de exames clínicos, dentre os quais radiografias torácicas a fim de confirmar a isenção de doenças pulmonares, comuns em suínos jovens. Os animais foram fornecidos por granja especializada na criação de suínos e mantidos em baias comunitárias no Setor de Suinocultura do Departamento de Zootecnia da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) – Universidade Estadual Paulista (UNESP), câmpus de Jaboticabal, sendo fornecida ração comercial específica para a espécie e água “ad libitum”. Após seleção aleatória, os leitões foram distribuídos em seis grupos de oito indivíduos, quatro machos e quatro fêmeas, denominados: GN10 (FiO2 = 0,9 e óxido nitroso = 0,1), GA10 (FiO2 = 0,9 e ar comprimido = 0,1), GN30 (FiO2 = 0,7 e óxido nitroso = 0,3), GA30 (FiO2 = 0,7 e ar comprimido = 0,3), GN50 (FiO2 = 0,5 e óxido nitroso = 0,5), GA50 (FiO2 = 0,5 e ar comprimido = 0,5), os quais diferenciaram-se entre si pela fração inspirada de oxigênio, concentração de óxido nitroso e ar comprimido fornecidos (Tabela 1). Ao término do período de avaliações, os animais foram levados ao setor de suinocultura para comporem o plantel da FCAV/UNESP ou serem ofertados para doação. 33 Tabela 1. Distribuição de leitões (n=48), em 6 grupos experimentais (n=8), de acordo com a fração inspirada de oxigênio (FiO2), para fins de avaliação dos efeitos das diferentes concentrações de oxigênio e óxido nitroso (N2O) sobre a hematose, parâmetros cardiorrespiratórios, intracranianos e índice biespectral. FiO2 GRUPOS N2O Ar comprimido Concentração de N2O ou Ar comprimido 0,9 GN10 GA10 0,10 0,7 GN30 GA30 0,30 0,5 GN50 GA50 0,50 GN10 (FiO2: 0,9 e N2O: 0,1); GA10 (FiO2: 0,9 e ar comprimido: 0,1); GN30 (FiO2: 0,7 e N2O: 0,3); GA30 (FiO2: 0,7 e ar comprimido: 0,3); GN50 (FiO2: 0,5 e N2O: 0,5); GA50 (FiO2: 0,5 e ar comprimido: 0,5). 4.2 Protocolo experimental Os animais foram submetidos à adaptação em baias comunitárias no setor de suinocultura por dois dias consecutivos. Após isso, previamente ao procedimento, foram submetidos a jejum alimentar de doze horas (THURMON; SMITH, 2007) e hídrico de duas horas. Após estudo piloto e padronização dos tempos, os animais foram preparados para procedimento asséptico em intervalo de 40 minutos respeitando a sequência a seguir. Cada paciente recebeu azaperona1, na dose de 2 mg/kg, pela via intramuscular (IM) como medicação pré-anestésica. Aguardou-se 20 minutos e, estabelecida a sedação, realizou-se tricotomia e antissepsia (Clorexidina 2% e álcool 70%) das faces externas dos pavilhões auriculares direito e esquerdo. Em seguida, foram cateterizadas 2 as veias auriculares direita e esquerda, para possibilitar a administração dos fármacos. A indução anestésica foi realizada com propofol3, pela via intravenosa (IV), na dose necessária (14,4±2,8 mL) para perda do reflexo laringotraqueal. Ato contínuo, procedeu-se com a intubação orotraqueal com tubo de Magill de diâmetro interno (DI) adequado ao porte de cada suíno (6,0 mm e 6,5 mm). O cuff foi inflado sequencialmente e o tubo acoplado ao aparelho de anestesia inalatória com circuito 1 Destress® – Azaperona – DES-VET, São Paulo, SP, Brasil. 2 Cateter BD Angiocath® 22 G – Becton, Dickinson Indústria Cirúrgica Ltda, Juiz de Fora, MG, Brasil. 3 Propovan® – Propofol – Cristália, Itapira, SP, Brasil. 34 anestésico com reinalação parcial de gases 4 equipado com ventilador volumétrico/pressométrico4, instalado em linha com o filtro valvular para o fornecimento das misturas gasosas nas concentrações preconizadas para cada grupo (Quadro 1). A leitura da concentração de O2 e N2O foi obtida em monitor multiparamétrico 5 cujo sensor do analisador de gases foi mantido adaptado à extremidade proximal do tubo após a intubação orotraqueal. Sequencialmente, os animais foram posicionados em decúbito lateral direito sobre colchão térmico ativo6, procedendo-se com infusão contínua de propofol (0,5 mg/kg/min) por meio de bomba de infusão7. Em seguida, a região cervical sobre a veia jugular esquerda foi tricotomizada e preparada para intervenção asséptica. Então, realizou-se incisão na pele, extensão suficiente para a exposição da veia jugular (aproximadamente 5 cm), a qual foi identificada após dissecção romba do tecido subcutâneo. Feito isto, essa foi isolada com um fio de nylon. Interrompeu-se o fluxo sanguíneo na veia e, após venopunção com agulha hipodérmica 40x1,2mm, inseriu-se o cateter de Swan-Ganz 8 , cuja extremidade foi posicionada no lúmen da artéria pulmonar pela observação das ondas de pressão, conforme técnica descrita por Swan-Ganz e citada por Santos (2003). Simultaneamente à inserção do cateter de Swan-Ganz, outro membro da equipe realizou tricotomia da face interna da coxa direita e, posteriormente, preparo para intervenção asséptica. Realizou-se punção da artéria femoral com cateter flexível de politelineo9 o qual foi conectado, por torneira de três vias, ao canal de pressão arterial invasiva do monitor multiparamétrico. As amostras de sangue (0,7 mL) para hemogasometria arterial foram colhidas deste ponto, por meio de conexão de seringa heparinizada à torneira de três vias. Um catéter de fibra óptica para aferição da pressão intracraniana (PIC)10, foi implantado cirurgicamente seguindo a técnica descrita por Bagley e colaboradores 4 Aparelho de Anestesia SAT 500 - K. Takaoka Ind. e Com. Ltda., São Bernardo do Campo, SP, Brasil (Processo FAPESP 2015/25655-0). 5 Dixtal – DX-2020D-C. Dixtal Biomédica Ind. Com. Ltda., Manaus, AM, Brasil (Processo FAPESP 2015/25655- 0). 6 Gaymar – mod. MGAYHP7010. 7 Bomba de seringa – modelo ST 1000 PLUS, SAMTRONIC®, São Paulo – SP – Brasil. 8 Cateter Swan-Ganz Pediátrico, mod. 132-5F, 4 vias Edwards Lifesciences LLC, Irvine, CA, EUA. 9 Cateter BD Angiocath® 22 G – Becton, Dickinson Indústria Cirúrgica Ltda, Juiz de Fora, MG, Brasil. 10 Dabasons – mod.110 – 4BT. 35 (1995) e Rezende (2004). O local para o posicionamento do cateter foi o ponto de interseção entre duas linhas imaginárias: uma que se estende da linha média dorsal até a porção dorsal do arco do zigomático, e outra que vai do canto lateral do olho esquerdo até a parte caudal do músculo temporal. Posteriormente, procedeu-se com uma incisão transversal na pele e no músculo temporal, no ponto previamente descrito. Com o auxílio de um afastador de Farabeuf, a calota craniana foi exposta e realizou-se a perfuração com furadeira manual e broca de 2,71 mm de diâmetro que acompanham o kit. Em seguida, a dura-máter foi perfurada com o auxílio de uma agulha no 20 do kit e o suporte para sustentação do cateter foi fixado ao crânio (osso temporal). O cateter foi calibrado à pressão atmosférica, conforme exigido pelo fabricante e inserido até que sua extremidade ultrapassasse cinco milímetros da extremidade distal do suporte. Com auxílio da trava presente no equipamento, o cateter era fixado nesta posição ao suporte. Para aferir o índice biespectral foi realizada tricotomia de área da cabeça, compreendida entre as regiões frontal e zigomática. Em seguida, procedeu-se a limpeza da pele com éter e desinfecção com álcool (70%), para obter melhor qualidade do sinal. Posteriormente, os eletrodos do monitor de BIS 11 foram posicionados, sendo o primário na linha média, em ponto localizado a um terço da distância entre uma linha imaginária que liga os processos zigomáticos esquerdo e direito e a parte palpável mais distal da crista sagital. O eletrodo terciário foi colocado em posição rostral ao trago da orelha direita, conforme descrito em cães (GUERRERO; NUNES, 2003). Já os eletrodos secundário e quaternário foram fixados sobre o osso temporal, em distância média compreendida entre os eletrodos anteriores. Após 40 minutos de preparo asséptico e 60 minutos de manutenção anestésica com ventilação espontânea (100 minutos), foi administrado por via intravenosa (IV), rocurônio12 na dose de 0,6 mg/kg. A partir deste momento, durante todo período experimental, manteve-se a infusão contínua do miorrelaxante na dose de 0,6 11 A-2000 Biespectral Index Monitor Systems, Inc., Natick, MA, EUA. 12 Brometo de rocurôno® – Rocurônio – Eurofarma, São Paulo, SP, Brasil. 36 mg/kg/h, administrado por meio de bomba de infusão13. Em seguida deu-se início à ventilação controlada ciclada a pressão (15 cmH2O), ajustando-se o fluxo total do gás inalado entre 30 e 50 mL/kg/min, com relação inspiração/expiração, amplitude e frequência respiratória suficientes para permitir leitura de capnometria entre 35 e 45 mmHg, aferida em oxicapnógrafo13 cujo sensor foi posicionado na extremidade do tubo orotraqueal conectado ao equipamento de anestesia. Uma vez ajustados esses parâmetros, os mesmos não foram mais alterados durante todo protocolo experimental. Decorridos 60 minutos do início da infusão contínua do miorrelaxante e, após aferidas as variáveis em M60, iniciou-se o fornecimento de PEEP de 5 cmH2O. As observações das variáveis de interesse foram realizadas em três fases (Figura 1). • 1) Na primeira fase (M0), os parâmetros foram avaliados após 40 minutos de preparo asséptico e 60 minutos de manutenção anestésica com ventilação espontânea, totalizando 100 minutos (Figura 1) • 2) Na segunda fase (M60), as avaliações tiveram início após 40 minutos de preparo asséptico, 60 minutos de manutenção anestésica com ventilação espontânea e 60 minutos após a administração do rocurônio e início da ventilação controlada (Figura 1). • 3) Na terceira fase (M75, M90 e M105) as análises tiveram início após 40 minutos de preparo asséptico, 60 minutos de manutenção anestésica com ventilação espontânea, 60 minutos após a administração do rocurônio e início da ventilação controlada e 15 minutos após introduzir a PEEP com 5 cmH2O, totalizando 175 minutos (M75), seguida por novas avaliações em intervalos de 15 minutos, compreendendo M90 e M105 (Figura 1). 13 Bomba de seringa – modelo ST 1000 PLUS, SAMTRONIC®, São Paulo – SP – Brasil. 37 M0 M60 M75 M90 M105 Ventilação espontânea Ventilação mecânica PEEP 40 MINUTOS: preparo dos animais 100 min 160 min 175 min 190 min 205 min Fase 1 Fase 2 Fase 3 Figura 1. Representação esquemática dos momentos de registro dos parâmetros avaliados em leitões anestesiados com propofol, mantidos em ventilação espontânea (Fase 1), controlada à pressão (Fase 2) e controlada a pressão associado à PEEP (Fase 3), com diferentes concentrações da mistura oxigênio-óxido nitroso (GN10, GN30 e GN50) ou oxigênio-ar comprimido (GA10, GA30 e GA50). Após o término do procedimento, foi administrado em cada animal: penicilina G benzatina14 na dose única de 20.000 UI/kg por via intramuscular, dipirona sódica15 (50mg/kg, IM) duas vezes ao dia, durante três dias, e meloxicam16 0,2 mg/kg IM no 1o dia e 0,1 mg/kg no 2o e 3o dias. Também foram realizados curativos locais diários com clorexidina 1% 17, sobre as feridas cirúrgicas, durante sete dias. Em todos os grupos, foram estudadas as variáveis que seguem: 14 Penfort® PPU, Ourofino Agronegócio, Cravinhos, SP, Brasil. 15 D-500 – Dipirona sódica 500mg injetável, Fort Dodge Sáude Animal Ltda, Campinas, SP, Brasil 16 Maxicam 2% solução injetável, Ourofino Agronegócios, Cravinhos, SP, Brasil. 17 Merthiolate, DM Indústria Farmacêutica, Ltda, Barueri, SP, Brasil. 38 4.3 Dinâmica respiratória 4.3.1 Parâmetros hemogasométricos Foram aferidas as seguintes variáveis: pressão parcial de oxigênio no sangue arterial (PaO2), em mmHg; pressão parcial de dióxido de carbono no sangue arterial (PaCO2), em mmHg; saturação de oxihemoglobina no sangue arterial (SaO2), em %; déficit de base (DB), em mEq/L, bicarbonato (HCO3 -), em mEq/L e pH do sangue arterial. Também foram registradas as seguintes variáveis para amostra de sangue venoso misto: pressão parcial de oxigênio no sangue venoso misto (PvO2), em mmHg; pressão parcial de dióxido de carbono no sangue venoso misto (PvCO2), em mmHg e saturação de oxihemoglobina no sangue venoso misto (SvO2), em %. Os parâmetros foram obtidos empregando-se equipamento específico, por meio de colheita, em seringa (1mL) previamente heparinizada, de amostra de sangue, no volume de 0,7 mL, através do cateter empregado na mensuração das pressões arteriais. Para amostra de sangue venoso misto, utilizou-se o ramo do cateter de Swan-Ganz localizado na artéria pulmonar, respeitando-se os momentos previamente determinados. O processamento de cada amostra foi realizado imediatamente após a colheita. 4.3.2 Avaliação dos parâmetros ventilatórios Foram registrados continuamente por monitor de perfil respiratório5, cujo sensor foi conectado ao tubo orotraqueal: volume corrente (Vt) em mL, volume minuto (Vm) em L/min e tempo inspiratório (Tins) em segundos. 4.3.2.1 Pressão parcial alveolar de oxigênio A PAO2 (mmHg) foi calculada por meio da equação dos gases alveolares: PAO2 = [FiO2 x (Pb – 47)] – (PaCO2/RQ), na qual: FiO2 é a fração inspirada de oxigênio, Pb é a pressão barométrica ambiente, PAO2 pressão parcial alveolar de 39 oxigênio, PaCO2 pressão parcial de dióxido de carbono no sangue arterial e RQ = quociente respiratório, o qual foi assumido igual 0,8. 4.3.2.2 Diferença alvéolo-arterial de oxigênio (P(A-a) O2 ou AaDO2). A AaDO2 (mmHg) foi obtida subtraindo-se a PaO2 da PAO2. 4.3.2.3 Conteúdo arterial de oxigênio (CaO2). A CaO2 ( mL/dL) foi calculada usando a equação: CaO2 = [1,34 x Hb x (SaO2/100)] + (PaO2 x 0,0031), na qual: SaO2 é a saturação de oxihemoglobina no sangue arterial, Hb é a concentração de hemoglobina no sangue arterial e PaO2 pressão parcial de oxigênio no sangue arterial. 4.3.2.4 Conteúdo venoso misto de oxigênio (CvO2). A CvO2 (mL/dL) foi calculada usando a equação: CvO2 = [1,34 x Hb x (SvO2/100)] + (PvO2 x 0,0031), na qual: SvO2 é a saturação de oxihemoglobina no sangue venoso misto, Hb é a concentração de hemoglobina no sangue venoso misto e PvO2 pressão parcial de oxigênio no sangue venoso misto. 4.3.2.5 Mistura arteriovenosa (Qs/Qt) A mistura arteriovenosa (Qs/Qt), em %, foi calculada usando a equação: Qs/Qt = 100 x (CcO2 – CaO2)/(CcO2 – CvO2), na qual: CcO2 - conteúdo capilar de oxigênio, CaO2 - conteúdo arterial de oxigênio e CvO2 - conteúdo venoso misto de oxigênio: CcO2 = (Hb x 1,39 x 1)+(0,0031 x PAO2). 4.3.2.6 Diferença de tensão entre o dióxido de carbono alveolar e o expirado [P(a-ET)CO2]. Essa variável (mmHg) foi obtida subtraindo-se a ETCO2 da PaCO2. 40 4.3.2.7 Índice respiratório (IR) Esse parâmetro foi obtido, em mmHg, pelo cálculo matemático: IR = P(A–a)O2/PaO2, na qual: P(A–a)O2= diferença de tensão de oxigênio alveolar e arterial e PaO2 = pressão parcial de oxigênio no sangue arterial. 4.3.2.8 Relação artério-alveolar (a/A) Obtida pela divisão de PaO2/PAO2. 4.3.2.9 Índice de oxigenação (IO) O IO, em mmHg, foi obtido pela relação entre a PaO2 e a FiO2. IO = PaO2/FiO2. 4.3.2.10 Oferta de oxigênio (DO2) e índice de oferta de oxigênio (IDO2) Estes parâmetros foram obtidos por cálculos empregando-se fórmulas: DO2 = CaO2 x DC x 10, em mL/min, na qual: CaO2 = conteúdo arterial de oxigênio e DC = débito cardíaco. O DC é multiplicado por 10 para ajustes de unidades. IDO2 = DO2/ASC, em mL/min/m2, na qual: ASC = área da superfície corpórea em m2, a qual será estimada em função do peso dos animais, segundo Ogilvie (1996). 4.3.2.11 Consumo de oxigênio (VO2) e índice de consumo de oxigênio (IVO2) Estas variáveis foram calculadas por meio das fórmulas: VO2 = (CaO2 – CvO2) x DC x 10, em mL/min, na qual: CaO2 = conteúdo arterial de oxigênio, CvO2 = conteúdo venoso misto de oxigênio e DC = débito cardíaco. O DC é multiplicado por 10 para ajustes de unidades. 41 IVO2 = VO2/ASC, em mL/min/m2, na qual: ASC = área da superfície corpórea em m2. 4.3.2.12 Taxa de extração de oxigênio (TeO2) Este parâmetro foi obtido por cálculo matemático: TeO2 = (CaO2 – CvO2)/CaO2, na qual: CaO2 = conteúdo arterial de oxigênio e CvO2= conteúdo venoso misto de oxigênio. 4.4 Dinâmica cardiovascular 
 4.4.1 Frequência cardíaca (FC) 
 O parâmetro foi obtido, em batimentos/minuto (bpm), nos diferentes tempos, empregando-se eletrocardiógrafo computadorizado de monitor multiparamétrico5, ajustado para leitura na derivação DII. 4.4.2 Pressões arteriais sistólica (PAS), diastólica (PAD) e média (PAM) A determinação destas variáveis, foi realizada por leitura direta, em mmHg, em monitor multiparamétrico cujo transdutor manteve-se conectado ao cateter introduzido na artéria femoral direita, como previamente descrito. 4.4.3 Pressão venosa central (PVC) Para mensuração desta variável, empregou-se o monitor multiparamétrico5 cujo sensor foi adaptado, nos intervalos pré-estabelecidos, ao cateter de Swan-Ganz, no ramo destinado à administração da solução resfriada de cloreto de sódio a 0,9%, cuja extremidade manteve-se posicionada na veia cava cranial ou átrio direito, conforme técnica descrita por Santos (2003). Considerou-se a unidade de medida em mmHg. 42 4.4.4 Débito cardíaco (DC) O DC foi mensurado em L/min, empregando-se dispositivo microprocessado para medida direta, por meio da técnica de termodiluição, com o uso de cateter de Swan-Ganz, cuja extremidade dotada de termistor manteve-se posicionada na luz da artéria pulmonar, conforme descrito previamente. No momento da colheita, desconectou-se o monitor utilizado para mensuração da PVC e administrou-se 3,0 mL de cloreto de sódio a 0,9% resfriado (0 a 5°C). A mensuração do DC foi realizada em triplicata, empregando-se a média aritmética para a determinação da variável. 4.4.5 Índice cardíaco (IC) Esta variável foi estabelecida em L/min/m2, por relação matemática, dividindo- se o valor do DC em (L/min) pela área da superfície corpórea (ASC) em m2, a qual foi estimada em função do peso dos animais, segundo Ogilvie (1996). 4.4.6 Volume sistólico (VS) e índice sistólico (IS) Os parâmetros foram calculados pelas fórmulas (MUIR, MASON, 1996): VS = DC/FC, em mL/batimento e IS = VS/ASC, em mL/batimento/m2, na qual: DC= Débito Cardíaco (mL/min), FC= Frequência Cardíaca (batimentos/min), VS= Volume Sistólico (mL/batimento), ASC= Área da Superfície Corpórea (m2) e IS= Índice Sistólico (mL/batimento/m2). 4.4.7 Pressão média da artéria pulmonar (PAPm) e pressão média capilar pulmonar (PCPm) A PAPm foi obtida por leitura direta, em monitor multiparamétrico. Para tal, o transdutor foi conectado ao ramo principal do cateter de Swan-Ganz, cuja extremidade distal manteve-se posicionada na luz da artéria pulmonar, como descrito por ocasião do DC. A PCPm foi mensurada empregando-se a mesma técnica, acrescida, entretanto, da oclusão da luz da artéria, por meio de balonete localizado no cateter de 43 Swan-Ganz, o qual foi inflado com 0,7 mL de ar. Para ambas as variáveis considerou- se a unidade em mmHg. 4.4.8 Variação de pressão de pulso (∆PP) A ∆PP foi realizada por leitura direta em monitor multiparamétrico cujo transdutor foi conectado ao cateter introduzido na artéria femoral direita. Para sua base de cálculo foi utilizada a equação: ∆PP (%) = 100 x (PPmax – PPmin) ÷ (PPmax + PPmin )/2, na qual: PPmax - pressão de pulso máxima durante o ciclo respiratório e PPmin - pressão de pulso mínima durante o ciclo respiratório. 4.4.9 Resistência periférica total (RPT) e índice da resistência periférica total (IRPT) Estes parâmetros foram obtidos por cálculos empregando-se fórmulas: RPT = (PAM/DC) x 79,9 e IRPT = RPT/ASC, na qual: 79,9 = Fator de Correção (mmHg x min/L para dina x seg/cm5), PAM = Pressão Arterial Média (mmHg), DC= Débito Cardíaco (L/min), ASC= Área da Superfície Corpórea (m2), RTP= Resistência Periférica Total (dina x seg/cm5) e IRPT= Índice da RPT (dina x seg/cm5 x m2). 4.4.10 Resistência vascular pulmonar (RVP) e índice da resistência vascular pulmonar (IRVP) O cálculo destes parâmetros foi realizado automaticamente por equipamento computadorizado de monitoramento hemodinâmico, sendo consideradas as fórmulas: RVP = [(PAPm - PCPm)/DC] x 79,9 e IRVP = RVP/ASC Na qual PAPm= Pressão Média da Artéria Pulmonar (mmHg), PCPm= Pressão Média Capilar Pulmonar (mmHg), DC= Débito Cardíaco (L/min) ASC= Área da Superfície Corpórea (m2), 79,9= Fator de Correção (mmHg x min/L para dina x seg/cm5), RVP= Resistência Vascular Pulmonar (dina x seg/cm5) e IRVP= Índice da RVP (dina x seg/cm5 x m2). 44 4.5 Parâmetros intracranianos
 4.5.1 Pressão intracraniana (PIC) 
 A PIC, foi determinada, em mmHg, por mensuração digital direta em monitor de pressão intracraniana18, cujo cateter de fibra óptica foi implantado cirurgicamente como descrito anteriormente. Os valores foram colhidos nos momentos anteriormente descritos. Em cada um dos momentos descritos realizou-se três mensurações consecutivas, sendo considerada a média aritmética destas medidas, como representativa da PIC. Após a última mensuração, o sensor foi retirado e em seguida suspensa a administração do agente anestésico. 4.5.2 Pressão de perfusão cerebral (PPC) A PPC foi estabelecida, em mmHg, por relação matemática, segundo a fórmula: PPC = PAM – PIC, na qual: PPC = Pressão de Perfusão Cerebral, PAM = Pressão Arterial Média e PIC = Pressão Intracraniana. 4.5.3 Temperatura intracraniana (TIC) Foi mensurada diretamente, em graus Celsius (°C), pelo mesmo equipamento e seguindo as diretrizes estabelecidas para a PIC. 4.6 Temperatura corporal (TC) Este parâmetro foi registrado em oC, por meio de termômetro esofágico digital5, posicionado no esôfago do animal, à altura do coração. 18 Camino Labs - mod. MPM - 1 – (Processo FAPESP 00/01084-3). 45 4.7 Índice biespectral (BIS) Os valores do BIS, de eletromiografia (EMG), qualidade de sinal (QS) e taxa de supressão (TS) foram mensurados por meio dos eletrodos específicos posicionados conforme descrito anteriormente e conectados ao monitor de BIS. 4.8 Delineamento estatístico Os dados foram submetidos à análise estatística pelo programa de computador GraphPad Prism 5 for Windows. Para detectar diferenças das médias entre os grupos, foi utilizada a análise de variância de duas vias (Two-way ANOVA), seguida pelo teste de Bonferroni. Para comparação dos momentos ao longo do tempo, em cada grupo, foi empregada a análise de variância de uma via (One-way ANOVA) para medições repetidas, seguida pelo teste de Bonferroni. As diferenças foram consideradas significativas quando p≤0,05. Adicionalmente, o coeficiente de correlação de Pearson foi calculado para determinar a correlação entre Qs/Qt e AaDO2, entre Qs/Qt e IR, entre Qs/Qt e a/A e entre Qs/Qt e IO. Os cálculos dos coeficientes de Pearson (r) seguido pela Análise de regressão linear (p≤0,05) foram realizados no programa Minitab Release 13.20 para Windows. Obtidos r, estes foram submetidos à análise de variância (ANOVA). As diferenças foram consideradas significativas quando p≤0,05. 46 5. RESULTADOS 5.1 Dinâmica respiratória 5.1.1 Parâmetros hemogasométricos 5.1.1.1 Pressão parcial de oxigênio no sangue arterial (PaO2) Na análise entre os grupos, a PaO2 foi maior para o GA10 quando confrontada aos resultados dos demais grupos no M0 e só não foi maior que o do GA30 no M60. Já no M75, o GA10 foi maior quando comparado aos resultados de todos os outros grupos. De modo similar, observou-se para o GA10, média maior no M90 e M105 em relação aos demais grupos experimentais, exceto quando cotejado com o resultado do GA30. Quando analisado o GA30, observou-se média maior que para o GA50 e GN50 ao longo de todo o período experimental, igualmente maior quando cotejada com os valores do GN10 e GN30 no M60 e só não foi maior que a média do GA10 no M90. A média do GA50, por sua vez, foi menor que a do GN10 no M0, M75, M90 e M105 e menor que a média do GN30 no M60, M75, M90 e M105. Por outro lado, apresentou resultado maior que o do GN50 no M0, M75 e M105. Para esta mesma variável, notaram-se médias maiores do GN10 e GN30 quando comparadas às médias do GN50 durante todo o período de avaliação. Na análise entre os momentos, o GA30 apresentou média maior no M60 que no M0 e M75. Já para o GN10, o valor no M60 foi significativamente maior quando comparado ao resultado no M90. Para o GA30 no M75, a média foi maior quando confrontada à no M0 (Tabela 2 e Figura 2). 47 Tabela 2. Médias e desvios padrão (x±s) de pressão parcial de oxigênio no sangue arterial (PaO2), em mmHg, em leitões (n=48) anestesiados com propofol, sob respiração espontânea ou controlada à pressão associada ou não à PEEP, submetidos ao oxigênio a 90% acrescido de 10% de ar comprimido ou 10% de N2O, ao oxigênio a 70% acrescido de 30% de ar comprido ou 30% de N2O e ao oxigênio a 50%, acrescido de 50% de ar comprimido ou 50% de N2O, respectivamente GA10, GN10, GA30, GN30, GA50 e GN50. Momentos (minutos) M0 M60 M75 M90 M105 FiO2 Grupos Ventilação espontânea Ventilação mecânica PEEP 0,9 GA10 315,4±6,4A 308,3 ±17,3A 313,6±22,3A 282,7±47,5A 290,9±38,9A GN10 245,9±45,2Bab 256,6±13,4Ba 224,1±0,1Bab 215,1±0,3Bb 243,7±0,3Bab 0,7 GA30 256,8±85,5Bb 301,0±23,7Aa 253,8±36,7Bb 282,7±3,2Aab 265,7±0,9ABab GN30 214,0±2,1BCb 237,3±24,9Bab 256,1±58,8Ba 217,8±38,7Bab 247,1±29,8Bab 0,5 GA50 172,3±23,1C 158,7±34,9C 169,9±0,3C 164,6±11,4C 183,5±0,2C GN50 117,7±17,8D 119,6±23,3C 124,4±3,2D 125,4±0,9C 127,3±1,1D Médias seguidas por letras maiúsculas diferentes, nas colunas, diferem entre si com p≤0,05. Médias seguidas por letras minúsculas diferentes, nas linhas, diferem entre si com p≤0,05. Figura 2. Variação das médias de pressão parcial de oxigênio no sangue arterial (PaO2), em mmHg, em leitões (n=48) anestesiados com propofol, sob respiração espontânea ou controlada à pressão associada ou não à PEEP, submetidos ao oxigênio a 90% acrescido de 10% de ar comprimido ou 10% de N2O, ao oxigênio a 70% acrescido de 30% de ar comprido ou 30% de N2O e ao oxigênio a 50%, acrescido de 50% de ar comprimido ou 50% de N2O, respectivamente GA10, GN10, GA30, GN30, GA50 e GN50. 0,0 50,0 100,0 150,0 200,0 250,0 300,0 350,0 M0 M60 M75 M90 M105 m m H g Momentos (minutos) PaO2 GA10 GN10 GA30 GN30 GA50 GN50 48 5.1.1.2 Pressão parcial de dióxido de carbono no sangue arterial (PaCO2) Para a PaCO2 observaram-se diferenças significativas entre grupos e ao longo dos momentos nas análises individuais. Na avaliação do GA10 no M0, o valor foi menor que para os demais grupos, exceto quando comparado ao GA50. De modo similar, o GA10 permaneceu com média menor que do GN10, GN30 e GN50 no M60 e igualmente menor no M90 comparado ao GN30. O GA30 por sua vez, obteve média maior que o GA50 no M0, porém quando comparado ao GN10 e GN30, foi menor neste momento. No M60, a média do GA30 foi menor que nas encontradas para o GN10, GN30 e GN50, e igualmente menor que do GN30 e GN10 no M90 e M105 respectivamente. Observando o valor do GA50, este foi significativamente menor que do GN10, GN30 e GN50 no M0 e M60. Já no M75, foi menor que do GN10 e GN30 no M90. Para o GN50, a média registrada no M0 foi menor comparada às do GN10 e GN30. No decorrer dos momentos avaliados, para o GA10, a média no M0 foi maior que no momento seguinte. Já o GA30, GN10, GN30 e GN50, o valor no M0 foi maior que em todos os momentos subsequentes. Já para o GA50, o resultado no M60 decresceu significativamente comparado ao esboçado no M0 (Tabela 3 e Figura 3). 49 Tabela 3. Médias e desvios padrão (x±s) de pressão parcial de dióxido de carbono no sangue arterial (PaCO2), em mmHg, em leitões (n=48) anestesiados com propofol, sob respiração espontânea ou controlada à pressão associada ou não à PEEP, submetidos ao oxigênio a 90% acrescido de 10% de ar comprimido ou 10% de N2O, ao oxigênio a 70% acrescido de 30% de ar comprido ou 30% de N2O e ao oxigênio a 50%, acrescido de 50% de ar comprimido ou 50% de N2O, respectivamente GA10, GN10, GA30, GN30, GA50 e GN50. Momentos (minutos) M0 M60 M75 M90 M105 FiO2 Grupos Ventilação espontânea Ventilação mecânica PEEP 0,9 GA10 57,1±8,4Ca 38,1±3,5Bb 48,5±0,9ABab 47,9±1,8Bab 46,8±1,3ABab GN10 111,2±19,5Aa 67,0±19,6Ab 57,7±0,9Ab 56,6±5,3ABb 58,9±2,1Ab 0,7 GA30 79,5±17,8Ba 37,8±7,4Bb 45,8±15,1ABb 47,2±10,1Bb 42,2±6,4Bb GN30 123,6±22,1Aa 56,7±5,2Ab 56,7±7,6ABb 63,8±1,7Ab 56,3±1,2Ab 0,5 GA50 61,1±4,8Ca 42,7±5,2Bb 44,3±4,5Bb 44,7±2,0Bb 50,0±1,0ABa GN50 76,2±8,0Ba 61,0±7,6Ab 54,8±3,2ABb 57,1±1,6ABb 52,5±0,2ABb Médias seguidas por letras maiúsculas diferentes, nas colunas, diferem entre si com p≤0,05. Médias seguidas por letras minúsculas diferentes, nas linhas, diferem entre si com p≤0,05. Figura 3. Variação das médias de pressão parcial de dióxido de carbono no sangue arterial (PaCO2), em mmHg, em leitões (n=48) anestesiados com propofol, sob respiração espontânea ou controlada à pressão associada ou não à PEEP, submetidos ao oxigênio a 90% acrescido de 10% de ar comprimido ou 10% de N2O, ao oxigênio a 70% acrescido de 30% de ar comprido ou 30% de N2O e ao oxigênio a 50%, acrescido de 50% de ar comprimido ou 50% de N2O, respectivamente GA10, GN10, GA30, GN30, GA50 e GN50. 0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0 120,0 140,0 M0 M60 M75 M90 M105 m m H g Momentos (minutos) PaCO2 GA10 GN10 GA30 GN30 GA50 GN50 50 5.1.1.3 Saturação de oxihemoglobina no sangue arterial (SaO2) Não foram observadas diferenças entre grupos nos dois primeiros momentos do período experimental. Entretanto, no M75, M90 e M105, os animais que foram submetidos à diferentes porcentagens da mistura de oxigênio e ar comprimido obtiveram médias maiores que àqueles em que o óxido nitroso foi utilizado com o O2. Igualmente, nos três últimos momentos da avaliação, GN30 apresentou resultado menor quando comparado ao GN10 e GN50. Na análise individual, GN10 apresentou no M0, média maior que no M75, M90 e M105. Neste mesmo grupo, no M60 o resultado foi maior que nos demais momentos avaliados. De modo semelhante, o GN30 e GN50 obtiveram médias no M0 e M60 maiores que no M75, M90 e M105 (Tabela 4 e Figura 4). 51 Tabela 4. Médias e desvios padrão (x±s) de saturação de oxihemoglobina no sangue arterial (SaO2), em porcentagem (%), em leitões (n=48) anestesiados com propofol, sob respiração espontânea ou controlada à pressão associada ou não à PEEP, submetidos ao oxigênio a 90% acrescido de 10% de ar comprimido ou 10% de N2O, ao oxigênio a 70% acrescido de 30% de ar comprido ou 30% de N2O e ao oxigênio a 50%, acrescido de 50% de ar comprimido ou 50% de N2O, respectivamente GA10, GN10, GA30, GN30, GA50 e GN50. Momentos (minutos) M0 M60 M75 M90 M105 FiO2 Grupos Ventilação espontânea Ventilação mecânica PEEP 0,9 GA10 99,9±0,1 99,6±0,5 99,9±0,1A 98,7±1,3A 99,1±0,9A GN10 99,5±0,2a 99,4±0,8a 87,6±1,3Bb 88,6±1,3Bb 88,6±0,8Bb 0,7 GA30 100,0±0,1 100,0±0,0 99,9±0,1A 99,8±0,2A 99,9±0,1A GN30 98,8±0,6a 100,0±0,0a 81,4±6,6Cb 80,1±8,9Cb 83,1±7,2Cb 0,5 GA50 99,2±0,4 99,1±0,8 99,6±0,0A 99,4±0,2A 99,6±0,1A GN50 97,2±1,1a 98,2±1,2a 88,3±0,7Bb 87,2±1,2Bb 89,2±0,2Bb Médias seguidas por letras maiúsculas diferentes, nas colunas, diferem entre si com p≤0,05. Médias seguidas por letras minúsculas diferentes, nas linhas, diferem entre si com p≤0,05. Figura 4. Variação das médias de saturação de oxihemoglobina no sangue arterial (SaO2), em porcentagem (%), em leitões (n=48) anestesiados com propofol, sob respiração espontânea ou controlada à pressão associada ou não à PEEP, submetidos ao oxigênio a 90% acrescido de 10% de ar comprimido ou 10% de N2O, ao oxigênio a 70% acrescido de 30% de ar comprido ou 30% de N2O e ao oxigênio a 50%, acrescido de 50% de ar comprimido ou 50% de N2O, respectivamente GA10, GN10, GA30, GN30, GA50 e GN50. 0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0 120,0 M0 M60 M75 M90 M105 % Momentos (minutos) SaO2 GA10 GN10 GA30 GN30 GA50 GN50 52 5.1.1.4 Déficit de base no sangue arterial (DB) Em se tratando do DB, não houve diferença estatística no segundo momento do período experimental apenas. No M0, o GA30 apresentou valor menor que no GN10. Adicionalmente, no M75, o GA10 obteve média menor que a do GN10, porém maior que a do GA30 e GN30. Ainda na avaliação do momento M75, a média do GN30 foi menor quando cotejada com os valores do GA50, GN10 e GN50. No momento seguinte, o GA30 diferiu do GN10 e GN50, apresentando média menor. O GN30 também obteve média menor que no GN10 e GN50 no M90. No M105, GA30 resultou em menor valor comparado ao GA50 e GN10, e a média do GN10 também foi maior que a do GN30. Na análise individual, os grupos experimentais submetidos à mistura de O2 e ar comprimido em diferentes porcentagens não diferiram ao longo do tempo. Não obstante, para o GN10, a média apresentada no M60 foi menor que em todos os demais momentos. Já para o GN30, no M75 a média foi menor comparada ao exposto no M0, M60 e M105. Finalmente, para o GN50, no M60 a média foi significativamente menor que no M75 e M90 (Tabela 5 e Figura 5). 53 Tabela 5. Médias e desvios padrão (x±s) de déficit de base do sangue arterial (DB), em mEq/L, em leitões (n=48) anestesiados com propofol, sob respiração espontânea ou controlada à pressão associada ou não à PEEP, submetidos ao oxigênio a 90% acrescido de 10% de ar comprimido ou 10% de N2O, ao oxigênio a 70% acrescido de 30% de ar comprido ou 30% de N2O e ao oxigênio a 50%, acrescido de 50% de ar comprimido ou 50% de N2O, respectivamente GA10, GN10, GA30, GN30, GA50 e GN50. Momentos (minutos) M0 M60 M75 M90 M105 FiO2 Grupos Ventilação espontânea Ventilação mecânica PEEP 0,9 GA10 3,1±2,1AB 3,1±2,9 5,8±0,5A 4,1±2,5AB 4,3±1,7ABC GN10 6,7±0,2Aa 0,1±5,0b 7,5±0,1Aa 8,4±0,4Aa 8,5±0,2Aa 0,7 GA30 -0,6±3,7B 1,7±6,1 0,8±4,3BC 1,1±3,2B -0,3±2,8C GN30 3,6±2,5ABa 1,4±1,2a -3,4±1,4Cb 0,7±4,7Bab 1,9±5,1BCa 0,5 GA50 3,5±2,7AB 2,2±3,3 4,2±3,5AB 5,2±4,3AB 5,4±3,7AB GN50 2,8±1,3ABab 0,0±2,4b 5,1±2,8ABa 6,2±2,7Aa 4,0±4,4ABCab Médias seguidas por letras maiúsculas diferentes, nas colunas, diferem entre si com p≤0,05. Médias seguidas por letras minúsculas diferentes, nas linhas, diferem entre si com p≤0,05. Figura 5. Variação das médias de déficit de base do sangue arterial (DB), em mEq/L, em leitões (n=48) anestesiados com propofol, sob respiração espontânea ou controlada à pressão associada ou não à PEEP, submetidos ao oxigênio a 90% acrescido de 10% de ar comprimido ou 10% de N2O, ao oxigênio a 70% acrescido de 30% de ar comprido ou 30% de N2O e ao oxigênio a 50%, acrescido de 50% de ar comprimido ou 50% de N2O, respectivamente GA10, GN10, GA30, GN30, GA50 e GN50. -4,0 -2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 M0 M60 M75 M90 M105 m Eq /L Momentos (minutos) DB GA10 GN10 GA30 GN30 GA50 GN50 54 5.1.1.5 Bicarbonato do sangue arterial (HCO3 -) Não foram observadas diferenças entre grupos no M60. No entanto, no M0, o HCO3 - foi maior para o GN10 comparado aos grupos submetidos à diferentes misturas de oxigênio e ar comprimido e ao GN50. O GN30 também esboçou maior média que a do GA30. Para o GA10, no M75, o valor foi maior que o do GA30 e GN30. Ainda no M75, a média apresentada do GA30 foi menor que a do GN10 e GN50 e o GA50 resultou em valor menor que o do GN10 e maior que o do GN30 e este ultimo grupo foi ainda menor do que o do GN10 e GN50. No momento seguinte da avaliação, comparativamente, o resultado do GN10 foi maior que em todos os grupos anestesiados e submetidos à concentrações distintas de ar comprimido e que do GN30. Já o GA30 e GN30, esboçaram médias menores que do GN50. Já no M105, o GA10, teve média maior que do GA30 e menor que do GN10. Por sua vez, o GA30 também foi menor que GA50, GN10 e GN50. O GN10 foi ainda maior comparado ao GA50, GN30 e GN50. Na apreciação individual dos grupos experimentais, não foram observadas diferenças estatísticas para os animais submetidos à anestesia com a mistura de O2 e ar comprimido em diferentes concentrações e para o GN50. Já para o GN10, o valor do bicarbonato foi menor no M60 que em todos os demais momentos. Para o GN30, esta variável foi maior no M0 quando confrontada com os resultados dos demais momentos, e no M75 a média foi menor que no M60 e M105 (Tabela 6 e Figura 6). 55 Tabela 6. Médias e desvios padrão (x±s) de bicarbonato (HCO3 -), em mEq/L, em leitões (n=48) anestesiados com propofol, sob respiração espontânea ou controlada à pressão associada ou não à PEEP, submetidos ao oxigênio a 90% acrescido de 10% de ar comprimido ou 10% de N2O, ao oxigênio a 70% acrescido de 30% de ar comprido ou 30% de N2O e ao oxigênio a 50%, acrescido de 50% de ar comprimido ou 50% de N2O, respectivamente GA10, GN10, GA30, GN30, GA50 e GN50. Momentos (minutos) M0 M60 M75 M90 M105 FiO2 Grupos Ventilação espontânea Ventilação mecânica PEEP 0,9 GA10 29,6±2,8BC 28,8±2,7 30,9±0,3AB 29,3±2,2BC 29,3±1,1B GN10 37,8±1,1Aa 25,9±6,0b 34,7±0,3Aa 35,5±1,3Aa 35,9±1,1Aa 0,7 GA30 27,9±1,4C 26,4±3,8 25,8±5,1CD 26,4±3,5C 24,8±2,8C GN30 33,7±3,0ABa 28,8±2,3b 23,0±1,3Dc 26,8±4,4Cbc 28,2±5,3BCb 0,5 GA50 30,3±2,1BC 27,1±3,5 28,7±3,7BC 29,5±4,0BC 30,6±3,2B GN50 30,8±1,8BC 26,0±1,7 31,6±1,9AB 32,6±1,7AB 30,2±3,5B Médias seguidas por letras maiúsculas diferentes, nas colunas, diferem entre si com p≤0,05. Médias seguidas por letras minúsculas diferentes, nas linhas, diferem entre si com p≤0,05. Figura 6. Variação das médias de bicarbonato (HCO3 -), em mEq/L, em leitões (n=48) anestesiados com propofol, sob respiração espontânea ou controlada à pressão associada ou não à PEEP, submetidos ao oxigênio a 90% acrescido de 10% de ar comprimido ou 10% de N2O, ao oxigênio a 70% acrescido de 30% de ar comprido ou 30% de N2O e ao oxigênio a 50%, acrescido de 50% de ar comprimido ou 50% de N2O, respectivamente GA10, GN10, GA30, GN30, GA50 e GN50. 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 M0 M60 M75 M90 M105 m Eq /L Momentos (minutos) HCO3 - GA10 GN10 GA30 GN30 GA50 GN50 56 5.1.1.6 Potencial hidrogeniônico no sangue arterial (pH) O pH diferiu entre os grupos e ao longo dos momentos em cada grupo. No M0, todos os grupos em que o ar comprimido foi utilizado em diferentes concentrações obtiveram médias maiores que as do GN10 e GN50. Somado a isso, no mesmo momento, o GN10 resultou em valor menor que dos demais grupos submetidos a porcentagens distintas de óxido nitroso e o GN30 apresentou média maior que a do GN50. No momento seguinte, o GA30 esboçou média menor que a do GA10, GA50 e GN50. Para o GA50 por sua vez, o valor foi maior que o do GN10 e GN30. Já no M75, o resultado do GA10 foi maior que o do GN10 e para o GA50, o valor foi maior que em todos os grupos onde o óxido nitroso foi utilizado. Na análise do M90, a única diferença significativa observada foi na média maior do GA50 em relação ao GN50. Finalmente, no M105, o GA10 apresentou média maior que a do GN10 e GN50. O GN10 também foi menor que o GN30 e GA50 e este último grupo apresentou valor maior que do GN50. O GN30 por outro lado, obteve média menor que do GN50. Ao longo do tempo, para GA10, o pH aumentou no M75 e M105 quando confrontados à média do M0. Já para o GA30, no M60 a média foi menor que em todos os demais momentos analisados. Adicionalmente, o GA50 e GN10 resultaram em valores menores no primeiro momento da avaliação comparados aos demais momentos experimentais e o GN10 apresentou média menor no M60 comparada ao M90. Para o GN30, a média alcançada no M60 foi menor que no M0, M90 e M105. Por último, o GN50 no M0 obteve valor menor que nos momentos seguintes (Tabela 7 e Figura 7). 57 Tabela 7. Médias e desvios padrão (x±s) de potencial hidrogeniônico no sangue arterial (pH), em leitões (n=48) anestesiados com propofol, sob respiração espontânea ou controlada à pressão associada ou não à PEEP, submetidos ao oxigênio a 90% acrescido de 10% de ar comprimido ou 10% de N2O, ao oxigênio a 70% acrescido de 30% de ar comprido ou 30% de N2O e ao oxigênio a 50%, acrescido de 50% de ar comprimido ou 50% de N2O, respectivamente GA10, GN10, GA30, GN30, GA50 e GN50. Momentos (minutos) M0 M60 M75 M90 M105 FiO2 Grupos Ventilação espontânea Ventilaç