Alfa, São Paulo 33: 171-178, 1989. O CATALÃO, PROBLEMA ROMANÍSTICO Manoel Dias MARTINS* RESUMO: Em virtude de estar sobejamente comprovado e admitido que o catalão é uma lín­ gua étnica e tem status de língua românica autônoma, resulta ilógica e aberrante a sua classifi­ cação como mera "dependência" de outra língua mais "ilustre". Apesar deste reconhecimento, a posição do catalão na România continua sendo um problema à espera de solução científica. Este artigo procura oferecer subsídios de ordem geral para a compreensão dessa polêmica romanísti- ca. UNITERMOS: Romanística; filologia românica; lingüística românica; línguas românicas, his­ tória externa. INTRODUÇÃO A situação de plurilingüismo configura-se, na Península Ibérica de hoje, pela coe­ xistência de seis línguas diferentes, sendo quatro românicas - português, galego, es­ panhol, catalão —, sem contar com os diversos dialetos e um encrave gascão, também românico, no Vale de Arán. Das duas línguas não-românicas, só o calo ou romani é língua indo-européia, pertencente ao subgrupo indo do indo-iraniano, levada à Pe­ nínsula pelos ciganos. O eusquera ou vasconço, língua dos bascos, com mais de dois mil anos, tem, conforme ensina Antonio Tovar, parentesco proto-histórico com as línguas do Cáucaso e com o ibérico. Falar um idioma qualquer não significa simplesmente pronunciar de modo dife­ rente em relação à língua que falam os sujeitos de um idioma vizinho. É evidente que uma língua, qualquer que seja, supõe uma estrutura particular do pensamento e re­ flete uma cultura e uma história diferentes das outras, em grau variável. Os franceses chamam esprit de langue este fenômeno, pois o grupo humano que a fala tem a sua própria maneira de ver o mundo, vinculada ao status cultural e sócio-econômico, político, geográfico e psicológico do território em que vive. Em virtude de estar sobejamente comprovado e admitido que o catalão, como lín­ gua étnica que é, tem uma base de articulação para um sistema fonológico peculiar, * Departamento de Lingüística - Faculdade de Ciências e Letras - UNESP - 1 9 8 0 0 - Assis - SP. 172 um inventário próprio de signos morfológicos, léxicos e t c , uma maneira original de ver o mundo a garantir-lhe o status de língua românica autônoma, resulta ilógica e mesmo aberrante a sua classificação como mera "dependência" de outra língua mais "ilustre". Apesar de este reconhecimento ser tão antigo quanto a existência da pró­ pria disciplina de filologia românica*, a sua posição na România continua sendo, ainda hoje, um problema à espera de solução científica no âmbito dessa mesma disci­ plina. 1. As línguas ibero-românicas A denominação de línguas ibero-românicas, há bastante tempo naturalizada na romanística, parte da concepção um tanto unilateral de que a Península Ibérica tem como base um substrato ibérico homogêneo. Entretanto, pesquisas realizadas nas úl­ timas décadas levam a reconhecer que os alicerces étnicos da antiga Hispânia eram essencialmente mais variados e, em seu conjunto heterogêneo, não muito diferentes dos da Península Itálica. Hoje, porém, a Península Ibérica vive uma situação exata­ mente inversa à da Itália, segundo bem observa Pierre Bec: " là , trois langues de culture originale (galaico-ptg., cast. et cat), mas un dialectalisme évanescent; ici, une seule langue, mais un dialectalisme vivace" (5, p . 193). Com efeito, os dialetos astu- riano, leonês e aragonês, não ligados geneticamente ao castelhano, são regressivos, enquanto o andaluz se encontra em franca progressão**. Foi Wilhelm von Humboldt quem deu fundamento decisivo e científico à teoria da unidade ibérica. Considerando o eusquera como último rebento da velha língua ibéri­ ca, valeu-se dele para explicar muitos antigos nomes geográficos de toda a Penínsu­ la. Esse ponto de vista foi aceito pelo eminente lingüista Hugo Schuchardt. Uma nova doutrina se opôs ao iberismo, representada pelo historiador francês Ar- bois de Jubainville. Partindo de certas coincidências nos topónimos da Itália do Norte, França e Espanha, procurou demonstrar que os lígures eram o povo nativo mais antigo da Europa Ocidental. O arqueólogo Schulten adotou a tese e apoiou a idéia de que devem os lígures ser considerados como os primeiros habitantes da His­ pânia, teoria essa que não deixou de suscitar polêmicas. Em síntese, as correntes imigratórias que se deram na Hispânia foram as seguintes: aos habitantes aborígenes hispânicos, os bascos (= vascones), vieram juntar-se: 1) os iberos, de origem camftica, procedentes da África; 2) os indo-europeus (séculos IX e VIII a . C ) , assim distribuídos: (a) lígures, ilírios, astures, cântabros e carpeta- nos, e (b) celtas e celtiberos, submetidos estes àqueles; 3) os fenícios, os gregos e os cartagineses. Depois dos romanos, é preciso considerar as invasões dos bárbaros e dos árabes. * Esta opinião foi exposta por Friedrich Diez, o fundador da filologia românica. Cf. 3.2.3. ** A respeito do andaluz, assim se pronuncia Dâmaso Alonso: "Por de pronto la consideración de categoria dialectal al andaluz es uso bien reciente: el nuevo sistema de e y o abiertas y cerradas, con valor fonológico, en la Andalucía oriental, acaba de ser descubierto. Nosotros hemos encontrado aún otra zona de curiosas palatalizaciones de a. Pero /.cuántas sorpresas más nos reserva Andalucía? El Atlas de Andalucía de Manuel Alvar contestará a estas y muchas otras preguntas semejantes." (2, p. 20-21). Alfa, São Paulo, 33: 171-178,1989. 173 Os bárbaros - suevos, alanos e visigodos — chegam, já romanizados, ao século V; são responsáveis por algumas inovações lingüísticas, como, por exemplo, alguns costumes germânicos de acentuação que seriam causas da ditongação, não só no proto-romanço hispânico, mas também nos proto-romanços gálico e itálico. Os árabes são indiretamente responsáveis pela atual fragmentação lingüística his­ pânica, de vez que, sem eles, não se teria dado a Reconquista. Walther von Wartburg os chama pais per negationem dos domínios nacionais e lingüísticos português, es­ panhol e catalão. Kurt Baldinger, em sua obra La formación de los domínios lingüísticos en la Pe­ nínsula Ibérica (4), analisa os problemas, métodos e perspectivas que se oferecem ao pesquisador de hoje. Explora as razões históricas das diferenças essenciais entre os domínios lingüísticos ibero-românicos, bem como a função exercida nos mesmos pela Reconquista, pelos pré-romanos, pelos visigodos e pelos árabes, sem desprezar a ação dos substratos lígur, celta e baso-ibérico. Isto porque a situação geográfica da Península Ibérica, como ponte entre a Europa e o Norte da África, determinou que a Espanha fosse várias vezes o ponto de contato de duas civilizações fundamental­ mente diversas. Ali se encontraram povos pré-históricos, procedentes do sul, e os celtas, do norte; ali coincidiram Cartago e Roma, visigodos e árabes. Pelo fato de ter sido caminho e encruzilhada de invasões, está mais patente na Espanha do que em qualquer país europeu a marca da História no desenvolvimento do castelhano-espa- nhol e de seus idiomas irmãos, o português e o catalão. 2. O catalão 2.0 . O catalão conta, hoje, com mais de sete milhões de falantes distribuídos nu­ ma extensão territorial aproximada de 61.000 km2 . Como língua natural, administra­ tiva, literária e de cultura floresceu entre os séculos XIII e XIV, centralizado na corte da Coroa de Aragão, onde atingiu um aspecto uniforme. Mais tarde, em virtude da unificação com o Reino de Castela, perdeu o status de língua nacional e de cultu­ ra para o castelhano. Hoje, contudo, volta a ter um grande pólo de atração e difusão lingüística em Barcelona, importante centro econômico e cultural, pois a Renaixença do nacionalismo catalânico propicia-lhe um uso cada vez mais vivo em todas as ati­ vidades intelectuais e pragmáticas. 2 . 1 . O domínio lingüístico do catalão compreende: a) toda a extensão do antigo Principado da Catalunha, abrangendo as províncias catalãs de Barcelona, Gerona, Tarragona e Lérida; b) a maior parte do antigo Reino de Valência, abrangendo as províncias valencianas de Valência, Castellon de la Plana e Alicante; c) uma faixa da região de Aragão, ao leste das províncias aragonesas de Huesca, Saragoça e Temei, ao longo do limite ocidental do Principado; d) as Ilhas Baleares - Maiorca, Minorca, Cabrera, Ibiza e Formentera; e) a pequena República de Andorra, nos Pireneus; f) uma região francesa (a antiga Septimania) que se estende entre a costa mediterrânea e a fronteira franco-espanhola, abrangendo as terras do Departamento dos Pireneus Orientais — o antigo Rossilhão, ocupado pela França em 1659, e os condados de Alfa, São Paulo, 33: 171-178,1989. 174 Vallespir, Conflent, Cerdanha e Capcir; e g) o território da cidade de Alguero, na costa noroeste da ilha da Sardenha, para a qual o catalão foi importado após ter sido esta ilha anexada à Coroa de Aragão, em 1353. 2.2 . Os dois grupos dialetais do catalão — oriental e ocidental - subordinam-se a uma única língua literária. O catalão oriental, centralizado em Barcelona, é falado no território da antiga Marca Hispânica (fundada por Carlos Magno para defender o seu Império contra os ataques árabes) e o catalão ocidental, no território do antigo con­ dado e bispado de Urgel. O domínio do catalão ocidental compreende: Andorra, a faixa aragonesa, Lérida, o ocidente de Tarragona e a parte valenciana. O domínio do catalão oriental compreende: a Catalunha francesa, Barcelona, Cerona, o oriente de Tarragona e as Baleares. O alguerês, de conformidade com as suas características particulares, ora se situa com o baleárico, ora com o ocidental, ora com nenhum dos dois. 2.3 . O catalão normativizado pelo gramático Pompeu Fabra é língua oficial em Andorra. Foi igualmente língua oficial do governo da República, depois da Genera- litat de Catalunya, até o estabelecimento do regime franquista na Espanha. Agora, com a monarquia de Juan Carlos, voltou a ser língua oficial da Catalunha autônoma. 2 . 4 . O catalão é resultado da evolução do latim vulgar da província Tarraconen- sis e não, como alguns chegaram a supor, uma língua importada pelos emigrantes oriundos do Sul da França, logo após a reconquista da Marca Hispânica. 2.5 . É impossível precisar em que momento começa a história da língua catalã, pois a passagem do latim vulgar a esta língua foi lenta, gradativa e quase imperceptí­ vel. As mudanças mais radicais presumivelmente se produziram entre os séculos VII e VIII. Nos séculos IX, X e XI, os textos latinos encontram-se eivados de palavras e mesmo de frases inteiras em puro catalão, o que nos autoriza a supor que já era esta a língua falada naquele tempo. Distinguem-se três grandes épocas na história da língua e da literatura catalãs: a) o período nacional — até fins do século XV; b) a decadência — séculos XVI-XVIII; e c) a Renaixença — de 1833 até hoje. 2 .6 . O primeiro texto literário do catalão aparece no fim do século XII. Trata-se das Homilies cfOrganyà, fragmento de uma coleção de sermões. A importância da literatura catalã cresceu rapidamente na Idade Média; por volta de 1300 já contava com grande variedade de gêneros, e em 1400 já era uma literatura completa, entre cujos expoentes convém citar Ramon Llull, Arnau de Vilanova, Bernat Metge, Au- ziàs March, Jaume Roig etc. É interessante registrar a atividade filológica dos cata­ lães antigos: segundo Coromines, Ramon Vidal de Besalú (1160-1230?) escreveu a mais antiga gramática conservada de uma língua moderna (8, p . 29). Ao período de renovação pertencem muitos nomes ilustres de literatos e cultivadores do catalão, entre os quais se destacam Aribau, Verdaguer, Costa i Llobera, Llorente, Maragall, Carner, Alcover, Lopez Picó, Riba, Guimerà, Sagarra, Oller, Soldevila, Rubiò, Ors, Milà i Fontanals, Aguiló, Balaguer, Fabra, Coió, Coromines, Roca i Pons, Martorell, Badia Margarit etc. etc. Alfa, São Paulo, 33: 171-178,1989. 175 3. Problema romanístico 3 . 1 . Vejamos o que escreve o filólogo e lingüista catalão Joan Coromines a res­ peito da romanidade de sua língua: "El català és una llengua românica, résultant de 1'evolució local dei Uatí parlât en el país en temps deis romans. Ocupa una posició cen­ tral entre les llengües de la família românica. En la seva forma ac­ tual présenta semblances particulars amb moites d 'e l les" (8 , p. 17). "Innegablement hi ha un grau de parentiu especial entre les très llengües romàniques de la Península, português, castellà i català; pê­ ro cal advertir que el castellà sovint s'aparta deis altres dos, mentre português i català romanen mes semblants.. ." (8, p . 18). Latinidade diferente e intensidade diversa dos superstratos germânico e árabe são traços que servem para distanciar, umas das outras, as línguas portuguesa, espanhola e catalã. Os reajustes modernos do léxico espanhol, por exemplo, acentuam o distan­ ciamento (Cf. German Colón, 7, p. 72-73). Acerca da afinidade com o galo-românico, Coromines define o parentesco catala- no-occitânico nos seguintes termos: "Podríem dir que si les altres llengües romàniques són germanes, el português i el català són bessons, i les llengües d'Oc i catalana són una altra parella equiparable" (8 , p . 20). Ressalva, todavia, que as duas línguas nunca foram idênticas nem formaram uma unidade real e perfeita, ao defender a originalidade do catalão: "L'originalitat dei català s'afïrma des de bon principi en els monu­ ments histories, i cal observar que encara era molt mes gran en el parlar que en l 'escriptura" (8, p . 20). O português, o galego, o espanhol, o catalão, o gascão e o oceitano formam uni­ dade em oposição ao francês. O catalão tem um ar de família com o resto da Româ- nia; tanto é assim que um romanista de formação centro-européia, não hispanista, se desorienta menos em face do catalão do que ante o espanhol ou o português. Pode­ mos afirmar, com mais precisão, que, dentre as línguas românicas não-hispânicas, é o grupo galo-românico que apresenta maiores afinidades com o catalão. 3.2 . O problema das origens do catalão e sua posição entre as línguas românicas provocou uma das mais vivas polêmicas romanfsticas, que ainda continua à espera de solução por parte dos estudiosos. A natureza deste artigo não nos permite entrar em minúcias acerca da questão*, mas julgamos oportuno relatá-la em linhas gerais. * Para mais detalhes, cf. 1, p. 11-127; 3, p. 23-30; 4, p. 125-260; 6, p. 32-37,44-51, 194-197; 9, p. 128-131; 10, p. 103-106; 11; 12, p. 24-36; 13, p. 255-266; 14, p. 240-246. Alfa, São Paulo, 33: 171-178, 1989. 176 3.2.1. Catalão — dialeto galo-românico. A. Morel-Fatio, em 1888, foi o primeiro a emitir a opinião de que, nos séculos VIII e IX, depois da fundação da Marca His­ pânica, um falar "provençal" foi transplantado para lá e, durante a Reconquista, ex­ pandiu-se pelo território catalão. Esta opinião chegou a ser adotada por lingüistas de renome, como W. Meyer-Lübke, E. Bourciez e outros. 3.2.2. Catalão — dialeto ibero-românico. Segundo J. Seroihandy e Heinrich Morf, entre outros, o catalão nasceu na Espanha, de onde passou para o outro lado dos Pireneus em virtude do estabelecimento da Marca Hispânica e das divisões ecle­ siásticas. Percorreu, portanto, um caminho inverso ao que imaginaram os partidários da primeira tese. 3.23. Catalão = língua românica independente. Esta tese sustenta que o catalão é uma língua românica independente e não dialeto de outra. É a opinião mais antiga, pois foi exposta por F. Diez, o fundador da filologia românica, situando o catalão ao lado dos outros idiomas românicos, em pé de igualdade com eles. Todos os especia­ listas aceitaram esta tese durante algum tempo; foi abandonada por alguns, mas foi retomada por W. von Wartburg e sustentada com paixão nacionalista por A. Griera. 3.2.4. Declarada e admitida por todos os romanistas a personalidade do catalão como língua românica independente, começa a polêmica acerca de sua posição na Românica, cujo ponto essencial tem sido o problema de suas afinidades com os do­ mínios lingüísticos vizinhos. Uma primeira tese a este respeito agrupa o catalão no galo-românico; foi esta a perspectiva de F. Diez, W. Meyer-Lübke, W. von Wartburg, A. Griera, W. J. Ent- wistle e outros. Uma segunda tese defende a posição do catalão no grupo ibero-românico; seus principais representantes, R. Menendez Pidal, Harrr Meier e Amado Alonso, levaram em conta a totalidade dos idiomas falados na Península Ibérica. Uma terceira tese fala de um grupo pirenaico, constituído pelo catalão, pelo ara­ gonês e pelo gascão, como forma intermediária entre os grupos galo-românico e ibe­ ro-românico. Defendida por G. Rohlfs, esta classificação foi apoiada por A. Kuhn, V. Garcia de Diego e outros. Seu principal defensor, G. Rohlfs, definiu este grupo como uma espécie de România galo-ibérica (ou celtibérica) (cf. 14, p . 245). Ao que parece, esta última tese motivou o conceito do catalão como língua-ponte, quer dizer, transição entre o galo-românico e o ibero-românico, adotada por K. Bal- dinger, A. Badia Margarit, J. Coromines etc. etc. A metáfora de língua-ponte não é muito feliz, porque poderia aplicar-se a qualquer domínio lingüístico em relação a seus vizinhos; assim, por exemplo, poderíamos falar das seguintes "pontes" : occita- no, entre francês e catalão; espanhol, entre catalão e português; aragonês, entre ca­ talão e castelhano; castelhano, entre aragonês e leonês... 3.25. As atividades de pesquisa recomeçaram a movimentar, nos últimos trinta anos, os lingüistas catalães, motivados pelos resultados obtidos por historiadores de Pré-História, historiadores de Direito e economistas. Transferiu-se a discussão para Alfa, São Paulo, 33: 171-178,1989. 177 a história da língua catalã e para a explicação lingüística e histórica de sua fragmen­ tação dialetal interna. Daí surgiu uma série de problemas novos e fundamentais a iluminar, em um plano distinto, a encalhada polêmica da subagrupação românica do catalão. O mais recente ponto de vista posto ad referendum dos romanistas é fruto de estu­ dos realizados por M. Sanchis Guarner e G. Colón: a língua catalã não foi importada, é hispânica, autóctone, pois é continuação do latim vulgar do nordeste da Província Tarraconensis do Império Romano. CONCLUSÃO Como vemos, a polêmica continua... É bastante sensata a seguinte informação de German Colón: "E l catalán, en selecciones lingüísticas no es ni más ni menos de- pendiente dei occitano o dei francês de lo que lo es dei espanol" (7, p . 27). É possí­ vel, sem dúvida, com certo grau de manipulação, estabelecer certas agrupações; é importante, antes de mais nada, que se reconheça a personalidade da língua catalã no conjunto maior das línguas românicas, todas elas cientificamente colocadas no mes­ mo plano. Entre o muito de pesquisa ainda por fazer na busca de soluções em matéria de lingüística e filologia românicas, cabe ao futuro da lingüística histórica comparar melhor as preferências fonéticas, morfológicas, sintáticas e léxicas de cada língua, no sentido de evidenciar traços comuns e divergentes, o que possibilitará detectar as isoglossas e certas convergências. Seria conveniente, com base em traços comuns dessa índole, assinalar a existência de certos diassistemas latinos como troncos de grupos de romanços. A observação léxica, por exemplo, evidencia que o diassistema latino do qual procede o catalão é diverso do chamado latim hispânico, diassistema do português ou do castelhano. O ponto de vista metodológico, apoiado na cronolo­ gia, que adotam os defensores da pretensa mudança de caráter do catalão no sentido da hispanização, pode considerar-se in limine falso. Ora, é mais d o que sabido que as diversas modalidades da língua occitânica nunca chegaram a constituir um conjunto homogêneo; é também elementar o fato de essa língua, assim como o espanhol, não ser estatisticamente perfeita. Configura-se, portanto, como absurda arbitrariedade pretender que só uma língua evolucione entre duas vizinhas inalteradas e imutáveis. MARTINS, M. D. - Catalan, a romanistic problem. Alfa, São Paulo, 33: 171-178,1989. ABSTRACT: Due to the fact that Catalan is assuredly an autonomous Romance language, its classification as a mere "dependence" of another more "illustrious" language seems illogical and aberrant. In spite of this, the position of Catalan with respect to Ibero- and Gallo-Romance still remains as a topic of debate. In this article an effort is made in order to enlighten the comprehension of the above mentioned debate. KEY-WORDS: Romanistics; romance linguistics; romance philology; romance languages, external history. Alf», Sao Paulo, 33:171-178,1989. 178 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ALONSO, A. -Estúdios lingüísticos; temas espanoles. Madrid, Gredos, 1954. 2. ALONSO, D. - La fragmentación fonética peninsular. In: Enciclopédia lingüística hispânica, t. 1, Suplemento. Madrid, CSIC, 1962. 3. B ADÍA MARGARIT, A. M. - Gramática histórica catalana. Barcelona, Noguer, 1951. 4. B ALDINGER, K. — La formación de los domínios lingüísticos en la Península Ibérica. Trad. de Emilio Lledó y Montserrat Macau. 2. ed. corr. y muy aum. Madrid, Gredos, 1972. 5. BEC, P. — Manuel pratique de philologie romane. Paris, Picard, 1970. v. 1. 6. CATALAN, D. - Lingüística íbero-románica; crítica retrospectiva. Madrid, Gredos, 1974. 7. COLON, C — El léxico catalan en la Romania. Madrid, Gredos, 1976. 8. COROMINES, J. - El que s'ha de saber de la Uengua catalana. 5. ed. Palma de Mallorca, Moll, 1972. 9. ELIA, S. - Preparação à lingüística românica. 2. ed. rev. e aum. Rio de Janeiro, Ao Livro Técnico, 1979. 10. IORDAN, I. & MANOLIU, M. - Manual de lingüística românica. Révision, reelaboración parcial y notas por Manuel Alvar. Madrid, Gredos, 1972. v. 1. 11. MENENDEZ PIDAL, R. - Orígenes dei espanai; estado lingüístico de la Península Ibérica hasta el siglo XI. 3. ed. Madrid, Espasa-Calpe, 1950. 12. MOLL, F. de B. - Gramática histórica catalana. Madrid, Gredos, 1952. 13. ROHLFS, G. - Estúdios sobre el léxico românico. Reelaboración parcial y notas de Manuel Alvar. Ed. conjunta, rev. aum. Madrid, Gredos, 1979. 14. ROHLFS, G. - Manual de filologia hispânica; guia bibliográfica, crítica y metódica. Trad. de Carlos Patino Rosselli. Bogotá, Instituto Caro y Cuervo, 1957. Alfa, São Paulo, 33: 171-178,1989.