1 2 3 DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO UNESP – BAURU Spaine, Patrícia Aparecida de Almeida. Diretrizes para o ensino e construção da modelagem: um processo híbrdo / Patrícia Aparecida de Almeida Spaine, 2016 200 f. il. Orientador: Marizilda dos Santos Menezes Tese (Doutorado)–Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Bauru, 2016. 1. Design de Moda. 2. Ensino. 3. Processo híbrido. 4. Técnicas de Modelagem Bidimensional e Tridimensional. 5. Matemática. 6. Diretrizes I. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação. II. Título. 4 Banca Examinadora Profa. Marizilda dos Santos Menezes, Dra. Universidade Estadual Paulista – UNESP Orientadora Profa. Mônica Moura, Dra. Universidade Estadual Paulista – UNESP Co-Orientadora Prof. Roberto Alcarria do Nascimento, Dr. Universidade Estadual Paulista – UNESP Banca Prof. José Carlos Plácido da Silva, Dr. Universidade Estadual Paulista – UNESP Banca Profa. Patricia de Melo Souza, Dra. Universidade Estadual de Londrina – UEL Banca Profa. Isabel Cristina Italiano Dra. Universidade de São Paulo – USP Banca 5 6 7 8 Agradecimentos A Deus, pelo dom da vida. Aos meus pais, Dimas e Laura, pela dedicação, força, incentivo, respeito, e amor para eu chegar até aqui. Ao meu filho Mateus, por ser a maior razão de todas as minhas conquistas e melhorias todos os dias. A minha família de coração, parentes de sangue ou não, pelo apoio nessa fase, vocês sabem quem são. A Marizilda, minha orientadora do mestrado e do doutorado, pelo incentivo e dedicação ao longo de todos esses anos. A Patrícia Melo, minha primeira orientadora no TCC, pela inspiração e amor pela modelagem. As minhas amigas Raquel e Lívia, pela companhia nessa jornada do doutorado e de trabalho. A minha amiga Débora, pelo amor pela modelagem e pelas pesquisas e projetos que desenvolvemos juntas. As minhas amigas da UTFPR, pelo apoio e incentivo nessa fase e no trabalho todos os dias. As minhas amigas e meus amigos, pela presença, incentivo e motivação nos dias bons e ruins ao longo dos anos. Ao Jordan, pela ajuda significativa na parte gráfica e visual do trabalho. A UTFPR, pela licença disponibilizada na realização do doutorado. A todos que de alguma forma contribui para esse resultado, o meu sincero Obrigada! 9 10 SPAINE, Patrícia Aparecida de Almeida. Diretrizes para o ensino e construção da modelagem: um processo híbrido. Bauru, 2016, 188 p. Tese (Doutorado em Design) – UNESP- Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, FAAC – Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação. O objetivo geral desse projeto consiste em desenvolver diretrizes de ensino e construção da modelagem por meio de estudos dos conceitos e métodos que envolvem o desenvolvimento, a elaboração e o aprendizado da Modelagem Bidimensional e Tridimensional do vestuário. A revisão de literatura analisou a aplicação da modelagem no design do vestuário: teoria básica, a modelagem bidimensional, a modelagem tridimensional, a gradação, o fluxograma da modelagem e a matemática aplicada na modelagem. A pesquisa qualitativa teve como intuito identificar os assuntos relevantes para serem considerados no processo de construção e ensino da modelagem, e para tanto analisou as referências bibliográficas utilizadas nos artigos relacionados à modelagem que foram publicados nos anais do Colóquio de Moda e efetuou uma pesquisa com discentes. Assim, de acordo com o diagnóstico efetuado entre a revisão de literatura e as pesquisas de campo constatou-se a relevância do desenvolvimento de diretrizes que facilitem o processo de construção e ensino do molde do vestuário. Palavras-chave: Design de Moda; Ensino; Processo híbrido; Técnicas de Modelagem Bidimensional e Tridimensional; Matemática; Diretrizes. 11 12 SPAINE, Patrícia Aparecida de Almeida. Guidelines for teaching and building modeling: a hybrid process. Bauru, 2016, 188 p. Tese (Doutorado em Design) – UNESP- Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, FAAC – Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação. The overall objective of this project is to develop educational guidelines and construction modeling through studies of concepts and methods involving the development, the elaboration and learning of dimensional and three- dimensional modeling of clothing. The literature review analyzed the application of modeling in clothing design: basic theory, the two-dimensional modeling, three-dimensional modeling, grading, the flowchart modeling and applied mathematics in modeling. Qualitative research was intended to identify the relevant issues to be considered in the construction and teaching of the modeling process, and analyzed the bibliographic references used in articles related to modeling that were published in the Colloquium Annals of Fashion and conducted a survey applied to students. Thus, according to the diagnosis made between literature review and field research found the relevance of developing guidelines to facilitate the construction and teaching the garment mold process. Keywords: Fashion Design; Education; hybrid process; Two-dimensional and Three-dimensional technical modeling; Mathematics; Guidelines. 13 14 Figura 1: Modelagem Bidimensional..............................................................................37 Figura 2: Modelagem Tridimensional. ...........................................................................38 Figura 3: Figura 3: Pence da cintura e pence do ombro.................................................40 Figura 4: Pence reta, Pence convexa e Pence côncava..................................................41 Figura 5: Prega simples, fêmea e macho........................................................................41 Figura 6: Drapeados em vestido.....................................................................................42 Figura 7: Manga com franzido........................................................................................42 Figura 8: Blusa com nervuras.........................................................................................44 Figura 9: Vestido com recortes.......................................................................................44 Figura 10: Folga de modelagem.....................................................................................45 Figura 11: Medidas do corpo feminino..........................................................................47 Figura 12: Bases de modelagem feminina......................................................................48 Figura 13: Modelagem plana da blusa feminina............................................................50 Figura 14: Diagrama da Estrutura básica do processo de interpretação de modelagem.....................................................................................................................52 Figura 15: Ferramentas para elaboração da modelagem plana.....................................53 Figura 16: Elaboração da moulage.................................................................................54 Figura 17: Morim leve. ..................................................................................................56 Figura 18: Manequim feminino de corpo inteiro com pernas........................................57 Figura 19: Manequim feminino para vestidos e saias....................................................58 Figura 20: Manequim feminino de meio corpo com pernas até a coxa.........................58 Figura 21: Manequim para gestantes.............................................................................59 Figura 22: Manequim infantil.........................................................................................59 Figura 23: Manequim masculino....................................................................................60 Figura 24: Ferramentas para a elaboração da modelagem Tridimensional...................61 Figura 25: Ambiente de elaboração de moldes planos no sistema Audaces Vestuário Moldes Avançado...........................................................................................................62 15 Figura 26: Ambiente de elaboração de moldes tridimensionais no sistema Audaces 3D...................................................................................................................................63 Figura 27: Ambiente de elaboração de moldes no sistema Audaces Vestuário Encaixe Avançado........................................................................................................................64 Figura 28: Gradação frente camisa.................................................................................65 Figura 29: Processo de gradação....................................................................................66 Figura 30: Diagrama do Processo de execução da Modelagem....................................69 Figura 31: Diagrama do Desenvolvimento da modelagem............................................70 Figura 32: Diagrama das etapas de elaboração da modelagem.....................................71 Figura 33: Diagrama de procedimentos técnicos para o engenheiro de molde............72 Figura 34: Tabela de medidas do corpo feminino..........................................................81 Figura 35: Diagrama da Base da Saia Reta, o retângulo do diagrama foi elaborado com metade da medida do quadril na largura e altura igual ao comprimento da saia..................................................................................................................................83 Figura 36: Ponto, reta e plano........................................................................................85 Figura 37: Tipos de medidas de ângulos........................................................................86 Figura 38: ¼ de Circunferência em 360° e relação grau X radiado................................87 Figura 39: Moldes de Saia godê......................................................................................88 Figura 40: Figuras geométricas planas...........................................................................89 Figura 41: Figuras Geométricas Espaciais.......................................................................90 Figura 42: Blusa como dekoboko, criando um molde com objetos tridimensionais......91 Figura 43: Plano Cartesiano............................................................................................92 Figura 44: Ambiente do Software Audaces Moldes Avançado.......................................93 Figura 45: Traçado do Molde básico e sua relação com a Geometria Plana...............................................................................................................................94 Figura 46: Representação da roupa envolta do corpo resultando em cilindros e cones..............................................................................................................................95 Figura 47: Técnica de Modelagem Híbrida.....................................................................97 16 Figura 48: Modelagem Híbrida.....................................................................................101 Figura 49: Respostas à Questão 2: Quais assuntos você considera importante conhecer no processo de aprendizado de modelagem, para ser aplicado na elaboração de um método de ensino e em um novo material didático? Assinale as alternativas...................................................................................................................132 Figura 50: Respostas da Questão 3: Quais assuntos não foram abordados no processo de aprendizado da modelagem em sua instituição? Assinale as alternativas. ......................................................................................................................................133 Figura 51: Respostas à Questão 4: Quais assuntos você teve maior dificuldade de entendimento no processo de aprendizado de modelagem? Assinale as alternativas...................................................................................................................134 Figura 52: Respostas da Questão 5: O que você considera essencial em um método de ensino e em um material didático de modelagem? Assinale as alternativas. ......................................................................................................................................135 Figura 53: Diagrama da sequência metodológica do processo de ensino e construção da modelagem..............................................................................................................140 Figura 54: Exemplo de layout da fase teórica do ensino da modelagem.....................145 Figura 55: Exemplo de layout da fase intermediária do ensino da modelagem..........146 17 abela 1: Etapas do processo produtivo do vestuário...................................................10 18 Tabela 1: Etapas do processo produtivo do vestuário...................................................35 Tabela 2: Diretrizes metodológicas para o processo de ensino da Modelagem plana Industrial.........................................................................................................................74 Tabela 3: Etapas da Modelagem Matemática................................................................78 Tabela 4: Etapas da Modelagem Matemática e da modelagem do vestuário...............80 Tabela 5: Convergências entre a modelagem plana e a modelagem tridimensional.................................................................................................................99 Tabela 6: 7º Colóquio de Moda, 2011..........................................................................104 Tabela 7: 8º Colóquio de Moda, 2012..........................................................................106 Tabela 8: 9º Colóquio de Moda, 2013..........................................................................107 Tabela 9: 10º Colóquio de Moda, 2014........................................................................110 Tabela 10: 11º Colóquio de Moda, 2015......................................................................111 Tabela 11: Livros mais citados do 7º ao 11º Colóquio de Moda, em ordem crescente......................................................................................................................113 Tabela 12: Número de artigos em que cada livro foi citado por ano, em ordem crescente. ....................................................................................................................114 Tabela 13: Análise dos conteúdos presentes nos livros...............................................116 Tabela 14: Estrutura do protocolo com discentes.......................................................130 19 20 Introdução......................................................................................................................24 Capítulo 1: Delineamento da pesquisa..........................................................................27 1.1. Tema da Pesquisa……………………………………….................….……….........................27 1.2. Problema………………………….……………………………................................….…….........27 1.3. Hipótese…………………………………..………………..................................….………………..27 1.4. Objetivos………………………………………………............................................................27 1.4.1. Objetivo geral……………………………………………................................……….……........27 1.4.2. Objetivos Específicos………………………………..........................................................28 Capítulo 2: Procedimentos metodológicos...................................................................29 2.1. A pesquisa: enfoque qualitativo..............................................................................29 2.1.1. A Revisão de Literatura.........................................................................................30 2.1.2. A Pesquisa de Campo...........................................................................................30 2.1.2.1. A pesquisa de campo: documental....................................................................31 2.1.2.2 A pesquisa de campo: discentes.........................................................................32 2.1.2.3 A proposta da tese..............................................................................................33 Capítulo 3: Revisão de Literatura..................................................................................34 3.1. A modelagem no design do vestuário: teoria básica.............................................34 3.2. A Modelagem Bidimensional.................................................................................49 3.3. A Modelagem Tridimensional................................................................................54 3.4. A Modelagem Computadorizada...........................................................................61 3.5. Gradação...............................................................................................................64 3.6. Procedimentos e diretrizes para o ensino e elaboração da modelagem............67 3.6.1. Procedimentos para desenvolvimento dos moldes............................................67 3.6.2. Diretrizes metodológicas para o ensino da modelagem.....................................73 3.7. Conhecimentos da matemática aplicados à modelagem...................................76 21 3.7.1. A modelagem Matemática e sua relação com a construção do molde..............77 3.7.2. Unidade de medidas...........................................................................................80 3.7.3. Frações................................................................................................................82 3.7.4. Operações Aritméticas........................................................................................83 3.7.5. Escala..................................................................................................................84 3.7.6. Geometria...........................................................................................................84 3.8. A Modelagem Bidimensional e a Modelagem Tridimensional: um processo híbrido............................................................................................................................95 Capítulo 4: Pesquisa de Campo...................................................................................102 4.1. Pesquisa de campo: documental...........................................................................102 4.1.1. Apresentação dos resultados da pesquisa documental.....................................103 4.1.1.1. 7º Colóquio de Moda – 2011..........................................................................104 4.1.1.2. 8º Colóquio de Moda – 2012..........................................................................106 4.1.1.3. 9º Colóquio de Moda – 2013..........................................................................107 4.1.1.4. 10º Colóquio de Moda – 2014........................................................................109 4.1.1.5. 11º Colóquio de Moda – 2015........................................................................111 4.2. Análise e discussão dos resultados da pesquisa documental................................113 4.3. Análise das bibliografias........................................................................................115 4.3.1 Resultado da Análise das bibliografias................................................................116 4.3.2. Análise do livro: Modelagem: tecnologia em produção de vestuário.......................................................................................................................118 4.3.3. Análise do livro: A modelagem sob a ótica da ergonomia..................................119 4.3.4. Análise do livro: Design de Moda: Olhares diversos...........................................120 22 4.3.5. Análise do livro: Fundamentos do design de moda: construção do vestuário.......................................................................................................................121 4.3.6. Análise do livro: Modelagem e técnicas de interpretação para confecção industrial.......................................................................................................................121 4.3.7. Análise do livro: Alfaiataria: Modelagem Plana Masculina................................122 4.3.8. Análise do livro: Modelagem plana feminina.....................................................123 4.3.9. Análise do livro: Tecnologia do vestuário...........................................................123 4.3.10. Análise do livro: El cuerpo diseñado: sobre la forma en el proyecto de la vestimenta....................................................................................................................124 4.3.11. Análise do livro: Modelagem Industrial Brasileira............................................124 4.3.12. Análise do livro: Moulage: arte e técnica no design de moda..........................125 4.3.13. Análise do livro: Inventando Moda: Planejamento de Coleção........................126 4.3.14. Análise do livro: Fashion Design: manual do estilista.......................................126 4.3.15. Análise do livro: Modelagem: Organização e técnicas de interpretação................................................................................................................126 4.4. Análise geral dos livros..........................................................................................127 4.5. Pesquisa de campo: discentes..............................................................................129 4.5.1. Apresentação dos resultados da pesquisa de campo: discentes........................130 4.5.1.1. Processo de aprendizado da modelagem: assuntos importantes...................131 4.5.1.2. Processo de aprendizado da modelagem: assuntos não abordados...............132 4.5.1.3. Processo de aprendizado da modelagem: dificuldades..................................133 4.5.1.4. Processo de aprendizado da modelagem: método de ensino e material didático.........................................................................................................................134 23 4.6. Discussão dos resultados da pesquisa de campo: discentes.................................135 4.6.1. Quanto ao processo de aprendizado da modelagem: assuntos importantes..................................................................................................................135 4.6.2. Quanto ao processo de aprendizado da modelagem: assuntos não abordados.....................................................................................................................136 4.6.3. Quanto ao processo de aprendizado da modelagem: dificuldades..................................................................................................................137 4.6.4. Quanto ao processo de aprendizado da modelagem: método de ensino e material didático...........................................................................................................138 Capítulo 5: Proposta da Pesquisa................................................................................139 5.1. Diretrizes para o ensino e construção da modelagem: um processo híbrido..........................................................................................................................139 Conclusão.....................................................................................................................147 Referências...................................................................................................................152 Apêndices.....................................................................................................................159 24 25 As experiências vivenciadas pela autora da pesquisa na indústria do vestuário como designer, como docente do ensino superior e aluna de pós- graduação, em nível de mestrado e durante seu doutorado, possibilitaram as inquietações necessárias para os levantamentos realizados no trabalho em questão. Este estudo nasceu como continuação do projeto de mestrado da pesquisadora, que identificou, naquele momento, algumas dificuldades encontradas pelos alunos no processo de aprendizado da modelagem plana do vestuário. A pesquisa resultou na elaboração das Diretrizes metodológicas para o processo de ensino da modelagem plana industrial. As diretrizes evidenciaram a necessidade de melhoria no processo de aprendizado da modelagem, em âmbito acadêmico, e, por consequência, a criação de um método de ensino de modelagem que facilitasse a elaboração da modelagem por discentes e/ou modelistas. A modelagem, no design do vestuário, consiste no processo de transformar um tecido plano, que é bidimensional, em um produto que deve envolver um corpo tridimensional, e esse processo só é possível por meio da utilização de técnicas e métodos de desenvolvimento da modelagem do vestuário. As principais técnicas de elaboração da modelagem utilizadas são: Modelagem bidimensional, Modelagem tridimensional e Modelagem computadorizada. A modelagem bidimensional caracteriza-se pela representação do corpo humano por meio de um plano, com base no estudo e posicionamento de linhas verticais, horizontais, curvas, ângulos e pontos. A modelagem tridimensional consiste em uma técnica empregada para a elaboração de moldes do vestuário, efetivada por meio da manipulação do material têxtil, tendo, como suporte, o manequim técnico ou o corpo do usuário. Trata-se de uma técnica de design, criação e produção, em três 26 dimensões, que proporciona uma considerável liberdade de elaboração dos produtos. A modelagem computadorizada caracteriza-se por ser uma ferramenta tecnológica que por intermédio de softwares específicos podem ser desenvolvidos moldes bidimensionais e/ou tridimensionais do vestuário. Assim, o objetivo geral deste estudo foi desenvolver diretrizes de ensino e construção da modelagem por meio de estudos dos conceitos e das técnicas que envolvem o desenvolvimento, a elaboração e o aprendizado da Modelagem Bidimensional e Tridimensional do vestuário. O Capítulo 1 aborda o delineamento da pesquisa e compreende: o tema da pesquisa, o problema, a hipótese, o objetivo geral e os objetivos específicos. O Capítulo 2 apresenta os procedimentos e etapas metodológicos utilizados na pesquisa, assim, aborda: a definição da pesquisa com enfoque qualitativo, o caminho utilizado na revisão de literatura e as pesquisas de campo, documental e com os discentes. O Capítulo 3 expõe o levantamento das principais teorias sobre o tema, abordando desde os princípios da teoria básica da modelagem até o processo de gradação, o fluxograma da modelagem e a matemática aplicada à modelagem. O capítulo 4 explora a pesquisa de campo: resultados e discussões. Para isso, apresenta: a pesquisa de campo documental e a análise e discussão dos resultados da pesquisa documental; a pesquisa de campo com discentes e a apresentação e discussão dos resultados da pesquisa de campo com os discentes. O capítulo 5 apresenta as diretrizes para o processo de ensino e construção da modelagem por meio de um processo híbrido. O estudo encerra-se com a apresentação das conclusões, das referências bibliográficas e dos anexos do trabalho. 27 1- Delineamento da pesquisa 1.1. Tema da Pesquisa O desenvolvimento de diretrizes de ensino e construção da modelagem do vestuário. 1.2. Problema Como desenvolver diretrizes de ensino e construção da modelagem do vestuário que possam facilitar o desenvolvimento de moldes e o aprendizado dos discentes? 1.3. Hipótese O ensino da modelagem e a construção do molde do vestuário consiste em um processo híbrido em que se envolve conhecimentos teóricos, práticos e os intermediários que estão entre a teoria e a prática. A modelagem bidimensional e a modelagem tridimensional são técnicas que, ao serem utilizadas paralelamente, no processo de ensino e elaboração do molde do vestuário, facilitam o aprendizado dos alunos e a construção das roupas. 1.4. Objetivos 1.4.1 Objetivo Geral O objetivo geral deste estudo foi desenvolver diretrizes de ensino e construção da modelagem, por meio de estudos e pesquisas referentes às técnicas de Modelagem Bidimensional e Modelagem Tridimensional do vestuário. 28 1.4.2 Objetivos Específicos Constituem objetivos específicos da pesquisa:  Investigar a teoria básica de desenvolvimento da modelagem no design no vestuário: bidimensional e tridimensional;  Ponderar os aspectos que devem ser consideradas no ensino e desenvolvimento da modelagem;  Entender a importância de alguns princípios da matemática na execução e no ensino da modelagem;  Identificar e analisar as referências bibliográficas utilizadas e citadas, em artigos relacionados às modelagens bidimensional e tridimensional, que foram publicados nos anais do Colóquio de Moda; 29 2- Procedimentos Metodológicos 2.1. A pesquisa: enfoque qualitativo A pesquisa científica, de acordo com Sampieri, Callado e Lucio (2013, p. 30), consiste em um “conjunto de processos sistemáticos, críticos e empíricos aplicados no estudo de um fenômeno.” Trata-se de um levantamento que objetiva: gerar conhecimento por meio do processo de observação e avaliação de fenômenos; criar suposições ou ideias a partir das avaliações realizadas; demonstrar se as suposições têm fundamento; revisar as suposições por meio de provas e análises; e propor novas observações e avaliações para esclarecer, modificar e fundamentar as suposições e ideias ou gerar outras. A pesquisa com enfoque qualitativo baseia-se na lógica e em um processo indutivo que explora e descreve, com base em métodos de coleta de dados amplamente empregados. Nesse sentido, o pesquisador realiza “observações não estruturadas, entrevistas abertas, revisão de documentos, discussão em grupo, avaliação de experiências pessoais, registro de histórias de vida, e interação e introspecção com grupos ou comunidades” (SAMPIERI, CALLADO e LUCIO, 2013, p. 34). O enfoque qualitativo avalia o desenvolvimento natural dos acontecimentos, uma vez que há uma convergência de realidades: dos participantes, do pesquisador e a produzida pela interação de ambos. Desse modo, Tozoni-Reis (2009, p. 65) argumenta que a amostra, a coleta e análise são fases realizadas, praticamente, de forma simultânea, durante a pesquisa. Assim, a estrutura metodológica que conduz a presente pesquisa divide-se em quatro áreas:  A revisão de literatura;  Pesquisas de campo;  Análise das entrevistas 30  Experimentação do método  Elaboração das diretrizes 2.1.1. A Revisão de Literatura A revisão de literatura tem por finalidade dar suporte ao estudo, ou seja, preparar com base em autores e obras selecionados, os dados e conceitos necessários para a elaboração do conhecimento pretendido no assunto em questão. Além disso, de acordo com Sampieri, Callado e Lucio (2013, p. 381), a revisão de literatura pretende:  Detectar conceitos que o autor da pesquisa pode não ter identificado;  Identificar métodos de coleta de dados e análises para a pesquisa;  Conhecer diferentes maneiras de outros autores abordarem o assunto e  Melhorar o entendimento dos dados e aprofundar as interpretações. A revisão de literatura, desenvolvida no capítulo 3, discute os seguintes assuntos: a modelagem no design do vestuário; teoria básica da modelagem, que aborda os conceitos de Modelagem Bidimensional Plana e Computadorizada e Modelagem Tridimensional; gradação; fluxograma da modelagem; e matemática aplicada na modelagem. 2.1.2. A Pesquisa de Campo De acordo com Sampieri, Callado e Lucio (2013, p. 417), a pesquisa de campo auxilia na busca de dados na fonte onde ocorrem os problemas identificados no estudo. Nesse caso, a pesquisa se caracteriza pela ida do pesquisador ao campo, espaço que precisa ser analisado. Os autores analisam, ainda, que a pesquisa de campo tem como principal objetivo coletar e analisar os dados qualitativos, com o intuito de gerar novos conceitos, categorias, temas, hipóteses e/ou teorias fundamentadas. Assim, trata-se da obtenção de dados que serão transformados em informações. 31 Nesse sentido, a pesquisa de campo foi dividida em duas grandes etapas: a primeira consistiu em uma pesquisa de campo documental, e a segunda, em uma pesquisa de campo com discentes. O capítulo quatro apresenta o levantamento, análise e forma de avaliação dos resultados obtidos com essas duas pesquisas. 2.1.2.1. A pesquisa de campo: documental De acordo com Tozoni-Reis (2009, p.30), na pesquisa documental, a fonte de coleta de dados são documentos, tais como livros, artigos, revistas, currículos de cursos, leis, normativas, entre outros que contenham informações necessárias ao estudo que está sendo realizado. No estudo em questão, a pesquisa documental foi desenvolvida para identificar e analisar as referências bibliográficas utilizadas e citadas em artigos relacionados às modelagens bidimensional e tridimensional, que foram publicados nos anais do Colóquio de Moda. Para tanto, foi realizado um levantamento acerca das referências bibliográficas citadas em artigos científicos referentes à modelagem, publicados nos anais do Colóquio de Moda, maior congresso científico de moda do Brasil. A pesquisa investigou os últimos cinco anos: 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015. O objetivo dessa análise foi identificar as obras utilizadas, como fonte de citação e referência, pelos autores dos artigos, para dar suporte para a pesquisa em questão, de modo a levantar os principais meios de estudo referentes à modelagem do vestuário no país. Com base nessa informação, foi elaborada uma relação das obras utilizadas como fonte de citação para o processo de ensino teórico da modelagem, da elaboração, da execução e do aprendizado. A partir desse estudo e com o suporte das diretrizes criadas por Spaine (2010) e por Beduschi (2013), foi realizada uma análise das bibliografias mais citadas, com o intuito de identificar quais são os principais conteúdos e 32 métodos de ensino apresentados, nesses livros, referentes à modelagem do vestuário. O resultado da pesquisa de campo documental deu suporte para o estudo da tese em questão, no que diz respeito aos métodos de ensino apresentados, nas principais obras sobre modelagens utilizadas no Brasil. Além disso, a forma como essas informações estão presentes nessas publicações, constituem um importante apoio para os novos pesquisadores, em relação a bibliografias utilizadas na produção do conhecimento científico. 2.1.2.2 A pesquisa de campo: discentes A pesquisa de campo qualitativa constituiu-se de um levantamento, por meio de interrogação direta dos envolvidos na problemática, no intuito de identificar os assuntos relevantes a serem considerados e as dificuldades encontradas no processo de aprendizado da modelagem. Esse levantamento foi participativo, pois houve plena interação entre as partes, dessa forma, todos os participantes da pesquisa foram esclarecidos e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Para a aplicação da pesquisa com os discentes, foram selecionados os alunos que cursavam o 5º e 6º períodos, no primeiro semestre de 2016, do curso de Tecnologia em Design de Moda, da UTFPR, universidade em que a pesquisadora em questão atua. A escolha dos alunos desses dois períodos deve- se ao fato de estes já terem cursado todas as disciplinas de modelagem bidimensional e tridimensional do curso, nessa fase. A pesquisa com os discentes deu-se como continuação da pesquisa documental e dos levantamentos realizados na revisão de literatura. Dessa forma, foi elaborado um protocolo para que os alunos relatassem, sob sua percepção, quais os assuntos relevantes e as dificuldades a serem considerados 33 no processo de aprendizado da modelagem e, consequentemente, na elaboração das diretrizes de ensino e construção da modelagem do vestuário. 2.1.2.3 A proposta da tese A partir do levantamento e análise dos dados levantados na revisão de literatura, na pesquisa de campo documental, na pesquisa de campo com os discentes a pesquisa pretendia identificar os critérios necessários para a elaboração das diretrizes para o ensino e construção da modelagem. Assim, a proposta da tese foi desenvolvida com base na percepção e identificação de todos os conhecimentos e fases que devem ser consideradas no aprendizado do molde do vestuário, e por consequência melhorar a absorção da teoria e prática da modelagem pelos discentes. O capítulo cinco apresenta as diretrizes desenvolvidas e o método simultâneo proposto. 34 3. Revisão de Literatura 3.1. A modelagem no design do vestuário: teoria básica O processo de desenvolvimento de produto do vestuário refere-se à sequência de atividades executadas durante a criação de novos produtos, segundo um projeto pré-definido, cujo objetivo é a produção dos mesmos em escala industrial. Trata-se de uma sequência essencial de organização para a produção de produtos de acordo com as necessidades do público-alvo destinado. Nesse sentido, as atividades de desenvolvimento do produto do vestuário estão divididas em seis etapas principais: pré-montagem (criação, modelagem e corte), montagem (preparação e costura) e acabamento. A Tabela 1, apresenta essas etapas e as principais atividades desenvolvidas em cada fase. Essas fases representam as etapas essenciais para a elaboração de um produto do vestuário. Nesse aspecto, para um resultado satisfatório do produto de moda, ou seja, para que o mesmo atenda às expectativas do usuário, além das questões estéticas, funcionais e ergonômicas, o designer deve contar com a modelagem como etapa fundamental para a materialização de sua ideia em produto de moda. 35 Tabela 1: Etapas do processo produtivo do vestuário Fase Etapa Atividades principais realizadas 1 Criação  Pesquisas de tendências;  Criação dos produtos;  Elaboração de ficha técnica do produto;  Definição de matérias-primas como: aviamentos, tecidos, cores, aplicações e processos;  Elaboração de estampas, bordados etc. 2 Modelagem  Interpretação das criações do designer;  Desenvolvimento de modelagens;  Graduação dos moldes. 3 Corte  Encaixe é o posicionamento dos moldes, de forma manual ou computadorizada, no papel ou tecido, de forma que viabilize o aproveitamento máximo do mesmo;  Risco é o resultado do encaixe dos moldes no papel ou tecido, que pode ser impresso ou desenhado no papel;  Enfesto é o empilhamento de várias folhas de tecido para o corte;  Corte é o ato de cortar os moldes que estão posicionados no risco. 4 Preparação  Marcação: etiquetagem das partes dos moldes para a identificação no setor de costura;  Separação: separação dos lotes de peças cortadas para a organização da costura;  Preparação dos lotes: separação dos lotes que devem ser destinados para processos antes da costura, como bordados, estampas, lavagens, entre outros.  5 Costura  Efetuação da costura dos produtos; 6 Acabamento  Limpeza dos excessos de linhas e fios das peças;  Revisão final para detectar algum defeito;  Passadoria dos produtos;  Embalagem e armazenamento dos produtos. Fonte: Elaborado por Patrícia Aparecida de Almeida Spaine. O processo de elaboração da modelagem garante ao designer a possibilidade de tornar tridimensional algo que foi criado de forma plana (SPAINE, 2010, p.37). Nesse sentido, Souza (2011, p. 85) ressalta que a materialização do produto acontece “por intermédio da modelagem, que vai dar forma à matéria-prima, transformando-a em produto," pois “a modelagem é a linguagem do design.” 36 Desse modo, a modelagem, no design do vestuário, consiste em um processo de adaptação de um tecido plano, que é bidimensional, em um produto que deve envolver um corpo tridimensional, e esse processo só é possível por meio da utilização de técnicas de modelagem do vestuário. Os métodos de elaboração de modelagem do vestuário podem ser definidos como técnicas capazes de recriar as forma do corpo humano, por meio da utilização das medidas do usuário, que podem ser desenvolvidos de forma bidimensional ou tridimensional, em papel ou tecido. Nesse aspecto, Fischer assinala que: A construção é a base do vestuário e do design de moda – é crucial que o designer de moda conheça e compreenda as técnicas de criação de roupas tridimensionais a partir de um molde bidimensional a fim de criar forma e caimento estético ao corpo em movimento (FISCHER, 2010, p. 07). A autora ressalta, ainda, que a construção do produto do vestuário envolve tanto questões técnicas quanto criativas, e que ambas são fundamentais para a elaboração de um produto de vestuário adequando ao consumidor. Nesse sentido, Osório (2007, p. 17) afirma que a arte de modelar consiste na construção de blocos geométricos anatômicos, cujo objetivo é reproduzir as formas do corpo estudado, por meio da utilização de tabela de medidas e de linhas, curvas e pontos. O processo de modelagem possui aspectos técnicos e deve apresentar uma engenharia precisa, respeitando, simultaneamente, as tolerâncias relativas às características ergonômicas e antropométricas e suas variações, na realização de um molde (FRAGA, 2012 p.26). Nesse aspecto, pode-se considerar que a modelagem é a técnica empregada na construção de roupas, que se apresenta de duas formas: o Drafting 2D ou duas dimensões, bidimensional; e o Draping 3D ou três dimensões, tridimensional. 37 A modelagem bidimensional (Figura 1) apresenta um estudo da altura e do comprimento das medidas do corpo, mas não possibilita a visualização da profundidade do produto que está sendo criado, já que é realizada em um plano. Trata-se de um método que pode ser realizado manualmente, sobre um plano, e/ou por meio de sistemas computadorizados. Figura 1: Modelagem Bidimensional Fonte: Elaborado por Patrícia Aparecida de Almeida Spaine. A modelagem tridimensional (Figura 2) permite a visualização da altura, da largura e do comprimento do produto, uma vez que é desenvolvida, diretamente, em manequins ou no próprio corpo do usuário. Trata-se de uma ferramenta que permite a visualização do produto ao longo do processo de desenvolvimento da modelagem, o que facilita a elaboração do mesmo. 38 Figura 2: Modelagem Tridimensional Fonte: Abling e Maggio, 2014, p. 65 Para a elaboração da modelagem, é necessário um profissional qualificado, que entenda o processo de execução de moldes, nesse caso, esse profissional é denominado modelista. O modelista é o responsável pela materialização das ideias do designer de moda em produtos, por meio da modelagem do vestuário, assim, este busca criar modelagens de produtos que satisfaçam os desejos estéticos, funcionais e emocionais dos consumidores. O modelista faz a mediação entre a criação e a produção das peças em escala industrial, por isso, é importante que todas as técnicas sejam avaliadas nesse processo, considerando-se que, durante a produção industrial, não é possível efetuar correções de falhas geradas na modelagem. A partir do momento em que as partes das peças cortadas são levadas para a produção, não há mais retorno possível, a não ser que se refaça o molde e a peça piloto do vestuário (SPAINE, 2010, p.37). Durante a execução de uma modelagem, esta pode sofrer diversas variações, de acordo com o produto que será confeccionado. Tal fato pode ocorrer devido a: variação de tipos diferenciados de tecidos; e características 39 que os produtos desenvolvidos necessitam para resultarem em um vestuário mais adequado ao seu consumidor. Nesse sentido, o modelista utiliza-se de recursos construtivos para desenvolver e alterar o molde durante a elaboração da modelagem. Souza (2006 e 2011) aborda essa questão e pondera que a utilização de recursos construtivos é fundamental, pois permite diferentes formas de resolução da confecção, na elaboração de um molde bidimensional ou tridimensional, Entre os principais recursos construtivos, estão: pences, pregas, drapeados, franzidos, nervuras e recortes. Todos esses recursos, ao serem aplicados na elaboração da modelagem, logo na concepção do vestuário, garantem tanto a vestibilidade do produto ao usuário quanto o resultado estético esperado com a confecção da roupa. Segundo Osório: Desta forma é necessário tratar a modelagem de uma forma sequencial de transformações dos blocos através da aplicação de técnicas específicas, primeiramente em relação ao propósito do produto, para posteriormente atender as necessidades de interpretação do desenho desejado (OSÓRIO, 2011, p. 17). Assim, as Pences, presentes na Figura 3, podem ser definidas por sua forma triangular, pois são concebidas como um cone. Sua aplicação acontece pela colocação de seu vértice no ponto de maior volume do corpo e sua base no ponto de menor volume do corpo. As pences podem ser utilizadas como forma de ajuste da peça ao corpo ou como detalhe decorativo do modelo escolhido. 40 Figura 3: Pence da cintura e pence do ombro. Fonte: OSÓRIO, 2007 p.46, adaptado por Patricia Aparecida de Almeida Spaine. Nesse mesmo aspecto, Osório (2007 p. 49) argumenta a existência de três tipos de pence: a reta, a convexa e a côncava. A pence reta é formada apenas por linhas retas, sem deformações ou leves curvas, sendo encontrada, com maior frequência, na modelagem plana. A pence convexa possui, em sua formação, uma curva voltada para fora, enquanto a côncava, em sua elaboração, tem, como resultado, uma curva voltada para dentro; ambas são encontradas, com maior frequência, na modelagem tridimensional. A Figura 4 representa os três tipos de pence. 41 Figura 4: Pence reta, pence convexa e pence côncava. Fonte: OSÓRIO, 2007 p.49, adaptado por Patricia Aparecida de Almeida Spaine. As Pregas consistem em recursos aplicados na modelagem, que são formados por adições de tecidos que são sobrepostos sobre si mesmos, o que pode auxiliar, ou não, na absorção das pences. Sua inclusão pode se dar devido a uma necessidade funcional, formal ou estética do vestuário (PIRES, 2015). Nesse aspecto, pode-se encontrar três tipos básicos de pregas (Figura 5):  Simples: Consiste na prega que se caracteriza pela dobra do tecido em apenas uma direção, guiada por piques que são encostados um no outro.  Macho: Consiste em duas pregas simples, dobradas na mesma direção, o que permite que o volume fique no lado de dentro da prega. Estas são guiadas por piques que determinam o tamanho das pregas.  Fêmea: Consiste na prega oposta à do tipo macho, assim, as duas pregas são dobradas para fora. Figura 5: Prega simples, fêmea e macho. Fonte: Elaborado por Patricia Aparecida de Almeida Spaine. 42 Osório (2007, p. 93) apresenta outro recurso utilizado na construção das modelagens, os Drapeados, apresentados na Figura 6. O drapeado consiste em um efeito de adição de tecido (sobra) no processo de realização da modelagem, em uma determinada região, geralmente, na frente ou costas de decotes da peça, criado, principalmente, a partir da transferência da pence do busto para o decote. Trata-se de um recurso utilizado de forma estética e construtiva na peça. Figura 6: Drapeados em vestido Fonte: Elaborado por Patricia Aparecida de Almeida Spaine. 43 Os Franzidos são recursos adquiridos pela adição de tecido à modelagem, porém, de forma diferente dos drapeados, em que o tecido adicionado permanece solto. Nesse caso, a sobra de tecido é limitada por uma costura, efeito estético exigido pela modelagem ou uma necessidade funcional de movimento na elaboração da peça. O exemplo da Figura 7 apresenta uma manga em que foi acrescentado um franzido, na sobra de tecido, para se alcançar o volume desejado. Figura 7: Manga com franzido. Fonte: Elaborado por Patricia Aparecida de Almeida Spaine. As Nervuras são semelhantes às pregas simples, porém, têm o efeito visual de uma junção pequena de tecido na peça (Figura 8), cujo objetivo é ajustar algum detalhe, na elaboração da modelagem, para facilitar a vestibilidade do produto ou para propiciar um determinado efeito estético. 44 Figura 8: Blusa com nervuras Fonte: Patricia Aparecida de Almeida Spaine. Os Recortes, representados na Figura 9, consistem em detalhes que podem ser colocados por uma necessidade de elaboração da modelagem, de acordo com o desenho do produto, para criar um efeito estético ou, ainda, para facilitar a construção do molde e a vestibilidade da roupa. Figura 9: Vestido com recortes Fonte: Elaborado por Patricia Aparecida de Almeida Spaine. 45 Dessa forma, o conhecimento aprofundado dos recursos construtivos é essencial para a elaboração de uma modelagem, já que estes são fatores que podem alterar, totalmente, o resultado final do produto. Na construção da modelagem, as Folgas (Figura 10), segundo Osório (2011), consistem em um valor acrescido, na modelagem, com o objetivo principal de possibilitar movimento e conforto ao corpo que irá vestir determinado produto. O autor pondera, ainda, que, nos produtos desenvolvidos pelos designers, ou seja, no molde interpretado a partir do molde básico, o aumento ou diminuição da folga está, diretamente, relacionado ao tipo de produto que será desenvolvido. Assim, as folgas consistem na distância entre o corpo/manequim e a roupa/modelagem. Figura 10: Folga de modelagem. Fonte: Elaborado por Patricia Aparecida de Almeida Spaine. 46 Ainda nesse aspecto, Burgo (2009) aponta a folga como um valor acrescentado à modelagem, além das medidas antropométricas do corpo, assim, esta pode ser definida como a distância entre a medida anatômica do corpo e a medida final do produto de moda. Nesse sentido, Saltzman ressalta que: Os recursos construtivos sejam eles, pregas, franzidos, plissados, vieses ou outros, assim como a estampa, a textura e a cor, atribuem relevo às superfícies, criando efeitos de percepção, luzes e sombras, e enfatizando determinadas partes do corpo. Colaboram na aproximação ou afastamento do plano têxtil ao corpo, promovendo sustentação e ajustamento, a exemplo das pences; ou recriando volumes com o auxílio de dobras, pregas e franzidos (SALTZMAN, 2004 apud Souza, 2006, p.71). Outro fator determinante, no processo de desenvolvimento de uma modelagem, é o levantamento de medidas antropométricas (medidas do corpo), as chamadas medidas fundamentais, necessárias para a elaboração de uma nova modelagem. Estas são medidas que devem ser retiradas das tabelas de medidas ou do próprio corpo do usuário. Em um estudo que trata da modelagem, Fraga (2012, p.44) aponta que existem medidas de três tipos, que podem ser observadas na Figura 11: • Medidas fundamentais: são as medidas que envolvem a circunferência do corpo, como o contorno de busto, o contorno de quadril, o contorno de cintura, o contorno de pescoço, o contorno de braço, o contorno de tornozelo, o contorno da coxa, o contorno de joelho, o contorno de panturrilha, o contorno de antebraço e o contorno de punho. • Medidas complementares: são medidas que medem o comprimento de algumas partes do corpo, como o comprimento de braço, o comprimento de perna, a altura da frente, a altura das costas, a altura da cintura, a altura do 47 quadril, a altura do gancho, a altura do joelho, a altura do pescoço e a altura do busto. • Medidas auxiliares: são as medidas que dão suporte para a construção da modelagem, como a medida do ombro, de entre cavas, de entre seios e de entre pernas. • Figura 11: Medidas do corpo feminino. Fonte: Elaborado por Patricia Aparecida de Almeida Spaine. O entendimento do processo de retirada de medida, na fase de elaboração de um molde, é um fator determinante para a precisão do produto que será desenvolvido, uma vez que um erro, nessa fase, pode acarretar em produtos defeituosos e com problemas de configuração e vestibilidade. Após entender/dominar todos os pontos essenciais para a realização de uma modelagem, o modelista parte para a execução do molde básico. O molde 48 básico ou bloco básico consiste em um molde tridimensional ou bidimensional, que deve apresentar uma estrutura idêntica à das medidas antropométricas do corpo, como se fosse uma segunda pele. As bases de modelagem (Figura 12), moldes básicos ou blocos básicos, são gabaritos do corpo humano, que, uma vez desenvolvidos de forma eficiente, dispensam a necessidade de se refazer a modelagem a cada nova interpretação e criação de um produto. As bases de modelagem são elaboradas tanto em modelagem plana com em tridimensional, na fase inicial de uma modelagem. Na modelagem feminina, as bases de modelagem são: base da blusa, base da saia, base da calça e base da manga. Figura 12: Bases de modelagem feminina. Fonte: Elaborado por Patricia Aparecida de Almeida Spaine. São essas bases que darão suporte ao modelista para a elaboração dos produtos criados pelo designer, uma vez que o corpo para o qual se destina o produto já foi reproduzido por meio de uma modelagem-base. 49 Assim, ao se analisar o processo de construção da modelagem, fica claro que, para o desenvolvimento de um produto de moda, a modelagem é fator determinante e essencial, na fase de desenvolvimento do vestuário. Dessa forma, é fundamental considerar e entender o processo de elaboração de um molde para a construção de produtos adequados ao usuário. 3.2. A Modelagem Bidimensional A modelagem plana ou modelagem bidimensional (Figura 13) do vestuário parte do princípio da representação do corpo humano por meio de planificação desses contornos tridimensionais, em um plano. Essa planificação se dá pelo posicionamento de linhas verticais e horizontais em ângulos oblíquos, que se relacionam com o plano de equilíbrio do corpo: simetria, alturas, comprimentos e relações de proporção entre as partes. O molde traçado no papel, de forma bidimensional, com o auxílio de materiais e instrumentos de modelar, é constituído por diagramas. Esses são criados com base em estudos matemáticos, para garantir o equilíbrio da peça e para a colocação adequada de linhas retas e curvas, que vão tomando formas, obedecendo à tabela de medidas padronizadas para os diversos segmentos do design do vestuário. Nesse sentido, pode-se afirmar que a precisão das medidas antropométricas1, o cálculo matemático apurado durante o traçado das bases, o uso das proporções entre as partes do corpo e o posicionamento das linhas de equilíbrio podem fazer toda a diferença no caimento da roupa, de modo a torná-la, ergonomicamente, adequada. 1 Antropometria: consiste na ciência que levanta dados de diversas dimensões corporais em sua totalidade, tamanhos, proporções, volumes, formas, movimentos e articulações (IIDA, 20005, p.97) 50 Figura 13: Modelagem plana da blusa feminina. Fonte: ABLING e MAGGIO, 2014, p.74, adaptado por Patricia Ap. de Almeida Spaine. Nesse aspecto, Osório define o traçado da modelagem plana como: Um instrumento de construção de blocos geométricos, o qual utiliza tabelas de medidas anatômicas, diagramas de orientação e uma descrição detalhada da sequência da construção dos blocos. Através de linhas e curvas, é reproduzida a forma de cada região do corpo, chamados blocos básicos. A partir dos blocos básicos, são feitas transformações, cujo objetivo é alterar o visual do contorno dos blocos básicos de acordo com um desenho de estilo de roupa (OSÓRIO, 2007, p. 17). O molde básico ou bloco básico da modelagem plana consiste em um modelo bidimensional para um formato de uma peça básica do vestuário, sendo desenvolvido por meio do estudo da tabela de medidas antropométricas¹, e elaborado sob um plano, papel, e permite a visualização do produto em duas dimensões. Para desenvolver a base que é a representação gráfica figurada da morfologia do corpo é necessária a criação de uma “segunda pele”. Esta segunda pele tem o intuito de apresentar as características e medicas do corpo, adequando, assim, às suas 51 particularidades, necessidades morfológicas e ergonômicas (FRAGA, 2012 P.32). Ao se analisar alguns autores que discutem a modelagem plana do vestuário, pode-se perceber que, durante o processo de sua realização, esta passa por algumas etapas, no desenvolvimento dos diferentes tipos de moldes, que podem ser classificados como:  Molde básico: Consiste em um molde fiel às medidas do corpo humano, como uma segunda pele, que serve de suporte para a elaboração do molde intermediário. Não possui margens de costura e/ou folgas.  Molde intermediário ou interpretado: Primeiro molde realizado a partir dos moldes básicos, e este é criado para determinados grupos de estilo de moldes, como, por exemplo, os moldes que formam o grupo das calças pantalona, skynny, cigarrete, tradicional, baggy, entre outras. Nesse tipo de molde, já são adicionadas as folgas.  Molde final: Consiste no molde elaborado de acordo com o desenho de estilo do designer, que é adaptado em cima de um determinado grupo de estilo de molde intermediário. Trata-se do molde responsável pela materialização da ideia do designer em um produto. Além disso, este possui todas as margens necessárias para a costura da peça.  Molde para produção: Representa o molde final aprovado e testado, já adicionadas todas as marcações necessárias para a produção, em escala, desse molde, como piques, margens de costura, graduação, identificação do molde, entre outras. Esses moldes representam a sequência de elaboração da modelagem no processo de criação de um produto do vestuário, assim, o respeito a cada etapa e o entendimento de cada tipo de molde é fundamental para a construção da 52 roupa. A Figura 14 apresenta um diagrama com a sequência de todas essas etapas, como forma de facilitar o conhecimento da modelagem plana. Figura 14: Diagrama da Estrutura básica do processo de interpretação de modelagem. Fonte: OSÓRIO, 2007, p. 25, adaptado por Patricia Aparecida de Almeida Spaine. Ainda em relação ao processo de construção do molde de vestuário, existem algumas ferramentas que são fundamentais para a elaboração da 53 modelagem, pois é por meio delas que o modelista prepara e realizada todos os moldes necessários. Essas ferramentas são ilustradas no quadro da Figura 15. Figura 15: Ferramentas para a elaboração da modelagem plana. Fonte: Elaborado por Patricia Aparecida de Almeida Spaine. Com base nas informações relacionadas à modelagem plana, pode-se perceber que muitos são os recursos, as ferramentas e os conhecimentos 54 necessários para o desenvolvimento de um produto de moda, uma vez que o maior objetivo é revestir o corpo, desse modo, é preciso proporcionar conforto e funcionalidade à roupa. 3.3. A Modelagem Tridimensional A Modelagem tridimensional, 3D, moulage ou drapping (Figura 16), é uma técnica de modelar que dá forma sobre um suporte. Assim, consiste em uma técnica empregada para a elaboração de moldes do vestuário, diretamente no manequim técnico ou no corpo do usuário. Trata-se de uma técnica de design, criação e produção em três dimensões, que proporciona uma considerável liberdade de elaboração dos produtos. A modelagem tridimensional permite a análise, ao longo de todo o processo, da altura, da largura e da profundidade (3D), já que é realizada, diretamente, em um corpo ou manequim. Figura 16: Elaboração da moulage. Fonte: Patricia Ap. de Almeida Spaine. 55 Sobre esse tipo de modelagem, Souza argumenta que: [...] os manequins técnicos utilizados na moulage possuem as medidas anatômicas do corpo humano, já que é uma ferramenta que permite a análise das medidas de comprimento, largura e profundidade e promove o contato entre o corpo /suporte, representado pelo manequim, e o tecido utilizado para modelar. Essa proximidade favorece a experimentação das possibilidades construtivas, permitindo buscar novas soluções facilitadas pela apreensão da realidade (SOUZA, 2006, p. 25-26). Duburg e Tol (2012, p.9) assinalam a relevância da utilização da moulage como ferramenta de elaboração de moldes, sobretudo, sua capacidade de criar produtos diretamente no manequim desejado, o que possibilita a análise contínua do produto que está sendo criado. Entretanto, essa é uma técnica que, em nível industrial, seu grau de experimentação e criação deve considerar que o produto desenvolvido precisa ser transferido para um molde plano, para que, de fato, a produção, em escala, seja passível de execução. A moulage possibilita, ainda, o aperfeiçoamento do design do produto, bem como, auxilia na escolha de materiais e na definição da técnica de corte a ser utilizada em sua realização, entretanto, sua maior vantagem é a obtenção dos resultados do produto ao longo de todo o processo de criação do molde. A utilização da modelagem tridimensional tem ligação com: a construção do produto, a estética, a qualidade, a inovação necessária na peça e o público para o qual se destina, já que é uma ferramenta que garante melhores resultados em peças com níveis mais avançados de construção. Neste contexto a investigação é facilitada e torna-se mais eficaz quando o processo construtivo é conduzido pela expressão tridimensional, onde as etapas de criação e materialização se fundem, isto é, quando o desenvolvimento se processa por meio da aplicação de técnicas de moulage (SOUZA, 2011, p. 85). 56 O material utilizado para a técnica de modelagem tridimensional é o toile, termo, em francês, para tecido, que, geralmente, consiste de algodão cru ou morim. Na realização da moulage, os moldes desenvolvidos por essa técnica também são denominados como toile. Abling e Maggio (2014, p. 1) esclarecem que o algodão cru é qualquer tecido de algodão “sem acabamento, tanto numa estrutura tipo tela/tafetá quanto numa tipo sarja, já o morim é um tecido de algodão com baixa densidade de fios, sem acabamento e em estrutura de tela.” Os autores classificam, ainda, o algodão cru ou morim (Figura 17) em:  Leve: tecido fino e transparente, utilizado na elaboração de blusas, vestidos soltos e lingerie.  Médio: tecido com trama mais fechada e um pouco mais pesado, levemente transparente, e utilizado em grande parte das roupas desenvolvidas em moulage.  Pesado: tecido com trama fechada, pesado, sem transparência, e utilizado para a elaboração de jaquetas e casacos. Figura 17: Morim leve. Fonte: Patricia Ap. de Almeida Spaine. 57 Nesse sentido, durante o processo de realização da moulage, se o tecido definitivo for muito diferente dos, geralmente, utilizados (algodão cru e morim), os modelistas fazem uso do próprio tecido do produto que será criado, na execução da modelagem, ou ainda, usam um algodão cru com a gramatura próxima à do tecido final. Com relação ao tipo de manequim adequado para se desenvolver a moulage, o que se deve considerar, na sua escolha, é o tipo de produto que tende a ser desenvolvido. No Brasil, existem alguns tipos de manequins, entre eles, os mais conhecidos e utilizados são:  Manequim feminino de corpo inteiro, com pernas (Figura 18): Corpo com medidas padronizadas para o biótipo da mulher, com tamanhos entre o 36 e o 50. Figura 18: Manequim feminino de corpo inteiro com pernas Fonte: Elaborado por Patrícia Ap. de Almeida Spaine.  Manequim feminino para vestidos e saias (Figura 19): Corpo com medidas padronizadas para o biótipo da mulher, com tamanhos entre o 36 e o 50. 58 Figura 19: Manequim feminino para vestidos e saias Fonte: Elaborado por Patrícia Ap. de Almeida Spaine.  Manequim feminino de meio corpo, com pernas até a coxa (Figura 20): Corpo com medidas padronizadas para o biótipo da mulher, com tamanhos entre o 36 e o 50. Figura 20: Manequim feminino de meio corpo com pernas até a coxa. Fonte: Elaborado por Patrícia Ap. de Almeida Spaine.  Manequim para gestantes (Figura 21): Corpo com medidas padronizadas para o biótipo da mulher, com tamanhos entre o 36 e o 50. 59 Figura 21: Manequim para gestantes. Fonte: Elaborado por Patrícia Ap. de Almeida Spaine.  Manequim infantil (Figura 22): Corpo infantil com medidas padronizadas que variam de 6 meses a 12 anos. Até o Tamanho 6 anos, não há diferença entre as medidas do corpo de menina e menino, porém, a partir deste tamanho, as medidas e conformações diferem. Até o Tamanho 3 anos, o modelo é P/L (perna longa), do Tamanho 4 anos em diante, o modelo é ½ perna, e a perna longa passa a ser opcional, assim como a cabeça e o par de braços. Figura 22: Manequim infantil. Fonte: Elaborado por Patrícia Ap. de Almeida Spaine. 60  Manequim masculino (Figura 23): Corpo com medidas padronizadas para o biótipo do homem, com tamanhos entre o 40 ao 52. Figura 223: Manequim masculino Fonte: Elaborado por Patrícia Ap. de Almeida Spaine. Draft (2015) ressalta que alguns ajustes, nas medidas, poderão ser efetuados, de acordo com as necessidades dos clientes, principalmente, para a realização de tamanhos maiores ou diferenciados, porém, desde que não se modifique, consideravelmente, a conformação e a postura do manequim. Além do manequim e do tecido que são fundamentais para a elaboração da modelagem tridimensional, alguns materiais utilizados na modelagem plana também pode ser usados, porém, o essencial para se desenvolver a moulage é: manequim, morim ou algodão cru, alfinetes, linhas, agulhas, tesoura de tecido, fita métrica, réguas de modelagem, carretilha, papel carbono, presentes no quadro da Figura 24. 61 Figura 234: Ferramentas para a elaboração da modelagem Tridimensional Fonte: Elaborado por Patricia Aparecida de Almeida Spaine. 3.4. Modelagem computadorizada A modelagem computadorizada consiste em uma ferramenta tecnológica, na qual são desenvolvidos moldes bidimensionais e tridimensionais, por meio de sistemas computadorizados, ou seja, sistemas de automação da produção. Trata-se de um processo presente na etapa de 62 produção da modelagem do produto do vestuário, cuja finalidade é aperfeiçoar a produção, em escala, das peças. No método de construção da modelagem por meio dos sistemas CAD (Computer Aided Design - desenho assistido por computador) e CAM (Computer Aided Manufacturing- manufatura assistida por computador), são efetuadas todas as ações necessárias para a realização das modelagens plana e tridimensional, por meio de um software específico. Esse software pode ser definido como um recurso que auxilia a realização do processo de elaboração da modelagem e agiliza seu desenvolvimento. Possui todas as características da modelagem plana e da moulage, porém, estas são realizadas, diretamente, na ferramenta escolhida. A Figura 25 exemplifica um modelo de software de modelagem plana, e a Figura 26 apresenta um exemplo de modelagem tridimensional. Figura 245: Ambiente de elaboração de moldes planos no sistema Audaces Vestuário Moldes Avançado. Fonte: AUDACES,2015. 63 Figura 256: Ambiente de elaboração de moldes tridimensionais no sistema Audaces 3D. Fonte: PIRES, 2015, p.36. Aldrich (2014, p. 203) esclarece que, como o ambiente de trabalho do modelista é reproduzido, esse recurso permite que “o designer opere diretamente em uma mesa digitalizadora com material e ferramentas pessoais, mas as linhas são traçadas eletronicamente”, e que, neste caso, os moldes desenvolvidos, manualmente, são, então, reproduzidos por meio de um programa específico. Ainda nesse aspecto, um fator de grande relevância para a utilização do sistema CAD/CAM, de forma eficiente, é a necessidade de seus operadores deterem o conhecimento específico de modelagem para utilizar o software com total plenitude, já que a falta de conhecimento de modelagem impossibilita ao operador identificar problemas no molde desenvolvido. Devido às suas vantagens e à agilidade no processo de elaboração de uma modelagem, inúmeras empresas têm adotado algum tipo de software para a criação de seus moldes, bem como, para o desenvolvimento do processo de 64 graduação, encaixe e risco de um lote de produtos (Figura 27), uma vez que o sistema proporciona rapidez, pois, um processo realizado manualmente pode consumir algumas horas e, pelo sistema, somente alguns minutos. Figura 267: Ambiente de elaboração de moldes no sistema Audaces Vestuário Encaixe Avançado. Fonte: AUDACES, 2015. 3.5. Gradação Um produto de vestuário pode ser elaborado de forma a vestir um único consumidor ou ser graduado e alterado para ser utilizado em usuários de diferentes tamanhos. O processo de gradação consiste no escalonamento do molde-base para outros tamanhos, de acordo com a tabela de medidas adotada. O processo de gradação pode ser realizado manualmente, na modelagem plana ou na modelagem bidimensional computadorizada. Spaine, Pires e Berton (2014) esclarecem que esse processo acontece por meio da ampliação e/ou redução (Figura 28) de alguns pontos fundamentais do molde do vestuário, o que irá garantir um produto igual à sua base, porém, em outro tamanho e medida. O fator de grande diferenciação, no que diz respeito à 65 gradação, é a habilidade do profissional que irá realizar o procedimento, pois não se pode alterar ou deformar o produto criado. Duarte e Saggese explicam que: Gradação é o aumento ou a redução do tamanho da modelagem piloto, criando a partir delas os demais tamanhos da grade. A grade de tamanhos, P, M e G ou 36, 38, 40, 42, 44, 46, 48... tem como ponto de partida o entendimento do conteúdo das partes que compõem cada molde(DUARTE e SAGGESE, 2009, p.28). Figura 278: Gradação da frente camisa. Fonte: Fischer, 2010, p. 16, adaptado por Patricia Ap. de Almeida Spaine. Nesse sentido, o conhecimento completo e detalhado das grades é essencial para que o modelista possa criar uma vestimenta com bom caimento, já que traduzir e reproduzir as proporções do corpo para a modelagem plana, de modo a criar um produto tridimensional, requer habilidade e dedicação 66 minuciosas, principalmente, quando se trata do crescimento do corpo e dos pontos essenciais a serem graduados. Fischer (2010, p. 17) ressalta que a ampliação ou redução dos pontos importantes para a gradação é efetivada a partir de um conjunto de medidas - base para a criação de determinada modelagem, assim, é fundamental que o profissional saiba que parte do molde precisa ser reduzida e/ou ampliada para se ajustar ao usuário do produto. Aldrich (2014, p.176) explicita que o princípio de análise dos pontos de gradação (Figura 29) parte de um estudo feito em pontos definidos por meio da medição de distâncias, que são acrescentadas na horizontal e na vertical, resultando em um ponto que será a ligação para a criação do novo molde. A análise permite a semelhança da forma no novo molde que foi desenvolvido, a partir de um molde-base estabelecido anteriormente. Na Figura 29, o ponto 1 representa a extremidade do molde A (linha do ombro), o ponto 2 é obtido depois de se deslocar o ponto 1 em linha horizontal, em seguida, desloca-se o ponto 2, no sentido vertical, e se tem, como resultado, o ponto 3, criado para o molde B. Figura 289: Processo de gradação. Fonte: Aldrich, 2014, p. 176, adaptado por Patrícia Ap. de Almeida Spaine. 67 Para efetuar a gradação, algumas informações básicas devem ser consideradas para a determinação do tamanho do conjunto de medidas que devem ser acrescidas nesse processo. Aldrich exemplifica as informações que devem ser analisadas, no processo de gradação de moldes, em sistemas computadorizados: [...] tabela de medidas; ficha técnica do produto; conjunto de molde moldes graduados manualmente; regras de graduação oferecidas por um fornecedor de CAD e graduações copiadas de um molde graduado que já esteve inserido no sistema do computador (ALDRICH,2014, p. 209). Assim, cabe ressaltar que, para a realização da gradação, deve-se analisar, cuidadosamente, a tabela de medidas e as regras estabelecidas para a confecção de produtos que vistam, adequadamente, seus usuários. 3.6. Procedimentos e diretrizes para o ensino e elaboração da modelagem O processo de elaboração e ensino da modelagem parte da utilização de procedimentos e diretrizes para o desenvolvimento de moldes do produto que resultará em uma peça de vestuário. Esse processo é conduzido a partir da formulação de uma sequência metodológica de construção. 3.6.1. Procedimentos para desenvolvimento dos moldes Lacchi, Biégas e Vieira (2013, p.15) descrevem o passo a passo do processo de desenvolvimento da modelagem, durante a execução de um novo molde, e propõem a “abordagem destes aspectos de forma integrada com interdependência dos elementos envolvidos no processo de modelagem, uma vez que não se encontram na literatura todos os aspectos integrados, mas de maneira individual”, que são: a) Interpretação do modelo, cuja finalidade é selecionar o melhor método para o desenvolvimento da modelagem; 68 b) Identificação dos requisitos da modelagem do produto, que abrange a tabela de medidas, as características do material e o processo de costura e acabamento da peça que será confeccionada; c) Desenvolvimento da modelagem, momento em se reproduz o produto em uma base plana (molde); d) Caracterização do jogo de moldes, momento em que se realiza a identificação dos moldes, de modo a possibilitar a industrialização do produto; e) Correção do molde, que se caracteriza como uma intervenção necessária, quando a modelagem não foi devidamente aplicada ou quando houve interferência do material e/ ou do processo utilizado; f) Graduação, ação que permite a obtenção de tamanhos maiores e/ou menores, a partir de um molde básico, utilizando como referência à tabela de medidas. O passo a passo, acima apresentado, pode ser complementado com a sequência cronológica de desenvolvimento dos moldes, formulada por Araújo (1996, p. 97), que, conforme demonstrado na Figura 30, descreve, detalhadamente, o processo de execução da modelagem, desde a fase de recepção do desenho pelo modelista até a graduação do molde. 69 Figura 30: Diagrama do Processo de execução da Modelagem. Fonte: Araújo, 1996, p.97, adaptado Patrícia Ap. de Almeida Spaine. Souza (2006) também aborda esses procedimentos de elaboração da 70 modelagem e apresenta as etapas que compreendem o desenvolvimento dos moldes, conforme demonstrado na Figura 31, a seguir: Figura 291: Diagrama do desenvolvimento da modelagem. Fonte: Souza, 2006, p. 24, adaptado Patrícia Ap. de Almeida Spaine. Esses procedimentos também foram abordados por Spaine (2010, p. 40), que apresenta um diagrama das atividades realizadas na construção de moldes, conforme demonstrado na Figura 32, a seguir: 71 Figura 302: Diagrama das etapas de elaboração da modelagem. Fonte: Elaborado por Patrícia Ap. de Almeida Spaine. Osório (2007, p. 36) apresenta um conjunto de operações e procedimentos técnicos (Figura 33) que todo modelista, engenheiro de molde, deveriam conhecer para o desenvolvimento da modelagem, como forma de facilitar a construção do molde do vestuário. Segundo Osório: O objetivo do engenheiro de molde é mais do que traçar partes de molde. É necessário que a interpretação da 72 ilustração de moda seja transformada em partes de molde, capturando não somente a essência do visual estético e a funcionalidade da roupa como um todo, mas também salientando fatores de produção e características dos tecidos de forma a concretizar um desenho de moda produtivo. (OSÓRIO, 2007, p.35). Tais operações e procedimentos (Figura 33) são muito relevantes, pois, além de ter domínio sobre questões essenciais acerca da modelagem, sobre o uso das tabelas de medidas e sobre a maneira de construir os moldes, entre outros, é necessário que todo engenheiro de molde conheça, de forma aprofundada, todas as questões que envolvem a elaboração da modelagem de um produto. Figura 313: Diagrama de procedimentos técnicos para o engenheiro de molde Fonte: Osório, 2007, p.36, adaptado por Patrícia Ap. de Almeida Spaine. 73 Assim, a realização do molde do vestuário parte do conhecimento de etapas que devem ser consideradas para a concretização da modelagem. O entendimento de todos os procedimentos que envolvem a efetivação da modelagem garante facilidade no processo de ensino e na construção dos moldes. 3.6.2. Diretrizes metodológicas para o ensino da modelagem Diretrizes metodológicas podem ser definidas como um caminho que conduz a uma tentativa de ordenar um trajeto, por meio do qual se possa alcançar um determinado objetivo. No processo de aprendizado e execução da modelagem, a utilização de diretrizes pode auxiliar na compreensão dessa fase de construção da roupa. Spaine (2010, p. 96) apresenta as Diretrizes metodológicas para o processo de ensino da Modelagem plana Industrial (Tabela 2), que objetiva dar suporte aos conhecimentos que devem ser ensinados antes do processo de aprendizado do traçado do molde. Essas diretrizes podem ser utilizadas e aplicadas tanto na fase de ensino da modelagem como consideradas durante a realização dos moldes por alunos e modelistas. As diretrizes propõem que, no processo de ensino da modelagem plana, os aspectos podem ser abordados pelo docente da disciplina Modelagem Básica ou pelo responsável pela disciplina Ergonomia, caso a mesma faça parte da grade curricular do curso. O fator de relevância, nessa situação, é a abordagem desses conteúdos no aprendizado e na construção da modelagem. 74 Tabela 2: Diretrizes metodológicas para o processo de ensino da Modelagem plana Industrial FATORES ASPECTOS A SEREM CONSIDERADOS ERGONÔMICOS Conforto: físico, fisiológico, psicológico, tátil, térmico, visual Usabilidade: efetividade, eficiência e satisfação Segurança Vestibilidade e funcionalidade Necessidades: físicas e psíquicas Liberdade de movimentos Escolha de materiais Forma e caimento ANTROPOMÉTRICOS Compatibilidade das medidas corporais do usuário ao produto Tipos de estruturas corporais: tamanhos Proporção corporal Volume corporal Forma corporal CORPO USUÁRIO Movimentos Articulações Expressões corporais Linguagens e sentidos Relação sensitiva, cultural e social Anatomia e fisiologia Estruturas básicas corporais Constituição plástica Proporção humana Adequação formal /vestimenta Relação corpo/vestimenta Espaço corpo e roupa GEOMÉTRICOS Noções matemáticas Noções angulares Noções geométricas Fonte: Spaine, 2010, p. 96. As diretrizes expostas pela autora apresentam um estudo direcionado com uma sequência metodológica de questões que são essências para o processo de aprendizado e para a elaboração da modelagem plana do vestuário e objetivam dar suporte à formação do modelista ou do aluno, na execução de moldes. 75 Beduschi (2013, p.152) efetuou uma análise referente à modelagem do vestuário e, a partir desta, sugeriu “um ensino que englobe um pensamento unificado a respeito da área, um pensamento complexo, de forma que seja possível unir modelagem plana, tridimensional e conteúdos teóricos complementares, como ergonomia e geometria.” Nesse aspecto, a autora sugere as Diretrizes metodológicas para o ensino da modelagem, que são:  Ensino de modelagem integrado em suas vertentes: a diretriz propõe que o ensino da modelagem tridimensional e da modelagem plana sejam complementares, para facilitar o aprendizado pelos discentes e diminuir as dificuldades na elaboração das técnicas;  Ensino pautado em alguns aspectos práticos somados aos teóricos: aponta a importância da inserção de conteúdos teóricos sobre os materiais didáticos de modelagem, para facilitar o entendimento da prática de elaboração de um molde;  Conteúdo descrito em passo a passo: reafirma a importância da descrição dos conteúdos em forma de passos, com itens que utilizam pontos indicados por letras e/ou números, para demonstrar como a modelagem é realizada;  Uso de imagens durante a explicação de um traçado e/ou de uma elaboração de modelagem tridimensional: ressalta a importância de imagens que podem ser croquis, fotos, diagramas ou desenhos, cuja visualização complementa a explicação textual na realização da moulage.  Inclusão de informações complementares aos conteúdos teóricos, para auxiliar no momento da elaboração de cada diagrama: aponta a relevância do ensino de conteúdos teóricos no início do aprendizado da modelagem, bem como, de alguns conteúdos específicos relevantes, relativos aos materiais ou complementares à explicação dos docentes, ao longo da elaboração de cada tipo de diagrama. 76 Como abordado por Spaine (2010), Beduschi (2013) também ressalta a importância do estudo de questões referentes à antropometria, à ergonomia e à geometria, como suporte fundamental do processo de ensino e da concepção da modelagem, de modo a facilitar o desempenho dos modelistas e o aprendizado pelos alunos. Spaine (2010) e Beduschi (2013) apresentam diretrizes que sugerem aspectos que devem ser considerados e englobados nas fases de ensino e construção da modelagem, porém ainda deixa em aberto a possibilidade da identificação e levantamento de novas formas de interação na execução do molde. 3.7. Conhecimentos da matemática aplicados à modelagem Estudos referentes à modelagem do vestuário apresentam a ligação e a importância de conhecimentos matemáticos para a elaboração de molde de vestuário. Spaine (2010) apresenta as Diretrizes metodológicas para o processo de ensino da Modelagem plana Industrial e Beduschi (2013) apresenta a Diretrizes metodológicas para o ensino da modelagem, e, em ambas diretrizes, o campo da matemática é apresentado como eficaz para o aprendizado e para o desenvolvimento de moldes. Os conceitos relacionados à matemática fazem parte das habilidades necessárias para a execução de um molde do vestuário, uma vez que, em sua concepção, estes são utilizados e aplicados de forma fundamental, em todas as etapas de construção da modelagem. Nesse aspecto, Ribeiro e Madruga (2013, p. 25863) realizaram um estudo sobre os conceitos fundamentais da matemática que devem ser utilizados na elaboração da modelagem de roupas, e identificaram os seguintes conceitos: Unidades de medidas; Frações; Geometria; e Escala. 77 Esses conceitos também foram enfatizados pelas diretrizes de Spaine (2010) e de Beduschi (2013), que apresentam e confirmam a importância da matemática na elaboração da modelagem. Assim, faz-se necessário o entendimento dos conceitos de: Modelagem Matemática, Unidades de Medidas, Frações, Operações Aritméticas, Escala e Geometria. 3.7.1. A modelagem Matemática e sua relação com a construção do molde. Vecchia (2012) aponta uma metodologia de trabalho, que de acordo com os estudos da matemática, a Modelagem Matemática é um método de pesquisa aplicado à educação, que consiste na elaboração de um modelo e objetiva fazer uma ligação entre as representações e as ideias do cotidiano. Os modelos estão presentes em diversas áreas do conhecimento, assim, a modelagem matemática possibilitaria aos docentes a integração de conceitos que já possuem com os conteúdos matemáticos e interdisciplinares. Na modelagem matemática um mesmo conteúdo pode ser repetido várias vezes no decorrer de muitas atividades e em situações e momentos distintos. A oportunidade de um mesmo conteúdo poder ser tratado diversas vezes no contexto de um tema e em distintas situações pode favorecer a compreensão de ideias fundamentais e ainda contribuir de modo significativo para se perceber a importância da Matemática no cotidiano de cada cidadão, seja ele um matemático ou não (RIBEIRO e MADRUGA, 2013, p. 25862). Nesse contexto, Bassanezi (2004, p. 38) argumenta que o mais relevante, na aplicação da modelagem matemática, não é chegar, imediatamente, a um modelo bem sucedido, mas caminhar seguindo etapas nas quais o conteúdo matemático vai sendo sistematizado e aplicado, de forma constante, ao longo do desenvolvimento do modelo sugerido. Nesse sentido, Biembegut e Hein (2007, p. 87) e Bassanezi (2004, p. 26) consideram que a Modelagem Matemática de uma situação-problema, real ou 78 modelo, deve seguir uma sequência de etapas para facilitar sua aplicação, análise e entendimento. A partir do estudo considerado por esses autores, foi organizada a Tabela 3, com seis etapas, a saber: Ribeiro e Madruga (2013, p. 25861), ao analisarem os conceitos apresentados por Biembegut e Hein (2007), ponderaram que, na primeira etapa de Escolha do Tema, deve ser feito um levantamento de prováveis situações de estudo, "as quais devem ser, preferencialmente, abrangentes para que se possam proporcionar questionamentos em várias direções.” Tabela 3: Etapas da Modelagem Matemática ETAPA DA MODELAGEM MATEMÁTAICA BIEMBEGUT E HEIN BASSANEZI 1 Escolha do tema Escolha do tema 2 Estudo e levantamento de questões Experimentação 3 Formulação Abstração 4 Elaboração de um modelo matemático Resolução 5 Resolução parcial das questões Validação 6 Exposição oral e escrita do trabalho Modificação Fonte: Biembegut e Hein (2007, p. 87) e Bassanezi (2004, p. 26). A segunda etapa, definida por um autor como Estudo e levantamento de questões e de Experimentação, para o outro, consiste na fase de busca de informações para a obtenção de dados relacionadas ao assunto proposto, por meio de entrevistas, pesquisas, entre outros. A terceira etapa, de Formulação e/ou Abstração, consiste no processo de: seleção de variáveis, formulação de problemas (problematização), formulação de hipóteses e simplificação. Bassanezi (2004, p. 30) afirma que a etapa seguinte, ou seja, Elaboração de um modelo e/ou Resolução, é caracterizada pelo planejamento e/ou 79 formulação do modelo a ser desenvolvido, que consiste na busca de uma solução para o problema proposto. A quinta etapa, caracterizada pela Resolução parcial das questões e/ou Validação, diz respeito à aceitação ou não do modelo proposto. Bassanezzi (2004) sugere que os modelos e as hipóteses sejam testados e avaliados, de forma comparativa, com os dados empíricos. Na última etapa, denominada Exposição oral e escrita do trabalho e/ou Modificação, para ambos os autores, são analisados os aspectos ligados à situação investigada, é avaliada a necessidade, ou não, de correção de algum erro encontrado (caso tenha) e, em seguida, são expostos os resultados obtidos com a proposta. Essa fase permite uma análise do trabalho da modelagem matemática e abre espaço para a discussão dos resultados e da necessidade de reconstrução de processos ou fases realizadas. De acordo com análise realizada por Bassanezi (2004, p. 17), a modelagem matemática ''em seus vários aspectos, é um processo que alia teoria e prática, motiva seus usuários na procura do entendimento da realidade que o cerca e na busca de meios para agir sobre ela e transformá-la.” Assim, verifica-se a possibilidade da aplicação da modelagem matemática no ensino da modelagem do vestuário, pois a realização do molde do vestuário parte da utilização de um modelo sequencial de etapas semelhante aos utilizados no ensino de matemática. Assim, ao se realizar uma analogia entre as etapas da modelagem matemática e as etapas de elaboração da modelagem, fica evidente a possibilidade da utilização dessa metodologia de trabalho, já que, para o desenvolvimento de uma modelagem, é necessário levar em consideração as etapas acima relatadas. A Tabela 4 apresenta as etapas da Modelagem Matemática e a etapa correspondente do processo de elaboração da modelagem do vestuário. 80 Tabela 4: Etapas da Modelagem Matemática e da modelagem do vestuário. Etapas da modelagem matemática Etapas da modelagem do vestuário Escolha do tema  Identificar o tipo de produto que será realizado a partir da modelagem. Estudo e levantamento de questões/ Experimentação  Identificar as questões antropométricas;  Identificar as questões ergonômicas;  Identificar as questões matemáticas;  Estudar as questões corporais;  Identificar as ferramentas necessárias para realização do molde;  Investigar os equipamentos para a montagem do produto;  Investigar e experimentar a matéria- prima adequada para o produto; Formulação/ Abstração  Analisar os dados coletados. Elaboração de um modelo matemático/ Resolução  Interpretar os dados coletados;  Escolher o/os método(s) de construção da modelagem;  Elaborar o molde do vestuário. Resolução parcial das questões/ Validação  Elaborar o produto do vestuário de acordo com o molde elaborado;  Testar e avaliar o produto. Exposição oral e escrita do trabalho/ Modificação  Verificar a necessidade de modificação do produto;  Expor o produto e os resultados obtidos com a modelagem;  Analisar a necessidade de modificação e/ ou reconstrução do molde desenvolvido. Fonte: Elaborado por Patricia Aparecida de Almeida Spaine, 2016. 3.7.2. Unidade de medidas O conceito de Unidade de Medidas está atrelado à necessidade humana de contar e mensurar as coisas presentes no cotidiano. Devido à necessidade de padronização, em nível mundial, dessas medidas, foi criado, em 1791, época da Revolução Francesa, o Sistema Métrico Decimal, que estabeleceu as unidades de medida mundiais utilizadas, que são: unidade de comprimento, unidade de capacidade e unidade de massa (GOMES, 2016, p. 88). A unidade de comprimento é representada pelo sistema baseado no METRO (m) e serve como fator de medição de comprimentos, alturas e larguras. 81 A unidade de capacidade serve para medir a quantidade de líquidos, sendo representada pelo sistema baseado em LITRO(l). O sistema de unidade de massa calcula a quantidade de matéria que um corpo possui, sendo representado pelo QUILOGRAMA (kg). Quando se trata de modelagem do vestuário, é verificável que o sistema de comprimento é utilizado (Tabela de medidas do corpo feminino, Figura 34), e essas medidas, consequentemente, dão suporte ao processo de dados essenciais para a construção de um molde do vestuário, que resultará na elaboração de um produto adequado ao consumidor. Figura 34: Tabela de medidas do corpo feminino. Fonte: Fulco e Silva, 2014, p. 10, adaptado por Patricia Ap. de Almeida Spaine. 82 3.7.3 Frações As Frações consistem na representação da parte de um todo, assim, pode-se considerá-las como sendo mais uma representação de quantidade, ou seja, uma representação numérica. O conceito de fração pode ser obtido, com maior êxito, quando explorado em seus cinco significados: número, parte-todo, medida, quociente e operador multiplicativo, sendo que “é importante ter os invariantes operatórios do conceito explicitamente presentes ao se trabalhar cada um desses significados” (MAGINA e CAMPOS, 2008, p.28). No processo de construção da modelagem, as frações auxiliam na fracionamento das medidas e, consequentemente, na realização do molde, já que, no processo de elaboração das modelagens, as medidas são fracionadas para a construção dos moldes separados em partes. A Figura 35 apresenta um exemplo dessa situação, ou seja: considera-se o número inteiro, que representa a medida total de um indivíduo, porém, por exemplo, no processo de elaboração do diagrama da base da saia reta, utiliza-se metade das medidas de circunferência para realizar o molde, e as medidas totais de comprimento, já que o mesmo é elaborado com uma parte da frente e uma parte do traseiro. 83 Figura 35: Diagrama da Base da Saia Reta, o retângulo do diagrama foi elaborado com metade da medida do quadril na largura e altura igual ao comprimento da saia. Fonte: Fulco e Silva, 2014, p. 16, adaptado por Patricia Ap. de Almeida Spaine. Assim, o conceito de fração é essencial também para outra fase da elaboração da modelagem, pois permite o entendimento e a transposição das medidas retiradas do corpo para a construção do molde. 3.7.4 Operações Aritméticas As Operações Aritméticas consistem nas quatro operações elementares: adição, subtração, multiplicação e divisão. Essas são responsáveis por todos os cálculos necessários para a resolução de qualquer tipo de problema do cotidiano do indivíduo. Para cada uma das operações indicadas, são conhecidos algoritmos, isto é, procedimentos de cálculo necessários para se efetuar a 84 adição, a subtração, a multiplicação e a divisão de números inteiros e decimais (FETZER, 2011). Nesse sentido, no ensino e na elaboração de um molde, essas operações auxiliam em todo o cálculo que se faz necessário no processo de traçado do molde e, como consequência, na precisão da realização da modelagem do vestuário. 3.7.5 Escala A Escala permite o estudo da representação da proporção de um elemento em relação à área real e à sua representação. É a escala que indica o quanto um determinado elemento foi reduzido, ampliado e/ou recriado, em relação ao seu formato original, no local em que ele foi confeccionado, em forma de material gráfico (MENEZES e NETO, 2008). No campo da elaboração da modelagem, o conceito de escala é aplicado no processo de desenvolvimento de um molde, no momento em que é determinada a proporção de criação do molde executado, ou seja, se o mesmo corresponderá a 100% o tamanho do corpo ou apresentará qualquer outra proporção. A escala auxilia, ainda, no processo de gradação dos moldes, já que sua análise efetua o estudo de redução e ampliação de um determinado objeto e sua aplicação prática no desenvolvimento desse produto, uma vez que faz o estudo da proporção e o cálculo necessário para que se possa criá-lo. 3.7.6. Geometria No processo de aprendizado e desenvolvimento da modelagem, o estudo da Geometria é determinante para a compreensão e elaboração de um molde do vestuário. Leivas (2012) argumenta que a geometria é a área da matemática que estuda a forma, o tamanho e a posição relativa entre figuras ou propriedades do espaço, dividindo-as em várias subáreas, dependendo dos 85 métodos utilizados para estudar seus problemas. A geometria aborda as leis das figuras e as relações das medidas de superfícies e sólidos geométricos. São utilizadas relações de medidas como a amplitude de ângulos, o volume de sólidos, o comprimento de linhas e a área das superfícies. A palavra Geometria origina-se dos termos gregos "geo" (terra) e "métron" (medir). A Geometria é uma área da matemática que se divide em: Geometria Plana, Espacial e Analítica. A Geometria Plana, também denominada Geometria Euclidiana, estuda o plano e o espaço; a Geometria Espacial realiza o estudo de figuras tridimensionais, sendo, assim, possível calcular o volume de um sólido geométrico. A Geometria Analítica relaciona a álgebra e a análise matemática com a geometria. Venturi (2015, p. 20) descreve os elementos primitivos estudados pela Geometria Plana, que são: o ponto, a reta e o plano. O Ponto (Figura 36) pode ser definido como algo localizado no espaço, como um furo, uma estrela no céu, o centro do campo de futebol, o ponto de uma agulha, o ponto de um lápis. A reta (Figura 36) é a linha formada quando o ponto se desloca na mesma direção. O plano (Figura 36) é a superfície plana de um determinado desenho geométrico, que pode ser exemplificado como uma parede, o chão, um quadro, um quadrado, entre outros, como exemplos de planos bidimensionais. Figura 326: Ponto, reta e plano. Fonte: Elaborado por Patricia Ap. de Almeida Spaine. 86 Braga (1997) afirma que os ângulos (Figura 37), estudados na geometria plana, são determinados pela reunião de dois segmentos de reta orientados (ou duas semirretas orientadas), a partir de um ponto comum. A autora analisa, ainda, os principais tipos de medida de ângulos, que estão representados no quadro da Figura 37, sendo: Figura 337: Tipos de medidas de ângulos. Fonte: Elaborado por Patricia Ap. de Almeida Spaine. Os ângulos possuem dois sistemas principais de medidas, o Circular e o Sexagesimal. No Circular, sua unidade principal é o radiano (rad), que tem, como base, o ângulo ce