UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA CAMPUS BOTUCATU PESQUISA DE ANTICORPOS ANTI-Neospora caninum EM OVINOS E CÃES DE PROPRIEDADES RURAIS DOS MUNICÍPIOS DE IBITINGA, ITÁPOLIS, BORBOREMA E TABATINGA, SÃO PAULO, BRASIL GUSTAVO PUGLIA MACHADO BOTUCATU – SP 2010 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA CAMPUS BOTUCATU PESQUISA DE ANTICORPOS ANTI-Neospora caninum EM OVINOS E CÃES DE PROPRIEDADES RURAIS DOS MUNICÍPIOS DE IBITINGA, ITÁPOLIS, BORBOREMA E TABATINGA, SÃO PAULO, BRASIL Dissertação apresentada junto ao programa de pós-graduação em Medicina Veterinária, área de Saúde Animal, Saúde Pública e Segurança Alimentar para obtenção do título de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos Paes BOTUCATU – SP 2010 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO TÉC. AQUIS. E TRAT. DA INFORMAÇÃO DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - CAMPUS DE BOTUCATU - UNESP BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL: ROSEMEIRE APARECIDA VICENTE Machado, Gustavo Puglia. Pesquisa de anticorpos anti-Neospora caninum em ovinos e cães de propriedades rurais dos municípios de Ibitinga, Itápolis, Borborema e Tabatinga, São Paulo, Brasil / Gustavo Puglia Machado. – Botucatu, 2010 Dissertação (mestrado) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de Botucatu, Universidade Estadual Paulista, 2010 Orientador: Antonio Carlos Paes Capes: 50502000 1. Animais domésticos - Doenças. 2. Ovelha. 3. Canídeo. 4. Sorologia veterinária. 5. Parasitologia veterinária. Palavras-chave: Canídeos; Neosporose; N. caninum; Ovelhas; Sorologia. Nome do Autor: Gustavo Puglia Machado Título: Pesquisa de anticorpos anti-Neospora caninum em ovinos e cães de propriedades rurais dos municípios de Ibitinga, Itápolis, Borborema e Tabatinga, São Paulo, Brasil. COMISSÃO EXAMINADORA Prof. Dr. Antonio Carlos Paes Orientador Departamento de Higiene Veterinária e Saúde Pública Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - UNESP - Botucatu Prof. Dr. Hélio Langoni Membro Departamento de Higiene Veterinária e Saúde Pública Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - UNESP - Botucatu Prof. Dr. Kátia Denise Saraiva Bresciane Membro Departamento de Apoio, Saúde e Produção Animal Faculdade de Odontologia de Araçatuba - UNESP - Araçatuba Data da Defesa: 18/11/2010 EPÍGRAFE Nesta vida, nada é inútil, quando alguém se esforça, não tanto para ter alguma coisa, mas para ser alguém de verdade. José Dias Goulart DEDICATÓRIA Dedico este trabalho primeiramente a Deus, meus pais e ao meu irmão que me incentivaram a estudar e a seguir meus sonhos, não importando as dificuldades da vida. AGRADECIMENTOS Á Deus, por permanecer sempre perto, iluminando meus caminhos. Aos meus pais Ana Maria e Munhoz e ao meu irmão Arthur pelo amor, amizade, paciência, dedicação e confiança que tiveram comigo. Agradeço pelo trabalho árduo que tiveram para me custear durante toda a faculdade e mestrado. A toda equipe do núcleo de pesquisa em zoonoses (NUPEZO), que mais que profissionais são amigos: Diego Generoso, Carla Janeiro Coiro, Mariana Kikuti e Benedito Donizete Menozzi. Ao professor Antonio Carlos Paes, por ter aceitado me orientar neste trabalho e que além de grande profissional, mostrou-se sempre compreensivo e motivador. Ao professor Hélio Langoni a qual tenho imensa admiração, pela confiança, paciência, ensinamentos e por ser um excelente educador. Aos amigos da pós-graduação: João Marcelo, Diego, Felipe, Haroldo, Rodrigo, Thiago, Bruna, Dulce, Ana, Leila, Luciana, Selene, Susan, Marcela, Marília e Simone. Aos funcionários do Departamento de Higiene Veterinária e Saúde Pública: Adilson Aparecido Romeiro, Roberto Martins, Diego José de Almeida, Adriana Cristina Pavan Vieira, Adriana de Fátima David, Ana Rosa Camargo, Sergio Fávero e José Wanderlei Furlin. Aos produtores rurais, por permitirem o acesso e colheita das amostras nas propriedades. À todos aqueles que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho. MACHADO, G. P. Pesquisa de anticorpos anti-Neospora caninum em ovinos e cães de propriedades rurais dos municípios de Ibitinga, Itápolis, Borborema e Tabatinga, São Paulo, Brasil. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Campus Botucatu, Universidade Estadual Paulista, 2010. RESUMO A neosporose é uma doença parasitária causada pelo protozoário Neospora caninum sendo causadora de problemas reprodutivos e distúrbios neurológicos nos animais. Os canídeos selvagens e domésticos são hospedeiros definitivos, e os ovinos, entre os hospedeiros intermediários, se constituem uma das espécies susceptíveis. A presença de cães nas propriedades rurais é um fator de risco para a infecção nos ovinos, indicando associação entre a infecção em ambas as espécies. Este trabalho teve por objetivo verificar a soro-ocorrência de anticorpos anti-N. caninum em ovinos e cães naturalmente infectados. Foram colhidas amostras de sangue de 1497 ovelhas e 42 cães que compartilhavam o mesmo ambiente, provenientes de 16 propriedades rurais localizadas na microrregião de Araraquara. Para a pesquisa de anticorpos anti- N. caninum utilizou-se a técnica de reação de imunofluorescência indireta (RIFI ≥ 25). Para o estudo epidemiológico foi aplicado um questionário aos proprietários ou responsáveis pelos animais, contendo informações ligadas a neosporose, tanto para ovinos quanto para os cães. Dos 1497 soros ovinos testados obteve-se uma ocorrência de 8,0% (LI 95%= 6,7%; LS 95%= 9,2%) e dos 42 cães 4,8% (LI 95%= 0%; LS 95%= 7,2%). Foram observadas diferenças estatísticas significativas na associação entre o resultado da sorologia dos ovinos para N. caninum e as variáveis: abastecimento de água (P=0,0004; OR=2,15), presença de outros canídeos selvagens ou domésticos (P=0,0013; OR=2,38) e presença ou ausência de problemas reprodutivos (P=0,0031; OR=1,75). A ingestão de água de represa, a presença de canídeos selvagens ou de propriedades vizinhas e presença de problemas reprodutivos apresentaram associação positiva com a ocorrência de neosporose em ovinos. Palavras-chave: Neosporose, sorologia, ovelhas, canídeos. MACHADO, G. P. Antibodies research for Neospora caninum in sheep and dogs from farms from Ibitinga, Itápolis, Borborema, Tabatinga cities, Sao Paulo, Brazil. Dissertation (Master's degree) – School of Veterinary Medicine and Animal Science – FMVZ, Campus Botucatu, Sao Paulo State University – UNESP, 2010. ABSTRACT The neosporosis is a parasitic disease caused by protozoan Neospora caninum that is considered a cause of reproductive problems and neurological disorders in animals. Domestic and wild canids are definitive hosts, and sheep, among the intermediate hosts, constitute one of the susceptible species may occur reproductive problems. The presence of dogs in the farms is a risk factor for infection in sheep, indicating an association between infection in both species. This study aimed to verify the serum-occurrence of antibodies in sheep and dogs naturally infected by N. caninum. We collected 1497 blood samples from sheep and 42 samples from dogs that lived with the sheep from 16 farms located in the microregion of Araraquara. For the detection of N. caninum antibodies was performed the technique of reaction of indirection immunofluorescence (IFAT ≥ 25). Epidemiological study was applied as a questionnaire for sheep and dogs with information related to neosporosis. Of 1497 sheep sera tested, the occurrence obtained was 8.0% (LL 95% = 6.7%; UL 95% = 9.2%) and of 42 dogs, 4.8% (LL 95% = 0%; UL 95% = 7.2%). Were statistically significant differences in the association between seropositivity for N. caninum in sheep and the variables: water supply (P=0.0004; OR=2.15), presence of other wild or domestic canids (P=0.0013; OR=2.38) and presence or absence of reproductive problems (P=0.0031; OR=1.75). Ingestion of water from dams, the presence of wild dogs or wild canids of neighboring properties and the presence of reproductive problems were positively associated with the occurrence of neosporosis in sheep. Keywords: Neosporosis, serology, sheep, canids. SUMÁRIO 1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................... 1 1.1 Introdução .......................................................................................... 1 1.2 Etiologia ............................................................................................. 2 1.3 Ciclo Biológico ................................................................................... 3 1.4 Epidemiologia .................................................................................... 6 1.5 Patogenia ........................................................................................ 13 1.6 Sinais Clínicos ................................................................................. 15 1.7 Diagnóstico ...................................................................................... 16 1.8 Impactos Econômicos da Neosporose ............................................ 20 1.9 Potencial Zoonótico ......................................................................... 20 1.10 Prevenção e Controle .................................................................... 21 2. OBJETIVOS ................................................................................................. 23 2.1 Objetivo geral .................................................................................. 23 2.2 Objetivo específico .......................................................................... 23 3. METERIAIS E MÉTODOS ........................................................................... 25 3.1 População e amostragem ................................................................ 25 3.2 Colheitas das amostras ................................................................... 28 3.3 Variáveis estudadas ........................................................................ 28 3.4 Exame sorológico ............................................................................ 28 3.5 Análise estatística ............................................................................ 31 4. RESULTADOS ............................................................................................ 33 4.1 Sorologia ......................................................................................... 33 4.2 Análise descritiva das propriedades ................................................ 33 5. DISCUSSÃO ................................................................................................ 45 6. CONCLUSÕES ............................................................................................ 52 7. REFERÊNCIAS ........................................................................................... 54 8. ANEXOS ...................................................................................................... 70 8.1 Questionário epidemiológico ........................................................... 70 8.2 Normas para publicação .................................................................. 73 8.3 Artigo para publicação ..................................................................... 86 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Ciclo de vida do parasita N. caninum ................................................. 5 Figura 2. Canis latrans e o mapa da distribuição geográfica dos coites na América do norte e Central. ............................................................................... 7 Figura 3. Distribuição geográfica dos municípios de Ibitinga, Itápolis, Borborema e Tabatinga, São Paulo, Brasil.......................................................28 Figura 4. Técnica de Reação de Imunofluorescência Indireta – RIFI.. ............ 30 Figura 5. Canídeos brasileiros. ........................................................................ 47 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Freqüência de anticorpos anti-N. caninum em ovinos no Brasil. .... 8 Tabela 2. Freqüência de anticorpos anti-N. caninum em cães no Brasil. .... 12 Tabela 3. Número de propriedades rurais de acordo com os municípios, número total de animais dos rebanhos ovinos e número de ovinos e cães amostrados ................................................................................................... 26 Tabela 4. Total de ovelhas e cães soropositivos e soronegativos para anticorpos contra N. caninum pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. ......... 35 Tabela 5. 0corrência de anticorpos contra N. caninum pela RIFI nas ovelhas e cães das 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. ........................................................... 36 Tabela 6. Distribuição das ocorrências de títulos de anticorpos obtidos pela RIFI nas ovelhas das 16 propriedades pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. ........................................................... 37 Tabela 7. Distribuição das ocorrências de títulos de anticorpos obtidos pela RIFI nos cães das 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. ........................................................... 37 Tabela 8. Associação entre a variável tamanho da propriedade com a soropositividade dos ovinos obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. ......... 38 Tabela 9. Associação entre a variável atividade principal da propriedade com a soropositividade dos ovinos obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. ......... 38 Tabela 10. Associação entre a variável abastecimento de água das ovelhas com a soropositividade dos ovinos obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara São Paulo, Brasil, 2010. 39 Tabela 11. Associação entre a variável presença de outros canídeos domésticos ou selvagens com a soropositividade dos ovinos obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. ............................................................................... 39 Tabela 12. Associação entre a variável tipo de criação de aves domésticas (Gallus gallus domesticus) com a soropositividade dos ovinos obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. ............................................................................... 40 Tabela 13. Associação entre a variável presença de roedores com a soropositividade dos ovinos obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. ......... 40 Tabela 14. Associação entre a variável abate de animais na propriedade com a soropositividade dos ovinos obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. ......... 41 Tabela 15. Associação entre a variável acesso dos cães a carne crua e vísceras dos animais abatidos ou de outros animais com a soropositividade dos ovinos obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. ................................. 41 Tabela 16. Associação entre a variável tipo de criação dos cães com a soropositividade dos ovinos obtidos pela RIFI nas 16 propriedades pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. ......... 42 Tabela 17. Associação entre a variável presença ou ausência de problemas reprodutivos com a soropositividade dos ovinos obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. .................................................................................................. 42 Tabela 18. Associação entre a variável tipo de criação com a soropositividade dos cães obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, Brasil, 2010. ........................... 43 Tabela 19. Associação entre a variável acesso dos cães a carne crua dos animais abatidos na propriedade e de outros animais com a soropositividade dos cães obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. ................................. 43 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1 1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1 Introdução Neospora caninum é um protozoário intracelular obrigatório causador da neosporose, doença de distribuição mundial, que pode acometer uma gama considerável de espécies de animais domésticos e selvagens (DUBEY, 1999; GONDIM et al., 2004). É uma doença emergente, associada a problemas reprodutivos e distúrbios neurológicos, com caráter progressivo, manifestando- se com maior severidade em animais jovens, reconhecida mundialmente como importante causadora de abortamentos em rebanhos bovinos (ANDERSON et al., 2000). A neosporose canina vem sendo descrita desde 1984 quando ocorreram os primeiros relatos da doença em cães, cujos sinais eram semelhantes aos de encefalite e miosite. A descrição do cão como hospedeiro definitivo ocorreu em 1998 com a constatação de que nestes animais se desenvolve a fase sexuada do parasito e eliminação de oocistos nas fezes. Este é fator importante na cadeia epidemiológica, pois ressalta a importância dos cães na transmissão horizontal do parasito (DUBEY, 2003). A ovinocultura no Brasil está em crescente expansão, principalmente nos estados onde não havia tradição neste tipo de atividade econômica. Assim, a cadeia produtiva deve atentar para os problemas sanitários, dentre eles os reprodutivos que tem efeito direto sobre a produtividade dos rebanhos. Entre as enfermidades parasitárias que afetam a reprodução destaca-se a neosporose, responsável por quadros de abortamento, morte embrionária, malformação fetal e nascimento de cordeiros fracos ou persistentemente infectados (ALMEIDA, 2004). A presença de anticorpos para N. caninum em amostras de soro, demonstra exposição ao parasita, que pode ser identificada por testes sorológicos tais como a Reação de Imunofluorescência Indireta – RIFI (DUBEY et al., 1988), Teste de Aglutinação para Anticorpos anti-N. caninum – NAT (ROMAND et al., 1998) e Teste Imunoenzimático – ELISA (DUBEY et al.,1997; BJORKMAN et al., 1999). A RIFI foi o primeiro teste sorológico usado para a 2 demonstração de anticorpos anti-N. caninum (DUBEY et al., 1988) e atualmente é muito utilizada para diagnóstico da infecção em ovinos e cães, constituindo padrão ouro comparada a outros testes (ATKINSON et al., 2000). No Brasil, as pesquisas com N. caninum estão em fase de levantamentos sorológicos e a soroprevalência é desconhecida em algumas regiões. A falta de informações sobre a epidemiologia do agente tem limitado substancialmente a proposição de soluções objetivas e práticas para prevenir a infecção. Inúmeras são as causas de problemas reprodutivos em ovinos, devendo sempre ser incluído o diagnóstico diferencial para esta enfermidade. Desta maneira, o estudo epidemiológico da doença é fundamental para verificar a relação hospedeiro, agente e meio ambiente (MUNHÓZ, 2009). 1.2 Etiologia N. caninum é um protozoário parasita do filo Apicomplexa, classe Sporozoa, família Sarcocystidae, subfamília Toxoplasmatinae (DUBEY e LINDSAY, 1996). Duas espécies são descritas no gênero Neospora: N. caninum (DUBEY et al., 1988) e N. hughesi (MARSH et al., 1998). N. caninum é morfologicamente similar a outros protozoários do filo Apicomplexa, que provocam doenças sistêmicas em muitos animais, tais como: Toxoplasma gondii, Hammondia heydorni, Sarcocystis neurona e Sarcocystis canis (DUBEY et al., 2002). Três formas infectantes do parasita são descritas: taquizoítos, bradizoítos (contidos em cistos teciduais) e esporozoítos (contidos em oocistos). Os taquizoítos são ovóides, redondos ou em forma de meia lua, com núcleo na posição central ou terminal, medindo de 3-7 µm x 1-5 µm, dependendo do estágio de crescimento e divisão, e do plano de corte dos tecidos (DUBEY e LINDSAY, 1996; DUBEY et al., 2002). Os bradizoítos são considerados os organismos de multiplicação lenta ou de latência e estão em grande número dentro de cistos teciduais. Os cistos de N. caninum geralmente são redondos ou ovais, podendo medir até 107 µm. Os bradizoítos são delgados, medem 6-8 µm x 1-2 µm, possuem núcleo terminal a subterminal, e as mesmas organelas encontradas nos taquizoítos, 3 mas com menor número de roptrias e mais grânulos de amilopectina (DUBEY e LINDSAY, 1996). Os oocistos são eliminados nas fezes na forma não esporulada, possuem formato esférico a subesférico, medindo de 10 a 11 µm de diâmetro, contendo um esporonte central e não são infectantes. Cada oocisto contém dois esporocistos, cada qual com quatro esporozoítos (LINDSAY et al., 1999). 1.3 Ciclo Biológico Em 1998 parte do ciclo biológico de N. caninum foi elucidado e demonstrado pela eliminação de oocistos nas fezes por cães que ingeriram cistos contidos em cérebro de camundongo infectado, concluindo-se que o cão era o hospedeiro definitivo (MCALLISTER et al., 1998). Em outro experimento, Lindsay et al. (1999) observaram a eliminação de oocistos por cães cinco dias após a ingestão de cistos teciduais, durante seis dias consecutivos. Neste estudo, os oocistos esporularam no ambiente após 24 horas e um dos cães eliminou oocistos, embora não tenha sido verificada conversão sorológica. O ciclo biológico de N. caninum (Figura 1) ainda não está totalmente elucidado, principalmente no que diz respeito à fase intestinal, que compreende a fase sexuada de evolução. Sabe-se que o período pré-patente é de cinco a oito dias após a ingestão dos cistos teciduais (LINDSAY e DUBEY, 2000). Basso et al. (2001) confirmaram a condição do cão como hospedeiro definitivo ao observarem a eliminação de oocistos por cão naturalmente infectado. Foi observado que o coiote (Canis latrans) também pode eliminar oocistos nas fezes e representar um hospedeiro definitivo (GONDIM et al., 2004). O oocisto esporulado apresenta dois esporocistos com quatro esporozoítos cada e na microscopia óptica é muito semelhante ao de Toxoplasma gondii, Hammondia heydorni e Hammondia hammondi (LINDSAY et al., 1999). A quantidade de oocistos de N. caninum eliminados nas fezes pelos cães é pequena em comparação à quantidade eliminada de oocistos de T. gondii pelos gatos (DUBEY et al., 2002), embora Gondim et al. (2005) observaram que filhotes eliminam quantidade maior do que os cães adultos. Neste mesmo estudo, foi verificada reexcreção espontânea de oocistos por 4 cães dois meses após a primeira inoculação, e ainda após um segundo desafio, 18 a 20 meses da primo-infecção. Em contrapartida, cães reinoculados após oito meses não eliminaram oocistos, sugerindo a existência de possível imunidade durante esse período. No hospedeiro intermediário ocorrem os estágios assexuados: os taquizoítos e bradizoítos (WOUDA et al., 1999). Há relatos de infecções naturais em cães, bovinos, búfalos, ovinos, caprinos, eqüinos, raposas, veados, rinoceronte, lhama, alpaca e ratos, e experimentalmente, foi possível a infecção de gatos, suínos, camundongos, gerbis, coiotes e macacos (ALMEIDA, 2004). Oocistos liberados no ambiente pelo hospedeiro definitivo se tornam infectantes ao esporular (MCALLISTER et al., 1998). São ingeridos pelo hospedeiro intermediário (bovinos, ovinos, cães, bubalinos, caprinos e outros) e, na luz intestinal, são liberados os esporozoítos. Estes penetram nas células da parede intestinal passando a se chamar de taquizoítos, que se dividem rapidamente por endodiogenia e podem atingir quaisquer células do organismo do hospedeiro, causando severas lesões em vários órgãos. Com a resposta imune do hospedeiro, os taquizoítos diferenciam-se em bradizoítos, forma de multiplicação lenta contidas em cistos teciduais e uma queda da imunidade do hospedeiro poderia provocar reativação dos bradizoítos e rompimento do cisto (WOUDA et al., 1999). Quando ocorrer a ingestão destes cistos pelo cão ou o coiote, os bradizoítos, que são resistentes às soluções pépticas e ácidas responsáveis pela digestão, iniciarão o processo de penetração no epitélio intestinal dando origem às formas resultantes da multiplicação assexuada e sexuada do parasito. Em seguida, ocorre a liberação de oocistos não esporulados no ambiente, reiniciando o ciclo (DUBEY, 1999). Os taquizoítos localizam-se dentro de um vacúolo parasitóforo no citoplasma da célula hospedeira. Taquizoítos já foram observados em macrófagos, neutrófilos, células do tecido nervoso, hepatócitos, fibroblastos, miócitos, células epiteliais tubulares renais e células endoteliais vasculares (SPEER et al., 1999). 5 Figura 1. Ciclo de vida do parasita N. caninum Fonte: HEMPHILL, 2006 Os oocistos podem ter formato redondo ou ovalado. A parede cística restringe os bradizoítos que podem estar em número de 20 a 100. Os cistos de N. caninum são encontrados em baixo número nos tecidos quando comparado aos de T. gondii (LINDSAY et al., 1996). N. caninum pode ser transmitido de forma horizontal ou vertical. Na transmissão horizontal, a infecção ocorre por ingestão de água ou alimentos contaminados por oocistos esporulados expostos no meio ambiente por meio das fezes dos hospedeiros definitivos. Já a transmissão vertical ocorre quando a mãe infectada transmite a doença para seus descendentes pela via transplacentária (GUIMARÃES JUNIOR, 2002). A transmissão do parasito por meio de sêmen ou colostro contaminados está sendo investigada. Foi observado DNA do parasito em sêmen de búfalos soropositivos para N. caninum (ORTEGA-MORA et al., 2003). Em outro estudo, sêmen bovino contaminado experimentalmente com taquizoítos de N. caninum induziu infecção em vacas que foram inseminadas (SERRANO-MARTINEZ et al., 2007). Diante da comprovação de que o parasito pode estar presente no sêmen de bovinos naturalmente infectados, deve-se investigar o potencial do 6 sêmen na transmissão de N. caninum. Recentemente, N. caninum foi confirmado em colostro de vacas soropositivas para o parasito, o que também deve ser investigado como uma nova via de transmissão do parasito (MOSKWA et al., 2007). 1.4 Epidemiologia Na Noruega Bjerkas et al. (1984) diagnosticaram doença semelhante à toxoplasmose em uma ninhada de sete cães da raça Boxer, encontrando cistos teciduais semelhantes a Toxoplasma gondii, porém não detectaram anticorpos anti-T. gondii no soro desses animais. A descrição do novo gênero e espécie foi realizada por Dubey et al. (1988) nos Estados Unidos, que isolaram e descreveram o protozoário em filhotes de cães que apresentavam sinais clínicos similares aos descritos por Bjerkas et al. (1984), denominando o agente N. caninum. Posteriormente, este agente foi reconhecido como causador de doença em cães e identificado em fetos bovinos abortados, mumificados e em bezerros com paralisia neonatal (MARSH et al., 1995). McAllister et al. (1998) definiram o cão doméstico (Canis familiaris) como hospedeiro definitivo de N. caninum e Gondim et al. (2004) evidenciaram que o coiote (Canis latrans) (Figura 2) também faz parte do ciclo de vida deste protozoário como hospedeiro definitivo. 7 Figura 2. Canis latrans e o mapa da distribuição geográfica dos coiotes na América do norte e Central. Fonte: Adaptado de Wilson (1999). Estudos sobre a soroprevalência de N. caninum na espécie ovina no Brasil e no mundo mostraram menores taxas quando comparados à espécie bovina. A distribuição do parasita é mundial e a infecção já foi relatada nos cincos continentes (DUBEY, 1999). N. caninum em ovinos foi inicialmente diagnosticado em cordeiro congenitamente infectado na Inglaterra (DUBEY, 1990). Na Inglaterra e País de Gales, estima-se que a neosporose seja causa de abortamento em bovinos em 12,5% dos casos (DAVISON et al., 1999) e na Califórnia, ela foi apontada como a principal causa de abortamentos em bovinos de leite (ANDERSON et al., 2000). Estudo realizado na Inglaterra e País de Gales em 660 amostras de soros colhidas de ovelhas que haviam abortado foram submetidas à RIFI (ponto de corte 1:50). Destas, apenas três (0,45%) foram positivas para a neosporose (HELMICK et al., 2002). Kobayashi et al. (2001) relataram a presença de cistos teciduais de N. caninum no cérebro de uma ovelha prenhe assintomática e no cérebro de seus dois fetos, confirmada por imunoperoxidase e PCR. Ao exame histopatológico, os cérebros dos fetos mostraram encefalite multifocal. No mesmo ano, no 8 Japão, o parasita foi isolado do cérebro de uma ovelha prenhe assintomática sem histórico de abortamento (KOYAMA et al., 2001). Em Guarapuava–PR, foi realizado estudo soro-epidemiológico utilizando a RIFI (ponto de corte de 1:100) em 305 amostras de soro de ovinos, onde 9,5% dos animais foram soropositivos para N. caninum (ROMANELLI, 2002). No estado de São Paulo Figliuolo et al. (2004), examinaram pela RIFI (≥50) 597 amostras de soro sangüíneo de ovinos, observando soropositividade de 9,2% para anticorpos contra N. caninum. A ocorrência de anticorpos contra N. caninum em ovinos naturalmente infectados na região Norte do estado do Paraná mostrou que dos 381 soros ovinos testados obteve-se positividade em 13,91% dos animais e dos 25 cães testados obteve-se 36% de reagentes (MUNHÓZ, 2009). A tabela 1 reúne alguns estudos de freqüência de anticorpos para N. caninum em ovinos de diferentes estados do Brasil. Tabela 1. Freqüência de anticorpos anti-N. caninum em ovinos no Brasil. Estado Freqüência Autor/Ano RS 3,20% VOGEL et al.(2006) PR PR SP MS BA DF RO 9,50% 13,91% 9,20% 12,0% 7,40% 8,70% 29,0% ROMANELLI (2002) MUNHÓZ (2009) FIGLIUOLO et al. (2004) GONÇALVES et al. (2004) OTERO et al.(2002) UENO et al. (2005) AGUIAR et al.(2004) Casos de neosporose em cães têm sido relatados na América do Norte, Europa, África do Sul, Japão, Austrália e Costa Rica (DUBEY e LINDSAY, 1993; MORALES et al., 2001). Na Inglaterra, 163 soros de cães de diferentes raças foram examinados para a presença de anticorpos anti-N. caninum, utilizando a RIFI. Deste total, 27 (16,6%) apresentaram títulos ≥50 e 21 (12,9%) tiveram títulos ≥200, e não 9 houve relação significativa entre as raças (TREES et al., 1993). Ainda na Inglaterra, Lathe (1994), utilizando a mesma técnica (ponto de corte de 1:50) examinou amostras de soro de 104 cães durante os meses de fevereiro e março de 1994, e encontrou 5,8% (6 cães) soropositivos e apenas um animal com sinais de neosporose clínica. Sawada et al. (1998), no Japão, analisaram 198 cães urbanos, 48 de criação de bovinos de leite e 20 de uma criação de cães pastores, e observaram que 7,1% dos animais foram positivos para N. caninum na área urbana e 31,3% positivos em propriedades leiteiras. Na criação de cães pastores 85% foram soropositivos para N. caninum. Wouda et al. (1999) também observaram maior prevalência em cães de propriedades rurais na Holanda, comprovando que o convívio de cães com bovinos aumenta a possibilidade de infecção para N. caninum em ambas as espécies. Foi relatado na Argentina por Basso et al. (2005), um caso de neosporose clínica em filhote de cão da raça Boxer. O animal foi eutanasiado sendo encontrada severa miosite no esôfago e músculos estriados. Taquizoítos e cistos foram observados em cortes do cérebro. A confirmação do caso foi feita por imunoistoquímica, Western Blot e inoculação em gerbis (Meriones unguiculatus), que 49 dias após a infecção já apresentavam títulos de 100 a 400. O DNA do parasito foi identificado no pulmão, no cérebro e músculo estriado do cão e no cérebro de um dos gerbis inoculados. Na República Tcheca foi realizado um estudo sobre a dinâmica de anticorpos para N. caninum em cães durante período de três anos (1999 a 2001). Os autores verificaram que a população de cães está exposta ao agente, pois 4,9% dos animais foram soropositivos na RIFI. Foram avaliados neste estudo cães do exército, polícia, particulares e de abrigos, que apresentavam prevalência de 4,7%, 0%, 2,6% e 19,2%, respectivamente. Com isso observa-se que a neosporose canina deve ser incluída como diagnóstico diferencial em clínicas veterinárias para cães com desordens neurológicas, já que o parasito encontra-se presente no meio em que os cães habitam (VÁCLAVEK et al., 2007). 10 No Brasil, Gondim et al. (2001) isolaram N. caninum do cérebro de cão da raça Collie, fêmea com 7 anos de idade, atendido em clínica particular no estado da Bahia, com problema de incoordenação e paresia de membros. A sorologia realizada através da RIFI apresentou um título de 1600. O animal foi submetido a eutanásia e fragmentos do cérebro foram homogeneizados e inoculados em nove gerbis, os quais foram eutanasiados três a quatro meses após a infecção, e apresentaram cistos teciduais no cérebro. A confirmação para N. caninum foi obtida por IHC e PCR (Reação em Cadeia pela Polimerase). Mineo et al. (2001) investigaram em Uberlândia - MG a ocorrência de anticorpos para N. caninum em soro de 163 cães, os quais apresentaram desordens do tipo neuromuscular, respiratória e/ou gastrointestinal, através das técnicas da RIFI e IP (imunoprecipitação). Foram utilizados títulos de 25 e 50 para RIFI e obteve-se índices de 2,5% (4 cães) e 4,3% (7 cães), respectivamente, totalizando 11 animais positivos (6,7%). Com relação à IP, dois antígenos fortemente dominantes (proteínas 29 e 35 kDa) foram reconhecidos nos 11 soros positivos pela RIFI. Gennari et al. (2002) analisaram sorologicamente 611 cães capturados nas ruas da cidade de São Paulo e 500 cães domiciliados, observaram pela técnica de NAT uma prevalência de 25% e 10% respectivamente, indicando que a chance de cães de rua serem soropositivos para N. caninum foi duas vezes e meia maior do que a de cães domiciliados. Em Guarapuava-PR, foram examinados pela RIFI soros de 24 cães de propriedades rurais criadoras de ovinos, onde 29% dos animais foram soropositivos para neosporose, com ponto de corte de 1:50 (ROMANELLI, 2002). Em estudo realizado em 157 cães da região urbana do Município de Monte Negro, Rondônia, Cañon-Franco et al. (2003) observaram que N. caninum está presente na região, infectando cães com prevalência de 8,3% na RIFI. No mesmo estudo, os autores verificaram que o parasito infecta os animais sem diferença de sexo, idade, tipo de alimentação ou criação. 11 Gennari (2004) relatou que, as ocorrências de cães soropositivos para N. caninum no Brasil, variam muito de região para região e entre os diferentes ambientes em que os cães habitam. Estudos realizados em Salvador e Lauro de Freitas, Bahia, demonstraram que cães errantes e cães domiciliados não apresentaram diferenças significativas quanto à positividade para N. caninum. Também não foram observadas diferenças estatísticas entre as variáveis, raça, faixa etária, distrito de origem dos animais e sexo (JESUS et al., 2006). Andreotti et al. (2006) avaliaram amostras de soro sanguíneo de gado de corte proveniente de Campo Grande e da região do Pantanal (MS), juntamente com amostras de soro sanguíneo de cães da zona rural. Anticorpos foram detectados por RIFI em cães e ELISA nos bovinos. Em vacas com histórico de abortamento a prevalência foi de 43% e vacas sem histórico apresentavam 7,7% de positividade. Portanto na região de Campo Grande a ocorrência de anticorpos para N. caninum foi 5,58 vezes maior em animais com histórico de abortamento. Nos cães a prevalência foi de 27,3%. A ocorrência do N. caninum em cães provenientes do Município de Pelotas - RS, de diferentes ambientes, rurais e urbanos domiciliados foram examinados e amostras de soro de 339 cães foram testadas para a detecção de anticorpos para N. caninum mediante a reação de imunofluorescência indireta (RIFI ≥ 1: 50). Anticorpos para N. caninum foram encontrados em 53 (15,6%) amostras de soro dos cães. Na área urbana a ocorrência foi de 5,5% e na área rural foi de 94,5%. Entre os cães da área rural, 14,1% (18 cães) eram de propriedades de criação de gado de leite e 28,4% (29 cães) de propriedade de corte (CUNHA FILHO, 2007). A presença de anticorpos anti-N. caninum em cães da cidade de Goiânia - GO, capturados pelo Centro de Zoonoses de Goiânia (CCZ-GO), domiciliados e atendidos em hospitais veterinários, apresentou 32,9 % (65/197) de positividade no teste da RIFI, com títulos de 1:50. Entre os 72 animais provenientes do Centro de Zoonoses de Goiânia, 36,1 % (26/72) resultaram positivos e entre os 125 cães domiciliados atendidos por hospitais veterinários, 31,2 % (39/125) foram positivos para N. caninum (BOAVENTURA et al., 2008). 12 A tabela 2 mostra alguns estudos que relatam as freqüências de anticorpos anti-N. caninum em cães de diferentes estados do Brasil. Tabela 2. Freqüência de anticorpos anti-N. caninum em cães no Brasil. Estado Procedência Prevalência Autor/Ano PR SP BA RO MS MG PA GO Rural Rural Errantes Urbana Errantes Urbana Rural Urbana Urbana Urbana Peri-urbana Rural Urbana CCZ-GO Domiciliados Hospitais Veterinários 21,6% 20,8% 25,0% 13,3% 11,2% 8,3% 12,6% 26,5% 10,7% 27,3% 18,9% 21,7% 8,4% 32,9% 36,1% 31,2% SOUZA et al. (2002) ROMANELLI et al. (2007) GENNARI et al. (2002) GENNARI et al. (2002) JESUS et al. (2006) CAÑON-FRANCO et al. (2003) AGUIAR et al. (2006) OLIVEIRA et al. (2004) OLIVEIRA et al. (2004) ANDREOTTI et al. (2006) FERNANDES et al. (2004) FERNANDES et al. (2004) AZEVEDO et al. (2005) BOA VENTURA et al. 2008 BOA VENTURA et al. 2008 BOA VENTURA et al. 2008 A infecção por N. caninum pode ocorrer juntamente com outras doenças causadas por protozoários como é o caso da leishmaniose. Andreotti et al. (2001) observaram que cães urbanos do município de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, apresentam-se soropositivos tanto para neosporose como para leishmaniose, não havendo relação entre estas duas enfermidades, uma vez que foram detectados animais soropositivos para apenas um dos agentes, quanto para ambos, sem diferenças estatísticas significativas. 13 1.5 Patogenia A patogenia da neosporose depende do equilíbrio entre a capacidade dos taquizoítos em penetrar e se multiplicar nas células e a capacidade do hospedeiro de impedir essa proliferação. A invasão da célula hospedeira compreende dois eventos distintos: adesão à superfície da célula hospedeira e o processo de entrada na célula. O evento inicial no processo de adesão é mediado por contato de baixa afinidade, que subseqüentemente conduz à secreção de micronemas. Em seguida ocorre ligação mais específica com a superfície da célula hospedeira, e a conseqüente invasão da célula. Para tanto, é necessário que haja a presença de receptores adequados na superfície da célula hospedeira que forneçam o sinal para a entrada do parasita no citoplasma celular (BUXTON et al., 2002). Os taquizoítos de N. caninum interagem com a célula hospedeira por meio de mecanismos altamente conservados em todo o filo Apicomplexa. Mas em contraste com outros gêneros desse filo, que exibem considerável especificidade pela célula hospedeira, tanto N. caninum quanto T. gondii podem invadir e se proliferar em diferentes tipos de células de mamíferos, sugerindo assim, que eles possam reconhecer um ou vários receptores na superfície da célula hospedeira, para a adesão inicial e subseqüente invasão (BUXTON et al., 2002). O protozoário atinge células alvo pelas vias sanguíneas e linfáticas, reconhecendo a célula pela de invasão ativa por proteínas usadas como receptoras, sendo essa fase extremamente rápida, não exigindo mais que cinco minutos. Dentro das células, os parasitas se localizam em uma estrutura denominada vacúolo parasitóforo, que possui tênue camada membranosa, formada pela própria membrana da célula hospedeira, que separa os taquizoítos do citoplasma celular. O parasita provoca mudanças metabólicas nos hospedeiros, favorecendo ainda mais a invasão (HEMPHILL et al. 1996). Os taquizoítos se multiplicam no hospedeiro definitivo por endodiogenia, produzindo várias centenas de parasitas em poucos dias após a infecção, provocando grande expansão do vacúolo levando à lise celular. Logo, os taquizoítos estão livres e infectam as células adjacentes iniciando todo o 14 processo novamente, levando à destruição de grande quantidade celular, e lesões significativas (HEMPHILL e GOTTSTEIN, 2006). O estágio latente é representado pelos cistos teciduais, que são constituídos de uma grande parede cística que os protege, contendo bradizoítos, caracterizados pela multiplicação lenta (DUBEY e LINDSAY, 1996). Podem sobreviver por mais de quatorze dias a quatro graus Celsius (LINDSAY et al., 1999). Sabe-se que na forma intestinal o período pré-patente é de cinco a oito dias após a ingestão dos cistos teciduais, mas pouco se sabe sobre sua localização no órgão, ou a respeito das estruturas acometidas e, portanto de sua patogenia (LINDSAY e DUBEY, 2000). Ao invadir as células uterinas, o parasita multiplica-se causando destruição local nos tecidos do feto e da mãe e estes tecidos iniciam uma resposta inflamatória. As lesões se estendem para a região corio-alantóide entre os cotilédones. Ao mesmo tempo em que essas lesões ocorrem, o parasita também entra na corrente sangüínea e invade outros tecidos, com predileção pelo sistema nervoso central, onde se localiza preferencialmente ao redor dos vasos sangüíneos. A destruição de células fetais, associada à inflamação linfóide, também pode ocorrer em outros tecidos, como coração, músculo esquelético, pulmão e fígado (BARR et al., 1994). N. caninum é capaz de produzir lesões necróticas visíveis em poucos dias, causando morte celular pela multiplicação ativa dos taquizoítos, podendo produzir doenças neuromusculares graves em cães, bovinos e provavelmente em outras espécies, destruindo grande número de células neurais, incluindo nervos craniais e espinhais, afetando assim a condutibilidade dessas células (DUBEY, 1999). Se o animal estiver com uma boa resposta imune, os taquizoítos se transformam em bradizoítos, formando os cistos teciduais localizados principalmente no sistema nervoso central. Este estágio é mantido na fase crônica da infecção na qual os animais são assintomáticos. Entretanto, no período de gestação o animal pode apresentar redução da imunidade e a infecção pode ser reativada. Os bradizoítos se transformam em taquizoítos e desenvolvem infecção aguda (QUINN et al., 2002). 15 Há poucos relatos de infecção natural em ovinos. A maior parte dos estudos sobre a neosporose nesta espécie advém de inoculações experimentais, cujas alterações clínicas e histopatológicas assemelham-se as da toxoplasmose ovina e neosporose bovina (BUXTON et al., 2002). 1.6 Sinais Clínicos Tanto o hospedeiro definitivo quanto o intermediário podem ser portadores assintomáticos das formas latentes da neosporose, podendo ser reativadas ou exacerbadas por imunossupressão natural ou iatrogênica (GIRALDI et al., 2001). Em inoculação experimental de ovelhas prenhes, Mcallister et al. (1996) observaram a ocorrência de abortamentos, fetos mumificados, natimortos, nascimento de filhotes fracos e nascimento de filhotes clinicamente sadios, mas congenitamente infectados, dependendo do período de gestação em que a fêmea foi infectada. Ovelhas inoculadas com 65 dias de gestação abortaram, enquanto as que foram inoculadas com 120 dias de gestação pariram cordeiros vivos. As ovelhas infectadas não apresentaram outros sinais clínicos além dos reprodutivos. Buxton et al. (1998) demonstraram a ocorrência de morte e reabsorção embrionária, além de outras falhas reprodutivas, de acordo com a idade gestacional em que a ovelha foi infectada. O protozoário parece ter predileção pelo epitélio coriônico fetal e vasos sanguíneos placentários, induzindo vasculite, trombose e necrose de placentomas. Jolley et al. (1999) verificaram que as ovelhas podem abortar repetidamente por neosporose após uma infecção inicial que se torna crônica, mas parece haver certo grau de imunidade contra novos abortamentos ou transmissão transplacentária. Já em relação a neosporose em cães, a idade mínima relatada é de dois dias (BARBER e TREES, 1996), e a máxima de 15 anos (DUBEY, 2003). Os cães mais velhos são menos afetados clinicamente, porém quando acometidos apresentam envolvimento multifocal do sistema nervoso central e poliomiosite (GIRALDI et al., 2001). 16 Deve–se suspeitar de neosporose em qualquer caso clínico de cão com menos de um ano de idade que apresente desde fraqueza progressiva dos membros posteriores até um quadro de paralisia flácida (BARBER e TREES, 1996). Os cães com neosporose desenvolvem paresia uni ou bilateral, flácida ou espástica, que evolui para paralisia progressiva, de curso agudo ou crônico, e podem sobreviver por vários meses (BARBERS e TREES, 1996), sendo que na maioria dos casos fatais, a infecção ocorre transplacentariamente (DUBEY, 1999). Posteriormente, N. caninum passou a ser reconhecido como causador de afecções neuromusculares, miocárdicas, pulmonares e dérmicas (GIRALDI et al., 2001). Embora os sinais neurológicos da síndrome miosite-polirradiculoneurite variem de acordo com o local parasitado, os mais freqüentes são paresia de membros posteriores acompanhado de ataxia, atrofia de membros pélvicos e alterações proprioceptivas. Também pode ocorrer mialgia, cifoescoliose lombar, hiperextensão rígida de um ou ambos os membros posteriores, paresia uni ou bilateral dos membros anteriores, hemiparesia a quadriparesia, alterações de comportamento, cegueira, tremores cefálicos, convulsões, dificuldade de deglutição, incontinência fecal e urinária, flacidez muscular e paralisia dos maxilares (BARBER e TREES, 1996). Apesar da alta prevalência de anticorpos nos animais, a neosporose clínica tem sido pouco registrada, provavelmente devido à doença apresentar sinais clínicos comuns a outras enfermidades (ALMEIDA, 2004). 1.7 Diagnóstico Os métodos diretos utilizados no diagnóstico e pesquisa de N. caninum são os exames histopatológicos, imunoistoquímica, isolamento in vitro e in vivo por inoculação do material suspeito em cultivo celular ou em animais de laboratório, detecção do DNA do parasita por PCR e a observação dos cistos nos tecidos a fresco (sem coloração) por microscopia óptica. Já entre os métodos indiretos estão RIFI, ELISA, NAT e Imunoblotting (IB) que podem 17 detectar anticorpos específicos para N. caninum (BJÖRKMAN e UGLLA, 1999, DUBEY, 2003). Exames histopatológicos e imunoistoquímicos podem ser realizados a partir de amostras de cérebro, medula espinhal, coração, fígado, músculo esquelético, pulmão, rim, placenta, onde serão identificados os taquizoítos ou cistos de N. caninum. Microscopicamente as lesões são degenerativas e inflamatórias, com áreas de necrose multifocal com infiltração de células mononucleares (LINDSAY et al., 1993). Considerando a extensa distribuição de casos de neosporose no mundo, são relatados relativamente poucos casos de isolamento com sucesso. Isto ocorre porque os fetos estão geralmente autolisados e o número de cistos teciduais de N. caninum serem relativamente pequeno. Porém, os desenvolvimentos de novos métodos para o aumento da concentração dos parasitos aumentam as chances de obtenção dos isolados (CONRAD et al., 1993). Os taquizoítos de N. caninum podem ser mantidos por tempo indeterminado em cultivo celular e podem ser conservados em nitrogênio liquido, sem perda aparente da sua infectividade em camundongos (Swiss- Webster). Entre as células utilizadas no cultivo estão, monócitos e células endoteliais de artéria cardiopulmonar de bovinos, células Vero (rim de macaco) e Marc-145 (fibroblastos de pele humana) (DUBEY et al., 1996). No isolamento de N. caninum in vivo a inoculação de tecidos infectados pode ser realizada em cultura de células ou em camundongos imunossuprimidos (DUBEY et al., 1988). Porém camundongos têm demonstrado resistência à infecção. Em contraste, gerbis são susceptíveis a infecção com N. caninum sem que seja necessária a imunossupressão (DUBEY et al., 1996). No Brasil, Gondim et al. (2001) relataram o isolamento in vivo de N. caninum a partir de cérebro de cão. Em bovinos o isolamento in vivo e in vitro foi realizado em amostras de cérebro de fetos abortados de bovinos por Dittrich (2002) e em búfalos por Rodrigues et al. (2004). As técnicas sorológicas são de grande valia, pois podem ser realizadas no animal vivo, apresentam alta sensibilidade e especificidade, e são indicadas 18 para avaliar a exposição e o risco de infecção (GONDIM et al., 2001). As condições experimentais in vitro são muito variadas e, como conseqüência, o título de anticorpos para N. caninum que determina a infecção em bovinos adultos, ainda não foi padronizado (DUBEY, 2003; GUIMARÃES et al., 2004). A RIFI foi o primeiro método sorológico a ser utilizado para a pesquisa de anticorpos contra N. caninum (DUBEY et al., 1988). Neste método os taquizoítos de N. caninum são cultivados em diferentes linhagens de células e após processamento adequado são colocados em lâminas de microscopia, que são incubadas inicialmente com soros diluídos e em uma segunda etapa, com anti-soro espécie-específico, conjugado ao isotiocianato de fluoresceína, para a formação de um complexo imune estável. A detecção da fluorescência dos taquizoítos é feita em microscopia de fluorescência e os soros considerados reagentes (título >25), em uma primeira série de testes (triagem), deverão ser posteriormente diluídos na base dois a partir da diluição 1:25, objetivando-se conhecer a maior diluição que ainda gere sinal de fluorescência (titulação), encontrando como diluição final de 1:400 (BJORKMAN e UGGLA, 1999). Devido à utilização de taquizoítos intactos como antígeno nos testes da RIFI, o teste detecta principalmente anticorpos direcionados para antígenos presentes na superfície celular do parasita. Nas espécies de Apicomplexa, os antígenos de superfície são considerados mais específicos que os componentes intracelulares. Estudos epidemiológicos em diversos hospedeiros demonstram que testes da RIFI para N. caninum apresentam baixa ocorrência de reação cruzada com outros coccídeos. Isto é particularmente importante em relação a T. gondii. Por essa razão, o teste da RIFI é usado freqüentemente como teste de referência para detecção de anticorpos contra N. caninum (DUBEY, 2003) e, portanto, este método foi utilizado no diagnóstico da infecção em várias espécies animais, como: cães, raposas, gatos, bovinos, ovinos, caprinos, búfalos, eqüinos, roedores e primatas (DUBEY e LINDSAY, 1996; BJÖRKMAN e UGGLA, 1999). O teste NAT foi aprimorado por Romand et al. (1998) para a pesquisa de anticorpos para N. caninum empregando, como antígeno, taquizoítos da cepa NC-1 isolado de monocamadas de fibroblastos humanos, numa concentração de 2 x 104 taquizoítos por microlitro. Este método de diagnóstico mede a 19 aglutinação de taquizoítos na presença de anticorpos específicos presentes no soro, eliminando a utilização de anticorpos secundários empregados nos testes anteriores. Neste teste foram observadas especificidade e sensibilidade semelhantes às da RIFI (BJORKMAN e UGGLA, 1999). A sedimentação dos taquizoítos formando ponto no fundo do poço é considerada como resultado negativo, ao passo que sedimentação difusa (em malha) representa resultado positivo. É bastante utilizado para sorodiagnóstico de animais selvagens pelo fato que não necessita de conjugado espécie- específica (CAÑON-FRANCO et al., 2003). Grande avanço no diagnóstico da neosporose foi a utilização do ensaio imunoenzimático - ELISA (BJÖRKMAN et al., 1994). Enquanto na RIFI são utilizados como antígenos os taquizoítos inteiros, os ELISAs convencionais empregam o antígeno solúvel de taquizoítos (PARÉ et al., 1995; BJÖRKMAN e UGGLA, 1999). Existem outros testes de ELISA, como o competitivo para detectar anticorpos específicos para Neospora em bovinos com anticorpos monoclonais (Mab 4A4-2), direcionado ao antígeno de superfície de 65 kDa, e o Elisa ISCOM que foi desenvolvido com taquizoítos incorporados aos imunoestimulantes (BJÖRKMAN et al., 1994). O teste de ELISA pode ser problemático devido à ampliação enzimática de reações inespecíficas, comumente relacionadas com reações cruzadas com parasitos coccídeos ou com o tipo de antígeno utilizado (CAÑON-FRANCO et al., 2003). As reações cruzadas observadas no ELISA indireto podem ser decorrentes dos antígenos de N. caninum utilizados nos testes. O ELISA indireto contém antígenos solúveis, com preponderância de antígenos intracelulares, enquanto a RIFI contém taquizoítos fixados intactos, prevalecendo os antígenos de superfície dos parasitos (BJORKMAN e UGGLA, 1999). Evidências apontam que os antígenos mais específicos das espécies do filo Apicomplexa encontram-se na superfície do parasito, podendo explicar a maior especificidade do teste de RIFI para N. caninum sobre o ELISA indireto (BJORKMAN e UGGLA, 1999). A PCR é uma das técnicas mais importantes da biologia molecular, e representa grande avanço no diagnóstico de várias doenças, pela amplificação 20 de segmentos específicos do DNA. Este método de diagnóstico possibilitou a caracterização molecular do parasita N. caninum (DUBEY e LINDSAY, 1996) e levou a descoberta de que os isolados de N. caninum de cães e de bovinos pertencem a mesma espécie e são geneticamente idênticos (MARSH et al., 1998). As técnicas de PCR desenvolvidas têm como seqüência alvo a região ITS1 do DNA ribossômico e a seqüência Nc5 do DNA genômico de N. caninum. As técnicas de PCR permitem amplificar quantidades muito pequenas de DNA, mesmo em tecidos que estejam autolisados (COLLANTES- FERNÁNDES et al., 2002). A PCR é altamente sensível e específica para o diagnóstico da neosporose (ELLIS, 1998; ELLIS et al., 1999). Esta técnica vem sendo utilizada para detectar o DNA de N. caninum, tanto em infecções naturais quanto experimentais (HO et al.,1997). 1.8 Impactos Econômicos da Neosporose Há poucos estudos que quantifiquem as perdas econômicas da neosporose. Não há estudos relacionados a esse tópico em ovinos. Os prejuízos gerados com a doença em bovinos decorrerem de abortamentos, redução do valor do animal, aumento do intervalo entre partos, infertilidade, aumento do descarte e queda da produção de leite (TREES et al., 1999). As perdas estimadas com abortamentos em bovinos por neosporose na Califórnia são de 35 milhões de dólares por ano (DUBEY, 1999). Hernandez et al. (2001) verificaram que vacas soropositivas produziram 3 a 4% menos leite que vacas soronegativas. Já Barling et al. (2001) observaram associação entre soropositividade para N. caninum em bezerros de corte e redução do ganho de peso e peso vivo ao abate. 1.9 Potencial Zoonótico Não se conhece ainda o potencial zoonótico deste parasita. Porém, já se reconhece que, quando a população humana entra em contato com o agente, apresenta algum grau de imunocomprometimento (DUBEY e LINDSAY, 1996; MINEO, 2008). Embora nenhum caso de neosporose tenha sido relatado em 21 humanos, anticorpos anti-N. caninum já foram detectados na espécie (MINEO, 2008). Em experimento realizado com primatas não humanos (Macaca mulata), Barr et al. (1994) observaram que o agente inoculado em fêmeas prenhes causa lesões que se assemelham muito àquelas causadas por toxoplasmose congênita, demonstrando provável potencial zoonótico. Tranas et al. (1999) observaram 69 soros positivos (6,7%) dentre 1029 soros de doadores de sangue no estado da Califórnia, EUA, pela reação de imunofluorescência indireta à diluição 1:100, mas à diluição 1:200 todos foram negativos. Porém, Robert et al. (1998) não encontraram nenhum soro positivo entre 500 amostras de mulheres grávidas da França pela RIFI à diluição 1:80, assim como Petersen et al. (1999), que investigaram soros de 76 mulheres da Dinamarca com histórico de abortamento pelas técnicas de ELISA, RIFI e Western blot e não encontraram nenhum soro positivo. Estudos realizados por Lobato et al. (2006) indicaram a exposição ou a infecção por N. caninum em humanos, particularmente em pacientes infectados com HIV (38% soropositivos para N. caninum) e em pacientes com desordens neurológicas (18% soropositivos para N. caninum), que poderiam ter infecções oportunistas e simultâneas com T. gondii. Além disso, observaram também a importância de métodos sorológicos complementares ou de procedimentos diagnósticos multidisciplinares, tais como PCR e imunoistoquímica com o material coletado pela biópsia ou na autópsia, para uma melhor caracterização da infecção humana pelo agente. Estes achados podem trazer interesse novo ao quadro clínico instável de pacientes infectados com HIV e o papel real da infecção de N. caninum em pacientes imunocomprometidos. 1.10 Prevenção e Controle As medidas de prevenção e controle para neosporose muitas vezes podem tornar-se inviáveis economicamente ou pouco práticas. Ainda não há tratamento efetivo contra a neosporose. Estudos utilizando drogas antiprotozoárias em bezerros infectados têm mostrado algum efeito na diminuição da disseminação do parasita no animal. Já em relação à vacinação, 22 há indícios de que as vacinas inativadas conferem certa imunidade na prevenção da transmissão vertical. Porém, a prevenção do abortamento é discutível e o uso é preconizado apenas para a espécie bovina (DUBEY, 2003). As medidas de prevenção e controle para a espécie ovina são: uso de receptoras soronegativas na transferência de embrião, uso de maternidades individuais, redução da exposição de cães a fetos abortados e placentas, enviar ao laboratório fetos abortados e placentas para diagnosticar a causa do aborto, reduzir o número de cães coabitando com o rebanho, evitar o acesso de canídeos domésticos ou selvagens a silos e depósitos de ração, e realizar a sorologia do rebanho e dos cães coabitantes (ALMEIDA, 2004). Os cães não devem ter contato com tecidos infectados de hospedeiros intermediários ou até mesmo com as fezes de outros canídeos. O tratamento de cães com sinais neurológicos é longo, com prognóstico reservado a desfavorável. Os medicamentos utilizados no tratamento da neosporose clínica em cães incluem clindamicina 7,5 a 15 mg/Kg por via oral ou subcutânea a cada 8 horas, durante 4 a 8 semanas, trimetropim-sulfonamida 15 a 20 mg/Kg por via oral a cada 12 horas, durante 4 a 8 semanas, e pirimetamina- sulfonamida 15 a 30 mg/Kg por via oral a cada 12 horas, durante 4 a 8 semanas (GREENE, 2006). É inviável descartar todos os animais soropositivos de uma propriedade com alta soroprevalência. Por outro lado, o descarte de animais soropositivos com histórico de abortamento baseado no resultado sorológico de apenas um animal da propriedade também não é uma medida racional, já que muitos animais soropositivos podem ter abortado por outras causas. A avaliação geral da propriedade utilizando análise soroepidemiológica e histórico reprodutivo constituem-se na melhor maneira para iniciar um programa de controle e prevenção da doença. Compra de animais com pelo menos dois resultados negativos para N. caninum também se constitui em medida preventiva (DUBEY, 2003). OBJETIVOS 23 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Avaliar a ocorrência de anticorpos contra N. caninum em ovinos e cães naturalmente infectados através da RIFI, em propriedades rurais localizadas na microrregião de Araraquara e pertencentes aos municípios de Ibitinga, Itápolis, Borborema e Tabatinga, São Paulo, Brasil. 2.2 Objetivo específico Analisar fatores determinantes da presença ou ausência de anticorpos contra N. caninum em ovinos e cães, associando o resultado da sorologia as variáveis das propriedades, obtidas através da aplicação de questionário epidemiológica. MATERIAIS E MÉTODOS 25 3. METERIAIS E MÉTODOS 3.1 População e amostragem A microrregião de Araraquara é típica de cerrado e mata atlântica e apresenta clima tropical (IBGE, 2010), caracterizado por temperaturas médias de inverno não inferior a 18ºC e no verão, acima de 24ºC, porém sem estação invernosa definida e forte precipitação anual (INPE, 2010). Do total de 4228 ovinos de 16 propriedades rurais, foram colhidas amostras de sangue de 1497 ovelhas e de todos os cães que habitam estas propriedades (Tabela 3), localizadas no estado de São Paulo e pertencentes aos municípios de Ibitinga, Itápolis, Borborema e Tabatinga (Figura 3). Os critérios para inclusão das propriedades rurais foram pertencer à microrregião de Araraquara (Américo Brasiliense, Araraquara, Boa Esperança do Sul, Borborema, Dobrada, Gavião Peixoto, Ibitinga, Itápolis, Matão, Motuca, Nova Europa, Rincão, Santa Lúcia, Tabatinga e Trabiju) e ter obrigatoriamente cães coabitando com ovinos. Segundo o último senso pecuário (IBGE, 2006) a população ovina na microrregião de Araraquara está distribuída da seguinte forma: Américo Brasiliense (300), Araraquara (997), Boa Esperança do Sul (385), Borborema (742), Dobrada (244), Gavião Peixoto (650), Ibitinga (1253), Itápolis (3066), Matão (273), Motuca (211), Nova Europa (131), Rincão (42), Santa Lúcia (75), Tabatinga (134) e Trabiju (238). O tamanho da amostragem foi calculado utilizando o programa Bioestat 5.0 com prevalência de 12,6%, erro de 5% e intervalo de confiança de 95%. 26 Tabela 3. Número de propriedades rurais de acordo com os municípios, número total de animais dos rebanhos ovinos e número de ovinos e cães amostrados Propriedade Município Nº total animais (rebanho ovino) Nº ovinos amostrados Nº cães amostrados 1 Ibitinga 100 63 2 2 Ibitinga 330 113 3 3 Ibitinga 600 133 5 4 Ibitinga 81 55 1 5 Ibitinga 100 63 1 6 Itápolis 240 100 2 7 Itápolis 550 131 3 8 Itápolis 220 96 6 9 Itápolis 470 126 5 10 Itápolis 240 100 2 11 Borborema 305 110 4 12 Borborema 445 124 2 13 Borborema 57 43 1 14 Tabatinga 80 55 1 15 Tabatinga 170 85 3 16 Tabatinga 240 100 1 4228 1497 42 F ig u ra 3 . D is tr ib ui çã o ge og rá fic a do s m un ic íp io s de I bi tin g a, It áp ol is , B or bo re m a e T ab at in g a, S ão P a ul o, B ra si l. F o n te : A da pt a do d o in st itu to g eo gr áf ic o e ca rt og rá fic o – IG C , 2 0 07 . Ib it in ga It áp ol is B or bo re m a T ab at in ga 28 3.2 Colheitas das amostras As amostras de sangue dos ovinos foram colhidas por venocentese jugular e dos cães por venocentese jugular ou cefálica, utilizando-se agulhas descartáveis 40x12 e 25x7, e tubos de ensaio sem anticoagulante devidamente identificados com o número de cada animal. As amostras foram encaminhadas ao laboratório, onde foram registradas e centrifugadas durante 10 minutos a 3000 rotações por minuto (rpm) para a obtenção do soro, que foi aliquotado em microtubos etiquetados e congelados de -4ºC a -8ºC até a realização da sorologia. 3.3 Variáveis estudadas O estudo envolveu a colheita de amostras de sangue de ovinos e cães coabitantes nas 16 propriedades rurais. Durante o experimento foi aplicado um questionário epidemiológico em cada uma das propriedades, sendo entrevistado o proprietário ou responsável pelo manejo dos animais. O questionário abordou aspectos epidemiológicos relativos à atividade principal e tipo de exploração da propriedade, tipo de abastecimento de água, ocorrência de abate de animais na propriedade, número de cães na propriedade, tipo de alimentação dos animais, presença de outros canídeos selvagens ou domésticos, presença de roedores, tipo de criação das aves domésticas (Gallus gallus domesticus) e históricos de problemas reprodutivos e neurológicos nos animais (Anexo 1). 3.4 Exame sorológico Os exames foram realizados no Laboratório do Núcleo de Pesquisa em Zoonoses (NUPEZO) do Departamento de Higiene Veterinária e Saúde Pública da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Botucatu – SP. 29 A RIFI foi empregada para a pesquisa de anticorpos anti-N. caninum. Esta prova foi escolhida, pois é considerada a metodologia de referência para a pesquisa de anticorpos anti-N. caninum (DUBEY et al., 1988). O princípio da RIFI é a detecção de anticorpos direcionados aos antígenos de superfície celular dos taquizoítos de N. caninum. Como esses antígenos são considerados mais específicos do que os componentes intracelulares, os taquizoítos inteiros de N. caninum foram fixados nos orifícios de lâminas adequadas para este fim. Os anticorpos contra N. caninum presentes no soro, ligam-se aos taquizoítos do parasita. A seguir, utiliza-se anti-soro específico, conjugado ao isotiocianato de fluoresceína, para a formação de um complexo imune estável. Esta reação é detectada pela fluorescência dos taquizoítos. As lâminas, utilizadas como antígenos, foram produzidas no laboratório do NUPEZO, com a cepa NC-1 de N. caninum, mantida in vitro, cedida gentilmente pela Professora Dra. Solange Maria Gennari e pela médica veterinária Dra. Hilda Fátima de Jesus Pena, da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo. Para a manutenção da cepa NC-1 de N. caninum in vitro foi utilizado cultura em células Vero, cultivadas em meio RPMI 1640, suplementado com soro fetal bovino a 10%. As amostras de soros foram inicialmente triadas, considerando-se como ponto de corte o título 25. Em microplacas, seguindo-se protocolo, foram diluídos 5µL de cada amostra de soro em 120µL solução salina tamponada (SST) pH 7,2; incluindo-se os soros controles positivo e negativo. Após diluição, foi pipetados 10µL de cada amostra de soro nos poços das lâminas, que foram incubadas em câmara úmida a 37ºC durante 30 minutos. A seguir foram lavadas, com SST pH 7,2 em dois banhos de 10 minutos cada. Após secagem, foi adicionado em cada poço da lâmina, o conjugado anti-IgG ovino e canino preparado em solução de azul de Evans, previamente diluído 1:5 em SST pH 7,2 (Figura 4). Para a titulação das amostras positivas, foram testadas diluições ao dobro, ou seja, 1:25, 1:50, 1:100, 1:200, 1:400 e 1:800. Nos casos de ocorrência de reação na última diluição testada, as amostras foram submetidas a novas diluições, para obtenção do título final. 30 A B C D E F G H I J K L M N O P Figura 4. Técnica de Reação de Imunofluorescência Indireta – RIFI. A e B (Diluição dos soros controles e testes); C e D (Sensibilização das lâminas com os soros); E e F (Primeira incubação de 30 minutos a 37ºC); G e H (Primeira lavagem e imersão em PBS 7,2 durante 10 minutos); I ,J e K (Preparação do conjugado e adição na lâmina); L (Segunda incubação de 30 minutos a 37ºC); M (Adição de glicerina na lâmina para colocação de lamínula); N (Leitura da lâmina em microscópio de fluorescência); O ( RIFI positiva) e P (RIFI negativa). Fonte: Núcleo de pesquisa em zoonoses - NUPEZO - FMVZ - UNESP 31 3.5 Análise estatística As variáveis foram analisadas pelo teste de Qui-quadrado e teste G com nível de significância de 5%. O programa Bioestat 5.0 foi utilizado para cálculo das associações considerando como significativo P < 0,05. RESULTADOS 33 4. RESULTADOS 4.1 Sorologia Das 1497 amostras de sangue ovino analisadas pela RIFI, 8,0% (120/1497) foram soropositivas com título ≥ 25 (Tabela 4), sendo o título de maior freqüência 100 (29,2%), seguido dos títulos 50 (27,5%), 200 (24,5%), 25 (15,8%) e 400 (3,3%) (Tabela 5). Das 42 amostras de sangue canino analisadas pela RIFI, 4,8% (2/42) foram soropositivas (Tabela 4), com título 50 (Tabela 6). 4.2 Análise descritiva das propriedades O tamanho das 16 propriedades rurais foram bastante heterogêneos, variando de 15 a 200 alqueires. Em 81,25% (13/16) das propriedades a atividade principal era mista (agricultura e pecuária), seguido de agricultura em 12,5% (2/16) e pecuária em 6,25% (1/16) e todas elas dedicavam-se a ovinocultura de corte e ao sistema extensivo. O número total de ovinos nos rebanhos variou de 57 a 600 animais. A idade variou de 10 meses a 5 anos, sendo 54,7% (819/1497) dos animais cruzados (Santa Inês e Dorper), 28,3% (424/1497) Santa Inês e 17% (254/1497) Dorper. A alimentação em todas as propriedades era pastagem (Brachiaria decumbens e Brachiaria humidicola), feno e ração comercial. O abastecimento de água dos animais em 14 (87,5%) propriedades era de poço artesiano e 2 (12,5%) represa. O número total de cães nas propriedades variou de 1 a 6 animais. 56,3% (24/42) dos cães eram machos e 43,7% (18/42) fêmeas. 68,67% (29/42) tinham idade entre 1 a 3 anos, sendo 31,35% (13/42) com idade superior a 3 anos. 50,0% (21/42) era SRD (sem raça definida), 31,25% (13/42) Border Collie e 18,75% (8/42) Pastor Maremano. Em 93,75% (15/16) das propriedades eles eram criados soltos e em 6,25% (1/16) presos. 75,0% (12/16) das propriedades forneciam ração aos cães e 25,0% (4/16) comida caseira, sendo o abastecimento de água em todas as propriedades de poço artesiano. 34 Todas as propriedades relatam à presença de outros canídeos, tendo em 12,5% (2/16) das propriedades a presença de canídeos selvagens e em 87,5% (14/16) de cães de propriedades vizinhas. Todas elas tem criação de aves domésticas (Gallus gallus domesticus), sendo que em 93,75% (15/16) das propriedades as aves são criadas soltas e em 6,25% (1/16) fechadas em galinheiros. Foram relatadas a presenças de roedores (Rattus norvergicus, Rattus rattus e/ou Mus musculus) em 14 (87,5%) das propriedades. Em todas as propriedades ocorre abate de ovinos, aves e suínos e os cães têm acesso as vísceras e carne crua dos animais abatidos 62,5% (10/16) das propriedades. Problemas reprodutivos ocorrem em 87,5% (14/16) das propriedades, sendo mais freqüentes: abortamento (47,7%), repetição de cio (40,7%) e natimortos (11,6%). Os abortos ocorreram em 30,4% dos casos no terço inicial, 26,0% no terço final e 21,7% no segundo terço de gestação. Os diagnósticos das falhas reprodutivas não foram concluídos nas em todas as propriedades. Não foram relatados tanto nas ovelhas como nos cães distúrbios neurológicos. Nenhuma das propriedades realizava período de quarentena e sorologia prévia para doenças infecciosas e parasitárias na compra e antes da introdução de novos animais nos rebanhos. 35 Tabela 4. Total de ovelhas e cães soropositivos e soronegativos para anticorpos contra N. caninum pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. PR Ovinos Cães N SP (%) SN (%) N SP (%) SN (%) 1 63 0 (0,0) 0 (0,0) 2 0 (0) 2 (100,0) 2 113 18 (15,9) 95 (84,1) 3 0 (0) 3 (100,0) 3 133 0 (0,0) 133 (100,0) 5 0 (0) 5 (100,0) 4 55 13 (23,6) 42 (76,4) 1 1 (100,0) 0 (0,0) 5 63 8 (12,7) 55 (87,3) 1 0 (0) 1 (100,0) 6 100 21 (21,0) 79 (79,0) 2 0 (0) 2 (100,0) 7 131 11 (8,4) 120 (91,6) 3 0 (0) 3 (100,0) 8 96 24 (25,0) 72 (75,0) 6 0 (0) 6 (100,0) 9 126 0 (0,0) 126 (100,0) 5 0 (0) 5 (100,0) 10 100 18 (18,0) 82 (82,0) 2 0 (0) 2 (100,0) 11 110 0 (0,0) 110 (100,0) 4 0 (0) 4 (100,0) 12 124 0 (0,0) 124 (100,0) 2 0 (0) 2 (100,0) 13 43 0 (0,0) 43 (100,0) 1 0 (0) 1 (100,0) 14 55 0 (0,0) 55 (100,0) 1 0 (0) 1 (100,0) 15 85 7 (8,2) 78 (91,8) 3 1 (33,3) 2 (66,7) 16 100 0 (0,0) 100 (100,0) 1 0 (0) 1 (100,0) Total 1497 120 1377 42 2 40 Legenda: PR: Propriedades rurais, N: Amostras analisadas, SP: Soropositivos e SR: Soronegativos. 36 Tabela 5. 0corrência de anticorpos contra N. caninum pela RIFI nas ovelhas e cães das 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. Propriedades Rurais Ovinos Cães Nº Amostras Analisadas Sororreagentes % Nº Amostras Analisadas Sororreagentes % 1 63 0 (0,0) 2 0 (0) 2 113 18 (1,2) 3 0 (0) 3 133 0 (0,0) 5 0 (0) 4 55 13 (0,9) 1 1 (2,4) 5 63 8 (0,5) 1 0 (0) 6 100 21 (1,4) 2 0 (0) 7 131 11 (0,7) 3 0 (0) 8 96 24 (1,6) 6 0 (0) 9 126 0 (0,0) 5 0 (0) 10 100 18 (1,2) 2 0 (0) 11 110 0 (0,0) 4 0 (0) 12 124 0 (0,0) 2 0 (0) 13 43 0 (0,0) 1 0 (0) 14 55 0 (0,0) 1 0 (0) 15 85 7 (0,5) 3 1 (2,4) 16 100 0 (0,0) 1 0 (0) Total 1497 120 (8,0%) 42 2 (4,8%) 37 Tabela 6. Distribuição das ocorrências de títulos de anticorpos obtidos pela RIFI nas ovelhas das 16 propriedades pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. Título Nº Amostras Positivas Ocorrência % 25 19 15,8 50 33 27,5 100 35 29,2 200 29 24,2 400 4 3,3 800 0 0,0 Total 120 100,0 Tabela 7. Distribuição das ocorrências de títulos de anticorpos obtidos pela RIFI nos cães das 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. Título Nº Amostras Positivas Ocorrência % 25 0 0 50 2 100,0 100 0 0 200 0 0 400 0 0 Total 2 100,0 38 Tabela 8. Associação entre a variável tamanho da propriedade com a soropositividade dos ovinos obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. Tamanho da Propriedade Soropositivos Soronegativos P (até 50 alq.) 74 (5,1%) 768 (18,4%) 0,4164 (51 a 100 alq.) 39 (2,9%) 531 (23,2%) (> 100 alq.) 7 (0,5%) 78 (50,3%) Tabela 9. Associação entre a variável atividade principal da propriedade com a soropositividade dos ovinos obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. Atividade Principal Soropositivos Soronegativos P Pecuária 8 (0,5%) 55 (3,6%) 0,1614 Agricultura 45 (3,0%) 151 (10,1%) Mista 67 (4,5%) 1171 (78,2%) 39 Tabela 10. Associação entre a variável abastecimento de água das ovelhas com a soropositividade dos ovinos obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara São Paulo, Brasil, 2010. Abasteciment o de água Soropositivo s Soronegativo s P OR IC (95%) OR Represa 32 (13,8 %) 199 (86,2 %) 0,000 4 2,1 5 1,39≤OR≤3,3 1 Poço Artesiano 88 (6,9%) 1178 (93,1 %) Tabela 11. Associação entre a variável presença de outros canídeos domésticos ou selvagens com a soropositividade dos ovinos obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. Presença de outros canídeos Soropositivos Soronegativos P OR IC (95%) OR Selvagens 18 (15,9%) 95 (84,1%) 0,0013 2,38 1,38≤OR≤4,09 Domésticos 102 (7,3%) 1282 (92,6%) 40 Tabela 12. Associação entre a variável tipo de criação de aves domésticas (Gallus gallus domesticus) com a soropositividade dos ovinos obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. Tipo de criação Soropositivos Soronegativos P Soltas 109 (7,3%) 1257 (83,2%) 0,8665 Fechadas 11 (0,7%) 120 (8,0%) Tabela 13. Associação entre a variável presença de roedores com a soropositividade dos ovinos obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. Presença de roedores Soropositivos Soronegativos P Sim 113 (7,5%) 1292 (86,3%) 0,8819 Não 7 (0,4%) 85 (5,7%) 41 Tabela 14. Associação entre a variável abate de animais na propriedade com a soropositividade dos ovinos obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. Abate de animais na propriedade Soropositivos Soronegativos P Sim 94 (6,6%) 1124 (86,7%) 0,3989 Não 26 (1,4%) 253 (5,3%) Tabela 15. Associação entre a variável acesso dos cães a carne crua e vísceras dos animais abatidos ou de outros animais com a soropositividade dos ovinos obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. Cães acesso carne crua ou vísceras Soropositivos Soronegativos P Sim 78 (7,8%) 903 (89,1%) 0,8984 Não 42 (0,9%) 474 (2,8%) 42 Tabela 16. Associação entre a variável tipo de criação dos cães com a soropositividade dos ovinos obtidos pela RIFI nas 16 propriedades pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. Tipo de criação dos cães Soropositivos Soronegativos P Soltos 112 (7,5%) 1322 (88,3%) 0,1620 Fechados 8 (0,5%) 55 (3,7%) Tabela 17. Associação entre a variável presença ou ausência de problemas reprodutivos com a soropositividade dos ovinos obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. Problemas reprodutivos Soropositivos Soronegativos P OR IC (95%) OR Sim 57 (10,8%) 469 (89,2%) 0,0031 1,75 1,20≤OR≤2,54 Não 63 (6,5%) 908 (93,5%) 43 Tabela 18. Associação entre a variável tipo de criação com a soropositividade dos cães obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, Brasil, 2010. Tipos de criação dos cães Soropositivos Soronegativos P Soltos 2 (4,8%) 38 (90,40%) 0,6547 Fechados 0 (0%) 2 (4,8%) Tabela 19. Associação entre a variável acesso dos cães a carne crua dos animais abatidos na propriedade e de outros animais com a soropositividade dos cães obtidos pela RIFI nas 16 propriedades rurais pertencentes à microrregião de Araraquara, São Paulo, Brasil, 2010. Acesso dos cães a carne crua ou vísceras Soropositivos Soronegativos P Sim 1 (2,4%) 38 (90,4%) 0,6184 Não 1 (2,4%) 2 (4,7%) DISCUSSÃO 45 5. DISCUSSÃO Este foi o primeiro estudo epidemiológico envolvendo a espécie ovina e canina em propriedades rurais da microrregião de Araraquara, apresentando os ovinos ocorrência de (8,0%) e cães (4,8%) (Tabela 4). Esta microrregião apresenta condições climáticas adequadas para manutenção de oocistos de N. caninum no meio ambiente, de acordo com Sanderson et al. (2000), que afirmam que fatores climáticos, como umidade e temperatura, influenciam a esporulação. No Brasil os estudos sorológicos da infecção por N. caninum em ovinos e cães têm demonstrado índices de soropositividade variáveis. Romanelli et al. (2002) e Munhoz (2009) no Paraná, Otero et al. (2002) na Bahia, Figliuolo et al. (2004) em São Paulo, Aguiar et al. (2004) em Rondônia e Vogel et al.(2006) no Rio Grande do Sul, encontraram 13,91%, 9,5%, 7,4%, 9,2%, 29% e 3,2% de ovinos soropositivos respectivamente. Souza et al. (2002) e Romanelli et al. (2007) no Paraná, Gennari et al. (2002) em São Paulo, Jesus et al. (2006) na Bahia, Cañon-franco et al. (2003) e Aguiar et al. (2006) em Rondônia, Oliveira et al. (2004) e Andreotti et al. (2006) no Mato Grosso do Sul, Fernandes et al. (2004) em Minas Gerais, Azevedo et al. (2005) no Pará, Boa ventura et al. (2008) em Goiás, encontraram 13,3%, 11,2%, 8,3%, 12,6%, 26,5%, 27,3%, 18,9%, 8,4%, 32,9% de cães soropositivos respectivamente. Ressalta-se que a comparação entre trabalhos que utilizam diferentes testes sorológicos com variados pontos de corte deve ser utilizada com cautela, uma vez que ocorrem diferenças na sensibilidade e especificidade entre os testes empregados (BJÕRKMAN et al., 1999). No presente estudo encontrou- se 50% (8/16) das propriedades com ovinos sororreagentes ao N. caninum (Tabela 4). Figliuolo et al. (2004), em 30 propriedades no estado de São Paulo, observaram que 86,6% apresentavam ovinos positivos a RIFI e Munhoz (2009) no estado do Paraná, encontrou em 81,82% (9/11) das propriedades ovinos soropositivos. A comparação com os resultados obtidos com outros trabalhos é limitada, pois as propriedades diferem quanto ao número de animais, tamanho, 46 manejo e tecnificação, sendo que algumas propriedades desenvolvem agricultura familiar, com animais criados na sua maioria para consumo próprio. Duas (12,5%) das 16 (100%) propriedades estudadas apresentaram cães sororreagentes ao N. caninum. Das 8 propriedades que apresentaram ovinos positivos, apenas duas (25%) tinham cães positivos (Tabela 4), o que sugere a transmissão vertical do parasita aos ovinos (BUXTON et al., 1997); apesar de cães errantes de outras propriedades vizinhas e mesmo da zona urbana serem encontrados no meio dos rebanhos. Os títulos mais freqüentes nos ovinos foram 50 (27,5%), 100 (29,2%) e 200 (24,2%) (Tabela 6) semelhantes aos encontros por Figliuolo et al. (2004) e Munhóz (2009), enquanto que para os cães obteve-se o título 50 em ambos. A associação entre tamanho da propriedade rural e atividade principal com os resultados obtidos nos ovinos, não mostrou diferença estatística significativa (P=0,4164) (Tabela 8) e (P=0,1614) (Tabela 9), o que vem ao encontro ao obtido por Barling et al. (2001) e Munhóz (2009). Todas as propriedades adotavam sistema de produção extensivo, no entanto, nas propriedades com sistema semi-intensivo ou intensivo acredita-se que a ocorrência da doença seja menor, devido às melhores condições sanitárias, menor aglomeração de animais, separação do rebanho por idade, sexo e finalidade de produção, além de mão-de-obra mais qualificada (BARLING et al, 2001). Foram observadas diferenças significativas quanto aos resultados e associação entre o abastecimento de água (P=0,0004; OR=2,15) (Tabela 9), provavelmente pelo fato das represas serem mais exposta as fezes dos cães, hospedeiros definitivos na neosporose (GREENE, 2006). A associação entre a presença de outros canídeos domésticos ou selvagens com os resultados, não revelou diferença estatística (P=0,0013; OR=2,38) (Tabela 10), discordando dos resultados de Ueno (2005) e Munhóz (2009). 47 Chrysocyon brachyurus Cerdocyon thous (Lobo-guará) (Cachorro-do-mato) Pseudalopex vetulus Pseudalopex gymnocercus (Raposinha) (Raposinha-do-campo) Atelocynus microtis Speothos venaticus (Cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas) (Cachorro-do-mato-vinagre) Figura 5. Canídeos brasileiros. Fonte: Adaptado de JÚNIOR et al. (2003). 48 No Brasil há seis espécies de canídeos selvagens (Figura 5), sendo uma delas da subfamília Symocyoninae, a Speothos venaticus (Cachorro-do-mato- vinagre), e as demais da subfamília Caninae: Chrysocyon brachyurus (Lobo- guará), Cerdocyon thous (Cachorro-do-mato), Lycalopex vetulus (Raposinha), Pseudalopex gymnocercus (Raposinha-do-campo) e Atelocynus microtis (Cachorro-do-mato-de-orelha-curta) (JÚNIOR et al., 2003). A distribuição geográfica no Brasil dos canídeos selvagens: Chrysocyon brachyurus (Região centro-sul e nordeste), Cerdocyon thous (ocorrem em todas as regiões, exceto nas áreas baixas da bacia amazônica), Atelocynus microtis (Região sul da bacia amazônica), Pseudalopex gymnocercus (Região sul), Pseudalopex vetulus (Região central e sudeste) e Speothos venaticus (Região norte, central, sul e sudeste) (REIS et al., 2006). No Brasil, poucos estudos sorológicos foram realizados em canídeos selvagens. Dentre as espécies brasileiras testadas para N. caninum, encontraram-se resultados positivos para lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) (VITALIANO et al., 2004), raposinha-do-campo (Lycalopex gymnocercus) e cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) (CÂNONFRANCO et al., 2004). A presença de canídeos selvagens em propriedades rurais tem aumentado significativamente, o que dificulta o controle e potencializa a transmissão da doença para os rebanhos, principalmente quando tem acesso a ração e fonte de água dos animais (ROMANELLI et al., 2007). Nas 16 propriedades estudadas foram encontradas criações de aves domésticas (Gallus gallus domesticus), sendo que em 93,75% (15/16) elas eram mantidas soltas e 6,25% (1/16) fechadas em galinheiros. A associação entre o tipo de criação das aves e a soropositividade das ovelhas não revelou diferença estatística (P=0,8665) (Tabela 11). Até 2007, somente mamíferos haviam sido identificados como hospedeiros naturais de N. caninum, entretanto o parasito foi detectado em galinhas, o que confere uma distribuição ainda mais ampla do agente, fato de grande importância epidemiológica (COSTA et al., 2008). Foi demonstrada a excreção de oocistos por cães que consumiram ovos de galinha embrionados infectados experimentalmente com N. caninum, sugerindo que as galinhas participem na transmissão do parasito (FURUTA et 49 al., 2007). Da mesma forma é possível que outras espécies de aves possam se infectar com o parasito, participando na disseminação da doença. Em 87,5% (14/16) das propriedades encontrou-se roedores (Rattus norvergicus, Rattus rattus e/ou Mus musculus), entretanto, não houve associação entre a presença destes e os resultados obtidos (P=0,8819) (Tabela 12). A infecção natural por N. caninum em ratos e camundongos, animais de distribuição cosmopolita, considerados sinantrópicos foi assinalada por (HUANG et al., 2004; FERROGLIO et al., 2007; JENKINS et al., 2007). Desconhece-se a eficiência da transmissão do parasito de roedores naturais infectados para outras espécies animais, porém sabe-se que o carnivorismo contribui na disseminação do parasito. A associação entre o abate de animais na propriedade e acesso de cães a carne crua e vísceras destes animais não apresentou diferença significativa (P=0,3989) (Tabela 13) e (P=0,8984) (Tabela 14), no entanto, carne crua ou vísceras são vias de transmissão importantes para a infecção canina e manutenção do ciclo epidemiológico da doença (GONDIM et al., 2004). Não houve diferença estatística entre a variável tipo de criação dos cães com a soropositividade dos ovinos (P=0,6130) (Tabela 16), o que está de acordo com os resultados encontrados por Ueno (2005) e Munhóz (2009). Por outro lado, houve associação da presença ou ausência de problemas reprodutivos com a soropositividade dos ovinos (P=0,0031; OR=0,25) (Tabela 16), também de acordo com Barling et al. (2001), no Texas. Diferenças estatísticas não foram encontradas na associação entre soropositividade dos cães e as variáveis: tipo de criação (P=0,6547) (Tabela 17) e acesso a carne crua ou vísceras (P=0,6184) (Tabela 18), sendo que o tipo de criação e alimentação dos cães interferem na ocorrência da doença (GREENE, 2006). Em 12 (75,0%) das propriedades o proprietário e os tratadores de animais não conheciam a neosporose e seus sinais clínicos, o que mostra o despreparo destes para a criação de ovinos. Os sinais clínicos apresentados pelos animais com neosporose são semelhantes para diversas doenças infecciosas e parasitárias, devendo 50 sempre considerá-la como diagnóstico diferencial para problemas reprodutivos nos rebanhos ovinos (GREENE, 2006). A falta de informações sobre a epidemiologia do agente tem limitado substancialmente a proposição de soluções objetivas e práticas para prevenir a infecção, sendo que as medidas profiláticas principais consistem na diminuição da exposição dos animais as possíveis fontes de infecção. Existe uma demanda crescente para que seja elaborada uma vacina a fim de prevenir abortamentos em ovinos e/ou impedir a excreção de oocistos pelos hospedeiros definitivos. CONCLUSÕES 52 6. CONCLUSÕES Os resultados obtidos indicam a ocorrência de anticorpos contra N. caninum em 50% (8/16) dos rebanhos, 8% (120/1497) dos ovinos e 4,8% (2/42) dos cães nas propriedades rurais da microrregião de Araraquara – SP e a ingestão de água de represas, presença de canídeos selvagens ou domésticos e a presença de problemas reprodutivos apresentaram associação positiva com a ocorrência da infecção por N. caninum em ovinos. REFERÊNCIAS 7. REFERÊNCIAS AGUIAR, D. M.; CHIEBAO, D. P.; RODRIGUES, A. A. R.; CAVALCANTE, G. 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