1 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO EDUCAÇÃO FÍSICA Camilo de Freitas Nogueira Relações entre Lazer e Educação Física Escolar Rio Claro - SP 2022 2 CAMILO DE FREITAS NOGUEIRA RELAÇÕES ENTRE LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Biociências – Câmpus de Rio Claro, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, para obtenção do grau de Licenciado em Educação Física Orientador: Fernanda Moreto Impolcetto Rio Claro - SP 2022 3 Sistema de geração automática de fichas catalográficas da Unesp. Biblioteca do Instituto de Biociências, Rio Claro. Dados fornecidos pelo autor(a). Essa ficha não pode ser modificada. N778r Nogueira, Camilo de Freitas Relações entre lazer e educação física escolar / Camilo de Freitas Nogueira. -- Rio Claro, 2022 27 p. Trabalho de conclusão de curso (Licenciado - Educação Física) - Universidade Estadual Paulista (Unesp), Instituto de Biociências, Rio Claro Orientadora: Fernanda Moreto Impolcetto 1. Lazer. 2. Educação Física Escolar. 3. Educação para o lazer. I. Título. 4 CAMILO DE FREITAS NOGUEIRA RELAÇÕES ENTRE LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Biociências – Câmpus de Rio Claro, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, para obtenção do grau de Licenciado em Educação Física BANCA EXAMINADORA: Prof. Dra. Fernanda Moreto Impolcetto (orientador) Prof. Dr. Kauan Galvão Morão Prof. Dr. Maria Antonia Ramos de Azevedo Aprovado em: 09 de Novembro de 2022 Assinatura do discente Assinatura do(a) orientador(a) 5 RESUMO A Educação Física escolar ensina a Cultura Corporal de Movimento e utiliza das práticas corporais como conteúdo da Educação Básica, dentre elas estão: Danças, Lutas, Ginásticas, Esportes, Práticas corporais de Aventura e Jogos e Brincadeiras. Um dos objetivos da Educação Física Escolar é inserir os alunos nessas práticas, oferecendo uma experiência teórica, prática e reflexiva sobre a própria ação para que os alunos tenham condição de criar e recriar os conteúdos vivenciados, ou seja, dar condição para que os estudantes tenham capacidade de usufruírem das práticas corporais dentro dos seus contextos, dentre eles os de lazer, durante a vida escolar e posteriormente por toda vida. Essas práticas fazem parte do contexto de lazer, mas é necessário que os alunos saibam como utilizá-las de maneira autônoma. Para isso, essa pesquisa procurou investigar nos principais periódicos da Educação Física, por meio de uma revisão do tipo “Estado da Arte”, as relações entre Lazer e Educação Física Escolar propostas nos estudos acadêmicos. Para a realização do mesmo, optou- se pelo método misto, composto pela pesquisa quantitativa e qualitativa. Na dimensão quantitativa realizou-se um levantamento da produção científica em periódicos nacionais entre os anos de 2008 à 2017. A dimensão qualitativa se referenciou na análise do conteúdo dos artigos encontrados que abordavam tanto o lazer quanto a EFE. Os resultados indicam 12 trabalhos encontrados que abordam o lazer e a EFE. Os principais resultados revelam: a importância da educação para o lazer, para um aproveitamento das práticas corporais tanto por meio da vivencia quanto no consumo; o trabalho com diferentes práticas para aumentar o repertório cultural dos estudantes, na busca por formar cidadãos que vão criar e recriar as práticas corporais, inclusive reivindicá-las para o poder público se necessário. Além disso, podemos usar da ludicidade para facilitar a aprendizagem nas aulas de EFE, porém sempre tomando cuidados para as aulas de EFE não se transformarem simplesmente um “espaço de lazer”. Palavras chave: Lazer. Educação Física Escolar. Práticas corporais. Educação para o Lazer. 6 ABSTRACT Physical Education at school teaches a Movement Body Culture and uses corporal practices as a Basic Education content, among them: Dances, Fights, Gymnastics, Sports, corporal practices of adventure and children's games and plays. One of the Physical Education at school goals is to insert the students in these practices, offering an theoretical, practical, and reflective experience about their own action so the students can have condition to create and recreate the experienced content. In other words, give them condition so they can have the capacity to enjoy the corporal practices inside their own environment. Including leisure, during school life and later their entire lives. These practices are part of their leisure environment, but it is necessary that the students know how to use them by themselves. To this end, this research investigated in the main Physical Education articles, through a review of "state- of-the-art" type, the relations between Leisure and Physical Education presented in the academic studies. For the actual execution, mixed method was used, compound by both the quantitative and qualitative points of view. On the quantitative perspective, a survey on scientific production in national articles from 2008 to 2017 was carried. On the qualitative perspective, it was based on the articles which the content approached both leisure and Physical Education at school. The results found 12 studies approaching both leisure and Physical Education at school. The main results reveal: the importance of education for leisure, for a better utilization of corporal practices both through experience and consumption; working with different practices to increase the student's cultural repertoire, seeking to educate citizens to create and recreate corporal practices, including to claim them to public authority if necessary. Furthermore, we can use playfulness to facilitate the learning in Physical Education classes. However, always being aware that classes can not simply become a "space for leisure". Keywords: Leisure. Physical Education at School. Corporal Practices. Education for Leisure. 7 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .........................................................................................8 2. OBJETIVO..............................................................................................13 3. MÉTODO ................................................................................................14 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ...........................................................16 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................26 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................28 8 1. INTRODUÇÃO De acordo com Marcellino (2017) lazer pode ser conceituado como “[...] a cultura – compreendida no seu sentido mais amplo – vivenciada (praticada ou fruída) no ‘tempo disponível’”. O importante, como traço definidor, é o caráter “desinteressado” dessa vivência. Não se busca, pelo menos fundamentalmente, outra recompensa além da satisfação provocada pela situação. (p. 29). Nesse “tempo disponível”, os indivíduos escolhem suas opções de lazer, podendo optar (de acordo com suas possibilidades) por diversas atividades como ler livros, fotografar, assistir filmes e viajar. Dentre essas opções também se encontram as práticas corporais, as ginásticas, as danças, as lutas, os esportes, os jogos e brincadeiras e os esportes de aventura, que são conteúdos da EFE, portanto, podemos afirmar que a Educação Física tem uma estreita relação com o lazer. Na escola, no entanto, essa relação nunca ficou bem definida, pois as atividades de lazer geralmente são relacionadas a “brincadeiras espontâneas” ou “gastar energia”. A Cultura Corporal de Movimento (CCM), objeto de ensino da EFE, faz parte do Universo do Lazer, porém a disciplina vai muito além de “atividades prazerosas” e “brincadeiras espontâneas”, com objetivos mais amplos e significativos para os alunos, possibilitando não só a vivência das práticas corporais, mas uma visão crítica das mesmas como um todo. Uma vez que os alunos não só podem, mas devem produzir e reproduzir a CCM em suas vidas e essa cultura faz parte do universo do lazer, é de extrema importância verificar como a EFE pode formar os alunos para fazer uso dos elementos da CCM no lazer. As práticas corporais, conteúdo da Educação Física escolar (EFE), estão inseridas no contexto do lazer e apresentam a possibilidade de uma intervenção socioeducativa na modificação de valores, atitudes e condutas dos sujeitos (SILVA; RAPHAEL; SANTOS, 2006). Cabe destacar que a Educação Física Escolar oferece uma série de possibilidades para enriquecer a experiência das crianças, jovens e adultos na Educação Básica, permitindo o acesso a um vasto universo cultural. Esse universo compreende saberes corporais, experiências estéticas, afetivas, lúdicas e agonistas, que se inscrevem, mas não se restringem, à racionalidade típica dos saberes científicos que, comumente, orientam as práticas pedagógicas na 9 escola. Experimentar e analisar as diferentes formas de expressão que não se alicerçam apenas nessa racionalidade é uma das potencialidades desse componente na Educação Básica. Para além da vivência, a experiência das práticas corporais oportuniza aos alunos participar, de forma autônoma, em contextos de lazer e saúde (BNCC/BRASIL, 2018). Há três elementos fundamentais comuns às práticas corporais: movimento corporal como elemento essencial; organização interna (de maior ou menor grau), pautada por uma lógica específica; e produto cultural vinculado com o lazer/entretenimento e/ ou o cuidado com o corpo e a saúde (BNCC/BRASIL, 2018). Portanto, entende-se que essas práticas corporais são aquelas realizadas fora das obrigações laborais, domésticas, higiênicas e religiosas, nas quais os sujeitos se envolvem em função de propósitos específicos, sem caráter instrumental (BNCC/BRASIL, 2018). Verificando a etimologia, segundo Vaz (2003) a palavra lazer surgiu do verbo francês loisir, que por sua vez se origina na forma infinitiva latina de licere, que significa “o permitido”. Um outro caminho para se buscar o sentido etimológico da palavra lazer, segundo Maffei Junior (2004), é observar que, entre os gregos e os romanos, a noção de lazer se origina de scholé, palavra grega utilizada para designar o tempo ocupado por atividades ideais e nobres para o ser (como a contemplação teórica, a especulação filosófica e o ócio), sendo que o sentido atual de lazer provém da noção romana de otium (ócio). A maioria dos estudos sobre o lazer usa o critério de referência do conceito de Joffre Dumazedier “conjunto de ocupações nas quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para se divertir-se, recrear-se e entreter-se ou ainda para desenvolver sua formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.” (DUMAZEDIER, 1976 APUD MARCELLINO, 2017). Para Marcellino (2017) atualmente, a tendência é unir os dois conceitos - uma atividade de escolha individual, praticada no tempo disponível e que proporcione determinados efeitos, como descanso físico ou mental, o divertimento, o desenvolvimento da personalidade e da sociabilidade. 10 O problema está na má distribuição do lazer na sociedade em que vivemos. As possibilidades de lazer estão diretamente ligadas ao poder aquisitivo das pessoas. Seria fundamental que todas as pessoas tivessem condições de participar ativamente das mesmas possibilidades de lazer, porém não é o que acontece. Sempre com base no fator econômico, variáveis como o sexo, faixa etária, níveis de escolaridade e também estereótipos, formam um todo inibidor para a prática do lazer, ficando o acesso apenas para alguns grupos sociais, restando a televisão para a maioria dos brasileiros pois grande parte do tempo disponível da maioria das pessoas é usufruído dentro das próprias casas. Por um lado é possível entender essa produção como algo positivo, o acesso aos conteúdos do lazer são cada vez mais difundidos, as pessoas têm acesso aos lançamentos de filmes e aos espetáculos de esportes por exemplo, mas ficando apenas no universo do consumo, distanciando-se da prática, o problema está na indústria criando e padronizando necessidades para facilitar a produção e aumentar o consumo, um consumo com pouca apropriação. Considerando as atividades de lazer, o que seriam a atividade e a passividade? Será que todo “assistir”, todo o “consumo”, pertenceriam ao grupo da passividade? Segundo Dumazedier (1976), a atividade de lazer não é ativa ou passiva, “(...) mas o será pela atitude que o indivíduo assumir com relação às atividades decorrentes do próprio lazer” (p.257). Não coloca entre essas atitudes uma oposição absoluta; para ele existem “(...) situações, nas quais há pontos dominantes que variam de acordo com os indivíduos e as circunstâncias, obedecendo a um continuum que poderia ser medido por uma escala de intensidade” (p.257). Dessa forma, tanto a prática quanto o consumo poderão ser ativos ou passivos, dependendo de níveis, que Dumazedier classifica em elementar ou conformista, médio ou crítico e superior ou inventivo. A perspectiva da lazerania apontada por Mascarenhas (2004) tem como preocupação central localizar o lazer no escopo mais amplo das transformações sociais em curso no mundo do trabalho, centrando-se nas determinações que atravessam a esfera política especialmente, aquelas relativas à desintegração dos direitos sociais, em que o lazer pode se prestar à educação/formação para a cidadania. 11 Segundo o autor, a ideia de “lazerania”, ao mesmo tempo em que procura expressar a possibilidade de apropriação do lazer como um tempo e espaço para a prática da liberdade, isto é, para o exercício da cidadania, busca traduzir a qualidade social e popular de uma sociedade cujo direito ao lazer tem seu reconhecimento alicerçado sobre princípios como planificação, participação, autonomia, organização, transformação, justiça e democracia, deixando de ser monopólio ou instrumento daqueles que concentram o poder econômico (MASCARENHAS, 2004. p. 74-75.) Para uma produção mais diversificada, uma crescente melhora no aspecto qualitativo e uma melhor seletividade de conteúdos do lazer e maior apropriação dos mesmos, se faz necessária a consideração do lazer como objeto de educação - a educação para o lazer. Ou seja, a EFE deve dar condições para que os alunos tenham autonomia na prática e no consumo; na prática devem ter a capacidade de criar e recriar as práticas corporais em seus próprios contextos de lazer, assumindo uma participação ativa, mas além disso, também deve possibilitar um consumo ativo, um consumo com consciência e compreensão. As danças, ginásticas, lutas, esportes, jogos e brincadeiras e esportes são as práticas corporais trabalhadas durante o período escolar, o objetivo da EFE é formar cidadãos críticos que vão produzi-las e reproduzi-las, dando a possibilidade de os participantes recriarem as práticas, de acordo com sua realidade. Se um grupo de pessoas está em um jogo de invasão, cujo objetivo é arremessar uma bola em uma cesta, porém eles estão em 6 participantes e só possuem uma cesta de um lado da quadra, ainda é possível afirmar que estão jogando basquetebol, mesmo não seguindo todas as regras oficiais do esporte ou prática em si, isso é um ótimo exemplo de autonomia na utilização das práticas corporais no contexto de lazer e assim funciona para todas elas, não apenas os esportes. Considerando o que foi exposto é importante averiguar as produções científicas acerca da relação da EFE com o lazer, para descobrir como os pesquisadores analisam e propõem a participação desta disciplina na formação para o lazer, por meio das práticas corporais. Entendemos que a educação no 12 âmbito do lazer é uma das possibilidades para usufruto das práticas corporais, objeto de ensino dessa disciplina na escola, por isso, merece ser investigada. 13 2. OBJETIVO Realizar uma revisão do tipo “Estado da Arte” em periódicos da área da EF para investigar as relações entre a EFE e o lazer, com ênfase nos trabalhos que abordam o tema “educação para o lazer”. 14 3. MÉTODO Para a realização do presente estudo optou-se pela pesquisa mista, que se baseia em argumentos através de elementos pragmáticos, combinando as abordagens quantitativa e qualitativa de forma sequencial ou simultânea (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012). Utilizou-se desta técnica, pois a mesma garante melhor entendimento do problema da pesquisa por se tratar da coleta de diferentes tipos de dados. Primeiramente, foram coletados os dados quantitativos, definido por Creswell (2007) como a técnica em que o pesquisador se utiliza de alegações pós-positivistas para desenvolver um conhecimento, empregando estratégias de investigação. A escolha foi de coletar os dados exclusivamente em periódicos, excluindo a utilização de livros, dissertações de mestrado, teses de doutorado e anais de congressos. O levantamento foi feito na base de dados online de dez periódicos nacionais reconhecidos pelo sistema Qualis/CAPES: Tabela 1: Periódicos nacionais analisados. Periódico Estrato ISSN Motriz A2 1982-8918 Movimento A2 0104-754X Revista Brasileira de Ciências do Esporte B1 0101-3289 Revista Brasileira de Educação Física e Esporte B1 1807-5509 Revista da Educação Física/UEM B1 2448-2455 Revista Licere B1 1981-3171 Motrivivência B1 1980-6574 Pensar a Prática B2 1980-6183 Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte B3 1980-6892 Conexões B4 1983-9030 15 É importante ressaltar que não existem periódicos nacionais com classificação A1 no Qualis utilizado. A partir das bases de dados dos 10 periódicos, foram utilizadas as palavras chave “Lazer” e “Educação Física Escolar” para a pesquisa; com base na leitura dos títulos e resumos, selecionamos apenas os trabalhos que realmente abordavam a temática indicada. Os trabalhos lidos na íntegra foram aqueles cujo tópico de análise não estava claro no título ou resumo. Os artigos de revisão de literatura, artigos de opinião, ensaios, resenhas, ponto de vista, carta ao editor e editoriais não compuseram a amostra. Descobrimos que a maioria dos trabalhos, apesar de aparecerem na busca, não faziam relação nenhuma da EFE com o lazer. Após o levantamento dos artigos relacionados com o lazer e EFE, foi realizada uma análise qualitativa do conteúdo dos trabalhos. Entende-se como técnica qualitativa aquela em que o pesquisador busca desenvolver hipóteses a partir de observações, com foco na “essência” dos fenômenos (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012). Thomas, Nelson e Silverman (2012), afirmam que o pesquisador qualitativo constrói uma teoria por processo indutivo, com a finalidade de explicar as relações entre os dados encontrados. Para tanto, elaborou-se uma tabela contendo as principais informações dos trabalhos, como título, objetivo, metodologia e conclusão. A partir disso, o conteúdo de cada artigo foi analisado, objetivando verificar o que tem sido proposto sobre essa temática. Os critérios de análise foram: verificar os trabalhos que estabelecem uma relação com a Educação Física Escolar e, dentro destes, analisar os que tem foco na “educação para o lazer”, e como se dão essas propostas de educação para o lazer na EFE. 16 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES A partir das pesquisas pelas palavras chave “Lazer e EFE”, 191 trabalhos foram encontrados. A revista Pensar a Prática apresentou a maior porcentagem de estudos 31,4%, nos periódicos. Na Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte e na Revista Brasileira de Educação Física e Esporte não foram identificadas publicações com as palavras chaves indicadas. Destes 191 trabalhos, verificamos quais abordavam realmente os dois temas, tanto o Lazer quanto a EFE e descobrimos que a maioria dos trabalhos abordam o lazer de alguma forma, mas não abordam a EFE. Dos trabalhos encontrados, selecionamos os que tratavam como foco da pesquisa tanto o lazer quanto a EFE e a partir desse filtro, restaram 12 trabalhos. Posteriormente, foi feita uma análise mais aprofundada dos trabalhos que abordam o tema “educação para o lazer”. Percebemos então que existe um número grande de pesquisas que falam sobre Lazer, mas ainda faltam pesquisas relacionando-o com a EFE. Apresenta-se na Tabela 2 o número total de trabalhos científicos com a pesquisa “Lazer e EFE” encontrados nos periódicos nacionais utilizados como fonte de dados pelo estudo nos anos de 2008 a 2017. Indica-se também o número de artigos dentro destes encontrados que estão diretamente relacionados com a pesquisa, pois a maioria não relacionava o EFE com o Lazer de nenhuma forma. 17 Periódico Nº de artigos encontrados nas bases de dados ao utilizar as palavras chave: “Lazer” e “EFE” Nº artigos que abordam de fato “Lazer e EFE” Motriz 11 (5,75%) 0 Movimento 36 (18,8%) 0 Revista Brasileira de Ciências do Esporte 2 (1,04%) 1 Revista Brasileira de Educação Física e Esporte 0 (0%) 0 Revista da Educação Física (REVDEF) 0 (0%) 0 Revista Licere 27 (14,1%) 4 Motrivivência 38 (19,8%) 4 Pensar a Prática 60 (31,4%) 2 Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte (REMEFE) 0 (0%) 0 Conexões 17 (8,9%) 1 Total 191 (100%) 12 A revista Motrivivência obteve a maior porcentagem dos 12 trabalhos selecionados (30,7%). As revistas Motriz, Movimento, Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte (REMEFE), Revista Brasileira de Educação Física e Esporte e a Revista da Educação Física (REVDEF) não apresentaram nenhum trabalho na temática especificada. A análise dos artigos que abordaram a EFE e o lazer, permitiu organizá- los nas seguintes categorias: os que abordam o assunto “Educação para o lazer” e os que não abordam esse assunto, enfatizando, aqui, os que abordam o tema proposto. Dos 12 trabalhos selecionados, 10 abordam o tema “Educação para o lazer”. Em um estudo semelhante a este, realizado por Silva e Silva (2014), as autoras fizeram levantamento sobre “Lazer e EFE” no período entre 2003 e 2012, 18 encontraram 23 trabalhos, onde apenas sete foram selecionados para análise a partir das condições especificadas. Para as autoras, a maioria dos pesquisadores considera o lazer como cultura vivenciada no tempo disponível das obrigações sociais, a visão de Educação Física Escolar que é referência para as pesquisas analisadas se centra no trato pedagógico e o professor deve proporcionar aos sujeitos o acesso a diferentes práticas corporais, educação para o lazer e mediação pedagógica de seus conteúdos. As dissertações e teses analisadas foram selecionadas a partir de consultas aos bancos de dados da produção científica: Banco de teses da Coordenação e Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). O estudo de Silva e Silva (2014) aponta que o professor deve proporcionar aos sujeitos o acesso a diferentes práticas corporais, assim como de viabilizar a educação para o lazer e a mediação pedagógica de seus conteúdos. O acesso às variadas práticas corporais é uma maneira de ampliar este conhecimento, para que assim tenham um maior poder de escolha na vivência de atividades no tempo disponível. Marcellino, ao abordar a educação para o lazer, considera a necessidade de “[...] difundir seu significado, esclarecer a importância, incentivar a participação e transmitir informações que tornem possível seu desenvolvimento ou contribuam para aperfeiçoá-lo [...]”; ou seja, educar para o lazer é transmitir os conhecimentos sobre as possibilidades do lazer, para que as pessoas possam vivenciar e escolher o que melhor satisfaça seu interesse. (SILVA, 2014) Além disso, a educação para o lazer pode ser entendida, também, como um instrumento de defesa contra a homogeneização e internacionalização dos conteúdos veiculados pelos meios de comunicação de massa, atenuando seus efeitos, por meio do desenvolvimento do espírito crítico. Além do mais...] torna possível o desenvolvimento de atividades até com um mínimo de recursos, ou contribui para que os recursos necessários sejam reivindicados, pelos grupos interessados, junto ao poder público. (SILVA, 2014) 19 Ou seja, devemos romper com essa hipervalorização dos esportes nas aulas de EFE, possibilitando o acesso a diferentes práticas e possibilidades de lazer, para que os educandos, de maneira crítica e autônoma, tenham condições de usufruir e vivenciar as práticas corporais. O estudo de Franchi (2013) apresenta o resgate dos jogos tradicionais como opção perante a homogeneização dos esportes. Sabemos que os esportes fazem parte da cultura corporal e são bastante populares na sociedade, ou seja, sabemos que devem ser trabalhados durante a EFE, porém temos muitas outras práticas corporais que também devem ser trabalhadas durante o período escolar. Segundo o autor, o "novo" pode não ser bem recebido, pode causar estranhamento e foi o que aconteceu no caso da oficina de jogos/brincadeiras. Mas com um pequeno espaço de tempo e com o gosto pela prática o “novo” caiu no costume e instigou os alunos a querer conhecer mais jogos tradicionais/populares. Estes que podem ser “novos” no ambiente escolar, como conteúdo da EFE, mas de grande significância histórico/social/cultural. Os alunos perceberam que não precisam pedir todos os dias de aula de Educação Física ao professor para jogar bola ou no caso de tempo de lazer que não precisam ficar conectados a algum jogo ou brinquedo industrializado para gozar de alegria, tendo nos jogos a possibilidade de manifestar-se de forma lúdica. Dois trabalhos abordam a EFE para a cidadania, Santos (2015) e Mendes (2008). A pesquisa de Santos (2015) teve por objetivo verificar as contribuições da Educação Física Escolar e as manifestações do lazer para formar jovens cidadãos. O autor indica a importância de se ter uma visão dos alunos como pessoas, como seres únicos dotados da própria cultura até então vivenciada e incorporada em seus ambientes de convívio, para que assim possamos formar cidadãos críticos e autônomos que terão condições de usufruir dos seus momentos de lazer. De acordo com Santos (2015) é importante assumir a escola como um espaço público e cultural significativo que perceba que seus alunos também pertencem a outros espaços de criação cultural. As manifestações de rua, as festas, as práticas de esporte, constituem lugares de formação e produção de cultura pelos jovens, que precisam ser reconhecidos e trabalhados dentro da escola. O autor indica a possibilidade do trabalho com base nas próprias especificidades das linguagens geradas pelos jovens. Na escola a EF e as 20 manifestações de lazer podem ser potenciais meios de educação, não só formal, mas a educação política e a formação humana e cidadã. Mendes (2008) traz o conceito de “Lazerania” em seu trabalho. A ideia de “lazerania”, ao mesmo tempo em que procura expressar a possibilidade de apropriação do lazer como um tempo e espaço para a prática da liberdade, isto é, para o exercício da cidadania, busca traduzir a qualidade social e popular de uma sociedade cujo direito ao lazer tem seu reconhecimento alicerçado sobre princípios como planificação, participação, autonomia, organização, transformação, justiça e democracia, deixando de ser monopólio ou instrumento daqueles que concentram o poder econômico. O trabalho é um relato de experiência que buscou tematizar o lazer em uma escola pública de Florianópolis a partir da produção de vídeos com os alunos visando identificar estratégias didático-metodológicas para Educação Física Escolar tratar do conteúdo lazer em suas aulas. Nas aulas de Educação Física foram promovidas vivências que confrontavam o conteúdo esportivo tradicional e espetacularizado pela mídia ao esporte associado ao lazer. As pesquisas realizadas pelas crianças sobre o lazer na perspectiva da lazerania revelaram que na comunidade em que a escola residia não havia nenhuma área de lazer pública. Esta problemática tornou-se o tema para a produção do vídeo dos alunos. No roteiro foram previstas saídas de campo, para a elaboração de reportagens que denunciassem a ausência das áreas de lazer na comunidade, além da realização de entrevista com a associação de moradores do bairro na busca por soluções ao problema. Os alunos participantes da interlocução puderam, assim, aprender nas aulas de EFE não apenas brincadeiras, ou atividades lúdicas, o que em alguma medida se tornou lugar comum das práticas que dizem tratar da temática do lazer na escola. Ao contrário, junto com as práticas de atividades de lazer os alunos tiveram a oportunidade de se apropriar de conceitos sobre lazer, sistematizar esse conteúdo em forma de vídeo e ainda exercitar a cidadania na busca de soluções para o problema da ausência de espaços de lazer na comunidade. (MENDES 2008) Tenório e Silva (2012) relataram uma experiência pedagógica realizada numa escola no interior do Mato Grosso nas aulas de EF fundamentada na perspectiva da “Educação para o Lazer”. Este relato propôs a construção de 21 conhecimentos que estão em processo de desenvolvimento e vincula-se a preocupação com o ensino-aprendizagem de maneira integral e com qualidade. Tratou-se de uma experiência pedagógica na qual o lazer e a cultura corporal de movimento se constituem em objetos de mediação e, com isso, os autores pretenderam viabilizar aos estudantes a ampliação de seus conhecimentos sobre lazer e EFE, buscando maior compromisso com a igualdade de oportunidade dos sujeitos envolvidos na educação formal. A experiência pedagógica possibilitou aos estudantes envolvidos uma ampla vivência com a temática do lazer, por meio da iniciação e do aprendizado no âmbito da escola, com o desenvolvimento do espírito crítico, na prática ou na observação, formando o educando nesta perspectiva para que utilize seu tempo disponível como oportunidade de desenvolvimento pessoal sem, no entanto, deixar de lado os aspectos de descanso e divertimento (TENÓRIO; SILVA 2012). De acordo com Silva (2011) a EFE deve se preocupar com questões referentes ao lazer que atravessem os discursos e práticas dentro da sistematização de seus conteúdos, que não reproduzam uma ideia do lazer como “atividades facilitadoras na aprendizagem”, mas que avancem sua discussão para problematizações que envolvam a busca pelo desenvolvimento de trabalhos que possibilitem a ampliação na formação cultural dos alunos sobre os conteúdos do lazer. O que acontece, muitas vezes, é tratar o lazer como um elemento “facilitador” da aprendizagem escolar, permanecendo uma ideia que o professor deve simplificar a aprendizagem ao máximo, fazendo dela uma brincadeira e uma diversão para que os alunos “aprendam brincando”. Na EFE é comum encontrarmos em algumas aulas a justificativa para a falta de conteúdos, a utilização do “lazer” como conteúdo essencial para o exercício da “liberdade” dos alunos. Não se trata de desconsiderar que a aprendizagem possa se beneficiar de elementos característicos do lazer, como a ludicidade, e a espontaneidade como forma de abordagem, mas, nem por isso “o trabalho escolar deixará de ser trabalho para se constituir em lazer” (MARCELLINO, 2017, p.91). Para Silva (2011), pensar o espaço da EFE trata-se então, de pensar um espaço que não foi estruturado fundamentalmente como um espaço de lazer. A EFE, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular 22 obrigatório da educação básica, tendo seus tempos e espaços definidos e organizados dentro de uma cultura escolar. Pimentel, Moreira e Pereira (2013) abordam as possíveis relações entre: meio ambiente, lazer e EFE. Fornecem algumas possibilidades de como se trabalhar com meio ambiente na EFE, por exemplo, brincadeiras de rua para a educação infantil e os anos iniciais do ensino fundamental em ambientes com natureza, não apenas na quadra; discussões contra hegemônicas para as séries finais do ensino fundamental, ou seja, onde o aluno reconhece o modo vigente de produção e reprodução da vida material e pode pensar em alternativas possíveis, como por exemplo o tema “tempo disponível para atividades de lazer”; e dar autonomia para os alunos do ensino médio para fomentar as atividades físicas nos momentos de lazer. Para Pimentel, Moreira e Pereira (2013) a Educação Física seria tomada como importante componente curricular, que ensina conhecimentos da cultura corporal, historicamente situada, cujas práticas seriam selecionadas conforme o contexto sociocultural, mas, também, pelas possibilidades educativas que abriga, numa perspectiva ampliada de formação escolar. Isso significa entender que a escola tem como uma das suas nobres tarefas a formação de sujeitos autônomos que tomarão decisões ambientalmente sustentáveis no seu tempo livre. Todos os 10 trabalhos selecionados mostram algumas possibilidades onde a EFE pode contribuir no lazer das pessoas, não apenas como um momento de brincadeiras e atividades lúdicas, mas também como parte do desenvolvimento integral dos alunos, onde os alunos vivenciem diferentes práticas corporais para aumentar seu repertório de escolhas; onde os alunos saibam que o lazer é um direito dos cidadãos e saibam reivindicar seus direitos; onde não apenas reproduzam e tenham um consumo das práticas corporais de maneira superficial, mas que tenham conhecimento sobre a influência da mídia e da espetacularização dos esportes, como isso afeta a sociedade, formando alunos que saibam (re)criar as práticas da maneira que melhor for conveniente para a realidade de cada um, que tenham um conhecimento crítico sobre as práticas que consomem, tudo isso ainda se ampliando para todo universo do lazer, além das práticas corporais, para que tenham capacidade de usufruir de seus momentos de lazer de forma autônoma. 23 Temos 2 trabalhos que fazer relação da EFE com o Lazer, mas não falam de “Educação para o Lazer”. Um deles aborda a necessidade de investimento na EFE (Mendes e Azevêdo 2010) fazendo uma comparação de investimento público feito na EFE em detrimento das políticas públicas de esporte e lazer, essa segunda, sendo muito mais valorizada do que a primeira. O outro, aborda a percepção dos adolescentes sobre EFE e Lazer. (Conceição e Souza 2015). Mendes e Azevêdo (2010) evidenciam o fato de que as políticas públicas de esporte e lazer têm maior incentivo estatal - por despertarem interesses políticos e econômicos - restando menor importância à EFE por não ser interesse do Estado a qualidade do ensino. Neste Estudo, os autores fazem uma contextualização histórica da EFE, quando ela passa a ser obrigatória na educação básica, definindo-a como um componente curricular que deve estar ajustado à proposta pedagógica da escola. Mesmo nesse caso, a educação física aparece na escola em uma configuração que impossibilita seu objetivo, pois é muitas vezes confundida como prática desportiva, muitos alunos conseguem dispensas nas aulas por já praticarem alguma atividade física, nos cursos noturnos e para adultos ela não é obrigatória. Os autores fazem uma crítica aos principais documentos, até então os PCN’s, dizendo que não dão um direcionamento adequado para orientar propriamente uma ação da educação física no espaço escolar e não é interesse do Estado fazer com que isso melhore. Ao mesmo tempo, mostram que as políticas públicas de lazer nos últimos anos receberam muito mais foco do Estado e que essas políticas giram em torno do esporte, com um discurso de estar oferecendo possibilidades de lazer para a população, mas na maioria dos casos, essas ações acabam tratando o esporte como única possibilidade de lazer, o que já é um problema, pois há diversas outras possibilidades de lazer, mas outro problema citado é de que esses projetos de esporte estão vinculados ao “alto rendimento”, formando um celeiro de atletas, não mostrando os esportes também como possibilidade de lazer e saúde, apenas como trabalho e performance. Segundo os autores, essas políticas utilizam o discurso salvacionista do esporte, o de responsabilidade social de empresas, de filantropia, de participação social, discurso utilitário que 1) obscurece e mascara interesses políticos e empresariais; 2) desarticula a realidade social, dividindo-a em setores 24 - desresponsabilizando o Estado quanto à política social, responsabilizando assim a sociedade civil; 3) constitui mecanismo educativo de adesão espontânea na busca de conformação ético-política - instituindo a meritocracia e a participação social em uma investida de auto responsabilização do cidadão por sua situação socioeconômica, de fracasso ou sucesso, bem como seu acesso ou não a bens culturais e direitos sociais (MENDES E AZEVÊDO 2010). É necessário um posicionamento acerca da imprescindível presença da educação física nas escolas; presença devida, sem alterações que impossibilitem sua concreção enquanto componente curricular de função pedagógica. Busca-se uma educação física com caráter formativo, de aprendizagem, vivência, e não de internalização de valores que objetivam uma sociedade injusta e desigual, como competitividade, produtividade, individualismo, e tecnicização, valores carreados para escola por meio do esporte, alvo de interesses que incluem acordos comerciais de nível internacional (MENDES E AZEVÊDO 2010). O objetivo do estudo de Conceição e Souza (2015) foi analisar a percepção de 18 adolescentes de uma escola pública de Ribeirão das Neves sobre lazer, EFE e a relação entre estas áreas. Os resultados mostraram que os alunos adolescentes entendem o lazer como o momento de fazer o que gostam, de serem livres e de usufruírem de práticas divertidas. Sobre a relação lazer e EFE, os adolescentes mencionaram que a aula de EFE é o momento de lazer mediante quebra da rotina, pois usa materiais e espaços diferenciados nesta disciplina, na comparação com as demais. No entanto, a EFE, para além de momentos de diversão e relaxamento, deve ser vista também como um contexto de desenvolvimento e aprendizagem, com conteúdos próprios, e que podem ser conectados ao contexto social destes adolescentes. O fato desta disciplina fazer parte de um momento de compromisso do adolescente também é relevante e, nessa perspectiva, a EFE pode ser considerada como semilazer, pois é uma obrigação da qual os alunos gostam. Mais uma vez conseguimos identificar a importância de trabalhar diferentes práticas corporais nas aulas de educação física, o esporte não é a única coisa a ser trabalhada na EFE, ela pode trabalhar o lazer nas aulas como 25 já vimos e dar acesso para os jovens vivenciarem e usufruírem das práticas corporais de maneira integral, no âmbito da saúde, do lazer e do trabalho, da maneira que lhes melhor for conveniente. Os projetos de lazer podem ampliar o número de práticas corporais, ir além dos esportes e também trabalhar a cultura corporal além do alto rendimento. Um cuidado a ser tomado é essa visão dos jovens onde as aulas de EFE são um momento de lazer, já vimos que as aulas não são momentos de lazer, podem usar de elementos do lazer e do lúdico em suas aulas, mas há aspectos a serem trabalhados que vão além da brincadeira, ao mesmo tempo, podemos ter lazer em atividades de desenvolvimento pessoal, onde as aulas de EFE foram consideradas como semilazer pelo autor, só não podemos esquecer do aspecto descanso e diversão. 26 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A presente pesquisa realizou uma revisão do tipo “Estado da Arte” em periódicos da área da EF para investigar as relações entre a EFE e o lazer, com ênfase nos trabalhos que abordam o tema “educação para o lazer”. A partir das palavras chave “Lazer” e “Educação Física Escolar”, encontramos 191 trabalhos dos quais apenas 12 fazem relação direta entre esses dois temas, a grande maioria dos artigos não relaciona a educação física escolar com o lazer, abordavam apenas o lazer como foco principal da pesquisa. Os principais resultados revelaram: a importância da educação para o lazer, visando um aproveitamento maior das práticas corporais tanto por meio da vivência quanto no consumo; a importância de trabalhar com diferentes práticas para aumentar o repertório cultural de movimento dos estudantes, na busca por formar cidadãos que vão criar e recriar as práticas corporais, inclusive reivindicá- las para o poder público se necessário. Além disso, podemos usar da ludicidade para facilitar a aprendizagem nas aulas de EFE, porém sempre tomando cuidados para as aulas de EFE não se transformarem simplesmente um “espaço de lazer”. Observamos a importância da educação para o lazer, para que os alunos tenham autonomia e um maior poder de escolha para as práticas corporais em seus momentos de lazer, do jeito que melhor satisfaça os seus interesses. Devemos formar jovens com pensamento crítico, que saibam aproveitar da alta disponibilidade de informação que existe atualmente, que entendam de maneira global as culturas corporais que lhe interessam, tanto na prática, quanto no consumo ou observação. Uma Educação para o lazer que desenvolva o pensamento crítico de seus alunos, possibilitando-os de (re)criarem as práticas corporais vivenciadas e reivindicar recursos do poder público. Uma Educação que possibilite inclusive o uso do tempo disponível para o desenvolvimento pessoal, sem deixar de lado o aspecto descanso e diversão. Vimos como os adolescentes do estudo de Conceição e Souza (2015) enxergam as aulas de EF como momento de lazer, mesmo sendo uma obrigação, na perspectiva dos autores, isso quer dizer que as aulas de EFE podem ser um “semilazer”, pois é uma obrigação na qual os alunos gostam. 27 Para isso, são necessários o aprendizado e o estímulo que ofereçam aos educandos a passagem de níveis menos complexos para níveis mais complexos de apropriação dos conteúdos do lazer, visando ultrapassar o conformismo. Para um melhor aproveitamento dos momentos de lazer dos jovens, devemos trabalhar diversas práticas corporais durante o período escolar. Assim, a EFE deve possibilitar a ampliação na formação cultural dos alunos sobre os conteúdos do lazer. Os esportes fazem parte sim dessas práticas e são altamente difundidos na sociedade e em seus momentos de lazer, porém não são as únicas opções existentes e é função da EFE trabalhar todas as práticas possíveis para uma maior vivência de cultura corporal de modo que possibilite o acesso à cultura para todos os gostos, não apenas para os fãs dos esportes tradicionais. Devemos também enxergar os alunos como seres humanos, com suas peculiaridades e individualidades, com uma própria bagagem cultural. Desse modo, não é possível falar de lazer sem falar da realidade em que os educandos vivem e suas possibilidades de lazer pois queremos que eles se apropriem do lazer e que vejam as possibilidades de desenvolvimento e apropriação deste de onde estiverem. Podemos utilizar da ludicidade como abordagem para facilitar a aprendizagem nas aulas de EFE, porém sempre tomando cuidado para que o lazer não perca seus aspectos de descanso e diversão e também para que as aulas não sejam um “brincar pelo brincar”; podemos instrumentalizar o lazer, mas ele não serve apenas para esse aspecto de facilitar os aprendizados e tampouco as aulas de EFE constituem-se como um espaço de lazer. Desse modo, temos uma pluralidade de conteúdos a serem trabalhados e incorporados pelos alunos. Procuramos encontrar relações entre o lazer e a EFE nos principais periódicos da EF, mas a pesquisa deixou de fora as bases de dados internacionais, livros, dissertações de mestrado, teses de doutorado e anais de congressos. Espera-se que o presente trabalho possa contribuir para a compreensão da temática, porém em estudos posteriores cabe ampliar a pesquisa em relação ao tema “Educação para o Lazer”. 28 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SILVA, R. L.; RAPHAEL, M. L.; SANTOS, F. 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INTRODUÇÃO 2. OBJETIVO 3. MÉTODO 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS