UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA DCSO - Departamento de Comunicação Social FAAC - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação Curso de Radialismo Júlia Antunes Rêgo Ferreira MEMORIAL DE PROJETO EXPERIMENTAL Documentário “Coreiras” Bauru 2017 Júlia Antunes Rêgo Ferreira MEMORIAL DE PROJETO EXPERIMENTAL Documentário “Coreiras” Memorial de Projeto Experimental apresentado em cumprimento parcial às exigências do Curso de Radialismo da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação Social da UNESP - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social - Radialismo. Orientadora de Projeto Experimental: Profª. Adjª Maria Cristina Gobbi Bauru 2017 A todas as mulheres que mantém vivas nossas tradições. AGRADECIMENTOS Agradeço à minha família, especialmente minha mãe Márcia Rêgo e meu pai Carlos Alberto, por todo apoio, incentivo e confiança. Sem eles esse trabalho não teria sido realizado, pois foi o carinho e compreensão que por eles me foram dados que impulsionaram minha caminhada em direção aos meus sonhos e perspectivas. Agradeço também às famílias que me acolheram em Bauru, aos amigos da UNESP, ao grupo Pavio de Candieiro, aos companheiros dos treinos de circo no Parque Vitória Régia, aos grupos de capoeira que sempre me acolheram com muito axé em todas as rodas das quais participei pela cidade. Às famílias latinas que fiz pelos rumos que trilhei durante minha experiência de intercâmbio, ao grupo Abadá Capoeira México, à todas as mulheres que conheci pelas ruas e metrôs da cidade do México, aos companheiros da turma de Documentário e ao professor Pablo Martinéz. Agradeço aos grupos e personagens da cultura popular do meu estado, que abriram suas portas e corações para este projeto. À Cláudia Regina, ao Ponto de Cultura Mestre Leonardo, ao espaço Laborarte e à todas as coreiras que nos presentearam com seus sorrisos e danças! Um agradecimento mais que especial a Érika Rodrigues, Luigi Tudisco e Raquel Oyakawa, companheiros do curso de Radialismo que ajudaram a concluir este projeto. Às amigas Bianca Castro, Cristiana Veloso, Elisa Melo, Luciana Veloso, Luiza Fernandes e Sofia Zagallo, que compartilharam comigo momentos de ansiedade e incertezas. Obrigada pela presença e ajuda nestes momentos de aflição. Por fim agradeço à orientação da Profª. Adjª Maria Cristina Gobbi, por esclarecer as dúvidas que tive, incentivar e acreditar neste trabalho, permitir meus devaneios poéticos e principalmente pela liberdade que me concedeu para criar! Muito obrigada, professora, sua doação e segurança ao me guiar neste memorial deram asas para que o documentário “Coreiras” finalmente alçasse voo. RESUMO Este trabalho de conclusão de curso pretende abordar as impressões acerca da manifestação Tambor de Crioula a partir da percepção de mulheres que o vivenciam em seu dia-a-dia. Por meio da produção de um curta-metragem documental baseado em entrevistas pessoais, buscou-se pincelar o universo dessa dança, seus encantos, origens e desdobramentos. O documentário Coreiras pretende enfatizar a importância da preservação da cultura popular e o papel da mulher dentro dela. Palavras-chave: Documentário, Tambor de Crioula, Mulher, Dança, Cultura popular. SUMÁRIO CAPÍTULO 1 1 Introdução....................................................................................................................... 01 1.1 Justificativa.................................................................................................................... 02 1.2 Objetivos........................................................................................................................ 03 1.2.1 Objetivo Geral....................................................................................................... 03 1.2.2 Objetivo Específico............................................................................................... 03 CAPÍTULO 2 2 Fundamentação Teórica................................................................................................ 04 2.1 Documentário e Cultura................................................................................................ 04 2.2 A influência do documentário de Eduardo Coutinho.................................................... 05 2.3 O Tambor de Crioula..................................................................................................... 08 CAPÍTULO 3 3 O Documentário “Coreiras”.......................................................................................... 10 CAPÍTULO 4 4 Planejamento e Metodologia de Execução................................................................... 12 4.1 Pré-produção.................................................................................................................. 12 4.2 Produção........................................................................................................................ 13 4.3 Pós-produção................................................................................................................. 14 4.3.1 Transcrição das entrevistas e elaboração do roteiro.............................................. 14 4.3.2 Montagem e Edição............................................................................................... 15 4.3.3 Identidade Visual................................................................................................... 19 CAPÍTULO 5 5 Comentários.................................................................................................................... 20 5.1 Dificuldades Encontradas.............................................................................................. 20 5.2 Considerações Finais..................................................................................................... 20 Referências Bibliográficas................................................................................................ 22 Apêndice............................................................................................................................ 23 1 CAPÍTULO 1 1. Introdução ”Coreiras” esteve latente em mim por um bom tempo. Começou a germinar há mais ou menos três anos, durante um período que passei férias em São Luís. No decorrer dessa ida, entrei em contato com o Tambor de Crioula de uma maneira distinta, que até então não havia vivenciado. Era sexta-feira a noite, e uma amiga me convencera que o mais novo programa da cidade era rodar a saia para o Tambor de Mestre Amaral. “Leva tua câmera“, disse com um tom quase profético. Ao chegar lá, a cada passo que tomávamos adentrando o espaço ouvíamos o som dos tambores reverberar mais alto e, não sei se por poesia ou por acaso, crescia também dentro de mim uma vontade pulsante de levar aquelas batidas a outros lados. Algumas imagens que fiz naquele dia entraram para o documentário. Muito aconteceu até que o projeto tomasse forma e realmente se consolidasse como meu trabalho de conclusão de curso. Ter encontrando na cidade de Bauru outros brincantes da cultura popular também ajudou a manter a ideia ativa! Os ensaios e apresentações junto ao grupo “Pavio de Candieiro”, as brincadeiras nas rodas de capoeira, as vivências dos encontros culturais dentro da universidade… Muitos foram os incentivos e motivações para explorar a cultura e o saber popular através do audiovisual, a linguagem que melhor contemplava o turbilhão de possibilidades que em mim aos poucos amadurecia. Ano passado decidi fazer um intercâmbio acadêmico para o México. Já tinha em mente que essa experiência também somaria de maneira significativa para o processo de criação do filme. Lá, além de estar em contato com a vasta cultura mexicana, a qual me encantava diariamente por sua diversidade de cores, ritmos e sabores, tomei algumas aulas de produção em documentário na universidade, para melhor compreender a linguagem. A conjunção entre vivência e conhecimento acadêmico me propiciou maior segurança para alçar vôo, mas foi principalmente o orgulho em reconhecer e demonstrar suas origens e a força das mulheres mexicanas que me inspiraram a saltar. O redemoinho dessas experiências fez brotar Coreiras. Ramificou-se inicialmente como resposta a alguns questionamentos pessoais, para finalmente desabrochar como uma forma de registro de uma das tantas riquezas nacionais. Ouso dizer que lá em sua essência o documentário mescla sementes, tenta combinar o sabor da pimenta com o do tempero seco para assim buscar compreender os frutos de nossas origens, explorar como se criam, como se propagam e como ainda se cultivam. 2 Coreiras é então resultado de um longo período de crescimento. Considero o documentário ainda como um tímido registro, mas um tímido registro sincero, feito por uma maranhense apaixonada por sua cultura, por suas raízes, e que há três anos foi buscar nelas a inspiração para florescer asas para o mundo abraçar. 1.1 Justificativa A cultura popular é um vasto campo representativo da identidade nacional brasileira, sendo sua diversidade reflexo das nossas origens e sincretismos. Tais manifestações surgiram a partir de expressões culturais dos grupos historicamente oprimidos, como de povos africanos escravizados e povos indígenas, sendo por conta disso cerceadas durante longos períodos. À medida que a discriminação em relação a essas práticas foi se esvaindo e a curiosidade do público sendo aflorada, novos olhares e ressignificações começam a surgir. Pesquisadores de várias áreas voltam suas investigações às culturas populares e o hiato que existia devido aos anos de desconhecimento e repreensão vai sendo aos poucos diluído, desmistificando preconceitos e aproximando realidades distintas. Dentro da perspectiva em ampliar os olhares e interesses sobre a cultura popular, surgiu a ideia deste documentário. O Tambor de Crioula é uma manifestação feita por homens e mulheres, porém sem o personagem feminino ela não acontece. Não somente porque são as mulheres que dançam, mas também pelo fato de serem elas as principais realizadoras de todo o ritual. São elas que cozinham a comida que será oferecida aos brincantes e ao santo São Benedito, elas que costuram as roupas, que ensinam para suas filhas e netas como rodar a saia e o próprio ritmo é nomeado em homenagem a elas. Apesar disso, a ”coreira” ainda sofre com a desigualdade de gênero, pois além de quase não existirem grupos conduzidos por mulheres, poucas são reconhecidas como mestras ou ocupam espaços distintos dentro da roda. A ideia do documentário é dar espaço à voz destas mulheres, investigar suas percepções acerca da manifestação, das experiências e brincadeiras, entender o que é o Tambor de Crioula para elas e, principalmente, explorar quem é a mulher que resiste e luta dentro deste universo. 3 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo Geral Explorar o universo da cultura popular mais especificamente do Tambor de Crioula, através do olhar de mulheres que o vivenciam. Compreender quem são essas mulheres, o que fazem e como elas veem essa manifestação, as relações e sensações que surgem a partir dela. 1.2.2 Objetivo Específico Investigar esses aspectos a partir da realização de um curta metragem documental baseado em entrevistas pessoais de quatro mulheres pré-selecionadas. 4 CAPÍTULO 2 2. Fundamentação Teórica 2.1 Documentário e Cultura Quando se ouve falar em documentário somos levados a idealizar um estilo de filme socialmente engajado. De fato, linguagem documental e temáticas político-sociais são recorrentemente associadas e parte disto pode se justificar a partir da ideia presente no imaginário coletivo de que, entre os formatos narrativos fílmicos, o documentário seja o de maior credibilidade, uma vez que sua liberdade em estilo e a própria tradição histórica na qual o gênero foi submetido reforçam essa ideia. A tradição do documentário está profundamente enraizada na capacidade de ele nos transmitir uma impressão de autenticidade [...]; não obstante a pobreza de imagem e a diferença em relação a coisa fotografada, a aparência do movimento permanecem indistinguível do movimento real (NICHOLS, 2005, p. 20). Ao registrar questões inerentes às problemáticas sociais, o documentário desempenha um importante papel de referência e fonte de pesquisa para com aqueles. Não por acaso, quando há curiosidade em relação a tradições e culturas distintas das quais estamos habituados, busca-se no formato documental um meio de acesso a essas manifestações. ”Literalmente os documentários dão-nos a capacidade de ver questões oportunas que necessitam de atenção[...]. O vínculo entre documentário e mundo histórico é forte e profundo. O documentário acrescenta uma nova dimensão à memória popular e a história social”(NICHOLS, 2005, p. 27). Outra característica recorrente a linguagem documental e que proporciona certa aproximação entre representação e realidade, são os aspectos referentes à liberdade de estilo. Se, por um lado, recorre a procedimentos próprios desse meio - escolha de planos, preocupações estéticas de enquadramento, iluminação, montagem, separação das fases de pré- produção, produção, pós-produção, etc por outro, procura manter uma relação de grande proximidade com a realidade, respeitando um determinado conjunto de convenções: registro in loco, não direção de atores, uso de cenários naturais, imagens de arquivo etc., (TEIXEIRA, 2002, p. 25). Aquilo que nos é exibido em tela se sustenta por acontecimentos reais. “Trata efetivamente daquilo que ocorreu, antes ou durante as filmagens, e não daquilo que pode ter 5 acontecido“ (PUCCINI, 2009, p.24). Esse acercamento proporciona ao filme documentário um caráter de forte viés ideológico, justificando novamente união e identificação entre gênero e temáticas sociais. Levando em consideração o exposto acima e, ao compreender o poder de persuasão e abrangência que o formato tem, o estilo documental foi o que melhor se encaixou dentro das perspectivas da produção Coreiras. A ideia é explorar, a partir de um olhar feminino, a manifestação cultural Tambor de Crioula, investigar seus agentes, compreender as etapas do ritual e explorar suas possíveis implicações. Poucos são os registros encontrados sobre o Tambor de Crioula e ainda menores são aqueles que se propõem falar do universo feminino dentro dele. A personagem “coreira“ exerce um papel fundamental para que o ritual aconteça e, se considerarmos que os “documentários de representação social proporcionam novas visões de um mundo comum, para que o exploremos e conhecemos“ (NICHOLS, 2005, p. 26), se faz de extrema importância registrar suas vozes, visões e narrativas, para que assim essas mulheres tenham a visibilidade que merecem. Como método de registro aproveitou-se da liberdade estilística do formato e priorizou- se um estilo de documentário no qual câmera é mera observadora das personagens. Ela se coloca à frente delas, cara-a-cara, como se realizasse uma conversa informal. A intenção é fazer com que realidade retratada diante das lentes tome forma sincronicamente às ações vividas nesse universo. 2.2 A influência do documentário de Eduardo Coutinho A inspiração para essa forma de abordar o tema surgiu a partir do estilo documental de Eduardo Coutinho. Para o cineasta, os relatos que surgem a partir de uma conversa informal traduzem com autenticidade o mundo de cada entrevistado, pois é diante da espontaneidade do registro que a visão de mundo dessas pessoas se potencializa. Consuelo Lins em seu livro “O documentário de Eduardo Coutinho” afirma que há momentos em que não há qualquer necessidade de inventar nada para se capturar uma verdade antropológica, então quem melhor para traduzir essas verdades que aqueles que as experienciam diariamente? Diante das lentes, personagens têm total liberdade para falar o que pensam e sentem, catalisando suas vivências. Assim como nas obras de Coutinho, Coreiras faz uso do método de entrevistas para captar esses relatos, porém nem sempre as perguntas pré-elaboradas se fizeram necessárias, assim como novas surgiram ao longo da conversa. 6 Contrariamente a reportagens e documentários que se aproximam do assunto com um saber estabelecido, Coutinho se concentra no presente da filmagem para dali extrair todas as possibilidades e tenta, nesse movimento, se libertar de alguma maneira das ideias pré-concebidas que povoam, à revelia, nossas mentes. Ele evita os textos em off, as perguntas decoradas e objetivas, uma atitude distante, os enquadramentos estáveis. Os mundo que o cineasta nos revela não estão centrados em um comentário nem em informações precisas, mas em depoimentos que se traçam em uma rede de pequenas histórias descentradas, que se comunicam através de ligações frágeis e não-causais. São ecos que se estabelecem entre diferentes elementos da imagem ou da fala dos personagens (LINS, 2004, p. 4). Um aspecto interessante a ser destacado a partir dessa perspectiva de registro verborrágico é a capacidade que ele tem em trazer à tona as raízes tanto sociais quanto culturais das entrevistadas. Expressões típicas da língua ressoam a origem da mulher negra maranhense, fiel a São Benedito e ao Tambor. A isso agregam-se valores e processos de identificação dessas mulheres, ligados ao ritmo, a dança, a religiosidade e ao próprio fato de ser mulher dentro da cultura popular, unindo-as em um grupo comum, ainda que suas histórias pessoais se difiram entre si. Trata-se do que o filósofo Paul Ricouer define como a constituição mútua, cruzada, de uma memória pessoal e de uma memória coletiva. Para lembrar, que mesmo solitariamente, recorremos à linguagem e, portanto, a uma mediação que já imprime à memória individual uma dimensão social. A língua utilizada nessa rememoração não é individualizada, mas comum, compartilhada e com expressões próprias à história e o ao contexto de uma determinado grupo. É, portanto, em uma mesmo movimento que se constituem a identidade e a memória coletiva, identidades e memórias pessoais. Contudo, as narrativas individuais têm singularidades que não se restringem à memória do grupo, muito pelo contrário (LINS, 2004. p. 33). Em sua narrativa Coreiras traz ainda a presença de gestos, formas e extensões dos corpos das personagens, características próprias ao universo de mulheres que rodam a saia em uma roda de Tambor de Crioula. Além das peculiaridades comuns à fala, o linguajar de seus corpos transborda a essência do ritmo feminino dentro do ritmo cultural, ambientando telespectador naquela manifestação. Aqui mais uma vez o documentário bebe da fonte estilística de Eduardo Coutinho, mais especificamente do filme “Jogo de Cena”. Jogo de Cena é o cinema e Coutinho levado ao limite de seu maravilhamento, onde a afecção da imagem mais de desdobra em afetividade concreta, anedótica, cotidiana – da possibilidade do afeto como imersão de mundo, de generosidade, de construção de personagens através do tom dos olhos, do ritmo de respiração, da fala-como-se- fala (BRAGANÇA, 2017, web). “Jogo de Cena” também inspirou a produção no que diz respeito a escolha de certos procedimentos estéticos. Dois deles foram a escolha do enquadramento das entrevistas e a 7 disposição das personagens em quadro. No documentário de Coutinho, as personagens estão sentadas diante das câmeras em uma angulação não simétrica em relação ao eixo central do plano, a mesma escolha estética foi feita no documentário Coreiras. Imagem 1: Documentário “Jogo de Cena” Fonte: ”Jogo de Cena”, 2007 Imagem 2: Documentário “Coreira” Fonte: Acervo pessoal, 2017 Essa perspectiva traz a ideia da conversa informal citada aqui anteriormente, possibilitando maior liberdade para que entrevistadas contem suas experiências. Outra influência da obra de Coutinho foi o destaque para tons de cor fortes e saturados. Em “Jogo de Cena” a iluminação destaca o vermelho das cadeiras do cenário, o qual tem grande relevância dentro da narrativa. Coreiras não traz um cenário fixo definido, entretanto ao dar destaque às cores e formas características da manifestação, o documentário 8 ancora personagens em um universo comum, sustentando narrativa fílmica e alude a possíveis significações do Tambor de Crioula. 2.3 O Tambor de Crioula De origem afro-brasileira, o Tambor de Crioula é uma manifestação da cultura popular maranhense que consiste em uma dança de umbigada realizada em roda, envolvendo canto e percussão de três tambores. Durante muito tempo foi praticada apenas em terreiros - onde recebe o nome Tambor de Mina - e até recentemente não era sequer reconhecido oficialmente como manifestação da cultura nacional. Durante o sé ulo XIX e até cerca de meados do sé ulo XX, as manifestações culturais dos escravos e dos negros eram apenas toleradas pelas classes dominantes, e as poucas referências que nos chegaram sobre elas foram quase sempre relatadas nas colunas policiais. Segundo vários autores, as danças de umbigadas eram vistas e estimuladas no passado como danças sensuais, que poderiam contribuir para o aumento do número de escravos (FERRETTI, 2010, p. 175). Hoje, o Tambor de Crioula é uma das maiores atrações dentre as expressões culturais existentes no estado do Maranhão, sendo celebrado principalmente no período de Junho, no qual se realizam festejos em comemoração a São João. A manifestação é tão importante que “pode ser considerado como um dos elementos componentes da identidade maranhense, juntamente com o bumba-meu-boi, com o tambor de mina e outras manifestações culturais de origens africanas, como o reggae, que tornou São Luís conhecida como a Jamaica Brasileira” (FERRETTI, 2010, p. 177). Existem atualmente cerca de 80 grupos de Tambor de Crioula na capital maranhense e outras dezenas espalhadas pelo interior do estado. Em São Luís apenas as mulheres dançam e ganham o apelido de “coreiras”. Há ainda a figura dos “coreiros” e dos cantadores, homens responsáveis respectivamente pelo toque e canto. A apresentação do Tambor de Crioula não possui forma fixa, sendo dança e coreografia realizadas de maneira informal. As mulheres se enfeitam com colares, pulseiras e turbantes, além de vestirem saias floridas de chita, elemento de grande importância tanto para o desenrolar da cerimônia tanto no que se refere a simbologia que carrega. Já para a indumentária masculina não há regra, com exceção das apresentações para turistas em que eles vestem uma camisa de mesma estampa e tecido que a saia das “coreiras”. Outro elemento importante e indispensável nas festas é a presença da bebida alcoólica. 9 Um elemento que não pode faltar nas festas é a bebida; cachaça para os homens e, outra mais suave, para as mulheres, sendo comum se afirmar que sem a bebida não há tambor de crioula. Em alguns toques, sobretudo nas apresentações em terreiros, mulheres podem entrar em transe ao som dos tambores, o que não ocorre na maioria das apresentações (FERRETTI, 2010, p. 176). Por ser uma manifestação de cunho religioso, o Tambor de Crioula é oferecido a São Benedito, conhecido como santo protetor dos negros. O ritual tem início com uma ladainha, seguida do coro. A partir daí entra o toque dos tambores, nomeados respectivamente de crivador, médio e tambor grande. As mulheres começam a entrar formando a roda, realizando uma saudação aos tambores em referência ao santo. Quando já na formatação de roda, as ¨coreiras¨ interagem entre si por meio da dança, rodopiam suas saias, soltam gritos e cumprimentam umas às outras através da ¨punga¨, forma de convite e interação entre elas. Vários são os possíveis significados que a tradição popular do Tambor de Crioula carrega e é crescente o interesse pelo estudo de seus desdobramentos. Alguns aspectos que se destacam são: ¨possíveis relações com a luta da capoeira, pelos elementos eróticos e sexuais da dança, por características especificamente religiosas, pela musicalidade, pela diversidade nas diferentes regiões, como exemplo de resistência cultural e preservação da identidade, pelas relações com o turismo, com as politicas culturais, com atividades educacionais, com questões de gênero, com sua difusão e com outros temas¨ (FERRETTI, 2010, p. 176). Baseando-se em tais percepções, o documentário Coreiras busca abordar temáticas ligadas aos valores e à preservação cultural, além de questões relacionadas a gênero e identidade, uma vez que cede espaço às vozes daquelas que através da força do seu dançar não deixam a devoção à manifestação calar. 10 CAPÍTULO 3 3. O documentário Coreiras Mãe, menina, estudante, dançarina… coreira. Quem é a mulher que gira a saia na roda de “Tambor de Crioula”? As histórias ligadas a dança, as batalhas diárias e os prazeres que o toque do tambor traz. O curta metragem documental Coreiras explora o universo feminino de quatro personagens através de suas experiências com a cultura popular maranhense, mais especificamente com a manifestação Tambor de Crioula. Luana, Dona Roxa, Rosa e Senhora Dolores contam, através de depoimentos baseados em suas memórias e conhecimento, um pouco da história do ritmo, o que significa ser “coreira”, como se dão as relações na roda e os desafios que enfrentam. Luana é graduada em dança. Coreira de família, tem além da perspectiva de dançarina, uma visão crítica de pesquisadora do que o Tambor representa. Rosa é feminista militante, tem a dança como parte de sua luta, principalmente no que diz respeito ao espaço ocupado pela mulher dentro do ritual. Dona Roxa e Tambor de Crioula são quase sinônimos. Muito conhecida no meio, faz parte de grupos e projetos da cultura popular, sendo sua figura muito importante para a cena ludovicense. E por último, mas não menos importante, Senhora Dolores. Se fossemos escolher um ícone do que é a mulher do Tambor de Crioula ela com certeza seria esse ícone. Sua história pessoal chega a se confundir com sua história de devoção a São Benedito. A vivência de cada uma dessas personagens e suas impressões constroem a lógica narrativa do filme, sendo essa conduzida por alguns temas chave. Além de abordar os elementos do próprio universo do Tambor de Crioula, como personagens, indumentária, formatação, canto e fé, outros assuntos que o documentário buscou destacar foram questões ligadas à identidade cultural e de gênero. Em relação à linguagem, a ideia é fazer com que o ritmo do filme crescesse com o ritmo da dança e, à medida que telespectador passa por cada elemento desse universo, maior é seu envolvimento dentro dele, como se o que é narrado pelas personagens ganhasse forma. O filme tem início com a “coreira” dançando para o tambor grande seguida da fala devota de Senhora Dolores. Ao utilizar tais cenas, Coreiras se aproxima do ritual de entrada das mulheres em roda, pede licença ao santo e ao tambor grande para então começar. A primeira sequência é de apresentação das personagens, em que elas falam como conheceram o 11 Tambor e a relação que têm com ele. Este universo vai assim aos poucos se introduzindo, sendo guiado a partir das sensações das entrevistadas. No segundo bloco é dado destaque aos elementos que fazem parte da dança do Tambor de Crioula, como indumentária, adereços e formatação da roda. O tempo também é um elemento muito importante dentro do ritual e buscou-se evidenciar isso no documentário através das cenas em que vemos os tambores aquecendo na fogueira. Os ensinamentos que o ritmo deixou na vida dessas mulheres e os desdobramentos que eles têm é o fio condutor do terceiro bloco. Pertencimento, autoidentificação, valorização cultural, respeito e tradição. Estas são algumas das experiências que elas destacam e a partir delas adentramos no universo feminino ainda mais profundamente. Para além das saias, colares e turbantes, quem são essas mulheres? O que significa ser “coreira”? O que significa ser mulher dentro do Tambor de Crioula? Tem então início o quarto e último bloco do filme, no qual se discute as relações de gênero dentro da manifestação. Entramos no universo do Tambor como se entrássemos em sua roda e, assim como começou, o documentário se finda. A imagem da “coreira” encerrando o toque do tambor prenuncia o fechamento do filme, que humildemente retoma através da fala de Senhora Dolores a figura de São Benedito. 12 CAPÍTULO 4 4. Planejamento e Metodologia de Execução 4.1 Pré-produção O período de pré-produção ocorreu durante o segundo semestre de 2016 e consistiu em uma etapa de pesquisa acerca do ritmo e sobre o gênero documentário, busca das possíveis personagens, elaboração do cronograma das gravações, levantamento das locações e concepção de perguntas guias para as entrevistas. Durante a pesquisa foram se estruturando os principais temas que sustentariam a argumentação do documentário. Algumas perguntas pensadas para a entrevista foram: - O que é o Tambor de Crioula? - O que ele significa para você? - Como é sua relação com o Tambor de Crioula? - Como começou a dançar? - O que você sente ao dançar? - O que a roda representa? - O que a saia representa? - O tambor ensinou algo em especial para você? - Quem é a mulher que dança Tambor de Crioula? - O que é ser coreira? Outras perguntas surgiram de maneira espontânea durante as gravações, já a ideia de se explorar temáticas mais abrangentes como relações de gênero dentro da manifestação e questões relacionadas à identidade e cultura foram surgindo ao longo do desenvolvimento da pesquisa. As gravações foram estipuladas para o período de carnaval de 2017, uma vez que a produção precisou se deslocar até a capital maranhense para isso. Entrou-se em contato com várias “coreiras” da cena ludovicense, as quais foram escolhidas através do contato pessoal da diretora, porém foi apenas durante o período de filmagem que se fechou a participação das personagens. 13 4.2 Produção O período de produção ocorreu em duas semanas, durante o feriado de Carnaval de 2017. Nele realizaram-se as gravações das entrevistas e das imagens de inserção. O tempo de gravação de cada entrevistada foi de uma diária, já as cenas das apresentações e da cidade de São Luís levaram mais tempo para serem realizadas. Por se tratar de uma produção individual e independente, muitas imagens foram gravadas segundo a disponibilidade da diretora. Os materiais usados nas gravações foram: - Câmera Canon T3i - Duas lentes, uma de 50mm e outra de 18-55mm - Microfone Zoom - Tripé para câmera Além disso, a produção contou com um carro e uma verba de 150 reais para logística de transporte. Alguns imprevistos ocorreram durante o período de gravação, um deles foi a impossibilidade de filmar com uma coreira criança (recorte que havia sido pensado inicialmente para o filme), outro devido a ausência de verba da produção, pois uma das coreiras só participaria mediante pagamento de cachê. Dessa maneira, fez-se necessário buscar duas outras possíveis personagens para o filme enquanto as gravações aconteciam. O problema foi solucionado a partir de contatos das coreiras já entrevistadas. A escolha das locações para realização das entrevistas aconteceu por meio da sugestão das próprias personagens, por parte da produção apenas idealizou-se que estes cenários tivessem ou alguma ligação com a cena cultural da capital ou algum significado para elas. A entrevista da coreira Luana, por exemplo, aconteceu em sua casa, na intimidade do seu quarto, já Dona Dolores narrou suas experiências minutos antes de realizar uma apresentação, no “Ponto de Cultura Mestre Leonardo“. Dona Roxa e Rosa concederam seus depoimentos no espaço “Laborarte“, um importante ponto cultural da cidade. 14 4.3 Pós-produção 4.3.1 Transcrição das entrevistas e elaboração do roteiro A pós-produção foi o período mais minucioso e contou com a colaboração de outros alunos de Rádio e TV da Unesp. Primeiramente revisou-se todas as entrevistas para transcrevê-las, a partir disso foram selecionados os trechos mais importantes. O segundo passo foi rever todas as imagens gravadas para inserção, como as cenas das apresentações, e dividi-las por temas. Imagem 3: Arquivo das gravações Fonte: Acervo pessoal, 2017 15 A partir daí iniciou-se o processo de construção do roteiro. Ele foi estruturado em cinco blocos de acordo com os subtemas que o documentário propôs a explorar. São eles: - Parte 1: Abertura, uma introdução ao universo do Tambor de Crioula - Parte 2: Apresentação das coreiras personagens - Parte 3: Sensações e Sentimentos - Parte 4: Identidade e Questões de Gênero - Parte 5: Conclusão Com isso e através das entrevistas já transcritas, desenvolveu-se a lógica narrativa do documentário. Já as imagens de ambientação foram sendo introduzidas durante o processo de montagem e edição. 4.3.2 Montagem e edição A montagem de Coreiras se confunde um pouco com o processo de construção do roteiro, uma vez que este foi idealizado a partir de uma perspectiva imagética. Entretanto, no decorrer da composição fílmica algumas alterações tiveram de ser feitas, por uma questão de coerência técnica (algumas transições de imagem e áudio cabiam perfeitamente no papel, porém não na tela). Outro acréscimo ocorrido durante a montagem foi a inserção da trilha. O documentário conta apenas com duas músicas não diegéticas: “Tambor de Crioula“ da cantora maranhense Rita Ribeiro e “Tu já vai Maria“ do Mestre Leonardo. Os processos de finalização do vídeo contaram com a ajuda de três outros alunos do curso de Radialismo. Os últimos ajustes de transições de corte, inserção dos títulos e créditos ficou sob a responsabilidade de Érika Rodrigues. A edição do som foi feita por Raquel Oyakawa, ela tirou os ruídos mais gritantes do áudio (como barulhos de buzina, conversas paralelas, som do trânsito, entre outros) e ajustou os volumes. E por último veio o ajuste de cor, realizado por Luigi Tudisco. A ideia da colorização era manter os tons vibrantes e saturados, remetendo ao calor do Maranhão e às saias das coreiras, priorizando uma melhor qualidade na imagem. 16 Imagem 4: Sem colorização Fonte: Acervo pessoal, 2017 Imagem 5: Colorizada Fonte: Acervo pessoal, 2017 17 Imagem 6: Sem colorização Fonte: Acervo pessoal, 2017 Imagem 7: Colorizada Fonte: Acervo pessoal, 2017 18 Imagem 8: Sem colorização Fonte: Acervo pessoal, 2017 Imagem 9: Colorizada Fonte: Acervo pessoal, 2017 19 4.3.3 Identidade Visual Para a identidade visual do filme idealizou-se algo simples, porém significativo. A começar pelo logotipo que carrega o nome do documentário: Imagem 10: Logotipo do documentário Fonte: Acervo pessoal, 2017 Nele, a palavra “coreiras” é preenchida por um tecido de chita colorido, aludindo às saias vestidas pelas dançarinas. A ideia que se tenta passar através dessa composição é a união entre a representação feminina (ilustrada pela palavra “coreiras”, já que assim são nomeadas as personagens femininas dentro do Tambor de Crioula) e dança, representada pelo tecido a partir do qual se confecciona a indumentária do ritmo. A fonte utilizada também tem forte significação. Buscou-se uma caligrafia que remetesse à movimentação das personagens e que passasse a ideia de leveza e fluidez. É possível associar a sinuosidade da fonte à dinâmica da roda de Tambor de Crioula, desde seu início no qual as coreiras enfileiradas passam a frente dos tambores a formar a roda, até sua conclusão, em que apenas uma coreira conduz o tambor grande em uma movimentação similar. 20 CAPÍTULO 5 5. Comentários 5.1 Dificuldades encontradas Coreiras é resultado de um projeto pessoal e que apesar de ter contado com a ajuda de amigos e familiares, a maior parte de sua produção foi realizada de maneira individual. Dessa forma, grande parte das dificuldades que encontrei ao longo das gravações estão ligadas a ausência de uma equipe. Tecnicamente o documentário tem falhas nítidas, como por exemplo nas cenas das entrevistas de Senhora Dolores. Neste dia, tive que acompanhar todo o movimento do grupo de Tambor Mestre Leonardo antes da apresentação e, como geralmente acontece durante os encontros das culturas populares, estávamos todos preparando os lanches que seriam oferecidos aos brincantes quando Senhora Dolores decidiu que iria participar do documentário. Assim, tive de sacar a câmera no meio de toda a correria e não tive tempo de ajustar os equipamentos de áudio. A mesma dificuldade foi encontrada durante as cenas das apresentações, pois por não haver outra pessoa responsável pela gravação do som, utilizei o áudio da própria câmera para o filme. Com isso, a gravação ficou bastante suja, cheia de ruídos, tendo que ser trabalhada na pós-produção para que ficasse mais harmônica. Outro imprevisto foi a cobrança de cachê por parte de uma das personagens pensada para o filme. Por não contar com verba suficiente para isso, tive de buscar por outra coreira para participar do documentário durante o período de gravação. 5.2 Considerações Finais Realizar este documentário foi um grande desafio, mas intensamente enriquecedor. Ter contato com realidades distantes da minha, pode voltar a vivenciar minhas raízes culturais e, principalmente, ter a oportunidade de compartilhar isso com pessoas que nunca tiveram contato com esse universo significaram muito. Todas as dificuldades que encontrei também serviram de lição, pois ajudaram a solidificar parte de mim. A partir delas adquiri força para acreditar no meu trabalho e manter viva a esperança de muitos dos meus sonhos. A cultura popular é um campo que me fascina 21 por seus desdobramentos e significados, e estar em contato com ela assim de perto foi realmente gratificante. Sabe-se que essas culturas são muitas das vezes marginalizadas e pouco valorizadas, por parte da sociedade, pela grande mídia, etc. O documentário foi a maneira que encontrei de representar a singularidade dessas manifestações, na tentativa de reverberar vozes e sonoridades tão importantes e intrínsecas às nossas origens. Ao relembrar parte da minha história e vivência durante a realização de Coreiras cheguei a conclusão de que este trabalho não poderia ter abordado outro tema. As narrativas que corpo e dança trazem guiam minha forma de encarar as coisas e espero que o filme seja um veículo verdadeiro disto: que todos possam ver o mundo em movimento! 22 Referências Bibliográficas BRAGANÇA, Felipe. Jogo de Cena, Eduardo Coutinho, 2007. Disponível em . Acesso em: 10 jun. de 2017. FERRETTI, Sergio. Cultura Popular e patrimônio imaterial: o contexto do Tambor de Crioula no Maranhão. Ed. Edufma, 2010. LINS, Consuelo. O Documentário de Eduardo Coutinho. Ed. Zahar, 2004 NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas: Papirus, 2005. PUCCINI, Sérgio. Roteiro de Documentário - Da Pré-produção à Pós-produção. Ed. Papirus, 2009. TEIXEIRA, Cristina V de M. O documentário como gênero audiovisual, Revistas UFG, v. 5, n. 1/2, p.25-40, jan-dez. 2002 http://www.revistacinetica.com.br/jogodecenafelipe.htm 23 APÊNDICE APÊNDICE 1 – Entrevistas Transcritas APÊNDICE 2 – Roteiro Final 24 APÊNDICE 1 – Transcrições das entrevistas 1. HISTÓRICO (Temas: o que é o Tambor de Crioula, como surgiu, como era visto e como é visto atualmente, tipos de tambor) LUANA Arquivo MVI_5013 (min 1:16 ao 3:37) Até no vídeo de IPHAN ele dá umas entrevistas, o vídeo que o IPHAN fez quando o Tambor de Crioula foi...foi tombado ele fala algumas coisas sobre o tambor, sobre a perspectiva dele e do pró rio grupo da gente que é o LABORART, né… no período da década de 80 ainda como era visto o Tambor pela sociedade e como isso a pouco foi modificando até pela própria pesquisa da Universidade, novas pessoas querendo, se interessando né e pesquisando essa nova perspectiva antropológica, social de pesquisa sobre o Tambor de Crioula, foi dando também uma nova percepção pra outras pessoas além das que faziam Tambor de Crioula… (eu pergunto o que mudou) Por que por exemplo se tu pegar o livro de Ferreti, ele vai e comenta várias coisas que se tinham e que se pensavam sobre o Tambor de Crioula, isso na década de 70, ainda muito macumba, muito estereotipado, muito preconceito...muita perspectiva de se sair as vezes no jornal! Ele traz entrevistas até de jornal sobre como o Tambor de Crioula era visto na sociedade em geral… (min 3:11 ao 3:38) Vem falando isso… historicamente como era visto né… você hoje vê uma mudança! Hoje a mudança é bem maior do que imagina na década de 80… O LABORART foi um dos pioneiros a fazer oficina de Tambor, na época não existia… As pessoas iam aprendendo, o saber ia passando… o saber popular, passando de pai pra filho, o saber oral que ia sendo passando… DONA ROXA Arquivo MVI_5111 (min 2:22 ao 3:05) Ah o ritual do tambor é esse...é assim por exemplo, festa de divino...terreiro! sabe o que é terreiro ? tem casa de festa de divino que é num terreiro então eles pedem no dia que 25 levanta o mastro um tambor de crioula… aí a gente levanta o mastro e faz o tambor de crioula e vamo dançar o tambor de crioula… aí também o tambo de promessa...tem gente que faz promessa pra Sao Benedito, pra rezar meio dia, tocar tambor o dia todo… é outr ritual… mas sempre isso aí cai é m is em terreiro, mas quando cai em terreiro a gente dança, quando cai em festejo a gente dança, quando é pra dançar nas ruas a gente dança, e é assim… DOLORES Arquivo MVI_5038 (min 2:00 ao 2:42) No interior era tambor de promessa, era de ano a ano, Tambor de Sao Benedito… Nao tinha problema de cultura, agora de certos anos pra cá que virou tambor de cultura, entendeu… Mas antes era só ambor de Promessa que existia, de ano a ano… (pergunto se é diferente) Não, é o mesmo tambor! Mas só que era tambor de promessa, que eles faziam promessa pra S. Benedito, matava o boi, matava o porco, fazia bolo… fazia assim sexta-feira pra fazer o tambor era sábado, assim é qu era...se chamava, se chama Tambor de Promessa… (min 4:30 ao 5:04) São Benedito era escravo, era cozinheiro, era escravo… Hoje em dia ele botou, ele sendo um santo respeitado! Hoje em dia São Benedito é respeitado, noutro tempo S. Benedito não era respeitado, hoje em dia ele é um santo respeitado! Ele largou de ser escravo e botou os homens e as mulher pra ser escravo dele… Entendeu… É isso aí, se era isso que tu queria saber, tô te dizendo! 2. O RITUAL (Temas: personagens, indumentária, formação da roda, a dança em si, para quem se dança) LUANA Arquivo MVI_5015 (min 0:12 ao 0:59) Eu adoro dançar tambor né… Eu gosto da brincadeira, a brincadeira de brincar, vou te tirar da roda! Né, então tem muito isso… Como é qu você vai e enxota a outra dali, agora é minha vez de dançar! Então assim, eu levo o tambor como essa brincadeira que vai fazendo meu corpo se mexer… Eu não tenho um mega sentimento, nem é… u fico naquela, aquilo pra mim é gostoso, brincado! 26 (min 1:02 ao 2:06) Eu acho que a roda ela traz mil e uma perspectivas né...Muito difícil eu te falar sem te falar como pesquisadora né, mas a roda ela traz essa perspectiva de dança sem hierarquia né, então é muito legal, mas as vezes o tambor tem sua hierarquia né… A coreira mais velha você sempre respeita mais, mas essa formatação de dança ela traz esse processo sem hierárquico, assim... todo mundo ali é igual, todo mundo ta junto meio misturado, eu gosto muito assim da questão da roda do tambor e da troca de energia que há, quando o tambor tá muito pegado assim há uma troca de energia muito intensa, tanto das coreiras entre si, quanto das coreiras com os tocadores, até de quem tá puxando o canto, tudo isso dá uma...ali parece que circula uma energia toda especial! (min 5:24 ao 5:56) (pergunto se a saia é importante) A saia é importante, a saia é muito importante… Eu acho que a saia ela representa aquele movimento, pra mim a saia quando ela roda ela faz a própria configuração, ELA configura a roda… Ela dá todo, muito do gingado do tambor de crioula, muito do movimento, você percebe que o movimento não fica só no corpo mas também na indumentária (min 11: 23 até o fim) (pergunto sobre os gritos) É pra você de animar, é pra você ir! Eu sempre vejo assim… Ou então pra você instigar uma rodada maior… pra você subir, ah o tambor ta caindo, o vai coreira é também p a ver se você anima os tamborzeiros que tão lá… tudo isso vai rolando nesse meio assim, é muito legal! Então você tá dançando bem, alguém grita VAI COREIRA, né..CONTINUA… (APENAS ÁUDIO) (pergunto se tem haver com a essência do ser coreira) Eu acho que tem né, o vai coreira...tem também lgumas palavras fortes né… RECEBA! Pra você ir lá e dançar, pra você se soltar nesse tambor… ROSA Arquivo MVI_5025 (min 5:45 ao 6:20) A saia com certeza tem sua força, até porque no baiar do tambor se você dança, se você pode pegar a saia você se balança, roda prum lado, roda pro outro… e o lindo do tambor de crioula é quando as baianas, as coreiras na verdade começam dançar e começam a rodar porque suas saias ficam todas abertas, então fica muito lindo quando você pega esse olhar das coreiras dançando, rodando...você vê o efeito das saias como fica lindo, entendeu 27 (min 6:21 ao 7:03) (pergunto o que representa a roda) A roda representa sim… com certeza… acho que passa energia… Quando um tambor de crioula tá pra cima, tá aquele pegado! Aquela batida massa que tu dança, que tu sente, que tu não tem vontade de parar, tu esquece até do cansaço! Tu pode tá morrendo de cansado, mas se o tambor ta massa, ta pro alto, tá aquele gingado todo você se anima, você vai… você dança, você se liberta naquela hora. Você sente seu corpo mais leve, bem leve ainda… (min 7:10 ao 8:09) (pergunto das relações dentro da roda, dos gritos) Ah aí.. a gente se anima bastante, até porque a gente ve como as coreiras dançam, se elas tão alegre e dançam e rebolam na frente do tambor e a gente grita! Grita AI COREIRA! A gente vai sair gritando por que isso aí é uma forma de libertação, é uma forma da gente tá dançando, ali, tá livre, se sentindo leve, pra cima… Por que o tambor é isso… quanto mais tu dança, quanto mais tu vê, dependendo do coreiro que esteja tocando, se o tambor for tocado com vontade, aquela batida pra cima, você se anima, você dança, você se liberta...então quando a roda tá assim… como eu digo… tá pra cima mesmo! ta alegre, todo mundo alegre então flui bastante… (min 9:46 ao 10:40) Mais dos coreiros, por que tem uns que querem tocar mais, tem uns que se acham mais… aí não querem deixar o outro tocar… Ah por que tu toca ruim, tu toca asssim… Por que cada um toca de um jeito, então acaba sendo essa desavença de achar: ah por que ele toca de um jeito, ah ele toca e canta de outro jeito… Então sempre tem essas desavenças, umas discussões assim que se pararem pra pensar cada um toca de um jeito, cada um sabe de uma forma… Mas só q e aí quando se entra os três tambores, pra tocar junto, os três juntos aí flui bastante DONA ROXA Arquivo MVI_5111 (min 2:22 ao 4:49) Ah o ritual do tambor é esse...é assim por exemplo, festa de divino...terreiro! sabe o que é terreiro ? tem casa de festa de divino que é num terreiro então eles pedem no dia que levanta o mastro um tambor de crioula… aí a gente levanta o mastro e faz o tambor de crioula e vamo dançar o tambor de crioula… aí também o tambor de promessa...tem gente que faz promessa pra Sao Benedito, pra rezar meio dia, tocar tambor o dia todo… é outr 28 ritual… mas sempre isso aí cai é m is em terreiro, mas quando cai em terreiro a gente dança, quando cai em festejo a gente dança, quando é pra dançar nas ruas a gente dança, e é assim… (pergunto sobre alguma história) Não assim de terreiro não...eu só p rticipo assim quando eu to com tambor… Hoje nóis vai tocar num terreiro assim, assim, vamo pagar uma promessa, daí nós vamos pagar essa promessa. Daí nós faz um ritual: é rezar, é ter aquele café, é ter um almoço, é ter a jantar, café com bolo… é essa histó ia aí. E muita cachaça! Que tem que ter a cachaça que é pro povo, todo mundo ficar bonito, ficar alegre, ficar satisfeito… e é assim! (pergunto se a cachaça trouxe alguma história) Não, dentro dessa cachaça só rola mesmo cantiga! Aí a gente vai prosear, vamos cantar, vamos botar verso… e aí enquanto esquenta eu canto, aí outro bota outra coisa, bota outra coisa… a gente fica brincando ali, enquanto o tambor ta esquentando a gente fica brincando até o tambor voltar de novo e a gente começa a dançar (pergunto se o tambor é um brincadeira) É uma grande brincadeira e uma grande… é porque diz assim: o tambor de crioula é uma grande brincadeira, é uma brincadeira mas é uma brincadeira sé ia! É… (pergunto por que) Por que a gente tem que ter respeito com aquela história, tem que ter respeito com São Benedito… A gente tem que ter respeito com as dançarinas, por que as veze as dançarina não sabe dançar e chega e diz pra mim: Mestra, eu quero dançar com a senhora… Então eu tenho que procurar ter carinho com elas, ensinar elas devagar...tá vendo… Aí quando elas diz assim: Mestra, eu quero ver vocês dançar! Aí eu vou dançar! Aí eu danço, eu ensino elas cantar...vamo tomar uma cervejinha, um vinho, uma coisa… e é assim! (min 5:20 ao 6:31) Mestra eu quero dançar! Aí eu vou lá pego uma saia, tá aqui vista… Ela vai se veste, boto no cordão, vamo dançar… Eu ainda não sei… Fica prestando atenção em mim! Aí eu vou, danço primeiramente, ensino ela entrar, pungar...me pungar na boca do tambor, aí eu saio e ela entra e fica dançando. (a saia tem significado) A saia… tem! A saia, você… o significado da roupa do tambor é você se arrumar bem, botar um… se você gostar, quem goste e quem não goste! Um short, uma saia justa por baixo, uma anágua bem alvinha cheia de renda… uma blusa bonita, cheia de colar, cheia de brinco, bem arrumadinha, um torço na cabeça, um turbante bem bonito, e cai na boca do 29 tambor pra dançar sem pena! Por que a COREIRA ela tem que ser bonita! (o que é ser coreira) Ser coreira é a dançadeira de tambor! Por que as dançadeira de tambor é coreira e os tocador são os coreiro… Agora os cantadores é o mestre (min 6:42 ao 7:30) As mulher maranhense tão aqui dançando, se divertindo.. Se você vem lá de outra cidade pra cá, claro que nós vamos te receber, principalmente se você chegar na roda do tambor de São Benedito e querer dançar! Se tiver saia, com certeza já! Se não tiver saia eu não vou aceitar você entrar nem de short nem de calça, nem de roupinha curta não! Não vou aceitar que é pra não estragar a histó ia… é todo mundo bem bonitinho, bem arrumadinho. (min 7:38 ao 8:17) (pergunto se a roda tem significado) Tem, tem que ter! Porque a roda...nós tamos aqui, o tambor tá tocando bem aqui e eu vou sair daquela porta ali aí eu venho tenho que fazer a roda, passo no tamborzinho pequeninho, venho pro meião, passo no grande, volto de novo, quando eu passar as coreiras já fecharam uma numa ponta, outra noutra e eu tenho que ficar dançando no tambor grande. Faz de conta que a gente tá conversando com os tambores, na hora que a gente entra né...fazendo aquela coisa bonita, sorrindo, cantando! Porque quem sabe canta, quem não sabe grita! E fica lindo o tambor de crioula! (min 8:27 ao 9:37) (pergunto como funciona o fim da roda) Aí nós tamo na roda como eu já te expliquei, então na hora que o tambor, que o cantador canta pra terminar o tambor, eu já sei. Aí eu saio na frente, faço uma fila, aí elas vem atrás de mim, aí nós vem aqui assim e aí quando dá duas volta, aí na hora que ele canta: vou saindo; a que tá aqui atrás de mim sai e as outras vão com ela e eu fico, fico sozinha na roda que é pra mim levar o tambor, o tambor grande pra passear comigo assim ó e ir comigo atrás dela até...quando eles tocam o apito, aí terminou o tambor...aí eu me abraço com o cabra que tá tocando o tambor e pronto, terminou! (pergunto se o tambor então é livre) Pra todo mundo que queira entrar, dançar, aprender...quer aprender a dançar tambor vem aprender a dançar tambor com Roxa no LABORART, eu to aqui pronta pra ensinar quem quer ajudar, quem dançar tambor, pois eu to aqui! DOLORES Arquivo MVI_5039 30 (min 0:12 até 0:58) Eu danço tambor de crioula por que eu gosto! É que agora eu trouxe pouca volta, pouca coisa… disse ah não vou levar muita coisa não. Isso é pra botar no pescoço pra enfeitar, é...eu tenho uma porção! Isso aqui eu ganhei, eu tenho um amarelo eu ganhei, eu ia trazer mas disse levo só sse vermelho aqui… agora isso aqui eu compro, isso eu compro...aí revendo o que faço...deixei a maioria...trouxe pouco colar Aí quando eu encho o pescoço de tanta volta aí eles ficam doido! Ficam tirando meu retrato, meu retrato, meu retrato! 3. EXPERIÊNCIAS-SER MULHER NO TAMBOR (Temas: quem são as mulheres que dançam tambor, sensações que o tambor desperta, histórias do tambor ligadas a família) LUANA ARQUIVO MVI_5013 (min 0:38 ao 1:15) Bom, eu sou Luana, eu sou dançarina, sou também formada em Dança, graduada em Dança. E também danço tambor de crioula já há alguns anos, conheci com minha mãe, desde que me entendo por gente minha mãe dança né...papai tocava tambor, né...nunca foi um exímio tocar e um péssimo cantor, mas era estudioso… e produtor do Tambor de Crioula… até no víd o do IPHAN ele dá umas entrevistas, quando o tambor foi tombado ele fala algumas coisas sobre o tambor, sobre a perspectiva dele e do próprio grupo da gente que é o LABORARTE… no período da década de 80 ainda como era visto o tambor pela sociedade e como isso aos poucos foi se modificando, até pela própria pesquisa da universidade, novas pessoas se interessando e pesquisando, essa nova perspectiva antropológica, social de pesquisa do tambor de crioula foi dando uma nova percepção pra pessoas que tavam na UFMA, outras pessoas além das que faziam tambor de crioula na época (min 3:44 ao 4:37) O tambor entrou na minha família assim, né… u já dançava outras coisas antes de dançar tambor… eu já fazia capoeira desde criança… o tambor praticamente foi o último a entrar na minha vida, então eu comecei a dançar cacuriá… eu não conseguia entender muito meu corpo no tambor, né… eu acho até q e tinha uma perspectiva também ou té um pou o um olhar ainda que eu procurava me distanciar um pouco, mas aí aos poucos né, eu tinha uns 31 15 anos, eu fui me interessando por começar a dançar… na época eu me lembro que eu não gostava muito de dançar em apresentação, ah o tambor vai se apresentar em algum lugar, eu preferia dançar nas rodas informais, então...ah vamo fazer uma roda ali pra se confraternizar aí uma hora ou outra eu pegava um saia, eu ia e entrava pra dançar… eu sempre gostei de fazer assim… o tambor tem essa relação comigo que é uma relação mais dá… por exemplo as outras coisas eu danço (APENAS ÁUDIO) a nível de apresentação, o tambor ele tem uma relação comigo que eu gosto que ela seja até m io informal, assim… eu gosto de dançar… ARQUIVO MVI_5014 … aí danço, saio, converso aí vou pra roda, aí tomo uma cerveja… eu gosto dessa relação informal, eu não gosto dessa formatação de tambor pra apresentação, nenhum preconceito! Eu danço pra apresentação, mas eu gosto dessa relação mais informal (pergunto se é pessoal ou se tem haver com a cultura popular) É algo totalmente pessoal, por que assim eu danço cacuriá que é cultura popular, eu faço capoeira, mas eu gosto da perspectiva do tambor por que eu acho que ele é mais gostoso quando ele é uma roda informal assim… você vai pra casa de alguém, se reune, ou vai pra uma festa lá fechada (APENAS AUDIO) e nessa roda o povo começa a fazer tambor aí acaba tendo uma perspectiva mais… eu acho que é mais interativo, ele é mais gostoso assim, é isso que eu acho, isso pra mim ARQUIVO MVI_5015 (min 0:12 ao 0:59) Ah eu adoro dançar tambor! Eu gosto da brincadeira… Eu me lembro assim toda vez que eu vou dançar tambor eu gosto muito da brincadeira… Da brincadeira de eu vou te tirar da roda! Né… eu acho que o tambor tem muito isso assim… como é que você vai e enxota a outra dali e agora é minha vez de dançar, então assim eu levo o tambor como essa brincadeira que vai fazendo meu corpo se mexer assim...eu acho que é muito isso, eu não tenho um mega sentimento, aquilo pra mim é gostoso, é brincado! (min 6:00 ao 8:27) Bom eu fiz o meu trabalho de pesquisa em dança ele juntava tambor, a minha experiência com a cultura popular, também cabei falando um pouco do tambor e tal… Mas eu tive várias experiências com o tambor assim, desde boas até ruins né… De muito boas, de tá lá e a roda entrar nessa energias que às vezes a gente se perde nessa energia que tá rolando 32 na roda e tal, tive experiências muito boas… Ah e também tive experiências muito ruins assim, coreiras que as vezes não querem deixar a gente dançar! Então tem de tudo assim no tambor… (pergunto se acontece disputa de ego) Ah! Se rola! Ali tem lugar que tem uma disputa de ego muito grande… e a hora da punga você vê muito isso também né, às vezes essa disputa de ego do tambor (peço pra ela explicar) Por exemplo, a mulher tá dançando ali e uma hora ou outra ela vai te tirar e ela tira com mais força, ela tira com deboche, com desdém ou ela vira, em vez de ela pungar ventre com ventre ela tira de lado… Ah tem uma hora que é brincadeira, mas tem hora que é meio disputa de ego ali, na hora da punga né… Tudo isso dá pra ser visto, tem muita disputa de ego do tambor, das mulheres...tem! Como existe dos tocadores também, de tocador chegar lá: ah tu não tá tocando bem! Se jogar assim na frente do outro, daí entra de uma vez assim na frente do coreiro do tambor… já vi isso acontecer… o cara ta tocando no meião e ele entra assim no tambor tomando a frente um do outro, acontece! E as mulheres também! Ah, essa daí não tá dançando direito! Então ela pega e na mesma hora vai lá e tira! Ou então, esse aí é engraçado, é… namorado de alguém tá no tambor grande como o tambor se dança normalmente para o tambor grande, no tambor grande, é… você dança e às vezes você tá olhando pro tocador do tambor grande, ele tá te olhando, ah a namorada dele vem e te tira na bruxa assim! As vezes acontece… (mas é tudo só brincadeira mesmo) Normalmente é brincadeira, as vezes isso vira… já vi algumas coisas de virar… de depois ter indisposições por conta dessas coisas, mas normalmente é com brincadeira! Até quando eu vou te tirar assim, ah capa pra fora aí! Mas normalmente é com brincadeira, mas eu já vi acontecer de terem desentendimentos depois assim da roda (pergunto o que o tambor ensinou) O tambor faz parte desse meu processo de pertencimento e auto identificação na cultura popular, a cultura popular em si, o tambor de crioula inclusivo, o cacuriá, a capoeira, o bumba meu boi, tudo isso, ele formou meu processo de auto identificação que eu tenho hoje assim ne! Que também é mutável! Formou essa identidade assim que permeia, que eu vivo ela hoje e me coloca no local que eu estou, que eu gosto de estar (pergunto quem é a Luana que dança tambor de crioula) Ah, sou eu! O tempo todo mudando né em modificação, mas sou eu...essa pessoa que gosta, que tem esse respeito principalmente pelos que eu chamo de griôs, essas pessoas 33 que contam com esse saber tradicional, que tem sua vivência as vezes muito diferente da que eu vivi e a gente aprender com os saberes deles, eu acho que isso é muito importante! Como eu me vejo hoje na sociedade (pergunto o que é ser coreira) O que é ser coreira, hahaha… Eu não sei te dizer, eu não tenho uma resposta específica pra isso… é tá ali na roda e vivenciar! Não só ançar! Mas vivenciar tudo aquilo que tá acontecendo, a roda, as conversas, é ser partícipe daquilo! ARQUIVO MVI_5016 (min 0:24 ao 1:00) Comecei a vivenciar tambor a partir dos meus pais, que já eram pesquisadores… Minha mãe não nasceu dançando tambor de crioula foi dançar porque namorava com papai e papai vivia seguindo tambor… Vish mamãe dança demais! Cata tambor! Vai pra tambor lá no interior de não sei aonde… Papai também s metia assim nos tambores pra pesquisa sabe… ROSA ARQUIVO MVI_5025 (início até 3:49) Eu sou Rosa Arouche tenho 32 anos faço parte… sou feminista… faço parte da marcha mundial das mulheres, é. .tanto do estadual quanto do nacional… faço parte do grupo de teatro NAFEM que é o núcleo artístico feminista e faço parte do coletivo, instituto coletivo BANTU KUNLÊ que trabalha sobre...pessoas negras… a maioria lá é negra (pergunto como ela conheceu o Tambor de Crioula) Ah o Tambor de Crioula tem bastante tempo que eu conheço e tal e assim sempre da cultura de dentro estado eu gosto de tudo da cultura… tambor de crioula, cacuriá, quadrilha...eu procuro saber, me informar e acabo que me envolvendo, fazendo algumas oficinas pra poder ter um pouco do conhecimento de como se faz de como se toca, de como acontece… e o Tambor de Crioula mexe comigo desde a infância por que eu sempre… quando tem roda de tambor de Crioula eu to sempre lá olhando… gosto de ver, gosto de dançar, o Tambor de Crioula entrou na minha vida ano passado, foi quando eu comecei assim de fato a fazer oficinas, a aprender a dançar, a tocar os três tambores aqui no LABORARTE mesmo (pergunto se além de dançar ela toca) É, além de dançar eu to começando a tocar, na verdade cada dia é um aprendizado… não vou dizer que sei tocar os três por que não sei, então gradativamente vou aprendendo a 34 tocar os três tambores (pergunto a diferença entre tocar e dançar) Dançar tu te sente livre, te sente liberta… Com a música, com o toque do tambor você se anima, se balança, mesmo que você não saiba dançar, não saiba tocar… quando você escuta o tambor você já se balança, pelo menos já sabe que tá lá no sangue! Aí quando você se envolve pra aprender a dançar, aprender a dançar, aprender a tocar, aprender a cantar, então você já se sente livre, se sente tão bem, tão leve que você vai dançando, vai baiando e vai indo! (pergunto se tocar é diferente) Tocar é diferente, é complicado… mas aí a gente vai fazendo! Vai pegando um toque daqui, um toque de outro… um ensina de um jeito, um ensina de outro… e aí você vai pegando o jeito até chegar num ponto em que você saiba tocar… então assim, tem que ralar mesmo… tem que meter a mão no couro se quiser aprender a tocar os tambores (min 8:14 ao 9:45) (pergunto se o tambor já ensinou algo a ela) Ah acho que mais na forma de respeito… ele ensina a gente ter, como posso dizer… a gente se valorizar! Valorizar a cultura! Por que quando a gente pensa que tem um tabor ali, ah um tambor… um tambor nada. Só um ambor, pra tocar, tocar por tocar! Tu não vê nada disso. Agora um tambor que você vê, que a galera gosta, que vai que gosta mesmo do tambor que vai porque tem aquela paixão pela cultura então você vê um tambor bem diferente. Aí você passa a respeitar as pessoas que tocam, as pessoas que dançam....você começa a ter bastante respeito com isso. Então você se sente mais liberta e tem um pouco de respeitar todo mundo, nem que seja uma criança que esteja lá você respeita… (min 9:46 ao 10:40 sobre desavenças no tambor) Mais dos coreiros, por que tem uns que querem tocar mais, tem uns que se acham mais… aí não querem deixar o outro tocar… Ah por que tu toca ruim, tu toca asssim… Por que cada um toca de um jeito, então acaba sendo essa desavença de achar: ah por que ele toca de um jeito, ah ele toca e canta de outro jeito… Então sempre tem essas desavenças, umas discussões assim que se pararem pra pensar cada um toca de um jeito, cada um sabe de uma forma… Mas só q e aí quando se entra os três tambores, pra tocar junto, os três juntos aí flui bastante (min 10:50 ao 12 quem é a mulher do tambor de crioula) A mulher do tambor de crioula pra mim eu acho assim é aquela que canta, é aquela que toca, aquela que se anima, que ta sempre pro alto! Ah tem tambor na casa de fulano, eu 35 vou lá e danço, me jogo me liberto… Ah tem tambor ali, bora la! Essa é a mulher do tambor! É a mulher que representa, é a mulher que gosta! É a mulher que olha, vai atrás, é a mulher que tá sempre naquela jogada de não achar assim ah é só aquele tambor, é só aquele que dá pra fazer… não, a mulher do tambor sabe se reinventar em alguns tambores. Pode ser um tambor diferente daquele que ela dança, mas se ela gosta ela tá lá… Ela permeia… ARQUIVO MVI_5026 (pergunto se ser coreira é ser livre) Com certeza, ser coreira é ser livre! Coreira é aquela que respeita a que entra, a que sabe entrar e sair numa roda, isso é ser coreira! Então, fora disso eu acho que não tem nada de diferente, porque ser coreira é isso, é você saber entrar, você saber dançar, você saber botar aquele verso, é cantar… tudo isso ajuda numa roda de Tambor de Crioula DONA ROXA ARQUIVO MVI_5110 Ah sim… tem que dizer tudo, ou só met de das coisas… Boa tarde! Meu nome é Maria da Graça Mota Belfort, mas eu sempre gosto de ser chamada por ROXA ou mestra ROXA ou Santa Roxinha, como quiserem chamar... ARQUIVO MVI_5111 (início até 1:44) Tudo meu Roxa… Diz por que eu era uma Roxa bonita, aí botaram Roxa, Roxa pra cá, Roxa pra lá e ficou! (pergunto a quanto tempo ela dança tambor) Desde 7 anos de idade… Eu aprendi a dançar tambor por que meu pai era dono de grupo, minha mãe era dançadeira de tambor, meus avós ambém ra dono de grupo de tambor… (pergunto que grupo que era) Era um grupo do interior, do município de Itapecuru… Eu sou do município de Itapecuru, de Santa Rosa… (pergunto como foi aqui em São Luís) Aqui em São Luís, quando eu cheguei aqui em São Luís, eu vim pra cá com meu irmão, nós fomos morar na estrada do Ribamar num sítio, aí desse sítio uma senhora me pediu pra ele… Dona Magnól a o nome dela, me pediu pra ele pra mim vir morar com ela no Monte Castelo, aí eu vim morar no Monte Castelo com ela, aí daí quando tinha tambor, ela gostava de tambor e aí ela me levava pros Tambor...aí eu ia dançar… Quando eu ia pro meu interior, a gente fazia festa de tambor a noite toda aí eu dançava a noite toda, entendeu… aí quando eu completei dezoito anos eu fui morar no Coroadinho, quando eu fui morar no 36 Coroadinho aí Felipe, Mestre Felipe me viu dançando Tambor aí me convidou pra mim ir pro grupo dele. Aí eu fui pro grupo de Felipe, aí comecei a dançar com Felipe, trabalhar com Felipe, aí comecei a dar oficina aqui no LABORARTE, aí Nelson Brito me chamou pra cá pro LABORARTE e eu fiquei com Felipe e com o LABORARTE. Aí eu sou de frente do Tambor de Mestre Felipe e do Tambor do LABORARTE (min 1:45 ao 2:18) (pergunto como é dançar tambor de crioula) Minha filha coisa melhor do mundo! É muito bom a gente dançar tambor! Porque se você tá em casa no dia a dia toda aborrecida, cheia de dor nos nervos, joelho...vai dançar tambor que fica boa! É muito bom dançar tambor! Aí com esses mestres eu aprendi, mestre Felipe principalmente, aí eu aprendi a cantar e dançar… bater eu não gosto por que minha mão dói… as cantar e dançar eu sei! (min 5:22 ao 5:41- como ensina a dançar) Mestra eu quero dançar! Aí eu vou lá pego uma saia, tá aqui vista… Ela vai se veste, boto no cordão, vamo dançar… Eu ainda não sei… Fica prestando atenção em mim! Aí eu vou, danço primeiramente, ensino ela entrar, pungar...me pungar na boca do tambor, aí eu saio e ela entra e fica dançando. DOLORES ARQUIVO MVI_5038 (início ao 4:10) Ah eu danço tambor de crioula com idade de 5 anos...desde o interior! Eu sou de alcântara, Santo Inácio, município de Alcântara… dançar tambor de crioula da idade dessa minha bisneta minha aí...essa aí é minha bisneta… Danço tambor de crioula há muitos anos, desde de criança, desde criança, desde de criança mesmo aprendi a dançar tambor de crioula… no interior, não foi aqui, no interior mesmo! No interior nesse ponto era tambor de promessa, era de ano a ano, tambor de São Benedito. De ano a ano eles faziam festa pra S. Benedito. Não tinha problema de cultura...agora de certos anos pra cá que… cultura, entendeu. Mas antes era só ambor de promessa, de ano a ano (pergunto se é diferente) Não, é o mesmo tambor! Mas só que era tambor de promessa, que eles faziam promessa pra S. Benedito, matava o boi, matava o porco, fazia bolo… fazia assim sexta-feira pra fazer o tambor era sábado, assim é que era...se chamava, se chama Tambor de Promessa… Eu fui aprender a dançar no Tambor de promessa, assim..! Minha mãe ia, me levava e eu ia 37 e dançava, ficava dançando pela beirada da casa...Aí eu fui crescendo, fui crescendo, na idade dessa minha bisneta aí comecei a dançar junto com as mulher, na boca do tambor mesmo, aí eu aprendi! Não foi aqui que eu aprendi a dançar tambor de crioula, foi no interior, no interior mesmo! Junto de minha mãe, minha família é toda chegada no tambor de crioula, todas! Era o pai da minha mãe, tio da minha mãe, minha mãe, meus tios… tudinho chegado. Essa minha filha minha aí, faz uma promessa todo ano pra S. Benedito, a madrinha dela que ela foi criada fazia tambor de S. Benedito, véspera de reis...todo tempo promessa tambor de S. Benedito… então eu aprendi a dançar tambor de crioula no interior mesmo… Sou nascida e criada, posso dizer que sou nascida e criada dentro do tambor de crioula e gosto de tambor de crioula. Enquanto eu puder dançar tambor de crioula, enquanto vida eu tiver e S. Benedito puder me ajudar eu puder dançar tambor de crioula eu danço! Agora quando eu não puder mais paciência, eu tenho meus problemas no meus joelhos, principalmente nesse aqui e nesse outro aqui, então… quando eu não puder mais eu não danço mais, mas enquanto eu puder dançar eu danço (min 4:12 ao 4:29) Eu me sinto feliz! Me sinto bem… dançando tambor de crioula...Quando eu chego em casa tomo um banho, almoço, janto, durmo de manhã amanheço to com outro aspecto, to com outro ar, me sinto bem.... (min 5:05 ao 5:54) Eu sou uma escrava de S. Benedito, enquanto vida eu tiver eu sou escrava de S. Benedito. Enquanto eu puder dançar tambor de crioula eu danço! Domingo nós tava pro lava prato do Ribamar, com aquela chuva todinha eu tava! Tá aí esse aí ó… não foi Paulinho… Nó fomos dançar tambor de 5 horas pras 6 horas lá no Ribamar, na porta da igreja de São José de Ribamar e eu dentro com eles… Debaixo de chuva! Com a roupa mesmo, molhada assim mesmo! Sapatilha tudo molhada… mas nego tá dançando assim mesmo… Tem problema nenhum… Quando termina nego tá mais penso prum lado, penso pra outro, por que a roupa pesa, é pesada, aí...termina todo mundo vem embora! ARQUIVO MVI_5039 (min 0:58 ao 3:21) No Ribamar tinha um… um cara, um rapaz lá disse assim: a senhora parece com não sei quem, de gente dele, eu disse, eu… a senhora dança tambor da onde… eu danço tambor desde o interior, eu não danço tambor daqui, eu não aprendi a dançar tambor daqui não, eu danço tambor desde o interior, tambor desde criança… e gosto de dançar tambor! Eu não 38 posso mais, mas eu gosto de dançar tambor! (pergunto se é por causa do joelho) Não mas o joelho não dói! ói depois… o oelho não dói! Eu ndo ele não dói… ó aí ó sse aqui é ais inchado que esse… ele não dói agora amanhã de tarde é que vão doer! Se eu não dançar piora pra mim! Se eu não dançar piora porque é a única coisa que eu tenho porque eu não vou num reggae, eu não vou em nada, a única dança que eu tenho é só ambor de crioula… Só tambo de crioula… Falar a verdade é preciso não é só tambor de crioula que eu danço, eu danço os dois! (tambor de crioula e tambor…) de Mina! Danço! Quando eu comecei a dançar tambor de mina, por que não adianta eu esconder… quando eu comecei a dançar tambor de mina eu não tinha um neto, só tinha filho! Danço tambor de mina há muitos anos, não tinha um neto, só tinha filho, não tinha um neto… Eu neto só tive...três dessa aí, que é só enina… só qu tro neto, só numa parte… três, quatro, cinco… três de Marilurde… um de Miuda quatro, cinco… de seu Zé, seu Zé tem quatro também! Tenho pouco neto, só ive três filhos… só enho filho homem! (min 3:48 ao 5:56-sobre tambor de Mina e envolvimento da família) To te dizendo que danço tambor de Mina eu não tinha nem neto, eu só tinha filho! Danço tambor de Mina tem muitos anos… mas agora que eu parei, porque eu não tenho mais mãe de santo… Aí eu parei… Parei não, quando eu acho eu vou, quando eu não acho eu não vou… Não adianta esconder, quem me conhece sabe… (porque esconder) Por que tem gente que não gosta, não quer saber… eu não gosto, eu digo mas eu não gosto (pergunto se tem haver com preconceito com a religião) Não, mas eu não tenho, mas eu não gosto! Porque tem gente que faz crítica, que é caçoada...Mas eu danço tambor de mina há muitos anos… To te dizendo que eu não tinha nenhum filho, nenhum neto, só inha filho… Nós d nçava na estrada de Ribamar, lá mesmo por dentro dos matos… E agora minhas filhas todas duas dançam...Todas duas dançam, essa que tá aqui a mais velha… o rapaz não dança, mas é… a minha duas netas, tenho duas que são também… Minha família são tudo escaldado! Tudinho, não tem um! Tem uma irmã, um sobrinho meu que morreu… Tudinho escaldado… 3. QUESTÕES DE GÊNERO; IDENTIDADE LUANA ARQUIVO MVI_5015 39 (min 2:03 ao 4:01) Existe uma perspectiva bem machista ainda no Tambor de Crioula assim e com os mestres mais antigos ainda bem mais… Por que às vezes você tem mulheres que seguram o tambor, seguram o meião, o criavador até o tambor grande muito bem! Mas só que os coreiros eles sempre praticamente não gostam de deixar a mulher ir lá tocar né, isso não sou eu que digo é comum você olha isso nas rodas, assim… E a questão do homem dançar isso é uma questão até, porque por exemplo em alguns outros municípios do Maranhão você percebe que há um... tem tambor de crioula, tem a roda de homem, tem homem que dança. Só que é uma dança totalmente diferente! Deus me livre entrar naquele dança de homem, que é um empurra empurra, o povo jogo o outro no chão… Mas você olha , o tambor de Anajatuba, em Icatu, tem tambor que é feito por homens, que os homens dançam! Tem a dança deles. Mas assim nessa perspectiva de quando a mulher vai querer pra tocar isso é muito mais difícil. Cantar você ainda percebe várias mulheres ainda puxando o canto, você consegue observar... mas nem isso assim, eles gostam de… tem uma hierarquia, na verdade acho que tem até um machismo cultural (min 4:14 ao 5:23) Várias pesquisas falam de pensar o tambor numa perspectiva de fertilidade assim que a punga ela representa muito isso, as próprias pungas que nada mais é que uma umbigada, elas representam fertilidade, a junção dos ventres e tal...mas eu acho ótimo, eu gosto de só mulher estar dançando, também acho que não me importaria de tá dançando numa roda, já dancei em várias rodas assim, onde você, acaba a roda é mais aberta… ou então quando o tambor é muito tradicional o pessoal não deixa… alguns homens são de fora, aí tão querendo, querem entrar, a gente joga uma saia neles, eles vão e entram lá… Eu acho que assim quando entra homem eu também não me incomodo, eu acho que a gente também tem que às vezes se abrir… É ló ico as culturas populares tem seu tempo, a gente não pode querer mudar as coisas assim, mas eu não me incomodo quando vejo homens dançando, não é uma coisa que me incomoda quando homem bota a saia pra dançar… eu só acho que ali quando você resolve dançar que nem mulher tá dançando que ele bote uma saia, eu só cho isso… ARQUIVO MVI_5016 (min 1:06 ao 3:26) Ai, o que que é ser mulher no tambor de crioula… eu acho essa pergunta tão difícil… (muito ampla né)... É, ela é muito ampla né… A pró ria ser mulher, ainda ser mulher no tambor, bom a gente tem pelo menos um… diminuir a amplitude… Bom, eu acho que é ali catar seu 40 lugar ali naquele espaço assim, por exemplo cada vez mais eu vejo as mulheres no tambor de crioula galgando um espaço que também é um espaço machista né...E a gente vê essas mulheres também muita das vezes até infringindo algumas, porque por exemplo algumas coisas na cultura popular tem suas regras, no tambor de crioula tem várias! Ali uma forma de se auto afirmar como mulher, mas também de dizer assim: eu to aqui, eu também vou querer seguir para outros espaços. Eu acho que eu vejo muito isso hoje em dia né as mulheres vão lá e tem uma hora que elas: ah não to gostando desse tocador, tem mulher como Rosa Coreira, ela vai com apito ela diz que se o tocador tiver ruim ela pega e apita pro tambor acabar né… Rosa Coreira que é a Rosa Caxeira né… (ela manda mais que o tocador)... É! A própria Dona Roxa quando o tambor tá ruim ela fica logo de cara feia que é pra apitarem o tambor! Ou manda apitar assim… as mulheres vão, esse processo assim elas vão… porque eles tão lá tocando, mas se eles quiserem tocar e elas acharem que o tambor tá ruim elas não entram pra dançar, é muito comum assim… Então a mulher também vai procurando maneiras de se impor diante essa hierarquia que é machista né… nesse processo do tambor de crioula… e eu acho que ser mulher é se colocar ali, eu to aqui, to dançando, sou mulher, mas eu também quero dançar da maneira que eu acho que to confortável, que eu quero que isso aqui flua de um modo que flua pra todo mundo e fora isso também procurando cavar mais espaço, eu vejo isso hoje constante, mulheres hoje tocando, que levam seu apito, que entram puxando toada, ou que pegam tambor pra tocar… tudo isso você já consegue observar hoje ROSA ARQUIVO MVI_5025 (min 3:50 ao 5:34) A gente enfrenta por causa do machismo que reina ali dentro do tambor de crioula, porque mulher na realidade no tambor de crioula é pra dançar… dançar, cantar, fazer voz assim, mas nunca pra tocar… aí partir do momento que você sente vontade, aquela vontade de: ah vou aprender a tocar o tambor! Mas aí tem homens que vão dizer pra ti assim: mulher aqui é pra dançar, não é pra tocar, mas aí vai da tua força de vontade… (tu já enfrentou isso) Já, já enfrentei algumas vezes, mas eu supero! Enquanto tem uns que não queiram, tem outros que queiram que tu aprenda, que tu toca, que tu cante, que tu bota uns versos! E assim você vai se sentindo incentivada e vai aprendendo, vai tocando, vai pegando as manhas do tambor de crioula. (pergunto como foi) Ah aí eu respondi na hora! Ué, tem coisas que é pra mulher fazer e o homem não faz… Por 41 que que eu não posso fazer uma coisa que os homens faz… A gente luta por direito de igualdade, se você pode eu também posso! Entendeu… e assim eu fui acabando, fui levando em frente e hoje no LABORARTE eu toco...Toco às vezes, não sempre porque to em fase de aprendizado, tem coisas que eu sei, tem coisas que eu não sei, mas aí eu vou levando, vou conseguindo, fazendo aos poucos ARQUIVO MVI_5026 (min 1:04 ao 1:43) Rola um preconceito de acharem que as mulheres não podem tocar um tambor. De acharem que tambor de crioula e mulher é só ra dançar, é só pr rodar a saia e dançar… Acho que é pra isso que eles acham que as mulheres servem no tambor de crioula, sendo que a gente já tá provando que as mulheres podem tocar, pode botar um verso, pode criar música, pode dançar, além de dançar, pode tocar e dançar (min 2:24 ao 3:52) É um paradoxo né, por que os homens tem aquela imagem de achar que é só pra eles tocarem e cantarem lá no tambor e as mulheres só pr dançar… Só qu a gente vem mudando isso gradativamente com o grupo de mulheres que tem dentro do estado que correm atrás pra aprender a tocar, não só tocar mas aprender também a botar verso, a fazer suas melodias e assim gradativamente a gente vai ganhando espaço dentro de cada cultura, dentro de cada espaço que a gente tem… Então tipo no Tambor de Crioula a gente tá aos poucos caminhando né, já tem grupos que é só mulheres que tocam, tem grupos que é só mulheres tocando, mulheres dançando, como assim no interior tem Tambor de Crioula que é só homens, homem toca e dança, então mulheres não tem representatividade neles…Então aqui a gente gradativamente com grupo de mulheres, com grupos feministas, mulheres em geral assim andam agora… não é invadindo, mas tentando ter igualdade no mesmo espaço dos homens DONA ROXA (min 6:42 ao 7:30) Não, homem também pode dançar! Tando de saia! Tem umas pessoas, que já dançou comigo… essa pessoa já até faleceu, ele se arrumava como nós e dançava! 42 APÊNDICE 2 – Roteiro Final PARTE 1: ABERTURA - INTRODUÇÃO TELA PRETA FADE ENTRAM imagens da apresentação do tambor na praça Faustina. Essas imagens são entrecortadas por TELA PRETA COM CRÉDITOS (produção, direção, roteiro, um filme de, etc.) Com o fim da música, ao soar o apito, entram imagens do Tambor sendo finalizado FADE Entra a voz da SENHORA DOLORES e logo em seguida sua imagem SENHORA DOLORES São Benedito era escravo, era cozinheiro, era escravo... Hoje em dia ele botou, ele sendo um santo respeitado! Hoje em dia São Benedito é respeitado, noutro tempo S. Benedito na˜o era respeitado, hoje em dia ele é um santo respeitado! Ele largou de ser escravo e botou os homens e as mulher pra ser escravo dele... Entendeu... É isso aí, se era isso que tu queria saber, to te dizendo! FADE TEXTO DE ABERTURA TELA PRETA Texto: De origem afro-brasileira, o Tambor de Crioula é uma expressão típica da cultura popular Maranhense. Seu ritual consiste em uma dança circular embalada pela percurssão de três tambores. As mulheres que compõem a roda são denominadas coreiras. O ritual é feito a São Benedito, conhecido como santo protetor dos negros. FADE ENTRA TÍTULO : COREIRAS FADE 43 PARTE 2 - APRESENTAÇÃO DAS PERSONAGENS Entra GC SENHORA DOLORES SENHORA DOLORES Eu sou uma escrava de S. Benedito, enquanto vida eu tiver eu sou escrava de S. Benedito. Enquanto eu puder dançar tambor de crioula eu danço! Domingo nós tava pro lava prato do Ribamar, com aquela chuva todinha eu tava! Tá aí esse aí ó... não foi Paulinho... Nós fomos dançar tambor de 5 horas pras 6 horas lá no Ribamar, na porta da igreja de São José de Ribamar e eu dentro com eles... Debaixo de chuva! FADE DONA ROXA (V.O) Esse apelido vem da minha vó... por que diz que eu era muito bonita quando eu era pequena... toda bonitona, dos cabelão... daí ela me deu o apelido de ROXA Entra GC DONA ROXA DONA ROXA Desde 7 anos de idade... Eu aprendi a dançar tambor por que meu pai era dono de grupo, minha mãe era dançadeira de tambor, meus avós também era dono de grupo de tambor... (pergunto que grupo que era) Era um grupo do interior, do município de Itapecuru... Eu sou do município de Itapecuru, de Santa Rosa... (pergunto como foi aqui em São Luís) Aqui em São Luís, quando eu cheguei aqui em São Luís, eu vim pra cá com meu irmão, nós fomos morar na estrada do Ribamar num sítio, aí desse sítio uma senhora me pediu pra ele... Dona Magnólia o nome dela, me pediu pra ele pra mim vir morar com ela no Monte Castelo, aí eu vim morar no Monte Castelo 44 com ela, aí daí quando tinha tambor, ela gostava de tambor e aí ela me levava pros Tambor...aí eu ia dançar... FADE Entra GC ROSA ROSA (V.O) Eu sou Rosa Arouche tenho 32 anos faço parte... sou feminista... Entra imagem de Rosa dando seu depoimento ROSA Ah o Tambor de Crioula tem bastante tempo que eu conheço e tal e assim sempre da cultura de dentro estado eu gosto de tudo da cultura... tambor de crioula, cacuriá, quadrilha...eu procuro saber, me informar e acabo que me envolvendo, fazendo algumas oficinas pra poder ter um pouco do conhecimento de como se faz de como se toca, de como acontece... e o Tambor de Crioula mexe comigo desde a infância por que eu sempre... quando tem roda de tambor de Crioula eu to sempre lá olhando... gosto de ver, gosto de dançar FADE Entra GC Luana LUANA (V.O) O tambor entrou na minha família assim, né... eu já dançava outras coisas antes de dançar tambor... eu já fazia capoeira desde criança... Entra imagem de Luana dando seu depoimento LUANA O tambor praticamente foi o último a entrar na minha vida, então eu comecei a dançar cacuriá... eu não conseguia entender muito meu corpo no tambor, né...eu acho até que tinha uma perspectiva também ou até um pouco um olhar ainda que eu procurava me distanciar um pouco, mas aí aos poucos né, eu tinha uns 15 anos, eu fui me interessando por começar a dançar...Na época eu me lembro que eu não gostava muito de dançar em apresentação, ah o tambor vai se apresentar em algum 45 lugar, eu preferia dançar nas rodas informais, então...Ah vamo fazer uma roda ali pra se confraternizar aí uma hora ou outra eu pegava um saia, eu ia e entrava pra dançar, eu sempre gostei de fazer assim... o tambor tem essa relação comigo que é uma relação mais da...Por exemplo as outras coisas eu danço(apenas áudio) a nível de apresentação, o tambor ele tem uma relação comigo que eu gosto que ela seja até meio informal, assim... eu gosto de dançar... Entram imagens de INSERTS DA FAUSTINA (pessoas conversando, vestindo as saias, organizando a roda de tambor). Essas imagens seriam ilustrativas das falas de Luana e das outras que virão a seguir LUANA (V.O) (continuação) ...aí danço, saio, converso aí vou pra roda, aí tomo uma cerveja...eu gosto dessa relação informal... DONA ROXA (V.O) Daí nós faz um ritual: é rezar, é ter aquele café, é ter um almoço, é ter a jantar, café com bolo... é essa história aí. E muita cachaça! Que tem que ter a cachaça que é pro povo, todo mundo ficar bonito, ficar alegre, ficar satisfeito... é assim! Volta imagem da entrevista de Dona Roxa DONA ROXA (continuação) Aí a gente vai prosear, vamos cantar, vamos botar verso... e aí enquanto esquenta eu canto, aí outro bota outra coisa, bota outra coisa...A gente fica brincando ali, enquanto o tambor tá esquentando a gente fica brincando até o tambor voltar de novo e a gente começa a dançar CORTE SECO Entram imagens dos tambores na fogueira. Por alguns instantes contemplamos apenas isto CORTE SECO 46 PARTE 3 - SENSAÇÕES E SENTIMENTOS Entram imagens da PRAÇA da Capelinha de São Benedito Vemos imagens do santo e do seu altar SENHORA DOLORES (V.O) Eu me sinto feliz! Me sinto bem... dançando tambor de crioula... Quando eu chego em casa tomo um banho, almoço, janto, durmo de manhã, amanheço tô com outro aspecto, tô com outro ar, me sinto bem.... CORTE SECO DONA ROXA Minha filha coisa melhor do mundo! É muito bom a gente dançar tambor! Porque se você tá em casa no dia a dia toda aborrecida, cheia de dor nos nervos, joelho...vai dançar tambor que fica boa! É muito bom dançar tambor! CORTE SECO ROSA Dançar tu te sente livre, te sente liberta... Com a música, com o toque do tambor você se anima, se balança, mesmo que você não saiba dançar, não saiba tocar... quando você escuta o tambor você já se balança, pelo menos já sabe que tá lá no sangue! Aí quando você se envolve pra aprender a dançar, aprender a dançar, aprender a tocar... CORTE SECO LUANA Ah eu adoro dançar tambor! Eu gosto da brincadeira... Eu me lembro assim toda vez que eu vou dançar tambor eu gosto muito da brincadeira... Da brincadeira de eu vou te tirar da roda! Né... eu acho que o tambor tem muito isso assim como é que você vai e enxota a outra dali e agora é minha vez de dançar, então assim eu levo o tambor como essa brincadeira que vai fazendo meu corpo se mexer assim...eu acho que é muito isso, 47 eu não tenho um mega sentimento, aquilo pra mim é gostoso, é brincado! CORTE SECO DONA ROXA É uma grande brincadeira e uma grande... é porque diz assim: o tambor de crioula é uma grande brincadeira, é uma brincadeira mas é uma brincadeira séria! É...(pergunto por que) Por que a gente tem que ter respeito com aquela história, tem que ter respeito com S. Benedito... A gente tem que ter respeito com as dançarinas... CORTE SECO Vemos COREIRAS do Tambor Mestre Leonardo se arrumando para uma apresentação. Algumas se cumprimentam, trocam abraços e conversam coisas diversas. Elas estão se vestindo, colocando pulseiras e colares, ajudando umas as outras a por seus turbantes. Permanecemos com essas imagens por um tempo. Entra então a fala de Dona Roxa DONA ROXA (V.O) A saia... tem! A saia, você... o significado da roupa do tambor é você se arrumar bem botar um... se você gostar, quem goste e quem não goste! Um short, uma saia justa por baixo, uma anágua bem alvinha cheia de renda... uma blusa bonita, cheia de colar, cheia de brinco...Bem arrumadinha, um torço na cabeça, um turbante bem bonito, e cai na boca do tambor pra dançar sem pena! Por que a COREIRA ela tem que ser bonita! CORTE SECO Vemos as COREIRAS DO TAMBOR DE LEONARDO sentadas aguardando o início da apresentação. Por alguns segundos contemplamos elas ali sentadas. CORTE SECO Vemos imagens dos tambores sendo aquecidos. Os coreiros testam o couro. CORTE SECO Os coreiros e tocadores entram, elas se levantam. 48 Vemos imagens das coreiras de pé aguardando o início do tambor. A câmera dá um maior enfoque na indumentária e então entra a fala de Luana LUANA (V.O) ...Eu acho que a saia ela representa aquele movimento, pra mim a saia quando ela roda ela faz a própria configuração, ELA configura a roda... Entram imagens da apresentação do Tambor Mestre Leonardo. Vemos as coreiras dançando em roda, realizando a punga e rodopiando suas saias LUANA (V.O) (continuação) ...Ela dá todo, muito do gingado do tambor de crioula, muito do movimento, você percebe que o movimento não fica só no corpo mas também na indumentária Ainda vemos imagens da apresentação ROSA(V.O) A saia com certeza tem sua força, até porque no baiar do tambor se você dança, se você pode pegar a saia você se balança, roda prum lado, roda pro outro... e o lindo do tambor de crioula é quando as baianas, as coreiras na verdade comec¸am dançar e começam a rodar porque suas saias ficam todas abertas...então fica muito lindo quando você pega esse olhar das coreiras dançando, rodando...você vê o efeito das saias como fica lindo, entendeu? Ficamos ainda por alguns instantes observando imagens da apresentação. FADE Entra imagem da entrevista de Luana LUANA Eu acho que a roda ela traz mil e uma perspectivas né...Eu acho que a roda ela traz mil e uma perspectivas né...Muito difícil eu te falar sem te falar como 49 pesquisadora né, mas a roda ela traz essa perspectiva de dança sem hierarquia né, então é muito legal, mas as vezes o tambor tem sua hierarquia né... A coreira mais velha você sempre respeita mais, mas essa formatação de dança ela traz esse processo sem hierárquico, assim... todo mundo ali é igual, todo mundo ta junto meio misturado, eu gosto muito assim da questão da roda do tambor... FADE Voltam as imagens da apresentação LUANA(V.O) e da troca de energia que há, quando o tambor tá muito pegado assim há uma troca de energia muito intensa, tanto das coreiras entre si, quanto das coreiras com os tocadores, até de quem tá puxando o canto, tudo isso dá uma...ali parece que circula uma energia toda especial! Vemos imagens da apresentação do Tambor de Leonardo por alguns instantes FADE Entra imagem da entrevista de Dona Roxa DONA ROXA Tem, tem que ter! Porque a roda...nós tamos aqui, o tambor tá tocando bem aqui e eu vou sair daquela porta ali aí eu venho tenho que fazer a roda, passo no tamborzinho pequeninho, venho pro meião, passo no grande, volto de novo, quando eu passar as coreiras já fecharam uma numa ponta, outra noutra e eu tenho que ficar dançando no tambor grande...Faz de conta que a gente tá conversando com os tambores, na hora que a gente entra né... CORTE SECO 50 Vemos imagens do tambor do modo como descreve Dona Roxa DONA ROXA (V.O) (continuação) ...fazendo aquela coisa bonita, sorrindo, cantando! Porque quem sabe canta, quem não sabe grita! E fica lindo o tambor de crioula! Ao término da fala de Dona Roxa o som ambiente cresce até ficarmos só com o som e imagem original. FADE Entram imagens da apresentação de tambor na Praça Faustina. A música vai ganhando espaço a medida que as imagens das coreiras dançando e se divertindo vão se intensificando. O fim da música marca o fim da apresentação. FADE OUT PARTE 4 - IDENTIDADE E GÊNERO TELA PRETA FADE IN Entra imagem da entrevista de Luana LUANA O tambor faz parte desse meu processo de pertencimento e auto identificação na cultura popular, a cultura popular em si, o tambor de crioula inclusivo, o cacuriá, a capoeira, o bumba meu boi, tudo isso, ele formou meu processo de auto identificação que eu tenho hoje assim ne! Que também é mutável! Vemos imagens do quarto de Luana, fotografias de infância, seus objetos decorativos LUANA (V.O) Formou essa identidade assim que permeia, que eu vivo ela hoje e me coloca no local que eu estou, que eu gosto de estar (pergunto quem é a Luana que dança tambor de crioula) 51 Volta a imagem da entrevista de Luana LUANA (continuação) Ah, sou eu! O tempo todo mudando né em modificação, mas sou eu...essa pessoa que gosta, que tem esse respeito principalmente pelos que eu chamo de griôs, essas pessoas que contam com esse saber tradicional, que tem sua vivência as vezes muito diferente da que eu vivi e a gente aprender com os saberes deles, eu acho que isso é muito importante! Como eu me vejo hoje na sociedade CORTE SECO Entra imagem da entrevista de Rosa ROSA Agora um tambor que você vê, que a galera gosta, que vai que gosta mesmo do tambor que vai porque tem aquela paixão pela cultura então você vê um tambor bem diferente. Aí você passa a respeitar as pessoas que tocam, as pessoas que dançam.... CORTE Entram imagens de outros personagens do Tambor de Crioula. Vemos os tocadores conversando, coreiros testando o couro do tambor, o público assistindo a apresentação. ROSA (V.O) (continuação) ...você começa a ter bastante respeito com isso. Então você se sente mais liberta e tem um pouco de respeitar todo mundo... Vemos imagens de crianças que fazem parte desse universo ROSA(V.O) (continuação) nem que seja uma criança que esteja lá você respeita... 52 Entram imagens de mulheres que ajudam a compor a manifestação do Tambor de Crioula LUANA (V.O) Ai, o que que é ser mulher no tambor de crioula... eu acho essa pergunta tão difícil... Ainda vemos imagens daquelas mulheres LUANA (V.O) Bom, eu acho que é ali catar seu lugar ali naquele espaço assim, por exemplo cada vez mais eu vejo as mulheres no tambor de crioula galgando um espaço que também é um espaço machista né... CORTE SECO Entra entrevista de Rosa ROSA Rola um preconceito de acharem que as mulheres não podem tocar um tambor. De acharem que tambor de crioula e mulher é só pra dançar, é só pra rodar a saia e dançar... Acho que é pra isso que eles acham que as mulheres servem no tambor de crioula, sendo que a gente já tá provando que as mulheres podem tocar, pode botar um verso, pode criar música, pode dançar, além de dançar, pode tocar e dançar CORTE SECO LUANA Existe uma perspectiva bem machista ainda no Tambor de Crioula assim e com os mestres mais antigos ainda bem mais... Por que as vezes você tem mulheres que seguram o tambor, seguram o meião, o criavador até o tambor grande muito bem! Mas só que os coreiros eles sempre praticamente não gostam de deixar a mulher ir lá tocar né, isso não sou eu que digo é comum você olha isso 53 nas rodas, assim... E a questão do homem dançar isso é uma questão até, porque por exemplo em alguns outros municípios do Maranhão você percebe que há um... tem tambor de crioula, tem a roda de homem, tem homem que dança. Só