UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS CAMPUS DE BOTUCATU Taxonomia e diversidade de espécies de ergasilídeos parasitas de peixes de água doce dos tributários e lagoas do reservatório de Jurumirim, SP Rodrigo Bravin Narciso Botucatu, SP 2020 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS CAMPUS DE BOTUCATU Taxonomia e diversidade de espécies de ergasilídeos parasitas de peixes de água doce dos tributários e lagoas do reservatório de Jurumirim, SP Rodrigo Bravin Narciso Orientador: Prof. Tit. Reinaldo José da Silva Botucatu, SP 2020 Dissertação apresentada ao Programa de Pós- graduação em Ciências Biológicas (Zoologia) do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista – UNESP, Campus de Botucatu, São Paulo, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestrado em Ciências Biológicas (Zoologia). N222t Narciso, Rodrigo Bravin Taxonomia e diversidade de espécies de ergasilídeos parasitas de peixes de água doce dos tributários e lagoas do reservatório de Jurumirim, SP / Rodrigo Bravin Narciso. -- Botucatu, 2020 124 f. : il., tabs., fotos, mapas Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Instituto de Biociências, Botucatu Orientador: Reinaldo José da Silva 1. Crustacea. 2. Cyclopoida. 3. Ergasilidae. 4. Ictioparasitologia. 5. Neotropical. I. Título. Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca do Instituto de Biociências, Botucatu. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. Dedico este trabalho aos meus pais Isaias e Leonice que sempre luturam com todas suas forças para que eu e meu irmão pudéssemos ir atrás de nossos sonhos. Even the smallest person can change the course of history. Lady Galadriel AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus pais por todo o apoio que sempre me deram. Graças aos senhores eu pude ir em busca de meus sonhos. Sei que não foi nada fácil, os senhores sempre fizeram de tudo o que podiam e, até mesmo o que não podiam para que eu e meu irmão pudéssemos estudar. Espero que um dia eu possa retribuir por tudo... todo o carinho, cuidado, suor derramado, e sacríficios que os senhores fizeram por mim e por meu irmão. Agradeço do fundo do meu coração! Falando do meu irmão! Queria dizer o quanto você é importante para mim, carinha! Agradeço por cada palavra, conselho e risada que tivemos! Isso tudo também foi de grande importância para que eu tivesse força nas horas que eu mais me sentia fraco. Você é além de irmão, um grande amigo! Muito obrigado por tudo! Agradeço ao professor e orientador Reinaldo José da Silva por todas as oportunidades, ensinamentos, broncas e conselhos que o senhor sempre me deu! Já fazem mais de sete anos desde que o senhor me aceitou como um aluno em seu laboratório... dá para acreditar?! Devo muito ao senhor, muito mesmo! Agradeço também o professor Heleno Brandão por ter me aceitado com seu co- orientado, lá no começo da minha jornada pela Universidade. Queria dizer que aprendi muito com o senhor! Mesmo que não nos falamos muito hoje em dia, quero que saiba que sempre o admirei como pessoa e profissional! Muito obrigado por tudo! Aos meus amigos do LAPAS por todas conversas, risadas, brincadeiras, festas e parcerias! Queria agradecer por tudo... tudo mesmo... desde as idas ao bom prato, as broncas e conselhos da Nurus, as risadas com a Pomba, até os finais de tarde onde comiamos todos juntos uma pipoquinha! São muitas pessoas, por isso não falarei o nome de todas, mas gostaria muito de agradecer a todos por tudo! Muito do que aprendi e do que sou hoje como pessoa eu devo a minha convivência com todos! Aos meus amigos César, Arthur, Lucas, Gustavo e a todos os amigos e companheiros de jogatina! Passar um tempo com todos, seja conversando ou jogando um jogo de tabuleiro foi muito importante! Espero que as jogatinas continuem por muito tempo ainda! Muito obrigado! Também não posso deixar de agradecer a todos os funcionários do Departamento de Parasitologia. Roberto, Valdir, Alessandra, Lucinete e Olga sempre foram muito amáveis e prestativos! Muito obrigado por tudo! Se estou aqui hoje, também é graças a vocês! Por fim, ao órgão de fomento Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) - Código de Financiamento 132844/2018-4 - e à UNESP por me darem o suporte financeiro e Tecnológico para o desenvolvimento desta pesquisa. RESUMO Ergasilidae Burmeister, 1835 é uma das maiores e mais importantes famílias de copépodes parasitas. Atualmente, esta família conta com 29 gêneros válidos e mais de 260 espécies descritas. Esses pequenos copépodes são, em sua maioria, parasitas de peixes (ósseos e cartiloginosos), e podem ser encontrados parasitando as brânquias, narinas, superfície, nadadeiras, ou até mesmo, a bexiga natatória de seus hospedeiros. No Brasil, Ergasilidae representa a quarta maior família de copépodes de água doce e a maior família de copépodes parasitas, com cerca de 60 espécies e 18 gêneros. Apesar disso, diversos autores assumem que apenas uma pequena porção da “real” diversidade de ergasilídeos no Brasil é atualmente conhecida. Nesse contexto, o objetivo do presente estudo foi a identificação e a descrição dos ergasílideos parasitas de brânquias e narinas de peixes do reservatório de Jurumirim e seus tributários (rios Paranapanema, Taquari e Ribeirão dos Veados), Alto rio Paranapanema, localizados no Estado de São Paulo, Brasil. Um total de 460 espécimes de peixes das seguintes espécies, Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819) (n = 125), Cyphocharax modestus (Fernández- Yépez, 1948) (n = 177), Pimelodus maculatus Lacepède, 1803 (n = 91), Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1837) (n = 37) e Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990 (n = 30), foi analisado quanto a sua fauna de copépodes parasitas. Com base nas análises morfológicas foram identificadas 11 espécies pertencentes a 8 gêneros de Ergasilidae, sendo eles: Duoergasilus basilongus Narciso, Brandão, Perbiche-Neves & Silva, 2019, Ergasilidae gen. sp., Ergasilus sp.1, Ergasilus sp.2, Gamidactylus sp., Gamispatulus schizodontis Thatcher & Boeger, 1984, Miracetyma etimaruya Malta, 1993, Pseudovaigamus sp., Rhinergasilus digitus Narciso, Brandão, Perbiche-Neves & Silva, 2020, Rhinergasilus sp.1 e Rhinergasilus sp.2. Dentre as espécies identificadas, Gamidactylus sp., Pseudovaigamus sp., Rhinergasilus sp.1 e Rhinergasilus sp.2 são prováveis novas espécies para Ergasilidae. Ergasilidae gen. sp. foi identificado como pertencente ao subgrupo dos vaigamídeos por possuir cefalotórax armado de retroestiletes e rostrum com espinho rostral. Este subgrupo atualmente é constituído por cinco gêneros de Ergasilidae, sendo eles: Gamidactylus Thatcher & Boeger, 1984; Gamispatulus Thatcher & Boeger, 1984; Gamispinus Thatcher & Boeger, 1984; Pseudovaigamus Amado, Ho & Rocha, 1995; e Vaigamus Thatcher & Robertson, 1984. Apesar das similaridades, essa espécie apresentou diferenças em relação a todos os outros vaigamídeos, o que indica que Ergasilidae gen. sp. representa não somente uma provavél nova espécie, mas também um provável novo gênero para esta família. De mesmo modo, D. basilongus também se distinguiu de todos os demais membros da família por apresentar uma combinação única de caracteres, sendo essa: antena com 3-segmentos, quatro pares de pernas natatórias birremes, e endopoditos das pernas 2 e 3, cada um com 2-segmentos. Em razão dessas características, D. basilongus foi proposto e descrito, concomitantemente ao andamento do projeto, como uma nova espécie de um novo gênero de ergasilídeo. Por fim, este foi o primeiro estudo com enfoque na fauna de ergasilídeos parasitas de peixes no reservatório de Jurumirim, contribuindo para o conhecimento da fauna de copépodes parasitas de peixes na região Neotropical. Palavras-chave: Crustacea, Cyclopoida, Ergasilidae, Ictioparasitologia, região Neotropical. LISTA DE FIGURAS Figura 1. Área de estudo: Reservatório de Jurumirim e seus pricnipais tributários: Rio Paranapanema, Braço Ribeirão dos Veados e Rio Taquari (Fonte: Adaptado de Henry et al., 2016) .......................................................................................................................................... 9 Figura 2. Espécies de peixes coletados no reservatório de Jurumirim: (A) Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819); (B) Cyphocharax modestus (Fernández-Yépez, 1948); (C) Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990; (D) Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1837); (E) Pimelodus maculatus Lacepède, 1803 (Fonte: Adaptado de Brandão et al., 2017) ................ 12 Figura 3. Denominação das estruturas morfológicas e partes do corpo (exceto pernas), em vista dorsal, utilizadas para descrição e identificação taxonômica das espécies pertencentes a Ergasilidae Burmeister, 1835. Fonte: Elaborado pelo autor .................................................... 14 Figura 4. Denominação das estruturas morfológicas de crustáceos representantes de Ergasilidae Burmeister, 1835: (A) Corpo (exceto antenas e pernas), vista ventral; (B) Ramo caudal, vista ventral; (C) Rostrum sem espinho rostral, vista ventral; e (D) Rostrum armado com espinho rostral, vista ventral. Fonte: Elaborado pelo autor .............................................. 15 Figura 5. Nomenclatura dos segmentos das antênulas de crustáceos representantes de Ergasilidae Burmeister, 1835. Fonte: Elaborado pelo autor .................................................... 16 Figura 6. Nomenclatura dos segmentos e das margens utilizadas na descrição da antena de crustáceos representantes de Ergasilidae Burmeister, 1835. Fonte: Elaborado pelo autor .................................................................................................................................................. 16 Figura 7. Denominação das estruturas do aparelho bucal de crustáceos representantes de Ergasilidae Burmeister, 1835: (A) Mandíbula com três lâminas; (B) Mandíbula com duas lâminas; (C) Maxílula; e (D) Maxila. Fonte: Elaborado pelo autor ........................................ 17 Figura 8. Nomenclatura dos segmentos, ornamentos, e das margens utilizadas na descrição das pernas natatórias de crustáceos representantes de Ergasilidae Burmeister, 1835: (A) Denominação dos ramos, segmentos e margens da primeira perna; e (B) Denominação dos ornamentos presentes na primeira perna. Fonte: Elaborado pelo autor ................................... 18 Figura 9. Duoergasilus basilongus Narciso, Brandão, Perbiche-Neves & Silva, 2019 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819): (A) Corpo, vista ventral; (B) Aparelho bucal, completo; (C) Antena; e (D) Segunda perna (= terceira perna). Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor .............................................................................. 26 Figura 10. Ergasilidae gen. sp. – fêmea adulta, parasita de narinas de Schizodon intermedius Garavello & Britski 1990: (A) Corpo, vista dorsal; (B) Cefalotórax, vista dorsal; (C) Segundo somito pedígero, com janelas tegumentares em cada extremidade lateral (seta); (D) Espinho rostral, vista ventral e (E) Antênula. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor .................................................................................................................................................. 30 Figura 11. Ergasilidae gen. sp. – fêmea adulta, parasita de narinas de Schizodon intermedius Garavello & Britski 1990: (A) Urossoma completo, vista ventral; (B) Escleritos intercoxais e placas interpodais, vista ventral; (C) Somito genital-duplo, vista dorsal; e (D) Antena, segundo segmento endopodal com poro (seta branca) e garra medial com fossa (seta preta). Ei = Esclerito intercoxal. P5 = quinta perna. Pa = protuberância anterior. Pi = placa interpodal. Pp = protuberância posterior. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor .................... 31 Figura 12. Ergasilidae gen. sp. – fêmea adulta, parasita de narinas de Schizodon intermedius Garavello & Britski 1990: (A) Retroestilete, vista dorsal; (B) Aparelho bucal, completo, vista ventral; (C) Labrum; (D) Mandíbula e (E) Maxila, sincoxa com poro próximo a inserção da base (seta). La = lâmina anterior. Lp = lâmina posterior. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor ................................................................................................................ 32 Figura 13. Ergasilidae gen. sp. – fêmea adulta, parasita de narinas de Schizodon intermedius Garavello & Britski 1990: (A) Primeira perna; (B) Segunda perna; (C) Terceira perna; (D) Quarta perna e (E) Saco de ovos. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor .................................................................................................................................................. 33 Figura 14. Ergasilus sp.1 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990: (A) Corpo, vista dorsal, cefalossoma com cerdas laterais (seta); (B) Corpo, vista ventral; (C) Segundo somito pedígero, com janelas tegumentares laterais (seta); e (D) Rostrum, vista ventral. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor ................ 39 Figura 15. Ergasilus sp.1 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990: (A) Urossoma completo, vista ventral; (B) Somito genital-duplo, vista dorsal; (C) Ramo caudal, vista ventral; (D) Antena, garra com fossa na margem interna (seta); e (E) Antênula. P5 = quinta perna. S1 = seta I. S2 = seta II; S3 = seta III. S4 = seta IV. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor ............................................................ 40 Figura 16. Ergasilus sp.1 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990: (A) Aparelho bucal completo; (B) Mandíbula; (C) Maxila; e (D) Labrum. La = lâmina anterior. Lm = lâmina média. Lp = lâmina posterior. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor .............................................................................. 41 Figura 17. Ergasilus sp.1 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990: (A) Primeira perna; (B) Segunda perna (= terceira perna); (C) Quarta perna; (D) Saco de ovos; e (E) Escleritos intercoxais e placas interpodais, vista ventral. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor ......................................................................... 42 Figura 18. Ergasilus sp.2 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Pimelodus maculatus Lacepède, 1803: (A) Corpo, vista dorsal; (B) Urossoma completo, vista ventral; (C) Somito genital-duplo; (D) Ramo caudal, vista ventral; e (E) Segundo somito pedígero, com janelas tegumentares laterais (seta). P5 = quinta perna. S1 = seta I. S2 = seta II; S3 = seta III. S4 = seta IV. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor ...................................................... 47 Figura 19. Ergasilus sp.2 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Pimelodus maculatus Lacepède, 1803: (A) Escleritos intercoxais e placas interpodais, vista ventral; (B) Antênula; (C) Antena, garra com fossa na margem interna (seta); (D) Aparelho bucal completo, vista ventral; (E) Mandíbula; (F) Maxílula; e (G) Maxila, sincoxa com poro próximo do ponto de inserção da base (seta). Ei = esclerito intercoxal. La = lâmina anterior. Lp = lâmina posterior. Pi = placa interpodal. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor .......................................... 48 Figura 20. Ergasilus sp.2 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Pimelodus maculatus Lacepède, 1803: (A) Primeira perna; (B) Segunda perna; (C) Terceira perna; (D) Quarta perna; e (E) Saco de ovos. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor ........................... 49 Figura 21. Gamidactylus sp. – fêmea adulta, parasita de narinas de Pimelodus maculatus Lacepède, 1803: (A) Corpo, vista dorsal; (B) Rostrum com espinho rostral (seta), vista ventral; (C) Urossoma completo, vista dorsal; (D) Segmento genital-duplo; e (E) Segundo somito pedígero, com janelas tegumentares em cada extremidade lateral (seta). P5 = quinta perna. Pa = protuberância anterior. Pp = protuberância posterior. S1 = seta I. S2 = seta II; S3 = seta III. S4 = seta IV. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor ...................................... 55 Figura 22. Gamidactylus sp. – fêmea adulta, parasita de narinas de Pimelodus maculatus Lacepède, 1803: (A) Antênula; (B) Antena, garra medial com fossa na margem interna (seta); (C) Aparelho bucal, sincoxa com poros (seta); (D) Retroestilete longo; e (E) Saco de ovos. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor ............................................................ 56 Figura 23. Gamidactylus sp. – fêmea adulta, parasita de narinas de Pimelodus maculatus Lacepède, 1803: (A) Primeira perna; (B) Segunda perna (= terceira perna); e (C) Quarta perna. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor ............................................................ 57 Figura 24. Gamispatulus schizodontis Thatcher & Boeger, 1984 – fêmea adulta, parasita de narinas de Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990: (A) Corpo, vista dorsal; (B) Rostrum com espinho rostral (seta), vista ventral; (C) Segundo somito pedígero, com janelas tegumentares em cada extremidade lateral (seta); e (D) Retroestilete com projeção espatular acessória (seta). Sl = seta lateral. Sm = seta medial. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor ................................................................................................................................. 63 Figura 25. Gamispatulus schizodontis Thatcher & Boeger, 1984 – fêmea adulta, parasita de narinas de Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990: (A) Urossoma completo, vista dorsal; (B) Escleritos intercoxais e placas interpodais, vista ventral, com poros laterais na primeira e segunda placa (seta); (C) Segmento genital-duplo, vista ventral; (D) Antena, garra medial com fossa na margem interna (seta); e (E) Antênula. Ei = esclerito intercoxal. Pa = protuberância anterior. Pi = placa interpodal. Pp = protuberância posterior. Sl = seta lateral. Sm = seta medial. P5 = quinta perna. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor .................................................................................................................................................. 64 Figura 26. Gamispatulus schizodontis Thatcher & Boeger, 1984 – fêmea adulta, parasita de narinas de Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990: (A) Retroestiletes, vista dorsal; (B) Aparelho bucal completo, vista ventral; (C) Labrum; (D) Mandíbula e (E) Maxila, sincoxa com poro próximo a inserção da base (seta). La = lâmina anterior. Lp = lâmina posterior. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor ............................................................ 65 Figura 27. Gamispatulus schizodontis Thatcher & Boeger, 1984 – fêmea adulta, parasita de narinas de Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990: (A) Primeira perna; (B) Segunda perna (= terceira perna); (C) Quarta perna e (D) Saco de ovos. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor ........................................................................................................ ........ 66 Figura 28. Miracetyma etimaruya Malta, 1993 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Cyphocharax modestus (Fernández-Yépez, 1948): (A) Corpo, vista dorsal; (B) Cefalossoma, vista dorsal, com cerdas nas extremidades laterais (seta); (C) Articulação entre o cefalossoma e antena, vista ventral; (D) Segundo somito pedígero, com janelas tegumentares em cada extremidade lateral (seta); (E) Somito genital-duplo, vista dorsal; e (F) Ramo caudal, vista ventral. P5 = quinta perna. S1 = seta I. S2 = seta II. S3 = seta III. S4 = seta IV. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor .............................................................................. 71 Figura 29. Miracetyma etimaruya Malta, 1993 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Cyphocharax modestus (Fernández-Yépez, 1948): (A) Urossoma completo, vista ventral; (B) Escleritos intercoxais e placas interpodais, vista ventral; e (C) Antenas, segundo segmento endopodal com um sulco medial para recebimento da garra da outra antena (seta). Ei = esclerito intercoxal. Pi = placa interpodal. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor .................................................................................................................................................. 72 Figura 30. Miracetyma etimaruya Malta, 1993 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Cyphocharax modestus (Fernández-Yépez, 1948): (A) Labrum; (B) Saco de ovos, variação na disposição dos ovos; (C) Parede ventral do cefalossoma; (D) Mandíbula; e (E) Maxílula. La = lâmina anterior. Lm = lâmina média. Lp = lâmina posterior. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor ........................................................................................................ ........ 73 Figura 31. Miracetyma etimaruya Malta, 1993 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Cyphocharax modestus (Fernández-Yépez, 1948): (A) Primeira perna; (B) Segunda perna; (C) Terceira perna; e (D) Quarta perna. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor .................................................................................................................................................. 74 Figura 32. Pseudovaigamus sp. – fêmea adulta, parasita de brânquias de Pimelodus maculatus Lacepède, 1803: (A) Corpo, vista dorsal; (B) Rostrum com espinho rostral trífido, vista ventral; (C) Segundo somito pedígero, com janelas tegumentares em cada extremidade lateral (seta); e (D) Retroestilete com projeção espatular acessória (seta). Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor ................................................................................................................ 80 Figura 33. Pseudovaigamus sp. – fêmea adulta, parasita de brânquias de Pimelodus maculatus Lacepède, 1803: (A) Urossoma completo, vista dorsal, cada segmento com um espinho lateral (seta); (B) Escleritos intercoxais e placas interpodais, vista ventral; (D) Antena; e (D) Antênula. Ei = esclerito intercoxal. P5 = quinta perna. Pi = placa intepodal. S1 = seta I. S2 = seta II; S3 = seta III. S4 = seta IV. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor ......................... 81 Figura 34. Pseudovaigamus sp. – fêmea adulta, parasita de brânquias de Pimelodus maculatus Lacepède, 1803: (A) Aparelho bucal completo; e (B) Saco de ovos: variações no tamanho e na quantidade de ovos. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor ........................... 82 Figura 35. Pseudovaigamus sp. – fêmea adulta, parasita de brânquias de Pimelodus maculatus Lacepède, 1803: (A) Primeira perna; (B) Segunda perna; (C) Terceira perna; e (D) Quarta perna. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor ................................................. 83 Figura 36. Rhinergasilus digitus Narciso, Brandão, Perbiche-Neves & Silva, 2020 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819): (A) Corpo completo, vista dorsal; (B) Urossoma completo, vista ventral; e (C) Antena, garra com fossa na margem interna (seta). P5 = quinta perna. S1 = seta I. S2 = seta II; S3 = seta III. S4 = seta IV. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor .............................................................................. 87 Figura 37. Rhinergasilus sp.1 – fêmea adulta, parasita de narinas de Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819): (A) Corpo completo, vista dorsal; (B) Suporte da antena, vista ventral; (C) Aparelho bucal, vista ventral; (D) Antênula; (E) Urossoma completo, vista ventral; e (F) Antena. La = lâmina anterior. Lp = lâmina posterior. P4 = quarta perna. P5 = quinta perna. Pe = projeção espiniformes. S1 = seta I. S2 = seta II; S3 = seta III. S4 = seta IV. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor .............................................................................. 92 Figura 38. Rhinergasilus sp.1 – fêmea adulta, parasita de narinas de Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819): (A) Primeira perna; (B) Segunda perna; (C) Terceira perna; e (D) Saco de ovos. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor ............................................................ 93 Figura 39. Rhinergasilus sp.2 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1837): (A) Corpo completo, vista dorsal; (B) Urossoma completo, vista ventral; e (C) Segundo somito pedígero, com janelas tegumentares laterais (seta). P5 = quinta perna. S1 = seta I. S2 = seta II; S3 = seta III. S4 = seta IV. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor ................................................................................................................................. 97 Figura 40. Rhinergasilus sp.2 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1837): (A) Antena, garra com fossa na margem interna (seta); (B) Escleritos intercoxais e placas interpodais, vista ventral; (C) Antênula; e (D) Aparelho bucal, completo, sincoxa com poro próximo a inserção da base (seta). Ei = esclerito intercoxal. La = lâmina anterior. Lp = lâmina posterior. Pi = placa interpodal. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor ................................................................................................................ 98 Figura 41. Rhinergasilus sp.2 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1837): (A) Primeira perna; (B) Segunda perma; (C) Terceira perna; e (D) Saco de ovos. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor. ............................................ 99 LISTA DE TABELAS Tabela I. Lista de espécies de ergasilídeos (Copepoda, Ergasilidae) do Brasil. TE = total de espécies descritas para o gênero. EB = espécies já reportadas no Brasil ................................... 3 Tabela II. Espécies de peixes analisadas provenientes do reservatório de Jurumirim e seus principais tributários (rios Paranapanema, Taquari e Ribeirão dos Veados), Alto rio Paranapanema, estado de São Paulo, Brasil, coletados no período de 2011 a 2013. LBO = coleção de peixes do Laboratório de Biologia e Genética de Peixes da Universidade Estadual Paulista (UNESP), no município de Botucatu, São Paulo. MZUEL = coleção de peixes do Museu de Zoologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no município de Londrina, Paraná. N = número de peixes analisados. NT = número de tombo dos vouchers depositados .................................................................................................................................................. 12 Tabela III. Espécies de ergasilídeos encontrados em peixes do reservatório de Jurumirim, São Paulo, Brasil. SI = sítio de infestação. P(%) = prevalência em porcentagem. AM±EP = abundância média e erro padrão. IMI±EP = intensidade média de infestação, erro padrão e amplitude (entre parênteses). B = brânquia. N = narinas .......................................................... 21 Tabela IV. Distribuição dos espinhos e setas das pernas natatórias de Duoergasilus basilongus Narciso, Brandão, Perbiche-Neves & Silva, 2019 – fêmea adulta, parasito de brânquias de Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819). Números romanos = espinhos. Números arábicos = setas .................................................................................................................................................. 24 Tabela V. Distribuição dos espinhos e setas das pernas natatórias de fêmea adulta de Ergasilidae gen. sp. parasito de narinas de Schizodon intermedius Garavello & Britski 1990. Números romanos = espinhos. Números arábicos = setas ........................................................ 29 Tabela VI. Distribuição dos espinhos e setas das pernas natatórias de Ergasilus sp.1 – fêmea adulta, parasito de brânquias de Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990. Números romanos = espinhos. Números arábicos = setas ....................................................................... 39 Tabela VII. Distribuição dos espinhos e setas das pernas natatórias de Ergasilus sp.2 – fêmea adulta, parasito de brânquias de Pimelodus maculatus Lacepède, 1803. Números romanos = espinhos. Números arábicos = setas ......................................................................................... 46 Tabela VIII. Distribuição dos espinhos e setas das pernas natatórias de Gamidactylus sp. – fêmea adulta, parasito de narinas de Pimelodus maculatus Lacepède, 1803. Números romanos = espinhos. Números arábicos = setas ...................................................................................... 54 Tabela IX. Distribuição dos espinhos e setas das pernas natatórias de Gamispatulus schizodontis Thatcher & Boeger, 1984 – fêmea adulta, parasito de narinas de Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990. Números romanos = espinhos. Números arábicos = setas ......................................................................................................................................... 62 Tabela X. Distribuição dos espinhos e setas das pernas natatórias de Miracetyma etimaruya Malta, 1993 – fêmea adulta, parasito de narinas de Cyphocharax modestus (Fernández-Yépez, 1948). Números romanos = espinhos. Números arábicos = setas ............................................ 70 Tabela XI. Distribuição dos espinhos e setas das pernas natatórias de Pseudovaigamus sp. – fêmea adulta, parasito de brânquias de Pimelodus maculatus Lacepède, 1803. Números romanos = espinhos. Números arábicos = setas ....................................................................... 79 Tabela XII. Distribuição dos espinhos e setas das pernas natatórias de Rhinergasilus digitus Narciso, Brandão, Perbiche-Neves & Silva, 2020 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819). Números romanos = espinhos. Números arábicos = setas .................................................................................................................................................. 87 Tabela XIII. Distribuição dos espinhos e setas das pernas natatórias de Rhinergasilus sp.1 – fêmea adulta, parasito de narinas de Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819). Números romanos = espinhos. Números arábicos = setas ......................................................................................... 91 Tabela XIV. Distribuição dos espinhos e setas das pernas natatórias de Rhinergasilus sp.3 – fêmea adulta, parasito de brânquias de Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1837). Números romanos = espinhos. Números arábicos = setas ....................................................................... 96 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................1 1.1. Referências ............................................................................................................5 2. OBJETIVOS ....................................................................................................................7 2.1. Objetivo geral ........................................................................................................7 2.2. Objetivos específicos..............................................................................................7 3. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................8 3.1. Caracterização da área de estudo ...........................................................................8 3.2. Coleta dos hospedeiros ......................................................................................... 10 3.3. Coleta, processamento e identificação dos ergasilídeos......................................... 12 3.4. Atributos parasitológicos ...................................................................................... 19 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................... 20 4.1. Inventário das espécies ........................................................................................ 20 4.2. Descrição morfológica dos ergasilídeos ............................................................... 23 Duoergasilus basilongus Narciso, Brandão, Perbiche-Neves & Silva, 2019 ....... 24 Ergasilidae gen. sp. .......................................................................................... 27 Ergasilus sp.1 .................................................................................................... 36 Ergasilus sp.2 .................................................................................................... 44 Gamidactylus sp. ............................................................................................... 52 Gamispatulus schizodontis Thatcher & Boeger, 1984......................................... 60 Miracetyma etimaruya Malta, 1993 ................................................................... 68 Pseudovaigamus sp. ........................................................................................... 77 Rhinergasilus digitus Narciso, Brandão, Perbiche-Neves & Silva, 2020 ............. 86 Rhinergasilus sp.1.............................................................................................. 89 Rhinergasilus sp.2.............................................................................................. 94 4.3. Chave de identificação ...................................................................................... 101 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 104 6. REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 105 1 1. INTRODUÇÃO Os peixes figuram como o grupo de vertebrados com a maior diversidade de organismos parasitas, sendo registradas associações parasita-hospedeiro com invertebrados de diferentes táxons, como: Protozoa, Ciliophora, Cnidaria (Myxozoa), Platyhelminthes (Trematoda, Cestoda e Monogenea), Nematoda, Acanthocephala, Arthropoda (Copepoda, Branchiura, Isopoda, Pentastomida e Acari), Annelida (Hirudinea) e Mollusca (Thatcher, 2006; Pavanelli et al., 2013). Dentre esses grupos, os crustáceos se destacam como um dos grupos mais diversificados, com estimativas de mais de 5.400 espécies de crustáceos parasitas (Poulin & Morand, 2004; Luque et al., 2013). As espécies de Crustacea Brünnich, 1.772 apresentam uma ampla variedade morfológica, sendo considerada maior, até mesmo, do que a variedade presente em grupos megadiversos como, por exemplo, dos insetos (Martin & Davis, 2001). Essa ampla variedade propicia que os crustáceos ocorram em diversos habitats (p. ex.: marinho, água doce, salobro, semi-aquático, terrestre, entre outros) e exibam diferentes estilos de vida, que vão desde espécies planctônicas até parasitas (Tavares-Dias et al., 2015). O parasitismo surgiu de maneira independente várias vezes na história evolutiva do grupo, havendo desde espécies que possuem somente uma única fase do seu ciclo de vida como parasitas (p. ex.: fêmeas adultas em Ergasilidae Burmeister, 1835) até outras em que somente os ovos deixam o corpo de seus hospedeiros (p. ex.: várias espécies de pentastomídeos) (Williams & Bunkley-Williams, 2019). Dentre os grupos de crustáceos parasitas que ocorrem na água doce, três grupos se destacam devido sua importância e diversidade, sendo eles: Branchiura Thorell, 1818, Copepoda Milne Edwards, 1840 e Isopoda Latreille, 1871. Esses três grupos representam grande parte da totalidade de crustáceos parasitas na água doce, principalmente no Brasil, e possuem grande relevância devido ao impacto que determinadas espécies promovem em populações naturais e/ou cultivadas de peixes (Eiras et al., 2010; Pavanelli et al., 2013). Entre as doenças causadas em peixes, destacam-se aquelas causadas por ergasilídeos (ou ergasilidioses) – doenças cujo o agente etiológico são os copépodes da família Ergasilidae. A presença de ergasilídeos, principalmente em infestações massivas, pode causar grandes mortalidades em peixes de água doce, seja devido a efeitos diretos causados pela presença dos ergasilídeos como, por exemplo, as asfixia do hospedeiro resultante da diminuição do superfície de troca gasosa provocada pela fixação desses parasitas nos filamentos branquiais, ou até mesmo por efeitos indiretos como, por exemplo, um aumento da suscetibilidade do hospedeiro 2 a infecções secundárias por fungos e bactérias – efermedidades consideradas mais prejudiciais do que as provocadas pelos próprios ergasilídeos (Piasecki et al., 2004; Pavanelli et al., 2008). Quando fixados nas brânquias, esses pequenos copépodes têm a capacidade de causar severos danos mecânicos aos filamentos branquiais, o que pode induzir ao surgimento de alterações teciduais como hiperplasia epitelial, metaplasia, fusão de filamentos, necrose, aumento na produção de muco e interrompimento do fluxo sanguíneo (Thatcher, 1998; Velloso et al., 2012). Essas alterações, além de afetar a eficiência respiratória, podem promover profundas mudanças na biologia dos peixes que vão desde de mudanças fisiológicas como, queda na taxa de crescimento corpóreo, ou, até mesmo, levar a um aumento na taxa de mortalidade (Thatcher, 1998; Johnson et al., 2004; Piasecki et al., 2004). Ergasilidae é uma das mais especiosas famílias de copépodes parasitas da ordem Cyclopoida Burmeister, 1834 (Taborda et al., 2016). Atualmente esta família aloca 262 espécies e 29 gêneros válidos, que inclui representantes em todos os continentes, com exceção da Antártica (Boxshall & Defaye, 2008; Walter & Boxshall, 2018). No Brasil, Ergasilidae representa a quarta maior família de copépodes de água doce e a maior família de copépodes parasitas, com cerca de 60 espécies e 18 gêneros (Luque et al., 2013; Marques et al., 2015) (Tabela I). A maioria do ergasilídeos são parasitas de peixes, tanto de peixes ósseos quanto cartilaginosos, mas algumas poucas espécies parasitam moluscos (El-Rashidy, 1999; Taborda et al., 2016). Em Ergasilidae, a fixação sobre os tecidos e órgãos dos seus hospedeiros ocorre por intermédio do segundo par de antenas, que nesse grupo é bastante modificada. A antena dos ergasilídeos, diferente da antena tipicamente encontrada em copépodes de vida-livre, possui um único ramo (endopodito), poucos segmentos (três a quatro segmentos), e é armada com uma, duas ou até três garras (Boxshall & Montú, 1997; Boxshall & Halsey, 2004). Este tipo de antena está presente em todos ergasilídeos, havendo algumas modificações no tamanho, formato e número de segmentos e/ou de garras de acordo as diferentes estratégias de fixação exibidas pelas diferentes espécies dessa família. Atualmente, o Brasil figura entre os países com as maiores diversidades de crustáceos parasitas de peixe do planeta, sendo grande parte dessa diversidade (~11%) composta por membros de Ergasilidae. Apesar disso, estimativas indicam que menos do que 10% das mais de 4.000 espécies estimadas de peixes brasileiros tiveram sua fauna de parasitas investigada (Luque et al., 2013). Assim, é possível que o país ainda possui um grande potencial para descoberta de novas espécies ou, até mesmo, de novos gêneros desses parasitas. Com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre ergasilídeos tanto em relação à descrição de novas espécies e gêneros, quanto através do registros de novos hospedeiros, localidades e atributos parasitológicos (prevalência, intesidade e abundância parasitária), 3 realizou-se o levantamento da fauna de ergasilídeos parasitas de cinco espécies de peixes de três tributários (Rio Paranapanema, Ribeirão dos Veados e Taquari) e duas lagoas (Lagoa 7 Ilhas e Poço das Pedras) do reservatório de Jurumirim, Alto Rio Paranapanema, São Paulo, Brasil. Tabela I. Lista de espécies de ergasilídeos (Copepoda, Ergasilidae) do Brasil. TE = total de espécies descritas para o gênero. EB = espécies já reportadas no Brasil. Gêneros TE EB Lista das espécies de ergasilídeos do Brasil Acusicola 15 7 Acusicola brasiliensis Amado & Rocha, 1996 Acusicola lycengraudilis Thatcher & Boeger, 1985 Acusicola paracunula Amado & Rocha, 1996 Acusicola pellonidis Thatcher & Boeger, 1983 Acusicola rotunda Amado & Rocha, 1996 Acusicola spinulosa Amado & Rocha, 1996 Acusicola tucunarense Thatcher, 1984 Amplexibranchius 1 1 Amplexibranchius bryconis Thatcher & Paredes, 1985 Brasergasilus 6 6 Brasergasilus anodus Thatcher & Boegerm 1983 Brasergasilus bifurcatus Santos, Thatcher & Brasil-Sato, 2007 Brasergasilus guaporensis Malta, 1993 Brasergasilus jaraquensis Thatcher & Boeger, 1983 Brasergasilus mamorensis Varella & Malta, 2001 Brasergasilus oranus Thatche & Boeger, 1984 Duoergasilus 1 1 Duoergasilus basilongus Narciso, Brandão, Perbiche-Neves & Silva, 2019 Ergasilus 159 32 Ergasilus atafonensis Amado & Rocha, 1997 Ergasilus bahiensis Amado & Rocha, 1997 Ergasilus bryconis Thatcher, 1981 Ergasilus callophysus Thatcher & Boeger, 1984 Ergasilus caraguatatubensis Amado & Rocha, 1997 Ergasilus chelangulatus Thatcher & Brasil-Sato, 2008 Ergasilus coatiarus Araujo & Varella, 1998 Ergasilus colomesus Thatcher & Boeger, 1983 Tabela I. Continuação. Gêneros TE EB Lista das espécies de ergasilídeos do Brasil 4 Ergasilus cyanopictus Carvalho, 1962 Ergasilus foresti Boxshall, Araujo & Montú, 2002 Ergasilus holobryconis Malta & Varella, 1986 Ergasilus hydrolycus Thatcher, Boeger & Robertson, 1984 Ergasilus hypophthalmi Boeger, Martins & Thatcher, 1993 Ergasilus jaraquensis Thatcher & Robertson, 1982 Ergasilus lacusauratus Marques, Boeger & Brasil-Sato, 2015 Ergasilus leporinidis Thatcher, 1981 Ergasilus lizae Krøyer, 1863 Ergasilus longimanus Krøyer, 1863 Ergasilus orientalis Yamaguti, 1939 Ergasilus salmini Thatcher & Brasil-Sato, 2008 Ergasilus sinefalcatus Marques, Boeger & Brasil-Sato, 2015 Ergasilus thatcheri Engers, Boeger & Brandon, 2000 Ergasilus tipurus Varella, Morey & Malta, 2019 Ergasilus triangularis Malta, 1996 Ergasilus trygonophilus Domingues & Marques, 2010 Ergasilus turucuyus Malta & Varella, 1996 Ergasilus urupaensis Malta, 1993 Ergasilus versicolor Wilson, 1911 Ergasilus xenomelanirisi Carvalho, 1955 Ergasilus xinguensis Taborda, Paschoal & Luque, 2016 Ergasilus youngi Tavares & Luque, 2005 Ergasilus yumaricus Malta & Varella, 1995 Gamidactylus 4 4 Gamidactylus bryconis Varella, 1994 Gamidactylus hoplius Varella & Malta, 1995 Gamidactylus jaraquensis Thatcher & Boeger, 1984 Gamidactylus piranhus Thatcher, Santo & Brasil-Sato, 2008 Gamispatulus 1 1 Gamispatulus schizodontis Thatcher & Boeger, 1984 Gamispinus 1 1 Gamispinus diabolicus Thatcher & Boeger, 1984 Gauchergasilus 1 1 Gauchergasilus euripedesi (Montú, 1980) Miracetyma 3 3 Miracetyma etimaruya Malta, 1993 Miracetyma kawa Malta, 1994 Miracetyma piraya Malta, 1993 Tabela I. Continuação. 5 TE EB Lista das espécies de ergasilídeos do Brasil Pindapixara 1 1 Pindapixara tarira Malta, 1994 Prehendorastrus 2 2 Prehendorastrus bidentatus Boeger & Thatcher, 1990 Prehendorastrus monodontus Boeger & Thatcher, 1990 Pseudovaigamus 1 1 Pseudovaigamus spinicephalus (Thatcher & Robertson, 1984) Rhinergasilus 1 1 Rhinergasilus piranhus Boeger & Thatcher, 1988 Tiddergasilus 1 1 Tiddergasilus iheringi (Tidd, 1942) Therodamas 7 3 Therodamas elongatus (Thatcher, 1986) Therodamas fluviatilis Paggi, 1977 Therodamas frontalis El-Rashidy & Boxshall, 2001 Urogasilus 1 1 Urogasilus brasiliensis Rosim, Boxshall & Ceccarelli, 2013 Vaigamus 1 1 Vaigamus retrobarbatus Thatcher & Robertson, 1984 1.1. Referências Boxshall, G.A. & Defaye, D. (2008). Global diversity of copepods (Crustacea: Copepoda) in freshwater. Hydrobiologia, v. 595, p. 195–207. Boxshall, G.A. & Halsey, S.H. (2004). An introduction to copepod diversity. London, Ray Society, 966 p. Boxshall, G.A. & Montú, M.A. (1997). Copepods parasitic on Brazilian coastal fishes: a handbook. Nauplius, v. 5, n. 1, p. 1–225. Eiras, J.C.; Takemoto, R.M. & Pavanelli, G.C. (2010). Diversidade dos parasitas de peixes de água doce do Brasil. Maringá: Clichetec, 333p. El-Rashidy, H.H. (1999). Ergasilid copepods and grey mullet. Tese – Doutorado. Faculty of Science. University of London, 468p. Johnson, S.C.; Bravo, S.; Nagasawa, K.; Kabata, Z.; Hwang, J.; Ho, J. & Shih, C.T. (2004). A review of the impact of parasitic copepods on marine aquaculture. Zoological Studies, v. 43, n. 2, p. 229–243. Luque, J.L.; Pavanelli, G.; Vieira, F.; Takemoto, R.M. & Eiras, J.C. (2013). Checklist of Crustacea parasitizing fishes from Brazil. Check List, v. 9, n. 6, p. 1449–1470. Marques, T.M.; Boeger, W.A. & Brasil-Sato, M.C. (2015). Two new species of Ergasilus Nordmann, 1832 (Copepoda: Ergasilidae) and a redescription of Ergasilus salmini 6 Thatcher & Brazil-Sato, 2008 from Salminus brasiliensis Cuvier and S. franciscanus Lima & Britsky (Teleostei: Characidae) in Brazil. Systematic Parasitology, v. 90, n. 1, p. 81–89. Martin, J.W. & Davis, G.E. (2001). An updated classification of the recent Crustacea. Los Angeles: Natural History Museum of Los Angeles County. Pavanelli, G.C.; Eiras, J.C. & Takemoto, R.M. (2008). Doenças de Peixes: profilaxia, diagnóstico e tratamento. 3° ed. Maringá: Eduem. Pavanelli, G.C.; Takemoto, R.M. & Eiras, J.C. (2013). Parasitologia: Peixes de água doce do Brasil. 1° ed. Maringá: Eduem. Piasecki, W.; Goodwin, A.E.; Eiras, J.C. & Nowak, B.F. (2004). Importance of Copepoda in freshwater aquaculture. Zoological Studies, v. 43, n. 2, p. 193–205. Poulin, R. & Morand, S. (2004). Parasite Biodiversity. Washington: Smithsonian Books, 216p. Taborda, N.L.; Paschoal, F. & Luque, J.L. (2016). A new species of Ergasilus (Copepoda: Ergasilidae) from Geophagus altifrons and G. argyrostictus (Perciformes: Cichlidae) in the Brazilian Amazon. Acta Parasitologica, v. 61, n. 3, p. 549–555. Tavares-Dias, M.; Dias-Junior, M.B.F.; Florentino, A.C.; Silva, L.M.A & Cunha, A.C.D. (2015). Distribution pattern of crustacean ectoparasites of freshwater fish from Brazil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 24, n. 2, p. 136–147. Thatcher, V.E. (2006). Amazon fish parasites. 2° Ed. Pensoft, Sofia-Moscow, 508 p. Thatcher, V.E. (1998) Copepods and fishes in the Brazilian Amazon. Journal of Marine Systems, v. 15, n. 1–4, p. 97–112. Velloso, A.L., de Mattos Almeida, F.; Cousin, J.C.B. & Pereira, J. (2012). Histopatologia de brânquias de Paralichthys orbignyanus (Teleostei: paralichthyidae) parasitado por Therodamas fluviatilis (Copepoda: ergasilidae). Atlântica (Rio Grande), v. 34, n. 1, p. 47– 52. Walter, T.C. & Boxshall, G.A. (2018). World of Copepods database. Ergasilidae Burmeister, 1835. Disponível em:< http://www.marinespecies.org/copepoda/aphia.php?p=taxdetails&id=128571 on 2019-09- 07>. Acesso em: 07 setembro 2019. Williams, E.H. & Bunkley-Williams, L. (2019). Life Cycle and Life History Strategies of Parasitic Crustacea. Springer, Cham, v. 3, p. 179–266. 7 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo geral Inventariar a fauna de ergasilídeos parasitas de peixes provenientes de três tributários (rios Paranapanema, Taquari e Ribeirão dos Veados) e duas lagoas (Lagoa 7 Ilhas e Lagoa Poço das Pedras) do reservatório de Jurumirim, Alto rio Paranapanema, São Paulo. 2.2. Objetivos específicos ✓ Caracterizar a composição das espécies de ergasilídeos parasitas de Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819), Cyphocharax modestus (Fernández-Yépez, 1948), Pimelodus maculatus Lacepède, 1803, Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1837) e Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990; ✓ Identificar e descrever, caso sejam encontradas, novas espécies de ergasilídeos baseado em análises morfológicas; ✓ Redescrever espécies de ergasilídeos (com enfoque na redescrição de espécies antigas ou que apresentarem discrespâncias em relação à sua descrição original); ✓ Propor chaves de identificação para gêneros da família Ergasilidae Burmeister, 1835; ✓ Calcular os descritores de prevalência, abundância média e intensidade média de infestação para as espécies encontradas. 8 3. MATERIAIS E MÉTODOS 3.1. Caracterização da área de estudo A bacia hidrográfica do Alto Paranapanema (BH-AP), a qual encontra-se inserida na represa de Jurumirim, faz parte da 14ª Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRH), e está localizada à sudoeste do estado de São Paulo (23º12’17” S – 49º13’19” O). A BH-AP, com área de 22.795 km2, é formada pela bacia de drenagem da represa de Jurumirim que cobre cerca de 78% do total da 14ª UGRH. Essa bacia inclui também parte da bacia hidrográfica da represa de Chavantes, que lhe segue em cascata ao longo do rio Paranapanema (Henry et al., 2016). O rio Paranapanema (do Tupi-Guarani: “Paraná” = rio, e “Panema” = impróprio para navegação e pesca) possui uma extensão estimada de 830 km, desde sua nascente (município de Capão Bonito, SP - 900 m de altitude) até sua foz no rio Paraná (município de Rosana, SP – 239 m de altitude). Durante seu percurso, o rio Paranapanema recebe afluentes de 10 rios à sua margem direita (rio Guapiara, rio Turvo, rio Itapetininga, rio Guareí, rio Capivara, rio Santo Inácio, ribeirão dos Veados, ribeirão Correntes, ribeirão Pedra Pedra e ribeirão Bonito) e seis na margem esquerda (ribeirão do Poço, rio Paranapitinga, rio Apiaí, ribeirão Indaiatuba, ribeirão Capivara e rio Anta Brava) (Henry et al. 2016) (Fig. 1). Além de possuir um papel importante no desenvolvimento hidrelétrico do estado de São Paulo, com 11 usinas em operação ao longo do seu eixo principal (Jurumirim, Piraju I, Piraju II, Chavantes, Ourinhos, Salto Grande, Canoas II, Canoas I, Capivara, Taquaruçu e Rosana), a bacia hidrográfica do Alto Paranapanema também tem grande relevância como rota alternativa para migração de peixes, permitindo o deslocamento de espécies migratórias entre os locais de desembocadura de seus tributários (Henry et al., 2016). Ademais, possui pontos de grande importância para espécies locais, em especial as lagoas marginais do rio Paranapanema, que servem como locais para alimentação, refúgio e reprodução para os organismos que ali vivem (Souto, 2015; Henry et al., 2016). 9 Figura 1. Área de estudo: Reservatório de Jurumirim e seus pricnipais tributários: Rio Paranapanema, Braço Ribeirão dos Veados e Rio Taquari (Fonte: Adaptado de Henry et al., 2016). A represa de Jurumirim é a primeira na sequência (à jusante) de represas que lhe seguem em “cascata” e atua principalmente na regularização do fluxo de vazão em relação a demanda das represas subsequentes (Henry et al., 2016). A barragem foi construída no final de 1950 e iniciou suas atividades em 1962 (Henry & Nogueira, 1999), de modo que sua área de drenagem abrange uma área de 17.978 km2 (Henry & Gouveia, 1993; Henry, 2014). A construção da barragem resultou na formação de um grande lago artificial, com uma área máxima de inundação de 485 km2, volume de 7.941 m3, vazão total de 315 m3/s e tempo de residência médio de 334 dias (Henry, 1990; Henry et al., 2016). Além do controle do fluxo de vazão, o reservatório também é utilizado para outras atividades, como piscicultura e pesca artesanal, irrigação de terras agrícolas, bem como, para lazer e turismo (Granado & Romero, 2014). Neste trabalho foram estudados os ergasilídeos parasitas dos peixes provenientes de três grandes compartimentos da represa de Jurumirim (Rio Paranapanema, Braço Ribeirão dos Veados e Rio Taquari), e de duas lagoas marginais do Rio Paranapanema, denominadas Lagoa Sete Ilhas e Lagoa Poço das Pedras. 10 3.2. Coleta dos hospedeiros O presente estudo foi desenvolvido com material biológico proveniente de coletas em três rios (Rio Paranapanema, Ribeirão do Veados e Rio Taquari) e duas lagoas marginais (Lagoa Sete Ilhas e Lagoa Poço das Pedras) associados ao reservatório de Jurumirim. Essas coletas foram realizadas como parte do projeto de pesquisa “A integridade ambiental da represa de Jurumirim (Alto Rio Paranapanema, SP, Brasil) com base na ictiofauna, supra-comunidades de parasitos, dieta e migração dos peixes” (processo CAPES: AUX-PE-PNPD 3005/2010 e auxílio à pesquisa FAPESP processo 2010/19543-6). A coleta dos peixes foi autorizada pelo Departamento de Desenvolvimento da Pesca e Inspeção (Licença #SP/538/88), e todos os procedimentos foram realizados em conformidade com a Comissão Ética de Experimentação Animal (Protocolo #120-CEEA). As cinco espécies de peixes analisadas no presente estudo (Fig. 2; Tabela II) foram coletadas durante o período de Abril/2011 a Janeiro/2013. Essas coletas foram feitas com o uso de redes de espera de monofilamento de náilon com malhagens variando de 3 a 14 cm entre nós-adjacentes. A redes ficaram expostas por cerca de 12 horas. Os peixes capturados foram eutanasiados através de resfriamento em gelo e, em seguida, as cabeças foram separadas e individualizadas em sacos plásticos, congeladas e acondicionadas em caixas térmicas com gelo. As análises parasitológicas foram realizadas no Departamento de Parasitologia do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), Campus de Botucatu, São Paulo. Dentre as 54 espécies de peixes registradas para o reservatório de Jurumirim (ver tabela 4.2 em Silva, 2016), essas cincos espécies de peixe foram selecionadas por cumprirem com os seguintes pré-requisitos: (1) serem consideradas espécies abundantes no reservatório; (2) terem sido registradas nos cinco pontos de coleta; e (3) por possuirem material parasitológico (p. ex.: copépodes parasitas) previamente coletado, indicando a ocorrência de ergasilídeos. A identificação dos peixes foi realizada pelo professor Dr. Edmir Daniel Carvalho (In memoriam) e sua equipe no Laboratório de Biologia e Ecologia de Peixes do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (UNESP), no município de Botucatu. Para cada uma das espécies identificadas, um espécime foi separado e depositado como material testemunho nas seguintes coleções: (1) coleção de peixes do Laboratório de Biologia e Genética de Peixes (LBP) da Universidade Estadual Paulista (UNESP), no município de Botucatu, São Paulo; e (2) coleção de peixes do Museu de Zoologia da Universidade Estadual de Londrina (MZUEL), no município de Londrina, Paraná. 11 Tabela II. Espécies de peixes analisadas provenientes do reservatório de Jurumirim e seus principais tributários (rios Paranapanema, Taquari e Ribeirão dos Veados), Alto rio Paranapanema, estado de São Paulo, Brasil, coletados no período de 2011 a 2013. LBO = coleção de peixes do Laboratório de Biologia e Genética de Peixes da Universidade Estadual Paulista (UNESP), no município de Botucatu, São Paulo. MZUEL = coleção de peixes do Museu de Zoologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no município de Londrina, Paraná. N = número de peixes analisados. NT = número de tombo dos vouchers depositados. Hospedeiros N NT CHARACIFORMES Anostomidae Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990 30 LBP 13311 Curimatidae Cyphocharax modestus (Fernández-Yépez, 1948) 177 LBP 13297 Characidae Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819) 125 MZUEL 5669 Prochilodontidae Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1837) 37 LBP 13308 SILURIFORMES Pimelodidae Pimelodus maculatus Lacepède, 1803 91 LBP 13317 Total 460 12 Figura 2. Espécies de peixes coletados no reservatório de Jurumirim: (A) Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819); (B) Cyphocharax modestus (Fernández-Yépez, 1948); (C) Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990; (D) Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1837); (E) Pimelodus maculatus Lacepède, 1803 (Fonte: Adaptado de Brandão et al., 2017). 3.3. Coleta, processamento e identificação dos ergasilídeos Após o descongelamento dos hospedeiros, as brânquias e narinas foram analisadas em busca de ergasilídeos. Inicialmente, as narinas foram seccionadas e, em seguida, lavadas com o uso de pissetas com água destilada. O conteúdo do lavado foi recolhido em placas de Petri e, em seguida, analisados em esteriomicroscópio para coleta dos parasitas. Por sua vez, as brânquias foram seccionadas e removidas da cavidade brânquial e, em seguida, armazenadas em placas de Petri com água destilada. Ainda dentro da placa, os arcos branquiais foram separados e analizados individualmente, também em esteriomicroscópio, para coleta dos parasitas. Os ergasilídeos que se encontravam fixados nos filamentos e/ou arcos branquiais foram cuidadosamente removidos com o uso de agulhas, afim de evitar a perda de estruturas (p. ex.: antenas). Os ergasilídeos coletados nas brânquias e narinas foram contados e, em seguida, armazenados em frascos de vidro com álcool etílico a 70%. Para cada uma dessas amostras, alguns espécimes (~10 espécimes) foram montados entre lâmina e lamínula em meio Hoyer 13 visando uma identificação preliminar das espécies de ergasilídeos. Sempre que necessário, alguns espécimes foram dissecados em meio glicerol (1:1 glicerina + ácido lático) e tiveram suas partes montadas individualmente entre lâmina e lamínula, também, em meior Hoyer. Análise morfológica e morfométrica dos copépodes completos e dissecados foram feitas utilizando microscópio de contraste de interência diferencial (DIC) (Leica DMLB 5000, Leica Microsystems). Os desenhos foram feitos com uso de um microscópio com contraste de fase (Leica DMLS, Leica Microsystems, Wetzlar, Alemanha) equipado com câmara clara. Os termos anatômicos utilizados para descrição dos segmentos, apêndices, e ornamentos dos ergasilídeos foram baseados em Boxshall & Montú (1997) e Boxshall & Halsey (2004), sendo também utilizadas as chaves de identificação para gêneros, que se encontram presentes em ambos os trabalhos. Adicionalmente, a nomenclatura utilizada para descrição dos segmentos das antenas seguiu as recomendações de El-Rashidy & Boxshall (1999): considera-se que a antena dos ergasilídeos possui quatro segmentos (coxobase e três segmentos endopodais), podendo haver a perda do terceiro segmento endopodal (= quarto segmento) em alguns gêneros, e a garra como um elemento de armação, portanto, não sendo considerada com um segmento verdadeiro. A identificação até nível de espécie foi feita com base em trabalhos de revisão e descrição de espécies, como: Montú & Boxshall (2002) (nova combinação para Ergasilus euripedesi Montú, 1980), Marques (2014) (revisão das espécies Neotropicais de Ergasilus), Marques et al., (2015) (descrição de novas espécies e redescrição de Ergasilus salmini Thatcher & Brasil-Sato (2008)), entre outros. Os caracteres morfológicos utilizados para identificação dos ergasilídeos estão representados nas Figuras 3–8. Para cada uma das espécies identificadas, alguns espécimes (5–10 espécimes) serão separados e depositados como material testemunho à medida que os artigos forem publicados (p. ex.: descrições de novas espécies e/ou novos gêneros). As principais coleções escolhidas para o depósito dos espécimes serão: (1) coleção de invertebrados do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Manaus, Amazonas; (2) coleção de invertebrados marinhos e outros acervos do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP), São Paulo; e (3) Coleção Helmintológica do Instituto de Biociências (CHIBB) da Universidade Estadual Paulista (UNESP), no município de Botucatu, São Paulo. 14 Figura 3. Denominação das estruturas morfológicas e partes do corpo (exceto pernas), em vista dorsal, utilizadas para descrição e identificação taxonômica das espécies pertencentes a Ergasilidae Burmeister, 1835. Fonte: Elaborado pelo autor. 15 Figura 4. Denominação das estruturas morfológicas de crustáceos representantes de Ergasilidae Burmeister, 1835: (A) Corpo (exceto antenas e pernas), vista ventral; (B) Ramo caudal, vista ventral; (C) Rostrum sem espinho rostral, vista ventral; e (D) Rostrum armado com espinho rostral, vista ventral. Fonte: ElabTorado pelo autor. 16 Figura 5. Nomenclatura dos segmentos das antênulas de crustáceos representantes de Ergasilidae Burmeister, 1835. Fonte: Elaborado pelo autor. Figura 6. Nomenclatura dos segmentos e das margens utilizadas na descrição da antena de crustáceos representantes de Ergasilidae Burmeister, 1835. Fonte: Elaborado pelo autor. 17 Figura 7. Denominação das estruturas do aparelho bucal de crustáceos representantes de Ergasilidae Burmeister, 1835: (A) Mandíbula com três lâminas; (B) Mandíbula com duas lâminas; (C) Maxílula; e (D) Maxila. Fonte: Elaborado pelo autor. 18 Figura 8. Nomenclatura dos segmentos, ornamentos, e das margens utilizadas na descrição das pernas natatórias de crustáceos representantes de Ergasilidae Burmeister, 1835: (A) Denominação dos ramos, segmentos e margens da primeira perna; e (B) Denominação dos ornamentos presentes na primeira perna. Fonte: Elaborado pelo autor. 19 3.4. Atributos parasitológicos Os atributos parasitológicos foram calculados para cada uma das espécies de copépodes encontradas nas cinco espécies de peixes seguindo as recomendações Bush et al. (1997). Os atributos parasitológicos utilizados no presente estudo foram: ✓ Prevalência: corresponde ao número de hospedeiros que se encontram parasitados por determinado grupo e/ou espécie de parasito, dividido pela quantidade total desses hospedeiros na amostra. Em seguida, mutiplica-se esse resultado por 100, transformando-o em porcentagem (%). ✓ Abundância: quantidade total de determinado grupo e/ou espécie de parasita que foram encontrados em determinada espécie hospedeira. ✓ Abundância média: total de parasitas de uma determinada espécie dividido pelo número total de hospedeiros analisados (infestados e não infestados). ✓ Intensidade média de infestação: total de parasitas de uma determinada espécie dividido pelo número total de hospedeiros infestados por tal espécie. Os atributos acima citados, bem como seus recpectivos valores de erro padrão, foram calculados através do software BioEstat 5.0 (Ayres et al., 2007). 20 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1. Inventário das espécies Representantes das cinco espécies de peixes analisadas apresentaram ao menos um táxon de ergasilídeo (Tabela III). Cyphocharax modestus foi a espécie de peixe com a menor riqueza parasitária, sendo registrados dois táxons de ergasilídeos associados as suas brânquias, sendo elas: Ergasilus sp.1 e Miracetyma etimaruya Malta, 1993. Os demais peixes apresentaram, cada um, uma riqueza de três táxons de ergasilídeos. Ergasilus sp.1 e M. etimaruya foram os únicos táxons de ergasilídeos encontrados em mais de uma espécie de hospedeiro. Ergasilus sp.1 foi encontrado associado as brânquias de três das cinco espécies estudadas, sendo elas: C. modestus, P. lineatus e S. intermedius. Por sua vez, M. etimaruya foi registrado nas brânquias de duas espécies, C. modestus e P. lineatus. Os demais ergasilídeos foram encontrados somente em uma única espécie hospedeira (Tabela III). Quanto a quantidade total de parasitas, foram coletados 4.290 espécimes de ergasilídeos. Rhinergasilus sp.3 foi o parasita menos frequente, com 5 espécimes encontrados. Por outro lado, Ergasilus sp.2 representou cerca de 58% (2.173 espécimes) do total de ergasilídeos coletados, apresentando os maiores valores de prevalência, abundância média e intensidade média de infestação dentre os ergasilídeos encontrados. Exceto para espécies do gênero Ergasilus, que já foram registradas em P. maculatus coletados no reservatório de Jurumirim (Azevedo et al., 2014), a ocorrência dos demais ergasilídeos encontrados nesse estudo (Gamidactylus Thatcher & Boeger, 1984, Gamispatulus Thatcher & Boeger, 1984, Miracetyma Malta 1993, Pseudovaigamus Amado, Ho & Rocha 1995 e Rhinergasilus Thatcher & Boeger, 1988) representam novos registros de ocorrência em peixes desse reservatório. 21 Tabela III. Espécies de ergasilídeos encontrados em peixes do reservatório de Jurumirim, São Paulo, Brasil. SI = sítio de infestação. P(%) = prevalência em porcentagem. AM±EP = abundância média e erro padrão. IMI±EP = intensidade média de infestação, erro padrão e amplitude (entre parênteses). B = brânquia. N = narinas. Hospedeiro Ergasilídeo SI P(%) AM±EP IMI±EP Figuras Characiformes Anostomidae Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990 Ergasilus sp.1 B 63,3 9,9 ± 2,3 16,3± 3 (2 – 53) 14-17 Ergasilidae gen. sp. N 25 0,5 ± 0,2 2 ± 0,4 (1 – 3) 10-13 Gamispatulus schizodontis Thatcher & Boeger, 1984 N 75 12,8 ± 3,6 17 ± 4,5 (1 – 71) 24-27 Characidae Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819) Duoergasilus basilongus Narciso, Brandão, Perbiche-Neves & Silva, 2019 B 6,3 0,8 ± 0,4 12 ± 5,7 (1 – 49) 9 Rhinergasilus digitus Narciso, Brandão, Perbiche-Neves & Silva, 2020 B 32,5 1,4 ± 0,4 4,3 ± 1,2 (1 – 39) 36 Rhinergasilus sp.1 N 63 2,5 ± 0,3 4,1 ± 0,4 (1 – 15) 37-38 Curimatidae Cyphocharax modestus (Fernández-Yépez, 1948) Ergasilus sp.1 B 5,1 0,1 ± 0,04 2,2 ± 0,5 (1 – 6) 14-17 Miracetyma etimaruya Malta, 1993 B 55,4 1,8 ± 0,2 3,2 ± 0,3 (1 – 23) 28-31 22 Tabela III. Continuação. Hospedeiro Ergasilídeo SI P(%) AM±EP IM±EP Figuras Prochilodontidae Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1837) Ergasilus sp.1 B 35,1 1 ± 0,3 2,7 ± 0,6 (1 – 7) 14-17 Miracetyma etimaruya Malta, 1993 B 73 13,5 ± 4,5 18,5 ± 6 (1 – 150) 28-31 Rhinergasilus sp.2 B 10,8 0,1 ± 0,06 1,2 ± 0,2 (1 – 2) 39-41 Siluriformes Pimelodidae Pimelodus maculatus Lacepède, 1803 Ergasilus sp.2 B 94,5 23,8 ± 3,6 25,2 ± 3,7 (1 – 227) 18-20 Pseudovaigamus sp. B 8,8 0,4 ± 0,2 4,2 ± 1,8 (1 – 14) 32-35 Gamidactylus sp. N 100 5,7 ± 1 5,7 ± 1 (2 – 10) 21-23 23 4.2. Descrição morfológica dos ergasilídeos Filo Arthropoda von Siebold, 1848 Classe Crustacea Brünnich, 1772 Ordem Cyclopoida Burmeister, 1834 Família Ergasilidae Burmeister, 1835 Gênero Duoergasilus Narciso, Brandão, Perbiche-Neves & Silva, 2019 Corpo ciclopiforme, compreendendo prossoma, urossoma e ramo caudal. Prossoma consistindo de cefalossoma e primeiro somito pedígero; primeiro somito separado do cefalossoma dorsalmente por uma articulação não funcional, mas fusionado ventralmente; e três somitos pedígeros livres (segundo ao quarto somito). Urossoma composto pelo quinto somito pedígero, somito genital-duplo, e três somitos abdominais livres. Ramo caudal armado com quatro setas nuas. Rostrum quadrangular, sem ornamentos. Antênula com cinco segmentos. Antena com três segmentos, compreendendo coxobase, e dois segmentos endopodais, e uma garra terminal, curvada. Aparato bucal consistindo de labrum, mandíbulas, maxílulas, e maxilas. Mandíbula armada com duas lâminas (anterior e posterior). Maxílula com três setas. Maxila bissegmentada, compreendendo sincoxa (primeiro segmento) e base (segundo segmento); sincoxa robusta, sem ornamentos; base com um único filamento distal. Quatro pares de pernas natatórias birremes (primeiro ao quarto par de pernas); primeira perna com endopodito bissegmentado e exopodito trissegmentado; segunda e terceira pernas, ambas com endopodito bissegmentado e exopodito trissegmentado; quarta perna com endopodito e exopodito bissegmentados. Quinta perna reduzida, representada por duas setas nuas. Saco de ovos multisseriado (Narciso et al., 2019). 24 Duoergasilus basilongus Narciso, Brandão, Perbiche-Neves & Silva, 2019 (Figura 9) Sumário taxonômico: Hospedeiro tipo: Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819) (Characiformes: Characidae). Sítio de infestação: Brânquias. Prevalência: 6,3%. Abundância: 96 espécimes. Abundância média: 0,8 ± 0,4. Intensidade média de infestação: 12 ± 5,7 (1–49). Espécimes depositados: Holótipo, INPA 2498; parátipos, INPA 2499 e INPA 2500. Registro no Zoobank: urn:lsid:zoobank. org:act:DD878EA5-BB75-4F3B-8B67- B5A4F2FFF440. Diagnose (baseada em 10 espécimes fêmeas; machos não observados): Quatro pares de pernas natatórias birremes; segunda e terceira perna, ambas com endopodito bissegmentado; quarta perna com exopodito e endopodito bissegmentado; base da maxíla com um único filamento distal. Distribuição dos espinhos e setas para cada segmento das pernas encontra-se resumido na Tabela IV. Tabela IV. Distribuição dos espinhos e setas das pernas natatórias de Duoergasilus basilongus Narciso, Brandão, Perbiche-Neves & Silva, 2019 – fêmea adulta, parasito de brânquias de Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819). Números romanos = espinhos. Números arábicos = setas. Perna natatória Coxa Base Endopodito Exopodito Primeira perna 0 – 0 1 – 0 0 – 1; II – 5 I – 0; 0 – 1; II – 5 Segunda perna 0 – 0 1 – 0 0 – 1; I – 5 I – 0; 0 – 1; I – 6 Terceira perna 0 – 0 1 – 0 0 – 1; I – 5 I – 0; 0 – 1; I – 6 Quarta perna 0 – 0 1 – 0 0 – 0; I – 5 0 – 1; 0 – 4 Comentários: O gênero monotípico Duoergasilus foi proposto concomitantemente a realização do presente projeto. Esse gênero diferiu de todos os demais gêneros de Ergasilidae, com exceção de Urogasilus, por possuir o endopodito da segunda e terceira perna ambos com dois segmentos, ao invés de três segmentos como é característico dos demais gêneros dessa família (Narciso et al., 2019). Apesar de exibir o mesmo padrão de segmentação da segunda e 25 terceira pernas como de Urogasilus, Duoergasilus basilongus não foi incluido como um membro desse gênero por possuir: (1) mandíbula com duas lâminas (ao invés de uma única lâmina); (2) base da maxíla com um único filamento distal (ao invés de base com três pontas); (3) antena com três segmentos (ao invés de 4-segmentos); (4) quarta perna com endopodito e exopodito com dois segmentos (ao invés da quarta perna reduzida e representada por uma seta); (5) somitos torácicos e abdominais livres, ou não fusionados (ao invés de haver a fusão do quarto e quinto somito pedígero com o somito genital-duplo, formando uma estrutura alongada denominada de “tronco”) e (6) saco de ovos multisseriado (ao invés de unisseriado). Dentre os ergasilídeos com quatro pernas natatórias, Duoergasilus basilongus se assemelha a Tiddergasilus iheringi (Tidd, 1942) por possuir algumas das características listadas por Marques & Boeger (2018) como diagnósticas para essa espécie, sendo elas: (1) antena com três segmentos; (2) garra pequena e recurvada; e (3) endopodito da quarta perna com dois segmentos. Apesar dessas similaridades, D. basilongus difere de T. iheringi por possuir todas as pernas natatórias com endopoditos com dois segmentos (ao invés de três segmentos) e pela base da maxíla que é armada com um único filamento (ao invés de base com múltiplas cerdas). Por apresentar diferenças em relação a todos os ergasilídeos, concluímos que os espécimes encontrados nas brânquias de A. fasciatus deveriam ser descritos enquanto uma nova espécie e um novo gênero de ergasilídeo. 26 Figura 9. Duoergasilus basilongus Narciso, Brandão, Perbiche-Neves & Silva, 2019 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819): (A) Corpo, vista ventral; (B) Aparelho bucal, completo; (C) Antena; e (D) Segunda perna (= terceira perna). Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor. 27 Filo Arthropoda von Siebold, 1848 Classe Crustacea Brünnich, 1772 Ordem Cyclopoida Burmeister, 1834 Família Ergasilidae Burmeister, 1835 Ergasilidae gen. sp. (Figuras 10–13) Sumário taxonômico: Hospedeiro tipo: Schizodon intermedius Garavello & Britski 1990 (Characiformes: Anostomidae). Sítio de infestação: Narinas. Prevalência: 25%. Abundância: 14 espécimes. Abundância média: 0,5 ± 0,2. Intensidade média de infestação: 2 ± 0,4 (1–3). Descrição (baseado em 10 espécimes fêmeas; machos não observados): Corpo dividido em prossoma, urossoma e ramo caudal. Prossoma compreendendo cefalossoma e primeiro somito pedígero; primeiro somito totalmente fusionado ao cefalossoma; e três somitos pedígeros livres. Cefalotórax triangular, com rostrum bem desenvolvido e proeminente, par de estiletes dorso- laterais (retroestiles), superfície dorsal com poros distribuídos esparsadamente na metade anterior desse segmento. Rostrum armado com espinho rostral; espinho rostral bem desenvolvido, pontiagudo e longo. Retroestiletes largos e curtos, ponta nunca ultrapassando o limite inferior do cefalotórax. Somitos pedígeros livres (segundo ao quarto) diminuindo em largura no eixo proximal-distal, de forma decrescente do mais anterior (segundo somito) para o mais posterior (quarto somito); segundo somito com uma janela tegumentar em cada extremidade lateral do tergito; terceiro e quarto somitos sem janelas tegumentares. Urossoma composto pelo quinto somito pedígero, somito genital-duplo, e três somitos abdominais livres. Quinto somito pedígero menor e mais delgado do que os somitos do prossoma, não ornamentado com poros, cerdas ou espinhos. Somito genital-duplo retângular, com extremidades laterais arredondadas, superfície ventral provida de fileira transversal de espínulos, superfície dorsal com um par de protuberâncias (anterior e posterior) em cada extremidade lateral desse segmento. Somitos abdominais (primeiro ao terceiro) diminuindo em 28 largura no eixo proximal-distal, de forma decrescente do mais anterior (primeiro somito) para o mais posterior (terceiro somito); cada somito ornamentado ventralmente com uma fileira transversal de espínulos; terceiro somito (= somito anal) com uma incisão medial na margem posterior (= ânus). Ramo caudal ornamentado ventralmente com uma fileira de espínulos, armado com quatro setas nuas (não pilosas); seta I e III pequenas, ventrais; seta II e IV inseridas posteriormente; seta IV longa, sendo cerca de duas vezes mais longa do que a seta II. Antênula com cinco segmentos; cada segmento armado com no mínimo duas setas; setas similares em formato (agudas e nuas), porém variando em comprimento e largura; fórmula setal: 10, 4, 4, 2, 7 (total = 27 cerdas). Antena com quatro segmentos, consistindo de coxobase e três segmentos endopodais; coxobase (= primeiro segmento) robusta, sem ornamentos; primeiro segmento endopodal (= segundo segmento) com espínulos na margem externa e um espinho único na margem interna; segundo segmento (= terceiro segmento) com poro na margem interna; terceiro segmento endopodal (= quarto segmento) reduzido, sem ornamentos; e duas garras terminais (medial e interna); garra medial curvada, com fossa na margem côncova; garra interna curvada, sem fossa. Aparelho bucal consistindo de labrum, mandíbula e maxíla; labrum largo e projetado posteriormente; mandíbula armada com duas lâminas (anterior e posterior); lâmina anterior armada com um pequeno espinho e com cerdas ao longo da margem posterior; lâmina posterior mais longa e delgada do que a lâmina anterior, com cerdas ao longo da margem posterior; maxila com dois segmentos (sincoxa e base); sincoxa largo, com um poro próximo do ponto de inserção da base; base ornamentada com várias cerdas distais. Maxílula, ausente. Quatro pares de pernas natatórias birremes; cada perna consistindo de coxa, base e endopodito (ramo interno), e exopodito (ramo externo). Primeira perna; coxa sem ornamentos; base com uma seta lateral; endopodito com dois segmentos, todos os segmentos ornamentados com espínulos na margem externa; segundo segmento (= segmento distal) longo, sendo cerca de duas vezes mais longo do que largo, armado com dois espinhos serrilhados e cinco setas plumosas; exopodito com três segmentos, todos os segmentos com espínulos na margem externa; segundo segmento (= segmento médio) com uma fileira adicional (interna) de espínulos; terceiro segmento (= segmento distal) armado com dois espinhos simples (não serrilhados) e cinco setas plumosas. Segunda e terceira perna; coxa com espínulos (3–4 espínulos) laterais; base com uma seta lateral; endopodito com três segmentos, todos os segmentos ornamentados com espínulos ao longo da margem externa; terceiro segmento (= segmento distal) armado com um espinho simples (não serrilhado) e quatro setas plumosas; exopodito com três segmentos; primeiro e segundo segmento com espínulos na margem externa; terceiro segmento (= segmento distal) armado com dois espinhos pequenos e cinco setas plumosas; terceiro segmento do terceiro par 29 de pernas, com pequenas granulações circulares. Quarta perna; coxa com espínulos (3–4 espínulos) laterais; base com uma seta lateral; endopodito com dois segmentos, ambos os segmentos sem ornamentações; exopodito com um segmento; segmento armado com dois espinhos pequenos e quatro setas plumosas. Quinta perna reduzida, representada por duas setas nuas. Distribuição de espinhos e setas para cada segmento das pernas encontra-se resumido na Tabela V. Escleritos intercoxais delgados, sem ornamentações. Placas interpodais (1–3) com poros laterais; quarta placa, ausente. Saco de ovos unisseriados. Tabela V. Distribuição dos espinhos e setas das pernas natatórias de fêmea adulta de Ergasilidae gen. sp. parasito de narinas de Schizodon intermedius Garavello & Britski 1990. Números romanos = espinhos. Números arábicos = setas. Perna natatória Coxa Base Endopodito Exopodito Primeira perna 0 – 0 1 – 0 0 – 1; II – 5 I – 0; 0 – 1; II – 5 Segunda perna 0 – 0 1 – 0 0 – 1; 0 – 2; I – 4 I – 0; 0 – 1; II – 6 Terceira perna 0 – 0 1 – 0 0 – 1; 0 – 2; I – 4 I – 0; 0 – 1; II – 6 Quarta perna 0 – 0 1 – 0 II – 4 0 – 1; 0 – 4 30 Figura 10. Ergasilidae gen. sp. – fêmea adulta, parasita de narinas de Schizodon intermedius Garavello & Britski 1990: (A) Corpo, vista dorsal; (B) Cefalotórax, vista dorsal; (C) Segundo somito pedígero, com janelas tegumentares em cada extremidade lateral (seta); (D) Espinho rostral, vista ventral e (E) Antênula. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor. 31 Figura 11. Ergasilidae gen. sp. – fêmea adulta, parasita de narinas de Schizodon intermedius Garavello & Britski 1990: (A) Urossoma completo, vista ventral; (B) Escleritos intercoxais e placas interpodais, vista ventral; (C) Somito genital-duplo, vista dorsal; e (D) Antena, segundo segmento endopodal com poro (seta branca) e garra medial com fossa (seta preta). Ei = Esclerito intercoxal. P5 = quinta perna. Pa = Protuberância anterior. Pi = Placa interpodal. Pp = Protuberância posterior. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor. 32 Figura 12. Ergasilidae gen. sp. – fêmea adulta, parasita de narinas de Schizodon intermedius Garavello & Britski 1990: (A) Retroestilete, vista dorsal; (B) Aparelho bucal, completo, vista ventral; (C) Labrum; (D) Mandíbula e (E) Maxila, sincoxa com poro próximo a inserção da base (seta). La = lâmina anterior. Lp = lâmina posterior. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor. 33 Figura 13. Ergasilidae gen. sp. – fêmea adulta, parasita de narinas de Schizodon intermedius Garavello & Britski 1990: (A) Primeira perna; (B) Segunda perna; (C) Terceira perna; (D) Quarta perna e (E) Saco de ovos. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor. Comentários: Gamidactylus, Gamispatulus, Gamispinus Thatcher & Boeger, 1984 e Vaigamus Thatcher & Robertson, 1984 constituem, em conjunto com Pseudovaigamus, um grupo monofilético dentro de Ergasilidae (Amado et al., 1995; El-Rashidy, 1999). Esses cinco gêneros são popularmente conhecidos como “vaigamídeos” e podem ser facilmente distinguidos dos demais ergasílideos por apresentarem uma, ou mais, das seguintes características: (i) cefalotórax portando um par de estiletes dorso-laterais (= retroestiletes) (presente em todos os cinco gêneros); (ii) rostrum bem desenvolvido e armado com uma projeção ventral pontiaguda (= espinho rostral) (presente em Gamispatulus, Pseudovaigamus e Vaigamus); e (iii) antena armada com duas garras (= garra medial e interna) (presente em Gamidactylus, Gamispatulus e Gamispinus). Os espécimes encontrados nas narinas de S. 34 intermedius (presente estudo) foram identificados como pertecentes ao grupo dos vaigamídeos por possuírem todas as três características diagnóstico listadas para esses gêneros (citadas acima). Dentre os vaigamídeos, Ergasilidae gen. sp. se assemelha as espécies pertencens à Gamidactylus, Gamispatulus e Gamispinus, por possuir antena armada com duas garras terminais (ao invés de uma única garra como em Pseudovaigamus e Vaigamus). No entando, Ergasilidae gen. sp. difere desses três gêneros por possuir um conjunto único de características, sendo elas: (1) espinho rostral longo, pontiagudo, com a ponta se extendendo até próximo da metade do cefalotórax (ao invés de espinho rostral ausente como em Gamidactylus e Gamispinus, ou com espinho rostral curto e com ponta arredondada, ou não afiada, como em Gamispatulus); (2) retroestiletes simples, sem processo espatular acessório (ao invés de retroestiletes com processo espatular, como em Gamispatulus); (3) antênula com cinco segmentos (ao invés de seis segmentos, como em Gamidactylus); e (4) primeiro segmento endopodal da antena com um único espinho na margem interna (ao invés de vários espinhos, como em Gamispinus). Como não foi possível uma alocação adequada de Ergasilidae gen. sp. em nenhum dos três gêneros acima citados, sugere-se que este táxon represente uma nova espécie de um novo gênero da família Ergasilidae. 35 Filo Arthropoda von Siebold, 1848 Classe Crustacea Brünnich, 1772 Ordem Cyclopoida Burmeister, 1834 Família Ergasilidae Burmeister, 1835 Gênero Ergasilus von Nordmann, 1832 Corpo ciclopiforme, compreendendo prossoma, urossoma e ramo caudal. Prosoma consistindo de cefalossoma e primeiro somito pedígero; primeiro somito pedígero total, parcialmente ou não fusionado ao cefelassoma; e três somitos pedígeros livres (segundo ao quarto somito). Urossoma composto pelo quinto somito pedígero, somito genital-duplo, e três somitos abdominais livres. Antênula com seis segmentos. Antena com quatro segmentos, compreendendo coxobase, e três segmentos endopodais; primeiro e segundo segmento endopodal com uma ou duas sensilas na margem interna; terceiro segmento reduzido, armado com um espinho ou sem ornamentos; e uma garra terminal, curvada. Aparato bucal consistindo de mandíbula, maxílula e maxila. Mandíbula armado com duas ou três lâminas. Maxílula com duas setas, ou sem setas. Mandíbula bissegmentada, compreendedo sincoxa (primeiro segmento) e base (segundo segmento); sincoxa robusta, sem ornamentos; base com cerdas na margem anterior. Quatro pares de pernas natatórias birremes (primeiro ao quarto par de pernas); primeira perna com endopodito com dois ou três segmentos e exopodito trissegmentado; segunda e terceira pernas, ambas com endopodito e exopodito trissegmentados; quarta perna com endopodito com dois ou três segmentos, e exopodito com um ou dois segmentos. Quinta perna com um único segmento ou reduzida e representada por duas setas nuas. Saco de ovos multisseriado. Diagnose baseada nas espécies de Ergasilus Neotropicais (Marques et al., 2015; Taborda et al., 2016; Varella et al., 2019). 36 Ergasilus sp.1 (Figuras 14–17) Sumário taxonômico: Hospedeiro tipo: Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990 (Characiformes: Anostomidae). Outros hospedeiros: Cyphocharax modestus (Fernández-Yépez, 1948) (Characiformes: Curimatidae) e Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1837) (Characiformes: Prochilodontidae). Sítio de infestação: Brânquias. Prevalência: 63,3%. Abundância: 278 espécimes. Abundância média: 10 ± 2,3. Intensidade média de infestação: 16,3 ± 3 (2 – 53). Descrição (baseada em 10 espécimes fêmeas; machos não observados): Corpo dividido em prossoma, urossoma e ramo caudal. Prossoma compreendendo cefalossoma e primeiro somito pedígero; primeiro somito não fusionado ao cefalossoma; e três somitos pedígeros livres. Cefalossoma trapezoidal, margem anterior truncada, largura máxima no nível do aparelho bucal; superfície dorsal com duas janelas tegumentares circulares e com cerdas em ambas as margens laterais. Primeiro somito pedígero não ornamentado, conectado ao cefalossoma por membranas laterais. Rostrum trapezoidal, sem ornamentos. Somitos pedígeros livres (segundo ao quarto) diminuindo em largura no eixo proximal-distal, de forma decrescente do mais anterior (segundo somito) para o mais posterior (quarto somito); segundo somito com uma janela tegumentar em cada extremidade lateral do tergito; terceiro e quarto somitos, sem janelas tegumentares. Urossoma composto pelo quinto somito pedígero, somito genital-duplo, e três somitos abdominais livres. Quinto somito pedígero menor e mais delgado do que os somitos do prossoma, sem ornamentos. Somito genital-duplo trapezoidal, diminuindo em largura posteriormente, largura máxima próximo da margem anterior, superfície ventral com uma fileira transversal de espínulos. Somitos abdominais (primeiro ao terceiro) diminuindo em largura no eixo proximal-distal, de forma decrescente do mais anterior (primeiro somito) para o mais posterior (terceiro somito); cada somito ornamentado ventralmente com uma fileira transversal de espínulos; terceiro somito (= somito anal) com uma incisão medial na margem posterior (= ânus). Ramo caudal ornamentado ventralmente com duas fileiras de espínulos, e armado com quatro setas nuas (não pilosas); seta I e III reduzidas, ventrais; seta IV longa, sendo 37 cerca de duas vezes mais longa do que a seta II. Antênula com seis segmentos; cada segmento armado com no mínimo uma seta; setas similares em formato (agudas e nuas), porém variando em comprimento e largura; sexto segmento com duas setas pequenas; fórmula setal: 1, 11, 5, 4, 2, 7 (total = 30 setas). Antena com quatro segmentos, consistindo de coxobase, e três segmentos endopodais; coxobase (= primeiro segmento) curta, menor do que os demais segmentos da antena, com um espinho distal; primeiro segmento endopodal (= segundo segmento) longo, sendo cerca de três vezes mais longo do que largo, com um espinho na margem interna; segundo segmento endopodal (= terceiro segmento) similar em tamanho ao primeiro segmento endopodal, porém menos robusto e mais curvado, com dois espinhos na margem interna (côncova); terceiro segmento endopodal (= quarto segmento) reduzido, sem ornamentos; e uma garra terminal; garra curvada, com fossa na margem côncova. Aparelho bucal consistindo de labrum, mandíbula e maxila; labrum largo, projetado posteriormente; mandíbula armada com três lâminas (anterior, média e posterior); lâmina anterior pequena com cerdas na margem anterior, e com base fusionada à base da lâmina média; lâminas média e posterior com cerdas ao longo da margem posterior; maxila com dois segmentos (sincoxa e base); sincoxa largo, com um poro próximo do ponto de inserção da base; base com dois dentes terminais, ornamentada com cerdas na margem anterior. Maxílula, não observada. Quatro pares de pernas natatórias birremes; cada perna consistindo de coxa, base, endopodito (ramo interno) e exopodito (ramo externo). Primeira perna; coxa sem ornamentos; base sem ornamentos; endopodito com dois segmentos, ambos os segmentos com espínulos na margem externa; segundo segmento (= segmento distal) armado com dois espinhos serrilhados e curvos, e cinco setas plumosas; exopodito com três segmentos, todos os segmentos com espínulos na margem externa; primeiro segmento (= segmento proximal) armado com espinho serrilhado, ornamentado com cerdas na margem interna; terceiro segmento (segmento distal) armado com dois espinhos serrilhados e curvos, uma seta pectinada (falciforme), e quatro setas plumosas. Segunda e terceira pernas; coxa com espínulos laterais (três espínulos); base com seta lateral; endopodito com três segmentos, todos os segmentos com espinhos na margem externa; primeiro segmento (= segmento proximal) com cerdas na margem externa; terceiro segmento (= segmento distal) armado com espinho simples (não serrilhados) e quatro setas plumosas; exopodito com três segmentos, todos os segmentos com espínulos na margem externa; primeiro segmento (= segmento proximal) com cerdas na margem interna, armado com um espinho simples (não serrilhado); terceiro segmento (= segmento distal) armado com um espinho serrilhado, uma seta semi-plumosa (com espínulos na margem externa), e quatro setas plumosas. Quarta perna; coxa com espínulos laterais (quatro espínulos); base com seta lateral; endopodito com dois 38 segmentos, ambos os segmentos com cerdas na margem externa; terceiro segmento (= segmento distal) armado com um espinho simples (não serrilhado) e cinco setas plumosas; exopodito com dois segmentos; primeiro segmento (= segmento proximal) ornamentado com cerdas na margem interna, armado com um espinho simples (não serrilhado); segundo segmento (segmento distal) armado com um espinho simples (não serrilhado), uma seta semi-plumosa (com espínulos na margem externa), e três setas plumosas. Quinta perna reduzida, representada por duas setas nuas. Distribuição de espinhos e setas para cada segmento das pernas encontra- se resumido na Tabela VI. Escleritos intercoxais delgados, sem ornamentos. Três placas interpodais (quarta placa ausente); primeira e segunda placas com poros laterais, ornamentadas ventralmente com espínulos; terceira placa circular, ornamentada com espínulos, sem poros; quarta placa, ausente. Saco de ovos multisseriado. Tabela VI. Distribuição dos espinhos e setas das pernas natatórias de Ergasilus sp.1 – fêmea adulta, parasito de brânquias de Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990. Números romanos = espinhos. Números arábicos = setas. Perna natatória Coxa Base Endopodito Exopodito Primeira perna 0 – 0 0 – 0 0 – 1; II – 5 I – 0; 0 – 1; II – 5* Segunda perna 0 – 0 1 – 0 0 – 1; 0 – 2; I – 4 I – 0; 0 – 1; I – 6 Terceira perna 0 – 0 1 – 0 0 – 1; 0 – 2; I – 4 I – 0; 0 – 1; I – 6 Quarta perna 0 – 0 1 – 0 0 – 1; I – 5 I – 0; I – 4 *Seta pectinada. 39 Figura 14. Ergasilus sp.1 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990: (A) Corpo, vista dorsal, cefalossoma com cerdas laterais (seta); (B) Corpo, vista ventral; (C) Segundo somito pedígero, com janelas tegumentares laterais (seta); e (D) Rostrum, vista ventral. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor. 40 Figura 15. Ergasilus sp.1 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990: (A) Urossoma completo, vista ventral; (B) Somito genital-duplo, vista dorsal; (C) Ramo caudal, vista ventral; (D) Antena, garra com fossa na margem interna (seta); e (E) Antênula. P5 = quinta perna. S1 = seta I. S2 = seta II; S3 = seta III. S4 = seta IV. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor. 41 Figura 16. Ergasilus sp.1 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990: (A) Aparelho bucal completo; (B) Mandíbula; (C) Maxila; e (D) Labrum. La = lâmina anterior. Lm = lâmina média. Lp = lâmina posterior. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor. 42 Figura 17. Ergasilus sp.1 – fêmea adulta, parasita de brânquias de Schizodon intermedius Garavello & Britski, 1990: (A) Primeira perna; (B) Segunda perna (= terceira perna); (C) Quarta perna; (D) Saco de ovos; e (E) Escleritos intercoxais e placas interpodais, vista ventral. Escalas em micrômetros. Fonte: Elaborado pelo autor. 43 Comentários: O gênero Ergasilus von Nordmann, 1832 foi proposto por von Nordmann, (1832) com base na descrição de Ergasilus sieboldi von Nordmann, 1832 (espécie-tipo) e Ergasilus gibbus von Nordmann, 1832. Desde sua proposta até os dias atuais, centenas de espécies já foram descritas para este gênero. Atualmente, Ergasilus aloca 159 espécies, o que representa cerca de 61% da totalidade de espécies descritas para Ergasilidae (n = 262 espécies) (Walter & Boxshall, 2018). No Brasil, Ergasilus também é o gênero mais numeroso com 32 espécies (Tabela I) já reportadas parasitando as brânquias e/ou narinas de peixes ósseos (maioria) e cartilaginosos. Dentre as 32 espécies de Ergasilus, três espécies já foram reportadas parasitando peixes da família Anostomidae, sendo elas: Ergasilus bryconis Thatcher, 1981 em Leporinus lacustris Amaral Campos, 1945, Megaleporinus elongatus (Valenciennes, 1850) e Megaleporinus obtusidens (Valenciennes, 1837); Ergasilus leporinidis Thatcher, 1981 em Leporinus fasciatus (Bloch, 1794); e Ergasilus triangularis Malta, 1996 em Leporinus taeniatus Lütken, 1875 (Luque et al., 2013). Apesar de crustáceos parasitos já terem sidos reportados em espécies do gênero Schizodon Agassiz, 1829, até o momento, não há regitro de espécimes de Ergasilus parasitando espécies desse gênero (Luque et al., 2013). Desse modo, este é o primeiro registro de copépodes do gênero Ergasilus parasitando peixes do gênero Schizodon. Ergasilus sp.1 se assemelha a E. bryconis, Ergasilus turucuyus Malta & Varella, 1996 e Ergasilus hydrolycus Thatcher, Boeger & Robertson, 1984 por apresentar: (1) primeiro somito pedígero não fundido ao cefalossoma; (2) endopodito da primeira perna com dois segmentos; (3) terceiro segmento exopodal da primeira perna armado com dois espinhos serrilhados, uma seta pectinada e quatro setas plumosas; e (4) quarta perna com endopodito e exopodito com dois segmentos. No entanto, Ergasilus sp.1 possui algumas diferenças em relação as essas três espécies, como: (1) segundo segmento endopodal da antena é maior e mais curvado em Ergasilus sp.1 quando comparado ao mesmo segmento em E. bryconis e E. turucuyus; (2) o tamanho relativo das setas I e III em relação as seta II e IV é menor Ergasilus sp. 1 quando comparados as propoções das mesmas setas em E. bryconis; e (3) terceiro segmento do endopodito e do exopodito da primeira perna, ambos são armados com espinhos grandes e curvados em Ergasilus sp.1, enquanto que em E. turucuyus e E. hydrolycus tais espinhos são proporcionalmente menores e não curvados. Apesar das diferenças morfológicas observadas entre Ergasilu sp.1 e as três espécies acima citadas, estas diferenças não são suficientes (no momento) para se propor uma nova espécie. Havendo a necessidade de verificação dos espécimes-tipo das espécies, E. bryconis, E. 44 turucuyus e E. hydrolycus para que seja possível um posicionamento taxonômico mais preciso de Ergasilus sp.1. Ergasilus sp.2 (Figuras 18–20) Sumário taxonômico: Hospedeiro tipo: Pimelodus maculatus Lacepède, 1803 (Siluriformes: Pimelodidae). Sítio de infestação: Brânquias. Prevalência: 94,5%. Abundância: 2173 espécimes. Abundância média: 23,8 ± 3,6. Intensidade média de infestação: 25,2 ± 3,7 (1–227). Descrição (baseada em 10 espécimes fêmea; machos não observados): Corpo dividido em prossoma, urossoma e ramo caudal. Prossoma compreendendo cefalossoma e primeiro somito pedígero; primeiro somito não fusionado ao cefalossoma; e três somitos pedígeros livres. Cefalossoma trapezoidal, margem anterior truncada, largura máxima no nível do aparelho bucal; superfície dorsal com cerdas em ambas as margens laterais. Primeiro somito pedígero não ornamentado, conectado ao cefalossoma por mebranas laterais. Somitos pedígeros livres (segundo ao quarto) diminuindo em largura no eixo proximal-distal, de forma decrescente do mais anterior (segundo somito) para o mais posterior (quarto somito); segundo somito com uma janela tegumentar em cada extremidade lateral do tergito; terceiro e quarto somitos, sem janelas tegumentares. Urossoma composto pelo quinto somito pedígero, somito genital-duplo, e três somitos abdominais livres. Quinto somito pedígero menor e mais delgado do que os somitos do prossoma, sem ornamentos. Somito genital-duplo trapezoidal, diminuindo em largura posteriormente, largura máxima próximo da margem anterior, superfície ventral com uma fileira transversal de espínulos. Somitos abdominais (primeiro ao terceiro) diminuindo em largura no eixo proximal-distal, de forma decrescente do mais anterior (primeiro somito) para o mais posterior (terceiro somito); cada somito ornamentado ventralmente com uma fileira transversal de espínulos; terceiro somito (= somito anal) com uma incisão medial na margem posterior (= ânus). Ramo caudal ornamentado ventralmente com duas fileiras de espínulos, e armado com quatro setas nuas (não pilosas); seta I e III reduzidas, ventrais; seta IV longa, sendo cerca de duas vezes mais longa do que a seta II. Antênula com seis segmentos; cada segmento 45 armado com no mínimo uma seta; setas similares em formato (agudas e nuas), porém variando em número por segmento, comprimento e largura; quarto ao quinto segmento, cada um com seta diminuta na margem distal; fórmula setal: 1, 8, 4, 4, 2, 7 (total = 26 setas). Antena com quatro segmentos, consistindo de coxobase, e três segmentos endopodais; coxobase (= primeiro segmento) curta, menor do que os demais segmentos da antena, com um espinho distal; primeiro segmento endopodal (= segundo segmento) l