UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS CÂMPUS DE ARARAQUARA DANIELE AGUSTONI Avaliação da Capacidade de Quimioprevenção de Eugenia jambolana em linhagem de hepatocarcinoma celular (HepG2 e Hepa 1c1c7) ARARAQUARA-SP 2012 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” - UNESP FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS CÂMPUS DE ARARAQUARA DANIELE AGUSTONI Avaliação da Capacidade de Quimioprevenção de Eugenia jambolana em linhagem de hepatocarcinoma celular (HepG2 e Hepa 1c1c7) Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biociências e Biotecnologia Aplicadas à Farmácia, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara – Universidade Estadual Paulista - UNESP, como requisito para obtenção do título de Mestre em Biociências e Biotecnologia Aplicadas à Farmácia. Área de Concentração: Citologia Clínica de Biologia Celular. Orientadora: Profa. Dra. Christiane Pienna Soares ARARAQUARA-SP 2012 CAPES: 40300005 Ficha Catalográfica Elaborada Pelo Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação Faculdade de Ciências Farmacêuticas UNESP – Campus de Araraquara Agustoni, Daniele A282a Avaliação da capacidade de quimioprevenção de Eugenia jambolana em linhagem de hepatocarcinoma celular (HepG2 Hepa1c1c7) / Daniele Agustoni. – Araraquara, 2012 116 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista. “Júlio de Mesquita Filho”. Faculdade de Ciências Farmacêuticas. Programa de Pós Graduação em Biociências e Biotecnologia Aplicadas à Farmácia Orientador: Christiane Pienna Soares 1. Eugenia jambolana. 2. Quimioprevenção. 3. Genotoxicidade. 4. Mutagenicidade. 5. Antigenotoxicidade. 6. Antimutagenicidade. 7. Citotoxicidade. I. Soares, Christiane Pienna, orient. II. Título. TERMO DE APROVAÇÃO NOME DA AUTORA: Daniele Agustoni TÍTULO DO TRABALHO: “Avaliação da Capacidade de Quimioprevenção de Eugenia jambolana em linhagem de hepatocarcinoma celular (HepG2 e Hepa 1c1c7)”. DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE PRESIDENTE E ORIENTADORA: Drª. Christiane Pienna Soares INSTITUIÇÃO: Faculdade de Ciências Farmacêuticas, UNESP - Araraquara SEGUNDO EXAMINADOR: Drª. Denise Crispim Tavares INSTITUIÇÃO: Universidade de Franca TERCEIRO EXAMINADOR: Drª. Dulce Helena Siqueira da Silva INSTITUIÇÃO: Instituto de Química, UNESP - Araraquara QUARTO EXAMINADOR: Drª Raquel Alves dos Santos INSTITUIÇÃO: Universidade de Franca QUINTO EXAMINADOR: Dr. André Gonzaga dos Santos INSTITUIÇÃO: Faculdade de Ciências Farmacêuticas, UNESP - Araraquara Araraquara, 18 de Maio de 2012 Esse trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Citologia Clínica e Biologia Celular do Departamento de Análises Clínicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Araraquara com auxílio de bolsa CAPES e FAPESP (financiamento do projeto, processo n° 09/52716-4). Dedico este Trabalho Aos meus pais Geraldo e Lúcia que me auxiliaram com dedicação para a realização dessa pesquisa, por toda compreensão, apoio, incentivo e paciência, por terem lutado para eu chegar à universidade e por estarem sempre comigo... Agradeço por esta mais nova conquista! Á minha irmã e verdadeira amiga Ana Cláudia, pelo carinho e companhia em todas as etapas desta caminhada. Ao meu namorado e amigo Mauricio, por todo amor, ajuda, paciência, compreensão e respeito... Obrigada por fazerem parte da minha vida! Agradecimentos Meu sincero reconhecimento: À Deus, primeiramente, pela vida, pelas bênçãos e proteção. À Profª Dra. Christiane Pienna Soares pela confiança durante a realização deste trabalho e ainda, pelo seu apoio e ensinamento. Ao Instituto de Química - UNESP e a professora Dra. Dulce Helena Siqueira Silva, e sua aluna Alessandra C. Dametto, pela contribuição direta e essencial para o desenvolvimento desse estudo. Agradeço aos professores membros da banca de qualificação e defesa Dra. Denise Crispim Tavares, Dra. Raquel Alves dos Santos, Dra. Ticiana S. de Oliveira Capote, Dra. Dulce Helena Siqueira Silva e Dr. André Gonzaga dos Santos, que gentilmente aceitaram o convite de ler este manuscrito, pela contribuição e tempo desprendido... Ao Laboratório de Citologia Clínica e Biologia Celular, agradeço pela amizade e companheirismo à Elaine, Thais, Tarsia, Juliana, Letícia, Leda, Felipe, Rochane, Bárbara, Flávio, Mauro, Aline e Maria Isabel. À nova geração da Citologia com a Profª Dra. Valéria, Rodolfo, Bruna e Luis... À Belzinha, Gabrielle e Eloísa, pela amizade, compreensão... À CAPES pela bolsa concedida. À FAPESP pelo apoio financeiro ao projeto. Enfim, agradeço a todos da minha família, todos os amigos, que contribuíram, acreditaram e participaram desse trabalho, seja diretamente ou indiretamente. Muito Obrigada! Lista de Figura Figura 1. Estágios da carcinogênese .................................................................................... 22 Figura 2. Ativação do elemento de resposta antioxidante pela via Keap1-Nrf2 ................. 23 Figura 3. Princípio do ensaio da quinona-redutase ............................................................. 24 Figura 4. Árvore, folhas e frutos de Eugenia jambolana. ................................................... 27 Figura 5. Estrutura de uma antocianina ............................................................................... 28 Figura 6. Imagens representativas do ensaio do cometa. Controle positivo (A), controle negativo (B), pré-tratamento com extrato bruto isolado do fruto de E. jambolana, (C) e pós-tratamento com extrato bruto isolado do fruto de E. jambolana (D)............................. 49 Figura 7. Indução da enzima quinona-redutase através do Extrato bruto da folha. ........... 55 Figura 8. Indução da enzima quinona-redutase através do Extrato bruto do fruto .............. 56 Figura 9. Indução da enzima quinona-redutase através da Fração n-butanólica da folha ... 57 Figura 10. Indução da enzima quinona-redutase através da Fração hidroalcoólica do fruto. ..................................................................................................................................... 58 Lista de Fluxograma Fluxograma 1: Metodologia de partição líquido-líquido para o extrato dos frutos de E. jambolana ............................................................................................................................ 38 Fluxograma 2: Metodologia de partição líquido-líquido para o extrato das folhas de E. jambolana ............................................................................................................................. 39 Lista de Abreviaturas e Siglas % - Por Cento °C – Graus Celsius μg – Micrograma μL – Microlitro μM – Micromolar AC-Fo – Fração Acetato da Folha AC-Fr – Fração Acetato do Fruto AhR – Receptor de Aril-hidrocarbonetos ANOVA – Análise de Variância ARE – Elemento de Resposta Antoxidante ATCC – American Type Culture Collection ATV – Associação de Tripsina e Versene BNF – Beta-Naftoflavona BU-Fo – Fração n-Butanólica da Folha BU-Fr – Fração n-Butanólica do Fruto CI20– Concentração Inibitória para 20% de células CN – Controle Negativo CP – Controle Positivo DMEM – Dulbecco’s Modification of Eagle Medium DMSO – Dimetilsufóxido DNA – Ácido Desoxirribonucleico EB-Fo – Extrato Bruto da Folha EB-Fr – Extrato Bruto do Fruto EP – Erro Padrão EROs – Espécies Reativas de Oxigênio FMN – Frequência de Micronúcleo g – Grama G6PDH – Enzima Glicose-6-Fosfato Desidrogenase HA-Fo – Fração Hidroalcoólica da Folha HA-Fr – Fração Hidroalcoólica do Fruto HEX-Fo – Fração Hexânica da Folha HIV – Human Immunodeficiency Virus HPA – Hidrocarboneto Poliaromático HPLC – High Performance Liquid Chromatography IDN – Índice de Divisão Nuclear L – Litro LMP – Low Melting Point M – Molar mg - Miligrama mL – Mililitros mm – Milimetros mM – Milimolar MN – Micronúcleo MTT – Brometo de 3-(4,5 dimetiltiazo-2-il)-2,5-defeniltetrazólio NADPH – Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo Fosfato Reduzido Oxidase nm – Nanômetro OECD – Organization for Economic Co-Operation and Development PBS – Solução Salina Tamponada com Fosfato pH – Potêncial Hidrogeniônico QR – Quinona-Redutase rpm – Rotações por minuto SCGE – Single Cell Gel Eletrophoresis SFB – Soro Fetal Bovino SRB – Sulforrodamina B TCA – Ácido Tricloroacético U – Unidade VC – Violeta Cristal α – Alfa α-MEM – Alfa Modification of Eagle Medium β – Beta RESUMO A variabilidade das regiões geográficas brasileiras favorece o desenvolvimento de diferentes espécies vegetais, o que estimula o estudo na busca de novos agentes bioativos. A quimioprevenção envolve o uso de substâncias naturais ou sintéticas a fim de prevenir, retardar ou reverter o desenvolvimento do câncer e a espécie escolhida para investigação de seu possível efeito quimiopreventivo é a Eugenia jambolana pertencente à família Myrtaceae, seu perfil químico revela a presença de antocianinas e substâncias fenólicas com potencial efeito antioxidante, antiinflamatório e analgésico. O presente estudo tem por objetivo realizar o rastreamento bioguiado para atividade de quimioprevenção em extratos e frações das folhas e dos frutos de Eugenia jambolana como parte da bioprospecção de produtos naturais. Até o momento não existem estudos sobre a capacidade de quimioprevenção dessa espécie vegetal. No presente estudo foi avaliada a indução da enzima quinona-redutase em células de hepatocarcinoma murino selvagem (Hepa 1c1c7) e mutantes (TAOr1BPrc1 e BPrc1), a citotoxicidade, genotoxicidade e antigenotoxicidade, mutagenicidade e antimutagenicidade em células de hepatocarcinoma humano (HepG2) competentes para metabolização de xenobióticos. Experimentos esses realizados através do ensaio da Quinona-redutase, coloração por sulforrodamina B, ensaio do cometa e teste do micronúcleo. Os resultados demonstraram que o extrato bruto e a fração n-butanólica das folhas, e o extrato bruto e a fração hidroalcoólica dos frutos de E. jambolana são capazes de promover significativamente a indução da enzima quinona-redutase em diferentes concentrações, de 1,25 a 40 μg/mL. Porém nessas condições esses extratos e frações foram potencialmente genotóxico. Em menores concentrações esses extratos e frações não foram genotóxicos nem mutagênicos. Os ensaios de antigenotoxicidade e antimutagenicidade foram realizados a partir de concentrações não genotóxicas estabelecidas no ensaio do cometa, através do protocolo de genotoxicidade. Os resultados de antigenotoxicidade demonstraram que no pós-tratamento os extratos e frações foram capazes de atenuar o dano induzido pelo mutágeno, peróxido de hidrogênio. Sendo que os extratos e frações dos frutos foram capazes de reduzir de maneira mais acentuada o dano induzido pelo mutágeno. Na avaliação da antimutagenicidade, os extratos e frações foram capazes de reduzir significativamente a freqüência de micronúcleos em relação ao controle positivo, tanto no pré-tratamento quanto no pós- tratamento. Os extratos e frações de E. jambolana demonstraram-se promissores, uma vez quem em concentrações não genotóxicas, são capazes reverter danos induzidos ao DNA, balanço esse essencial para sua aplicabilidade com agente quimiopreventivo. Palavras-chave: Eugenia jambolana, quimioprevenção, genotoxicidade, mutagenicidade, antigenotoxicidade, antimutagenicidade, citotoxicidade. ABSTRACT The variability of geographical regions favors the development of different plant species, which encourages the study in the search for new bioactive agents. The chemoprevention involves the use of natural or synthetic substances to prevent, retard or reverse the developing cancer and the species chosen for investigation of their possible chemopreventive effect was Eugenia jambolana belonging to the Myrtaceae family, chemical profile reveals the presence of anthocyanins and phenolic compounds with potential antioxidant, anti-inflammatory and analgesic effect. This study aims to perform a screning chemoprevention activity in extracts and fractions from leaves and fruits of Eugenia jambolana as part of bioprospecting of natural products. So far there are no studies on the ability of chemoprevention of plant species. The present study evaluated the induction of quinone-reductase in wild murine hepatoma cell line (Hepa 1c1c7) and mutant murine hepatoma cell line (TAOr1BPrc1 and BPrc1), cytotoxicity, genotoxicity, antigenotoxicity, mutagenicity and antimutagenicity in human hepatoma cell line (HepG2) responsible for metabolizing xenobiotics. The experiments were performed by quinone-reductase assay, staining sulforrodamina B, comet assay and micronucleus test. The results showed that the crude extract and the n-butanol fraction from the leaves, and the crude extract and hydroalcoholic fraction from the fruits of E. jambolana were able to significantly promote the induction of quinone-reductase in different concentrations from 1.25 to 40 μg/ mL. But under these conditions these compounds were potentially genotoxic. In lower concentrations these compounds were not genotoxic or mutagenic. The antigenotoxicity and antimutagenicity assays were performed from non-genotoxic concentrations established in the comet assay, using the protocol for genotoxicity. The antigenotoxicity results showed that the post-treatment of the extracts and fractions were able to mitigate the damage induced by mutagen, hydrogen peroxide. The compounds from fruits were able to reduce the more strongly the damage induced by mutagenic. In assessing the antimutagenicity, extracts and fractions were able to significantly reduce the frequency of micronucleus in relation to the positive control in both pre-treatment and post-treatment. The extracts and fractions of E. jambolana showed to be promising, since in non-genotoxic concentrations, they were able to reverse induced damage to DNA, an essential balance for its applicability as chemoprevention agent. Keywords: Eugenia jambolana, chemoprevention, genotoxicity, mutagenicity, antigenotoxicity, antimutagenicity, cytotoxicity. 17 CAPÍTULO I 18 1. Introdução 19 O Brasil possui uma exuberante vegetação, considerada a mais rica e estimada em cerca de 20% da biodiversidade do mundo. Essa grande biodiversidade se distribui em diferentes regiões como a Mata Atlântica, a Amazônia, e o Cerrado. O Cerrado compreende 25% do território brasileiro sendo típico de regiões tropicais, apresenta duas estações climáticas bem marcadas (inverno seco e verão chuvoso), possui solo de savana tropical que se caracteriza pela baixa fertilidade, que condicionam o desenvolvimento de um tipo peculiar de vegetação (CRAGG; NEWMAN; SNADER, 1997). A diversidade de espécies presentes nesse ecossistema permite a realização de estudos especializados na procura de novas drogas para diferentes doenças. Uma das mais antigas formas de prática medicinal é a utilização de plantas com fins medicinais, para a prevenção ou tratamento de doenças. A Organização Mundial de Saúde (OMS), no início da década de 1990, divulgou que 65-80% da população de países em desenvolvimento utilizavam plantas medicinais como única forma de acesso aos cuidados básicos de saúde (VEIGA-JUNIOR; PINTO; MACIEL, 2005; SILVA et al., 2008). Porém no Brasil, as plantas medicinais são consumidas com pouco ou nenhuma comprovação de suas propriedades farmacológicas e existem evidencias que relatam que determinadas plantas medicinais apresentam substâncias potencialmente perigosas. Além disso, os efeitos adversos, as possíveis adulterações e toxicidade dos fitomedicamentos ocorrem comumente. (VEIGA-JUNIOR; PINTO; MACIEL, 2005). Diante dessa realidade os estudos toxicológicos e farmacológicos tornaram-se indispensáveis para comprovar cientificamente a eficácia terapêutica desses produtos, associado à proteção da saúde da população. Considerando a biodiversidade brasileira e a pequena quantidade de plantas que são avaliadas em relação ao seu potencial toxicológico, farmacológico e fitoquímico, o 20 reino vegetal apresenta um enorme reservatório de substâncias farmacologicamente ativas a serem descobertas (HAMBURGUER; MARSTON; HOSTETTMANN, 1991; POTTERAT et al., 1995; NOGUEIRA; CERQUEIRA; SOARES, 2010). 21 1.1. Produtos naturais e quimioprevenção A quimioprevenção do câncer pode ser definida como a utilização de compostos naturais ou sintéticos, com a finalidade de prevenir, retardar ou reverter o processo de carcinogênese (WATTENBERG, 1985; MORSE; STONER, 1993; KELLOFF et al., 1994; SPORN; SUH, 2000; PEZZUTO et al., 2005). A carcinogênese ou processo de formação do tumor envolve três diferentes estágios. O primeiro estágio ou estágio de iniciação é caracterizado pela exposição das células a agentes cancerígenos, promovendo alterações em alguns de seus genes, porém ainda não há a formação do tumor. No segundo estágio ou estágio de promoção as células geneticamente alteradas, sofrem o efeito dos agentes cancerígenos (oncopromotores), nesse momento a célula é transformada de uma forma lenta e gradual em uma célula maligna. Mas essa transformação só ocorre a partir de um contato contínuo com o agente promotor, caso ocorra à suspensão do contato é possível interromper o processo nesse estágio. E o terceiro estágio ou estágio de progressão é um processo irreversível, caracterizado pela elevada capacidade proliferativa e em algumas situações pode ser, respectivamente, invasiva e potencialmente metastática das células modificadas (INCA, 2011). Os avanços recentes das pesquisas sobre câncer definiram os eventos celulares e moleculares associados com a carcinogênese como evidências crescentes de dados experimentais, epidemiológicos e clínicos que fornecem as bases para estratégias relativamente novas de prevenção do câncer, especialmente a supressão de vias metabólicas de ativação de carcinógenos ou o bloqueio de sua formação (CUENDET et al., 2006). De maneira geral, essa prevenção ocorre a partir de agentes quimiopreventivos que atuam de acordo com determinado estágio da carcinogênese, sendo classificados em agentes supressores ou bloqueadores. Os agentes bloqueadores 22 atuam prevenindo a fase inicial por meio de alguns mecanismos, tais como a indução de enzimas de destoxificação, ou a inibição da iniciação carcinogênica. Os agentes supressores atuam através de mecanismos de inibição do metabolismo do ácido araquidônico, indução da diferenciação celular, entre outros, nos estágios de promoção e progressão durante a carcinogênese (figura 1) (WATTEENBERG, 1985; MORSE; STONER, 1993; SPORN; SUH, 2000). Figura 1. Estágios da carcinogênese, com os tipos de agentes quimiopreventivos do câncer, esquematicamente representado. Modificado de Duvoix et al., (2005). Muitos produtos naturais são capazes de alterar o metabolismo de carcinógenos através da indução de enzimas microssomais envolvidas na destoxificação do organismo. A carcinogênese, portanto, pode ser evitada por uma série de compostos de diferentes classes tais como flavonóides, cumarinas, tiocarbamatos, fenólicos e isotiocianatos. A propriedade comum entre esses compostos é elevar a atividade enzimática por um aumento na sua síntese e na diminuição da degradação da mesma (CUENDET et al., 2006). Uma das estratégias para a proteção de células dos eventos iniciais da formação de tumores, utilizando produtos naturais, incluem a diminuição de enzimas metabólicas responsáveis pela geração de espécies reativas de oxigênio que atuam principalmente na 23 ativação de carcinógenos, as chamadas enzimas de fase 1, ao passo que enzimas de fase 2, que participam do processo de destoxificação do organismo frente a carcinógenos, são estimuladas, promovendo a desativação de radicais e eletrófilos envolvidos nos processos celulares normais. Os agentes responsáveis por este acontecimento são denominados indutores bifuncionais, onde os carcinógenos poderiam induzir a uma proteção contra seu próprio efeito tóxico, ou seja, são responsáveis por induzir tanto enzimas de fase 1 quanto enzimas de fase 2, como é o caso de Hidrocarbonetos Poliaromáticos (HPA) que se ligam ao Receptor de Aril-hidrocarbonetos (AhR) com grande afinidade (PROCHASKA et al., 1992; CUENDET et al., 2006). Além destes, existem também os indutores monofuncionais, que induzem seletivamente enzimas de fase 2, ativando o elemento de resposta antioxidante (ARE) pela via Keap1-Nrf2 (DINKOVA-KOSTOVA et al., 2002) (Figura 2). A redução de quinonas eletrofílicas pela quinona-redutase (QR) é uma via importante de destoxificação e o seu grau de atividade pode ser inferido através da indução em células da linhagem de hepatocarcinoma murino (Hepa 1c1c7) (TALALAY et al., 1988; PROCHASKA et al., 1992; GERHÄUSER et al., 1997). Figura 2. Ativação do elemento de resposta antioxidante (ARE) pela via Keap1-Nrf2. Modificado de Dinkova-Kostova et al., (2002). 24 O tratamento com produtos naturais pode induzir a quinona-redutase. O ensaio da quinona redutase (QR) constitui um método simples, para uma rápida detecção e avaliação de indução dessa enzima, que destoxifica carcinógenos (enzima de fase 2), baseando-se na medida direta da atividade da QR em células de hepatocarcinoma murino (Hepa 1c1c7) cultivadas em placas com 96 poços (PROCHASKA et al., 1992). A quinona-redutase catalisa a redução da menadiona (2-metil-1,4-naftoquinona) a menadiol mediada por NADPH como doador de elétrons. O brometo de 3-(4,5- dimetiltiazo-2-il)-2,5-difeniltetrazólio (MTT) é então reduzido não enzimaticamente pelo menadiol, resultando na formação de em sal precipitado com cor azul (azul de formazana) que pode ser quantificado em leitor de absorbância de microplacas (Figura 3) (PROCHASKA et al.,1988; FAHEY et al., 2004). Figura 3. Princípio do ensaio da quinona-redutase: glicose-6-fosfato e glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PDH) geram NADPH continuamente. Este NADPH é usado pela QR para transferir elétrons a menadiona. O menadiol então formado reduz espontaneamente o MTT ao azul de formazana que pode ser medido em um amplo alcance de comprimentos de onda (490 a 640 nm). Ambos NADPH e menadiona são regenerados, o que evita problemas de depleção dos substratos (FAHEY et al., 2004). A linhagem celular derivada de hepatocarcinoma murino (Hepa 1c1c7) contém quantidades de QR induzíveis facilmente mensuráveis que fornece um confiável sistema de detecção de indutores de enzimas de fase 2 (PROCHASKA; SANTAMARIA 1988; FAHEY et al., 2004; CUENDET et al., 2006). 25 Para determinar se um composto é considerado monofuncional ou bifuncional, pode-se comparar a capacidade de indução de uma substância na linhagem selvagem Hepa1c1c7 com o perfil da indução em duas linhagens mutantes (TAOc1BPrc1 e BPrc1). A linhagem TAOc1BPrc1 é defeituosa no receptor AhR, enquanto a linhagem BPrc1 é incapaz de translocar o complexo ligante-receptor para o núcleo (GERHÄUSER et al., 1997). Portanto, os compostos que possuem o mesmo padrão de indução tanto na linhagem selvagem, quanto nas linhagens mutantes, são considerados indutores monofuncionais (CUENDET et al., 2006). Assim, o presente estudo propõe avaliar a atividade quimiopreventiva, através do ensaio da quinona-redutase, utilizando extratos e frações de Eugenia jambolana. 1.2. Eugenia jambolana (Myrtaceae) A família Myrtaceae apresenta ampla distribuição, ocorrendo em regiões tropicais e subtropicais, principalmente na América do Sul e Sudeste da Ásia e Austrália, compreende cerca de 75 gêneros e 3000 espécies. Na medicina, as plantas desta família são muito usadas por serem ricas em óleos voláteis. Dentro da família Myrtaceae existe uma subfamília, chamada de Myrtoide, que possui plantas com grande potencial econômico. Nessa subfamília encontram-se as espécies Myrciaria (jabuticaba), Myrtus (murta), Syzygium (cravo-da-Índia), Eugenia (pitanga), Psidium (goiaba), Plinia (cambucá) e Luma. (MAHMOUD et al., 2001; KUSKOSKI et al., 2003; REYNERTSON et al., 2008). A espécie Eugenia pertencente à subfamília Myrtoide, assim como algumas outras espécies desta subfamília, são utilizados como antiinflamatório, analgésico, antipirético, antifúngico e no tratamento de úlceras peptídicas. (MAHMOUD et al., 2001; KUSKOSKI et al., 2003). 26 Eugenia jambolana (Lamb.) é também conhecida como Myrtus cumini (L)., Syzygium jambolanum (Lamb.), Syzygium cumini (L.), Eugenia cumini Druce e são árvores da família Myrtaceae oriunda da Índia oriental. Essas espécies são bastante conhecidas na medicina popular indiana, chegando até 30 m de altura, com copa ampla e ramificada. Multiplica-se por sementes, desenvolve-se bem em qualquer tipo de solo, porém permeáveis e profundos. Prefere climas quentes e úmidos, principalmente de regiões litorâneas. Suas flores são de coloração creme ou branca, com pétalas arredondadas, possuem bastante néctar. No Brasil essa espécie frutifica o ano todo, seus frutos possuem uma semente única e grande, os frutos maduros são empregados para fazer conservas, sucos e geléias enquanto o suco da fruta verde é usado para preparar um vinagre que é considerado um medicamento estomacal e diurético (BANERJEE; DASGUPTA; DE, 2005). No Brasil, a Eugenia jambolana é conhecida como jambolão, jamelão, jambol ou jalão (Figura 4). Os frutos da espécie contêm vitamina C, ácido gálico, taninos e antocianinas, sendo amplamente utilizados como adstringente, diurético, antidiabético e estomáquico. As folhas de E. jambolana contêm uma mistura de polifenóis, especialmente flavonóides glicosilados, ácidos fenólicos e são ricos em taninos e saponinas e seu chá é comumente utilizado por pacientes diabéticos (MAHMOUD et al., 2001, LOGUERCIO et al., 2005). As sementes e os frutos do jambolão podem reduzir a glicemia e a glicosúria, promover atividade antioxidante, e restaurar parcialmente o fígado alterado e glicogênio contido na estrutura muscular, bem como, nos níveis de glucoquinase, hexoquinase, glicose-6-fosfato e fosfofrutoquinase em ratos diabéticos (PEPATO et al., 2005). 27 Figura 4. Árvore, folhas e frutos de Eugenia jambolana. http://seboriobrancoacaonatalverde.blogspot.com/2011/02/jambolao-em-acao-natal- verde-contra-o.html). As propriedades adstringentes da casca são utilizadas, na medicina popular, contra diarréias crônicas, disenteria e menorragia. A decocção da casca é um eficaz enxaguante bucal no tratamento de aftas, estomatites, afecções da garganta e outras doenças das vias orais. Dentre os inúmeros usos da planta, destaca-se o seu efeito antiinflamatório, anti-hiperglicêmico, anti HIV e antimicrobiano (MURUGANANDAN et al., 2001; LOGUERCIO et al., 2005). Os frutos de E. jambolana são comestíveis e seus extratos apresentam forte atividade antioxidante devido a presença de vitamina C, ácido gálico, taninos e antocianinas (BANERJEE et al., 2005; VEIGA et al., 2007). As antocianinas são compostos flavonoídicos responsáveis pela cor vermelha, roxa e azul evidenciada em algumas frutas, vegetais, cereais e flores. Estão presentes em varias famílias de plantas, especialmente na família em questão (Myrtaceae), na forma de compostos glicosilados e possuem carga positiva no anel central da estrutura, a pH menor que 3, o que lhes 28 contribui, a coloração junto com o número e posição de grupos hidroxilas presentes (figura 5) (HOU et al., 2004; MALACRIDA; MOTTA, 2006; PLAZA, 2007). Figura 5. Estrutura de uma antocianina. (DAMETTO, 2010). Sendo assim relatado na literatura, a atividade antioxidante, antiinflamatória, anti-hiperglicêmica e antimicrobiana de E. jambolana, estudos adicionais são estimulados para verificar sua possível atividade quimiopreventiva. Entretanto, deve-se avaliar seu potencial citotóxico, genotóxico e mutagênico para garantir o possível uso seguro dos extratos e frações. 1.3. Genotoxicidade/Antigenotoxicidade e Mutagenicidade/Antimutagenicidade As mutações podem ser causadas por erros durante o processo de duplicação da molécula de DNA, por mutagênicos endógenos, tais como espécies reativas de oxigênio, ou induzidas por agentes externos que são divididos em: agentes físicos, como luz ultravioleta e radiações ionizantes; agentes biológicos como é o caso de alguns vírus, que se integram ao genoma celular interrompendo seqüências gênicas ou promovendo rearranjos gênicos; e agentes químicos, como os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos e as nitrosaminas. Há muitos anos sabe-se que a maioria dos agentes mutagênicos mais potentes, como por exemplo, radiações ionizantes, luz 29 ultravioleta e produtos químicos são considerados, indutores de câncer, ou seja, são indutores da carcinogênese (GARDNER; SNUSTAD, 1986; ESTELLER; HERMAN, 2002,). O acúmulo de mutações está relacionado com o desenvolvimento da maioria dos tumores malignos e desordens degenerativas (CUZZOCREA et al., 2001; MIGLIORE; COPPEDÈ, 2002). Kundu e Surh (2005) relataram que 7 a 31% dos tumores malignos podem ser reduzidos com dietas ricas em frutas e vegetais. Desde então estudos vêm sendo conduzidos, a fim, de identificar compostos que possam apresentar atividade antimutagênica e antigenotóxica (CARIÑO-CORTÉS et al., 2007). Alimentos ricos em antioxidantes reduzem a incidência e a mortalidade causada por alguns tipos de câncer. As frutas que contêm altos níveis de substâncias antioxidantes como polifenóis, ácidos fenólicos, carotenóides, flavonóides e antocianinas podem reduzir os níveis de espécies reativas de oxigênio nos organismos dos mamíferos e assim, evitar danos ao DNA e impedir as mutações que iniciam a progressão tumoral (ZHANG et al., 2008; HOGAN et al., 2010). Para a avaliação do potencial genotóxico, mutagênico, antigenotóxico e antimutagênico dos extratos e frações de E. jambolana, cujo mecanismo de ação ainda é desconhecido foi utilizado o ensaio do cometa e o teste do micronúcleo em linhagem celular de hepatocarcinoma humano – HepG2. Atualmente os ensaios de mutagenicidade e genotoxicidade (no caso teste do micronúcleo e ensaio do cometa, respectivamente) estão sendo amplamente utilizados para a identificação de agentes quimiopreventivos, pois são ensaios sensíveis, de fácil execução que podem ser realizados com diversas linhagens celulares, incluindo a linhagem celular HepG2, que são células de fácil manuseio e contêm várias enzimas responsáveis pela ativação de diversos xenobióticos por possuir uma ação 30 metabolizadora. A diferença entre os dois ensaios é basicamente devido as variações entre os tipos de alterações no DNA, o teste do micronúcleo detecta lesões irreparáveis que se manifestam como aberrações cromossômicas ou efeitos aneugênicos, enquanto o ensaio cometa detecta lesões primárias no DNA, ou seja danos passíveis de reparo (SALVADORI et al., 1993; SCOLASTICI et al., 2008). A combinação dessas duas metodologias é recomendada para determinar os efeitos que substâncias podem exercer sobre o DNA. Principalmente porque ambas possuem como característica a capacidade de avaliar danos no DNA em estágios específicos do ciclo celular (CAVALCANTI et al., 2006; RIVA et al., 2007). Para a avaliação de genotoxicidade é recomendável o ensaio do Cometa. 1.3.1. Ensaio cometa ou Single Cell Gel Electrophoresis (SCGE) De acordo com Collins (2004), o ensaio cometa ou gel de eletroforese de células mononucleadas tem sido um dos melhores métodos para identificar dano de DNA, com aplicações em testes genotóxicos, biomonitoramento humano, epidemiologia molecular e ecogenotoxicologia. De acordo com literatura, este ensaio foi desenvolvido empiricamente através de dois protocolos básicos, Singh et al., em 1988 e Olive em 1989. O primeiro protocolo foi desenvolvido para mensurar pequenos níveis de quebras de DNA com alta sensibilidade, enquanto o segundo foi otimizado para detectar uma subpopulação celular com sensibilidade variável a determinadas drogas ou radiação (FAIRBAIRN et al., 1995). O ensaio cometa é capaz de detectar danos de DNA que podem futuramente originar mutações. A versão alcalina deste ensaio detecta um amplo espectro de lesões ao DNA, incluindo quebras de fita simples ou duplas, sítios álcali-lábeis e ligações cruzadas e as vantagens incluem: sua aplicabilidade a vários tecidos e/ou tipos celulares, a grande sensibilidade em detectar pequenos níveis de danos recentes no DNA, sua fácil 31 execução, o curto tempo necessário para completar um experimento e obter resultados, e o seu relativo baixo custo (TICE et al., 2000). O ensaio consiste na migração do DNA, pois este contém quebras que podem sofrer arraste, e esses danos aumentam frente à exposição a agentes genotóxicos. Quando comparado a testes como o do micronúcleo ou de aberrações cromossômicas, o ensaio cometa mostra-se capaz de detectar danos mais recentes e passíveis de reparos (MOLLER, 2005). A avaliação do potencial genotóxico, bem como do potencial antigenotóxico de produtos naturais vem sendo bastante explorada nos últimos tempos, tornando-se uma ferramenta interessante para avaliar a possível atividade quimiopreventiva dos diversos extratos e frações incluindo os de E. jambolana, complementando assim os resultados do micronúcleo que foram obtidos. 1.3.2. Ensaio do micronúcleo Na toxicologia genética, os estudos de danos ao DNA induzido por substâncias de origem natural ou sintética tornaram-se essenciais, uma vez que mutação em cromossomos é um evento importante na carcinogênese e, compostos antitumorais clássicos, como por exemplo, a ciclofosfamida, são agentes altamente genotóxicos (FENECH, 2005). Dentre os testes, que analisam mutações cromossômicas, destaca-se o teste do micronúcleo, que é o ensaio amplamente utilizado para a detecção de agentes clastogênicos (que quebram cromossomos) e aneugênicos (que induzem aneuploidia ou segregação cromossômica anormal), sendo internacionalmente aceito como parte da bateria de testes recomendada para a avaliação do potencial mutagênico e para o registro de novos produtos químicos que entram anualmente no mercado mundial. Os micronúcleos são originados de fragmentos acêntricos de cromossomos ou danos 32 cromossômicos os quais são ocasionados por: perda mitótica de fragmento acêntrico; ação mecânica ocasionando quebra cromossômica; danos cromossômicos ocasionados por falha no filamento mitótico durante a anáfase ou na indução de apoptose (HEDDLE et al., 1991). Este teste foi inicialmente desenvolvido em eritrócitos de medula óssea de camundongos, mas também foi incorporado às orientações da OECD (Organization for Economic Co-Operation and Development) como um ensaio mutagênico in vitro, (projeto da OECD em junho de 2004) podendo ser realizado em cultura de células (HEDDLE, 1973; KIRSCH-VOLDERS et al., 2003; SEVERIN et al., 2005). O micronúcleo é literalmente um núcleo pequeno, considerado um produto de quebra do DNA genômico de células eucarióticas. Durante a divisão celular, o material genético é duplicado e igualmente distribuído entre as duas células filhas. Radiações e substâncias químicas podem ocasionar quebra ou dano cromossômico, afetando assim a distribuição do material genético entre as células filhas. Como resultante desse dano, partes ou pedaços dos cromossomos, podem ser distribuídos a qualquer uma das células filhas, não sendo incorporados no novo núcleo e, por esse motivo, os pedaços se apresentarem sob a forma de micronúcleo claramente observável à microscopia óptica comum (AZEVEDO et al., 2003). Durante a identificação da freqüência de micronúcleos, alguns critérios devem ser seguidos: os micronúcleos são morfologicamente idênticos, porém menor do que o núcleo principal da célula e com refração similar; devem apresentar diâmetro entre 1/3 a 1/6 do tamanho do núcleo principal e na forma ovalada ou arredondada; os micronúcleos não são refringentes; eles não são ligados ou conectados ao núcleo principal e não se sobrepõem ao núcleo principal, ainda, possuem a mesma intensidade de coloração nuclear (FENECH et al., 2003). 33 O teste de micronúcleo é considerado um dos bioensaios mais utilizados para o rastreamento de efeitos mutagênicos, devido a sua simplicidade, confiabilidade e sensibilidade, e recentemente esse ensaio também vem sendo usado para detecção de efeitos antimutagênicos (FLORES et al., 2003). O termo antimutagênico tem sido usado para designar vários agentes inibidores de mutação, e incluem tanto os desmutagênicos quanto os bioantimutagênicos. Os agentes desmutagênicos, que em sua maioria atuam a nível extracelular, agem sobre os mutágenos por meio de reações químicas, enzimáticas e adsorção, e inibem as ativações metabólicas e reações químicas que geram mutágenos (KADA et al., 1986; VERHAGEN et al.,1997). Já os agentes bioantimutagênicos, atuam principalmente a nível intracelular, podem promover o aumento da atividade de enzimas de destoxificação, reagindo com compostos eletrofílicos ou ainda capturando radicais livres, atuam também como promotores do sistema de reparo do DNA, impedindo a fixação do dano no DNA (KADA et al., 1982; WATERS et al., 1990). A existência de inúmeros mecanismos de antimutagenicidade vem sendo citados, como por exemplo: prevenir a formação de metabólitos mutagênicos, inativar agentes mutagênicos através de enzimas ou componentes celulares, modular mecanismos que aumentam a inativação metabólica de compostos mutagênicos (ANTUNES, 1997). Entretanto mais estudos devem ser realizados a fim de proporcionar um melhor entendimento sobre os mecanismos de ação dos inibidores, tanto a nível molecular quanto fisiológico, bem selecionar agentes para quimioprevenção do câncer e de outras doenças relacionadas a eventos mutagênicos (SUGUI, 2006). 34 2. Objetivos 35 2.1. Objetivo Geral O presente estudo tem como objetivo rastrear a atividade de quimioprevenção dos extratos e frações das folhas e dos frutos de E. jambolana, um estudo bioguiado, em linhagem de hepatocarcinoma celular murino selvagem (Hepa 1c1c7) e linhagem mutante (TAOc1BPrc1 e BPrc1), bem como caracterizar o potencial genotóxico e mutagênico, em linhagem de hepatocarcinoma celular humano (HepG2). 2.2. Objetivos Específicos � Avaliar quantitativamente a atividade da enzima quinona-redutase, utilizando o ensaio da Quinona-Redutase, em linhagem de hepatocarcinoma murino selvagem (Hepa 1c1c7) e mutante (TAOc1BPrc1 e BPrc1), em diferentes concentrações a partir dos extratos e frações de E. jambolana; � Avaliar a viabilidade celular, concomitantemente com o ensaio da quinona-redutase em células de hepatocarcinoma murino (Hepa 1c1c7) e mutante (TAOc1BPrc1 e BPrc1), utilizando a coloração com Violeta cristal (VC); � Avaliar a citotoxicidade celular, utilizando o método de Sulforrodamina B em linhagem de hepatocarcinoma humano (HepG2) tratada com extratos e frações de E. jambolana; � Caracterizar o potencial genotóxico com diferentes concentrações dos extratos e frações de E. jambolana, utilizando o Ensaio do Cometa; � Caracterizar o potencial mutagênico com diferentes concentrações dos extratos e frações de E. jambolana, utilizando o Teste do Micronúcleo; � Avaliar o potencial antigenotóxico e antimutagênico a partir de concentrações não genotóxicas dos extratos e frações de E. jambolana, utilizando, respectivamente, o Ensaio do Cometa e o Teste do Micronúcleo. 36 3. Materiais e Métodos 37 3.1. Estudo químico de Eugenia jambolana Os processos de coleta, extração e purificação do material botânico foram realizados pelo o NuBBE (Núcleo de Bioensaios, Biossíntese, e Ecofisiologia de Produtos Naturais) com a colaboração da Profa. Dra. Dulce Helena Siqueira da Silva e da mestre Alessandra Cristina Dametto do Departamento de Química Orgânica, Instituto de Química, UNESP- Araraquara. Os frutos maduros e folhas de Eugenia jambolana foram coletados na cidade de Araraquara, Estado de São Paulo e as exsicatas foram depositadas no IBot-SP (Instituto Botânico- SP). Após a coleta do fruto, as polpas e as cascas que foram trituradas com metanol (1% HCl) em um liquidificador por alguns minutos. Após a trituração, para separar a parte solúvel da parte insolúvel, a mistura foi centrifugada por 10 minutos a 4º C. O extrato bruto do fruto foi obtido após a concentração do sobrenadante ser submetida a uma pressão reduzida e a uma temperatura de aproximadamente 35ºC. Em relação às folhas, após a coleta, elas foram secas e trituradas em um moinho elétrico, posteriormente as folhas moídas foram submetidas ao processo de extração exaustiva com etanol, e após a concentração do solvente a pressão reduzida, foi obtido o extrato etanólico bruto das folhas. O extrato bruto das folhas e dos frutos foram então submetidos partição líquido-líquido com solventes de diferentes polaridades e após as concentrações das fases foram obtidas as respectivas frações das folhas e dos frutos (fluxograma 1 e 2) (DAMETTO, 2010). A purificação das substâncias presentes no extrato bruto do fruto foi realizada por diferentes técnicas cromatográficas úteis no isolamento e na caracterização de metabólitos secundários. Para a elucidação estrutural das substâncias isoladas foram empregadas técnicas espectrométricas como: ressonância magnética nuclear uni e bidimensional, espectrometria de massas, infravermelho e ultravioleta. Entretanto no 38 presente estudo não foi possível avaliar a substância pura de E. jambolana por apresentar excessiva instabilidade molecular. Todos os procedimentos descritos anteriormente foram realizados pela mestre Alessandra Cristina Dametto. Fluxograma 1: Metodologia de partição líquido-líquido para o extrato dos frutos de E. jambolana (DAMETTO, 2010). Extrato Bruto Extrato Bruto solubilizado 1. Solubilização com H2O:MeOH (1:2) 1. n-hexano 3 x 50 ml Fase Hidroalcoólica Fase hexânica 1. Concentração Fração hexânica 1. adição de H2O; H2O:MeOH (6:4) 2. acetato de etila 1 x 100 ml 3. acetato de etila 2 x 50 ml Fase acetato Fase Hidroalcoólica 1. Concentração 1. adição de H2O; H2O:MeOH (9:1) 2. n-butanol 1 x 100 ml 3. n-butanol 2 x 50 ml Fase n-butanólica Fração n-butanólica 1. Concentração Fase Hidroalcoólica 1. Concentração Fração hidroalcoólica Fração acetato 39 Fluxograma 2: Metodologia de partição líquido-líquido para o extrato das folhas de E. jambolana (DAMETTO, 2010). Após a partição química, os extratos e frações foram solubilizados em água destilada e então utilizados nos ensaios biológicos. 3.2. Manutenção das linhagens A atividade de quimioprevenção, a partir do ensaio de quinona-redutase, foi avaliada na linhagem ATCC (American Type Culture Collection) de hepatocarcinoma murino (Hepa 1c1c7 ATCC: CRL-2026) que foi gentilmente fornecida pelo Prof. Dr. John M. Pezzuto do “College of Pharmacy, University of Hawaii at Hilo”. A linhagem ATCC de hepatocarcinoma humano (HepG2; ATCC n. HB-8065), que foi utilizada nos Extrato Bruto Etanólico m=26,2808 g Extrato Bruto solubilizado 1. Solubilização com H2O:MeOH (60:40) 1. n-hexano 3 x 100 ml Fase Hidroalcoólica Fase hexânica 1. Concentração 1. acetato de etila 3 x 100 ml Fase acetato Fase Hidroalcoólica 1. Concentração 1. adição de H2O; H2O:MeOH (8:2) 2. n-butanol 3 x 100 ml Fase n-butanólica 1. Concentração Fase Hidroalcoólica 1. Concentração Fração hexânica m=4,6588 g Fração n-butanólica m=3,0989 g Fração hidroalcoólica m=5,4671 g Fração acetato m=4,1082 g 40 ensaios de citotoxicidade, genotoxicidade, antigenotoxicidade e antimutagenicidade foi gentilmente cedida pela Profa. Dra. Dayse Maria Favero Salvadori do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina – UNESP, Campus Botucatu. Posteriormente, as células HepG2 foram adquiridas do Banco de Células do Rio de Janeiro, para garantir a preservação das características genotípicas e fenotípicas da linhagem. As células de linhagem Hepa 1c1c7 foram cultivadas em meio de cultura α- MEM (Alfa Modification of Eagle Medium - Sigma) sem ribonucleosídeos ou desoxirribonucleosídeos, acrescido de estreptomicina 0,1mg/mL e penicilina 100U/mL, bicarbonato de sódio, kanamicina (Sigma), ao pH 7,2 e suplementado com 10% de soro fetal bovino (Cultilab, Brasil). As células da linhagem HepG2 foram cultivadas em meio de cultura DMEM (Dulbecco´s Modified Eagle Medium - Sigma), acrescido de penicilina 100U/mL e estreptomicina 0,1mg/mL bicarbonato de sódio, kanamicina (Sigma), ao pH 7,2 e suplementado com 10% de soro fetal bovino (Cultilab, Brasil). As células foram cultivadas em garrafas, mantidas a 5 % de CO2 e a temperatura de 37ºC até que a monocamada celular estivesse confluente. Posteriormente, as células foram lavadas com 5 mL de solução de Hanks (0,4 g de KCl, 0,06g de KH2PO4, 0,04g de Na2HPO4, 0,35 g de NaHCO3, 1 g de glicose, H2O q.s.p. 1000 mL) e tripsinizadas, acrescentado-se 1 mL de solução ATV (Associação de Tripsina (0,2 %) e Versene (0,02 %) – Instituto Adolpho Lutz, São Paulo, Brasil). Após o desprendimento do tapete celular, as células foram homogeneizadas com volumes variados do meio de cultura acrescido de 10 % de soro fetal bovino. A suspensão celular obtida em uma garrafa foi transferida para outras garrafas, esse procedimento foi repetido até que houvesse quantidade de células suficientes para os experimentos e seu estoque no nitrogênio líquido. 41 3.3. Ensaio da quinona-redutase 3.3.1. Reagentes Para realizar a quantificação de indução enzimática com o ensaio de quinona- redutase (QR) foi necessário preparar os seguintes reagentes. Solução de lise com 0,8 % de digitonina e 2 mM de EDTA, pH 7,8. Solução de ensaio feita de 25 mM de Tris-HCl, pH 7,4, 1 mM de glicose-6-fosfato, 50 μM de menadiona, 30 μM de NADPH, 5 μM de FAD, 0,07% (m/v) de soro-albumina bovina, 0,03% (m/v) de MTT, 0,01% (v/v) de Tween-20 e 2 unidades/mL de glicose-6-fosfato desidrogenase. Como controle positivo foi utilizado o indutor β-naftoflavona (BNF) na concentração de 0,1 μM (SONG etal., 1999). Reagentes obtidos de Sigma-Aldrich, St. Louis, MO, EUA. 3.3.2. Quantificação da atividade da quinona-redutase As células Hepa1c1c7, TAOr1BPrc1 e BPrc1 foram cultivadas em meio α-MEM suplementado com 10% de soro fetal bovino em placas de 96 cavidades por 24 horas, com cerca de 1x104 células/mL em cada poço. Em seguida foram expostas a diferentes concentrações, seguindo uma diluição seriada de 1:2 a partir da concentração de 40 μg/mL, além de uma concentração isolada de 30 μg/mL, dos extratos e frações dos frutos e folhas de Eugenia jambolana, sendo solubilizados em meio de cultura por 48 horas para que ocorresse a possível indução enzimática. Depois do tratamento, o meio de cultura foi descartado e adicionou-se 50 μL de solução de lise. A placa foi então incubada por 10 minutos a 37 °C. Para facilitar a lise das células, as placas foram agitadas manualmente por 10 minutos em temperatura ambiente. Após a lise, avaliou-se a atividade da QR com a adição de 200 μL da solução de ensaio. A placa foi incubada por 5 minutos em temperatura ambiente ao abrigo da luz e realizou-se a leitura. A absorbância foi medida usando um leitor de iMark Microplate Reader (Bio-Rad 42 Laboratories, Hercules, CA, EUA) a 595 nm (PROCHASKA et al.,1988; GROSS et al., 2000; KANG et al., 2004). Os dados foram normalizados subtraindo da média de absorbância obtida de cada concentração d a média de absorbância do controle de reagente branco. O desvio padrão da média de cada tratamento é geralmente menor que 10%. A viabilidade celular foi determinada em uma placa feita paralelamente, corada com violeta cristal, a fim de verificar o comportamento celular, durante o experimento. Então, após 48h, os tratamentos foram removidos, e as células foram coradas utilizando 100 μL de solução 0,2% violeta cristal em 2% etanol. O corante foi desprezado e a placa foi lavada em água corrente e seca naturalmente. Para leitura espectrofotométrica, o violeta cristal foi solubilizado em 200 μL de 0,5% dodecil sulfato de sódio (SDS) em 50% etanol e mantida a temperatura ambiente no shaker para solubilizar o corante completamente, a leitura foi realizada também com absorbância a 595 nm, utilizando leitor de placas iMark Microplate Reader (Bio-Rad Laboratories, Hercules, CA, EUA) (PROCHASKA et al., 1992). A potência de indução enzimática da QR é expressa em unidades por g (U/g). Uma unidade de atividade indutora de QR é definida com a quantidade de produto natural necessário para duplicar a atividade específica da QR em relação a células não tratadas (CD) (PROCHASKA et al.,1988; GROSS et al., 2000). Foram realizados três experimentos independentes e os resultados foram comparados com controle positivo (β- Naftoflavona). 3.4. Ensaio de citotoxicidade (Sulforrodamina B) Considerando que o ensaio de citotoxicidade em células HepG2, utilizando o sal de MTT apresentou interação com os extratos e frações, promovendo um resultado falso 43 positivo (resultados não demostrados), foi utilizado então no presente estudo o ensaio de citotoxicidade por sulfarrodamina B. A avaliação da citotoxicidade baseia-se na coloração de proteínas pelo corante sulforrodamina B, que constitui-se em um método simples, sensível, reprodutível e rápido. O princípio desse ensaio consiste na habilidade que a sulforrodamina B tem de se ligar a componentes protéicos das células fixadas pelo ácido tricloroacético. O corante utilizado nesse ensaio é uma aminoxantina de cor rosa brilhante e com dois grupos sulfônicos, que são capazes de se ligar as porções terminais dos aminoácidos das células que foram fixadas pelo ácido tricloroacético (SKEHAN et al., 1990). 3.4.1. Avaliação da citotoxicidade Para o ensaio de citotoxicidade pela Sulforrodamina B (SRB), foi utilizada uma suspensão de 1,5x104 células/poço da linhagem HepG2. As células foram cultivadas em placas de 96 cavidades, e após 24 horas de cultivo, foram tratadas com os extratos e frações das folhas e dos frutos de E. jambolana, seguindo uma diluição seriada 1:2 a partir da concentração de 40 μg/mL, a fim de comparar os resultados obtidos no ensaio do violeta cristal, (realizado em células Hepa 1c1c7), pois nos testes de genotoxicidade, mutagenicidade, antigenotoxicidade e antimutagenicidade foram utilizadas as células HepG2. Após 24 horas do tratamento, foi adicionado 50 μL de ácido tricloroacético (TCA) 50% gelado e as placas foram incubadas por 1 hora a 4°C, posteriormente a solução de TCA foi removida e as placas foram lavadas, com água corrente de 3 a 4 vezes. Adicionou-se então 50 μL da solução de SRB a 0,4% (diluída em ácido acético) e as placas foram incubadas por 20 minutos a temperatura ambiente. Após a remoção da SRB, as placas foram lavadas de 3 a 4 vezes com ácido acético a 1%, secas e o corante dissolvido com Tris Base 10 mM (Sigma). Após 5 minutos de incubação a temperatura ambiente, as leituras espectrofotométricas da absorbância, foi realizada em 44 comprimento de onda de 570nm, no leitor de placas iMark Microplate Reader (Bio-Rad Laboratories, Hercules, CA, EUA). Os testes foram realizados em três experimentos independentes e a porcentagem de células vivas foi calculada em relação ao controle negativo, representando a citotoxicidade de cada tratamento, segundo proposto por ZHANG et al., 2004: Células vivas (%) = Absorbância do Teste x 100/Absorbância do Controle Negativo Assim após a avaliação das concentrações, foram realizados o ensaio do Cometa e o Teste do micronúcleo. 3.5. Ensaio do Cometa 3.5.1. Soluções para o ensaio do Cometa Para a realização do ensaio do cometa foi necessário preparar as seguintes soluções. Solução de lise estoque com 2,5M de NaCl, 100mM de EDTA e 10 mM de Tris, pH 10. Solução de lise preparada no momento do uso com 1% de Triton X-100, 10% DMSO e acrescido de solução lise estoque. Solução de EDTA com 3,72g em 50 mL de água destilada e solução de NaOH com 100g em 250 mL de água destilada, o tampão de eletroforese foi preparado no momento do uso com 10 mL de EDTA e 60 mL de NaOH em 2 L de água destilada a 4°C, pH 13. Solução de neutralização com Tris a 0,4M, a 4°C, pH 7,5. Solução de PBS concentrado 20 vezes com 180g de NaCl anidro, 27,3g de Na2HPO4 anidro, 4,85g de Na2H2PO4.H20 e água destilada, q.s.p. 1L, pH entre 7,2 e 7,6. Para o ensaio foram utilizadas agarose ponto de fusão normal (Sigma) (1,2g diluído em 80mL de PBS 1x, a 37°C) e agarose de baixo ponto de fusão ou Low melting point LMP (Sigma) (0,05g diluído em 10 mL de PBS 1x, a 37°C) para 50 lâminas. 45 3.5.2. Avaliação de Genotoxicidade O ensaio de Cometa foi introduzido no laboratório desde 2005, através da colaboração da Profa. Dra. Catarina Satie Takahashi, do laboratório de Genética da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Desde então, o ensaio do Cometa vem sendo amplamente utilizado em nosso laboratório para verificação de genotoxicidade/antigenotoxicidade de produtos naturais. O ensaio do cometa para avaliar a genotoxicidade, foi realizado em células HepG2 e segundo protocolo estabelecido por Singh e colaboradores (1988). A suspensão celular de 2,5x105 células/poço foi cultivada em placas de 24 cavidades e com um volume final de 500 μL/poço, após 24 horas de cultivo, as células foram tratadas com os extratos e frações de E. jambolana, que apresentaram indução da enzima quinona-redutase associado a não citotoxicidade celular, ou seja, primeiramente, foram estabelecidas as concentrações exatas que apresentaram atividade da enzima quinona-redutase e mais duas concentrações adicionais, ou seja, uma concentração abaixo e outra acima da concentração que apresentou atividade quimiopreventiva (com extrato bruto das folhas e dos fruto, EB-Fo e EB-Fr respectivamente; fração hidroalcoólica dos frutos, HA-Fr e fração n-butanólica das folhas, BU-Fr). As concentrações que apresentaram potencial genotóxico decidiu-se testar concentrações mais baixas, a fim de encontrar concentrações não genotóxicas para dar continuidade aos demais testes. Inicialmente as células foram tratadas com as seguintes concentrações, 2,5, 5, 10, 20, 30 e 40 μg/mL do extrato bruto das folhas; 1,25, 2,5, 5, 10, 20, 30, 40 e 50 μg/mL da fração n-butanólica das folhas; 20, 30 e 40 μg/mL do extrato bruto dos frutos; e 10, 20 e 30 μg/mL da fração hidroalcoólica dos frutos, diluídas em meio de cultura. Como controle negativo foi utilizado apenas meio de 46 cultura e como controle positivo o peróxido de hidrogênio (H202) a 0,1M por 5 minutos. Os tratamentos foram realizados em duplicata e por 24 horas. Posteriormente os tratamentos foram removidos, as células foram lavadas com solução de Hanks, tripsinizadas, reservadas em eppendorfs e centrifugadas a 1500 rpm por 3 minutos. O sobrenadante foi então descartado e adicionou-se 100 μL de solução de Hanks, para eliminar todo excesso do meio de cultura que pudesse interferir na agarose LMP, diminuindo sua adesão à lâmina e a suspensão celular foi centrifugada novamente. Após a centrifugação, o sobrenadante foi removido e as células foram ressuspendidas em 200 μL de agarose LMP a 37°C. Em seguida, o volume de cada eppendorf foi tranferido para 2 lâminas, ou seja, foi transferido cuidadosamente 100 μL da mistura para lâminas previamente tratadas com agarose ponto de fusão normal. Cada lâmina foi recoberta com uma lamínula grande (24x 60mm) e colocada na geladeira ao abrigo da luz por 5 minutos. Então as lamínulas foram retiradas e as lâminas foram submetidas à solução de lise recém prepara a 4°C por um período mínimo de 12 horas sob refrigeração e ao abrigo da luz. As lâminas foram retiradas da solução de lise e colocadas na cuba de eletroforese, sendo demarcado o lado da lâmina que foi deixado para o pólo negativo, a fim de que os cometas (fragmentos de DNA) não fossem perdidos no tampão durante a corrida eletroforética. Os eventuais espaços excedentes na cuba foram preenchidos por lâminas limpas e a solução tampão de eletroforese (4�C), foi colocada na cuba de eletroforese até cobrir as lâminas, que permaneceram durante 20 minutos em repouso para que houvesse o relaxamento das fitas de DNA. Em seguida, a fonte de eletroforese foi ajustada para 25 Volts, a miliamperagem e potência foram reguladas de acordo com a quantidade de solução colocada na cuba, e a corrida eletroforética foi realizada por 20 minutos. Após a eletroforese alcalina, as lâminas foram retiradas cuidadosamente da 47 cuba e mergulhadas em solução de neutralização a 4 °C por 15 minutos. As lâminas então foram fixadas em etanol 100% e reservadas a temperatura ambiente. Para coloração das lâminas, foi utilizado 20 �l de solução de brometo de etídio por lâmina e, posteriormente, a lâmina foi coberta com uma lamínula (24 x 60 mm). A leitura das lâminas foi realizada imediatamente após a coloração em um microscópio de fluorescência com filtro de 516-560 nm, barreira de filtro de 590 nm e aumento total de 400 vezes. Esse aumento permitiu a observação de imagens microscópicas com contorno circular, indicando que não houve danos ao DNA ou núcleo celular fragmentado em forma de “cometa” o que significa possíveis danos ao DNA. Foram capturadas imagens de 100 nucleóides por alíquota de células e analisadas pelo software TriTek CometScore TM versão 1.5. O parâmetro adotado no presente estudo foi a porcentagem (%) de DNA na cauda que nos permite analisar a quantidade de DNA fragmentado (MOLLER, 2005). 3.5.3. Avaliação de Antigenotoxicidade Para avaliação da antigenotoxicidade dos extratos e frações isoladas das folhas e dos frutos de E. jambolana foi utilizado como agente indutor de dano o peróxido de hidrogênio (H2O2) em células HepG2. Foram empregados os protocolos de pré-tratamento e pós- tratamento, segundo proposto por Scolastici e colaboradores (2008). Esses dois protocolos de tratamento permitiram a identificação do mecanismo de ação antigenotóxica das diferentes concentrações dos extratos e frações da espécie vegetal proposta para estudo. O ensaio de antigenotoxicidade foi realizado a partir de concentrações não genotóxicas obtidas através do ensaio de genotoxicidade. A figura 6 demonstra imagens ilustrativas de diferentes tipos de danos encontrados no ensaio do cometa. As células HepG2 foram cultivadas em placas de 24 poços (2,5x105 células/poço), após 24 horas de cultivo, o tratamento foi realizado da seguinte forma: 48 No pré-tratamento as células foram submetidas a diferentes concentrações não genotóxicas dos extratos e frações de E. jambolana, seguindo uma diluição seriada de 1:2 (EB-Fo: 1,25, 0,62 e 0,31 μg/mL; BU-Fo: 0,62, 0,312 e 0,15 μg/mL; EB-Fr: 0,62, 0,31 e 0,15 μg/mL; HA-Fr: 0,62, 0,31 e 0,15 μg/mL), resultando em um volume final de 500μL/poço, após 24 horas o meio de cultura com os tratamentos foi removido e foi adicionado 500 μL do indutor de dano, H2O2 diluído em meio de cultura, a 0,1M por 5 minutos. Em seguida, as células foram lavadas com solução de Hanks, tripsinizadas, centrifugadas e o protocolo foi realizado como descrito anteriormente; No pós-tratamento as células foram submetidas primeiramente ao indutor de dano, H2O2 diluído em meio de cultura, a 0,1M por 5 minutos, em seguida o H2O2 foi removido e as células foram expostas a diferentes concentrações não genotóxicas dos tratamentos. Após 24 horas o meio foi removido, as células foram lavadas com solução de Hanks, tripsinizadas, centrifugadas e o protocolo foi realizado como descrito anteriormente. 49 Figura 6. Imagens ilustrativas dos diferentes tipos de danos encontrados no ensaio do cometa, antigenotoxicidade. Controle positivo (A), controle negativo (B), pré- tratamento com extrato bruto do fruto de E. jambolana a 0,156 μg/mL (C) e pós- tratamento com extrato bruto do fruto de E. jambolana a 0,156 3.6. Teste do Micronúcleo 3.6.1. Soluções para o teste do Micronúcleo Para a realização do teste do micronúcleo foi necessário preparar uma solução de KCl a 0,075M. Solução de metanol e ácido acético na relação de 3:1 respectivamente. Citocalasina B a 2,4 μg/mL. Corante Giemsa com tampão fosfato (pH 6,8) na relação de 20:1. 3.6.2. Avaliação da Mutagenicidade O micronúcleo (MN) representa a perda da cromatina devido a dano cromossômico estrutural (fragmento) ou dano no aparelho mitótico, sendo caracterizado como uma pequena massa nuclear delimitada por membrana e separada do núcleo 50 principal (FENECH, 1997). Para a avaliação do potencial mutagênico dos extratos e frações de E. jambolana, foi realizado o teste do micronúcleo de acordo com o protocolo proposto por Fenech (2000). As células HepG2 foram cultivadas em placas de 100x20mm (1x106 células/placa), e após 24 horas de cultivo, as células foram tratadas com os extratos e frações de E. jambolana seguindo uma diluição seriada de 1:2 (EB-Fo: 1,25, 0,62 e 0,31 μg/mL; BU-Fo: 0,62, 0,312 e 0,15 μg/mL; EB-Fr: 0,62, 0,31 e 0,15 μg/mL; HA-Fr: 0,62, 0,31 e 0,15 μg/mL), resultando em um volume final de 5mL/poço Após 24 horas o meio de cultura com os tratamentos foi removido, e um novo meio de cultura, contendo citocalasina B na concentração de 2,4 μg/mL foi adicionado, por 48 horas e ao abrigo da luz. Após 48 horas o meio de cultura contendo citocalasina B foi removido, as células foram lavadas com solução de Hanks, tripsinizadas e centrifugadas a 1200 rpm por 3 minutos. O sobrenadante foi removido e as células foram ressuspendidas, vagarosamente em 4 mL de solução de KCl gelada (solução hipotônica) e 1 mL do fixador (solução de metanol e ácido acético), foram então centrifugadas a 800 rpm por 8 minutos. O sobrenadante foi descartado e 4 mL da solução de metanol e ácido acético foi cuidadosamente adicionado, foi acrescentado também duas gotas de formaldeído, as células foram centrifugadas a 800 rpm por 6 minutos. Em seguida, 3 mL do sobrenadante foi removido, as células foram ressuspendidas nos 2 mL restantes e espalhadas em várias lâminas. Quando as lâminas já estavam secas, as mesmas foram coradas com Giemsa por 4 minutos, posteriormente, foram lavadas duas vezes em um fio de água corrente e permaneceram em condição ambiente até o momento da análise. A análise das lâminas foi realizada em microscópio óptico comum em magnitude de 400x e 1000 células binucleadas, com citoplasma íntegro e núcleos 51 principais nitidamente delimitados foram contados e analisadas a freqüência de micronúcleos. Em seguida, foi realizado também a contagem para a determinação do índice de divisão nuclear (IDN), em que foi considerado a freqüência de células com 1, 2, 3 ou 4 núcleos em 1000 células analisadas. O IDN foi dado pela fórmula abaixo, onde M1 a M4 representam o número de células com 1, 2, 3 e 4 núcleos e o N representa o total de células, de acordo com Eastmond e Tucker (1989). A freqüência de micronúcleos e os IDNs foram calculados a partir de três experimentos independentes. IDN = [M1 + 2(M2) + 3(M3) + 4(M4)] / N 3.6.3. Avaliação da Antimutagenicidade A avaliação do potencial antimutagênico dos extratos e frações de E. jambolana, foi realizada através do teste do micronúcleo de acordo com o protocolo proposto por Fenech (2000), sendo utilizado como agente indutor de dano o peróxido de hidrogênio (H2O2), foram realizados os protocolos de pré e pós-tratamento. As células HepG2 foram cultivadas em placas de 100x20mm (1x106 células/placa), após 24 horas de cultivo o tratamento foi realizado da seguinte forma: No pré-tratamento as células foram submetidas a diferentes concentrações não genotóxicas dos extratos e frações de E.jambolana, seguindo uma diluição seriada de 1:2, resultando em um volume final de 5 mL/placa, após 24 horas o meio de cultura com os tratamentos foi removido e foi adicionado 5 mL do indutor de dano, H2O2 a 0,1M, diluído em meio de cultura, por 5 minutos. Em seguida o H2O2 foi removido e o meio de cultura, contendo citocalasina B (para interromper a citocinese) na concentração de 2,4 μg/mL foi adicionado, por 48 horas e ao abrigo da luz. No pós-tratamento as células foram submetidas primeiramente ao indutor de dano, H2O2 a 0,1M diluído em meio de cultura, por 5 minutos, em seguida o H2O2 foi 52 removido e as células foram expostas a diferentes concentrações não genotóxicas dos tratamentos. Após 24 horas o meio de cultura com os tratamentos foi removido, e um novo meio de cultura, contendo citocalasina B na concentração de 2,4 μg/mL foi adicionado, por 48 horas e ao abrigo da luz. Após 48 horas o meio de cultura contendo citocalasina B foi removido, as células foram lavadas com solução de Hanks, tripsinizadas, centrifugadas e o protocolo foi realizado como descrito anteriormente. 3.7. Análise Estatística Para comparação dos resultados de citotoxicidade e do potencial de indução de quinona-redutase a partir do tratamento com E. jambolana foi utilizado a análise de variância One-way (ANOVA) com pós-teste de Tukey. Os resultados quantitativos de genotoxicidade e antigenotoxicidade do tratamento com E. jambolana comparados com o controle negativo e controle positivo respectivamente, foi aplicado o teste de Kruskal Wallis com pós-teste de Dunn. As análises foram realizadas com software GraphPad Prism® Version 5.01 (GraphPad Software Inc., La Jolla, CA, EUA). Para a freqüência de micronúcleos comparada com o controle negativo e positivo (mutagenicidade e antimutagenicidade, respectivamente) foi utilizado análise de variância One-way (ANOVA) com pós-teste de Dunnet e para IDNs o teste aplicado foi a análise de variância One-way (ANOVA) com pós-teste de Tukey, com o auxílio do software BioEstat 5.0. Para a aplicação das análises de variância One-way ANOVA foram primeiramente avaliados se os dados possuíam distribuição normal. Em todos os testes estatísticos foi considerado o nível de significância de p<0,05. 53 4. Resultados 54 4.1. Atividade da Quinona-redutase Após tratamento da linhagem celular Hepa 1c1c7 com extratos e frações das folhas e dos frutos de Eugenia jambolana, pôde-se observar um potencial efeito quimiopreventivo a partir de dois extratos brutos e duas frações analisadas dentro do rastreamento bioguiado. Foram realizados três experimentos independentes para avaliar a capacidade de indução da atividade da enzima quinona-redutase e a viabilidade celular pelo ensaio do violeta cristal em linhagem celular Hepa 1c1c7, levando em consideração a indução do controle positivo (β-naftoflavona) que possui uma taxa de indução igual ou superior a duas vezes em relação ao controle negativo. Considerando assim um indutor da atividade da enzima quinona-redutase, as concentrações que apresentaram uma taxa de indução igual ou superior a duas vezes. O extrato bruto das folhas (EB-Fo) e o extrato bruto dos frutos (EB-Fr) de E. jambolana apresentaram indução da atividade da enzima quinona-redutase nas concentrações de 5, 10, 20 e 30 μg/mL (EB-Fo) e 30 μg/mL (EB-Fr). O índice de indução da enzima mostra que durante o tratamento de 48 horas das células com 5, 10, 20 e 30 μg/mL do EB-Fo houve o aumento na atividade da enzima em 2,0 ± 0,3; 2,1 ± 0,3; 2,5 ± 0,3 e 2,3 ± 0,2 vezes, respectivamente. Em relação ao comportamento celular durante o ensaio, a porcentagem de células vivas, nessas concentrações foi de 90,9 ± 4,5; 89,3 ± 5,5; 74,7 ± 13,1 e 71 ± 16,9%. As concentrações 1,25; 2,5; 5; 10 e 40 μg/mL apresentaram diferenças significativas em relação ao controle positivo (βNF) para a indução da enzima QR. Na análise da viabilidade celular não houve significância estatística em nenhuma das concentrações em relação ao controle negativo. (Figura 7). Durante o tratamento de 48 horas das células com 30 μg/mL do EB-Fr, houve um aumento da indução da enzima em 2,0 ± 0,1 vezes e 88,4 ± 5,7% de células vivas. As concentrações 1,25; 2,5; 5; 10; 20; 30 e 40 μg/mL apresentaram diferenças 55 significativas em relação ao controle positivo (βNF) para a indução da enzima QR. Na análise da viabilidade celular as concentrações não apresentaram significância estatística em relação ao controle negativo (Figura 8). Figura 7. Indução da enzima quinona-redutase (QR) (média ± erro padrão) em células Hepa1c1c7 através do EB-Fo (tratamento / controle) (■) e relação com viabilidade celular (%) pelo ensaio de violeta cristal (VC) (●) tratadas por 48h e comparadas com controle positivo β-naftoflavona (♦) a 0,1 μM, a atividade da enzima e com o controle negativo a viabilidade. Análise de variância One-way ANOVA com pós-teste de Tukey. (*) p<0,05; (**) p<0,01; (***) p<0,001. 56 Figura 8. Indução da enzima quinona-redutase (QR) (média ± erro padrão) em células Hepa1c1c7 através do EB-Fr (tratamento / controle) (■) e relação com viabilidade celular (%) pelo ensaio de violeta cristal (VC) (●) tratadas por 48h e comparadas com controle positivo β-naftoflavona (♦) a 0,1 μM, a atividade da enzima e com o controle negativo a viabilidade. Análise de variância One-way ANOVA com pós-teste de Tukey. (**) p<0,01; (***) p<0,001 O tratamento da linhagem celular Hepa 1c1c7 com a fração n-butanólica da folha (BU-Fo) de E. jambolana (Figura 9), apresentou indução da atividade da enzima quinona- redutase nas concentrações de 2,5, 20, 30 e 40 μg/mL. O índice de indução da enzima mostra que durante o tratamento de 48 horas das células com as concentrações da fração escolhida foram capazes de aumentar a atividade da enzima em 2,1 ± 0,3; 2,0 ± 0,3; 2,6 ± 0,3; 2,8 ± 0,3 vezes respectivamente, nenhuma das concentrações apresentou diferença significativa quando comparadas com o controle positivo (βNF). Em relação à viabilidade celular observou-se 95,1 ± 3,1; 96,8 ± 2,4; 52,4 ± 13,8 e 46,3 ± 3,7% de células vivas, não houve significância estatística em nenhuma das concentrações em relação ao controle negativo, exceto na concentração de 40 μg/mL (p<0,05). 57 Figura 9. Indução da enzima quinona-redutase (QR) (média ± erro padrão) em células Hepa1c1c7 através do BU-Fo (tratamento / controle) (■) e relação com viabilidade celular (%) pelo ensaio de violeta cristal (VC) (●) tratadas por 48h e comparadas com controle positivo β-naftoflavona (♦) a 0,1 μM, a atividade da enzima e com o controle negativo a viabilidade. Análise de variância One-way ANOVA com pós-teste de Tukey. (*) p<0,05; (***) p<0,001. A fração hidroalcoólica do fruto (HA-Fr) de E. jambolana (Figura 10) mostrou induzir a atividade da enzima quinona-redutase somente na concentração de 20 μg/mL. O índice de indução da enzima mostra que durante o tratamento de 48 horas das células com 20 μg/mL da fração foi capaz de aumentar a atividade da enzima em 2,5 ± 0,06 vezes e 93,3 ± 3,6% de células vivas. Pode-se observar que nas concentrações 1,25; 2,5; 5; 10; 30 e 40 μg/mL não houve indução de quinona-redutase por apresentaram diferenças significativas em relação ao controle positivo (βNF) para a indução da enzima QR. Na análise da viabilidade celular nenhuma das concentrações apresentou significância estatística em relação ao controle negativo. 58 Figura 10. Indução da enzima quinona-redutase (QR) (média ± erro padrão) em células Hepa1c1c7 através do BU-Fo (tratamento / controle) (■) e relação com viabilidade celular (%) pelo ensaio de violeta cristal (VC) (●) tratadas por 48h e comparadas com controle positivo β-naftoflavona (♦) a 0,1 μM, a atividade da enzima e com o controle negativo a viabilidade. Análise de variância One-way ANOVA com pós-teste de Tukey. (***) p<0,001. Por se tratar de um estudo bioguiado, outras frações também foram testadas, a fim de verificar a possível indução da enzima quinona-redutase. Porém quando as células foram tratadas por 48 horas com as frações acetato de etila (AC-Fo), hidroalcoólica (HA-Fo) e hexânica (HEX-Fo) das folhas e frações acetato de etila (AC- Fr) e n-butanólica (BU-Fr) dos frutos de E. jambolana não foi observada indução significativa de QR nas concentrações testadas, de 1,25 a 20 μg/mL (p<0,001). Na tabela 2, pode-se observar o baixo índice de indução da enzima e a viabilidade celular das frações das folhas e dos frutos de E. jambolana na maior concentração testada (20 μg/mL). Somente os extratos e frações que apresentaram indução da atividade da enzima quinona-redutase foram testados nos experimentos posteriores. 59 Tabela 1: Atividade da enzima quinona-redutase através de frações das folhas e dos frutos de Eugenia jambolana em linhagem de células Hepa1c1c7. Frações de E. jambolana IR (tratamento/controle) Viabilidade celular (%) AC-Fo 1,1 ± 0,2*** 94,3 ± 2,9 HA-Fo 0,8 ± 0,03*** 93,3 ± 4,6 HEX-Fo 0,4 ± 0,05*** 96 ± 6,5 AC-Fr 0,6 ± 0,04*** 95,3 ± 8,9 BU-Fr 0,7 ± 0,05*** 96,8 ± 2,2 β-naftoflavona 2,9 ± 0,2 94,5 ± 4,2 CN 1,3 ± 0,03*** 90,5 ± 4,7 IR, taxa de indução de QR, relação entre a atividade específica da QR em células tratadas com composto e controle negativo. Viabilidade celular: porcentagem de células vivas na maior concentração testada (20 μg/mL). β-naftoflavona foi adotada como controle positivo. CN: controle negativo. Os resultados estão expressos como média ± erro padrão de três experimentos independentes. IR comparado βNF e viabilidade com CN. Análise de variância One-way ANOVA com pós-teste de Tuckey. (***) p<0,001. Para caracterizar se uma substância é um indutor monofuncional ou bifuncional, foi realizado o mesmo ensaio, com extratos e frações que apresentaram indução da enzima na linhagem selvagem Hepa 1c1c7, na linhagem mutante TAOc1BPrc1 e BPrc1 (CUENDET et al., 2006). Dessa maneira pode-se comparar a capacidade de indução enzimática de uma substância em linhagem selvagem (Hepa1c1c7) com o perfil da indução em linhagens mutantes (TAOc1BPrc1 e BPrc1). Porém nenhum dos extratos e frações foram capazes de induzir a enzima quinona-redutase nas linhagens mutantes. Dessa forma os dois extratos (EB-Fo e EB-Fr) e as duas frações (HA-Fr e BU-Fo) que apresentaram atividade da enzima quinona-redutase apenas na linhagem selvagem, podem ser considerados indutores bifuncionais. 60 4.2. Avaliação da citotoxicidade Os resultados de citotoxicidade estão demonstrados na tabela 2. O EB-Fo e a fração BU-Fo das folhas, o EB-Fr e a fração HA-Fr dos frutos de E. jambolana, foram testados na concentração de 0,6 a 40 μg/mL, por meio do ensaio de citotoxicidade, baseado na coloração por SRB, obtendo-se o resultado em porcentagem da viabilidade celular em relação ao controle negativo. Os tratamentos com E. jambolana foram avaliados em células HepG2, células que posteriormente foram utilizadas nos ensaios do cometa e micronúcleo. Na maior concentração, 40 μg/mL, todos os extratos e frações apresentaram entre 55 e 65% de células vivas e na menor concentração, 0,62 μg/mL, a viabilidade variou de 65 a 85%. Os extratos e frações de E. jambolana apresentaram um perfil semelhante em relação a viabilidade celular, porém os extratos e frações dos frutos (EB-Fr e HA-Fr) demonstraram uma maior porcentagem de células vivas, sendo que a partir da concentração de 1,25 μg/mL não houve diferença estatística significativa em relação ao controle negativo (p< 0,05), onde o EB-Fr apresentou uma viabilidade de 75,8 ± 4,1% e a HA-Fr de 82,3 ± 2,1%. Entretanto alguns compostos apresentaram viabilidade celular abaixo do IC20. 61 Tabela 2: Determinação da viabilidade celular dos extratos e frações das folhas e dos frutos de E. jambolana, em linhagem de células HepG2, por meio da técnica de SRB. Viabilidade Celular (%) ± EP CP CN 9,2 ± 3 94 ± 2,5 Concentração (μg/mL) EB-Fo BU-Fo EB-Fr HA-Fr 0,62 66,9 ± 1,6*** 73,5 ± 2,9*** 80,0 ± 3,6 83,3 ± 2,5 1,25 67,0 ± 2,9*** 72,8 ± 3,4*** 75,8 ± 4,1 82,3 ± 2,1 2,5 66,1 ± 1,8*** 72,3 ± 4,6*** 74,7 ± 4,9* 73,2 ± 2,8* 5 60,3 ± 2,6*** 67,4 ± 2,6*** 67,4 ± 4,6** 73,3 ± 4,2** 10 59,4 ± 1,7*** 66,5 ± 2,1*** 70,8 ± 4,8* 71,9 ± 3,4* 20 60,1 ± 2,1*** 65,5 ± 2,7*** 72,3 ± 2,7* 75,3 ± 3,5* 40 58,7 ± 3,6*** 60,3 ± 2,6*** 64,6 ± 3,5** 62,9 ± 3,0** Viabilidade celular é dada em porcentagem, a partir de 3 experimentos independentes (média ± erro padrão-EP). CP: controle positivo, H2O2 A 0,1 M. CN: controle negativo. Análise de variância One-way ANOVA com pós-teste de Tukey. (*) p<0,05; (**) p<0,01; (***) p<0,001. 4.3. Avaliação da Genotoxicidade Para caracterizar o potencial genotóxico dos extratos e frações, que apresentaram atividade quimiopreventiva a partir do ensaio da quinona-redutase, foi realizado o ensaio do cometa segundo protocolo estabelecido por Singh e colaboradores (1988). A avaliação da genotoxicidade foi realizada em linhagem HepG2 pela sua característica de linhagem celular metabolizadora. As concentrações utilizadas no ensaio foram pré- estabelecidas de acordo com o ensaio da quinona-redutase, ou seja, foram avaliadas inicialmente as concentrações que apresentaram indução da enzima quinona-redutase. Ainda, foi levado em consideração a viabilidade celular frente aos tratamentos com E. jambolana, que nessas concentrações, utilizando o ensaio de violeta cristal, foi de 62 aproximadamente 85%. Posteriormente, foram estabelecidas concentrações não genotóxicas para dar continuidade aos demais experimentos (antigenotoxicidade e antimutagenicidade). O parâmetro adotado no presente estudo foi a porcentagem de DNA na cauda. Infelizmente, as concentrações que se apresentaram positivas para o ensaio de quinona-redutase foram genotóxicas e somente nas menores concentrações, onde não se observa genotoxicidade também não houve estímulo de quinona-redutase. O tratamento da linhagem celular HepG2 com extrato EB-Fo (tabela 3) e com a fração BU-Fo (tabela 4) de E. jambolana demonstrou que nas maiores concentrações, esses extratos e frações foram altamente genotóxicos. O EB-Fo demonstrou genotoxicidade da concentração de 5 μg/mL (13,3 ± 1,2%) p<0,05 até a concentração de 40 μg/mL (23,7 ± 2,4%) p<0,001, apresentando-se assim estatisticamente diferente do controle negativo. As concentrações de 0,62, 1,25 e 2,5 μg/mL (6,6 ± 1,1; 6,7 ± 0,9; 7,2 ± 1,3%, respectivamente) não apresentaram genotoxicidade, não apresentando diferença estatística quando comparadas com o controle negativo. A fração BU-Fo apresentou potencial genotóxico na concentração de 5 μg/mL (13,4 ± 1,3%) até 50 μg/mL (28,2 ± 1,1%), sendo diferente estatisticamente do controle negativo (p<0,01 e p<0,001, respectivamente). Entretanto, as concentrações de 0,31 (6,3 ± 1,9%), 0,62 (7,6 ± 1,1%), 1,25 (9,8 ± 1,3%) e 2,5 μg/mL (10 ± 1,1%) não apresentaram significância em relação ao controle negativo e, portanto não foram genotóxicas. 63 Tabela 3. Avaliação da genotoxicidade do extrato bruto das folhas de Eugenia jambolana. % DNA ± EP CN 6,4 ± 1,6 CP 27,4 ± 1,4*** EB-Fo de E. jambolana (μg/mL) 0,62 6,6 ± 1,1 1,25 6,7 ± 0,9 2,5 7,2 ± 1,3 5 13,3 ± 1,2* 10 14,1 ± 1,3*** 20 15,7 ± 1,6*** 30 19,4 ± 1,2*** 40 23,7 ± 2,4*** CN: controle negativo. CP: controle positivo. Resultados estão expressos como média da porcentagem de DNA ± erro padrão. Análise de variância Kruskal Wallis com pós-teste de Dunn. (*) p<0,05 e (***) p<0,001. Tabela 4. Avaliação da genotoxicidade da fração n-butanólica das folhas de Eugenia jambolana. % DNA ± EP CN 5,8 ± 1,5 CP 29,5 ± 1,4*** BU-Fo de E. jambolana (μg/mL) 0,31 6,3 ± 1,9 0,62 7,6 ± 1,1 1,25 9,8 ± 1,3 2,5 10 ± 1,1 5 13,4 ± 1,3** 10 16,3 ± 1,2*** 20 18,8 ± 1,4*** 30 24,1 ± 1,7*** 40 50 22,4 ± 1,9*** 28,2 ± 1,1*** CN: controle negativo. CP: controle positivo. Resultados estão expressos como média da porcentagem de DNA ± erro padrão. Análise de variância Kruskal Wallis com pós-teste de Dunn. (**) p<0,01 e (***) p<0,001. 64 Os extratos e frações dos frutos, extrato EB-Fr e fração HA-Fr, apresentam perfil genotóxico semelhante aos extratos e frações das folhas, nas maiores concentrações. O EB-Fr (tabela 5) apresentou potencial genotóxico, ou seja, capacidade de causar dano ao DNA celular de 5 (11,8 ± 1,1%) até 40 μg/mL (25,6 ± 1,2%), p<0,01 e p<0,001, respectivamente. Em concentrações menores como 0,31 (6,2 ± 1,2%), 0,62 (6,9 ± 1,1%), 1,25 (9,4 ± 1,1%) e 2,5 μg/mL (10,1 ± 1,8%), respectivamente, esses extratos e frações não são capazes de causar dano ao DNA, não apresentando assim diferença estatística do controle negativo. Tabela 5. Avaliação da genotoxicidade do extrato bruto dos frutos de Eugenia jambolana. %DNA ± EP CN 5,8 ± 1,5 CP 29,5 ± 1,4*** EB-Fr de E. jambolana (μg/mL) 0,31 6,2 ± 1,2 0,62 6,9 ± 1,1 1,25 9,4 ± 1,1 2,5 10,1 ± 1,8 5 11,8 ± 1,1** 10 13,5 ± 1,4*** 20 20 ± 1,3*** 30 25,9 ± 1,5*** 40 25,6 ± 1,2*** CN: controle negativo. CP: controle positivo. Resultados estão expressos como média da porcentagem de DNA ± erro padrão. Análise de variância Kruskal Wallis com pós-teste de Dunn. (**) p<0,01 e (***) p<0,001. A fração HA-Fr (tabela 6) causou dano significativo no DNA das células nas concentrações de 5 (12,3 ± 1,2%) até 30 μg/mL (20,8 ± 1,7%) p<0,001. Nas menores concentrações, 0,31 (6,1 ± 0,7%), 0,62 (7,7 ± 1,0%), 1,25 (10,9 ±1,2%) e 2,5 μg/mL (9,5 ± 1,8%), não houve a presença de genotoxicidade, não apresentando diferença estatística significativa em relação ao controle negativo. 65 Tabela 6. Avaliação da genotoxicidade da fração hidroalcoólica dos frutos de Eugenia jambolana. %DNA ± EP CN 6,4 ± 1,6 CP 27,4 ± 1,4*** HA-Fr de E. jambolana (μg/mL) 0,31 6,1 ± 0,7 0,62 7,7 ± 1,0 1,25 10,9 ± 1,2 2,5 5 9,5 ± 1,8 12,3 ± 1,2*** 10 13,1 ± 1,6*** 20 12 ± 1,0*** 30 20,8 ± 1,8*** CN: controle negativo. CP: controle positivo. Resultados estão expressos como média da porcentagem de DNA ± erro padrão. Análise de variância Kruskal Wallis com pós-teste de Dunn. (***) p<0,001. 4.4. Avaliação da Antigenotoxicidade Para caracterização do potencial antigenotóxico dos extratos e frações de E. jambolana, foi realizado o ensaio do cometa onde se empregou os protocolos de pré e pós-tratamento, proposto por Scolastici e colaboradores (2008). A avaliação da antigenotoxicidade foi realizada em linhagem HepG2 e os tratamentos foram realizados a partir de concentrações não genotóxicas, obtidas no ensaio do cometa através do protocolo de genotoxicidade (descrito acima). O extrato EB-Fo (tabela 7) foi avaliado quanto ao seu perfil antigenotóxico nas concentrações de 0,31, 0,62 e 1,25 μg/mL, pôde-se observar que no pré-tratamento o presente extrato provocou um aumento no dano do DNA, causado pelo mutágeno (H2O2), obtendo-se 65,5 ± 1,3, 62,4 ± 1,5, 62,9 ± 1,4%, respectivamente, apresentando diferença estatística significativa em relação ao controle positivo p<0,001, ultrapassando o resultado obtido nesse controle (24,7 ± 1,6%). Por outro lado o pós- tratamento com EB-Fo demonstrou um efeito bioantimutagênico frente ao dano causado pelo H2O2 após um tempo de recuperação de 24 horas, nas concentrações de 0,62 (10,2 66 ± 1,0%) e 1,25 μg/mL (11,4 ± 1,2%), apresentando diferença estatística em relação ao controle positivo p<0,01. A concentração de 0,31 μg/mL (15 ± 1,1%) não apresentou significância estatística em relação ao controle positivo, ressaltando que esses resultados do pós-tratamento são menores que o controle positivo. Tabela 7. Avaliação da antigenotoxicidade do extrato bruto das folhas de Eugenia jambolana. % DNA ± EP Pré Pós CN 7,4 ± 1,3*** 5,8 ± 1,2*** 24,7 ± 1,6 22,3 ± 1,8 CP EB-Fo (μg/mL) 0,31 65,5 ± 1,3*** 15 ± 1,1 0,62 62,4 ± 1,5*** 10,2 ± 1 ** 1,25 62,9 ± 1,4*** 11,4 ± 1,2** CN: controle negativo. CP: controle positivo. Resultados estão expressos como média da porcentagem de DNA na cauda ± erro padrão. Análise de variância Kruskal Wallis com pós-teste de Dunn. (**) p<0,01; (***) p<0,001. A fração BU-Fr (tabela 8) foi avaliada nas concentrações de 0,15, 0,31 e 0,62 μg/mL. No pré-tratamento com essa fração, foi observada também potencial dano no DNA celular, em que as concentrações de 0,15, 0,31 e 0,62 μg/mL apresentaram fragmentação do DNA de 63,5 ± 1,3, 56,7 ± 1,4, 53,1 ± 1,7%, respectivamente, apresentando diferença estatística em relação ao controle positivo (p<0,001), (valores ultrapassam o controle). O pós-tratamento demonstrou redução do dano nas concentrações de 0,31 (11,2 ± 1,3%) e 0,62 μg/mL (9,6 ± 1,0), apresentando diferença estatística em relação ao controle positivo (p<0,01 e p<0,001), respectivamente, (valores menores que o controle). Entretanto, a concentração de 0,15 μg/mL não 67 apresentou diferença estatística em relação ao controle positivo, não sendo considerada antigenotóxica. Tabela 8. Avaliação da antigenotoxicidade da fração n-butanólica das folhas de Eugenia jambolana. % DNA ± EP Pré Pós CN 7,4 ± 1,3*** 5,8 ± 1,2*** 24,7 ± 1,6 22,3 ± 1,8 CP BU-Fo (μg/mL) 0,15 63,5 ± 1,3*** 16,2 ± 1 0,31 56,7 ± 1,4*** 11,2 ± 1,3** 0,62 53,1 ± 1,7*** 9,6 ± 1*** CN: controle negativo. CP: controle positivo. Resultados estão expressos como média da porcentagem de DNA na cauda ± erro padrão. Análise de variância Kruskal Wallis com pós-teste de Dunn. (**) p<0,01; (***) p<0,001. Os extratos e frações dos frutos de E. jambolana apresentaram o mesmo perfil de potencial dano ao DNA no pré-tratamento e ação bioantimutagênica no pós- tratamento. O extrato EB-Fr e a fração HA-Fr foram testadas nas concentrações de 0,15, 0,31 e 0,62 μg/mL. No pré-tratamento, o EB-Fr apresentou, nessas concentrações, 63,9 ± 1,8, 68,5 ± 1,4 e 72,9 ± 1,3% de DNA na cauda, com diferença estatística em relação ao controle positivo p<0,001 (valores ultrapassam o controle). Na fração HA-Fr, nas mesmas concentrações de 0,15, 0,31 e 0,62 μg/mL, apresentou 55,6 ± 1,3, 58,6 ± 1,6 e 59,5 ± 1,5% de DNA na cauda, respectivamente, com significância estatística (p<0,001) em relação ao controle positivo (valores também ultrapassam o controle). No pós-tratamento, as três concentrações tanto do extrato EB-Fr (tabelas 9) quanto da fração HA-Fr (tabela 10) apresentaram diferença estatística em relação ao controle positivo, demonstrando ser capaz de reduzir o dano causado pelo H2O2 após um 68 tempo de recuperação. O extrato EB-Fr apresentou 7,7 ± 1,1 (0,15 μg/mL), 9,8 ± 1,4 (0,31 μg/mL) e 10,3 ± 1,9% (0,62 μg/mL) de DNA na cauda, p<0,001. E a fração HA- Fr 9,5 ± 1,2 (0,15 μg/mL), 11,6 ± 1,3 (0,31 μg/mL) e 10,5 ± 1,5% (0,62 μg/mL) p<0,001. Tabela 9. Avaliação da antigenotoxicidade do extrato bruto dos frutos de Eugenia jambolana. % DNA ± EP Pré Pós CN 6,3 ± 1,5*** 7,1 ± 1,7*** 26,4 ± 1,7 24,2 ± 1,9 CP EB-Fr (μg/mL) 0,15 63,9 ± 1,8*** 7,7 ± 1,1*** 0,31 68,5 ± 1,4*** 9,8 ± 1,4*** 0,62 72,9 ± 1,3*** 10,3 ± 1,9*** CN: controle negativo. CP: controle positivo. Resultados estão expressos como média da porcentagem de DNA na cauda ± erro padrão. Análise de variância Kruskal Wallis com pós-teste de Dunn. (***) p<0,001. Tabela 10. Avaliação da antigenotoxicidade da fração hidroalcoólica dos frutos de Eugenia jambolana. % DNA ± EP Pré Pós CN 6,3 ± 1,5*** 7,1 ± 1,7*** 26,4 ± 1,7 24,2 ± 1,9 CP HA-Fr (μg/mL) 0,15 55,6 ± 1,3*** 9,5 ± 1,2*** 0,31 58,6 ± 1,6*** 11,6 ± 1,3*** 0,62 59,5 ± 1,5*** 10,5 ± 1,5*** CN: controle negativo. CP: controle positivo. Resultados estão expressos como média da porcentagem de DNA na cauda ± erro padrão. Análise de variância Kruskal Wallis com pós-teste de Dunn. (***) p<0,001. 69 4.5. Avaliação da Mutagenicidade Para caracterização do potencial mutagênico dos extratos e frações de E. jambolana, foi realizado o teste do micronúcleo, segundo o protocolo de Fenech (2000) com algumas modificações. A avaliação da mutagenicidade foi realizada em linhagem HepG2 e os tratamentos foram os mesmos empregados na avaliação da antigenotoxicidade e antimutagenicidade, ou seja, concentrações não genotóxicas. Um número elevado na FMN foi observado no controle positivo, o que era esperado, e foi estatisticamente diferente do controle negativo em todas as condições. O tratamento da linhagem celular HepG2 com extrato EB-Fo (tabela 11) de E. jambolana demonstrou que em todas as concentrações testadas (0,31, 0,62 e 1,25 μg/mL) não houve aumento significativo na FMN, neste caso essas concentrações não apresentaram diferença significativa do controle negativo. O mesmo foi observado após análise do IDN, que apresentou diferença estatística significativa do controle negativo somente em relação ao controle positivo p<0,001, indicando uma falta de uniformidade na divisão nuclear do controle positivo. Tabela 11. Avaliação da mutagenicidade do extrato bruto da folha de Eugenia jambolana Extrato Bruto da folha de E. jambolana Concentração (μg/mL) FMN (por 1000 células binucleadas) IDN CP 155,7 ± 5,8*** 1,4 ± 0,006*** CN 26,3 ± 4,1 1,6 ± 0,01 0,31 40 ± 4,2 1,5 ± 0,003 0,62 39 ± 3,1 1,6 ± 0,003 1,25 43,7 ± 3,2 1,6 ± 0,003 CP: controle positivo. CN: controle negativo. FMN: Freqüência de micronúcleos em 1000 células binucleadas. IDN: índice de divisão nuclear. Resultados estão expressos como média ± erro padrão (M ± EP). (***) p<0.001 em relação ao CN. Análise de variância One-way (ANOVA) com pós-teste de Dunnet para FMN. Análise de variância One-way (ANOVA) com pós-teste de Tukey para IDNs. 70 A fração BU-Fo (tabela 12) apresentou um aumento na FMN nas concentrações testadas, 0,15 μg/mL (48,3 ± 2,6), 0,31 μg/mL (48 ± 3,1) e 0,62 μg/mL (46 ± 1,6), quando comparadas com o controle negativo. Para esta fração o IDN dos tratamentos não apresentou diferença estatística do controle negativo, sugerindo assim uniformidade na divisão nuclear. Tabela 12: Avaliação da mutagenicidade da fração n-butanólica da folha de Eugenia jambolana Fração n-Butanólica da folha de E. jambolana Concentração (μg/mL) FMN (por 1000 células binucleadas) IDN CP 155,7 ± 5,8*** 1,4 ± 0,006*** CN 26,3 ± 4,1 1,6 ± 0,01 0,15 48,3 ± 2,6** 1,5 ± 0,012 0,31 48 ± 3,1** 1,6 ± 0,003 0,62 46 ± 1,6** 1,5 ± 0,003 CP: controle positivo. CN: controle negativo. FMN: Freqüência de micronúcleos em 1000 células binucleadas. IDN: índice de divisão nuclear. Resultados estão expressos como média ± erro padrão (M ± EP). (***) p<0.001, (**) p<0.01 em relação ao CN. Análise de variância One-way (ANOVA) com pós- teste de Dunnet para FMN. Análise de variância One-way (ANOVA) com pós-teste de Tukey para IDNs. As tabelas 13 e 14 demonstram os tratamentos com os extratos e frações dos frutos de E. jambolana, EB-Fr e HA-Fr. O extrato EB-Fr assim como a fração HA-Fr não apresentaram aumento significativo na FMN nas concentrações testadas de 0,15 a 0,62 μg/mL, não apresentando diferença estatística do controle negativo e portanto não apresentando efeito mutagênico. Em relação ao IDN pôde-se observar que ambos os extratos e frações apresentaram uniformidade durante a divisão nuclear em todas as concentrações (0,15, 0,31 e 0,62 μg/mL), sendo novamente iguais estatisticamente ao controle negativo, somente o controle positivo apresentou perda da uniformidade na divisão nuclear sendo assim diferente estatisticamente do controle negativo. 71 Tabela 13: Avaliação da mutagenicidade do extrato bruto do fruto de Eugenia jambolana Extrato Bruto do fruto de E. jambolana Concentração (μg/mL) FMN (por 1000 células binucleadas) IDN CP 155,7 ± 5,8*** 1,4 ± 0,006*** CN 26,3 ± 4,1 1,6 ± 0,01 0,15 31,7 ± 3,2 1,5 ± 0,003 0,31 26,7 ± 2,3 1,5 ± 0,003 0,62 29 ± 2,1 1,5 ± 0,003 CP: controle positivo. CN: controle negativo. FMN: Freqüência de micronúcleos em 1000 células binucleadas. IDN: índice de divisão nuclear. Resultados estão expressos como média ± erro padrão (M ± EP). (***) p<0.001 em relação ao CN. Análise de variância One-way (ANOVA) com pós-teste de Dunnet para FMN. Análise de variância One-way (ANOVA) com pós-teste de Tukey para IDNs. Tabela 14: Avaliação da mutagenicidade da fração hidroalcoólica do fruto de Eugenia jambolana Fração Hidroalcoólica do fruto de E. jambolana Concentração (μg/mL) FMN (por 1000 células binucleadas) IDN CP 155,7 ± 5,8*** 1,4 ± 0,006*** CN 26,3 ± 4,1 1,6 ± 0,01 0,15 24 ± 3,2 1,5 ± 0,003 0,31 26,3 ± 2,6 1,5 ± 0,003 0,62 34 ± 4,6 1,5 ± 0,006 CP: controle positivo. CN: controle negativo. FMN: Freqüência de micronúcleos em 1000 células binucleadas. IDN: índice de divisão nuclear. Resultados estão expressos como média ± erro padrão (M ± EP). (***) p<0.001 em relação ao CN. Análise de variância One-way (ANOVA) com pós-teste de Dunnet para FMN. Análise de variância One-way (ANOVA) com pós-teste de Tukey para IDNs. 72 4.6. Avaliação da Antimutagenicidade Para caracterização do potencial antimutagênico dos extratos e frações de E. jambolana, foi realizado o teste do micronúcleo, segundo o protocolo de Fenech (2000) com algumas modificações, a partir dos dados de pré e pós-tratamento da antigenotoxicidade A avaliação da antimutagenicidade foi realizada em linhagem HepG2 e os tratamentos foram os mesmos empregados na avaliação da antigenotoxicidade, ou seja, concentrações não genotóxicas. Em ambos os tratamentos (pré e pós) e em todos os extratos e frações testados, observou-se um padrão concentração-resposta em relação à freqüência de micronúcleos, uma vez que as maiores concentrações houve uma atenuação contra o dano induzido pelo H2O2, reduzindo a freqüência de micronúcleos, demonstrando assim que os extratos e frações de E. jambolana podem atuar através da maquinaria celular como possíveis agentes antimutagênicos. Um número elevado na frequência de micronúcleos (FMN) foi observado somente no controle positivo, o que era esperado e foi estatisticamente diferente do controle negativo em todas as condições. No pré-tratamento com o extrato EB-Fo (tabela 15) de E. jambolana, houve uma redução significativa na FMN quando comparado com o controle positivo (184 ± 10,4) nas concentrações testadas, 0,31 (98,6 ± 7,5), 0,62 (47 ± 8,3) e 1,25 μg/mL (42,6 ± 2,3) p<0,001. O Índice de Divisão Nuclear (IDN) também foi calculado, a fim de analisar se divisão celular ocorreu de maneira uniforme em todos os tratamentos. Para o EB-Fo o IDN no pré-tratamento não apresentou diferença estatística significativa das concentrações em relação ao controle negativo de 0,62 e 1,25 μg/mL. No pós- tratamento ocorreu uma redução mais acentuada na FMN quando comparado com o pré- tratamento e com controle positivo para as concentrações testadas 0,31 (59 ± 6,4), 0,62 73 (61,6 ± 7,5) e 1,25 μg/mL (34 ± 4,3), apresentando significância em relação ao controle positivo (p<0,001). O IDN demonstrou discreta diferença estatística do controle negativo somente nas concentrações de 0,62 e 1,25 μg/mL. Tabela 15. Avaliação da antimutagenicidade do extrato bruto das folhas de Eugenia jambolana Extrato Bruto da Folha de E. jambolana Pré-tratamento (M ± EP) Pós-tratamento (M ± EP) Concentração (μg/mL) FMN (por 1000 células binucleadas) IDN FMN (por 1000 células binucleadas) IDN CP 184 ± 10,4 1,6 ± ,003 206 ± 4,9 1,7 ± 0,01 CN 19,33 ± 2,6*** 1,6±0,003 24 ± 3,6*** 1,7±0,007 0,31 98,6 ± 7,5*** 1,5±0,004 59 ± 6,4*** 1,6±0,004 0,62 47 ± 8,3*** 1,5±0,004 61,6 ± 7,5*** 1,4±0,004** 1,25 42,66 ± 2,3*** 1,5±0,003 34 ± 4,3*** 1,5±0,003* CP: controle positivo. CN: controle negativo. FMN: Freqüência de micronúcleos em 1000 células binucleadas. IDN: índice de divisão nuclear. Resultados estão expressos como média ± erro padrão (M ± EP). em relação ao CP, p<0,001. Análise de variância One-way (ANOVA) com pós-teste de Dunnet para FMN. Análise de variância One-way (ANOVA) com pós-teste de Tukey para IDNs em relação ao CN. (*) p<0.05, (**) p<0.01 O pré-tratamento com a fração BU-Fo de E. jambolana (tabela 16), nas concentrações de 0,15 (57,6 ± 5,5), 0,31 (34,3 ± 4,3) e 0,62 μg/mL (24 ± 2,8) demonstrou uma redução significativa na freqüência de micronúcleos em relação ao controle positivo (184 ± 10,4) p<0,001. Pode-se constatar que no pré-tratamento houve uma relação concentração-resposta e claro efeito antimutagênico. O IDN apresentou discreta diferença estatística nas concentrações de 0,15 e 0,31 μg/mL em relação ao controle negativo (p<0,001). No pós-tratamento ocorreu uma redução menos acentuada na FMN quando co