FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE E COMUNICAÇÃO HUMANA JULIANA LUPO MERELES FLUÊNCIA DA FALA DE TAQUIFÊMICOS E ADULTOS COM FALA RÁPIDA MARÍLIA 2025 JULIANA LUPO MERELES FLUÊNCIA DA FALA DE TAQUIFÊMICOS E ADULTOS COM FALA RÁPIDA Tese apresentada ao Programa de Pós- graduação em Ciências da Saúde e Comunicação Humana da Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP – Campus de Marília, como parte das exigências para a obtenção do título de Doutora em Ciências da Saúde e Comunicação Humana. Orientador: Profa. Dra. Cristiane Moço Canhetti de Oliveira Financiamento: O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES) – Código de Financiamento 001. MARÍLIA 2025 Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Dados fornecidos pelo autor(a). M559f Mereles, Juliana Lupo Fluência da fala de taquifêmicos e adultos com fala rápida / Juliana Lupo Mereles. -- Marília, 2025 114 f. Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Filosofia e Ciências, Marília Orientadora: Cristiane Moço Canhetti de Oliveira 1. Fonoaudiologia. 2. Distúrbios da Fala. 3. Adulto. 4. Estudo de Avaliação. 5. Percepção da Fala. I. Título. IMPACTO POTENCIAL DESTA PESQUISA (Portaria UNESP no 117/2022 e Instrução AT/PROPG no 02 de 02/12/2022) Espera-se que os resultados desta tese contribuam, primeiramente, para a ampla divulgação deste transtorno da fluência e, a partir dos dados dos parâmetros da fluência e da comunicação de adultos com taquifemia obtidos, o fonoaudiólogo identifique, avalie e conduza a terapia de forma segura e assertiva. Portanto, essa pesquisa apresenta potencial de implicações teóricas e clínicas. Os dados do estudo já foram apresentados em congressos e pretende-se a publicação em revista de alto impacto. POTENTIAL IMPACT OF THIS RESEARCH (Ordinance UNESP no 117/2022 and Instruction AT/PROPG no 02 in 02/12/2022) It is expected that the results of this thesis will primarily contribute to the broad dissemination os this fluency disorder. Furthermore, based on the fluency and communication parameters of adultd with cluttering obtained in this study, speech-language pathologists will be able to identify, asses, and conduct therapy in a safe and effective manner. Therefore, this research holds potential theoretical and clinical implications. The study’s data have already been presented at conferences, and there is an intention to publish it in a high-impact journal. JULIANA LUPO MERELES FLUÊNCIA DA FALA DE TAQUIFÊMICOS E ADULTOS COM FALA RÁPIDA Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde e Comunicação Humana da Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP – Campus de Marília, como parte das exigências para a obtenção do título de Doutora em Ciências da Saúde e Comunicação Humana. BANCA EXAMINADORA Orientadora: Profa. Dra. Cristiane Moço Canhetti de Oliveira. Professora Livre Docente da Graduação e do Programa de Pós-graduação (Mestrado e Doutorado) em Ciências da Saúde e Comunicação Humana da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – FFC/UNESP/Marília – SP. 2º Examinador: Profa. Dra. Simone Aparecida Capellini. Professora Livre Docente da Graduação e do Programa de Pós-graduação (Mestrado e Doutorado) em Ciências da Saúde e Comunicação Humanada Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – FFC/UNESP/Marília – SP. 3º Examinador: Profa. Dra. Luciana Paula Maximino. Professora Livre Docente da Graduação e do Programa de Pós-graduação (Mestrado e Doutorado) em Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru - FOB/USP e do Programa de Ciências da Reabilitação do Hospital de Anomalia Craniofaciais da FOB/USP. 4º Examinador: Profa. Dra. Denise Brandão de Oliveira e Britto. Professora Adjunta da Graduação do Departamento de Fonoaudiologia na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG e professora permanente no Programa de Pós-graduação (Mestrado e Doutorado) em Ciências Fonoaudiológicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Marília, 18 de março de 2025 DEDICATÓRIA Às pessoas com taquifemia e fala rápida, que sejam sempre respeitadas. Vocês me fazem, a cada dia, uma pessoa e profissional melhor. À minha mãe, Eliane Lupo, por ser minha âncora e me oferecer cada ensinamento com muito amor e cautela. Nossa união é indescritível e muito valiosa, eu te amo incondicionalmente. AGRADECIMENTOS À DEUS, por renovar minha fé e esperança diariamente. Com sua infinita bondade, me guiou e iluminou em cada momento deste trabalho. O presente trabalho foi realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES) – Código de Financiamento 001. Ao corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Fonoaudiologia, por enriquecerem e colaborarem com minha formação desde da primeira disciplina do mestrado e até hoje por meio dos e-mails com dúvidas e conversas que provocam o meu senso crítico como pesquisadora. À minha orientadora Profª.Drª. Cristiane Moço Canhetti de Oliveira, faltam palavras para lhe agradecer. Desde o segundo ano da graduação, tenho o privilégio de ser sua orientanda. Muito obrigada por despertar sentimentos bons, tanto como profissional/pesquisadora quanto como pessoa, e por me fazer tão bem acolhida nos momentos difíceis. À professora Dra. Denise Brandão de Oliveira e Britto, à professora Dra. Luciana Paula Maximino e à professora Dra. Simone Aparecida Capellini, por aceitarem o convite para compor a banca examinadora no exame de qualificação e defesa da minha tese. Sou extremamente grata por cederem cada minuto para contribuir e aperfeiçoar este trabalho. À querida bibliotecária Maria Elisa P. Nicolino, que ofereceu todo suporte, sempre com muita cordialidade, em relação às referências deste trabalho. Com felicidade, agradeço a minha família, em especial à minha avó Geny Lupo, minha tia Michelina, minha sobrinha Liz e meu primo Valter Siqueira, cujo amor, carinho e apoio sempre me ofereceram e que se tornaram um alicerce seguro para o meu coração, refletindo no meu progresso. Aos membros do Laboratório de Estudos da Fluência (LAEF/UNESP-Marília). Em especial às queridas fonoaudiólogas, Débora Avelar, Maria Clara Couto e Sarah Alonso. Vocês tornaram meus dias mais descontraídos e alegres. Aos meus amigos Lucas Oliveira e Josilene Amaral, pelo companheirismo em todos os momentos. Eu amo vocês. Aos participantes desta pesquisa, por aceitarem o convite. De coração, a contribuição de vocês vai além do desenvolvimento da produção científica. Meu muito obrigada. Aos funcionários da Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP/ Marília e do Centro Especializado em Reabilitação – CER II, pelo suporte fornecido em diferentes momentos durante o desenvolvimento da minha pesquisa. Enfim, a todos que colaboraram direta ou indiretamente para a concretização deste trabalho. EPÍGRAFE “Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.” Madre Teresa de Calcutá RESUMO Introdução: A taquifemia é descrita como um transtorno multifacetado, complexo, e representa um grupo heterogêneo. Pesquisas realizadas com pessoas com taquifemia e com fala rápida são fundamentais para realizar um diagnóstico diferencial assertivo. No entanto, raras são as investigações que abordam estas populações. Objetivo: Caracterizar a fluência da fala de adultos com taquifemia, com fala rápida e adultos fluentes. Método: A amostra foi composta por 48 adultos, divididos em três grupos: o Grupo de Adultos com Taquifemia (GAT), composto por 10 adultos com taquifemia; o Grupo de Adultos com Fala Rápida, composto por 14 adultos com fala rápida, e; o Grupo Comparativo, composto por 24 adultos fluentes. Foram coletadas 3 amostras de fala em registro audiovisual: habitual, lenta e rápida induzidas. Os procedimentos utilizados foram: avaliação da fluência da fala, aplicação do Protocolo de Avaliação da Taquifemia (PAT) e do Instrumento de Autopercepção da Fala (IAF). Para análise dos dados, o nível de significância adotado foi de 5% e os dados foram analisados no Software SPSS (versão 27.0). Resultados: Não houve diferença significativa entre os fluxos de sílabas e de palavras por minuto nos três grupos em todas as condições analisadas. Os adultos com taquifemia manifestaram maior quantidade de outras disfluências e do total de disfluências em relação aos adultos fluentes nas três condições avaliadas, e foram classificados como mais disfluentes na avaliação perceptual. A fala lenta induzida ocasionou redução da velocidade de fala, enquanto a fala rápida induzida aumentou a velocidade de fala em todos os grupos. Na avaliação perceptual da velocidade de fala foi possível distinguir os adultos com taquifemia, pois manifestaram fala mais rápida e mais irregular em relação aos adultos fluentes na fala habitual, lenta e rápida induzida. Os adultos com taquifemia foram classificados com uma fala parcialmente ininteligível, com uma articulação mais imprecisa, prosódia e pausa inadequada, além de uma fala parcialmente natural mais frequentemente do que os adultos fluentes. A fala rápida prejudicou a organização da linguagem e as habilidades discursivas dos adultos com taquifemia. Conclusão: A velocidade de fala foi similar entre os adultos com taquifemia, fala rápida e fluentes. Os adultos com taquifemia manifestaram maior quantidade de outras disfluências e do total de disfluências quando comparados aos fluentes, em todas as condições avaliadas. Todos os grupos aumentaram a velocidade na fala rápida induzida e a diminuíram na fala lenta induzida, no entanto, estas alterações não ocasionaram efeitos na frequência de disfluências nos adultos com taquifemia e fluentes. Os adultos com taquifemia apresentaram características distintas em relação aos adultos fluentes, com prejuízos na fluência velocidade de fala e sua regularidade, pausa, inteligibilidade, organização da linguagem, habilidades discursivas, prosódia e naturalidade. Em relação ao Instrumento de Autopercepção da Fala (IAF), os adultos com taquifemia apresentaram a autopercepção da fala rápida e o prejuízo na inteligibilidade. Palavras-chave: Fonoaudiologia. Distúrbios da Fala. Adulto. Estudo de Avaliação. Percepção da Fala. ABSTRACT Introduction: Cluttering is described as a multifacedted and complex disorder, reoresenting a heterogeneous group. Research conducted with individuals with cluttering and rapid speech is essential for na accurate differentialdiagnosis. However, studies addressing these populations are rare. Objective: To characterize the speech flency of adults with cluttering, with rapid speech compared to fluente adults. Method: The sample consisted of 48 adults, divided into three groups: the Cluttering Adults Group (CAG), composed of 10 adults with cluttering; the Fast Speech Adults Group, composed of 14 adults with fast speech; and the Comparative Group, composed of 24 fluent adults. Three audiovisual speech samples were collected: habitual, slow, and induced fast speech. The procedures used included speech fluency assessment, the application of the Cluttering Assessment Protocol (CAP), and the Speech Self-Perception Instrument (SPI). For data analysis, a significance level of 5% was adopted, and the data were analyzed using SPSS software (version 27.0). Results: There was no significant difference in syllable and word flow per minute across the three groups in all analyzed conditions. Adults with cluttering exhibited a greater number of other disfluencies and a higher total number of disfluencies compared to fluent adults in all three evaluated conditions and were classified as more disfluent in perceptual assessment. Induced slow speech resulted in a reduced speech rate, while induced fast speech increased speech rate across all groups. In the perceptual assessment of speech rate, it was possible to distinguish adults with cluttering, as they exhibited faster and more irregular speech compared to fluent adults in habitual, slow, and induced fast speech conditions. Adults with cluttering were classified as having partially unintelligible speech, with less precise articulation, inadequate prosody and pauses, and more frequently partially natural speech compared to fluent adults. Fast speech impaired language organization and discourse skills in adults with tachyphemia. Conclusions: Speech rate was similar among adults with cluttering, fast speech, and fluent speech. Adults with cluttering exhibited a greater number of other disfluencies and a higher total number of disfluencies compared to fluent individuals in all evaluated conditions. All groups increased their speech rate in induced fast speech and decreased it in induced slow speech; however, these changes did not affect the frequency of disfluencies in adults with cluttering and fluent individuals. Adults with cluttering presented distinct characteristics compared to fluent adults, with impairments in speech fluency, speech rate and regularity, pauses, intelligibility, language organization, discourse skills, prosody, and naturalness. Regarding the Speech Self-Perception Instrument (SPI), adults with cluttering showed the self-perception of fast speech and in the perception of impairment in intelligibility. Keywords: Speech, Language and Hearing Sciences. Speech Disorders. Adult. Evaluation Study. Speech Perception LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1. Fluxograma dos grupos de pesquisa .........................................................................42 Figura 2. Fluxograma do grupo comparativo… ......................................................................43 Figura 3. Síntese das etapas do processo de avaliação da fluência… ......................................45 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Distribuição de frequência absoluta (N) e relativa (%) do sexo em relação aos grupos de estudo ................................................................................................................................... 40 Tabela 2. Comparação da média e desvio-padrão (DP) da idade entre os grupos de estudo ................................................................................................................................................. 41 Tabela 3. Comparação da média do fluxo de sílabas por minuto nos grupos participantes entre as condições de fala habitual, lenta induzida e rápida induzida ................................................. 51 Tabela 4. Comparação da média do fluxo de palavras por minuto nos grupos participantes entre as condições de fala habitual, lenta induzida e rápida induzida ................................................ 52 Tabela 5. Comparação da média das outras disfluências nos grupos participantes entre as condições de fala habitual, lenta induzida e rápida induzida ........................................... 54 Tabela 6. Comparação da média das disfluências típicas da gagueira nos grupos participantes entre as condições de fala habitual, lenta e rápida induzida ........................................... 55 Tabela 7. Comparação da média do total de disfluências nos grupos participantes entre as condições de fala habitual, lenta e rápida induzida ................................................................... 57 Tabela 8. Comparação da distribuição de frequência da variável velocidade de fala nas diferentes condições de fala habitual, lenta e rápida induzida entre os grupos… ................... 59 Tabela 9. Comparação da distribuição de frequência da variável regularidade da velocidade de fala nas diferentes condições de fala habitual, lenta e rápida induzida entre os grupos… 61 Tabela 10. Comparação da distribuição de frequência da variável pausa nas diferentes condições de fala habitual, lenta e rápida induzida entre os grupos… ....................................... 63 Tabela 11. Comparação da distribuição de frequência da variável disfluências nas diferentes condições de fala habitual, fala lenta induzida, fala rápida induzida entre os grupos… .................................................................................................................................................. 64 Tabela 12. Comparação da distribuição de frequência da variável inteligibilidade nas diferentes condições de fala habitual, fala lenta induzida, fala rápida induzida entre os grupos… .................................................................................................................................................. 65 Tabela 13. Comparação da distribuição de frequência da variável articulação nas diferentes condições de fala habitual, fala lenta induzida, fala rápida induzida entre os grupos… .................................................................................................................................................. 66 Tabela 14. Comparação da distribuição de frequência absoluta da variável organização da linguagem nas diferentes condições de fala habitual, fala lenta induzida, fala rápida induzida entre os grupos… .................................................................................................................... 67 Tabela 15. Comparação da distribuição de frequência da variável habilidades discursivas nas diferentes condições de fala habitual, fala lenta induzida, fala rápida induzida entre os grupos… .................................................................................................................................................. 68 Tabela 16. Comparação da distribuição de frequência da variável prosódia nas diferentes condições de fala habitual, fala lenta induzida, fala rápida induzida entre os grupos. ………………………………………………………………………………………………...69 Tabela 17. Comparação da distribuição de frequência da variável naturalidade nas diferentes condições de fala habitual, fala lenta induzida, fala rápida induzida entre os grupos… .................................................................................................................................................. 70 Tabela 18. Comparação da distribuição de frequência absoluta (N) e relativa (%) das afirmações em função dos grupos na fala habitual .................................................................. 72 Tabela 19. Comparação da distribuição de frequência absoluta (N) e relativa (%) das afirmações em função dos grupos na fala lenta induzida… ...................................................... 74 Tabela 20. Comparação da distribuição de frequência absoluta (N) e relativa (%) das afirmações em função dos grupos fala rápida induzida… ......................................................... 76 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AA ACG ACT AF AP ASHA A1 A2 A3 A4 A5 Análise da Articulação Adultos com Gagueira Adultos com Taquifemia Adultos Fluentes Análise da Prosódia American Speech Hearing Association Afirmação 1 Afirmação 2 Afirmação 3 Afirmação 4 Afirmação 5 CEP Comitê de Ética em Pesquisa CER Centro Especializado em Reabilitação DSM DTG ERS Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders Disfluências Típicas da Gagueira Exceptionally rapid speech et al F Colaboradores Feminino FFC Faculdade de Filosofia e Ciências FH FLI FRI GAT GAFR GC Fala Habitual Fala Lenta Induzida Fala Rápida Induzida Grupo de Adultos com Taquifemia Grupo de Adultos com Fala Rápida Grupo Comparativo HD IAF Habilidades Discursivas Instrumento de Autopercepção da Fala ICA Internacional Cluttering Association INT LCD LAEF M Inteligibilidade Lowest Common Denominator Laboratório de Estudos da Fluência Masculino Máx. Med. Mín. NAT OD P PAT PCT PROCF PROTAF R da VF Máximo Mediana Mínimo Naturalidade Outras Disfluências Valor de p Protocolo de Avaliação da Taquifemia Pessoa com Taquifemia Protocolo de Observação Clínica da Fluência Protocolo de Transcrição da Fala Regularidade da Velocidade de Fala SUS Sistema Único de Saúde TCLE TD Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Total de Disfluências UNESP Universidade Estadual Paulista VF Velocidade de Fala LISTA DE SÍMBOLOS a Diferença Significativa Entre os Grupos b Diferença Significativa Entre os Grupos c Diferença Significativa Entre os Grupos * Diferença Significativa ** Associação Significativa ǂ Diferença Significativa ‡ Diferença Significativa SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................17 2 REVISÃO DA LITERATURA ...........................................................................................20 2.1 Fluência da Fala ..................................................................................................................21 2.2 Taquifemia ..........................................................................................................................24 2.3 Fala Rápida. ........................................................................................................................ 31 2.4 Velocidade de Fala .............................................................................................................. 32 3 OBJETIVO E HIPÓTESES ...............................................................................................36 3.1 Objetivo e específicos. ........................................................................................................ 37 3.2 Hipóteses. ............................................................................................................................ 37 4 MÉTODO .............................................................................................................................38 4.1 Aspectos éticos ...................................................................................................................39 4.2 Casuística ............................................................................................................................39 4.3 Critérios de Inclusão e exclusão .........................................................................................40 4.4 Procedimentos .....................................................................................................................42 4.4.1 Avaliação da Fluência da Fala .........................................................................................43 4.4.2 Confiabilidade da Avaliação da Fluência ........................................................................47 4.4.3 Protocolo de Avaliação da Taquifemia ............................................................................47 4.4.4 Instrumento de Autopercepção da Fala............................................................................47 4.5 Análise estatística ................................................................................................................48 5 RESULTADOS ....................................................................................................................49 6 DISCUSSÃO .........................................................................................................................77 7 CONCLUSÃO ......................................................................................................................87 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................89 APÊNDICES ......................................................................................................................... 100 APÊNDICE A ....................................................................................................................... 101 APÊNDICE B ....................................................................................................................... 103 ANEXO ................................................................................................................................. 109 ANEXO A. Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa .............................. 110 17 1 INTRODUÇÃO 18 A taquifemia é um importante transtorno da fluência, porém é pouco investigado. Junto com a gagueira, representa um dos principais transtornos da fluência. Vale destacar que a sintomatologia da taquifemia é complexa (Santana; Oliveira, 2014) e é descrita como um transtorno multidimensional e heterogêneo (Bóna, 2019; Myers et al., 2018; Ward, 2011), o que dificulta a conclusão diagnóstica. Por esse motivo, muitos fonoaudiólogos não se sentem confortáveis para atender pessoas com taquifemia, conforme evidenciado pela literatura (Simonska; Georgieva, 2016; St. Louis; Hinzman, 1985). Apesar do movimento por parte da comunidade científica e clínica para auxiliar na avaliação, diagnóstico diferencial e tratamento (Scott, 2022), ainda há um cenário de incerteza. A falta de clareza a respeito do quadro clínico da taquifemia está associada à escassez de protocolos diagnósticos para o transtorno. Enquanto há vários instrumentos diagnósticos para caracterizar a gagueira (Andrade, 2003; Oliveira et al., 2020; Yaruss; Quesal, 2004), para a taquifemia existe apenas um instrumento de rastreio que é mais utilizado (Daly, 2006; Van Zaalen; Wijnen; Jonckere, 2009) e um protocolo de classificação da gravidade da taquifemia (Bakker et al., 2005) pouco acessível e utilizado na prática científica e clínica. O Laboratório de Estudos da Fluência (LAEF), situado na cidade de Marília, São Paulo, é considerado uma instituição de referência em avaliação, diagnóstico e terapia dos transtornos da fluência no interior paulista. A maioria das pesquisas foram desenvolvidas em torno do transtorno mais comum da fluência, a gagueira, e, por isso, os conhecimentos que a envolvem estão mais consolidados (Mereles, 2021). Em uma busca mais aprofundada da literatura, foi identificada uma lacuna de pesquisas sobre a taquifemia, o segundo mais importante e prevalente transtorno da fluência da fala. Neste sentido, há a necessidade de estudar a taquifemia com o intuito de promover uma melhor compreensão do transtorno e, consequentemente favorecer o seu diagnóstico e terapia. Apesar de não haver um consenso sobre a definição deste transtorno, algumas manifestações clínicas são frequentemente descritas, como a alteração na fluência, problemas na articulação, o aumento da velocidade de fala e as alterações na linguagem, que podem envolver dificuldade em acessar o léxico, formular a mensagem, bem como prejuízos sintáticos (Oliveira et al., 2013; St. Louis; Schulte, 2011; Ward et al., 2015). Considerando que a velocidade de fala exerce um papel fundamental na taquifemia, e essas informações são extremamente importantes para classificar processos comunicativos normais ou patológicos (Novaes; Nicolielo-Carrilho; Lopes-Herrera, 19 2015), desde 2001 alguns pesquisadores têm desenvolvido investigações com a população de pessoas que apresentam fala rápida, mas não apresentam taquifemia. O termo em inglês para se referir a essas pessoas é “persons who exhibit exceptionally rapid speech” - ERS (Bakker et al., 2011; Bóna, 2016). As evidências científicas acerca das diferenças na fluência de pessoas com taquifemia e pessoas com fala rápida são limitadas (Falck-Pedersen; Sønsterud, 2023). A falta de clareza pode acarretar condutas clínicas equivocadas em relação ao diagnóstico e até mesmo atrasar o início da terapia fonoaudiológica. Assim, torna-se importante comparar a fluência de pessoas com taquifemia e com fala rápida que permitam identificar e favorecer o diagnóstico diferencial, tendo em vista que o tema em questão ainda é pouco explorado e há uma carência de pesquisas na área. As perguntas norteadoras desta pesquisa foram: (1) A pessoa com taquifemia apresenta uma alteração de velocidade de fala evidente e distinta de uma pessoa que fala rápido e de uma pessoa fluente? (2) Quais são as manifestações clínicas que ocorrem em uma pessoa com taquifemia e que são distintas de pessoas sem o diagnóstico de taquifemia? (3) Quais são os efeitos da redução e do aumento na velocidade de fala na comunicação da pessoa com taquifemia? Portanto, este estudo teve por objetivo caracterizar a fluência da fala de adultos com taquifemia e fala rápida com adultos fluentes. Para cumprir este objetivo, a tese foi estruturada em sete capítulos. O primeiro capítulo, introdução, apresenta o tema e o contexto da pesquisa, destacando sua relevância. No segundo, realiza-se uma revisão da literatura, em que são descritos estudos prévios sobre a fluência da fala, a taquifemia, a fala rápida e velocidade de fala, fornecendo uma fundamentação teórica para a investigação. O terceiro capítulo expõe o objetivo principal, os específicos e as hipóteses. O quarto capítulo detalha os materiais e métodos utilizados para conduzir o estudo: aspectos éticos, casuística, critérios de inclusão e exclusão, procedimentos e análise estatística. Os resultados são apresentados no quinto capítulo. No sexto, esses resultados são analisados e discutidos com base na literatura revisada. Finalmente, o sétimo capítulo traz as conclusões da pesquisa. 20 2 REVISÃO DA LITERATURA 21 Neste capítulo, expor-se-á a revisão da literatura que abordará conteúdos que proporcionaram os alicerces teóricos e serviram de base para a realização desta pesquisa, e estão relacionados a quatro grandes temas: fluência da fala, taquifemia, fala rápida e velocidade de fala. 2.1 Fluência da fala Starkweather (1987) foi um dos primeiros autores a descrever especificamente sobre a fluência. Para o autor, a fala fluente consiste na suavidade, velocidade de fala adequada, prosódia, bem como um mínimo de esforço mental. Mas afinal, o que é a fluência da fala? Como foi a evolução de sua definição ao longo dos anos? De acordo com Jakubovicz (1997), o indivíduo fluente apresenta em sua fala uma emissão sem esforço, sem oscilações ou inserções durante as progressões silábicas, gerando no interlocutor a percepção de uma fala normal. Em 1999, a ASHA apresentou uma definição clássica: “Fluência é um aspecto de produção da fala que diz respeito à continuidade, suavidade, velocidade e/ou esforço, com as quais as unidades da linguagem fonológica, lexical, morfológica e/ou sintática são expressas”. O falante fluente consegue executar longas sequências de sílabas sem esforço, apresentando emissões rápidas e contínuas, permitindo que sua fala seja o reflexo próximo de sua intenção (Andrade, 2004). Em 2008, Martins e Andrade desenvolveram uma investigação robusta e muito relevante que caracterizou o perfil da fluência de falantes fluentes do Português Brasileiro de todas as idades. As autoras avaliaram a tipologia e a frequência das disfluências, bem como a velocidade de fala, e concluíram que a fluência se estabelece funcionalmente já no período pré-escolar e se mantém no decorrer dos anos, pois é uma manifestação do desenvolvimento normal das habilidades comunicativas ao longo da vida. No entanto, a produção de uma fala fluente é uma habilidade multifacetada e complexa (Rossi et al., 2009). O falante precisa mover várias partes do trato vocal, com uma configuração eficiente e suave, permitindo desta forma, uma inteligibilidade contínua (Andrade et al., 2014). Segundo Oliveira e Bohnen (2022) a fluência é um processo complexo e multifatorial, e depende de: (1) fatores inerentes à própria pessoa: o genótipo, a integridade e o funcionamento do seu sistema nervoso central, a habilidade linguística e motora, os aspectos auditivos e os aspectos da sua personalidade, e; (2) 22 fatores externos: a demanda linguística do ambiente comunicativo, a pressão do tempo e a velocidade da fala entre os interlocutores. Van Zaalen e colaboradores (2012) destacaram que a fluência representa um parâmetro que provê dados referentes à maturidade linguística do falante. De acordo com Segalowitz (2010), a fluência cognitiva diz respeito ao conhecimento linguístico subjacente à fala, ou seja, caracteriza a fluência do enunciado. Já a fluência de expressão são as características orais do enunciado que refletem a operação de processos cognitivos e estão relacionadas com aspecto temporal da fala. Considerada como uma habilidade da linguagem verbal, a fluência é crucial para a comunicação (Esmaili; Dabanloo; Vali, 2016), e representa uma das características que definem o ser humano (Chang et al., 2018). Em 2019, Correia e Andrade publicaram um artigo de cunho teórico, que consistiu em uma revisão não-sistemática da literatura que tinha como objetivo discutir o processo de avaliação fonoaudiológica da fluência mediante uma perspectiva de integralidade do cuidado. As autoras defenderam que a avaliação da fluência não se restringe à identificação das rupturas e aos cálculos de velocidade da fala, e afirmaram que esse processo avaliativo deve ser aprofundado e especializado. Com relação aos protocolos nacionais de avaliação da fluência, o mais reconhecido e que é amplamente utilizado no Brasil é o “Teste de Fluência” (Andrade, 2000). Esta avaliação é realizada em uma amostra de fala de 200 sílabas fluentes e caracteriza: a tipologia e a frequência das rupturas e a velocidade de fala (o número de sílabas por minuto e de palavras por minuto). No entanto, esse processo não é simples, por conta da variabilidade da fluência e de numerosos fatores envolvidos (Oliveira et al., 2020). Ao longo de quase três décadas de experiência com os transtornos da fluência, Oliveira e colaboradores, publicaram em 2020, o “Protocolo de Observação Clínica da Fluência” - PROCF (Oliveira, 2020). O uso do PROCF permite uma análise ágil em termos qualitativos e quantitativos da fluência do indivíduo, sem necessitar do registro audiovisual da amostra de fala. Em virtude da complexidade da análise qualitativa e quantitativa da amostra de 200 sílabas fluentes realizada no diagnóstico, o “Protocolo de Transcrição da Fala” (PROTRAF) (Oliveira et al., 2020) foi elaborado a fim de propiciar a organização dos diferentes arquivos necessários para a sistematização dos dados. Inicialmente as autoras propuseram a realização da transcrição da amostra de fala (200 sílabas fluentes), com o 23 auxílio de um computador e fones de ouvido, na qual são anotadas todas as disfluências. A metodologia foi apresentada de forma a viabilizar a análise qualitativa e quantitativa das disfluências, da velocidade de fala e de aspectos qualitativos que acompanham as disfluências. Portanto, a avaliação da fluência pode ser realizada de forma qualitativa e quantitativa, e na observação clínica é relevante que o fonoaudiólogo utilize protocolos e instrumentos para descrever a fluência (Silva; Alves; Oliveira e Britto, 2023). Em função do tema desta pesquisa, a seguir serão apresentados os dados da fluência da fala de pessoas com taquifemia. Em 2010, Oliveira e colaboradores caracterizaram e compararam a fluência de Pessoas Com Taquifemia (PCT – Grupo Pesquisa, GP) e falantes fluentes (Grupo Controle). A amostra foi composta por quatorze adultos, sete em cada grupo, entre 8 e 40 anos e 11 meses, com média de idade de 34,5 anos. O grupo de PCT (GP) apresentou maior fluxo de sílabas e palavras por minuto e maior quantidade de outras disfluências. As autoras concluíram que o perfil de fluência de pessoas com taquifemia é muito distinto dos falantes fluentes (Oliveira et al., 2010). Uma pesquisa que comparou a fala espontânea, narração de histórias, fala lentificada e fala durante uma palestra de 4 adultos com taquifemia com 4 adultos sem taquifemia, falantes do húngaro, concluiu que, na narrativa os adultos com taquifemia manifestaram uma fala mais rápida do que os adultos sem taquifemia (Bóna, 2012). A autora acredita que as características linguísticas e fonéticas da taquifemia são influenciadas por diferentes estilos de fala. Souza e colaboradores (2013) delinearam um estudo para comparar e quantificar as tipologias das disfluências, em dois grupos: um com 5 adultos com taquifemia (ACT) e o outro com 10 adultos com gagueira (ACG). Os resultados mostraram que em relação às tipologias, os adultos com taquifemia (ACT) apresentaram maior quantidade de interjeição e prolongamento, já os adultos com gagueira (ACG) apresentaram maior quantidade de bloqueio e hesitação (Souza et al., 2013). Outra pesquisa realizada com 20 indivíduos falantes do húngaro, na faixa etária entre 20 e 32 anos, distribuídos em um grupo de 10 adultos com taquifemia e um grupo controle com 10 adultos fluentes, mostrou que os adultos com taquifemia manifestaram maior velocidade articulatória (7,94 sílabas por segundo) quando comparados aos adultos fluentes (6,25 sílabas por segundo) (Bóna; Kohári, 2021). 24 2.2 Taquifemia Neste tópico será discorrido sobre a descrição da taquifemia, suas principais manifestações e os protocolos clínicos desenvolvidos para avaliação da mesma. Os primeiros artigos sobre a taquifemia foram publicados no final do século XIX, quando médicos e locutores fizeram uma força tarefa para se especializarem nos transtornos da comunicação (Duchan; Felsenfeld, 2021). Em 1717, Bazin fez descrições importantes sobre a taquifemia, mas não atribuiu o nome à condição (Weiss, 1964). O primeiro uso do termo “cluttering” apareceu em um artigo sobre um curso de elocução que, Thomas Sheridan, publicou em 1962. Apesar de ter passado muitos anos desde os primeiros estudos sobre taquifemia, ainda há uma dificuldade na definição do transtorno (Altinsoy; Özdemir; Torun, 2024; Neumann et al., 2017). Tendo em vista as considerações acima, os fonoaudiólogos preferem trabalhar com pessoas com gagueira quando comparadas com pessoas com taquifemia (St Louis; Hinzman, 1985). Os autores atribuíram este achado ao conhecimento restrito por parte dos fonoaudiólogos a respeito do tratamento da taquifemia. A evidência limitada sugere que a taquifemia e a gagueira geram percepções similares para o ouvinte (St. Louis; Hinzman, 1985). Outra pesquisa realizada com universitários dos cursos de história, relações públicas e estatística, concluiu que eles tiveram dificuldades em ouvir esses indivíduos ao completarem um questionário (Farrell, Blanchet, Tillery, 2015). Entre as diversas descrições do transtorno, a definição mais amplamente conhecida e aceita, advém do Lowest Common Denominator (LCD), proposto por St Louis e Schulte em 2011: A taquifemia é um distúrbio da fluência caracterizado pela velocidade de fala percebida como rápida e/ou irregular, acompanhada de no mínimo um dos seguintes sintomas: 1. aumento na ocorrência das disfluências, sendo que a maioria não é típica da gagueira; 2. coarticulação entre os sons; 3. pausas em posições atípicas. A Associação Internacional de Taquifemia (International Cluttering Association, ICA) é composta por pesquisadores que são referências mundiais na produção científica sobre o transtorno. As missões dessa associação envolvem desenvolver instrumentos de avaliação e terapêuticos, traduzir para diversos idiomas para que todos os fonoaudiólogos clínicos, pessoas com taquifemia (PCT) e até mesmo médicos possam ter acesso e aumentar o conhecimento sobre a taquifemia, além disso, realizar conferências. Por isso, é importante destacar que dentro do comitê internacional, existem representantes de cada 25 país. No website eles descreveram uma definição de acordo com experiências relatadas pelas próprias pesosas com taquifemia. De acordo com a tradução para o português, a definição seria: a taquifemia é um transtorno da comunicação que afeta a capacidade de transmitir mensagens de uma forma clara e/ou concisa. As pessoas com taquifemia relatam que os ouvintes não as entendem e atribuem esse fato a alteração na velocidade de fala e a falta de organização do seu discurso. Algumas pessoas disseram que receberam comentários como: “de onde veio esse comentário”? ou “vá mais devagar” [ICA, 2024, tradução nossa]. Em 2018, o comitê da ICA reuniu os renomados pesquisadores da área para trabalharem na conceitualização da taquifemia, o chamado “Clinical Conceptualization of Cluttering” (Myers et al., 2018). Esses pesquisadores acreditam que para conceituar a taquifemia, deve ser considerada a descrição verbal dos sintomas, a análise de vídeos e áudios de pessoas com taquifemia (PCT), as experiências dessas pessoas e de seus familiares, além das descrições teóricas do transtorno. Com relação às manifestações clínicas, é de consenso da comunidade científica que há amplo espectro de manifestações da taquifemia (Scott, 2019; Oliveira et al., 2013). Por isso, é considerada um transtorno multidimensional (Bóna, 2019; Duchan; Eggers; Eerdenbrugh, 2018; Myers; Bakker, 2014; Myers et al., 2018; Santana; Oliveira, 2014; Ward, 2011), complexo (Duchan; Felsenfeld, 2021; Santana; Oliveira, 2014), heterogêneo (Alm, 2010; Myers et al., 2018) e com variabilidade nas manifestações clínicas (St. Louis; Scott, 2020). Por meio da análise das manifestações clínicas apresentadas pelas pessoas com taquifemia, Van Zaleen, Wijnen e Jonckere (2009), propuseram dois subtipos da taquifemia: sintática e fonológica. A taquifemia sintática está relacionado à problemas na codificação gramatical e à recuperação de palavras no momento da fala rápida. Tais manifestações ocorrem com mais frequência em situações linguísticas complexas e são representadas pelas outras disfluências ou disfluências comuns, como repetição de palavras não monossilábicas, repetição de frases, interjeição, revisão e hesitação. A taquifemia fonológica refere-se a problemas na codificação fonológica e é caracterizada por erros estruturais, como a coarticulação de sílabas e/ou palavras acompanhadas pela fala rápida, especialmente em palavras polissílabas. No entanto, esta classificação não 26 tem sido utilizada nas pesquisas científicas, mas reforça a heterogeneidade do quadro clínico da taquifemia. Em cada pessoa acometida pelo transtorno ocorre a interação das diversas manifestações, produzindo assim a percepção da “forma taquifêmica de falar”, conforme descrito por pesquisadores (Myers, 1992, 2011; Myers; Bakker, 2014). A descrição de St. Louis e Schulte (2011) apresenta as seguintes características da taquifemia: velocidade de fala aumentada e/ou irregular, fluxo da fala disfluente, coarticulação excessiva e uso inadequado das pausas. Já a visão contemporânea da taquifemia tem um olhar mais abrangente, cuja principal manifestação que impacta negativamente na comunicação é o discurso confuso e pouco assertivo, devido à falta de clareza e coesão (ICA, 2022). Assim, o interlocutor tem dificuldades de compreender a mensagem, não somente em função da falta de organização da linguagem, mas também devido à fala rápida. Portanto, essa descrição permite descrever algumas manifestações clínicas importantes, como o: aumento da velocidade de fala, a linguagem confusa e o prejuízo na inteligibilidade. A respeito da velocidade de fala de pessoas com taquifemia, vários autores descreveram a presença da fala rápida e/ou irregular (Bóna, 2016; 2012; Daly, 2006; Myers; Bakker, 2014; Myers et al., 2018; Oliveira et al., 2010 Scott, 2019; St. Louis; Scott, 2020; St. Louis; Schulte; Ward et al., 2015). A presença de uma velocidade de fala irregular implica no fato de que não necessariamente o fluxo de sílabas e de palavras por minuto de uma pessoa com taquifemia precisa exceder os valores de normalidade (Lees; Boyle; Woolfson, 1996; St. Louis; Schulte, 2011), neste sentido, a fala rápida pode ser diagnosticada perceptualmente, e não objetivamente por meio de medidas (Scott, 2019). Há de considerar também que, algumas pessoas com taquifemia podem iniciar seu discurso com uma velocidade adequada, no entanto, gradativamente vão apresentando uma fala cada vez mais rápida, fenômeno este conhecido como festinação (Daly, 2006). Outra manifestação clínica da taquifemia que está associada com o aumento da velocidade de fala é o uso inadequado das pausas, que pode ocorrer com menor duração e em menor quantidade do que o esperado (Myers; Bakker, 2014; Sick, 2004). Uma investigação caracterizou as pausas de sete adultos que apresentavam fala rápida (ACFR), sete adultos com taquifemia (ACT) e sete adultos fluentes. A idade dos adultos variou de vinte a trinta e dois anos, e foi coletada amostra de fala espontânea sobre o trabalho, estudo e hobbies. Os resultados mostraram diferença significativa entre os grupos quanto à frequência e duração das pausas. A investigação concluiu que as pausas de adultos com 27 taquifemia (ACT) foram curtas, no entanto foram semelhantes em relação à localização quando comparadas ao grupo fluente (Bóna, 2016). A autora concluiu que o uso atípico de pausas pode ser considerado uma das características centrais da taquifemia. A associação da pausa com a velocidade de fala ficou evidente no estudo de Van Zaalen e Reichel (2014), no qual as autoras descreveram que pausar a fala é uma habilidade que deve ser trabalhada na terapia de pessoas com taquifemia, visando à redução da velocidade de fala, a precisão articulatória e o aumento da inteligibilidade da fala, além de permitir padrões respiratórios adequados. A velocidade de fala rápida e/ou irregular pode comprometer a inteligibilidade da fala (Oliveira et al., 2010, 2013; Van Zaalen; Reichel, 2014), que é uma característica importante da taquifemia (ICA, 2022; LaSalle; Wolk, 2011; Santana; Oliveira, 2014). Uma investigação analisou os dados relevantes da história clínica de oito adultos com taquifemia, falantes do Português Brasileiro (Santana; Oliveira, 2014). As autoras concluíram que todos apresentaram percepção da velocidade de fala aumentada e metade dos adultos relatou o prejuízo na inteligibilidade da fala. Outros pesquisadores associaram o prejuízo na inteligibilidade da fala de pessoas com taquifemia à coarticulação excessiva dos sons (Van Zaalen; Wijnen; Jonckere, 2009) e à imprecisão articulatória (Neumann et al., 2017). Especificamente a taquifemia é considerada um transtorno da fluência, por isso, as disfluências na fala desta população, principalmente o excesso de outras disfluências, é uma característica muito frequente (Oliveira et al., 2010, 2013; Santana; Oliveira, 2014; Scott, 2019; Souza et al., 2013; St. Louis; Schulte, 2011), podendo inclusive indicar a gravidade do transtorno (Myers; St. Louis; Faragasso, 2008; Myers et al., 2012). Interjeições, revisões e hesitações foram as tipologias mais frequentes na fala de pessoas com taquifemia (Daly; Burnett, 1999; Myers et al., 2012; Souza et al., 2013). Para alguns pesquisadores o aumento da disfluências pode estar relacionado com o aumento da velocidade de fala (Oliveira et al., 2010, 2013), enquanto outras investigações não encontraram esta associação (Bakker et al., 2011; Bóna, 2016; Myers et al., 2012). Myers e colaboradores, em 2012, realizaram um estudo a fim de examinar a natureza e a frequência das disfluências em pessoas com taquifemia. Para isso, a amostra do estudo foi composta por 38 indivíduos, sendo 18 Adultos com Taquifemia (ACT) e 20 Adultos Fluentes (AF) e a média de idade dos grupos foi de 22 anos. Foram coletadas diversas tarefas de fala, entre elas: repetição de frases, fala espontânea e leitura. Os resultados apresentados mostraram que apenas duas tipologias, revisão e a repetição de 28 palavras, não foram diferentes significativamente entre os grupos quanto à natureza e a frequência. Outros estudos mostraram que as disfluências com maior ocorrência na fala de pessoas com taquifemia foram as interjeições, revisões e palavras não terminadas (Myers; St. Louis, 1999; Oliveira et al., 2010). Ward (2011) acredita que o excesso de hesitações é coerente com a dificuldade que as pessoas com taquifemia apresentam em acessar o léxico (Ward, 2010), e as revisões refletem a desorganização da linguagem existente em alguns casos (Logan; LaSalle, 1999). Oliveira e colaboradores (2010) compararam as disfluências de um Grupo Pesquisa (GP), composto por sete Pessoas com Taquifemia (PCT – GP) e o Grupo Controle (GC), composto por sete pessoas fluentes, pareadas por sexo e idade ao GP. Os resultados mostraram uma média de 12,57 de outras disfluências (OD) no GP, maior do que o GC (média= 5,67). Em 2018, Bóna, delineou um estudo para analisar as disfluências de 27 adultos húngaros, nove com taquifemia, nove com fala extremamente rápida e nove fluentes, Como conclusão, a autora descreveu que as disfluências ocorreram com maior frequência na fala de adultos com taquifemia. O grupo de adultos com taquifemia mostrou muito mais disfluências complexas (duas ou mais disfluências associadas) e com maior duração quando comparado ao grupo de adultos fluentes. A autora sugeriu que essas disfluências complexas ocorrem devido a dificuldades linguísticas do falante com taquifemia. A articulação é um tema central na taquifemia. Há evidências de que as pessoas com taquifemia realizam uma coarticulação excessiva (Scott, 2019; St. Louis; Schulte, 2011), ou seja, a união atípica de sílabas ou de palavras que resulta em fala com omissões (principalmente de sílabas átonas), distorções e pausas no sequenciamento do discurso (Bóna, 2016; Souza et al., 2013). Além disso, pessoas com taquifemia podem manifestar articulação imprecisa (Alm, 2011; Hartinger; Mooshammer, 2008; St. Louis et al., 2007) e amplitude articulatória reduzida (Santana; Oliveira, 2014). A presença de dificuldades na linguagem de pessoas com taquifemia tem sido descrita na literatura (Bretherton-Furness; Ward, 2012; Oliveira et al., 2010; Santana; Oliveira, 2014; Souza et al., 2013; Van Zaalen; Wijnen; Jonckere, 2009). Entre as principais descrições encontradas estão a dificuldade de acesso ao léxico e a linguagem confusa (Scott, 2019; Van Zaalen; Reichel, 2019). A prosódia inadequada também foi descrita como uma manifestação da taquifemia (Oliveira et al., 2013; https://www.speechpathologygraduateprograms.org). Por fim, a naturalidade da fala é uma característica considerável para definir a fluência http://www.speechpathologygraduateprograms.org/ 29 (Ingham; Cordes, 1997). Existe amplo reconhecimento da necessidade de incorporar a naturalidade da fala como um objetivo terapêutico e medida de desfecho no tratamento da gagueira (Bloodstein, 1987; Ingham; Cordes, 1997), e por que não na taquifemia? A avaliação da naturalidade da fala pode ser um importante balizador da eficácia terapêutica uma vez que fornece uma medida do efeito geral de uma técnica ou de um tratamento (Davidow; Grossman; Edge, 2018). St Louis e colaboradores (2004) relataram que a naturalidade da fala de pessoas com taquifemia pode estar prejudicada em função das pausas e hesitações preenchidas excessivas (Porto; Picoloto; Oliveira, 2020; St. Louis; Hinzman, 1986). Um estudo brasileiro realizado em uma amostra de 14 indivíduos, de 8 a 40 anos e 11 meses de idade, divididos em: Grupo Pesquisa (GP), composto por sete Pessoas com Taquifemia (PCT), e Grupo Controle (GC), composto por sete pessoas fluentes, pareados por sexo e idade ao GP (Oliveira et al., 2010) mostrou que a velocidade de fala foi maior no GP: fluxo de sílabas por minuto (SPM) média do GP=295,28, média do GC=247,62 e de palavras por minuto (PPM) média do GP=179,46, média do GC=141,35. Pouco se sabe sobre a consciência e a autopercepção da pessoa com taquifemia (PCT). Os estudos não aprofundam neste tema (Giuffre et al., 2021). Porém, há um projeto em andamento, “Living With Cluttering” (Dam, 2021), para investigar como a taquifemia pode afetar no trabalho, nos estudos e nas ocasiões sociais e particulares das pessoas acometidas com este transtorno (Sønsterud, 2022). Em janeiro de 2025, foi publicado um artigo sobre o impacto da taquifemia na qualidade de vida do falante, para isso foram selecionadas 10 pessoas com taquifemia que participaram de uma entrevista (Giuffre; Scott, 2025). Como resultado, as autoras descreveram, que as pessoas com taquifemia apresentam sentimentos negativos em relação ao transtorno e com isso, tendem a se isolar, no âmbito educacional e social, além disso, a maioria dos participantes, também comentaram dificuldades no âmbito profissional e destacaram a dificuldade em manter o emprego (Giuffre; Scott, 2025). St. Louis e colaboradores (2003) propuseram classificações perceptivas de amostras curtas de fala para dimensões como: inteligibilidade, naturalidade, regularidade da velocidade de fala, precisão geral de articulação e desorganização da linguagem. Os autores também destacaram que baseado na prática clínica e científica, a análise da prosódia e as habilidades discursivas devem ser abordadas. A taquifemia ganhou um certo reconhecimento recentemente e algumas ferramentas de avaliação foram desenvolvidas no intuito de gerar conhecimento acerca 30 deste transtorno. Abaixo serão apresentados os protocolos desenvolvidos que podem ser utilizados no processo diagnóstico da taquifemia, como ferramentas de rastreio e avaliação do grau da gravidade do transtorno. O Inventário Preditivo de Taquifemia (Predictive Cluttering Inventory - PCI) (Daly, 2006) foi um dos primeiros protocolos elaborados especialmente para esta população. O inventário foi elaborado a partir de uma lista das 33 principais manifestações relacionadas à taquifemia descritas por 60 especialistas em fluência (Myers; Bakker, 2014). O Inventário Preditivo da Taquifemia já foi citado em 16 estudos científicos realizados em diversos países, como Bélgica, Brasil, Estados Unidos, Hungria e Reino Unido (Bóna; Kohári, 2021; Borsel; Dor; Rondal, 2008; Bretherton-Furness; Myers; Bakker, 2014; Perrucini et al., 2017; Van Zaalen; Reichel, 2017; Ward, 2012). Neste sentido, é possível sugerir que exista uma validação empírica deste instrumento. Dos 16 artigos, a maioria (nove) utilizou o instrumento na metodologia, principalmente como critério de inclusão dos participantes (Borsel; Dor; Rondal, 2008; Bretherton- Furness; Kelkar; Mukundan, 2016; Oliveira et al., 2013; Perrucini et al., 2017; Santana; Oliveira, 2014; Souza et al., 2013; Van Zaalen; Reichel, 2017; Ward, 2012; Ward et al., 2015). No entanto, alguns pesquisadores realizaram algumas críticas com relação ao inventário da forma original proposta, e concluíram que esse instrumento não deve ser usado para fins de diagnóstico, mas sim como um instrumento de rastreio para a taquifemia (Altinsoy; Özdemir; Torun, 2024; Neumann et al., 2017; Van Zaalen; Wijnen; Jonckere, 2009). Neste sentido, há uma versão atualizada, revisada e validada do inevntário que, após algumas modificações na distribuição das características e, na pontuação do instrumento foi publicada (Van Zaalen; Wijnen; Jonckere, 2009). O Check-list of Cluttering & Associated Features (COCAF-4) (Ward, 2019) é uma versão revisada do original COCAF (Ward, 2017) e foi desenvolvido a fim de auxiliar os fonoaudiólogos clínicos durante a avaliação com a função de levantar um possível diagnóstico com base nas manifestações que o indivíduo apresentar. O check-list foi baseado nas definições do Lowest Common Denominator (LCD) (St Louis; Schulte, 2011), é de fácil aplicabilidade e o seu uso é indicado para crianças e adultos. Bakker e colaboradores desenvolveram em 2005 um software para complementar a avaliação, o Cluttering Assessment Program (CLASP) que é uma ferramenta gratuita a fim de classificar o grau da gravidade da taquifemia. No software os parâmetros para avaliação são: velocidade de fala e sua regularidade, disfluências, inteligibilidade da fala, 31 habilidade discursiva, organização da linguagem, análise da prosódia e da articulação (Bakker et al., 2005). No entanto, a falta de atualizações do software dificultou o acesso e, talvez por esse motivo ele não é instrumento muito utilizado. 2.3 Fala rápida Tendo em vista que, a fala rápida é uma das principais manifestações da taquifemia, torna-se trivial analisar essa característica com muita cautela. Inclusive porque, não necessariamente uma pessoa que fala rápido apresenta taquifemia ou qualquer distúrbio na comunicação. Em 2011, Bakker definiu a velocidade de fala de “persons who exhibit exceptionally rapid speech” - ERS, como diferente das pessoas fluentes e das pessoas com taquifemia, pois elas não apresentavam clinicamente características que são específicas da fluência de fala das pessoas fluentes e de pessoas com taquifemia (PCT). Portanto, a comparação entre pessoas com taquifemia (PCT) e pessoas com fala rápida é relevante, porque a taxa de elocução de ambos os grupos é aumentada. Uma pesquisa realizada na Hungria teve por objetivo comparar as estratégias de pausas em três grupos: adultos com taquifemia (ACT), adultos fluentes (AF) e adultos com fala rápida (ACFR) (Bóna, 2016). Em cada grupo havia sete participantes, sendo seis homens e uma mulher. A autora concluiu que existe uma diferença entre os grupos quanto à duração, localização e frequência das pausas, pois os adultos com fala rápida (ACFR) apresentaram menos pausas em seu discurso, porém elas foram mais longas do que as pausas de adultos com taquifemia (ACT). Bóna, em 2019, publicou um artigo que analisou e comparou as disfluências apresentadas por três grupos: adultos com taquifemia (ACT), adultos fluentes (AF) e adultos com fala rápida (ACFR). Cada grupo foi composto por nove participantes, sendo cinco homens e quatro mulheres. A idade dos participantes variou entre 20 e 32 anos. Cada participante foi gravado falando espontaneamente sobre os tópicos: família, educação, trabalho e hobbies. Os resultados apresentados permitiram identificar que as disfluências complexas ocorrem com maior frequência em adultos com taquifemia (ACT) quando comparados aos adultos com fala rápida (ACFR). No site do Instituto Brasileiro de Fluência (IBF) a taquifemia e taquilalia foram apresentados de forma distinta. A taquifemia foi definida pela Instituto Brasileiro de Fluência (IBF) como: 32 A taquifemia é caracterizada por uma taxa de articulação (velocidade de fala) elevada, suficientemente intensa para prejudicar a inteligibilidade da mensagem. Entretanto, dois outros sintomas também são obrigatórios para o diagnóstico de taquifemia: aumento significativo no número de hesitações/disfluências comuns e pouca consciência do distúrbio de fluência. A taquilalia foi definida pelo Instituto Brasileiro de Fluência (IBF) como: A taquilalia é caracterizada por uma taxa de articulação (velocidade de fala) elevada, suficientemente intensa para prejudicar a inteligibilidade da mensagem. Não ocorre aumento significativo no número de hesitações/disfluências comuns ou gaguejadas. Também não estão presentes outras alterações de linguagem, como dificuldades sintáticas ou dificuldades com macroestruturas textuais (discurso confuso). No Inventário Preditivo de Taquifemia (IPT) - (Predictive Cluttering Inventory – PCI – Daly, 2006) original e na versão revisada (Van Zaalen; Wijnen; Jonckere, 2009), a taquilalia é um dos parâmetros a ser observado para pontuação. Ela se encontra na seção “motor-fala”, destacando assim que a taquilalia é uma manifestação clínica da taquifemia, e por isso precisa ser investigada. Judit Bóna, uma pesquisadora renomada na área, destacou a importância de comparar os grupos de pessoas com taquifemia, com fala rápida e fluentes a fim de realizar um diagnóstico correto e contribuir para as informações científicas sobre a taquifemia (Bóna, 2016). Apesar da relevância do tema, observa-se que a literatura a respeito de “persons who exhibit exceptionally rapid speech” - ERS é limitado, visto que a maioria dos estudos é de apenas uma autora, o que evidencia a necessidade de mais pesquisas e análises detalhadas e contextualizadas sobre o tema. 2.4 Velocidade de fala A velocidade de fala é um assunto fundamental nesta pesquisa, uma vez que a taquifemia foi descrita como um transtorno cuja principal característica é a fala rápida ou irregular. A avaliação da velocidade de fala permite obter informações sobre a fluência, conforme descreveu Starkweather em 1991, bem como sobre o desempenho motor da fala e a coordenação dos processos respiratório, fonatório e articulatório (Hall; Amir; Yairi, 1999; Tasko; Mcclean; Runyan, 2007; Tumanova et al., 2011). A análise do parâmetro 33 de velocidade de fala propicia tanto a investigação da destreza, agilidade e precisão articulatória, como da carga informacional fluente veiculada (Santos et al., 2019). Acredita-se que, quando o falante apresenta uma fala em velocidade adequada, sua mensagem mostra-se muito mais clara em termos de inteligibilidade e produção da informação, quando comparada com uma fala rápida ou muito lenta (Oliveira; Correia; Di Ninno, 2017). De acordo com Peres e colaboradores (2024), a velocidade de fala é o produto de três processos neuromotores: (1) a medida da quantidade de fluxo de informação produzida em um determinado espaço de tempo (Juste et al., 2016); (2) a velocidade em que os articuladores se movem para produzir o enunciado, ou seja, a taxa de articulação, e; (3) o tempo de pausa entre os segmentos (Peres et al., 2024). Sendo assim, alguns fatores interferem na velocidade de fala (Bóna; Kohári, 2021), como o aumento na taxa articulatória e a diminuição no tempo de pausa que ocasionam uma fala mais rápida (Peres et al., 2024). Alguns estudos que investigaram a velocidade de fala em pessoas com taquifemia serão apresentados a seguir. Oliveira e colaboradores (2010) descreveram que a velocidade de fala foi maior no grupo de pessoas com taquifemia quando comparados aos fluentes (grupo comparativo). O fluxo de sílabas por minuto (SPM) apresentou uma média de 295,28 nos adultos com taquifemia, enquanto a média dos adultos fluentes foi de 247,62, e de palavras por minuto (PPM) foi de 179,46 no GP e 141,35 no GC. Bóna, em 2012, comparou quatro tarefas de fala, em dois grupos, um grupo de adultos com taquifemia (ACT) e outro grupo de adultos fluentes (AF). As tarefas eram: fala espontânea, narrativa, fala durante uma palestra e fala lenta induzida. A amostra foi constituída por oito adultos húngaros, três homens e uma mulher e a idade variou entre 20 e 40 anos, sendo que o grupo comparativo foi pareado por sexo e idade ao grupo com taquifemia. Os resultados mostraram que o grupo de ACT apresentou velocidade fala rápida quando comparado com o grupo AF. Um estudo brasileiro caracterizou os achados relevantes da história clínica de adultos com taquifemia (ACT) (Santana; Oliveira, 2014). A amostra foi composta por oito ACT, sendo sete do sexo masculino e um do sexo feminino, com média de idade de 25,25 anos e desvio-padrão (DP) de 9,0. Os fluxos de SPM variaram de 218 a 315, e os fluxos de PPM variaram de 122 a 180, valores estes maiores que os valores normativos propostos por Martins e Andrade (2008). Portanto, as autoras concluíram que os adultos 34 com taquifemia apresentaram aumento na velocidade de fala quando comparados com falantes fluentes. Perrucini e colaboradores (2017) realizaram um estudo de comparação entre a velocidade de fala e frequência das disfluências entre 8 adultos com taquifema (ACT) e 8 adultos fluentes (AF), com uma média de idade de 33,2 anos. A avaliação ocorreu tanto na fala espontânea quanto na leitura, em duas condições de escuta: retroalimentação auditiva habitual (RAH) e, posteriormente, com retroalimentação auditiva atrasada (RAA). A velocidade de fala e a frequência das disfluências foram maiores no grupo de ACT. No entanto, o efeito da RAA auxiliou os adultos com taquifemia, pois houve uma redução significativa do fluxo de sílabas por minuto na fala espontânea, além de diminuir a quantidade das outras disfluências. Em 2021, Bóna e Kohári, realizaram um estudo que teve como amostra 20 adultos falantes do húngaro, a idade entre 20 e 32 anos, distribuídos em um grupo composto por dez adultos com taquifemia (ACT) e um grupo composto por dez adultos fluentes (AF). Como resultado, a pesquisa concluiu que o grupo de ACT manifestou maior velocidade articulatória (7,94 sílabas por segundo) quando comparado ao grupo de AF (6,25 sílabas por segundo). Na literatura compilada, existem propostas diferentes para análise da velocidade de fala, no entanto, não há um consenso sobre a melhor metodologia para tal. Na prática clínica, o uso de diferentes metodologias gera dificuldades na escolha de qual deve ser utilizada no ambiente clínico (Costa; Reis; Celeste, 2016). Um estudo brasileiro recente comparou duas metodologias de análise da velocidade de fala justamente para investigar se existe algum método mais preciso (Peres et al., 2024). As metodologias comparadas foram: a metodologia proposta por Andrade (2023) e a metodologia proposta por Darling-White e Banks (2021), nomeadas no artigo como metodologia A e W, respectivamente. A metodologia A “para pessoas falantes do português brasileiro, com e sem queixa de alterações da fluência da fala. Esse método de avaliação do tempo de velocidade de fala analisa o número de palavras e sílabas por minuto em trecho de fala espontânea contendo 200 sílabas fluentes” (Peres et al., 2024, p.2). A metodologia W foi direcionada para pessoas falantes do português brasileiro, com e sem queixa de alterações da fluência da fala. Esse método de avaliação do tempo considera apenas os trechos fluentes da amostra de fala. A metodologia se mostrou mais 35 complexa, pois utiliza-se um cronômetro que se sujeita a reação do avaliador, sendo necessário ativá-lo e desativá-lo nas pausas e nas disfluências. A metodologia A apresenta maior praticidade, mas também é trabalhosa no momento da transcrição. As autoras concluíram que as duas metodologias são apropriadas para a medição da velocidade de fala (Peres et al., 2024). Por fim, há investigações que apresentam os valores de referência da velocidade de fala para diferentes regiões do Brasil (Costa; Reis; Celeste, 2016; Marchetto, 2000; Martins; Andrade, 2008; Santos et al., 2019; Silva, 2014), e essas informações são relevantes no processo diagnóstico da fluência, especialmente na avaliação da velocidade de fala. 36 3 OBJETIVOS E HIPÓTESES 37 3.1 Objetivo geral O objetivo geral deste estudo foi caracterizar a fluência da fala de adultos com taquifemia, com fala rápida e adultos fluentes. 3.2 Objetivo específico 1: Caracterizar a fluência da fala habitual nos seguintes grupos: Grupo de Adultos com Taquifemia (GAT), Grupo de Adultos com Fala Rápida (GAFR) e no Grupo Comparativo (GC). Hipótese: acredita-se que o GAT e o GAFR apresentarão maiores fluxos de sílabas e de palavras por minuto e maior frequência das disfluências quando comparados ao GC. 3.3 Objetivo específico 2: Comparar os resultados do Protocolo da Avaliação da Taquifemia (PAT) entre os grupos quanto à: velocidade de fala e sua regularidade, pausa, disfluências, articulação, linguagem, habilidades discursivas, prosódia, inteligibilidade e naturalidade da fala nas três condições - fala habitual, lenta e rápida induzida. Hipótese: acredita-se que o GAT apresentará maior comprometimento de todas as áreas analisadas quando comparado aos demais grupos, com exceção da velocidade de fala que deverá ser semelhante ao GAFR. 3.6 Objetivo específico 3: Verificar a autopercepção dos adultos em relação à fala habitual e lenta e rápida induzida nos grupos: Grupo de Adultos com Taquifemia (GAT), Grupo de Adultos com Fala Rápida (GAFR) e no Grupo Comparativo (GC). Hipótese: acredita-se que as respostas da autopercepção do GAT e GAFR em relação à fala lenta induzida e rápida induzida mostrarão maior desconforto, esforço e inteligibilidade e por outro lado, menor naturalidade quando comparadas à velocidade de fala habitual. Quanto aos adultos do GC, acredita-se que eles apresentarão grande variabilidade nas respostas. 38 4 MÉTODO 39 4.1 Aspectos éticos Este estudo foi conduzido de acordo com o Conselho Nacional de Saúde (Resolução 466/2012) e seguiu os princípios éticos que tratam sobre diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. O início da pesquisa ocorreu após a apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Filosofia e Ciências – CEP/FFC/UNESP e aprovação sob o parecer (N° 5.905.874), CAAE: 66712822.6.0000.5406 - (ANEXO A). Todos os convidados receberam as informações pertinentes à pesquisa: objetivos, explicação detalhada sobre os procedimentos utilizados, temporalidade, graus de riscos, resguardo da privacidade, consentimento sobre a sua participação na pesquisa e a utilização dos dados para fins científicos, e dessa forma, os que concordaram em participar confirmaram a anuência mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE. 4.2 Casuística Trata-se de um estudo exploratório descritivo. A amostra foi composta por 48 adultos, de ambos os sexos, na faixa etária de 19 a 55 anos e 11 meses. Os adultos selecionados para o estudo foram divididos em três grupos: - Grupo de Adultos com Taquifemia (GAT): composto por 10 adultos com idade entre 20 e 55 anos. - Grupo de Adultos com Fala Rápida (GAFR): composto por 14 adultos com idade entre 19 e 45 anos. - Grupo Comparativo (GC): composto por 24 adultos com idade entre 19 e 55 anos. Inicialmente foram selecionados 16 adultos do banco de dados do Laboratório de Estudos da Fluência (LAEF). Os registros audiovisuais das amostras de fala desses adultos foram analisados a fim de verificar os critérios de elegibilidade. Os 16 adultos elegíveis para participar da pesquisa foram avaliados no período de março a novembro de 2020. Os adultos do GAT e do GARF foram triados a partir do Laboratório de Estudos da Fluência (LAEF), alocado no Centro Especializado em Reabilitação - CER II, credenciado no Sistema Único de Saúde (SUS) e vinculado ao Departamento de Fonoaudiologia da UNESP, Câmpus de Marília. Os adultos do GC foram provenientes da comunidade local, da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC) – Câmpus de Marília e 40 da comunidade em geral, e pareados por idade e sexo aos grupos de pesquisa correspondentes. Na Tabela 1 apresentam-se os dados de distribuição de frequência absoluta e relativa em relação aos grupos de estudos: o Grupo de Adultos com Taquifemia (GAT) foi composto por 10 adultos, sendo eles, 6 (60%) do sexo masculino e 4 (40%) do sexo feminino; o Grupo de Adultos com Fala Rápida (GAFR) foi composto por 14 adultos, sendo eles, 11 (78,6%) do sexo masculino e 3 (21,4%) do sexo feminino, e por fim; o Grupo Comparativo (GC) foi composto por 24 adultos, sendo eles, 14 (58,3%) do sexo feminino e 10 (41,7%) do sexo masculino. Portanto, participaram do estudo um total de 29 adultos do sexo feminino (60,4%) e 19 do sexo masculino (39,6%). Observou-se que não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos na comparação do sexo masculino e feminino (Tabela 1). Tabela 1. Distribuição de frequência absoluta (N) e relativa (%) do sexo em relação aos grupos de estudo. GAT (N=10) GAFR (N=14) GC (N=24) Total (N=48) Sexo p-valor N % N % N % N % Masculino 6 60,0 3 21,4 10 41,7 19 39,6 0,163 Feminino 4 40,0 11 78,6 14 58,3 29 60,4 Nota: p-valor calculado pelo teste Exato de Fisher. Fonte: Elaborada pela autora. Legenda: GAT = Grupo de Adultos com Taquifemia; GAFR = Grupo de Adultos com Fala Rápida e GC = Grupo Comparativo. 4.3 Critérios de inclusão e de exclusão Os requisitos de inclusão dos participantes foram: assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, ser falante nativo do Português Brasileiro e ter idade cronológica entre 12 e 64 anos e 11 meses de idade. Os critérios de inclusão do grupo de adultos com taquifemia (GAT) foram: diagnóstico de taquifemia por profissional especialista da área; manifestar velocidade de 41 fala percebida como rápida e/ou irregular, acompanhada de no mínimo um dos seguintes sintomas: aumento na ocorrência das disfluências, sendo que a maioria não é típica da gagueira; coarticulação entre os sons; e pausas em posições atípicas. O critério de inclusão do grupo de adultos com fala rápida (GAFR) foi apresentar queixa de fala rápida, sem apresentar necessariamente prejuízos na fluência. Os critérios de inclusão do GC foram: não manifestar queixa de fala rápida, nem qualquer outro distúrbio da comunicação e ter histórico familial negativo para os distúrbios da fluência. Subsequentemente, foram excluídos os adultos que apresentaram um ou mais dos seguintes critérios de exclusão: alterações neurológicas ou auditivas, síndromes genéticas, deficiência intelectual, e/ou outras condições pertinentes que poderiam gerar erros no diagnóstico. A Tabela 2 apresenta a distribuição da média da idade e o desvio padrão nos grupos que compuseram a amostra. No Grupo de Adultos com Taquifemia (GAT) a média foi de 33,6 e o desvio padrão de 11,4. No Grupo de Adultos com Fala Rápida (GAFR) a média foi de 25,7 e o desvio padrão de 7,2. Com relação ao Grupo Comparativo (GC) a média foi de 29 e o desvio padrão de 9,7. No total, a média foi de 29 e o desvio padrão de 9,6. A análise estatística da comparação da idade entre os grupos não mostrou diferença significativa. Tabela 2. Comparação da média e desvio-padrão da idade entre os grupos de estudo. Grupos N Média DP p-valor GAT 10 33,6 11,4 GAFR 14 25,7 7,2 0,142 GC 24 29,0 9,7 Total 48 29,0 9,6 Nota: p-valor calculado pelo teste de Anova-one-way. Fonte: Elaborada pela autora. Legenda: N= Número; DP= Desvio-padrão. 42 4.4 Procedimentos Para a seleção da amostra, inicialmente foi utilizado o banco de dados do LAEF e, posteriormente, realizou-se a coleta dos novos participantes. Os adultos foram questionados oralmente sobre seus dados de identificação para seleção, por meio da aplicação dos critérios de inclusão e de exclusão. As Figuras 1 e 2 mostram os procedimentos da seleção dos participantes e de coleta das amostras de fala, separados por grupos: grupo de adultos com taquifemia (GAT), grupo de adultos com fala rápida (GAFR) e o grupo comparativo (GC). Figura 1. Fluxograma dos grupos de pesquisa. Fonte: Elaborada pela autora. Legenda: GAT = Grupo de Adultos com Taquifemia; GAFR = Grupo de Adultos com Fala Rápida. 43 Figura 2. Fluxograma do grupo comparativo. Fonte: Elaborada pela autora. Legenda: GAT = Grupo de Adultos com Taquifemia; GAFR = Grupo de Adultos com Fala Rápida. Após a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, todos os adultos foram submetidos à avaliação da fluência da fala, à aplicação do Protocolo de Avaliação da Taquifemia (PAT) (APÊNDICE A) e do Instrumento de Autopercepção da Fala (IAF) (APÊNDICE B). As avaliações foram realizadas em uma única sessão, iniciando-se pelo registro audiovisual da fala espontânea em velocidade habitual, seguido de um descanso de 2 minutos em repouso vocal. O segundo registro audiovisual foi realizado da fala lenta induzida, seguido de um descanso vocal de 2 minutos. Por fim, o terceiro registro audiovisual foi referente à fala rápida induzida. 4.4.1 Avaliação da fluência da fala Para a coleta das três amostras de fala de cada novo participante, foram utilizadas as mesmas sequências e procedimentos estabelecidos na metodologia. Para a avaliação da fluência da fala foram utilizados um computador com o microfone unidirecional acoplado da marca Audix modelo HT5, posicionado em um ângulo de 90º graus da boca do indivíduo, mantendo-se a distância aproximada de 15 cm 44 entre o microfone e a boca, uma câmera digital Sony (HDR – CX 350) e um tripé (Atek – Ômega). As amostras de fala foram coletadas por meio de registros audiovisuais de cada participante, com duração média de cinco minutos para cada amostra de fala, em uma sala sem interferência de ruídos externos e com iluminação adequada. Os participantes foram filmados com o intuito de obter amostras de fala com 200 sílabas fluentes. Sabe-se que a fala espontânea é uma tarefa de maior complexidade motora, é a mais adequada para avaliar a fluência de pessoas com gagueira (Costa; Martins-Reis; Celeste, 2016) e com taquifemia. Após a coleta das 3 amostras de fala, a saber velocidade habitual, lenta e rápida induzidas, foram realizadas as transcrições da fala por meio do PROTRAF – Protocolo de Transcrição da Fala (Oliveira et al., 2020), com o auxílio de um notebook e fones de ouvido supra-aurais. Em cada amostra foram transcritas 200 sílabas fluentes (Yairi; Ambrose, 1999). As tipologias das disfluências foram analisadas de acordo com a seguinte descrição: Disfluências Típicas da Gagueira (DTG): repetição de palavra monossilábica, repetição de parte de palavra, repetição de som, bloqueio, prolongamento, pausa, intrusão, e; Outras Disfluências (OD): hesitação, interjeição, revisão, repetição de segmento, repetição de frase, repetição de palavra não monossilábica, palavra não terminada (Campbell; Hill,1998; Gregory; Hill, 1993; Pinto; Schiefer; Ávila, 2013; Yairi; Ambrose, 1992, 1999). As seguintes medidas foram realizadas a partir da avaliação da fluência: - Frequência das disfluências: Outras Disfluências (OD), Típicas da Gagueira (DTG) e Total das Disfluências (TD). Para calcular a porcentagem de OD o número total de eventos de OD foi somado na amostra transcrita de 200 sílabas, depois multiplicado por 100 e dividido por 200. Os mesmos cálculos foram realizados para a frequência de DTG e do TD (ou seja, a soma das OD com as DTG). - Velocidade de fala: realizada em duas medidas – fluxos de sílabas por minuto (SPM) e de palavras por minutos (PPM). O número total de sílabas e de palavras foi dividido pelo tempo total de elocução e multiplicado por 60, para calcular os fluxos de SPM e PPM. Considerando-se as etapas que fazem parte do processo de avaliação da fluência da fala, a Figura 3 sintetiza todo esse processo. 45 Figura 3. Síntese das etapas do processo de avaliação da fluência. Fonte: Adaptada de Marconato (2020). Legenda: OD = Outras Disfluências; DTG = Disfluências Típicas da Gagueira; TD = Total de Disfluências. Para todos os adultos desta pesquisa, utilizou-se a mesma sequência dos procedimentos. Inicialmente, os adultos assistiram ao primeiro vídeo com um tema- estímulo na velocidade de fala habitual e, logo após, deveriam falar com a velocidade indicada sobre o mesmo tema; também se esclareceu que, após a amostra de fala, eles deveriam completar o Inventário de Autopercepção da Fala (IAF). Posteriormente foi apresentado o segundo vídeo com um tema-estímulo na velocidade de fala lenta, e seguiram os mesmos procedimentos descritos acima. Finalmente, foi apresentado o terceiro vídeo com um tema-estímulo na velocidade de fala rápida, e aplicados os mesmos procedimentos. Após a explicação, a avaliadora posicionou o microfone para gravar a fala do adulto e utilizou a câmera para filmá-lo durante a fala. Primeiramente, foi coletada a amostra de fala habitual, seguida pela a amostra de fala lenta induzida e, por fim, a amostra de fala rápida induzida. Vale ressaltar que o discurso dos participantes só foi interrompido com perguntas e comentários da avaliadora, quando foi preciso incentivar a sua continuidade para obter a amostra de fala representativa. Disponibilizou-se, aos 46 adultos, um intervalo de dois minutos de silêncio entre as coletas da amostra de fala habitual, lenta e rápida induzida. Avaliação da fala espontânea com velocidade de fala habitual (Fala Habitual -FH): Os adultos de todos os grupos, de maneira individual, receberam um tema-estímulo e tiveram que falar sobre ele. Foi mostrado ao adulto um vídeo em que uma fonoaudióloga demonstrou um exemplo de como deveria ser sua fala, seguido da seguinte orientação: “Você deverá falar de forma normal/habitual, da mesma maneira em que você costuma conversar com seus amigos e familiares. O tema será sua rotina, me conte o que você faz no seu dia a dia e aos finais de semana”, e então o adulto deveria falar sobre o tema proposto, enquanto a autora filmava, sem interrompê-lo. Avaliação da fala espontânea com velocidade de fala lenta induzida (Fala Lenta Induzida - FLI): Os adultos de todos os grupos, de maneira individual, receberam um tema-estímulo e tiveram que falar sobre ele. Foi mostrado ao adulto um vídeo em que uma fonoaudióloga demonstrou um exemplo de como deveria ser sua fala lenta, seguido da seguinte orientação: “Agora você deverá falar de forma mais lenta, mais devagar do que você costuma falar habitualmente. O tema será sobre feriados, comemorações de final de ano e demais festas que participa”, e então o adulto deveria falar sobre o tema proposto, enquanto a autora filmava, sem interrompê-lo. Avaliação da fala espontânea com velocidade de fala rápida induzida (Fala Rápida Induzida - FRI): Os adultos de todos os grupos, de maneira individual, receberam um tema-estímulo e tiveram que falar sobre ele. Foi mostrado ao adulto um vídeo em que uma fonoaudióloga demonstrou um exemplo de como deveria ser sua fala rápida, seguido da seguinte orientação: “Agora você deverá falar de forma bem rápida, como se tivesse pouco tempo para acabar sua fala. O tema será sobre hobbies e o que faz na sua profissão ou estudo”, e então o adulto deveria falar sobre o tema proposto, enquanto a autora filmava, sem interrompê-lo. 47 4.4.2 Confiabilidade da Avaliação da Fluência As avaliações foram realizadas pela autora do estudo. Para garantir a confiabilidade da transcrição e a análise da fluência, a pesquisadora principal solicitou parecer de duas avaliadoras com experiência na área da fluência (fonoaudiólogas mestrandas) e sem conhecimento prévio das amostras de fala a serem analisadas (habitual, lenta e rápida). As avaliadoras foram especialmente treinadas para a realização das transcrições e dos julgamentos das disfluências. Cada avaliadora recebeu o texto transcrito e um pen-drive com o arquivo das filmagens para serem julgadas. As porcentagens de concordâncias foram obtidas por meio da comparação dos resultados das análises. A confiabilidade interavaliadoras (pesquisadora mais duas avaliadoras) mostrou um índice de concordância de 85%, o que garantiu a confiabilidade dos dados. 4.4.3 Protocolo de Avaliação da Taquifemia (PAT) O protocolo de Avaliação da Taquifemia, o PAT, foi elaborado especialmente para complementar a avaliação da fluência nesta pesquisa, justamente porque diante da literatura compilada, há diversas manifestações envolvidas neste transtorno e que precisam ser consideradas ao realizar o diagnóstico fonoaudiólogico. Desta forma, foi realizado um amplo estudo dos protocolos propostos para avaliar a taquifemia, bem como das manifestações clínicas do transtorno. Após esta fase o protocolo foi elaborado e foi solicitado o parecer de uma avaliadora com experiência há mais de 30 anos na área da fluência. A avaliadora julgou como pertinente fazer parte as seguintes análises das amostras de fala dos participantes: velocidade de fala e sua regularidade, pausa, disfluências, inteligibilidade, articulação, linguagem, habilidades discursivas, prosódia e naturalidade da fala nas três condições de velocidade de fala: habitual, lenta induzida e rápida induzida. Para cada uma dessas manifestações consideradas no PAT havia três formas de classificá-las, a avaliadora classificou apenas uma, para os três grupos de estudo: GAT, GAFR e GC (APÊNDICE A). 4.4.4 Instrumento de Autopercepção da Fala (IAF) Após cada coleta de amostra de fala (com velocidade habitual, lenta induzida e rápida induzida), foi aplicado um instrumento para a avaliação da autopercepção do adulto sobre sua impressão relativa à esta condição de fala, conforto, naturalidade, esforço, velocidade e inteligibilidade. Portanto, cada adulto deveria responder como se sentiu em cada condição de velocidade de fala conforme esses itens. O instrumento foi 48 especialmente elaborado para esta pesquisa, a partir da escala analógica visual de autopercepção com escala de Likert de quatro pontos (discordo totalmente, discordo parcialmente, concordo parcialmente e concordo totalmente) (APÊNDICE B). 4.5 Análise estatística A princípio os dados foram organizados em planilhas eletrônicas no programa Microsoft Office Excel versão 2013 para a realização do tratamento estatístico. As variáveis categóricas (qualitativas) estão descritas pela distribuição de frequência absoluta (N) e relativa (%). A associação entre as variáveis categóricas foi analisada pelo teste Exato de Fisher e as comparações par a par pelo ajustamento Post-Hoc de Bonferroni. As variáveis numéricas (quantitativas) foram descritas pela média e desvio- padrão. A homogeneidade das variâncias foi verificada pelo teste de Levene e a comparação de médias independentes foi realizado o teste de Anova-one-way. Para analisar o efeito principal do grupo e da condição, como a interação entre grupo e condição sobre a média das variáveis numéricas foi realizada uma Anova mista de medidas repetidas com correção de Greenhouse-Geisser quando necessário, devido a violação do pressuposto de Esfericidade verificado pelo teste de Mauchly´s. As comparações Post-Hoc para média foram realizadas pelo teste de Bonferroni. O nível de significância adotado foi de 5% e os dados foram analisados no Software SPSS (versão 27.0). 49 5 RESULTADOS 50 Neste capítulo serão expostos os resultados deste estudo cujo objetivo foi caracterizar e comparar a fluência da fala de 48 adultos, sendo 10 do Grupo de Adultos com Taquifemia (GAT), 14 do Grupo de Adultos com Fala Rápida (GAFR) e 24 do Grupo Comparativo (GC). Para obter dados mais robustos e aprimorar a discussão, foram utilizados dois procedimentos especialmente desenvolvidos para este trabalho: o Protocolo de Avaliação da Taquifemia (PAT) e o Instrumento de Autopercepção da Fala (IAF). Com o intuito de facilitar a compreensão dos resultados, optou-se por distribuí- los em quatro partes: a primeira apresenta os dados da velocidade de fala, enquanto a segunda aborda as disfluências, a terceira foca nos dados do Protocolo de Avaliação da Taquifemia (PAT), e a quarta parte mostra a análise dos dados do Instrumento de Autopercepção da Fala (IAF). 5.1 Análise da velocidade de fala: fluxo de Sílabas Por Minuto (SPM) e fluxo de Palavras Por Minuto (PPM) dos grupos na fala habitual, lenta induzida e rápida induzida: A Tabela 3 apresenta a distribuição da média e do desvio padrão da velocidade de fala no quesito de Sílabas Por Minuto (SPM) nos grupos participantes do estudo nas três condições de velocidade de fala: habitual, lenta induzida e rápida induzida. Não houve diferença significativa no fluxo de sílabas por minuto entre os grupos, ou seja, observou- se um comportamento semelhante dos grupos nas três condições avaliadas. A análise intragrupo mostrou que em todos os grupos houve redução significativa dos fluxos de SPM na fala lenta induzida em relação à fala habitual, e aumento significativo dos fluxos de SPM na fala rápida induzida quando comparada à habitual. 51 Tabela 3. Comparação da média do fluxo de sílabas por minuto nos grupos participantes entre as condições de fala habitual, lenta induzida e rápida induzida. Grupo Condição Interação Sílabas por Minuto Grupo Média DP p-valor (a) p-valor (b) p-valor (c) GAT 262,5a 73,5 GAFR 278,2 a 32,6 Fala Habitual GC 259,1 a 46,7 Total 265,4 49,7 GAT 196,5b 55,2 GAFR 216,8b 41,7 Fala Lenta Induzida 0,236 <0,001** 0,916 GC 190,0b 47,0 Total 199,2 47,8 GAT 336,5c 86,7 GAFR 340,1c 44,1 Fala Rápida Induzida GC 316,3c 47,6 Total 327,5 56,7 Nota: (a) p-valor para diferença entre os grupos pelo teste de Anova mista de medidas repetidas com correção de Greenhouse-Geisser; ** indica efeito significativo da condição pelo teste de Anova mista de medidas repetidas com correção de Greenhouse-Geisser para p-valor (b) ≤ 0.050; (c) p-valor calculado para efeito de interação entre grupo e condição pelo teste de Anova mista de medidas repetidas com correção de Greenhouse-Geisser; Letras diferentes sobrescritas indicam diferenças significativas entre as condições dentro do grupo pelo teste Post-Hoc de Bonferroni para p-valor ≤ 0.050. Fonte: Elaborada pela autora. Legenda: GAT = Grupo de Adultos com Taquifemia; GAFR = Grupo de Adultos com Fala Rápida; GC = Grupo Comparativo; VF= Velocidade de Fala; SPM = Sílabas por Minuto; FH = Fala Habitual; FLI = Fala Lenta Induzida; FRI = Fala Rápida Induzida; DP = Desvio Padrão. A Tabela 4 apresenta a distribuição da média e do desvio padrão da velocidade de fala no quesito de Palavras Por Minuto (PPM) nos grupos participantes do estudo nas três condições de velocidade de fala: habitual, lenta induzida e rápida induzida. Não houve diferença significativa no fluxo de PPM entre os grupos, ou seja, observou-se um comportamento semelhante dos grupos nas três condições avaliadas. A análise intragrupo mostrou que houve redução significativa dos fluxos de PPM na fala lenta induzida em 52 relação à fala habitual, e aumento significativo dos fluxos de PPM na fala rápida induzida quando comparada à habitual, em todos os grupos participantes do estudo. Tabela 4. Comparação da média do fluxo de palavras por minuto nos grupos participantes entre as condições de fala habitual, lenta induzida e rápida induzida. Palavras por Minuto Grupo Condição Interação Grupo Média DP p-valor (a) p-valor (b) p-valor (c) GAT 144,0a 41,9 GAFR 155,5 a 26,0 Fala Habitual GC 141,2 a 26,3 Total 145,9 30,0 GAT 110,4b 32,5 Fala Lenta Induzida GAFR 120,5 b 27,6 0,364 <0,001** 0,666 GC 107,1 b 31,7 Total 111,7 30,6 GAT 183,6c 48,9 Fala Rápida Induzida GAFR 177,4 c 24,5 GC 170,9 c 24,3 Total 175,5 30,7 Nota: (a) p-valor para diferença entre os grupos pelo teste de Anova mista de medidas repetidas; ** indica efeito significativo da condição pelo teste de Anova mista de medidas repetidas para p-valor (b) ≤ 0.050; (c) p-valor calculado para efeito de interação entre grupo e condição pelo teste de Anova mista de medidas repetidas; Letras diferentes sobrescritas indicam diferenças significativas entre as condições dentro do grupo pelo teste Post-Hoc de Bonferroni para p-valor ≤ 0.050. Fonte: Elaborada pela autora. Legenda: GAT = Grupo de Adultos com Taquifemia; GAFR = Grupo de Adultos com Fala Rápida; GC = Grupo Comparativo; DP = Desvio Padrão. 53 5.2 Análise da frequência das disfluências: das Outras Disfluências (OD), Disfluências Típicas da Gagueira (DTG) e do Total das Disfluências (TD) dos grupos na fala habitual, lenta induzida e rápida induzida: A Tabela 5 apresenta a distribuição da média e do desvio padrão das outras disfluências (OD) nos grupos participantes do estudo nas três condições de velocidade de fala: habitual, lenta induzida e rápida induzida. Os resultados mostraram que houve diferença significativa entre os grupos quanto à frequência de outras disfluências. No teste Post-Hoc de Bonferroni foi possível observar que na fala habitual e na fala lenta induzida, os adultos com taquifemia e com fala rápida apresentaram maior quantidade de outras disfluências (OD) quando comparados aos adultos fluentes. Os adultos com taquifemia também manifestaram maior frequência de outras disfluências em relação aos adultos com fala rápida. Na fala rápida induzida, os adultos com taquifemia mostraram maior quantidade de outras disfluências (OD) quando comparados aos adultos do grupo comparativo. A análise intragrupo mostrou diferença significativa apenas para os adultos com fala rápida, que apresentaram menor quantidade de outras disfluências na fala rápida induzida quando comparados à fala habitual e lenta induzida. 54 Tabela 5. Comparação da média das outras disfluências nos grupos participantes entre as condições de fala habitual, lenta induzida e rápida induzida. Outras Disfluências Grupo Condição Interação Grupo Média DP p-valor (a) p-valor (b) p-valor (c) GAT 16,10ǂ‡ 5,99 GAFR 11,57ǂb 4,45 Fala Habitual GC 3,38 2,65 Total 8,42 6,66 GAT 15,40ǂ 9,37 Fala Lenta Induzida GAFR 13,21ǂb 7,76 GC 2,92 3,17 0,002* 0,004** 0,017*** Total 8.52 8,43 GAT 12,60ǂ‡ 10,27 GAFR 6,79a 3,68 Fala Rápida Induzida GC 3,42 2,12 Total 6,31 6,24 Nota: * indica diferença significativa entre os grupos pelo teste de Anova mista de medidas repetidas com correção de Greenhouse-Geisser para p-valor (a) ≤ 0.050; ** indica efeito significativo da condição pelo teste de Anova mista de medidas repetidas com correção de Greenhouse-Geisser para p-valor (b) ≤ 0.050; *** indica efeito significativo de interação entre grupo e condição pelo teste de Anova mista de medidas repetidas com correção de Greenhouse-Geisser para p-valor (c) ≤ 0.050; ǂ indica diferença significativa em relação ao grupo comparativo dentro de cada condição pelo teste Post-Hoc de Bonferroni para p-valor ≤ 0.050; ‡ indica diferença significativa em relação ao grupo de adultos com fala rápida dentro de cada condição pelo teste Post-Hoc de Bonferroni para p-valor ≤ 0.050; Letras diferentes sobrescritas indicam diferenças significativas entre as condições dentro do grupo pelo teste Post-Hoc de Bonferroni para p-valor ≤ 0.050. Fonte: Elaborada pela autora. Legenda: GAT = Grupo de Adultos com Taquifemia; GAFR = Grupo de Adultos com Fala Rápida; GC = Grupo Comparativo; DP = Desvio Padrão. A Tabela 6 apresenta a distribuição da média e do desvio padrão das disfluências típicas da gagueira (DTG) nos grupos participantes nas três condições de velocidade de fala: habitual, lenta induzida e rápida induzida. Os resultados mostraram que houve diferença significativa entre os grupos quanto à frequência de disfluências típicas da 55 gagueira. No teste Post-Hoc de Bonferroni observou-se que na fala habitual e lenta induzida, os adultos com taquifemia manifestaram mais disfluências típicas da gagueira (DTG) quando comparados aos adultos fluentes. Na fala lenta induzida os adultos com taquifemia manifestaram mais DTG em relação aos adultos com fala rápida. A análise intragrupo mostrou semelhança na quantidade de disfluências típicas da gagueira entre as condições nos três grupos avaliados. Tabela 6. Comparação da média das disfluências típicas da gagueira nos grupos participantes entre as condições de fala habitual, lenta induzida e rápida induzida. Disfluências Típicas da Gagueira Grupo Condição Interação Grupo Média DP p-valor (a) p-valor (b) p-valor (c) GAT 1,90ǂ 1,60 GAFR 0,57 0,65 Fala Habitual GC 0,83 1,13 Total 0,98 1,21 GAT 2,50ǂ‡ 1,27 Fala Lenta Induzida GAFR 0,79 0,89 0.001* 0.347 0.426 GC 0,58 0,72 Total 1.04 1.17 GAT 3,60 6,98 Fala Rápida Induzida GAFR 0,64 0,93 GC 0,75 0,85 Total 1,31 3,37 Nota: * indica diferença significativa entre os grupos pelo teste de Anova mista de medidas repetidas com correção de Greenhouse-Geisser para p-valor (a) ≤ 0.050; (b) p-valor calculado para efeito da condição pelo teste de Anova mista de medidas repetidas com correção de Greenhouse-Geisser; (c) p-valor calculado para interação entre grupo e condição pelo teste de Anova mista de medidas repetidas com correção de Greenhouse-Geisser; ǂ indica diferença significativa em relação ao grupo comparativo dentro de cada condição pelo teste Post-Hoc de Bonferroni para p-valor ≤ 0.050; ‡ indica diferença significativa em relação ao grupo fala rápida dentro de cada condição pelo teste Post-Hoc de Bonf