UNESP - Universidade Estadual Paulista Instituto de Química - Araraquara Departamento de Química Analítica DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DESENVOLVIMENTO DE IMUNOSSENSORES PARA AFLATOXINA B1 Marcos Vinicius Foguel Araraquara 2011 Marcos Vinicius Foguel DESENVOLVIMENTO DE IMUNOSSENSORES PARA AFLATOXINA B1 Dissertação apresentada ao Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Química. Orientadora: Profa. Dra. Hideko Yamanaka Coorientador: Dr. Antonio Ap. Pupim Ferreira Araraquara 2011 FICHA CATALOGRÁFICA Foguel, Marcos Vinicius F656d Desenvolvimento de imunossensores para aflatoxina B1 / Marcos Vinicius Foguel. – Araraquara : [s.n], 2011 93 f. : il. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Química Orientador: Hideko Yamanaka Coorientador: Antonio Aparecido Pupim Ferreira 1. Eletroanalítica. 2. Espectroscopia de impedância eletroquímica. 3. Amperometria. 4. CDtrodo. I. Título. Elaboração: Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação do Instituto de Química de Araraquara Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação DEDICATÓRIA “O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido. Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado. A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar duram uma eternidade” (Clarisse Lispector) “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis” (Fernando Pessoa) AGRADECIMENTOS A Deus, pois o que seria de mim sem a fé que tenho Nele. Aos meus pais, Miguel e Fátima, que com muito carinho, amor e apoio, não medem esforços para me ajudar a alcançar meus sonhos e objetivos. A minha irmã Carol e a minha sobrinha Ana Flávia por todo apoio, carinho e amor. E pelos momentos de alegria, diversão, risos e tristezas compartilhados. A toda a minha família que sempre com muito carinho me apóia e auxilia, em especial ao meu Avô André que sempre deu tanto amor e agora deixa tanta saudade. À Profª. Drª. Hideko Yamanaka pela confiança depositada, oportunidades dadas, amizade, ensinamentos profissionais e pessoais e ajuda durante todos esses 5 anos que trabalhamos juntos. Ao Dr. Antonio Aparecido Pupim Ferreira, meu pai científico, pela coorientação, confiança, paciência, ensinamento, amizade, incentivo, conselhos e por sempre ter uma palavra de conforto nos momentos difíceis. Ao Prof. Dr. Assis Vicente Benedetti que acompanhou meus projetos de perto e sempre esteve disposto a ajudar, discutir e contribuir no andamento dos trabalhos. Aos Professores Nelson R. Stradiotto, Maria Valnice Boldrin e Maria Del Pilar T. Sotomayor pelas discussões, auxílio e ensinamento. Ao Prof. Dr. Petr Skládal pela oportunidade, atenção e profissionalismo prestado durante meu estágio no “Biosensor Group” em Brno, República Checa. Aos integrantes do grupo pela imensa ajuda e amizade: Zdenka, Karel, Zeri, Honza, Šarka, Martin, Antonin e Katká; e aos amigos de fora do laboratório por ajudarem o tempo a passar: Gabriela, Profª Trnkova, Juliana, Guilherme, Anderson, Nayara e Michel... A todos vocês D kuji! Ao Prof. Dr. Nelson Ramos Stradiotto e a Profª. Drª. Iracilda Zeppone Carlos pelas valiosas sugestões no exame de qualificação. Aos amigos Glauco e Luciano, pois sei que posso contar com eles a qualquer momento e sempre estão ao meu lado. Seja para compartilhar felicidades, uma balada, uma piada, uma risada ou para dividir uma tristeza, uma lágrima. As minhas amigas e irmãs científicas Carol Venturini e Naira, sempre dispostas a conversar, discutir, rir, brincar, compartilhar ideias e experiências, aconselhar e me ouvir. Aos amigos Gustavo, Gabriela e Carol Rocha pela amizade, colaboração, conversas, discussões e auxílio. Aos integrantes e amigos do grupo de eletroanalítica pela amizade, colaboração e descontração durante os cafezinhos, em especial: Dani, Thaís, Luciana, Michelle, Juliano, Thiago, Tuane, Ademar, Paim, Josiel, Fabiana, Lahys, Dani Pott e Tina. Aos amigos Carol Rabal, Elaine, Higor e Vinicius, que começaram apenas como companheiros de academia e tornou-se uma gostosa e grande amizade. Aos amigos que conheci durante o mestrado, pelas conversas, risadas, distrações e companheirismo, em especial: as Angels (Ju, Michele e Néia), João, Blosson, Jefferson, Wanderson, Débora, Denise, Andréia Ianuskiewtz, Ana Cristina e Rosita. Aos amigos que fiz durante a graduação, que mesmo com a distância geográfica, ocupações diárias e contatos reduzidos, continuam nas minhas boas lembranças e no meu coração, em especial: Fer Begnini, Miller (Vareta), Raquel, Nathalie, Simone, Poliana, Alex (Michelin), Tamara, Nayara e Ana Elisa. Aos colegas do Danúbio Azul por tornar as vindas e idas de Araraquara um momento de alegria e diversão: Tháila, Ana Flávia, Jaqueline, André, João Pedro e Feijão. Às pessoas que me acolhem tão bem em Araraquara, desde 2005: Dona Luzia, Ivanir e Tia Luiza. À Profª. Drª. Patrícia H. Suegama pela realização e ajuda nas medidas de AFM. Às funcionárias da Seção Técnica de Pós-Graduação e da Biblioteca por sempre estarem à disposição para ajudar, informar e tirar dúvidas. A todos os funcionários do Instituto de Química, que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho. Ao Instituto de Química da UNESP pela infra-estrutura e acolhida durante esses anos. À FAPESP pelo suporte financeiro. E a todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho. CURRICULUM VITAE DADOS PESSOAIS Nome: Marcos Vinicius Foguel Data de Nascimento: 16 de fevereiro de 1987 Naturalidade: Limeira - SP Nacionalidade: Brasileiro Estado Civil: Solteiro Filiação: Pai - Miguel Foguel Mãe - Rosa Fátima de Almeida Foguel Profissão: Bacharel em Química Documento de Identidade: 34.321.948-7 SSP/SP Endereço para Correspondência: Rua João Baptista Stábile, 49 - Jd. N. Sra. das Graças - CEP: 13845-345 - Mogi Guaçu - SP e-mail: mvfoguel@yahoo.com.br FORMAÇÃO Básica Ensino Fundamental: Colégio Atenas, Alfenas - MG Ensino Médio: Colégio Integrado de Mogi Guaçu - SP Acadêmica GRADUAÇÃO Bacharel em Química junto ao Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” (UNESP) Araraquara-SP. Conclusão: dezembro de 2008. Iniciação Científica realizada junto ao Departamento de Química Analítica do Instituto de Química da UNESP - Araraquara-SP, sob a orientação da Profª. Drª. Hideko Yamanaka. Projetos: 1. “Modificação e caracterização de CDtrodo de ouro com monocamada de tiol e proteína de Trypanossoma. cruzi” de outubro de 2007 a outubro de 2008. Bolsa concedida pela FAPESP (Processo nº 2007/04227-9). 2. “Imobilização da proteína estreptavidina em matrizes híbridas orgânicas-inorgânicas preparadas por processo sol-gel” de setembro de 2006 a setembro de 2007. Bolsa concedida pela CNPq/PIBIC. PÓS-GRADUAÇÃO Mestrado em Química junto ao Departamento de Química Analítica do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” (UNESP) Araraquara-SP, sob a orientação da Profª. Drª. Hideko Yamanaka e coorientação do Dr. Antonio Aparecido Pupim Ferreira. Conclusão: junho de 2011. Projetos: 1. “Desenvolvimento de imunossensores para Aflatoxina B1” de março de 2009 a junho de 2011. Bolsa concedida pela Fapesp (Processo nº. 2008/07729-8). 2. Estágio no laboratório do “Biosensor Group” chefiado pelo Prof. Petr Skadal no Departamento de Bioquímica da “Masaryk University” em Brno, República Tcheca, de 31 de maio a 30 de setembro de 2010. Bolsa concedida pelo 7th Frame Program IRSES (PIRSES-GA-2008-230849) DISCIPLINAS CURSADAS NA PÓS-GRADUAÇÃO Disciplinas cursadas Créditos Carga Horária Frequência Conceito Metrologia em química e qualidade 12 180 100 A Técnicas eletroanalíticas II 12 180 100 A Métodos potenciométricos e espectrofotométricos aplicados à análise de substâncias orgânicas de importância nutricional em medicamentos, bebidas e alimentos 12 180 93 A Biossensores 08 180 100 A Tópico Especiais: Receptores e transdutores: Biossensores 05 75 100 A Seminários Gerais 05 TRABALHOS APRESENTADOS EM CONGRESSOS 1. GIORDANO, G. F.; GARBELLINI, G. S.; FOGUEL, M. V.; ALEGRET, S.; PIVIDORI, M. I.; YAMANAKA, H. Imobilização de anticorpo anti-aflatoxina B1 sobre eletrodos compósitos de grafite-epóxi contendo nanopartículas de ouro. In: 34ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Florianópolis - SP, 23 a 26 de maio de 2011. 2. SANTOS, G. P.; FOGUEL, M. V.; GARBELLINI, G. S.; FERREIRA, A. A. P.; SKLADAL, P.; MASCINI, M.; YAMANAKA, H. Immobilization of Oligopeptides on Gold CDtrode for the Development of Biomimetic Sensor for Pesticides. In: The 9th Spring Meeting of the International Society of Electrochemistry, Turku - Finlândia, 08 a 11 de maio de 2011. 3. FOGUEL, M. V.; FERREIRA, A. A. P.; BENEDETTI, A. V.; SKLADAL, P.; MASCINI, M.; YAMANAKA, H. Electrochemical Impedance Spectroscopy on Gold CDtrode Modified with p-ATP for Aflatoxin B1 Immunosensor Development. In: 20th World Congress on Biosensors, Glasgow - UK, 26 a 28 de maio de 2010. 4. FOGUEL, M. V.; YAMANAKA, H.; BENEDETTI, A. V.; FERREIRA, A. A. P. Impedância eletroquímica sobre CDtrodo de ouro modificado com SAM e anticorpo anti- aflatoxina B1. In: 17º Encontro da SBQ-Regional Interior Paulista Waldemar Saffioti, Araraquara - SP, 18 a 20 de outubro de 2009. 5. FOGUEL, M. V.; FERREIRA, A. A. P.; YAMANAKA, H. Amperometric immunosensor using gold CDtrodes and Tc85 protein from Trypanosoma cruzi. In: 7th International Congress of Pharmaceutical Sciences (CIFARP), Ribeirão Preto - SP, 06 a 09 de setembro de 2009. 6. FOGUEL, M. V.; YAMANAKA, H.; BENEDETTI, A. V.; FERREIRA, A. A. P. CDtrodo de ouro modificado com SAM de 4-(metilmercapto)benzaldeído no desenvolvimento de imunossensor. In: 6th Ibero-American Congress on Sensors (IBERSENSOR), São Paulo - SP, 24 a 26 de novembro de 2008. 7. FOGUEL, M. V.; YAMANAKA, H.; FERREIRA, A. A. P. Preparação de CDtrodos de ouro e modificação com SAM de 4-(metilmercapto)benzaldeído. In: XX Congresso de Iniciação Científica da Unesp, São José dos Campos - SP, 29 a 30 de outubro de 2008. 8. FOGUEL, M. V.; YAMANAKA, H.; FERREIRA, A. A. P. Construção e modificações do CDtrodo de ouro no desenvolvimento de imunossensor. In: XXXVIII Semana da Química, Araraquara - SP, 09 de outubro de 2008. 9. FOGUEL, M. V.; FERREIRA, A. A. P.; BENEDETTI, A. V.; YAMANAKA, H. Investigações sobre o comportamento enzimático da peroxidase (HRP) imobilizada diretamente sobre grafite. In: 16º Encontro da SBQ-Regional Interior Paulista Waldemar Saffioti, Franca - SP, 13 a 14 de novembro de 2007. 10. FOGUEL, M. V.; YAMANAKA, H.; BENEDETTI, A. V.; FERREIRA, A. A. P. Eletrodo de grafite modificado com enzima HRP para o estudo voltamétrico de pulso diferencial. In: XIX Congresso de Iniciação Científica da Unesp, 2007, Presidente Prudente - SP, 22 a 23 de outubro de 2007. PUBLICAÇÕES 1. FOGUEL, M. V.; SANTOS, G. P.; FERREIRA, A. A. P., YAMANAKA, H.; BENEDETTI, A. V. Amperometric immunosensor for Chagas disease using CD-R gold transducer (Submetido). Electroanalysis, 2011. 2. FOGUEL, M. V.; ULIANA, C. V.; TOMAZ, P. R. U.; MARQUES, P. R. B. O.; YAMANAKA, H.; FERREIRA, A. A. P. Avaliação da limpeza de CDtrodo construídos a partir de CD de ouro gravável/fita adesiva de galvanoplastia. Eclética Química (Araraquara), v. 34, n. 2, p. 59 - 66, 2009. PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS 1. 20th World Congress on Biosensors, Glasgow - UK, 26 a 28 de maio de 2010. 2. 17º Encontro da SBQ-Regional Interior Paulista Waldemar Saffioti, Araraquara - SP, 18 a 20 de outubro de 2009. 3. 7th International Congress of Pharmaceutical Sciences (CIFARP), Ribeirão Preto - SP, 06 a 09 de setembro de 2009. 4. Workshop Nacional sobre Biossensores, Araraquara - SP, 08 a 09 de outubro de 2009. 5. 6th Ibero-American Congress on Sensors (IBERSENSOR), São Paulo - SP, 24 a 26 de novembro de 2008. 6. XX Congresso de Iniciação Científica da Unesp, São José dos Campos - SP, 29 e 30 de outubro de 2008. 7. XXXVIII Semana da Química, Araraquara - SP, 09 de outubro de 2008. 8. IV Comemoração do Dia do Químico, Araraquara - SP, 18 de junho de 2008 9. 16º Encontro da SBQ - Regional Interior Paulista Waldemar Saffioti, Franca - SP, 13 e 14 de novembro de 2007. 10. XIX Congresso de Iniciação Científica da Unesp, 2007, Presidente Prudente - SP, 22 e 23 de outubro de 2007. 11. III Comemoração Dia do Químico, Araraquara - SP, 18 de junho de 2007. 12. VI TEJ - Treinamento Empresarial Júnior, Araraquara - SP, 25 de agosto de 2007. 13. XXXVII Semana da Química, Araraquara - SP, 23 a 28 de setembro de 2007. 14. XXXVI Semana da Química, Araraquara - SP, 25 a 29 de setembro de 2006. 15. II Comemoração Dia do Químico, Araraquara - SP, 21 de junho de 2006. 16. V TEJ - Treinamento Empresarial Júnior, Araraquara - SP, 26 de agosto de 2006. 17. XXXV Semana da Química, Araraquara - SP, 16 a 21 de outubro de 2005. 18. I Comemoração Dia do Químico, Araraquara - SP, 21 de junho de 2005. 19. IV TEJ - Treinamento Empresarial Júnior, Araraquara - SP, 12 de outubro de 2005. ATIVIDADES EXTRACURRICULARES 1. Membro da comissão organizadora dos seguintes eventos: 17º Encontro da SBQ- Regional Interior Paulista Waldemar Saffioti, Araraquara - SP, 18 a 20 de outubro de 2009; Workshop Nacional sobre Biossensores, Araraquara - SP, 08 e 09 de outubro de 2009; IV Comemoração do Dia do Químico, Araraquara - SP, 18 de junho de 2008; III Comemoração do Dia do Químico, Araraquara - SP, 18 de junho de 2007; II Comemoração do Dia do Químico, Araraquara - SP, 21 de junho de 2006. 2. Participação da Química Júnior Projetos e Consultorias, Empresa Júnior do Instituto de Química da UNESP - Araraquara, nos seguintes cargos: Gerente de Projetos (Gestão 2005/2006), Gerente de Marketing (Gestão 2006/2007), Gerente de Recursos Humanos (Gestão 2007/2008). RESUMO Muitas espécies de fungos pertencentes ao gênero Aspergillus sp. são capazes de contaminar e produzir micotoxinas em grãos e cereais, sendo responsáveis por doenças em animais e humanos. As espécies Aspergillus flavus e Aspergillus parasiticus são produtoras das aflatoxinas, que têm recebido grande atenção, devido a seus efeitos tóxicos no organismo como carcinogenicidade e mutagenicidade. Dentre os diversos tipos de aflatoxinas, destaca-se a aflatoxina B1, devido à alta potencialidade tóxica. Várias técnicas têm sido aplicadas na detecção desta toxina e o desenvolvimento de imunossensores eletroquímicos tem sido uma alternativa, devido à simplicidade, especificidade e alta sensibilidade. Superfícies metálicas de ouro, como CD-Rs de ouro (Au-CDtrodos), têm sido amplamente utilizadas como transdutores para a construção de imunossensores, devido à capacidade de imobilizar moléculas biológicas na presença ou ausência de monocamadas auto-organizadas (“self- assembled monolayers” - SAM). O presente trabalho relata o desenvolvimento de imunossensores, amperométrico e impedimétrico, para detecção de aflatoxina B1 em alimentos empregando CDtrodos de ouro. As etapas de construção dos imunossensores incluem as modificações do transdutor de ouro com p-aminotiofenol (p-ATP), proteína A ou ácido lipóico, seguido da imobilização do anticorpo anti-AFB1 e imunoensaios com o antígeno (AFB1). Empregando técnicas eletroquímicas (espectroscopia de impedância eletroquímica e voltametria cíclica) definiu-se que a SAM de ácido lipóico ativada com EDC/NHS foi o modificador que apresentou maior eficiência para a imobilização do anticorpo anti-AFB1. A partir de estudos quimiométricos, por meio do planejamento fatorial completo, definiram-se as melhores condições para o desenvolvimento do imunossensor: anticorpo anti-AFB1 na diluição 1:2000 e bloqueio da superfície com soroalbumina bovina 0,5%, ambos com incubação de 1 hora e imunorreação anticorpo-antígeno AFB1 durante 30 minutos. O imunossensor impedimétrico foi empregado na análise de amostras de amendoim, apresentando resultados satisfatórios. Estudos preliminares para o desenvolvimento do imunossensor amperométrico foram realizados estudando-se diferentes diluições do anticorpo conjugado com a enzima peroxidase (HRP). O monitoramento foi realizado juntamente com o H2O2 e o ácido 5-aminossalicílico (5-ASA), substrato e mediador da reação enzimática, respectivamente. ABSTRACT Many fungi species belonging to the genus Aspergillus sp. are able to infect and produce mycotoxins in grains and cereals, they are responsible for diseases in animals and humans. Aspergillus flavus and Aspergillus parasiticus are producers of aflatoxina, which have received great attention, due to toxic effects on the organism, such as carcinogenicity and mutagenicity. Among the different types of aflatoxins, aflatoxina B1 stands out due to high toxic potential. Several techniques have been applied in the detection of this toxin and the development of electrochemical immunosensors has been an option due to simplicity, specificity and high sensitivity. Metallic surfaces of gold, as gold CD-R (Au-CDtrodes), have been widely used as transducers for construction of immunosensors, due to the ability to immobilize biological molecules in presence or absence of self-assembled monolayers (SAM). This work describes the development of immunosensors, amperometric and impedimetric, for aflatoxin B1 detection in foods using gold CDtrodes. The construction steps of the immunosensors include modifications of the gold transducer with p-aminothiophenol (p-ATP), protein A or lipoic acid, followed by anti-AFB1 immobilization and immunoassays with antigen (AFB1). Employing electrochemical techniques (electrochemical impedance spectroscopy and cyclic voltammetry) was defined that the lipoic acid SAM activated with EDC/NHS was the modifier with the highest efficiency for the anti-AFB1 antibody immobilization. Using chemometric studies, through the full factorial design, was defined the best conditions for the immunosensor development: anti-AFB1 antibody at 1:2000 dilution and surface blocking with 0.5% bovine serum albumin, both with incubation 1 hour and antibody- AFB1 antigen immunoreaction for 30 minutes. The impedimetric immunosensor was employed to analyze peanut samples with satisfactory results. Preliminary studies for the development of amperometric immunosensor were performed by studying different dilutions of antibody conjugated with peroxidase (HRP) dilution. The monitoring was conducted with H2O2 and 5-aminosalicylic acid (5-ASA), substrate and mediator of the enzymatic reaction, respectively. LISTA DE FIGURAS Figura 1. Imagem de microscopia do fungo Aspergillus flavus. .......................................................... 23 Figura 2. Estruturas das aflatoxinas: aflatoxina B1 (AFB1), B2 (AFB2), G1 (AFG1), G2 (AFG2), M1 (AFM1) e M2 (AFM2). ......................................................................................................... 24 Figura 3. Representação do anticorpo e suas regiões. .......................................................................... 28 Figura 4. Estrutura do p-aminotiofenol (A) e do ácido lipóico (B). ..................................................... 29 Figura 5. Representação de um diagrama de Nyquist com as principais características de um diagrama de impedância. ....................................................................................................................... 31 Figura 6. Confecção de CDtrodos: I) área recortada do CD; II) delimitação da área do eletrodo empregando fita de galvanoplastia; III) contato elétrico revestido com fita de teflon. ....... 36 Figura 7. Representação da superfície de ouro do CDtrodo modificada com p-ATP (A) e com ácido lipóico (B). ............................................................................................................................. 37 Figura 8. Esquema da câmara úmida ................................................................................................... 37 Figura 9. Esquema das áreas cortadas do CD de ouro: Borda Interna (1), Meio do CD (2) e Borda Externa (3). .......................................................................................................................... 42 Figura 10. Voltamograma cíclico do Au-CDtrodo antes de qualquer pré-tratamento, em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 na presença de Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 vs Ag|AgCl|KCl(sat); ν = 50 mV s-1. ....................................................................................... 44 Figura 11. Voltamograma cíclico em solução de H2SO4 0,5 mol L-1 do Au-CDtrodo vs Ag|AgCl|KCl(sat); ν = 100 mV s-1. ..................................................................................... 45 Figura 12. Voltamograma cíclico em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 na presença de Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 antes ( ) e após ( ) o pré-tratamento do Au-CDtrodo com H2SO4 vs Ag|AgCl|KCl(sat); ν = 50 mV s-1. ....................................................................... 45 Figura 13. Imagens de AFM da superfície de ouro da borda externa do CD Inkjet: (A) 10×10, (B) imagem em 3D 10×10, (C) 3×3, (D) imagem em 3D 3×3 m2. .......................................... 46 Figura 14. Imagens de AFM da superfície de ouro da borda interna do CD Arquive: (A) 10×10, (B) imagem em 3D 10×10, (C) 3×3, (D) imagem em 3D 3×3 m2. .......................................... 47 Figura 15. Imagens de AFM da superfície de ouro do meio (A-D) e da borda externa (E-H) do CD Arquive: (A, E) 10×10, (B,F) imagem em 3D 10×10, (C,G) 3×3, (D, H) imagem em 3D 3×3 m2. ........................................................................................................................... 48 Figura 16. Imagens de AFM da superfície de ouro da borda interna do CD MAM-A: (A) 10×10, (B) imagem em 3D 10×10, (C) 3×3, (D) imagem em 3D 3×3 m2. ....................................... 49 Figura 17. Imagens de AFM da superfície de ouro do meio (A-D) e da borda externa (E-H) do CD MAM-A: (A, E) 10×10, (B,F) imagem em 3D 10×10, (C,G) 3×3, (D, H) imagem em 3D 3×3 m2. ........................................................................................................................... 50 Figura 18. Voltamogramas cíclicos em solução de Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 do CDtrodo de ouro sem modificação ( ) e do CDtrodo modificado com p-ATP 2 x 10-2 mol L-1 com 15 ( ) e 30 ( ) min de incubação vs Ag|AgCl|KCl(sat); ν = 50 mV s-1. ...................................... 52 Figura 19. Voltamogramas cíclicos em solução de Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 dos CDtrodos de ouro sem modificação: Eletrodo 1 ( ), Eletrodo 2 ( ) e Eletrodo 3 ( ); e dos CDtrodos modificados com p-ATP com 30 minutos de incubação, nas seguintes concentrações: 1 x 10-3 (A), 2 x 10-3 (B), 1 x 10-2 (C), 2 x 10-2 (D), 2 x 10-1 mol L-1 (E): Eletrodo 1 ( ), Eletrodo 2 ( ) e Eletrodo 3 ( ) vs Ag|AgCl|KCl(sat); ν = 50 mV s-1. ............................. 53 Figura 20. Voltamogramas cíclicos em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 contendo p-ATP 2 x 10-2 mol L-1 do CDtrodo de ouro sem modificação, sendo: ( ) 1º ciclo, ( ) 2º ciclo e ( ) 10º ciclo vs Ag|AgCl|KCl(sat); ν = 50 mV s-1. ............................................................ 54 Figura 21. Voltamogramas cíclicos em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 do CDtrodo de ouro sem modificação ( ) e modificado com p-ATP 2 x 10-2 mol L-1 ( ) com intervalo de potencial de –0,4 a +0,7 V vs Ag|AgCl|KCl(sat); ν = 50 mV s-1. ................................... 55 Figura 22. Voltamogramas cíclicos em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 do CDtrodo de ouro sem modificação ( ) e modificado com p-ATP 2 x 10-2 mol L-1 ( ), com intervalo de potencial de +0,7 a -0,4 V vs Ag|AgCl|KCl(sat); ν = 50 mV s-1. ................................... 55 Figura 23. Curva de potencial de circuito aberto versus tempo obtida para um CDtrodo sem modificação em solução de Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 vs Ag|AgCl|KCl(sat). ................. 56 Figura 24. Diagrama do plano complexo em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 com Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 para CDtrodo modificados com ácido lipóico 1 x 10-3 mol L-1, com diferentes valores de amplitude de perturbação: 5 ( e ), 10 ( e ) e 15 mV ( e ) vs Ag|AgCl|KCl(sat). Inset: módulo de impedância na frequência de 133 mHz vs amplitude (“rms”) / mV .................................................................................................... 57 Figura 25. Diagrama do plano complexo em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 com Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 para CDtrodo sem modificação com intervalo de frequência de 100 kHz a 10 mHz vs Ag|AgCl|KCl(sat). ....................................................................... 58 Figura 26. Diagrama do plano complexo em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 com Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 para CDtrodo sem modificação com intervalo de frequência de 100 kHz a 100 mHz vs Ag|AgCl|KCl(sat). ..................................................................... 58 Figura 27. Diagrama do plano complexo em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 com Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 para CDtrodo sem modificação ( ) e modificado com p-ATP 2 x 10-2 mol L-1 com 30 ( ), 60 ( ) e 120 min ( ) de incubação vs Ag|AgCl|KCl(sat). .. 59 Figura 28. Ampliação da região de altas frequências da Figura 27. .................................................... 60 Figura 29. Diagrama do plano complexo em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 com Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 para CDtrodo sem modificação ( ) e modificado com p-ATP 1 x 10-1 ( ); 2 x 10-1 ( ); 1 x 10-2 ( ); 2 x 10-2 ( ) e 2 x 10-3 mol L-1 ( ) com 60 de incubação vs Ag|AgCl|KCl(sat). ......................................................................................... 61 Figura 30. Ampliação da região de altas frequências da Figura 29. .................................................... 61 Figura 31. Diagrama do plano complexo em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 com Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 para CDtrodo sem modificação ( ), CDtrodo modificado com p-ATP 2 x 10-2 mol L-1 ( ) e com o anticorpo anti-AFB1 imobilizado sobre a SAM com tempos de incubação de 1 ( ), 3 ( ), 12 ( ) e 18 h ( ) vs Ag|AgCl|KCl(sat). ......... 62 Figura 32. Voltamogramas cíclicos em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 com Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 do CDtrodo sem modificação ( ), modificado com p-ATP 2 x 10-2 mol L-1 ( ) e com o anticorpo anti-AFB1 imobilizado sobre a SAM com tempos de incubação de 1 ( ), 6 ( ), 10 ( ), 12 ( ) e 18 h ( ) vs Ag|AgCl|KCl(sat). ................. 63 Figura 33. Voltamogramas cíclicos em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 com Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 do CDtrodo sem modificação ( ), modificado com p-ATP 2 x 10-2 mol L-1 ( ) e com o anticorpo anti-AFB1 + EDC 1 x 10-2 mol L-1 imobilizado sobre a SAM com 3 h de incubação ( ) vs Ag|AgCl|KCl(sat). ...................................................... 64 Figura 34. Diagrama do plano complexo em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 com Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 para CDtrodo sem modificação ( ), modificado com ácido lipóico 1 x 10-3 mol L-1 ( ); com o grupo carboxílico da SAM ativado com EDC/NHS ( ), com a proteína A 0,1 mg mL-1 imobilizada sobre a SAM ativada com tempo de incubação de 3 h ( ) e com a proteína A 0,1 mg mL-1 imobilizada diretamente sobre o CDtrodo com tempo de incubação de 3 h ( ). .................................................................. 65 Figura 35. Diagrama do plano complexo em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 com Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 para CDtrodo modificado somente com a proteína A 0,1 mg mL-1 sobre o ouro ( ), e para os CDtrodos modificados com a proteína A com adição de solução tampão 0,01 mol L-1 pH 7,4 por 12 h ( ), adição do antígeno AFB1 1 x 10-7 mo L-1 por 12 h ( ) e com adição de Ac-AFB1 1:2000 por 12 h ( ). ............... 66 Figura 36. Voltamogramas cíclicos em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 com Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 do CDtrodo sem modificação ( ), modificado com ácido lipóico 1 x 10-3 mol L-1 ( ), com o grupo carboxílico da SAM ativado com EDC/NHS ( ) e o anticorpo anti-AFB1 imobilizado sobre a SAM ativada com 2 h de incubação ( ) vs Ag|AgCl|KCl(sat). ............................................................................................................... 68 Figura 37. Diagrama do plano complexo em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 com Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 para CDtrodo sem modificação ( ), modificado com ácido lipóico 1 x 10-3 mol L-1 ( ),com o grupo carboxílico da SAM ativado com EDC/NHS ( ) e com o anticorpo anti-AFB1 imobilizado sobre a SAM ativada com 2h de incubação ( ) vs Ag|AgCl|KCl(sat). ........................................................................................................... 69 Figura 38. Gráfico da impedância em um plano complexo de um sistema eletroquímico simples64. .. 70 Figura 39. Gráfico de Pareto: influência dos parâmetros na imobilização do Ac-AFB1 sobre CDtrodo de ouro modificado com SAM. DAc = diluição do anticorpo anti-AFB1 e tincub. = tempo de incubação. ............................................................................................................................ 71 Figura 40. Tendência da resistência para os níveis alto e baixo de cada variável. ............................... 71 Figura 41. Imagens de FE-SEM para a superfície de ouro sem modificação (A) e com o anticorpo anti-AFB1 imobilizado sobre a SAM de ácido lipóico (B) com ampliação de 5.000 × e superfície sem modificação (C) e com o anticorpo imobilizado (D) com ampliação de 10.000 ×. .............................................................................................................................. 73 Figura 42. Imagens de AFM do CDtrodo sem modificação (A, B, E, F) e com o anticorpo anti-AFB1 imobilizada sobre SAM de ácido lipóico (B, C, G, H): (A, C) 5×5 m2, (B,D) imagem em 3D 5×15 m2, (E, G) 3×3 m2, (F, H) imagem em 3D 3×3 m2. ....................................... 74 Figura 43. Esquema da interação do anticorpo anti-aflatoxina B1 com uma molécula de aflatoxina B1. .................................................................................................................... 75 Figura 44. Gráfico de Pareto: influência dos parâmetros na imobilização do antígeno AFB1 sobre o anticorpo imobilizado sobre a SAM do CDtrodo de ouro. CBSA = concentração de soroalbumina bovina; CAFB1 = concentração de aflatoxina B1 e tincub. = tempo de incubação da aflatoxina B1. .................................................................................................................. 76 Figura 45. Tendência da resistência para os níveis alto e baixo de cada variável. CBSA = concentração de soroalbumina bovina; CAFB1 = concentração de aflatoxina B1 e tincub. = tempo de incubação da aflatoxina B1. ................................................................................................. 77 Figura 46. Gráfico de Pareto: influência dos parâmetros na imobilização do antígeno AFB1 sobre o anticorpo imobilizado sobre a SAM do CDtrodo de ouro. CBSA = concentração de soroalbumina bovina; CAFB1 = concentração de aflatoxina B1 e tincub. = tempo de incubação da aflatoxina B1. .................................................................................................................. 78 Figura 47. Tendência da resistência para os níveis alto e baixo de cada variável. CBSA = concentração de soroalbumina bovina; CAFB1 = concentração de aflatoxina B1 e tincub. = tempo de incubação da aflatoxina B1. ................................................................................................. 79 Figura 48. Diagrama do plano complexo em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 contendo Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 para CDtrodo sem modificação ( ), CDtrodo modificado com ácido lipóico 1 x 10-3 mol L-1 ( ), grupo carboxílico da SAM ativado com EDC/NHS ( ), anticorpo anti-AFB1 1:2000 imobilizado sobre a SAM com 1h de incubação ( ), Ac imobilizado e bloqueado com BSA 0,5% com 30 min de incubação ( ) e CDtrodo com AFB1 1 x 10-7 mol L-1 sobre o Ac com 30 min de incubação ( ) vs Ag|AgCl|KCl(sat)....... 80 Figura 49. Diagrama do plano complexo em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 contendo Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 para CDtrodo sem modificação ( ), CDtrodo modificado com ácido lipóico 1 x 10-3 mol L-1 ( ), grupo carboxílico da SAM com EDC/NHS ( ), anticorpo anti-AFB1 1:2000 imobilizado sobre a SAM ativada com 1h de incubação ( ), Ac imobilizado e bloqueado com BSA 0,5% com (A) 30, (B) 40 e (C) 60 min de incubação ( ) e CDtrodo com AFB1 1 x 10-7 mol L-1 sobre o Ac com 30 minutos de incubação ( ) vs Ag|AgCl|KCl(sat). ................................................................................................................. 81 Figura 50. Curva analítica da concentração de aflatoxina B1 do imunossensor impedimétrico. ......... 82 Figura 51. Interação do anticorpo e do anticorpo marcado com a molécula de AFB1. ........................ 83 Figura 52. Voltamogramas lineares dos CDtrodos modificados com SAM, Ac, BSA, Ag e Ac* e em solução de tampão citrato-fosfato 0,1 mol L-1 pH 5,0 ( ), em solução tampão + 5-ASA ( ), em solução tampão + H2O2 ( ), solução tampão + 5-ASA /H2O2 ( ) e CDtrodos modificados com SAM, Ac, BSA em solução tampão + 5-ASA/H2O2 ( ) vs Ag|AgCl|KCl(sat); ν = 50 mV s-1. Inbox: E ampliação da região de corrente entre +0,5 e −4,0 μA........................................................................................................................................ 84 Figura 53. Efeito da diluição do anticorpo conjugado com a enzima peroxidase. ............................... 85 Figura 54. Curva analítica da concentração de aflatoxina B1 do imunossensor amperométrico para o intervalo de 5 x 10-10 a 1 x 10-5 mol L-1. .............................................................................. 85 Figura 55. Curva analítica da concentração de aflatoxina B1 do imunossensor amperométrico para o intervalo de 5 x 10-8 a 1 x 10-6 mol L-1. ................................................................................ 86 LISTA DE ESQUEMAS Esquema 1. Fluxograma da extração da aflatoxina B1 em amostras de alimentos. .............................. 40 Esquema 2. Reação de acoplamento da do anticorpo anti-AFB1 a SAM de ácido lipóico por meio da EDC/NHS58, 60. .................................................................................................................. 67 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Limites máximos tolerados de aflatoxina em alimentos segundo portaria da ANVISA publicada em 22/02/2011. ................................................................................................... 27 Tabela 2. Matriz de planejamento fatorial completo de duas variáveis e dois níveis .......................... 39 Tabela 3. Matriz de planejamento fatorial completo de três variáveis e dois níveis ............................ 39 Tabela 4. Propriedades eletroquímicas dos CD-Rs. ............................................................................. 42 Tabela 5. Parâmetros obtidos através de imagens de AFM para cada região do CD Inkjet. ................ 46 Tabela 6. Parâmetros obtidos através de imagens de AFM para cada região do CD Arquive. ............ 49 Tabela 7. Parâmetros obtidos através de imagens de AFM para cada região do CD MAM-A. ........... 51 Tabela 8. Matriz de planejamento fatorial completo 22 e resistências de transferência de carga. ........ 70 Tabela 9. Matriz de planejamento fatorial completo 23 e resistências de transferência de carga. ........ 76 Tabela 10. Matriz de planejamento fatorial completo 23 e resistências de transferência de carga. ...... 78 Tabela 11. Valores de concentração de AFB1 encontrados em amostras de amendoim. ..................... 82 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AFB1: aflatoxina B1 AFB2: aflatoxina B2 AFG1: aflatoxina G1 AFG2: aflatoxina G2 AFM1: aflatoxina M1 AFM2: aflatoxina M2 CD-R: disco compacto gravável SAM: monocamada auto-organizada Ac: anticorpo Ag: antígeno Ac*: anticorpo marcado HRP: horseradish peroxidase p-ATP: para-aminotiofenol BSA: soroalbumina bovina EDC: 1-etil-3-(3-dimetilaminopropil)carbodiimida NHS: N-hidroxi-succinamida 5-ASA: ácido 5-aminossalicílico EIS: espectroscopia de impedância eletroquímica Zre: impedância real Zim: impedância imaginária R : resistência da solução Rct: resistência de transferência de carga EOC: potencial de circuito aberto rms: root mean square AFM: microscopia de força atômica FE-SEM: microscopia eletrônica de varredura com fonte de emissão ANVISA: Agência Nacional de Vigilância Sanitária IARC: International Agency of Research on Cancer LMT: limites máximos tolerados CCD: cromatografia de camada delgada CLAE: cromatografia líquida de alta eficiência ELISA: enzyme-linked immunosorbent assay SPE: screen printed electrode PTFE: politetrafluoretileno OTA: ocratoxina A DON: desoxinivalenol FB1: fumosina B1 FB2: fumosina B2 PAT: patulina ZON: zerralenona TMB: tetrametilbenzidina SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 23 2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 33 3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................... 34 3.1 Reagentes e soluções ..................................................................................................... 34 3.2 Equipamentos e célula eletroquímica ............................................................................ 35 3.3 Construção de eletrodos de ouro (CDtrodos) ................................................................ 35 3.4 Modificação da superfície de ouro do CDtrodo ............................................................. 36 3.4.1 Modificação com p-ATP ........................................................................................ 37 3.4.2 Modificação com proteína A .................................................................................. 37 3.4.3 Modificação com ácido lipóico .............................................................................. 38 3.5 Imobilização do anticorpo anti-AFB1 ............................................................................ 38 3.5.1 SAM p-ATP - anticorpo anti-AFB1 ....................................................................... 38 3.5.2 Proteína A - anticorpo anti-AFB1 ........................................................................... 38 3.5.3 SAM ácido lipóico - anticorpo anti-AFB1 ............................................................. 38 3.6 Otimização da solução bloqueio e das condições para a reação imunoenzimática Ac-Ag ................................................................................................................................... 39 3.7 Imobilização do anticorpo anti-AFB1 conjugado com a enzima HRP .......................... 39 3.8 Processo de extração da AFB1 em amostras de amendoim ........................................... 39 3.9 Condições empregadas para os estudos voltamétricos .................................................. 41 3.10 Condições empregadas para os estudos de EIS ........................................................... 41 3.11 Monitoramento amperométrico ................................................................................... 41 3.12 Imagens de microscopia de força atômica da superfície de ouro do CD-R ................. 41 3.12.1 Estudo das superfícies sem modificação .............................................................. 41 3.12.2 Estudo das superfícies com o anticorpo anti-AFB1 imobilizado sobre SAM ...... 42 3.13 Imagens de microscopia eletrônica de varredura (FE-SEM) da superfície de ouro do CD-R ....................................................................................................................... 43 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ...................................................................................... 44 4.1. Limpeza da superfície dos CDtrodos de ouro ............................................................... 44 4.2 Caracterização através de AFM da superfície de ouro sem modificação de 3 diferentes tipos de CD-R ...................................................................................................................... 46 4.3 Estudo do tempo de incubação e concentração da solução de p-ATP para a formação da SAM sobre a superfície do CDtrodo empregando voltametria cíclica ................................ 51 4.4 Comportamento eletroquímico do p-ATP em solução e modificado na superfície do CDtrodo ............................................................................................................................... 54 4.5 Otimização dos parâmetros a serem empregados nas medidas de EIS .......................... 56 4.6 Estudos das melhores condições para a formação da SAM de p-ATP .......................... 59 4.7 Imobilização do anticorpo anti-AFB1 sobre a SAM de p-ATP ..................................... 62 4.8 Investigação da imobilização da proteína A sobre a superfície de ouro ........................ 64 4.9 Imobilização do anticorpo anti-AFB1 sobre a SAM de ácido lipóico ........................... 66 4.10 Estudo quimiométrico da concentração e tempo de incubação do anticorpo anti-AFB1 sobre SAM de ácido lipóico ................................................................................................. 69 4.11 Imagens de microscopia eletrônica de varredura (FE-SEM) da superfície de ouro com o Ac imobilizado .................................................................................................................. 72 4.12 Imagens de microscopia de força atômica (AFM) do CDtrodo com o Ac imobilizado .......................................................................................................................... 72 4.13 Estudo quimiométrico da concentração de BSA, AFB1 e tempo de incubação do antígeno ................................................................................................................................ 75 4.14 Curva analítica do imunossensor impedimétrico ......................................................... 81 4.15 Aplicação do imunossensor impedimétrico em amostras de amendoim ..................... 82 4.16 Estudos preliminares do desenvolvimento do imunossensor amperométrico ............. 83 5. CONCLUSÕES ................................................................................................................... 87 6. PERSPECTIVAS FUTURAS ............................................................................................ 88 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 89 23 1. INTRODUÇÃO Os fungos estão amplamente distribuídos na natureza, onde são capazes de contaminar e crescer em muitos tipos de alimentos, por apresentarem nutrientes como carboidratos, proteínas e lipídeos, que constituem um substrato adequado para o desenvolvimento de microrganismos1. Geralmente a presença dos fungos é acompanhada por alterações na textura, odor e sabor dos alimentos contaminados, devido à presença de enzimas e compostos voláteis eliminados pelo fungo. Em alguns casos, essas mudanças são desejáveis, como na utilização das cepas não-tóxicas de Penicillium roqueforti para a produção de queijo de mofo azul. No entanto, na maioria das vezes, a contaminação fúngica leva à deterioração dos alimentos, como alteração do sabor, descoloração, podridão e desintegração da estrutura do alimento2. Fungos micotoxinogênicos desempenham um papel importante na deterioração da qualidade comercial e à higiene dos gêneros alimentícios, por sintetizar metabólitos secundários altamente tóxicos conhecidos como micotoxinas. Dentre esses fungos, Aspergillus, Fusarium e Penicillium sp. são os mais presentes na cultura alimentar, pois podem contaminar no campo, na colheita, após a colheita e durante o armazenamento3. Seis classes de micotoxinas são frequentemente encontradas como contaminantes de alimentos: aflatoxinas, fumonisinas, ocratoxinas, patulina, tricotecenos e zearalenona4. O Aspergilli é um gênero amplo e diversificado de fungos filamentosos5. Os dois principais fungos pertencentes a esse gênero são o Aspergillus flavus e o Aspergillus parasiticus, que secretam aflatoxinas6. A Figura 1 apresenta uma micrografia do fungo A. flavus7. Figura 1. Imagem de microscopia do fungo Aspergillus flavus. Estes fungos podem crescer e produzir metabólicos tóxicos, contaminando uma ampla gama de produtos agrícolas8. Na figura 2 são apresentadas as estruturas moleculares das quatro aflatoxinas que ocorrem naturalmente (B1, B2, G1 e G2) e os dois bioprodutos (M1 e 24 M2), que são metabolizados e excretados no leite pelos animais que consumiram alimentos contaminados por aflatoxinas9. O O O O O OCH3 O O O O O OCH3 O O O O O O OCH3 O O O O O O OCH3 O O O O O OCH3 OH O O O O O OCH3 OH Figura 2. Estruturas das aflatoxinas: aflatoxina B1 (AFB1), B2 (AFB2), G1 (AFG1), G2 (AFG2), M1 (AFM1) e M2 (AFM2). O nome “aflatoxina” é derivado da primeira letra de Aspergillus e das três primeiras letras de flavus. Estruturalmente, as aflatoxinas são derivados difurocumarinos que apresentam fluorescência sob luz ultravioleta e são classificadas de acordo com a cor da fluorescência: B1 e B2 para a cor azul (“blue”) e G1 e G2 para a verde (“green”). Já as aflatoxinas M1 e M2 recebem essa nomenclatura por serem encontradas no leite (“milk”)10. As aflatoxinas foram descobertas no início da década de 60, após o acidente econômico ocorrido na Inglaterra, onde, em poucas semanas, cem mil filhotes de perus e outros milhares de filhotes de outros tipos de aves morreram de forma misteriosa. Inicialmente atribuíram as mortes devido à “Doença X do peru”, descobrindo-se posteriormente que os animais sofreram de uma hepatite aguda necrosante após a ingestão de ração à base de amendoim contaminado11. Os principais produtos alimentícios sujeitos à contaminação com aflatoxinas são: amendoim (cru, torrado, creme, em doce e confeitado), milho (pipoca, canjica e grãos), trigo, arroz, castanha do Pará, nozes, avelã, castanha de caju, amêndoas, pistache, frutas secas, temperos, semente de algodão, mandioca, óleos vegetais, cacau, entre outros que, normalmente, são utilizados na composição de alimentos e rações12. Estas toxinas também podem ser encontradas nos tecidos comestíveis de animais, como fígado e músculo13. 25 A incidência de aflatoxinas em alimentos e rações é relativamente alta em regiões tropicais e subtropicais, onde o clima quente e úmido proporciona as condições ideais para o crescimento dos fungos14. Por isso, o Brasil apresenta condições ideais para o desenvolvimento desses fungos. O fungo do gênero Aspergillus sp. se desenvolve em temperatura que varia de 25 a 30 ºC, mas tolera temperaturas na faixa de 12 a 45 ºC, e umidade relativa entre 83 e 85%15. Além disso, ainda é observado no país a utilização de práticas agrícolas inadequadas de plantio, colheita, secagem, transporte e armazenamento de cereais e grãos, originando produtos trincados e quebrados que favorecem a entrada e a contaminação de fungos toxigênicos16. Algumas práticas no plantio e armazenamento dos alimentos agrícolas podem diminuir, ou até mesmo evitar, a produção de aflatoxinas. Como exemplos destas práticas podem-se citar: a rotação de culturas a fim de repor a matéria orgânica no solo, aumentando o crescimento de microorganismos que têm efeitos inibitórios sobre o A. flavus; planejar a época de plantio para que a colheita coincida com a estação seca; evitar danos mecânicos durante a colheita; colher apenas alimentos maduros, pois a infecção fúngica é mais propensa a ocorrer em grãos enrugados e rachados; e controlar a temperatura e umidade durante a estocagem17. O cuidado para prevenir a contaminação de alimentos com as aflatoxinas é imprescindível para a saúde, pois a exposição por inalação ou ingestão desta toxina pode ocasionar sérios problemas à saúde, que variam consideravelmente dependendo das espécies animais, doses, dieta, idade e sexo18. As aflatoxinas apresentam ampla atividade biológica, como toxidade aguda, teratogenicidade, mutagenicidade e carcinogenicidade19. As aflatoxinas reagem com os componentes celulares, incluindo os ácidos nucléicos, as organelas citoplasmáticas e as proteínas celulares, onde interrompe o processo celular normal20. Após a ingestão, por serem moléculas de baixo peso molecular e lipofílicas, estas toxinas são facilmente absorvidas pelo o intestino delgado, principalmente no duodeno. Na mucosa do trato gastrointestinal, as aflatoxinas são biotransformadas e os principais produtos que interagem com as proteínas da mucosa gastrointestinal são o 8,9-epóxido, o diidrodiol e a aflatoxina B2 . As aflatoxinas seguem então para o fígado, onde são concentradas devido à alta permeabilidade da membrana do hepatócito a essas toxinas e ao processo de biotransformação pelas enzimas presentes na fração citosol e microssômica da célula hepática. O produto reativo, 8,9-epóxido, pode se ligar tanto ao DNA como à albumina sérica, formando adutos de aflatoxina-N7-guanina e aflatoxina-N7-lisina, respectivamente. As ligações covalentes dos adutos no DNA são consideradas um passo crítico na 26 hepatocarcinogênese das aflatoxinas. Posteriormente, os produtos de biotransformação são conjugados com o glutation, ácido glicurônico e sulfatos. A eliminação das aflatoxinas e seus produtos do organismo ocorre primeiramente pela secreção biliar (~58%), seguida pela urina (~35%). Em lactentes e animais em lactação, uma fração considerável é eliminada pelo leite na forma de aflatoxina M1 21,22. Os efeitos agudos são essencialmente observados na estrutura e funcionalidade do fígado, incluindo necrose das células hepática, hemorragia, lesões, fibrose e cirrose. Adicionalmente, encefalopatia hepática, imunossupressão, infecções respiratórias, hemorragia gastrointestinal, anorexia, mal-estar e febre têm sido observados. A exposição crônica a aflatoxinas leva muitas vezes ao cancro do fígado, assim como carcinomas de outros órgãos (rim, pulmão, cólon e do sistema nervoso). A aflatoxina B1 é o mais potente hepatocarcinógeno descrito em mamíferos e é classificada no Grupo 1 (provável carcinógeno) pela IARC (“International Agency of Research on Cancer”)23. Por apresentar-se potencialmente perigosa para a saúde pública e por constituir um grave problema econômico para a agricultura, é de suma importância a criação de legislações que limitem seus níveis máximos nos alimentos. No Brasil, durante muitos anos as aflatoxinas foram as únicas micotoxinas cujos níveis máximos em alimentos eram previstos na legislação. Mas, no dia 22 de fevereiro de 2011, foram publicados no Diário Oficial da União os limites máximos tolerados (LMT) para outras micotoxinas em alimentos, como ocratoxina A (OTA), desoxinivalenol (DON), fumonisinas (FB1 + FB2), patulina (PAT) e zearalenona (ZON). A Tabela 1 apresenta os valores atuais dos limites máximos tolerados para aflatoxina em diversos alimentos24. Vários métodos para a detecção da aflatoxina B1 têm sido investigados, entre eles cromatografia de camada delgada (CCD)25, cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE)26 e ensaio imunoenzimático (ELISA – “enzyme-linked immunosorbent assay”)27. No entanto, a maior parte destes processos demanda muito tempo de análise, é muito propensa a ação de interferentes e pode não ser confiável para algumas amostras alimentícias e biológicas. Por isso, os imunossensores eletroquímicos demonstram ser uma alternativa viável na análise devido à detecção rápida, sensibilidade, alta especificidade, muitas vezes apresentam simplicidade no desenvolvimento e custo reduzido28. Um imunossensor é definido como um dispositivo sensorial constituído por um anticorpo (ou antígeno) acoplado a superfície de um transdutor, que converte o sinal biológico em um sinal elétrico mensurável29. 27 Tabela 1. Limites máximos tolerados de aflatoxina em alimentos segundo portaria da ANVISA publicada em 22/02/2011. Micotoxina Alimentos LMT (μg kg-1) Aflatoxina M1 Leite fluido 0,5 Leite em pó 5 Queijos 2,5 Aflatoxinas B1+B2+G1+G2 Cereais e produtos de cereais, exceto milho e derivados 5 Feijão 5 Castanhas, exceto Castanha-do-Brasil 10 Frutas desidratadas e secas 10 Castanha-do-Brasil com casca para consumo direto 20 Castanha-do-Brasil sem casca para consumo direto 10 Castanha-do-Brasil com casca para processamento posterior 15 Alimentos à base de cereais para alimentação infantil 1 Fórmulas infantis para lactantes e fórmulas infantis de seguimento para lactantes e crianças de primeira infância 1 Amêndoas de cacau 10 Produtos de cacau e chocolate 5 Especiarias como pimentas, pimenta em pó pimenta caiena, pimentão- doce, pimenta branca, pimenta preta, noz moscada, gengibre, cúrcuma 20 Amendoim (com casca, descascado, cru ou torrado), pasta de amendoim ou manteiga de amendoim 20 Milho, milho em grão (inteiro, partido, amassado, moído), farinhas ou sêmolas de milho 10 Nestes últimos anos, o desenvolvimento de imunossensores tem se mostrado vantajoso dentre os métodos de detecção de aflatoxinas. Jin et al.30 desenvolveram um imunossensor piezelétrico do tipo competitivo indireto para a detecção de aflatoxina B1 com nanopartículas de ouro para amplificar a resposta do anticorpo secundário. Um imunossensor impedimétrico baseado na tecnologia dos eletrodos impressos de grafite (“screen-printed electrode” - SPE) também foi estudado para detectar e quantificar aflatoxina M1 em amostras de leite31. A literatura registra outro trabalho empregando eletrodos impressos de grafite para a análise de aflatoxina M1 em leite utilizando imunoensaio do tipo competitivo entre a aflatoxina M1 presente na amostra e a aflatoxina M1 conjugada com a enzima peroxidase (HRP), com monitoramento amperométrico da reação enzimática via tetrametilbenzidina (TMB)/H2O2 32. Para obter um imunossensor que apresente sensibilidade e estabilidade, os anticorpos devem estar imobilizados sobre o transdutor e manter sua atividade biológica sobre o transdutor33. As interações do anticorpo com o antígeno são geralmente interações de van der Waals que ocorrem nos epitopos (porções Fab) do anticorpo, mas a maioria das interações antígeno-anticorpo contém pelo menos uma ligação de hidrogênio34. A imobilização do 28 anticorpo na superfície do transdutor deve ocorrer pela porção Fc para manter as porções Fab livre para tais interações. A representação da estrutura de um anticorpo é representada na Figura 3. Figura 3. Representação do anticorpo e suas regiões. Para isso existem alguns procedimentos empregados que unem ambas as características, como a imobilização de anticorpos sobre a proteína A35 ou empregando monocamadas auto-organizadas (“self-assembled monolayers” - SAM) sobre a superfície do eletrodo36. Para a construção de uma superfície com anticorpos imobilizados de forma ordenada e orientada, a proteína A é bastante empregada como ponte para a ligação transdutor-anticorpo. A proteína A é um componente da parede celular das bactérias Staphylococcus aureus e tem como característica ligar-se com a porção Fc do anticorpo, permitindo que a porção Fab fique livre para interagir com o antígeno. Portanto, a imobilização do anticorpo sobre a proteína A propicia imunoreações altamente eficientes e melhora o desempenho do sistema de detecção37,38. As monocamadas auto-organizadas recentemente têm se tornado muito utilizada no desenvolvimento de biossensores, nanotecnologia e eletrônicos biomoleculares devido a sua simplicidade, versatilidade, estabilidade e possibilidade de produzir, em escala molecular, estruturas altamente ordenadas39. A estrutura da SAM consiste na interação de uma camada de moléculas orgânicas altamente organizadas sobre a superfície do eletrodo e um dos grupos funcionais da molécula orgânica selecionada tem a função de proporcionar a imobilização de materiais biológicos (e.g. enzimas, proteínas, ácidos nucléicos, anticorpo, etc.) através do grupo funcional livre da SAM40. A investigação da imobilização de proteínas empregando SAMs é um passo essencial para a compreensão do efeito químico em sua vizinhança e contribuição dos grupos terminais para o processo de imobilização, devido ao fato de que a imobilização constitui uma 29 oportunidade de explorar o ambiente químico molecular com precisão. Desta forma, a tecnologia da SAM é de grande importância para o desenvolvimento de biosuperfícies que podem ser utilizadas como ferramenta para descoberta de drogas e diagnóstico de doenças, no mapeamento genético e em dispositivos de reconhecimento e em sensores para aplicação ambiental, industrial ou clínica41. Monocamadas orgânicas ordenadas de compostos à base de enxofre sobre a superfície de eletrodos de ouro são de grande interesse. O grupo terminal de enxofre destas moléculas é ligado a superfícies de ouro via uma ligação S-Au extremamente forte, enquanto que os grupos funcionais na outra extremidade da molécula controlam as propriedades da superfície do eletrodo, tais grupos podem ser manipulados de acordo com as mais variadas aplicações42. As reações abaixo mostram o mecanismo para a formação da SAM, empregando moléculas com grupamento tiol (1) e dissulfeto (2), sobre uma superfície de ouro43: R S H + Aun 0 → R S-Au+ Aun 0 + ½ H2 (1) RS SR + Aun 0 → RS-Au+ Aun 0 (2) Dentre as moléculas que possuem essas propriedades estão o p-aminotiofenol (p-ATP)44 e o ácido lipóico45, cujas estruturas moleculares são apresentadas na Figura 4. N S H H H S S O OH (A) (B) Figura 4. Estrutura do p-aminotiofenol (A) e do ácido lipóico (B). O p-ATP apresenta um grupo tiol e um grupo amino livre ligados a um anel aromático, que propicia a ressonância eletrônica na molécula. O grupo tiol se liga ao ouro enquanto o amino interage com o material biológico. Já o ácido lipóico apresenta um dissulfeto cíclico, que pode ser convertido à forma ditiol para ligar-se ao ouro mantendo, na outra extremidade, um grupo carboxílico livre para a imobilização de moléculas biológicas. 30 Como a SAM com grupamento tiol apresenta forte afinidade com o ouro, trandutores desses materiais são amplamente empregados no desenvolvimento de biossensores. Os eletrodos convencionais de ouro podem ser substituídos com vantagens, principalmente na construção de sensores, por substratos metálicos obtidos a partir de discos compactos graváveis (CD-R). O processo de deposição dos filmes de ouro sobre os CD graváveis são muito bem estabelecidos pela indústria fonográfica46. Os CD-Rs de ouro são constituídos por uma base de policarbonato acrescida de uma camada fotossensível (cianina, ftalocianina ou azo compostos), na qual ocorre o processo de gravação. Sobre este filme é depositada, pelo processo de “sputtering”, uma fina camada de ouro com espessura variando entre 50 e 100 nm e área total da ordem de 100 cm2, que é recoberta por um ou dois filmes poliméricos protetores47. Devido à simplicidade na construção e o baixo custo, estes dispositivos podem ser empregados nas medidas eletroquímicas e, se necessário, descartados em caso de formação de óxidos na superfície e adsorção irreversível48. Esses eletrodos são conhecidos como CDtrodos e tem mostrado desempenho eletroquímico comparável aos eletrodos de ouro comerciais, a um custo muito mais reduzido, já que com um CD é possível obter vários eletrodos49. A interação molecular que ocorre entre a biomolécula, a monocamada e a superfície do transdutor pode ser estudada usando uma ampla variedade de técnicas eletroquímicas (por exemplo, voltametria cíclica, EIS - espectroscopia de impedância eletroquímica) e de análise de superfície como microscopia eletrônica de varredura com fonte de emissão de campo (FE-SEM) e microscopia de força atômica (AFM). A voltametria cíclica é a técnica mais comumente usada para adquirir informações qualitativas sobre os processos eletroquímicos. A eficiência desta técnica resulta de sua habilidade de rapidamente fornecer informações sobre a termodinâmica de processos redox, da cinética de reações heterogêneas de transferência de elétrons e sobre reações químicas acopladas a processos adsortivos50. A técnica de espectroscopia de impedância eletroquímica envolve a aplicação de uma perturbação de potencial ou de corrente no sistema sob investigação. Este método de aplicação do potencial possibilita que o sistema seja perturbado empregando poucos milivolts, de forma a tornar possível a investigação de fenômenos eletroquímicos próximos ao estado de equilíbrio. Além disto, é possível perturbar o sistema usando diferentes valores de frequência, pois a onda de potencial é senoidal. Uma vez que a perturbação no sistema sob investigação é de pequena amplitude é possível empregar a técnica para a análise de etapas de um mecanismo reacional. Na EIS surge uma corrente de natureza senoidal como resultado da 31 aplicação de um potencial senoidal ao sistema. Mediante um monitoramento das relações entre o potencial aplicado e a corrente são obtidas a impedância do sistema e o ângulo de fase (defasagem da corrente em relação ao potencial aplicado)51. Uma das principais maneiras de interpretar os resultados de impedância é a partir do diagrama de Nyquist, que relaciona a parcela imaginária da impedância com a parcela real para um determinado intervalo de frequência. Alguns parâmetros como a resistência ôhmica da solução (R ) e a resistência de transferência de carga (Rct) podem ser obtidos através deste diagrama52, como observado na Figura 5. Figura 5. Representação de um diagrama de Nyquist com as principais características de um diagrama de impedância. Na microscopia eletrônica de varredura os sinais de maior interesse para a formação da imagem são os elétrons secundários e os retroespalhados. À medida que o feixe de elétrons primários vai varrendo a amostra estes sinais vão sofrendo modificações de acordo com as variações da superfície. Os elétrons secundários fornecem imagem de topografia da superfície da amostra e são os responsáveis pela obtenção das imagens de alta resolução, já os retroespalhados fornecem imagem característica de variação de composição. Quando essa técnica se baseia em fontes de emissão de campo de feixe de elétrons, é chamada de FE-SEM53. Para a obtenção de imagens topográficas, a partir da microscopia de força atômica, é empregada uma sonda constituída de uma fina ponteira (“tip”) acoplada a um “cantilever”, para fazer o rastreamento da superfície da amostra. A deflexão do “cantilever” é a resposta das forças de interações atômicas entre a ponteira e o substrato. A técnica de AFM pode ser operada em três modos diferentes: contato, não-contato e contato intermitente (“tapping”). Sendo que no modo contato intermitente a ponta vibrante fica próxima da amostra, de forma que tenha um contato intermitente e é utilizado para contornar as limitações impostas pelo 32 modo contato. A comparação entre os modos contato e intermitente mostra que as superfícies são menos modificadas no modo intermitente54. Em nosso grupo de pesquisa, algumas metodologias já foram desenvolvidas para a construção de sensores eletroquímicos empregando diferentes transdutores, moléculas e matrizes biológicas55,56,57. O presente trabalho constitui no desenvolvimento de dois imunossensores para determinação de aflatoxina B1 em amostras alimentícias, um impedimétrico e outro amperométrico. Para isso várias modificações da superfície do CDtrodo de ouro (Au-CDtrodo) foram analisadas para a imobilização do anticorpo anti-aflatoxina B1 e imunoensaio com o antígeno aflatoxina B1. 33 2 OBJETIVOS Desenvolvimento de imunossensores, impedimétrico e amperométrico, para a detecção de aflatoxina B1 em amostras de alimentos. Para atingir o objetivo geral deste trabalho, foram realizadas as seguintes etapas: • Construção de Au-CDtrodos e caracterização das superfícies; • Avaliação do melhor método para a imobilização do anticorpo anti-AFB1; • Otimização das condições experimentais para a imobilização do anticorpo anti-AFB1 via planejamento fatorial e realização de imagens de AFM e FE-SEM desta etapa de modificação; • Estudo das melhores condições da solução de soroalbumina bovina (solução bloqueio) e do antígeno AFB1 via planejamento fatorial e finalização do imunossensor impedimétrico; • Otimização das condições experimentais para a imobilização do anticorpo anti-AFB1 conjugado com a enzima peroxidase e monitoramento da reação imunoenzimática no sistema H2O2/5-ASA; • Aplicação dos imunossensores em amostras de amendoim. 34 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Reagentes e soluções A retirada das camadas protetoras do filme de ouro dos tipos de CD-R (marca Mitsui Archive Gold CD-R 100, tipos: Arquive, Inkjet e MAM-A) foi realizada empregando ácido nítrico 69-70% (J. T. Baker) e a limpeza eletroquímica dos eletrodos de ouro foi realizada empregando ácido sulfúrico 95-98% (J. T. Baker). Para a formação das diferentes SAMs sobre a superfície de ouro do CDtrodo foram empregados o p-aminotiofenol (C6H7NS - Sigma-Aldrich) diluído em etanol anidro (J. T. Baker) e o ácido lipóico (C8H14O2S2 - Sigma-Aldrich) diluído em etanol:água (1:10). A ativação do grupo carboxílico do ácido lipóico foi realizada através da 1-etil-3-(3-dimetilaminopropil) carbodiimida (EDC - Fluka) e N-hidroxi-succinamida (NHS - Sigma). As soluções de proteína A (Sigma-Aldrich), empregada na modificação do eletrodo para a imobilização do anticorpo, e a solução de anticorpo (Ac) anti-aflatoxina B1 produzido em coelhos (Sigma-Aldrich, lote 017K4837) foram diluídas em solução tampão fosfato 0,01 mol L-1 pH 7,4. Após a imobilização do anticorpo, procedeu-se o bloqueio da superfície com solução de soroalbumina bovina (BSA - Sigma) diluída em solução tampão fosfato contendo 0,14 mol L-1 de NaCl, 0,003 mol L-1 de KCl e 0,02% de Tween 20 a pH 7,5 (solução tampão PBS-T). Seguiu-se com a interação do anticorpo com o antígeno aflatoxina B1 obtida de Aspergillus flavus (Sigma-Aldrich) e imobilização do anticorpo anti-AFB1 conjugado com a enzima peroxidase (Ac*) produzido em coelhos (Sigma-Aldrich, lote 123K4820). Essas soluções foram solubilizadas na solução de bloqueio. Para as medidas eletroquímicas, a solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 foi empregada como eletrólito de suporte, juntamente com o par redox Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1. O monitoramento amperométrico foi realizado em solução-tampão citrato-fosfato 0,1 mol L-1 pH 5,0, juntamente com o substrato peróxido de hidrogênio 30% (Sigma) e o mediador ácido 5-aminossalicílico (5-ASA - Acros). Na preparação das soluções-tampão foram empregados fosfato de sódio monobásico e dibásico e ácido cítrico monohidratado fornecidos pela Sigma. Todas as soluções-tampão foram preparadas conforme “Methods in Enzimology”58. 35 As soluções citadas foram preparadas empregando-se água purificada de qualidade Milli-Q (ρ = 18,2 MΩ.cm). 3.2 Equipamentos e célula eletroquímica As imagens topográficas das superfícies dos diferentes CDs de ouro sem modificação foram obtidas empregando um Microscópio de AFM Ntgra Vita. A técnica foi operada em modo não-contato, utilizando pontas (“cantilvers”) de silicone, com constante de força de 5,6 (± 20%) N m-1 e frequência de ressonância de 180 (± 10%) kHz. As imagens topográficas para as superfícies de ouro com o anticorpo anti-AFB1 imobilizado sobre a SAM de ácido lipóico foram obtidas usando um AFM Agilent Technologies 5500 Scanning Probe Microscope (Agilent Technologies, Inc., California Street, EUA), operadas em modo intermitente (“tapping”). Utilizando pontas de fósforo dopado com silício com constante de força de 20-80 N m-1 e frequência de ressonância de 239-341 kHz. Análises da superfície do CDtrodo de ouro foram realizadas através de microscopia eletrônica de varredura FE-SEM de alta resolução, equipado com fonte de elétrons de emissão de campo, JEOL JSM 7500F. As medidas de voltametria cíclica, voltametria de varredura linear e de amperometria a potencial controlado foram efetuadas em um potenciostato/galvanostato AUTOLAB PGSTAT 302 e um software GPES 3.0 (“General Purpuse Electrochemical System”) para o tratamento dos dados. Para as medidas de impedância foi empregado o mesmo potenciostato/galvanostato conectado a um analisador de resposta de frequência (FRA). Uma célula eletroquímica de compartimento único com volume de 5 mL foi utilizada para as medidas, juntamente com um sistema de três eletrodos: CDtrodo de ouro (Ageom = 0,071 cm2 e área ativa de 0,091 cm2 pela equação de Randles-Sevik52), Ag|AgCl|KCl(sat) e fio de platina (Ageom = 4 cm2) como eletrodo de trabalho, referência e auxiliar, respectivamente. Empregou-se um pHmetro da marca Digital Gehaka modelo PG 2000, para a obtenção das medidas de pH. 3.3 Construção de eletrodos de ouro (CDtrodos) Foram utilizados discos compactos graváveis da marca Mitsui Archive Gold CD-R 100 do tipo Arquive contendo filme de ouro. Para a obtenção de eletrodos metálicos a partir de CD-R de ouro fez-se necessário o acesso à camada metálica dos mesmos, através da retirada das camadas protetoras do filme de ouro do CD-R com HNO3 concentrado. O ácido 36 nítrico foi adicionado sobre a superfície do CD-R primeiramente nas bordas e depois com total cobertura da superfície com auxílio de uma pipeta. Após alguns minutos (5-10 minutos) de contato com o ácido nítrico ocorreu o total desprendimento das camadas de proteção composta de duas membranas e a superfície foi lavada abundantemente com água destilada. A lavagem foi realizada com auxílio de uma pisseta exercendo forte pressão. A superfície do CD-R sem as películas protetoras foi cortada com auxílio de uma tesoura tendo o cuidado para não desprender o filme de ouro sobre a base de policarbonato do CD-R. A área do eletrodo de trabalho foi pré-definida com a fita adesiva de galvanoplastia (1KFA25 Kapton tape®) perfurada com um alicate furador e fixada sobre o filme de ouro. Para o contato elétrico foi utilizada uma lâmina de cobre (fio de cobre laminado e polido com lixa 3M 800) fixado com uma fita de PTFE (politetrafluoretileno)47. Cabe ressaltar que os eletrodos são descartáveis e foram utilizados em todas as medidas eletroquímicas somente uma vez. Um esquema das etapas de construção do CDtrodo é apresentado na Figura 6. Adição de HNO concentrado 3 Corte com tesoura Delimitação da área Contato elétrico I II III Figura 6. Confecção de CDtrodos: I) área recortada do CD; II) delimitação da área do eletrodo empregando fita de galvanoplastia; III) contato elétrico revestido com fita de teflon. 3.4 Modificação da superfície de ouro do CDtrodo Foram estudados três diferentes compostos para a modificação da superfície de ouro do CD-R: p-ATP, ácido lipóico e proteína A. Os dois primeiros compostos, por apresentarem enxofre em sua estrutura, ligam-se ao Au covalentemente formando a SAM42, conforme representadas na Figura 7. A proteína A, formada por aminoácidos que apresentam grupamentos SH em sua estrutura, também interage com a superfície de ouro via ligação covalente. 37 Figura 7. Representação da superfície de ouro do CDtrodo modificada com p-ATP (A) e com ácido lipóico (B). 3.4.1 Modificação com p-ATP Para a modificação da superfície com p-ATP, uma câmara úmida foi desenvolvida com o objetivo de retardar a evaporação do etanol utilizado na diluição do p-ATP, empregando-se um recipiente de vidro bem vedado e adicionando-se 150 mL de solução alcoólica 1:1 (etanol/água). Uma placa de Petri foi colocada dentro do recipiente contendo a solução alcoólica e, sobre a placa, os CDtrodos de ouro com 50 L de p-ATP adicionados na forma de gota, conforme esquematizada na Figura 8. Foram estudadas diferentes concentrações: 1 x 10-3, 2 x 10-3, 1 x 10-2, 2 x 10-2, 1 x 10-1, 2 x 10-1 mol L-1 e tempos de incubação: 15, 30, 60 e 120 minutos. Durante todo o período de incubação, a câmara úmida permaneceu a uma temperatura de aproximadamente 7 °C (geladeira). Após o período de incubação, a lavagem do eletrodo foi por imersão em etanol absoluto, sob leve agitação, num total de 3 vezes de 10 segundos. Figura 8. Esquema da câmara úmida 3.4.2 Modificação com proteína A A imobilização da proteína A foi realizada pela adição de 10 L da solução protéica 0,1 mg mL-1 com incubação de 3 horas a temperatura ambiente diretamente sobre a superfície de trabalho do CDtrodo e sobre a superfície de ouro modificada com SAM de ácido lipóico ativado com EDC/NHS. A B 38 3.4.3 Modificação com ácido lipóico Quando o ácido lipóico foi empregado para a formação da SAM sobre a área de trabalho do CDtrodo, foram adicionados 10 L da solução alcoólica 1:10 (etanol/água) de ácido lipóico 1 x 10-3 mol L-1 com 2 horas de incubação a temperatura ambiente59. Após o período de incubação, a lavagem do eletrodo foi por imersão em água destilada, sob leve agitação, num total de 3 vezes de 10 segundos. 3.5 Imobilização do anticorpo anti-AFB1 A imobilização do anticorpo anti-AFB1 foi efetuada sobre os três diferentes modificadores da superfície de ouro do CDtrodo descrito no item 3.4: p-ATP, proteína A e ácido lipóico. 3.5.1 SAM p-ATP - anticorpo anti-AFB1 Quando o p-ATP foi empregado para a formação da SAM sobre a superfície de ouro do eletrodo, foram adicionados 10 L da solução de anticorpo anti-AFB1 com diluição 1:2000 (0,067 μg μL-1) e avaliados diferentes tempos de incubação: 1, 3, 6, 10, 12 e 18 horas através da voltametria cíclica e EIS. 3.5.2 Proteína A - anticorpo anti-AFB1 O anticorpo anti-AFB 1 foi imobilizado somente sobre a proteína A imobilizada diretamente na superfície de ouro. A imobilização foi realizada através da adição de 10 μL da solução de anticorpo com diluição de 1:2000 com tempo de incubação de 12 horas e avaliada através da EIS. 3.5.3 SAM ácido lipóico - anticorpo anti-AFB1 Antes da imobilização do anticorpo sobre a SAM de ácido lipóico fez-se necessária a ativação de seu grupo carboxílico através da adição de 10 μL da mistura EDC/NHS 0,4 x 10-3/0,1 x 10-3 mol L-1 com incubação de 1h a temperatura ambiente na superfície do eletrodo modificado60. A imobilização do anticorpo anti-AFB1 foi realizada pela adição de 10 μL da solução com diferentes concentrações e tempos de incubação, que foram avaliados através de planejamento fatorial completo do tipo 22 empregando a técnica de EIS. A Tabela 2 apresenta os níveis alto e baixo aplicados para as variáveis. 39 Tabela 2. Matriz de planejamento fatorial completo de duas variáveis e dois níveis Variável Nível Alto Nível Baixo CAc-AFB1 / μg μL-1 0,0067 (1:500) 0,0017 (1:2000) Tincub. / h 12 1 3.6 Otimização da solução bloqueio e das condições para a reação imunoenzimática Ac-Ag Depois de otimizar a imobilização do anticorpo anti-AFB1, foram analisadas, através de estudo quimiométrico por meio do planejamento fatorial completo do tipo 23, as melhores condições das variáveis: concentrações de BSA e do antígeno (Ag) AFB1 e o tempo de incubação da AFB1 sobre os CDtrodo. A Tabela 3 apresenta os níveis altos e baixos avaliados. Tabela 3. Matriz de planejamento fatorial completo de três variáveis e dois níveis Variável Nível Alto Nível Baixo CBSA / % 1,0 0,5 CAFB1 / mol L-1 1,0 x 10-7 1,0 x 10-8 Tincub. AFB1 / min 30 15 Posteriormente, foi realizado o estudo do tempo de incubação de BSA empregando os tempos de 30, 40 e 60 minutos. 3.7 Imobilização do anticorpo anti-AFB1 conjugado com a enzima HRP Para o desenvolvimento do imunossensor amperométrico é necessário a adição de um anticorpo conjugado com a enzima peroxidase (HRP) para o monitoramento da reação enzimática via redução do mediador. Por essa razão, após a adição da solução de AFB1 foi acrescentado 10 μL da solução do anticorpo anti-AFB1 marcado com HRP nas diluições de 1:500, 1:2000 e 1:4000 com 1 hora de incubação. 3.8 Processo de extração da AFB1 em amostras de amendoim As aflatoxinas presentes nas amostras de amendoim cru foram extraídas em metanol. O procedimento de extração da toxina61 foi realizado como descrito no fluxograma do Esquema 1. 40 Dissolver em Metanol Quantificação Extrato Seco Evaporação em banho-maria a 40°C Extrato + 10 mL de clorofórmio + 10 mL de clorofórmio Fase clorofórmica Fase clorofórmica 1ª Partição 2ª Partição 150 mL filtrado 150 mL água Agitar por 5 min Filtrar 150 mL filtrado 150 mL CuSO4 Celite (~ um béquer de 50 mL) Homogeneizar por 5 min Filtrar 50 g de amostra 270 mL de metanol 30 mL de KCl 4% Esquema 1. Fluxograma da extração da aflatoxina B1 em amostras de alimentos. 41 3.9 Condições empregadas para os estudos voltamétricos Para a limpeza da superfície, os CDtrodos foram submetidos a um pré-tratamento voltamétrico de 10 ciclos em ácido sulfúrico 0,5 mol L-1, no intervalo de potencial entre +0,2 e +1,5 V e velocidade de varredura igual a 100 mV s-1. Para os diferentes estudos de voltametria cíclica, foi utilizado o intervalo de potencial de –0,4 a +0,7 V em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 na presença e ausência do par redox Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1, com velocidade de varredura de 50 mV s-1. A voltametria de varredura linear foi empregada para a escolha do potencial de redução a ser aplicado nos estudos amperométricos, em um intervalo de potencial entre –0,75 e +0,9V em solução tampão citrato-fosfato 0,1 mol L-1 pH 5,0 na presença e ausência de H2O2 3,5 x 10-3 mol L-1 (substrato enzimático) e 5-ASA 0,5 x 10-3 mol L-1 (mediador de elétrons), com velocidade de varredura de 50 mV s-1. 3.10 Condições empregadas para os estudos de EIS A análise de impedância foi realizada em duas diferentes taxas de frequências: de 100 kHz a 10 mHz e de 100 kHz a 100 mHz. Foi empregado o potencial de circuito aberto (EOC) com 15 minutos de estabilização, amplitude de 10 mV (rms) e 50 pontos/década. As medidas foram realizadas em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 contendo o par redox Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1. Todas as medidas eletroquímicas foram realizadas a temperatura ambiente e empregando uma gaiola de Faraday. Os experimentos foram realizados em quadruplicatas. 3.11 Monitoramento amperométrico O monitoramento da reação imunoenzimática por técnica amperométrica nas soluções de peróxido de hidrogênio (substrato) e ácido 5-aminossalicílico (mediador) na proporção de 1:7, respectivamente, preparadas em solução tampão citrato-fosfato de sódio 0,1 mol L-1 pH 5,0 e incubação de 2 minutos59. 3.12 Imagens de microscopia de força atômica da superfície de ouro do CD-R 3.12.1 Estudo das superfícies sem modificação Para a caracterização da superfície de ouro sem modificação via AFM, foram empregados três diferentes tipos de CD da marca Mitsui Gold CD-R 100 que apresentam propriedades diferentes quando submetidos a estudos eletroquímicos. Esta etapa do trabalho 42 foi realizada no laboratório do “Biosensors Group” chefiado pelo Prof. Petr Skládal no Departamento de Bioquímica da “Masaryk University” em Brno, Republica Tcheca. Para a análise das superfícies foi necessário o acesso a camada metálica dos CDs, realizado através da remoção das camadas protetoras com HNO3 concentrado, da mesma maneira realizada na construção do CDtrodo de ouro (item 3.3). Após esta etapa, o CD foi cortado em pequenos pedaços (aproximadamente 2 x 3 cm) em três diferentes regiões do CD: borda interna, meio do CD e borda externa, como mostrado na Figura 9. Figura 9. Esquema das áreas cortadas do CD de ouro: Borda Interna (1), Meio do CD (2) e Borda Externa (3). A Tabela 4 mostra as propriedades eletroquímicas de cada um dos CDs analisados nas medidas de AFM. Tabela 4. Propriedades eletroquímicas dos CD-Rs. CD Característica eletroquímica Inkjet Apresenta os melhores resultados eletroquímicos Arquive Bons resultados nas medidas impedimétricas e amperométricas MAM-A Bons resultados apenas nas medidas amperométricas 3.12.2 Estudo das superfícies com o anticorpo anti-AFB1 imobilizado sobre SAM Para obter as imagens do anticorpo imobilizado sobre a superfície do CD modificado, CDtrodos foram construídos e submetidos ao pré-tratamento em H2SO4 47. Em seguida, formou-se a SAM de ácido lipóico e ativou-a com EDC/NHS. Então, adicionou-se o anticorpo anti-AFB1 sobre a SAM ativada por 1 hora. Após a lavagem do eletrodo, a fita de galvanoplastia foi removida do CDtrodo, mantendo somente a área de trabalho de 3 mm de diâmetro. 1 2 3 43 3.13 Imagens de microscopia eletrônica de varredura (FE-SEM) da superfície de ouro do CD-R A superfície de ouro com o anticorpo imobilizado sobre a SAM de ácido lipóico ativado empregada para a obtenção das imagens FE-SEM foi preparada da mesma maneira como descrito no item 3.12.2. As medidas foram realizadas com diferença de potencial de 2 kV para a superfície modificada e de 5 kV para a superfície sem modificação. 44 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1. Limpeza da superfície dos CDtrodos de ouro O CDtrodo foi submetido a ciclagem em solução de Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 e observou-se que o perfil voltamétrico não apresentou boa definição, pois os picos de oxidação (E = 380 mV) e redução (E = 10 mV) mostraram-se bem deformados e bastante afastados um do outro (ΔEpico = 370 mV), conforme mostrado na Figura 10. Esse comportamento pode ser explicado pela ação do ácido nítrico, que provavelmente leva a formação de óxidos de ouro na superfície do transdutor, dificultando a transferência eletrônica envolvendo as espécies redox Fe(CN)6 3-/4-. -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 -5 0 5 10 I / μμ μμ A E / V vs Ag|AgCl|KCl (Sat.) Figura 10. Voltamograma cíclico do Au-CDtrodo antes de qualquer pré-tratamento, em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 na presença de Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 vs Ag|AgCl|KCl(sat); ν = 50 mV s-1. Para melhorar a reversibilidade na transferência de elétrons, o Au-CDtrodo foi submetido a 10 ciclos sucessivos em ácido sulfúrico 0,5 mol L-1 no intervalo de +0,2 a +1,5V com velocidade de varredura de 100 mV s-1, como apresentado na Figura 11. A adsorção de oxigênio sobre eletrodo de ouro ocorre entre +1,2V e +1,6V e a dessorção entre +0,8V e +1,0V62. Este perfil voltamétrico é um indicativo de que a superfície do eletrodo encontra-se limpa. 45 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2 1.4 1.6 -15 -10 -5 0 5 10 I / μμ μμ A E / V vs Ag|AgCl|KCl (Sat.) Figura 11. Voltamograma cíclico em solução de H2SO4 0,5 mol L-1 do Au-CDtrodo vs Ag|AgCl|KCl(sat); ν = 100 mV s-1. Após o pré-tratamento com H2SO4, o eletrodo foi novamente submetido à ciclagem em solução de Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 (Figura 12) e observou-se que houve uma melhora significativa no perfil voltamétrico. Obtendo-se um Epico de aproximadamente 91 mV, que mesmo não sendo o valor ideal (59,2 mV) para uma reação reversível envolvendo um elétron, é considerado um valor aceitável para os estudos posteriores. -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 -10 -5 0 5 10 15 I / μμ μμ A E / V vs Ag|AgCl|KCl (Sat.) Figura 12. Voltamograma cíclico em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 na presença de Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 antes ( ) e após ( ) o pré-tratamento do Au-CDtrodo com H2SO4 vs Ag|AgCl|KCl(sat); ν = 50 mV s-1. 46 4.2 Caracterização através de AFM da superfície de ouro sem modificação de 3 diferentes tipos de CD-R O CD Inkjet apresenta boa uniformidade nas três diferentes regiões do CD, por isso a Figura 13 apresentada apenas as imagens topográficas da borda externa do CD. Os parâmetros obtidos a partir das imagens são mostrados na Tabela 5. Figura 13. Imagens de AFM da superfície de ouro da borda externa do CD Inkjet: (A) 10×10, (B) imagem em 3D 10×10, (C) 3×3, (D) imagem em 3D 3×3 m2. Tabela 5. Parâmetros obtidos através de imagens de AFM para cada região do CD Inkjet. CD Inkjet Borda interna Meio Borda externa Altura / nm 124 ± 3 128 ± 3 124 ± 5 Trilha / nm 0,51 ± 0,04 0,51 ± 0,03 0,44 ± 0,04 Cavidade / nm 0,21 ± 0,06 0,27 ± 0,02 0,27 ± 0,02 Rugosidade / nm 46,1 49,2 46,3 Como observado na Tabela 5, não existe diferença significativa entre a altura e espessura das trilhas de gravação, assim como na espessura das cavidades entre as trilhas. O valor da rugosidade também é semelhante em todas as regiões. Provavelmente devido a essa A B C D 47 boa uniformidade da superfície de ouro, este é o CD que apresenta melhor resultados eletroquímicos. A Figura 14 mostra as imagens de AFM para a borda interna CD Arquive, enquanto a Figura 15 apresenta as imagens do meio e borda externa. Os parâmetros da Tabela 6 foram obtidos a partir dessas figuras. Figura 14. Imagens de AFM da superfície de ouro da borda interna do CD Arquive: (A) 10×10, (B) imagem em 3D 10×10, (C) 3×3, (D) imagem em 3D 3×3 m2. C D A B 48 Figura 15. Imagens de AFM da superfície de ouro do meio (A-D) e da borda externa (E-H) do CD Arquive: (A, E) 10×10, (B,F) imagem em 3D 10×10, (C,G) 3×3, (D, H) imagem em 3D 3×3 m2. A B C D E F G H 49 A Tabela 6 mostra que o CD Arquive tem altura das trilhas e rugosidade semelhante nas 3 regiões do CD, mas apresenta uma grande diferença entre a espessura das trilhas. A borda interna das trilhas é mais espessa e apresentam-se mais distantes entre elas quando comparada as outras regiões do CD. A borda externa e o meio do CD têm valores semelhantes na espessura das trilhas, no entanto a espessura das cavidades da borda interna é aproximadamente duas vezes maior que a espessura do meio do CD. Provavelmente a proporção de 1:2 na repetibilidade das medidas de impedância que este CD apresenta é devido à falta de uniformidade da camada metálica do CD. Tabela 6. Parâmetros obtidos através de imagens de AFM para cada região do CD Arquive. CD Arquive Borda interna Meio Borda externa Altura / nm 117 ± 5 114 ± 2 123 ± 8 Trilha / nm 1,0 ± 0,1 0,51 ± 0,04 0,63 ± 0,05 Cavidade / nm 0,50 ± 0,02 0,16 ± 0,01 0,31 ± 0,02 Rugosidade / nm 42,7 40,0 45,5 A Figura 16 mostra as imagens de AFM para a borda interna CD MAM-A, enquanto a Figura 17 apresenta as imagens do meio e borda externa. Os parâmetros da Tabela 7 foram obtidos a partir dessas figuras. Figura 16. Imagens de AFM da superfície de ouro da borda interna do CD MAM-A: (A) 10×10, (B) imagem em 3D 10×10, (C) 3×3, (D) imagem em 3D 3×3 m2. A B C D 50 Figura 17. Imagens de AFM da superfície de ouro do meio (A-D) e da borda externa (E-H) do CD MAM-A: (A, E) 10×10, (B,F) imagem em 3D 10×10, (C,G) 3×3, (D, H) imagem em 3D 3×3 m2. A B C D E F G H 51 Como mostrado na Tabela 7, as bordas interna e externa do CD MAM-A apresentam altura, espessura e rugosidade das trilhas semelhantes, mas a distância entre as trilhas não se apresenta constante. Já o meio do CD mostra diferença significante em todos os parâmetros quando comparado com as demais regiões do CD. Esse comportamento demonstra que, provavelmente, o filme de ouro depositado não é uniforme. E isso poderia explicar a falta de repetibilidade que esta superfície apresenta em equipamentos com alta sensibilidade, como na técnica de EIS. Tabela 7. Parâmetros obtidos através de imagens de AFM para cada região do CD MAM-A. CD MAM-A Borda interna Meio Borda externa Altura / nm 135 ± 4 114 ± 4 140 ± 3 Trilha / nm 0,41 ± 0,03 0,33 ± 0,01 0,41 ± 0,01 Cavidade / nm 0,22 ± 0,02 0,08 ± 0,01 0,13 ± 0,02 Rugosidade / nm 49,5 45,6 50,4 4.3 Estudo do tempo de incubação e concentração da solução de p-ATP para a formação da SAM sobre a superfície do CDtrodo empregando voltametria cíclica Inicialmente, foram estudados dois diferentes tempos de incubação da solução de p-ATP 2 x 10-2 mol L-1 sobre a superfície do CDtrodo, 15 e 30 min. E como mostrado na Figura 18, o tempo de 15 minutos não apresentou grande alteração nos picos de oxiredução do Fe(CN)6 3-/4-, provavelmente por não haver tempo suficiente para a formação e organização da monocamada. Por essa razão, adotou-se o tempo de 30 minutos de incubação, já que apresentou maior variação no perfil voltamétrico do par redox, principalmente no pico catódico. Tempos maiores de incubação não foram avaliados devido à rápida evaporação do etanol empregado como solvente da solução de p-ATP. 52 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 -15 -10 -5 0 5 10 15 I / μμ μμ A E / V vs Ag|AgCl|KCl (Sat.) Figura 18. Voltamogramas cíclicos em solução de Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 do CDtrodo de ouro sem modificação ( ) e do CDtrodo modificado com p-ATP 2 x 10-2 mol L-1 com 15 ( ) e 30 ( ) min de incubação vs Ag|AgCl|KCl(sat); ν = 50 mV s-1. Depois de fixado o tempo de incubação, foi avaliada a melhor concentração da solução de p-ATP com cinco diferentes concentrações: 1 x 10-3; 2 x 10-3; 1 x 10-2; 2 x 10-2 e 2 x 10-1 mol L-1. No entanto, como observado na Figura 19, a voltametria cíclica não se mostrou um bom método para este estudo, pois o sistema não apresentou boa reprodutibilidade e linearidade nos resultados, ou seja, com o aumento da concentração de p-ATP não houve a redução ou aumento linear do recobrimento da superfície. 53 -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 -10 -5 0 5 10 15 I / μμ μμ A E / V vs Ag|AgCl|KCl (Sat.) -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 -15 -10 -5 0 5 10 15 I / μμ μμ A E / V vs Ag|AgCl|KCl (Sat.) -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 -10 -5 0 5 10 15 I / μμ μμ A E / V vs Ag|AgCl|KCl (Sat.) -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 -5 0 5 10 I / μμ μμ A E / V vs Ag|AgCl|KCl (Sat.) -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 -10 -5 0 5 10 15 I / μμ μμ A E / V vs Ag|AgCl|KCl (Sat.) Figura 19. Voltamogramas cíclicos em solução de Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 dos CDtrodos de ouro sem modificação: Eletrodo 1 ( ), Eletrodo 2 ( ) e Eletrodo 3 ( ); e dos CDtrodos modificados com p-ATP com 30 minutos de incubação, nas seguintes concentrações: 1 x 10-3 (A), 2 x 10-3 (B), 1 x 10-2 (C), 2 x 10-2 (D), 2 x 10-1 mol L-1 (E): Eletrodo 1 ( ), Eletrodo 2 ( ) e Eletrodo 3 ( ) vs Ag|AgCl|KCl(sat); ν = 50 mV s-1. A B C D E 54 4.4 Comportamento eletroquímico do p-ATP em solução e modificado na superfície do CDtrodo Como houve aumento da intensidade de corrente no pico de oxidação quando o CDtrodo foi modificado com p-ATP, foram realizados ciclagens sucessivos do CDtrodo sem modificação com o p-ATP 2 x 10-2 mol L-1 em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 com a finalidade de observar se o composto possui algum pico na mesma região que o par redox Fe(CN)6 3-/4-. E, como apresentado na Figura 20, existe um pico de oxidação em aproximadamente 0 V, referente a adsorção do composto tiolado à superfície. Provavelmente quando o p-ATP está modificado na superfície este pico se desloca e se associa com o pico de oxidação do par redox (aproximadamente 260 mV), aumentando a intensidade de corrente. Outra observação interessante é a forte interação que a molécula de p-ATP possui com o ouro, pois, após o primeiro ciclo, o CDtrodo não apresentou mais o pico próximo a 0 V, o que demonstra o recobrimento da superfície. -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0 5 10 15 20 25 I / μμ μμ A E / V vs Ag|AgCl|KCl (Sat.) Figura 20. Voltamogramas cíclicos em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 contendo p-ATP 2 x 10-2 mol L-1 do CDtrodo de ouro sem modificação, sendo: ( ) 1º ciclo, ( ) 2º ciclo e ( ) 10º ciclo vs Ag|AgCl|KCl(sat); ν = 50 mV s-1. Também foram realizados experimentos em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 com o CDtrodo modificado com p-ATP 2 x 10-2 mol L-1 e intervalos de potencial de –0,4 a +0,7 V e de +0,7 a –0,4V. Como mostrado nas Figuras 21 e 22, não houve formação de picos, nos sentidos anódicos e catódicos da varredura, no entanto, houve alteração do perfil voltamétrico em relação ao branco em ambos os intervalos. O voltamograma traçado com o 55 CDtrodo modificado (Figura 22) apresentou comportamento anômalo na triplica de experimentos realizados e estudos posteriores devem ser efetuados. -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 -1 0 1 2 I / μμ μμ A E / V vs Ag|AgCl|KCl (Sat.) Figura 21. Voltamogramas cíclicos em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 do CDtrodo de ouro sem modificação ( ) e modificado com p-ATP 2 x 10-2 mol L-1 ( ) com intervalo de potencial de –0,4 a +0,7 V vs Ag|AgCl|KCl(sat); ν = 50 mV s-1. -0,4 -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 -4 -2 0 2 4 I / μμ μμ A E / V vs Ag|AgCl|KCl (Sat.) Figura 22. Voltamogramas cíclicos em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 do CDtrodo de ouro sem modificação ( ) e modificado com p-ATP 2 x 10-2 mol L-1 ( ), com intervalo de potencial de +0,7 a -0,4 V vs Ag|AgCl|KCl(sat); ν = 50 mV s-1. 56 4.5 Otimização dos parâmetros a serem empregados nas medidas de EIS Como não foi possível otimizar a formação da SAM de p-ATP sobre a superfície do CDtrodo através da técnica de voltametria cíclica, optou-se realizar esta otimização empregando a espectroscopia de impedância eletroquímica. Porém, foi necessário estudar previamente as principais condições a serem fixadas nas medidas de EIS. A Figura 23 mostra a medida potencial versus tempo em solução de Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1. Observa-se que nos segundos iniciais o potencial sofreu um salto de aproximadamente 10 mV e, em seguida, há apenas uma pequena variação (cerca de 2 mV) em praticamente 1 hora. Com isso adotou-se 15 minutos como tempo de estabilização do potencial a circuito aberto. 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 205 210 215 E / m V v s A g| A gC l|K C l (S at .) t (s)t / s E / m V v s A g| A gC l|K C l (S at .) Figura 23. Curva de potencial de circuito aberto versus tempo obtida para um CDtrodo sem modificação em solução de Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 vs Ag|AgCl|KCl(sat). Para estudar a melhor amplitude de perturbação do sistema utilizou-se CDtrodos modificados com ácido lipóico 1 x 10-3 mol L-1 em solução de Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 empregando três diferentes valores de amplitude (“rms”): 5, 10 e 15 mV. Como observado na Figura 24, as medidas de impedância com amplitude “rms” de 5 mV não apresentaram boa reprodutibilidade entre os eletrodos e quando foram aplicadas as amplitudes “rms” de 10 e 15 mV as medidas mostraram-se reprodutivas, o que indica que o sistema responde à linearidade nestas amplitudes. O “inset” da Figura 24 mostra o módulo de impedância na frequência de 133 mHz vs amplitude (“rms”) / mV, indicando a linearidade do sistema. As etapas posteriores foram realizadas com amplitude “rms” igual a 10 mV. 57 0 5 10 15 20 25 30 0 5 10 15 20 25 30 100 mHz 100 mHz100 mHz 100 mHz -Z im (k ΩΩ ΩΩ ) Z re (kΩΩΩΩ)Zre / k -Z im / k 5 10 15 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 |Z |/| Z | ( f = 1 33 m H z) Amplitude (rms) / mVAmplitude (“rms”) / mV Zre / k -Z im / k Figura 24. Diagrama do plano complexo em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 com Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 para CDtrodo modificados com ácido lipóico 1 x 10-3 mol L-1, com diferentes valores de amplitude de perturbação: 5 ( e ), 10 ( e ) e 15 mV ( e ) vs Ag|AgCl|KCl(sat). Inset: módulo de impedância na frequência de 133 mHz vs amplitude (“rms”) / mV Em seguida, foi realizado o estudo do intervalo de frequência. A Figura 25 apresenta o diagrama do plano complexo do CDtrodo sem modificação com intervalo de 10 mHz a 100 kHz e pode-se observar que o processo difusional (em baixas frequências) é muito grande, dificultando a análise do gráfico. Por essa razão, como mostrado na Figura 26, reduziu-se o intervalo de frequência para facilitar a interpretação dos resultados. Portanto adotou-se 100 mHz a 100 kHz como o melhor intervalo de frequência. 58 0 2 4 6 8 10 12 14 0 2 4 6 8 10 12 14 10 mHz -Z im (k ΩΩ ΩΩ ) Z re (kΩΩΩΩ)Zre / k -Z im / k Zre / k -Z im / k Figura 25. Diagrama do plano complexo em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 com Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 para CDtrodo sem modificação com intervalo de frequência de 100 kHz a 10 mHz vs Ag|AgCl|KCl(sat). 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 100 mHz -Z im (k ΩΩ ΩΩ ) Z re (kΩΩΩΩ)Zre / k -Z im / k Zre / k -Z im / k Figura 26. Diagrama do plano complexo em solução tampão fosfato 0,1 mol L-1 pH 7,0 com Fe(CN)6 3-/4- 1 x 10-3 mol L-1 para CDtrodo sem modificação com intervalo de frequência de 100 kHz a 100 mHz vs Ag|AgCl|KCl(sat). 59 4.6 Estu