ÁUREA ESTEVES SERRA A FORMAÇÃO DO PROFESSOR ALFABETIZADOR NO IE “PROF. STÉLIO MACHADO LOUREIRO”, DE BIRIGÜI/SP (1961 – 1976) MARÍLIA 2004 ÁUREA ESTEVES SERRA A FORMAÇÃO DO PROFESSOR ALFABETIZADOR NO IE “PROF. STÉLIO MACHADO LOUREIRO”, DE BIRIGÜI/SP (1961 – 1976) Dissertação apresentada ao Curso de Pós – Graduação da Faculdade de Filosofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Marília, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação. Área de concentração: Políticas Públicas e Administração da Educação Brasileira. Linha de pesquisa: Filosofia e História da Educação no Brasil. Orientadora: Professora Doutora Maria do Rosário Longo Mortatti. MARÍLIA 2004 Serra, Áurea Esteves S487f A formação do professor alfabetizador no IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”, de Birigüi/SP (1961 – 1976) / Áurea Esteves Serra. – Marília, 2004. 249 f.. ; 30 cm. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Filosofia e Ciências – Universidade Estadual Paulista, 2004. Bibliografia: f. 158-166 Orientadora: Profª Drª Maria do Rosário Longo Mortatti. 1. Formação do alfabetizador. 2. Alfabetização. 3. Instituto de Educação “Prof. Stélio Machado Loureiro”. 4. Escola Nova. I. Autor. II. Título. CDD: 372.412 COMISSÃO EXAMINADORA Orientadora: _______________________________________ Profª Drª Maria do Rosário Longo Mortatti Membros titulares: _______________________________________ Profª Drª Anna Maria Lunardi Padilha _______________________________________ Profª Drª Claudete Cameschi de Souza Para Aureli, Marina e Solange. AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus, por ter me dado tranqüilidade de espírito e cuja presença e força constantes tornaram possível a realização desta dissertação. Meus sinceros agradecimentos, em especial: À minha orientadora, professora Dra. Maria do Rosário Longo Mortatti, que esteve sempre presente, me fazendo avançar, mediante sua orientação segura, análise crítica e disponibilidade de trabalho, com relevantes orientações e contribuições para elaboração desta dissertação. Ao professor Dr. Carlos Roberto da Silva Monarcha e a professora Dra. Claudete Cameschi de Souza, pela participação no exame de qualificação, momento em que ofereceram sugestões para finalização desta dissertação. Aos professores Dagoberto B. Arena, José E. Manzini, Maria do Rosário L. Mortatti, Pedro Pagni e Raquel Lazzari L. Barboza, pelo apoio no início de minha trajetória acadêmica. Aos colegas do Grupo de Pesquisa “História do ensino de língua e literatura no Brasil” e do Projeto Integrado de Pesquisa “Ensino de língua e literatura no Brasil: repertório documental republicano”, companheiros de trabalho, nas disciplinas cursadas e nos congressos. E, em especial, a Andréia C. F. B. Labegalini pelas informações e documentos cedidos. À bibliotecária da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista – Campus de Marília/SP, Maria Luzinete Euclides, pela normalização bibliográfica. À direção da EE “Prof. Stélio Machado Loureiro” e às ex-normalistas, ex-professora e todos aqueles, que rememorando suas histórias, contribuíram e viabilizaram esta dissertação. Aos meus familiares, pela paciência quanto a minhas ausências. Finalmente, a todas as pessoas que pensaram positivamente e colaboraram para que este trabalho se realizasse, a minha profunda gratidão. RESUMO Com o objetivo de contribuir para a compreensão da história da formação do professor alfabetizador no Brasil, abordam-se nesta dissertação, os principais aspectos do modelo para essa formação implementado, no IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”, de Birigüi/SP, que funcionou entre 1961 e 1976. Por meio da utilização de procedimentos de recuperação, reunião, seleção, organização e análise de fontes documentais (matrículas de alunos, jornais de época, livros de tombo, e outros) e bibliografia especializada relativas à formação do professor alfabetizador no período em questão, foram reunidas mais de duzentas referências bibliográficas relacionadas ao tema; essa organização permitiu elaborar um instrumento de pesquisa, o qual propiciou uma avaliação mais precisa da importância e do significado, para o período em questão e para o presente, dos processos de ensino e propostas pedagógicas para a formação de alfabetizadores no IE “Prof. Stélio Machado Loureiro” assim como dos demais IEs paulistas. Os resultados obtidos com a pesquisa vêm confirmar a relevância do estudo para a compreensão de um momento importante da história da formação de alfabetizadores em nosso país, no qual predomina um modelo diretamente relacionado com a inovação educacional nos institutos de educação do estado de São Paulo, entre 1933 e 1976, predominantemente baseados nos princípios do ideário da Escola Nova. Palavras-chave: Formação do alfabetizador. Alfabetização. Instituto de Educação “Prof. Stélio Machado Loureiro”. Escola Nova. Birigüi/SP ABSTRACT With the objective to contribute for the understanding of the history of the formation of the teacher literator in Brazil, this dissertation the main aspects of the model for this implemented formation are approached, in the IE "Prof. Stélio Machado Loureiro", of Birigüi/SP, that functioned between 1961 and 1976. By means of the use of recovery procedures, meeting, election, organization and analysis of documentary sources (school registrations of pupils, periodicals of time, books of tumble, and others) and bibliography specialized relative to the formation of the alfabetizador professor in the period in question, had more than been congregated two hundred related bibliographical references to the subject; this organization allowed to elaborate a research instrument, which propitiated a more necessary evaluation of the importance and the meaning, for the period in question and the gift, of the processes of education and pedagogical proposals for the formation of literator in the IE "Prof. Stélio Machado Loureiro" as well as of the too much IEs São Paulo. The results gotten with the research come to confirm the relevance of the study for the understanding of an important moment of the history of the formation of literator in our country, in which a related model with the educational innovation in the justinian codes of education of the state of São Paulo predominates directly, between 1933 and 1976, predominantly based in the principles of the ideário of the New School. Key-words: Formation of the literacy teacher literator. Literacy. Institute of Education "Prof. Stélio Machado Loureiro" . “Escola Nova”. Birigüi/SP – Brazil. LISTA DE QUADROS, GRÁFICOS E FIGURAS Quadro 1 – Cronologia das cidades de Penápolis, Birigüi e Araçatuba......................... 40 Quadro 2 – Criação de escolas urbanas na cidade de Birigüi, entre 1914 a 1976.......... 47 Quadro 3 - Escolas urbanas e rurais do município de Birigüi e número de alunos, entre 1928 e 1985............................................................................................................ 49 Quadro 4 – Cronologia do Ginásio Estadual de Birigüi a Escola Estadual "Prof. Stélio Machado Loureiro" (1947-2004) ........................................................................ 56 Quadro 5 – Professores (efetivos e substitutos) e respectivas cadeiras no período de 1960 a 1969..................................................................................................................... 69 Quadro 6 – Matérias do Curso Normal do IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”, no ano de 1963..................................................................................................................... 74 Quadro 7 – Matérias e respectivas cargas-horárias em fevereiro de 1971 adotadas para o 3º Ano Normal do IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”...................................... 76 Quadro 8 – Dados sobre o Curso Normal diurno no IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”, de 1963 a 1970.............................................................................................. 78 Quadro 9 – Dados sobre o Curso Normal noturno no IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”, de 1963 a 1972.............................................................................................. 79 Gráfico 1 - Número de professores formados no Curso Normal do IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”, de 1963 a 1972.............................................................................. 81 Quadro 10 - Matrículas dos alunos do Curso de Aperfeiçoamento do IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”, entre 1963 e 1967.......................................................................... 84 Quadro 11 – Alguns dos autores e respectivos títulos e editoras, relacionados no Livro Tombo n. 1 da Biblioteca “Monteiro Lobato”, 1992........................................... 93 Quadro 12 – Autores com maior número de ocorrência de títulos sobre educação e ensino no IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”............................................................. 96 Quadro 13 –Autores e respectivos títulos e editoras, de livros que abordam leitura, escrita, alfabetização e formas de como ensinar, constantes do Livro tombo n.1 da Biblioteca “Monteiro Lobato” do IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”........................ 97 Quadro 14 – Autores e respectivos títulos e editoras de livros que contêm capítulos sobre ensino de leitura, constantes do Livro tombo n.1 da Biblioteca “Monteiro Lobato” do IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”........................................................... 98 Quadro 15 – Grade curricular do Curso de Formação de Professores Primários do IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”, entre 1960 e 1962..................................................... 115 Quadro 16– Grade curricular do Curso Normal do IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”, entre 1967 e 1969.......................................................................................... 120 Figura 1 - Capa da cartilha Vamos ao circo................................................................... 134 Figura 2 - Página n. 1 da cartilha Vamos ao circo......................................................... 137 Figura 3 - Página n. 5 da cartilha Vamos ao circo.......................................................... 137 SUMÁRIO INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 12 CAPÍTULO 1 - A CIDADE DE BIRIGÜI E O ENSINO.................................................... 32 1.1 Breve histórico da cidade de Birigüi.............................................................................. 33 1.2 Aspectos da história do ensino na cidade de Birigüi...................................................... 40 CAPÍTULO 2 – A ESCOLA NORMAL NA CIDADE DE BIRIGÜI................................ 50 2.1 O ensino normal em Birigüi........................................................................................... 51 2.2 A escola normal “particular” ......................................................................................... 51 2.3 A escola normal “pública” ............................................................................................. 53 CAPÍTULO 3 – OS INSTITUTOS DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO E A INSTALAÇÃO DO IE NA CIDADE DE BIRIGÜI........................................................ 57 3.1 Os Institutos de Educação do Estado de São Paulo........................................................ 58 3.2 A criação e instalação do instituto de educação na cidade de Birigüi............................ 60 3.3 A aula inaugural.............................................................................................................. 63 CAPÍTULO 4 – A ORGANIZAÇÃO DO IE “PROF. STÉLIO MACHADO LOUREIRO” ....................................................................................................................... 65 4.1 Os cursos oferecidos pelo IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”..................................... 66 4.2 As cadeiras dos cursos ginasial, colegial e normal......................................................... 68 4.3 As matérias do Curso Normal......................................................................................... 74 4.4 O perfil dos normalistas.................................................................................................. 77 4.5 O Curso de Aperfeiçoamento......................................................................................... 82 4.6 As Bibliotecas “Monteiro Lobato” e “Menina do Narizinho Arrebitado”.................... 85 4.6.1 A organização da Biblioteca “Monteiro Lobato” ....................................................... 87 4.6.2 Características gerais da biblioteca.............................................................................. 88 4.6.3 Autores e livros sobre educação e ensino do acervo da Biblioteca “Monteiro Lobato” ............................................................................................................................... 91 4.7.3 O funcionamento e empréstimo................................................................................... 99 CAPÍTULO 5 – A REPERCUSSÃO DO IE “PROF. STÉLIO MACHADO LOUREIRO” ....................................................................................................................... 101 5.1 As atividades realizadas junto à população local........................................................... 102 5.2 Benefícios do governo e da população birigüiense concedidos ao IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”............................................................................................................... 103 5.3 Exemplos de atividades culturais promovidas pelo IE “Prof. Stélio Machado Loureiro” .............................................................................................................................. 105 5.4 Notas, convocações, comunicados e participação em eventos....................................... 107 5.5 Atividades Cívicas.......................................................................................................... 111 CAPÍTULO 6 – APRENDENDO A ALFABETIZAR NO IE “PROF. STÉLIO MACHADO LOUREIRO” .................................................................................................. 113 6.1 A alfabetização no Curso de Formação de Professores Primários, entre 1960 e 1962 e no Curso Normal, entre 1967 e 1969 do IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”.................... 114 6.2 O conceito de alfabetização das ex-alunas e ex-professora............................................ 122 CAPÍTULO 7 – APRENDENDO O FAZER DA ALFABETIZAÇÃO NO CURSO DE APERFEIÇOAMENTO: A CARTILHA VAMOS AO CIRCO............................................ 127 7.1 As condições de produção da cartilha Vamos ao circo.................................................. 128 7.2 Apresentação: Cartilha Vamos ao circo......................................................................... 133 7.3 Primeiras páginas............................................................................................................ 134 7.4 As ilustrações.................................................................................................................. 135 7.5 O conteúdo da cartilha Vamos ao circo.......................................................................... 136 7.6 Instruções para uso da cartilha Vamos ao circo.............................................................. 138 7.7 Cartilha Vamos ao circo – um projeto de alfabetização................................................. 139 CAPÍTULO 8 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES ALFABETIZADORES NO IE “PROF. STÉLIO MACHADO LOUREIRO”........................................................................................................................ 142 CAPÍTULO 9 – O IE “PROF. STÉLIO MACHADO LOUREIRO”: CAMINHOS PERCORRIDOS................................................................................................................... 148 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................... 155 REFERÊNCIAS................................................................................................................... 158 BIBLIOGRAFIA DE APOIO TEÓRICO............................................................................ 167 OBRAS DE REFERÊNCIA................................................................................................. 168 INSTITUIÇÕES E ACERVOS CONSULTADOS.............................................................. 168 SITES CONSULTADOS...................................................................................................... 171 APÊNDICES........................................................................................................................ 173 ANEXOS.............................................................................................................................. 213 12 INTRODUÇÃO 13 Esta dissertação de mestrado tem origem em trabalhos anteriores realizados em diferentes momentos de minha vida profissional. Ao longo do tempo, na função de coordenadora pedagógica junto à Secretaria Municipal de Educação de Birigüi/SP, de professora no curso “PCN em Ação” 1 e no curso de Pedagogia da Faculdade de Tecnologia de Birigüi/SP, a formação de professores e a alfabetização foram-se definindo como campo de trabalho, que passou a absorver meu interesse. Esse interesse levou-me a participar do processo de seleção para o Programa de Pós-graduação em Educação da UNESP-Marília, nível de mestrado, no qual ingressei como aluna regular, em 2002, sob orientação da professora Maria do Rosário Longo Mortatti. Nessa condição, passei também a integrar o Grupo de Pesquisa “História do Ensino de Língua e Literatura no Brasil” (GPHELLB)2 e a equipe executora do Projeto Integrado de Pesquisa “Ensino de língua e literatura no Brasil: repertório documental republicano” (PIPELLB)3, ambos coordenados pela professora orientadora e subdivididos em cinco linhas de pesquisa: 1) Formação de Professores de Língua e Literatura; 2) Alfabetização; 3) Ensino de Língua Portuguesa; 4) Ensino de Literatura; e 5) Literatura Infantil e Juvenil. Dado meu interesse inicial, passei a desenvolver pesquisa bibliográfica e documental, para verificar as possibilidades de estudo de tema relacionado à formação de professores, com enfoque nos institutos de educação do estado de São Paulo. Com essa finalidade, consultei a publicação Análise dos trabalhos do GT formação de professores: o que revelam as pesquisas do período 1992 – 1998, de Iria 1 Esse curso objetiva a formação continuada de professores, por meio da abordagem dos conteúdos dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). 2 Cadastrado no Diretório dos Grupos de Pesquisa do Brasil – CNPq e em funcionamento desde 1994. 3 Esse projeto foi concluído em julho de 2003 e contou com: apoio CNPq; auxílio financeiro CNPq; e auxílio financeiro FAPESP. Como um dos principais resultados das atividades do PIPELLB, tem-se um repertório documental, contendo um total de 2.025 referências bibliográficas distribuídas entre as cinco linhas de pesquisa. Esse repertório se encontra disponível, em versão impressa, no Centro de Referência para Pesquisa Histórica em Educação (CPRHE), sediado na FFC-UNESP-Marília, e, em versão on line, no site www.educacaobrasileira.pro.br. 14 Brzezinski e Elsa Garrido (2001), que realizaram um estudo referente aos trabalhos apresentados no Grupo de Trabalho (GT) Formação de Professores, durante as reuniões da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), no período de 1992 a 1998. Foram analisados 70 trabalhos organizados em cinco descritores - formação inicial de professores, formação continuada, práticas pedagógicas, profissionalização docente e revisão da literatura - que constituem uma amostra de produção do GT. As autoras concluem que o conjunto dos trabalhos: lança luz sobre o conhecimento do professor, também produzido na prática, e que as experiências de parceria da universidade com o sistema de educação básica abriram novos caminhos de pesquisa, embora haja muito a ser feito quanto à avaliação do impacto dos cursos de formação inicial e continuada, especialmente pesquisas em relação ao aspecto de profissionalização e da competência feminina para assumir a gestão de instituições superiores e universidades, entre outros. Outra publicação que consultei faz levantamento do mesmo tipo e intitula-se Formação de professores no Brasil (1990-1998), organizada por Marli Eliza Dalmazo Afonso de André (2002). Nessa publicação tem-se uma síntese integrativa do conhecimento sobre o tema Formação de Professores, a partir da análise das teses e dissertações defendidas nos programas de pós-graduação em educação do país, dos artigos publicados em periódicos e das pesquisas apresentadas no GT Formação de Professores da ANPEd. Para André (2001), as diversas fontes analisadas permitem identificar uma grande preocupação com a formação do professor para atuar nas séries iniciais do ensino fundamental, mostram um excesso de discurso sobre o tema formação docente e uma escassez de dados empíricos para referenciar práticas e políticas educacionais. Posteriormente, consultei também a relação de referências sobre formação de professores de língua e literatura contidas no documento Ensino de língua e literatura no Brasil: repertório documental republicano, elaborado por Maria do Rosário Longo Mortatti 15 (2003a). Nessa relação encontram-se referências de: 19 livros; 7 capítulos de livros; 28 artigos em periódicos; 3 números especiais em periódicos; 86 dissertações e teses; 13 publicações institucionais; 48 manuais de ensino; 7 obras de referência. A consulta a todas essas publicações permitiu constatar, dentre muitos outros aspectos, que existem poucos estudos e pesquisas que abordam historicamente a formação de professores, em especial nos institutos de educação. Dentre essas, destaco as de: Tanuri (1979); Almeida (1995), Monarcha (1999); Camargo (2000); Vidal (2001); Evangelista (2001); e Nosella e Buffa (2002). No livro O ensino normal no Estado de São Paulo: 1890 – 1930, Leonor Maria Tanuri (1979) apresenta aspectos da formação dos professores primários nesse Estado, na Primeira República brasileira, enfocando a Escola Normal de São Paulo e, mais especificamente, sua estrutura didática a partir das sucessivas reformas por que passou, no período estudado pela autora. Preocupada em analisar o Curso Normal, reuniu a documentação existente, priorizando instrumentos legais, como: documentos parlamentares, relatórios oficiais de autoridades diversas, além de artigos de jornais. Tanuri ressalta que o advento do regime republicano assinalou para o Estado de São Paulo um marco inicial do processo de estruturação e expansão do ensino primário e normal. No artigo intitulado Currículos da escola normal paulista (1846 – 1920): revendo uma trajetória, Jane Soares de Almeida (1995) traça a trajetória da organização curricular da escola normal paulista, apontando sua ênfase para a cultura geral em detrimento dos aspectos pedagógicos. A autora apresenta a “Reforma de 1890”, que introduziu, na instrução pública paulisata influências norte-americanas na organização dos currículos da escola normal priorizando as atividades práticas dos alunos e construindo as chamadas escolas-modelo. Para o sucesso dessa proposta, a formação de professores sofreu as seguintes adaptações: 16 [...] a Escola-Modelo superior surgiu como um setor de práticas de ensino, destinada a normalistas, para praticarem o que “aprendiam teoricamente”; [...] as Escolas-Modelo transformaram-se em Grupos Escolares. As que eram anexas à Escola Normal continuaram com a função de proporcionar exercícios práticos de ensino para os normalistas; [...] a Escola Normal, funcionando com dez cadeiras, passou a incorporar, no 3º ano do curso, os “exercícios práticos de ensino” desenvolvidos na Escola-Modelo, e esta se tornou um setor quase autônomo de Prática de Ensino. (ALMEIDA, 1995, p. 673 – 674). Almeida destaca, ainda, o movimento multifocal da formação de professores numa trajetória inconstante, recheada de recortes, desde a institucionalização do Curso Normal no estado de São Paulo, a relação com as reformas que foram acontecendo por meio da legislação, com as áreas de conhecimento, a estrutura organizacional e a inserção das mulheres no espaço público. Em Escola Normal da Praça: o lado noturno das luzes, Carlos Monarcha (1999) aborda a Escola Normal de São Paulo, que se tornou motivo de orgulho e referência intelectual, apesar dos sucessivos desmandos políticos e jogos de interesse que marcaram a trajetória da mais significativa instituição deste estado, entre 1840 e 1930. Utilizando a metáfora de origem religiosa da oposição entre “luzes e trevas” - que se refere ao “Estado ilustrado e o povo inculto”, onde a luz (educação) vai chegando aos poucos para a população inculta - o autor afirma que “[...] para os instituidores da República, a instrução popular – a Escola Normal e a instrução primária – é um centro multiplicador das luzes, que colocam as idéias em marcha, impulsionando a história em direção ao progresso e à liberdade” (MONARCHA, 1999, p. 172). No livro Coisas velhas: um percurso de investigação sobre cultura escolar (1928 – 1958), Marilena Camargo (2000) investiga as práticas escolares presentes no Instituto de Educação “Joaquim Ribeiro”, da cidade de Rio Claro/SP, entre as décadas de 1920 e 1950. A fim de compreender as ações dos sujeitos históricos na configuração das práticas escolares, 17 a autora recorre a depoimentos e análises de diversas fontes, como: legislação, livros, revistas, fotografias, diários, jornais e cadernos de registros pessoais. E conclui que foi apenas possível abordar “[...] de modo fragmentário a cultura escolar que configura o ‘Ribeiro’ como instituição educacional” (CAMARGO, 2000, p. 228). No livro O exercício disciplinado do olhar: livros, leituras e práticas de formação docente no Instituto de Educação do Distrito Federal (1932-1937), Diana Vidal (2001) analisa uma grande quantidade de fontes documentais: decretos, leis, regulamentos, programas, correspondência, fotografias, plantas arquitetônicas, atas, livros, revistas, artigos, materiais impressos destinados aos professores e entrevistas com várias ex-alunas sobre suas práticas de leitura. Essa análise permite tratar dos vários dispositivos destinados a institucionalizar e remodelar a educação empreendida no Brasil, nos anos de 1930, a partir de um programa de formação docente vazado em preceitos da “Pedagogia Nova”. A autora conclui que a formação docente no Instituto de Educação do Distrito Federal era “laboratorial” e tudo era extremamente controlado, observado, disciplinado, registrado e corrigido. Olinda Evangelista (2001), em artigo publicado na revista Histedbr (on-line), intitulado “O Instituto de Educação da Universidade de São Paulo: o encerramento de uma experiência de formação docente nos anos 30” reconstrói historicamente a trajetória - arbitrariamente encerrada pelo governo de Ademar de Barros, em 1938 - da primeira experiência de formação do professor em nível universitário no Instituto de Educação da Universidade de São Paulo (IEUSP), iniciada no ano de 1934. Nesse artigo, a autora procura explicar as razões que levaram ao fim essa experiência, aliando a defesa incontestada do dever do Estado para com a educação pública e os interesses da Igreja, tanto quanto os interesses do governo getulista. 18 No livro Schola Mater: a antiga Escola Normal de São Carlos, Paolo Nosella e Esther Buffa (2002), com o objetivo de compreender a história regional e a política educacional da República Velha brasileira e por meio da análise de fontes documentais, enfocam o clima cultural dos anos iniciais dessa escola normal. Concluem que ela representou, para a cidade de São Carlos e região, uma espécie de “quartel-general pedagógico” de todas as reformas educacionais da Primeira República, confirmando a hipótese de que a ideologia da classe dominante cafeeira imperou no contexto escolar da época. Além desses, foram lidos os textos resultantes de pesquisas desenvolvidas no âmbito da linha “Formação de professores de língua e literatura” do GPHELLB e do PIPELLB: Souza (1996), Carvalho (2001), Mortatti (2001), Labegalini (2003), Trevisan (2003) e Santos (2003)4. Em sua dissertação de mestrado em Educação Claudete Cameschi de Souza, procura compreender o processo de formação do professor alfabetizador do Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério (CEFAM) de Três Lagoas/MS, para poder explicar e interpretar as complexas relações do processo de formação de professor alfabetizador e contribuir para produção de uma história da educação brasileira de uma perspectiva regional e/ou local. Souza chega à conclusão de que o trabalho desenvolvido pelos professores desse CEFAM, secundarizava o espaço de elaboração, de produção do conhecimento sobre o processo de alfabetização em prol de uma “instrumentalização profissionalizante” que resulta da “tarefa de ensinar”. O professor ensinava pelo que de fato praticava no cotidiano do trabalho didático-pedagógico, e não pelo que dizia ou intencionava fazer. 4 Essas pesquisas foram orientadas pela professora Dra. Maria do Rosário Longo Mortatti. 19 No artigo intitulado Entre o ideal e o usual: a didática mínima, de Rafael Grisi, Maria do Rosário Longo Mortatti (2003b), realiza, com base em método de procedimentos derivados da análise do discurso, a configuração textual do livro Didática Mínima (1952), escrito pelo professor Rafael Grisi (1909 – 1998). Para a autora esse pode ser considerado um dos primeiros manuais de ensino de didática escrito por um autor brasileiro com grande representatividade de um momento de constituição da Didática no Brasil. Segundo Mortatti (2003b) para esse autor a Didática era entendida em sua característica dual: [...] duas Didáticas: uma, a didática ideal, a que se contém nos tratados e se preconiza, teoricamente, através das lições dos professores especialistas; e a outra, a didática usual, a que se pratica nas escolas e, embora profligada violentamente nos tratados e cursos de Pedagogia, como falsa, rotineira, artificiosa, formal etc., permanece e vige de fato nos procedimentos docentes do professorado [...] (GRISI, 1956, p. 10 apud MORTATTI, 2003b, p. 7) 5. Em seu Trabalho de Conclusão de Curso de Pedagogia Rosimeire Leonardo de Carvalho (2001), aborda aspectos da vida e obra do educador Theobaldo Miranda Santos e analisa, por meio da configuração textual, o compêndio intitulado Noções de Metodologia do ensino primário: para uso nas Escolas Normais, Institutos de Educação e Faculdades de Filosofia (1967). Em trabalho Carvalho apresenta reflexões e contribuições sobre a relação entre a formação de professores e o ideário da escola Nova. Em sua tese de Doutorado em Educação, intitulada A formação de professores alfabetizadores nos institutos de educação do estado de São Paulo: 1933 a 1975, Andréia Cristina Fregate Baraldi Labegalini (2004) enfoca os processos de criação desses institutos de educação a partir da reforma de Fernando de Azevedo sintetizada no Código de Educação do Estado de São Paulo, de 1933, e sua expansão pelo interior e pelo litoral do estado, ao longo das décadas de 1950 e 1960. Foram contemplados na pesquisa os acervos de 12 escolas estaduais que abrigaram institutos de educação no interior do estado de São Paulo e, mediante a utilização de procedimentos de localização, recuperação, reunião, seleção, 5 GRISI, Rafael. Didática mínima. São Paulo: Ed. do Brasil, 1952. 20 ordenação e análise de fontes documentais e bibliografia especializada, a autora constatou a existência nesses institutos de um modelo de formação de alfabetizadores diretamente relacionado com o ideário da Escola Nova. Em seu Trabalho de Conclusão de Curso de Pedagogia, mediante pesquisa documental e bibliográfica e utilização de procedimentos de recuperação, reunião e ordenação de referências bibliográficas de manuais de ensino, para uso em cursos de formação de professores primários, Thabatha Aline Trevisan (2003), apresenta a análise da configuração textual, com ênfase nos cinco capítulos referentes ao ensino da leitura e da escrita, do manual Práticas Escolares, escrito pelo educador paulista Antônio D'Ávila, autor de vários manuais para o ensino de diferentes matérias, os quais foram bastante utilizados até pelo menos os anos de 1970, especialmente nas escolas normais dos institutos de educação do estado de São Paulo. A autora constata que, no manual analisado, encontra-se uma síntese de saberes e práticas derivados, predominantemente, do ideário do movimento da Escola Nova e que eram considerados necessários para o exercício eficiente e eficaz do magistério, por parte dos professores e, em especial, dos alfabetizadores. Em seu Trabalho de Conclusão de Curso de Pedagogia, Valéria Souza dos Santos (2003), aborda as leituras sobre educação e ensino disponibilizadas aos professores do Instituto de Educação “Peixoto Gomide” de Itapetininga/SP. Para isso, a autora utiliza como fonte documental privilegiada o Livro Tombo (2 v.; 284 f.; [1976]) da biblioteca desse instituto de educação, que funcionou entre 1953 e 1975. Com o objetivo de contribuir para a compreensão de aspectos da história da formação de professores primários no Brasil, assim como subsidiar pesquisas correlatas e mediante procedimentos de recuperação, ordenação e classificação dos dados sobre autor, título, editora e ano de publicação, foram recuperados mais de 7000 títulos registrados nesse Livro Tombo, os quais tratam de assuntos diversos, tais como: filosofia, sociologia, educação, literatura, filologia, gramática. A autora identificou e 21 descreveu as leituras sobre educação e ensino disponíveis no acervo dessa biblioteca e sua relação com as propostas de inovação educacional para a formação docente nos institutos de educação, as quais se baseavam predominantemente em princípios do movimento da Escola Nova. A leitura de todos esses textos propiciou compreender melhor a relevância de desenvolvimento de pesquisa histórica sobre formação de professores alfabetizadores nos institutos de educação do estado de São Paulo. Ao mesmo tempo, essas leituras auxiliaram-me na realização da fase exploratória de pesquisa documental, mediante consultas a acervos particulares e instituições da cidade de Birigüi, com o objetivo de localizar documentos relativos à história dessa cidade e do Instituto de Educação (IE) “Prof. Stélio Machado Loureiro”. Como resultados dessa fase exploratória, localizei: livros que tratam da história da cidade e de sua educação e jornais e textos manuscritos antigos e fotografias sobre o instituto de educação assim como legislação pertinente à formação de professores. Realizei, também, três entrevistas que se encontram transcritas nos Apêndices C, D e E ao final desta dissertação e coletei depoimentos orais ou entrevistas abertas (que foram registradas como anotações de minha parte, mas não gravadas e transcritas) com ex-alunos, ex-professores, ex- funcionários desse IE6 e com ex-deputado federal da cidade, entre outros, que me forneceram “pistas” para chegar às pessoas que, de diferentes formas, contribuíram com informações e documentos para minha pesquisa. Utilizo muito do conteúdo desses depoimentos, informações e entrevistas sabendo dos riscos de depender da memória do depoente. E quando foi possível, cotejei os depoimentos com outras fontes documentais e com a bibliografia especializada. 6 Como a instituição só recebe a denominação de instituto estadual a partir de 1967 e nas fontes documentais analisadas ocorre uma oscilação das siglas IE e IEE, optei por utilizar a sigla IE em todo texto; apenas nos títulos de artigos de periódicos é que permanecerá IEE, quando assim estiver registrado. 22 Mediante recuperação, reunião e seleção dos documentos impressos, manuscritos e iconográficos localizados, foi possível organizar um instrumento de pesquisa sobre o IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”, de Birigüi/SP, que se encontra no Apêndice A, ao final desta dissertação. De um total de 217 referências bibliográficas dos textos impressos e manuscritos reunidas nesse instrumento de pesquisa: 42 são de livros de atas, livros de matrículas, livros de registros e mapas de movimento; 63 são de pastas de documentos organizadas por temas7; quatro são de livros tombos de bibliotecas; uma, de cartilha de alfabetização; e 106, de artigos em jornais, livros e legislação. Foram também localizadas, recuperadas, reunidas e selecionadas 41 fotografias que se encontram no álbum de fotos n.1 da Biblioteca “Monteiro Lobato”, da EE “Prof. Stélio Machado Loureiro” e na pasta de fotos n.5, do Museu Histórico de Birigui referentes à cidade de Birigüi, suas escolas e o IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”, que se encontram no Anexo D. A leitura daqueles textos sintetizados anteriormente assim como a análise preliminar dos dados reunidos nesse instrumento de pesquisa propiciaram definir como tema de pesquisa a formação do professor alfabetizador no IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”, de Birigüi/SP, o qual funcionou, com essa denominação, entre 1961 a 1976, datas que correspondem, respectivamente ao ano da criação do instituto de educação, pelo Decreto-Lei 6.320, de 28/09/1961, e ano em que a instituição passa a se denominar Escola Estadual de Primeiro e Segundo Grau (EEPSG) “Prof. Stélio Machado Loureiro”, devido ao Decreto n. 7.510, de 29/01/1976, – Reorganização da Secretaria de Estado da Educação. Após análise preliminar de todo o material selecionado, constatei que a formação do professor alfabetizador ocorria, mais diretamente, no 3º ano do Curso Normal, na 7 Estou contando as pastas e não os documentos, porque permitem dar uma visão de conjunto. Essas pastas contêm textos manuscritos, datilografados e mimeografados, recortes de jornais, convites, cronograma de atividades, entre outros, agrupados aleatoriamente. Em algumas pastas não é possível manusear todo o material porque foram encadernadas, com o material dentro de sacos plásticos, o que não permite sua retirada, e também a diretora atual da instituição não permitiu que eu abrisse os sacos plásticos. 23 matéria de Metodologia e Prática de Ensino e, no Curso de Aperfeiçoamento, nas matérias Metodologia das Matérias do Ensino Primário, Metodologia da Leitura e Escrita e Prática de Ensino. Para realização da pesquisa, defini, então, os seguintes objetivos: • Contribuir para a compreensão da história da formação do professor alfabetizador no Brasil; • compreender e explicar os principais aspectos do modelo de formação de professor alfabetizador implementado, como inovação educacional, no IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”, de Birigüi/SP; e • recuperar, reunir e ordenar documentos relativos ao IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”, a fim de subsidiar pesquisas correlatas. Para orientar a investigação, formulei as seguintes questões: • Com que necessidades e com quais finalidades foi criado o IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”, de Birigüi/SP? • Quais as características do contexto histórico, social e educacional birigüiense, quando da criação desse instituto? • Como era organizado o IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”, de Birigüi/SP? • Quais os princípios teóricos subjacentes à proposta de formação do professor alfabetizador e a inovação educacional proposta para os IEs do Estado de São Paulo? • Qual o modelo de formação de professores alfabetizadores nele proposto e sua relação com demais IEs e com o ideário da Escola Nova? Como hipótese, formulei a seguinte: há uma estreita relação entre o modelo de formação de professores alfabetizadores proposto no IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”, 24 de Birigüi/SP (assim como nos demais IEs paulistas) e a inovação educacional decorrente do ideário da Escola Nova. A fim de fundamentar a investigação e a discussão da hipótese formulada, foram utilizados determinados pressupostos teórico-metodológicos, que podem ser sintetizados nos seguintes conceitos básicos: formação de professores alfabetizadores, escola nova, pesquisa de fundo histórico e análise da configuração textual. De acordo com Magnani (1997), a formação do professor precisa acontecer como um processo discursivo, em que os futuros professores possam compreender as teorias e conceitos mais adequados, para, assim, elaborar as suas próprias concepções e propostas de trabalho. A formação de professores (básica regular e em serviço) é parte do processo de formação de sujeitos, num dado momento histórico, em determinadas relações sociais de trabalho. O preparo específico e a prática dessa profissão caracterizam-se por aprender a ensinar a aprender, a analisar e formular concepções de mundo e formas de atuação. Para isso, não basta aprender a utilizar conceitos para analisar a realidade, é preciso também aprender a utilizá-los para analisar o pensamento conceitual e os próprios conceitos: um trabalho principalmente metacognitivo, que organiza por que, para que, quem, para quem, o que, como, quando, onde ensinar/aprender. (MAGNANI, 1997a, p.30). Quanto ao conceito de Escola Nova, para Jorge Nagle (1974), o movimento da Escola Nova no Brasil significou um processo de remodelação das instituições escolares, que teve como conseqüência a revisão crítica da problemática educacional. Ocorre, então, um confronto entre a escola tida como “tradicional” e o tipo de escola proposta pelo movimento da Escola Nova. Para o autor o “[...] confronto com ‘escola tradicional’, em relação à qual se colocou em termos antitéticos a Escola Nova se fundamenta em nova concepção sobre a infância” (NAGLE, 1974, p. 248 – 249). E ainda, de acordo com Nagle “[...] o movimento escolanovista representa na história da educação o espírito de crítica e de revolta contra os 25 padrões de educação e cultura existentes até a penúltima década do século XIX” (NAGLE, 1974, p. 250). O autor dividiu esse movimento em duas fases: a primeira se sustenta dos fins do Império até o final da década de 1920 e nela [...] não se encontram nem apresentação sistemática e ampla das idéias escolanovistas, nem a criação de instituições escolares que possam denunciar o aparecimento da nova modalidade de compreensão da escolarização. O que se encontra nessa fase são apenas alguns antecedentes: de um lado, antecedentes no sentido de modesta infiltração destes ou daqueles procedimentos, idéias ou princípios; de outro, antecedentes no sentido de condições facilitadoras para a mais sistemática e ampla difusão posterior do ideário [...] (NAGLE, 1974, p. 239). Na segunda fase, a difusão dos ideais da Escola Nova ocorre mediante a literatura educacional e um conjunto de realizações ao longo e a partir da década de 1920. Nesta se encontra a difusão sistemática dos ideais da escola nova, período em que a literatura educacional, além de se expandir, se altera quantitativamente, dada à “nova pedagogia”. Ao mesmo tempo em que se difundem as novas idéias e aparece a nova literatura, se processa a infiltração do escolanovismo no movimento reformista da instrução pública: na década dos vinte tenta-se, pela primeira vez, realizar o novo modo de estruturação das instituições escolares. [...] (NAGLE, 1974, p. 241). Ainda sobre o conceito de Escola Nova, Manoel Bergström Lourenço Filho, um dos expoentes desse movimento no Brasil, ao tratar dessa nova mudança educacional não se refere somente a um sistema didático, “[...] mas a todo um conjunto de princípios tendentes a rever as formas tradicionais do ensino. De modo geral, derivam de uma nova compreensão de necessidades da infância, inspirada em conclusões de estudos da biologia e da psicologia” (LOURENÇO FILHO, 1978, p.15). Para ele os princípios gerais da Escola Nova estão relacionados com uma abordagem do processo de educação e aprendizagem nos aspectos individual e social. 26 Discutindo questões relacionadas com esse movimento de renovação educacional, Monarcha afirma que a Psicologia e a Biologia vêm proporcionar “[...] uma nova concepção das necessidades da infância” (MONARCHA, 1989, p. 12). O autor reflete, ainda, sobre o movimento da Escola Nova a partir das noções de ideologia e hegemonia, demonstrando que [...] o escolanovismo, enquanto expressão de uma vanguarda pedagógica [...] procurou aprofundar e superar o próprio pensamento esclarecido, apontando para a reorganização do poder burguês. Ou mais exatamente: dotar a sociedade burguesa de estabilidade, com a finalidade de banir a autodestruição. (MONARCHA, 1989, p. 107). Procurava-se, assim, estabelecer uma mediação entre a política, a econômica e a educação, enfim: [...] o escolanovismo, como expressão particularizada da comunidade de homens cultos brasileiros, testemunhou a emergência de uma nova percepção e sensibilidade para o caos da cidade e da multidão poderia trazer. Sob a capa de evolucionismo biológico e do progresso técnico-científico procurou produzir a subsunção do trabalho ao capital. (MONARCHA, 1989, p. 108). Esse processo influenciou diretamente toda a literatura pedagógica produzida e traduzida por educadores brasileiros, gerando concentração, em “linhas editoriais definidas”, de uma produção até então esparsa e difusa. Além da literatura pedagógica, a influência dos princípios escolanovistas se estende decisivamente para o processo de formação de professores, que deveriam aprender a ensinar de acordo com a inovação educacional proposta nesse movimento, que, ao longo das décadas seguintes, vai-se consolidando como um ideário que fundamenta e organiza as práticas pedagógicas em todos os níveis de ensino. A escola cientificiza-se, e a criança é o centro de tudo. 27 Quanto à pesquisa de fundo histórico em educação, Mortatti afirma, que a especificidade desse tipo de pesquisa [...] consiste, do ponto de vista teórico-metodológico, na abordagem histórica – no tempo – do fenômeno educativo em suas diferentes facetas. Para tanto, demanda a recuperação, reunião, seleção e análise de fontes documentais, como mediadores na produção do objeto de investigação (MORTATTI, 1999b, p. 73). Para Lopes e Galvão (2001), o estudo da história vem proporcionar uma abertura semelhante à obtida em viagens. Deparamos com o outro, no tempo e no espaço, e cabe-nos a sensibilização, a disposição e disponibilidade para interpretar. No que se refere à pesquisa histórica em educação, as autoras afirmam: [...] os objetos utilizados na escola têm-se tornado uma fonte fundamental nos estudos de História da Educação [...] o material [...] dirigido ao estudante ou ao professor muito podem dizer sobre métodos de ensino, disciplina, currículo, saberes escolares, formação de professores [...] (LOPES; GALVÃO, 2001, p.83). A pesquisa histórica requer trabalho com documentos, como forma de se ter acesso ao passado e buscar reconstruí-lo. Referindo-se ao trabalho com documentos, Vieira, Peixoto e Khoury (2002) criticam a idéia de que os documentos “falam por si” e indicam a necessidade de o pesquisador fazer-lhes perguntas adequadas para desvendar o lugar social em que determinada linguagem foi produzida, quem produziu, para quem, como e por quê as coisas estão representadas de certa forma e não apenas o quê está representado. Ao formular as perguntas, o pesquisador muda seu ponto de partida do documento para o problema, buscando dar conta dos aspectos acima mencionados. Para Mortatti (1999b), por sua vez, um procedimento metodológico adequado e relevante para análise do material discursivo relativo à pesquisa histórica em 28 educação é a análise da configuração textual. Esse conceito é definido pela pesquisadora da seguinte maneira: O que confere singularidade a um texto é o conjunto de aspectos constitutivos de sua configuração textual, a saber: as opções temático- conteudistas (o quê?) e estruturais - formais (como?), projetadas por um determinado sujeito (quem?), que se apresenta como autor de um discurso produzido de determinado ponto de vista e lugar social (de onde?) e momento histórico (quando?), movido por certas necessidades (por quê?) e propósitos (para quê?), visando a determinado efeito em determinado tipo de leitor (para quem?) (MORTATTI, 1999b, p. 71). Tendo em vista esses conceitos, os procedimentos para o desenvolvimento da pesquisa documental e bibliográfica de que resultou esta dissertação consistiram em: recuperação, reunião, seleção, ordenação e análise de fontes documentais sobre o IE “Prof. Stélio Machado Loureiro” e bibliografia especializada sobre o tema formação de professores alfabetizadores e Escola Nova; e realização de três entrevistas gravadas, com uma ex- professora e duas ex-alunas desse instituto de educação, assim como coleta de depoimentos orais não gravados, apenas transcritos, como anotações de minha parte. Para o desenvolvimento da pesquisa documental e bibliográfica, foram consultados os acervos, instituições e sites relacionados ao final desta dissertação. *** Optei, então, por organizar a versão final da dissertação da seguinte maneira: introdução, seguida de nove capítulos. Nesta introdução, apresento o percurso da pesquisa, ressaltando os antecedentes que me levaram à realização da investigação, os objetivos, questões, a hipótese formulada, os conceitos básicos e os procedimentos metodológicos. No capítulo 1, abordo aspectos do surgimento da cidade de Birigüi e do ensino nessa cidade. No capítulo 2, 29 apresento a origem do ensino normal na cidade de Birigüi. O capítulo 3 está organizado de modo a apresentar a criação dos IEs no Estado de São Paulo e do IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”, de Birigüi. No capítulo 4, apresento a organização desse IE e, no capítulo 5, sua repercussão na cidade. No capítulo 6, apresento a origem da Escola Normal desse IE, especificamente com ênfase nas atividades do 3º ano do curso. No capítulo 7, apresento o Curso de Aperfeiçoamento e a análise descritiva da cartilha Vamos ao circo. No capítulo 8, apresento a fundamentação teórica para a formação de professores alfabetizadores do IE “Prof. Stélio Machado Loureiro”. No capítulo 9, apresento a síntese interpretativa dos aspectos abordados nos capítulos anteriores, seguindo-se as considerações finais. Ao final, são apresentadas referências, bibliografia de apoio teórico, obras de referência, instituições, acervos e sites consultados, seguidos de cinco apêndices contendo o instrumento de pesquisa mencionado, o roteiro das entrevistas e sua transcrição. Por fim, apresento quatro anexos contendo ilustrações de cópias de atas, jornais, convite, certificados de conclusão de curso e fotos referentes a situações e momentos da cidade, da escola e de pessoas envolvidas. 32 CAPÍTULO 1 A CIDADE DE BIRIGUI E O ENSINO: ASPECTOS HISTÓRICOS 33 1.1 Breve histórico da cidade de Birigüi1 Birigüi2 é uma cidade localizada no Noroeste do Estado de São Paulo, distante em 521Km da capital do estado. Foi fundada em 8 de dezembro de 1911 e, de acordo com o censo do Instituto Brasileiro Geográfico Estatístico (IBGE) – 2002, conta com 94.325 mil habitantes. E na mais recente publicação do Diário Oficial da União – seção 1, de 30/08/2003, Birigüi conta com 100.207 habitantes. Birigui é um dos 43 municípios3 que compõem a 9ª região administrativa do Estado de São Paulo – Araçatuba4, localizada na porção oeste do Estado, região essa de menor dimensão física. Segundo Cunha (1997, p. 57), a famosa região da Noroeste do estado de São Paulo, com a tenacidade de seu povoamento e seu progresso, foi em São Paulo "[...]o exemplo mais dignificante de colonização pelo trilho”. A decisão do senhor Nicolau da Silva Nunes5 em fixar residência onde havia só uma Chave6 da estrada de ferro, era do interesse não apenas de latifundiários preocupados com os grileiros, mas também da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil7, que se sentia mais protegida e defendida. Os trilhos da estrada deveriam avançar para o Estado do Mato Grosso em busca de um território que era antes uma incógnita geográfica, 1 As informações contidas neste capítulo foram extraídas de: Cunha (1997), Ramos e Martins (1961), Manfredi Neto (1995) e Vedovotto (1997). 2 O nome da cidade é de origem tupi-guarani e refere-se ao mosquito Birigüi (díptero hematófago), abundante na região. 3 Os demais municípios dessa região são: Alto Alegre, Andradina, Araçatuba, Auriflama, Avanhandava, Barbosa, Bento de Abreu, Bilac, Birigüi, Brauna, Brejo Alegre, Buritama, Castilho, Clementina, Coroados, Gabriel Monteiro, Gastão Vidigal, General Salgado, Glicério, Guaraçaí, Guararapes, Guzolândia, Ilha Solteira, Itapura, Lavínia, Luiziânia, Mirandópolis, Murutinga do Sul, Nova Castilho, Nova Guataporanga, Nova Independência, Nova Luzitânia, Rinópolis, Preira Barreto, Penápolis, Piacatu, Rubiácea, Santo Antonio do Aracanguá, Santópolis do Aguapei, São João de Iracema, Sud Mennucci, Suzanápolis, Turiuba e Valparaíso. 4 Araçatuba é a sede da 9ª região Administrativa do Estado, distante 530,5 Km da capital do Estado, por rodovia. 5 Fundador da cidade, um português, natural da Freguesia de Mouramorta, Trás-os-Montes, Portugal. 6 Entroncamento de linha de trem, breve parada, numa clareira na mata. A Chave mencionada foi construída no quilômetro 261 da ferrovia e servia para a parada das locomotivas, pelos menos três por semana. 7 No ano de 1903 um decreto do executivo autorizou a “Companhia Noroeste do Brasil” a funcionar e iniciar os estudos para a construção da Estrada de Ferro Bauru a Cuiabá. E no dia 14/10/1918, a linha recebeu o nome de Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Essa ferrovia do início do século XX foi a primeira ligação entre o Estado do Mato Grosso e o Estado de São Paulo. O trecho da ferrovia que passava por Birigüi foi inaugurado em 2 de dezembro de 1908. Eram 79 quilômetros entre Miguel Calmon (atual Avanhandava/SP) e Araçatuba/SP (wwwnobbr.cjb.net/+estra...). 34 entre os vales do rio Feio e Tietê, repletos de índios Coroados, com eram chamados os índios Caingangues. De acordo com Monbeig, os índios Caingangues no século XVIII estavam distribuídos nos planaltos paulistas e “[...] no fim do XIX, foram encontrados Coroados no vale do Tietê e, no início do XX, foram encontrados cinco pequenos grupos entre o Peixe e o Aguapeí” (MONBEIG, 1984, p. 107). Segundo Azevedo (1950, p. 121, grifos do autor): “[...] Birigüi, em 1908, era uma Chave de ESTRADA DE FERRO onde não parava guarda que não fôsse trucidado pelos Caingangues [...]"8. Essa é a primeira citação à “Chave de Birigüi”. Portanto, o nome de Birigüi, dado à Chave da Estrada de Ferro Noroeste nesse local, existiu antes da fundação da cidade, quando viviam no local somente índios. Às margens da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, iam-se formando núcleos de população provinda de outras regiões do estado de São Paulo, do país e do exterior, em decorrência da modernização trazida pelas ferrovias ao interior paulista. De acordo com Manfredi Neto (1995, p. 17), [...] o que se viu, foi que nas zonas de influência desta estrada a maioria dos municípios nasceu com a via férrea e, assim, de 600 habitantes que existiam no ano de 1905 em Bauru, apenas em três anos mais tarde já possuía 8000 habitantes, e vão se configurando cidades como Lins, Penápolis9, Birigüi, Araçatuba etc. Dessa forma, como as outras cidades da região e do estado, Birigüi também surgiu e cresceu a partir da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, a qual, por sua vez, se expandiu devido à ocupação de terras para o cultivo do café. Chegava, assim, à região um grande número de imigrantes europeus: portugueses, italianos, espanhóis, ingleses, entre outros. Os ingleses, na maioria das vezes, eram engenheiros e administravam a venda da terra, e os portugueses e italianos lidavam com a terra, trabalhavam como agricultores. 8 Nesta e nas demais citações de trechos e títulos de documentos, utilizarei a ortografia original. 9 Microrregião da Alta Noroeste de Penápolis/SP (240): Alto Alegre, Avanhandava, Barbosa, Bilac, Birigüi, Brauna, Buritama, Clementina, Coroados, Brejo Alegre, Gabriel Monteiro, Gliério, Luisiania, Penápolis, Piacatu, Santópolis do Aguapeí, Turiuba e Lourdes. 35 Segundo Cunha (1997), Nicolau da Silva Nunes conheceu a região, atraído por um artigo de jornal, que relatava a fertilidade daquelas terras, principalmente das que envolviam a Chave de Birigüi. Adquiriu, assim, 400 alqueires para si e seus representados, Antonio Gonçalves Torres e Afonso Gracia Franco, e, quando voltou para o município de Sales de Oliveira/SP, onde morava, colocou os lotes à venda. De acordo com Manfredi Neto (1995, p. 104), Nicolau da Silva Nunes vai então até Bauru e obtém do superintendente da Noroeste, dois vagões, nos quais passaram a morar. Constituindo o agrupamento na Chave de Birigui e a partir de janeiro de 1912, intensifica-se o afluxo de povoadores, colonos, e aventureiros. Para Monbeig, “Na Noroeste, é em Birigüi que parece ter-se formado o primeiro núcleo de sitiantes, [...] que abrangerá toda região até Araçatuba [...]” (MONBEIG, 1984, p. 185). A rapidez com que acontece o povoamento de Birigüi é atribuída a San Paulo Land, Lumber and Colonisation Companhy, A sua luminosa directoria, então constituída pelos Srs. Dr. Arlindo de Lima, presidente; Manoel Bento da Cruz, director-secretário; James Mellor, director-gerente; Roberto Clark, director-technico; e Drs. Elysio de Castro Fonseca, Franklin M. Keffer e Eduardo Hamler, do conselho fiscal, descobriram as preciosas qualidades de suas terras, e, desde então, installaram-se naquelle bocado de torrão paulista, que hoje é Biriguy [...] (ERCILLA; PINHEIRO, 1928, p. 500). Devido à instalação da Companhia de Terras, Madeiras e Colonização de São Paulo, em Birigüi, outros senhores recebem o título de fundadores da cidade de Birigüi, como é o caso de alguns membros da Companhia de Terras, Madeiras e Colonização de São Paulo, a que Ercilla e Pinheiro fazem referência no livro O Estado de São Paulo: Zona Noroeste: Mr. Jaymes Mellor, fundador da prospera cidade de Biriguy e da ‘Companhia de Madeiras, Terras e Colonisação’[...] (ERCILLA; PINHEIRO, 1928, p. 48). Sr. Roberto Clark, companheiro de James Mellor e de Manoel Bento da Cruz na fundação de Biriguy e da Companhia de Madeiras, Terras e Colonisação 36 desse município. Podendo desfrutar com tranqüila e bem ganha fortuna dos títulos de maior e mais adeantado fazendeiro de Biriguy, toda a sua energia e capacidade assombrosas de organização estão sempre dedicadas ao engrandecimento da cidade por elle fundada. (ERCILLA; PINHEIRO, 1928, p. 64). Coronel Manoel Bento da Cruz, um dos mais esforçados elementos que a zona Noroeste tem tido para o seu desbravamento e progresso. São muitas as cidades que a elle devem a sua formação. (ERCILLA; PINHEIRO, 1928, p. 96). Quanto ao senhor Nicolau da Silva Nunes, os autores assim o caracterizam: “Sr. Nicolau da Silva Nunes, o bandeirante que formou a primeira fazenda em Biriguy. É um dos destemidos desbravadores do sertão, a quem muito se deve o actual progresso da região” (ERCILLA; PINHEIRO, 1928, p. 106). Segundo Monbeig (1984, p. 183): Um dos primeiros homens que penetraram nesse sertão, negociante, fundador de cidade curiosamente misturado com aventureiro, Manoel Bento da Cruz possuía uma gleba de 30.000 alqueires; ele se associou a uma empresa inglesa, a San Paulo Land and Lumber Co, para dividi-los em lotes de 10 a 1.000 alqueires. Uma grande propaganda foi feita nas plantações de Ribeirão Preto junto aos operários italianos ou filhos de italianos que imigraram em massa para Birigui: em cinco anos, mais de 3.000 famílias vieram aí se instalar. Entretanto, o que ficou para a história, registrado na memória produzida por birigüienses, é que o Sr. Nicolau da Silva Nunes foi o fundador do município e passou a morar no local, em dois vagões cedidos pela estrada de ferro, para demonstrar segurança aos demais compradores de terra, pois as grandes dificuldades no seu empreendimento nesse primeiro momento eram os índios Coroados. Nem a hostilidade dos índios, nem a presença do pequeno mosquito Birigüi, porém, desencorajavam os primeiros habitantes que acompanhavam o fundador. Foram eles: os senhores Francisco Galindo Romero, Manoel Inácio, Francisco Galindo de Castro e sua esposa, Dona Antonia Real Dias, primeira mulher a residir em Birigüi. Segundo Manfredi Neto (1995, p. 21) [...] os atritos significativos existentes com os índios caingangues que 37 habitavam a região[...] desordenaram a comunidade indígena local, relegando-a ao extermínio total, reduzindo-a às reservas e condenando-a ao esquecimento, numa das páginas mais controvertidas e sangrentas da região, que reduz o índio, “a expectativa da morte”, [...] foram registrados nesta ocasião várias chacinas de ambos os lados. Apesar das dificuldades, os pioneiros e algumas famílias formaram pequenos núcleos de povoamento e se estabeleceram no município. A primeira casa erguida era feita de taipa, na confluência das atuais ruas Silvares e Fundadores. E os senhores Lucas Scarpin, Antonio Simões, Faustino Segura, Ricardo Del Nery, João Galo, França Contel, Giseppe Fonzar foram alguns dos pioneiros. Em 1912, Birigüi ganhou mais um habitante, José Cordeiro, capitão bandeirante que, com sua expedição, deixou a cidade de Lençóis Paulista/SP e se juntou ao povoado, para o desbravamento da mata. Entretanto, os principais desbravadores foram os senhores Roberto Clarck e James Mellor que adquiriram terras por meio de Manoel Bento da Cruz fundador da Companhia de Terras, Madeiras e Colonização São Paulo e eram membros dessa Companhia como já mencionei anteriormente. A ocupação do oeste paulista se deu pela expansão da malha ferroviária, imigração e urbanização. E em Birigüi não foi diferente. Também atribuo a esses três fatores o surgimento do município, considerando, ainda, o que afirmou Ercilla e Pinheiro: [..] Biriguy a bella e opulenta cidade de hoje, é um dos municípios, que muito deve a henemerita Companhia de Terras, Madeiras e Colonisação, na evolução rápida de riqueza e de engrandecimento [...] (ERCILLA; PINHEIRO, 1928, p. 502). Essa empresa fez surgir “Daquellas brutas e incultas terras daquelle desconhecido pedaço de Estado de S. Paulo, ella fez surgir, como por encanto, villas e cidades, illuminadas a eletricidade e cheias de conforto, comparável até mesmo ao das mais adeantadas metropolis do Brasil”. (ERCILLA; PINHEIRO, 1928, p. 500). Com o passar do tempo, a lavoura foi ocupando o que era mato, surgindo, assim, o “ciclo do café”. Birigüi se destacou na agricultura, sendo uma das maiores produtoras de café da região Noroeste. Na década de 1920, o município contava com 584 cafeicultores e 38 mais de 8,5 milhões de pés de café. Somente em 1927, foram embarcadas na estação de Birigüi 154.162 sacas do produto. A partir da crise do café em 1930, a produção foi drasticamente reduzida em poucos anos. Os produtores rurais foram obrigados a buscar novas alternativas para sua sobrevivência E, assim, outras culturas agrícolas começaram a serem cultivadas, entre elas o algodão e o amendoim, como já vinha acontecendo há alguns anos. Segundo Monbeig (1984, p. 183) “[...] uma outra sociedade britânica, a Bazilian Plantation Company, dividia um bloco de 15.000 alqueires em pequenas explorações, encorajando aí a cultura do algodão”. A cultura do algodão foi, então, desenvolvida em larga escala na Fazenda Guatambú e na Fazenda Jangada, sendo instalado em Birigüi o “Syndicato Brasileiro de Plantação”, cuja sede central era em Londres - Inglaterra e a sede imediata, no Brasil, na cidade de São Paulo. Foi necessário a instalação de mais uma estação de trem e foi instalada a estação Guatambú, dentro da fazenda Guatambú, de mesma denominação, para o escoamento do café e algodão. Na década de 1940, Birigüi foi uma das maiores produtoras de algodão de toda a região Noroeste do Estado de São Paulo, superando Araçatuba, Bauru, Lins e Penápolis. Segundo Vedovotto (1997), nos anos de 1947 e 1948 a safra de Birigüi foi de 840 mil arrobas/caroço de algodão e de 60 mil sacas de 25 quilos de amendoim. A cidade apenas ficou atrás de Penápolis e Cafelândia. Nessa época, motivada pela quantidade de algodão e amendoim produzidos na região, a Empresa Anderson Clayton instalou sua primeira unidade em Birigüi e, em 1947, entrou em funcionamento a usina de beneficiamento de algodão, que beneficiava a produção local e de outras cidades da região. A empresa Anderson Clayton funcionou em Birigui até o ano de 1979 e dava emprego direto para 200 funcionários, contratados no período da safra. Na entressafra a 39 empresa mantinha um quadro de 60 funcionários para manutenção dos equipamentos. A abundância de algodão e amendoim motivou a criação de uma empresa de óleo, em 1959, denominada Biol – Birigüi Óleo. Na década de 1960, essa mesma empresa passou a refinar o óleo extraído e a comercializar suas próprias marcas de óleo vegetal. Além dos de amendoim, algodão e soja, a Biol se especializou no refino do óleo de girassol. Ainda de acordo com Vedovotto (1997, p. 21) “[...] ela foi a primeira empresa brasileira a extrair óleo dessa flor”. A partir da década de 1980, foi crescendo juntamente com a produção do algodão e a fabricação de óleo, a fabricação de calçados, que passou a se destacar na economia da cidade. Segundo Vedovotto (1997), o pioneiro na produção do calçado em Birigüi foi Avak Bedouian, que, em 1947, montou a primeira indústria de calçados birigüiense especializada em sapatos masculinos e botas. O início da produção do calçado infantil na cidade ocorre com a Empresa Ramos e Assumpção Ltda, a partir de 1958. Ainda de acordo com Vedovotto, o crescimento foi lento nas décadas de 1960 e 1970, em que surgiram apenas 27 fábricas. Somente na década de 1980 é que Birigüiu atingiu a condição de pólo industrial calçadista, com 106 novas fábricas, tendo atualmente mais de 200 fábricas. Em síntese, a povoação de Birigüi passou a Distrito de Paz em 30 de abril de 1915 e alcançou sua emancipação no dia 8 dezembro de 1921, desvinculando-se da vila de Penápolis, dez anos após sua fundação. Em fevereiro de 1922, é eleita a primeira Câmara Municipal; um mês depois, Archibald Thomas Clark toma posse como primeiro prefeito, governa por um período curto, e logo é assassinado. Daqueles tempos até o dia de hoje, a cidade vem-se desenvolvendo, tendo passado da fase áurea da cultura do café, para a cultura do algodão e para sua industrialização, sendo hoje conhecida como “a capital do calçado infantil da América Latina”. 40 A fim de propiciar uma visão de conjunto para a compreensão da localização do município de Birigüi, na macro e micro região que integra, apresento, no Quadro 1, a cronologia os municípios de Penápolis, Birigüi e Araçatuba, quanto a sua origem, para se entender a dependência de Birigüi em relação a Penápolis quanto a sua formação, a posterior dependência administrativa em relação ao município de Araçatuba e a importância das estações da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil no estabelecimento dessas povoações e fundação das cidades. Quadro 1 – Cronologia das cidades de Penápolis, Birigüi e Araçatuba CIDADE ANO ESPECIFICAÇÃO Penápolis 1767 Primeira tentativa de povoamento Penápolis 1842 Segunda tentativa de povoamento Penápolis 1907 Loteamento das terras Penápolis 1908 Estação de Penápolis, inaugurada em 2/12/1908. Km 220 Penápolis 1909 Distrito de Paz, decreto lei n. 1777 de 17/11/1911 Penápolis 1911 Município, decreto lei n. 1397 de 22/12/1911 Penápolis 1917 Comarca, decreto lei n. 1557 de 10/10/1917 Birigüi 1908 Chave de Estrada de Ferro Birigüi 1911 Povoamento Birigüi 1914 Distrito de Paz, lei n. 1426 de 10/11/1914 Birigüi 1917 Estação Birigui, inaugurada em 12/12/1917, Km 261 Birigüi 1921 Município, lei n. 1911 de 8/12/1928 Birigüi 1934 Comarca, lei n. 6447 de 19/5/1934 Araçatuba 1908 Estação Araçatuba, inaugurada em 2/12/1908, Km 281 Araçatuba 1914 Povoamento Araçatuba 1917 Distrito de Paz, lei n. 1580 de 20/12/1917 Araçatuba 1921 Município, lei n. 1812 de 8/12/1021 Araçatuba 1922 Comarca, lei n. 1887 de 8/12/1922 Fonte: MANFREDI NETO, Pascoal. O trem da morte: o imaginário do progresso na Noroeste (1905 – 1930). São Paulo, 1995 e NOVA Divisão Territorial do Brasil – Qüinqüênio 1954/1958. Origem dos municípios do Estado de São Paulo. São Paulo: M. B. Leal, 1955. 1.2 Aspectos da história do ensino na cidade de Birigüi Em 1912, foi instalada a primeira escola para os filhos das pessoas que vieram morar em Birigüi, organizada por aqueles que sabiam ler e escrever: "[...] reuniram-se 41 as crianças da povoação; meninos e meninas para dar-lhes algumas instruções” (ERCILLA; PINHEIRO, 1928, p. 492). De acordo com Ramos (1961), o ensino, tanto em Birigüi como em toda a região Noroeste, foi primário e municipal desde a sua organização nas vilas e cidades, até a criação das escolas reunidas e dos grupos escolares estaduais. O início do combate ao analfabetismo foi dos mais difíceis, numa época em que os recursos eram escassos e quase só se podia contar com a boa vontade da população. Apenas com o aparecimento dos grandes núcleos urbanos, e, conseqüentemente, a concentração de alunos, é que o governo estadual iniciou construções de prédios para as escolas reunidas10 e, depois, para os grupos escolares11. O pagamento dos professores e o aluguel dos prédios quase sempre corriam por conta dos prefeitos ou de algum dono de grandes glebas de terra. A maioria das escolas funcionava em casas de barro, cobertas com sapé, ou em barracões de tábua, sem instalações sanitárias, muitas vêzes sem luz suficiente e em piso de chão batido. Carteiras só existiam as duplas e, ainda assim, só na cidade. Na roça, os “móveis” das salas de aulas eram tábuas compridas sôbre caixões de querosene. Serviam de mesa os caixões de querosene em pé; quando eram deitados, serviam de assento para os alunos. A mesa do professor era qualquer móvel que se encontrasse ou aquele que ele próprio fabricava, pondo 4 pés num caixão de cebolas. As lousas ficavam sobre cavaletes. [...] do primeiro ao fim do segundo ano escolar, os alunos escreviam nas pedras (ardósias) com lápis também de pedra, apagando os exercícios com pequeno pedaço de pano úmido. No início do terceiro e do quarto ano, começavam a escrever a lápis em seus cadernos e, no último ano do curso primário, à tinta (RAMOS; MARTINS, 1961, p. 145-146). O período de aulas sempre atendia às necessidades das crianças. Por exemplo, nas épocas de colheitas de café, de algodão ou de cereais, havia certa tolerância por parte dos professores quanto à freqüência dos alunos às aulas. Outra dificuldade para o desenvolvimento do ensino na cidade era a presença 10 “Escolas Reunidas” era a reunião de escolas primárias em um mesmo edifício. A esse respeito, ver, especialmente, Tanuri (1979). 11 “Grupos Escolares” eram estabelecimentos em que se reuniam várias séries escolares, com os alunos divididos em classes e cada classe sob a regência de um professor. A esse respeito, ver, especialmente, Souza (1998). 42 dos índios. Ainda no começo do século XX, os mapas escolares traziam a legenda: “Região da Noroeste – Zona Desconhecida, habitada por Índios Ferozes”. Esse dístico serviu durante muitos anos de propaganda contrária à formação das povoações nessa região geográfica, havendo muita falta de professores, apesar de estes, na década de 1910, serem regularmente remunerados. Como não havia Curso Normal na cidade, os professores vinham de fora, já diplomados, para lecionar no município. Exemplo dessa situação é a professora Esmeralda Milano Maroni, que se diplomou pela Escola Normal “Caetano de Campos”, em São Paulo, e veio para Birigüi em 1920 para lecionar na Escola da Fazenda Baixotes, de propriedade do Sr. Batista. Segundo o depoimento de seu filho caçula12, o Sr. Vasco Maroni, essa professora residia em São Paulo, era filha única de pai artista e era muito entusiasmada pela educação. Seu tio, o professor Miguel Milano13, dedicava-se muito ao ensino e ela seguia o seu exemplo. A professora Esmeralda veio para Birigüi acompanhada de sua mãe e se tornou uma professora de respeito e destaque na cidade, sendo uma das primeiras diretoras de escola do Estado de São Paulo, a primeira diretora de escola da cidade de Birigüi e também a primeira vereadora da Câmara Municipal de Birigüi. Ainda segundo Ramos e Martins (1961), o início do ensino primário, nessa região, deu-se oficialmente com a Lei Municipal n º 7, de 12 de setembro de 1914, que resultou de projeto apresentado, em sessão extraordinária, à Mesa da Câmara Municipal de 12 Depoimento concedido a Áurea Esteves Serra, pelo Sr. Vasco Maroni, em 5 de junho de 2002. 13 Miguel Milano nasceu na cidade de São Paulo a 27 de julho de 1885. Concluído o curso primário no Grupo Escolar do Sul da Sé, em 1900, matriculou-se no Ginásio do Estado, que cursou até o 3º ano. Abandonou o curso ginasial e seguiu com uma companhia dramática para o interior do Estado, de onde voltou em 1904, ingressando na Escola Normal Secundária da Praça da República. Diplomado em 1907 atuou em todos os níveis de ensino público primário, desde professor de escola isolada até inspetor escolar da Capital. Em 1917 entrou para o corpo docente do Liceu Sagrado Coração de Jesus. Foi um dos percussores da cinematografia nacional em S. Paulo, tendo produzido os filmes Faroleiros, Rio do Quarto, Parasitas e Tristezas à beira mar. Dedicou-se à literatura, de modo particular à didática, publicando contos em jornais e revistas da Capital e do Interior do Estado. Em 1925, classificado num concurso de novelas instituído em Paris pelo jornal L’ Amérique Latine, desistiu do prêmio que lhe coube, em favor dos órfãos da grande guerra. Foi contista, novelista, poeta, historiador, biógrafo, didata etc. O professor Miguel Milano escreveu mais de 30 livros e dentre eles o Manual do Ensino Primário, publicado pela Livraria Francisco Alves, em 1939 (MELO, 1954). 43 Penápolis/SP, pelo vereador Dr. James Mellor, porque, nessa época, a cidade de Birigüi tinha jurisdição na cidade de Penápolis/SP. A Câmara Municipal de Penápolis decreta: art.1º - ficam criadas no Município de Penápolis as seguintes escolas primárias: § 1. º - Masculinas: uma na sede do Município; uma na sede de Miguel Calmon (Avanhandava); uma na povoação de Birigüi; uma na povoação de Araçatuba. § 2. º - Femininas: uma na sede do Município; uma na sede do distrito de Miguel Calmon; uma na povoação de Birigüi; uma na povoação de Araçatuba. 3. º - Mista: uma no Bairro do Legado, no Distrito da sede do Município. Art. 2º - Os professores perceberão os vencimentos que forem fixados na Lei do Orçamento. Art. 3º - Revogam-se as disposições em contrário. Sala das Sessões, 20 de agosto de 1914. Nessa mesma sessão, o vereador, Dr. James Mellor, disse “que havendo necessidade de ser votada uma lei que regulamente o ensino Municipal, achava conveniente ser adotada pela câmara a Lei 49, de 16/10/1912, da Câmara Municipal de Bauru, com as modificações que fôssem julgadas necessárias e que submetia à apreciação da Câmara a citada Lei”. (RAMOS; MARTINS, 1961, p. 146). A Comissão de Finanças e Instrução Pública foi de parecer favorável à conversão em Lei do projeto dessa Câmara bem como à Lei nº 49, de 16/10/1912, da Câmara Municipal de Bauru/SP mencionada, o que foi aprovado unanimemente. De acordo com Ramos e Martins (1961, p. 146), conforme o balancete, a verba de Instrução Pública aprovada para Birigüi, com relação aos vencimentos dos professores, referentes aos meses de agosto e setembro de 1915, foi de 190$000 e mais 435$000, correspondentes aos meses de outubro, novembro e dezembro daquele ano. O professor municipal percebeu, portanto, a importância mensal de 145$000. Pela Lei nº 48, de 7 de dezembro de 1916, estabeleceram-se as cadeiras do ensino primário nas escolas municipais: leitura, escrita e caligrafia; moral prática e educação cívica; noções de geografia geral; noções de história natural; história do Brasil e leitura sobre a vida dos grandes homens mundiais; exercícios ginásticos, militares, trabalhos manuais e apropriados à idade e sexo; e cânticos (RAMOS; MARTINS, 1961, p.146-149). Nas escolas em que houvesse freqüência diária de mais de 40 alunos, os 44 professores teriam direito a um professor adjunto nomeado independentemente de concurso pelo Prefeito Municipal, com os vencimentos mensais de 30$000. (RAMOS; MARTINS, 1961, p. 149). Ainda, de acordo com Ramos e Martins, o primeiro professor de Birigüi foi Manoel Pereira da Silva, nomeado para a Escola do Sexo Masculino; e a primeira professora birigüiense foi Daisy Clark, nomeada para a Escola do Sexo Feminino municipal14. Os primeiros alunos da escola primária de Birigüi iniciaram sua vida escolar em 1915. No dia 25 de Novembro de 1915, realizou-se o exame do ano letivo da Escola Municipal do Sexo Masculino da Vila de Birigüi, tendo servido como examinadores, nomeados pela Prefeitura Municipal, os Srs. Roberto Clark, Gentil Pinto Ferreira Coelho e Olívio Rocha. Ao exame compareceram 38 alunos que obtiveram as seguintes notas: Victorio Scola – 12 (doze era a máxima naquele tempo); Joaquim Strada, Francisco Sanchez e Manoel Augusto de Sousa, nota 9; Antonio Doles, Luis Scola, Natal Momesso, Olindo Spirandelli, Paschoal Cavallar, Victorio Cavallar, Waldemar Luis, José Momesso, Antonio Bulchioni, Marinho da Silva e Olívio da Silva, nota 6 (todos do 1º ano). Do 2º ano: João Masson, nota 11; José Segura, Benedicto Toline, João Strada e José Pires Galindo, nota 10; Matheus Saldanha, Antonio Segura, Dionísio Moimás, José Campanans, Pedro Nunes, Pios Anhê e Manoel Nunes, nota 9; Theodorico da Silva, com a nota 6. Do 3º ano: Paulino José dos Santos e Orozine José da Silva, nota 12; Antonio da Silva Nunes, Francisco Peres, Ângelo Cettolin e Martins Contel, nota 11. No dia 26 de novembro de 1915, presentes aqueles mesmos examinadores, realizou-se o exame na Escola Municipal do Sexo Feminino, regida pela Profª. Dayse Clark. Compareceram 31 alunas que obtiveram as seguintes notas: Do 1º ano: Ângela Sanches, Felipa Santina, Waldomira da Silva, Alda da Silva Nunes, Maria Spirandelli e Catarina Pache, Joana Cettolin e Elisa Zuseta, nota 8; do 2º ano: Elvira Spirandelli e Judith Pepeti, nota 12; Rosa Simões, Augusta Gelle, Maria Zusete, Maria Anhê, Dolores Batista e Adolphina Cettolin, nota 11; Elvira Banha, Isabel Garcia, Madalena Batista e Clementina Meneghin, nota 10; do 3º ano: Amélia Ventura e Olívia Ventura, 14 O professor Manoel Pereira da Silva foi nomeado para a Escola do Sexo Masculino, em Birigüi, pelo Ato nº 8 de 17/10/1914 (Livro de Compromisso n. I, folha 4). A professora Daisy Clark foi nomeada para a Escola do Sexo Feminino municipal, em Birigüi, pelo Ato nº 1 de 06/01/1915 (folha 14 do Livro I). O Prof. Manoel Pereira da Silva exonerou-se aos 4/05/1915, pelo Ato 15 (folha 18 do Livro I). A Profª. Daisy Clark exonerou-se aos 24/01/1918 pelo Ato nº 17 (folha 62 do Livro). Outros professores “pioneiros” foram: Archeteclino Brito (Ato de nº 16, de 5/05/1915); que se exonerou pelo Ato 52 de 30/12/1916 (folha 30 do Livro I); Áurea da Silva Brito (por ato nº 4 de 2/1/1917); que se exonerou pelo Ato 18 de 25/1/1918 (folha 63 do Livro I); Iracema Aymberé – pelo Ato 17 de 24/1/1918; que se exonerou pelo Ato 94 de 22/7/1918 (folha 84 do Livro I); e Zilda de Oliveira Ferraz, pelo Ato 114, de 23/10/1918, que se exonerou pelo Ato 120 de 25/09/1919 (folha 129 do Livro I). 45 nota 12; Anna da Silva Nunes, Teresa Banha, Henriqueta Spirandelli, Constantina Cettolin, Maria Peres Galindo, Alzira Simas e Carmela Garcia, nota 11. Apesar dos esforços de todos, muitas crianças não estudavam por falta de escola. O jornal “O Penapolense” de 5 de agosto de 1917 publicava a estatística escolar das crianças de ambos os sexos que ficavam sem receber instrução nas localidades de Araçatuba, Birigüi, General Glicério e Miguel Calmon (Avanhandava). Cerca de 433 eram elas, número elevado para a povoação desta Zona, em aquela época. Aquele mesmo jornal, em 30 de janeiro de 1916, através do seu correspondente em Araçatuba, sob o título “Escolas Municipais”, dizia: “Com regular freqüência funciona nesta localidade uma Escola do Sexo Masculino. Os meninos vão tendo o clarão das primeiras letras, porém, as meninas, coitadas, vivem ainda às escuras. Aguardamos, todavia, a nomeação de uma professora municipal. Realmente, urge a nomeação de uma professora municipal, pois existe um número considerável de meninas que não gozam das vantagens de instrução, idéia essa nobre que o culto Estado de São Paulo tanto eleva”. (RAMOS; MARTINS, 1961, p.50). A primeira escola de Birigüi, denominada Escola do Sexo Masculino e Escola do Sexo Feminino, funcionou em 1914, na Avenida Governador Pedro de Toledo, até o ano de 1924. Em terreno doado em parte por Nicolau da Silva Nunes, foi construído e instalado o estabelecimento de ensino estadual que recebeu a denominação Escolas Reunidas, mais tarde Grupo Escolar de Birigüi e, em 1945, Grupo Escolar “Roberto Clark”; em 2004 sua denominação passou a ser Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) “Roberto Clark” e continua até hoje funcionando nesse prédio e local, atual Praça James Mellor. Quanto ao ensino secundário particular equivalente ao que hoje se denomina Ensino Médio, de acordo com Cunha (1997), o “Instituto Noroeste” foi o primeiro a ser criado não apenas em Birigüi, mas em toda a região Noroeste. Criado em 1918, o Colégio Metodista “Instituto Noroeste” era ligado à Igreja Metodista Episcopal do Sul. A professora Áurea Campos Gonçalves foi sua primeira professora e diretora. A maior parte do terreno desse instituto foi doada por Nicolau da Silva Nunes e Roberto Clark. Em junho de 1937, estava reconhecida também a Escola Remington, que oferecia ensino técnico em contabilidade e datilografia. De acordo com Ercilla e Pinheiro, na década de 1920 Birigüi possuía apenas 46 um grupo escolar e outras instituições confessionais e municipais: A instrução pública é ministrada pelo grupo escolar, onde funciona 10 classes; Collegio Noroeste; Escola Nossa Senhora de Lourdes; Colégio São Luiz, da União dos Moços Catholicos, e o Collegio Silvares. Existem também a Escola Noturna da Loja Maçônica “Paz e Progresso” e mais duas escolas rurais mantidas pelo município. (ERCILLA; PINHEIRO, 1928, p. 498). Posteriormente, outras escolas foram instaladas na cidade: em 1941, o 2º Grupo Escolar, que em 1953 recebe o nome de Grupo Escolar “Profa. Geni Leite da Silva”, situado na esquina da rua Roberto Clark com a rua Antonio Simões, hoje prédio da Polícia Militar; em 1948, o Ginásio Estadual de Birigüi, que teve como primeiro diretor o professor Agostinho Minicucci, funcionou na rua Saudades e hoje é denominado Escola Estadual (EE) “Prof. Stélio Machado Loureiro” e funciona na rua Mário de Souza Campos. O primeiro livro-ponto de professores e funcionários do Ginásio Estadual de Birigüi data de 26/02/1948, uma quinta-feira, e assinam o ponto nesse dia a professora de Português, Yolanda Yared, e a professora de Geografia, Thereza Perez. No dia 01/03/1948 começam a assinar o ponto a professora de Inglês, Maria da Conceição Pimentel, a professora de Canto, Benedita Miragaia Perri, a professora de Matemática, Geracina de Menezes Sanches e o professor de Educação Física, Antonio Salles de Oliveira. E em 20/03/1948 tem- se a assinatura da bibliotecária Alice Sanches. No dia 27/04/1949, na primeira reunião ordinária do corpo docente e administrativo da instituição, escolheu-se o dia 9 de setembro para ser o “Dia da Escola”, por ser o dia da lotação dos cargos de professores do Ginásio, em 194815. Quanto às demais escolas que foram sendo criadas na cidade, têm-se o colégio particular “Externato Sagrado Coração de Maria”, fundado em 1950; a escola do SESI, em 1952; e a escola estadual “Escola Artesanal”, em 1948, e que mais tarde transformou-se no Colégio Estadual Indrustrial (CEI) “Vicente Felício Primo”. Além dessas, 15 STÉLIO. Histórico e Fundação I, II e III. Pasta n. 02. 47 outras foram sendo criadas de acordo com a demanda. Para uma melhor visualização, apresento, no Quadro 2 as escolas urbanas criadas no município de Birigüi, desde sua fundação até o ano de 197616. Quadro 2 – Criação de escolas urbanas na cidade de Birigüi, entre 1914 a 1976 ANO ESCOLA 1914 Escola do Sexo Masculino e Escola do Sexo Feminino 1918 Colégio Metodista “Instituto Noroeste” 1924 Escolas Reunidas - 1º Grupo Escolar 1937 Escola Remington 1941 2º Grupo Escolar 1953 Grupo Escolar “Profa. Geni Leite da Silva” - 2º Grupo Escolar 1945 Grupo Escolar “Roberto Clark” - 1º Grupo Escolar 1948 Ginásio Estadual 1948 Escola Artesanal 1950 Colégio “Externato Sagrado Coração de Maria” 1952 Escola do Sesi 1953 Grupo Escolar “Profa. Lucinda de Araújo Pereira Giampietro” 1955 Grupo Escolar Dr. Gama 1959 Grupo Escolar Dr. Carlos Carvalho Rosa 1966 GEG “Profa. Regina Valarine Vieira” Como já mencionei anteriormente, o município de Birigüi está integrado política e administrativamente à 9ª região administrativa do Estado de São Paulo e da federação brasileira. A criação do município, e a institucionalização do processo de ensino na cidade 16Relaciono as escolas criadas no município até o ano de 1976 por ser o ano que serve de recorte para delimitação da pesquisa de que resultou esta dissertação. Novas escolas foram criadas no município somente no ano de 1986: EEPG “Prof. Ricardo Peruzzo” e EEPG “Prof. Hermínio Cantizani”. 48 integraram um complexo econômico político e social, que representou, mediante a expansão da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, a possibilidade de progresso para a região Noroeste do estado de São Paulo. A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, a intensificação da urbanização, o aumento do fluxo migratório e o crescimento do setor agropecuário trouxeram para a região escolarização, comunicação e informação. Nas décadas seguintes à sua fundação, o desenvolvimento do município de Birigüi acontece como nas demais cidades da região oeste do Estado de São Paulo. É um município “pioneiro”, inserido numa “zona pioneira”, com homens “pioneiros” como destacou Ercilla e Pinheiro, “os homens que fizeram a noroeste”: Mr. Jaymes Mellor, Sr. Roberto Clarck, Coronel Manoel Bento da Cruz e Sr. Nicolau da Silva Nunes. O ensino na cidade aconteceu de acordo com a ênfase que se deu à expansão da escolarização no Brasil em torno das décadas de 1920 e 1930 como o movimento da Escola Nova. E a partir da década de 1950, em nosso país se inicia um processo desenvolvimentista, que explica, em particular no Estado de São Paulo, a expansão dos grupos escolares, das escolas isoladas, dos ginásios, dos colégios e dos institutos de educação pelo capital, litoral e interior, o mesmo acontecendo no município de Birigüi com a criação de várias escolas e de um instituto de educação, que será abordado detalhadamente no capítulo 3 desta dissertação. O município chegou a ter nas décadas de 1950, 1960 e 1970 mais de 40 escolas rurais entre comum isoladas e de emergência. Para melhor visualização e comparação, apresento, no Quadro 3, o número das escolas urbanas e rurais e o respectivo número de alunos (quando encontrado) entre 1928 e 1985. 49 Quadro 3 - Escolas urbanas e rurais do município de Birigüi e número de alunos, entre 1928 e 198517 NÚMERO DE ESCOLAS NÚMERO DE ALUNOS ANOS URBANA RURAL URBANA RURAL 1928 6 2 1940 6 21 1957 9 48 1250 840 1973 11 43 1985 23 27 11.558 353 17 Para organização do Quadro 3 foram consultados: ERCILLA, A. M.; PINHEIRO, Brenno (Org.). O estado de São Paulo: Zona Noroeste. São Paulo: Propaganda Pan-americana, 1928; VALLIM, Pedro E. Álbum dos municípios do Estado de São Paulo. São Paulo: Associação Paulista de Imprensa, 1940; FERREIRA, Jurandyr Pires. Enciclopédia dos municípios brasileiros. São Paulo, 1957, v. 28; PREFEITURA MUNICIPAL DE BIRIGÜI. Dados sobre o município de Birigüi. Birigüi, 1973; PREFEITURA MUNICIPAL DE BIRIGÜI. Dados sobre o município de Birigüi. Birigüi, 1985. 50 CAPÍTULO 2 A ESCOLA NORMAL NA CIDADE DE BIRIGÜI 51 2.1 O ensino normal em Birigüi O ensino normal responsável pela formação de professores primários teve início na cidade de Birigüi na década de 1940 e foi oferecido em três escolas da cidade: no colégio Metodista “Instituto Noroeste”, onde foi criada a Escola Normal Livre1, em 1944; no Externato “Sagrado Coração de Maria”, criado em 1957; e no Colégio e Escola Normal Estadual “Prof. Stélio Machado Loureiro”, criado em 1958. Em diplomas de ex-alunos verifiquei que, antes de o ensino normal ser oferecido em Birigüi, algumas professoras da cidade foram diplomadas pela Escola Normal Livre de Sorocaba/SP, como ocorreu com a professora Geni Leite da Silva, e outras vinham de São Paulo, diplomadas pela Escola Normal “Caetano de Campos”, como ocorreu com a professora Esmeralda Milano Maroni, já mencionada. 2.2 A escola normal “particular” Em 1944, no “Instituto Noroeste”, começou a ser formada a primeira turma da Escola Normal Livre de Birigüi. Nessa escola funcionou, de fato, o curso Pré-Normal, de 1944 a 1947, que, a partir de 1947, passou a se denominar Curso Normal, assim permanecendo até 1974. Nessa ocasião, as escolas normais já estavam se adaptando à lei nº 5692/71, que modificou a denominação do Curso Normal para Habilitação Específica para o Magistério (HEM). Essa habilitação permaneceu em funcionamento até o ano de 2000, quando foi definitivamente extinto em decorrência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação 1 Escola Normal Livre era uma escola mantida por iniciativa privada para formar professores. A esse respeito, ver, especialmente, Tanuri (1979). 52 Nacional (Lei n. 9394/96)2. Segundo o depoimento da professora Ivarda Fonzar3, a sua foi a primeira turma de professoras formada na cidade de Birigüi, no ano de 1946. Em 16/06/1956, foi criado o Curso Normal no Externato “Sagrado Coração de Maria”, hoje Colégio “Sagrado Coração de Jesus”. Esse curso era mantido pela Associação das Irmãs Missionárias Zeladoras do Sagrado Coração de Jesus, e começou a funcionar em 11/03/1957, após autorização por meio do Decreto 26.120, de 16/07/1956, e reconhecimento por meio do Decreto 38.226, de 21/03/1961. Com a criação desse curso normal, o colégio passou a se denominar Escola Normal “Sagrado Coração de Maria”. Segundo depoimento da secretária4 desse colégio, o Curso Normal tinha turmas mistas e funcionou inicialmente com a 1ª série diurna e 2ª, 3ª e 4ª séries noturnas, com total de 83 alunos. Esse curso estava organizado de acordo com o Ensino Normal do 2º Tipo, conforme estabelecido no Decreto n. 5.844 de 21/4/1933. De acordo com o artigo 784 do Decreto citado acima, “[...] o ensino normal feito no Curso de Formação do Professor compreende dois anos de estudo”. E, com apenas dois anos de funcionamento, a Escola Normal “Sagrado Coração de Maria” diplomou duas turmas de professores. Essa escola normal, de confissão católica, oferecia o curso normal em quatro anos, mas o curso complementar ao ginásio, cursado antes do normal, tinha duração de dois anos. Esse curso, segundo alguns depoimentos, acontecia a partir da 3ª série primária e isso aconteceu nessa época, por incentivo do governo estadual, para a realização de cursos rápidos e intensivos que agilizassem a escolarização da população. Essa escola normal também mantinha um curso primário, o qual servia como “escola de aplicação”, destinada às aulas práticas e ao estágio em administração escolar para os estudantes da escola normal. 2 Informações concedidas a Áurea Esteves Serra, em 8 de maio de 2002, pelo Sr. José Avanço, secretário do Colégio “Instituto Noroeste”, de acordo com documentação de arquivo. 3 Informação concedida a Áurea Esteves Serra, em 7 de novembro de 2002, pela Srª Ivarda Fonzar. 4 Depoimento concedido a Áurea Esteves Serra, pela Srª. Terezinha Esteves, em 8 de maio de 2002, secretária do Colégio “Sagrado Coração de Jesus”, de acordo com documentação de arquivo. 53 Em 1974, foi criada, nessa escola, a Habilitação Específica para o Magistério, mediante a Portaria da Coordenadoria do Ensino Básico e Normal (CEBN), 04/01/1973, e o Curso Normal foi extinto no Colégio “Sagrado Coração de Jesus”, em 1977. 2.3. A escola normal “pública” Pelo Decreto-lei n. 16.960, foi criado, no dia 22/2/1947, o Ginásio Estadual de Birigüi, instalado em 15/3/1948. Dessa data até o dia 30/12/1959, como já informei, a escola funcionou no prédio da Rua Saudades, em condições inadequadas, com grande desconforto para alunos e professores. As dependências da escola ficaram pequenas, e o então prefeito Domingos Lot Neto começou a dar os primeiros passos para a construção de um prédio que viria a ser um dos “maiores marcos da cultura birigüiense”. Segundo o depoimento de algumas pessoas, o ex-prefeito Domingos Lot Neto utilizou indevidamente a planta de um colégio, que era destinada a outra cidade. Porém, entrevistando o Sr. Domingos Lot Neto5, este justificou sua atitude da seguinte maneira: Meu sonho era instalar em Birigüi a maior escola. E a planta arquitetônica pertencia à cidade de Araçatuba Emprestei o desenho, tirei um xérox com uma tarja preta cobrindo o nome. E assim, fui para São Paulo no setor de obras públicas da Secretaria de Aviação. Tirei a planta que era destinada à cidade de Bilac e coloquei no lugar a planta de Araçatuba xerocada. Consegui uma audiência com o governador Carvalho Pinto para o despacho, aprovação e ele não percebeu o que acontecia. Fiz isso porque sempre procurei ouvir os estudantes e professores, dedicando toda minha vida para as crianças e a educação (LOT NETO, 2002). Domingos Lot Neto relatou, ainda, que, mais tarde, essa história foi descoberta e ele acabou sendo repreendido por seus superiores. 5 Entrevista concedida a Áurea Esteves Serra, em 09 de setembro de 2002, pelo Sr. Domingos Lot Neto. 54 O novo prédio do Ginásio Estadual de Birigüi foi construído com verbas do governo estadual, na rua Mário de Souza Campos, número 545, entre as ruas Ribeiro de Barros e João Galo, um quarteirão inteiro ocupado pelo enorme prédio que abriga, hoje, a EE “Prof. Stélio Machado Loureiro”. Segundo o jornalista Marco Aurélio Motta, “[...] a escola ‘Prof. Stélio Machado Loureiro’ é, com certeza, a segunda maior escola de todo o estado de São Paulo, perdendo, em aspecto físico, apenas para uma escola da capital” (MOTTA, 1991, p. 14). De acordo com Motta, a escola “Prof. Stélio Machado Loureiro” foi inaugurada em 1960, é um prédio imponente, com dois pavimentos, num total de 46 dependências, com 28 salas de aula, 3 laboratórios (Física – Química – Biologia), biblioteca, sala de recursos audiovisuais para 100 pessoas, salão nobre para 400 pessoas, enormes pátios cobertos e ao ar livre, praça esportiva e outras dependências. Fica localizado na região central da cidade, de forma que sua arquitetura, em estilo neoclássico, é uma das principais da cidade e sua opulência visou a demonstrar o prestígio e a respeitabilidade que a escola deveria usufruir no futuro. A criação do curso normal público em Birigüi parecia ser de fato, o desejo de toda população da cidade. A matéria assinada por João Arsênio Vieira, no jornal A Verdade, de 24 de julho de 1953, intitulada “Escola Normal Oficial”, justificava a necessidade da escola normal oficial para Birigui, já que: “[...] crescera o número de diplomados no curso secundário, aumentando o número de possíve