GUSTAVO GOMES VASQUES
Caracterização de uma micro pluma de plasma com descarga de argônio
Guaratinguetá - SP
2018
Gustavo Gomes Vasques
Caracterização de uma micro pluma de plasma com descarga de argônio
Trabalho de Graduação apresentado ao
Conselho de Curso de Graduação em física da
Faculdade de Engenharia do Campus de
Guaratinguetá, Universidade Estadual Paulista,
como parte dos requisitos para obtenção do
diploma de Graduação em Física.
Orientador: Prof. Dr. Milton Eiji Kayama
Guaratinguetá - SP
2018
DADOS CURRICULARES
GUSTAVO GOMES VASQUES
NASCIMENTO 12.07.1991 – Suzano / SP
FILIAÇÃO Afonso Tadeu Vasques
Rosemeire Gomes da Silva Vasques
2015/2018 Bacharelado em Física - Graduação
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
2013/2014 Especialização em marketing digital
Faculdade Impacta de Tecnologia
2009/2012 Comunicação social – Publicidade e propaganda - graduação
Universidade Braz Cubas
Dedico este trabalho
de modo especial, à minha família
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar agradeço a Deus, fonte da vida e da graça. Agradeço pela minha vida,
minha inteligência, minha família e meus amigos,
à minha mãe Rosemeire Gomes da Silva Vasques, ao meu pai Afonso Tadeu Vasques e
a minha esposa Ericka Louise Talarico Vasques que sempre me incentivaram e foram
pacientes comigo.
ao meu orientador, Prof. Dr. Milton Eiji Kayama que sempre me ajudou e me incentivou
durante a pesquisa e que sem sua orientação eu não teria aprendido tantas peculiaridades do
trabalho de um físico experimental.
ao Prof. Dr. Saulo Henrique Pereira que possibilitou que eu aprendesse um pouco de
como é o trabalho de um físico teórico.
aos professores e aos estudantes do grupo de plasma que me ajudaram e me ensinaram
muito durante esses anos.
aos meus colegas e professores do departamento de física e química que sempre me
acompanharam.
“O cientista é motivado principalmente pela
curiosidade e pelo desejo da verdade”
Irving Langmuir
RESUMO
Micro plumas de plasma foram geradas através de um arranjo com uma agulha cirúrgica, um
anel e um capilar através de uma Descarga por Barreira Dielétrica (DBD). A luz gerada foi
coletada por uma lente e enviada por meio de uma fibra óptica a uma fotomultiplicadora para
estudo da emissão espectral integrada. Um espectrômetro foi também usado para analisar as
linhas espectrais. A análise da luz integrada mostrou uma emissão contínua de luz sobrepostas
a um pico relacionada a projéteis de plasma (“bullets”) emitidas a partir da ponta da agulha.
Esta emissão integrada em um semi-ciclo da tensão aplicada mostrou uma intensidade mais
elevada em semi-ciclos positivos. Nas descargas com argônio foram observadas linhas do ArI
e ArII. Ao longo da pluma de plasma a linha do 727,52 nm do ArI se extinguem à medida que
há um aumento progressivo da intensidade da linha 337,64 nm do ArII. Essas medições
fornecem um comprimento para a pluma de 11 ± 1 mm. A análise da potência foi efetuada
através da corrente em um resistor em série com a descarga. A potência média varia
proporcionalmente ao fluxo do gás e diminui para fluxo muito elevado. Tem um valor
máximo de 0,92 ± 0,02 W e mínimo de 0,72 ± 0,03 W. Ao aplicar a pluma de plasma em uma
superfície de polietileno de alta densidade, houve uma alteração da energia superficial do
material, tornando a superfície hidrofílica. A maior alteração do ângulo de contato foi com a
menor potência onde reduziu de 87° ± 11° para 33° ± 5°.
PALAVRAS-CHAVE: Plasma. Descarga atmosférica. Potência. Luminosidade integrada.
ABSTRACT
Plasma micro plumes were generated by an experimental arrangement constituted by a
surgical needle, a ring and a dielectric tube by a dielectric barrier discharge (DBD). The
emitted light was collected with an optical fiber and sent to a photomultiplier to study the
integrated luminosity. It was also used a spectrometer to analyze the spectral lines. Analyzing
the integrated light emission was possible to see the light peaks related to the plasma bullets
emitted by the needle tip. The integrated light in a half-cycle of the applied voltage was
greater at the positive ones. About the argon discharges it was observed lines of ArI and ArII.
Over the plasma plume the line of 727.52 nm of ArI was extinguished as long as the line of
337.64 nm of ArII was raising its luminosity. Those measurements gave us the length of 11 ±
1 mm of the plasma plume. The power was acquired by measuring the current at a resistor
connected in series with the plasma. The average power changes according with the flux of
the gas, the power drops as long as the flux raises. Its maximum and minimum is 0,92 ± 0,02
W and 0,72 ± 0,03 W, respectively. After applying the plasma plume at a high-density
polyethylene surface, it was observed an alteration of its surface energy, it has become
hydrophilic. The greater change of the contact angle happened with the lowest power, which
reduce from 87° ± 11° to 33° ± 5°.
KEYWORDS: Plasma. Atmospheric discharge. Power. Integrated luminosity.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Quasineutralidade de plasma.................................................................................. 12
Figura 2 – Esquemas básicos de confinamento de plasma ...................................................... 13
Figura 3 – Comparação entre jatos DFE, DBD, DBD-like e SE ............................................. 15
Fotografia 1 – Controlador do fluxo de gás ............................................................................ 17
Fotografia 2 – Equipamentos utilizados para o controle da descarga elétrica......................... 18
Figura 4 – Resposta espectral da fotomultiplicadora............................................................... 19
Figura 5 – Diagrama da montagem experimental ................................................................... 19
Fotografia 3 – Jato de plasma produzido ................................................................................. 20
Figura 6 – Curvas de transmissão dos filtros de banda utilizados ........................................... 21
Figura 7 – Comparação entre o sinal obtido sem filtro e com o filtro verde ........................... 22
Figura 8 – Gráfico Potência x Fluxo ....................................................................................... 23
Figura 9 – Gráfico comparativo entre a luminosidade nos meio ciclos e a potência .............. 24
Figura 10 – Espectro da pluma de plasma obtida .................................................................... 24
Figura 11 – Gráfico da evolução da linha espectral de ArII em 337,64 nm ............................ 25
Figura 12 – Gráfico da evolução da linha espectral de ArI em 727,52 nm ............................. 26
Figura 13 – Mudança do ângulo de contato de polietileno após tratamento com o plasma .... 27
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11
2 PLASMA E SUAS APLICAÇÕES ........................................................................... 12
2.1 APLICAÇÕES DA FÍSICA DE PLASMAS ................................................................ 13
2.1.1 Fusão termonuclear controlada ................................................................................ 13
2.1.2 Gerador magnetoidrodinâmico e plasma de propulsão .......................................... 14
2.1.3 Jatos de plasma..................................................................................................... ....... 14
3 ESPECTROSCOPIA DE PLASMA .......................................................................... 16
4 ARRANJO EXPERIMENTAL E METODOLOGIA ............................................. 17
4.1 CONTROLE DA PLUMA DE PLASMA .................................................................... 17
4.2 MEDIÇÃO DA PLUMA DE PLASMA ....................................................................... 18
4.3 METODOLOGIA ......................................................................................................... 20
5 RESULTADOS E ANÁLISE ..................................................................................... 22
5.1 ALTERAÇÃO DE MOLHABILIDADE DE POLIETILENO DE ALTA DENSIDADE
........ ............................................................................................................................... 26
6 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 28
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 29
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ............................................................................ 30
11
1 INTRODUÇÃO
O plasma é um gás ionizado que expressa propriedades coletivas. Um tipo de plasma é
o de baixa temperatura. Este é parcialmente ionizado e usado no tratamento e modificação de
propriedades físicas de superfícies. Toda indústria da microeletrônica utiliza estes gases
ionizados na produção de componentes semicondutores por métodos de deposição e remoção
de materiais em escala nanométrica. Nestes aplicativos usam-se gases em pressão baixa, na
região do ultra vácuo. Ganhou impulso na última década o uso de plasmas não-térmicos
gerados em pressão atmosférica. A pressão elevada naturalmente dispensa o sistema de vácuo
que leva a uma redução no custo de um equipamento e simplifica sua operação. Esta
tecnologia vem sido utilizada com sucesso na área de superfícies e materiais, e também para
tratamento de peles, feridas e desinfecção (Bruggeman, 2013).
Uma forma de produzir plasmas não térmicos em pressão atmosférica é por descarga
entre pequenos eletrodos. São chamadas de micro descargas e assim classificadas se uma de
suas dimensões for menor que alguns milímetros. Os micro plasmas produzidos tem
temperatura eletrônica mais elevada que em dispositivos semelhantes maiores. Sua densidade
de potência é também maior e, portanto, muito adequados para produzir espécies reativas para
tratamento de materiais (HONG, 2013). Com um eletrodo no interior de um capilar de vidro e
um eletrodo cilíndrico envolvendo o capilar pode-se gerar a ruptura dielétrica entre os
eletrodos. Este tipo de descarga tem a denominação ‘dielectric barrier discharge (DBD)’. Com
um gás fluindo axialmente desenvolve-se uma pluma de plasma que se estende ao exterior do
capilar onde interage com a superfície do material em tratamento (SILVA, 2015).
Neste trabalho foi feita a seguinte divisão: no capítulo 2 é explicado brevemente o que é
um plasma e então algumas de suas aplicações mais comuns são apresentadas, onde o maior
foco é dado aos jatos de plasma, devido ao tema do trabalho. O capítulo 3 é dedicado apenas a
espectroscopia de plasma, desta maneira é possível conhecer a técnica de diagnóstico
utilizada. O capítulo 4 se dedica em apresentar quais foram os equipamentos utilizados para
gerar o jato de plasma bem como para controla-lo, além do método utilizado para coletar e
analisar os dados. No capítulo 5 os resultados obtidos são apresentados bem como a análise
dos mesmos.
12
2 PLASMA E SUAS APLICAÇÕES
Segundo Chen (1974) o plasma é “um gás quase neutro de partículas neutras e
carregadas que apresentam um comportamento coletivo”. Quase neutro significa que a soma
das cargas é aproximadamente nula. As partículas interagem via interação coulombiana, ou
seja, o efeito de uma carga ocorre via campo coulombiano e assim afeta todas as partículas da
sua vizinhança. Daí seu caráter coletivo.
Figura 1 - Sistema quase neutro, onde macroscopicamente o número de partículas positivas é
igual ao número de partículas negativas.
Fonte: Reinard Cannon (2016)
O plasma é definido segundo três critérios. O primeiro é o de neutralidade macroscópica
que foi explicado anteriormente. O seu segundo se baseia na distância da blindagem de
Debye, é a distância em que o efeito coulombiano de uma carga é blindado por cargas de sinal
oposto. Como critério, o número de partículas dentro de uma esfera com raio igual à distância
de Debye deve ser elevado (BITTENCOURT, 2004).
Seu terceiro critério se baseia na frequência de plasma. Esta é a frequência natural do
plasma relacionada ao efeito coletivo no qual as partículas oscilam coletivamente com o
intuito de restaurar o equilíbrio macroscópico do plasma após alguma interferência em sua
condição de equilíbrio. Assim o tempo de colisão média de elétrons com partículas neutras
deve ser muito maior que o período da oscilação natural do plasma.
13
2.1. APLICAÇÕES DA FÍSICA DE PLASMAS
O plasma existe de forma natural, como por exemplo, ventos solares, as auroras austrais
e polares e na ionosfera e também podem ser obtidos através de experimentos. Alguns destes
serão explicados nesta seção.
2.1.1. Fusão termonuclear controlada
Este é um plasma considerado quente, ou seja, este é um gás completamente ionizado e
as partículas que o compõe possuem um grande livre caminho médio. A condição para que
haja a ionização completa é que a energia térmica das partículas exceda a energia do íon
(ZOHM, 2005).
Comumente estes plasmas são obtidos através de quatro maneiras, sendo elas: espelhos
magnéticos (sistemas abertos), toroides (sistemas fechados), dispositivos de theta pinch e
laser pulsado (BITTENCOURT, 2004).
Figura 2: Ilustração esquemática mostrando alguns esquemas básicos para o confinamento de
plasma com campos magnéticos. (a) sistema de espelhos magnéticos, (b) tokamak, (c) fusão
de laser pulsado e (d) theta pinch linear.
Fonte: Bittencourt (2004)
14
Nestes sistemas são gerados campos magnéticos com o intuito de confinar o plasma.
Este plasma geralmente é produzido por isótopos de hidrogênio. Na natureza vemos este
fenômeno ocorrer em estrelas.
Pesquisas nesta área se dedicam muito ao controle no confinamento do plasma. Um dos
problemas de mantê-lo é com as perdas de energia causada pela radiação (predominantemente
bremstrahlung elétron-íon) (BITTENCOURT, 2004).
2.1.2 Gerador magnetoidrodinâmico e plasma de propulsão
O gerador possui um funcionamento no qual um plasma passa com uma certa
velocidade por um campo magnético, e através da força de Lorentz os íons deste plasma irão
se mover, gerando assim uma densidade de corrente. Desta maneira temos a conversão da
energia cinética do plasma em energia elétrica (BITTENCOURT, 2004). A vantagem deste
processo vem do fato de não haver a necessidade do ciclo de calor.
A utilização deste gerador propicia a criação de propulsores, os quais precisam além do
campo magnético e também um campo elétrico aplicado. Devido ao plasma ser
macroscopicamente neutro, para que haja a conservação de momento, um campo elétrico
contrário será gerado. Com isto uma aceleração será gerada no sentido oposto ao fluxo do
plasma.
2.1.3 Jatos de plasma
Jatos de plasma vêm sendo amplamente estudados devido ao grande número de
aplicações. Com eles é possível efetuar modificações de superfícies de polímeros, cura de
feridas e também inativação de biomoléculas e bactérias sem a utilização de uma câmara
(WALSH, 2008).
Este tipo de plasma é produzido à pressão atmosférica e possui diversas maneiras de
serem construídas. Uma característica comum é a separação espacial do gás inerte da descarga
do reagente químico que será utilizado para efetuar um possível tratamento (WALSH, 2008).
Segundo LU (2012) há quatro maneiras diferentes de gerar um jato de plasma utilizando
gases nobres (Figura 3). O primeiro são jatos de eletrodo sem dielétrico (DFE) que são
produzidos com radio frequências, que geram arcos antes da condição de operação estável ser
encontrada. Eles possuem uma grande potência o que faz com que sua temperatura seja alta e,
portanto, inadequados para aplicação biomédica, e apropriados para o tratamento de materiais.
15
O segundo tipo de jato é o de descarga de barreira dielétrica (DBD) que consiste basicamente
de dois eletrodos com um ou dois dielétricos entre eles um eletrodo é aterrado e o outro
recebe uma alta tensão. Seu funcionamento pode ser tanto por uma fonte de corrente alternada
ou então por corrente pulsada. Estes jatos geralmente possuem uma baixa temperatura,
permitindo que seja utilizado para aplicações médicas. Além disso não há risco da criação de
arcos devido ao dielétrico. Muito parecido com o DBD há os terceiros jatos que são do tipo
DBD (DBD-like). Eles possuem uma configuração muito parecida com as descargas de
barreira dielétrica, porém há uma diferença no posicionamento dos eletrodos, o que torna
possível a criação de arcos. O quarto são os jatos de um único eletrodo (SE) onde um resistor
e um capacitor são inseridos no sistema para controlar a corrente e a tensão da descarga.
Segundo LU (2012) estes jatos podem ser tocados sem o risco de ocorrer ferimentos, o que os
torna uma boa escolha para aplicações médicas.
Figura 3: Maneiras de se criar jatos de plasma (a) DFE, (b) DBD, (c) DBD-like e (d) SE.
Fonte: LU (2012)
16
3. ESPECTROSCOPIA DE PLASMA
Devido ao plasma emitir radiação eletromagnética uma das técnicas mais utilizadas para
sua caracterização são as de análise do espectro de emissão. Com a análise do espectro é
possível obter informações relacionadas a densidade de elétrons e de íons, grau de ionização,
concentração relativa de espécies constituintes do plasma, bem como suas funções
distribuição de velocidade (KUNZE, 2009). Estas informações também podem ser obtidas ao
combinar técnicas como por absorção radiativa do plasma e também por espalhamento de luz.
A região do espectro de emissão a ser coletada depende do método que será utilizado.
Por exemplo, na região do visível (380 – 750 nm) praticamente não há perda para a atmosfera.
Na região do infravermelho é necessário tomar cuidado com as possíveis absorções de
radiação das moléculas de água e de dióxido de carbono. Se quisermos efetuar uma análise da
região do ultravioleta (abaixo de 200 nm) a coleta do espectro deve ser feita com mais
cuidado, devido ao fato da atmosfera absorver a radiação eletromagnética (KUNZE, 2009).
Os instrumentos espectroscópicos são compostos geralmente de elementos dispersivos
(prismas, grades, cristais e interferômetros), janelas, filtros, espelhos e detectores para captar,
podendo ser: detectores foto emissivos (fotocélulas e fotomultiplicadoras), detectores
semicondutores (fotocondutores e fotoemissores) e detectores de fotoionização (KUNZE,
2009). A escolha do sistema de espectroscópico é regida pelos aspectos que serão estudados,
tais como a região do espectro que será estudada e a resolução desejada das linhas espectrais.
No presente trabalho foram utilizados filtros de absorção para algumas áreas do espectro
visível e uma fotomultiplicadora para se fazer uma análise de baixa resolução do espectro, e
posteriormente uma análise com um espectrômetro acoplado a um sistema externo de lentes
para ser possível verificar as linhas espectrais do plasma, bem como o quão ionizado estava.
17
4. ARRANJO EXPERIMENTAL E METODOLOGIA
Com relação ao equipamento utilizado podemos separá-los em duas partes, os
relacionados a geração da pluma (controle do fluxo de gás e da tensão aplicada) e a outra
relacionada a medição dos parâmetros da pluma.
4.1. CONTROLE DA PLUMA DE PLASMA
Estes equipamentos estão relacionados ao fluxo de gás e ao controle da descarga
elétrica. Para efetuar o controle da vazão de gás utilizamos dois fluxômetros de massa (Horiba
N100) controlados e alimentados pelo xPH-100 Power Hub Basic da Horiba. Na utilização
dele é necessário tomar cuidado com o tipo de gás ao qual o instrumento está calibrado, pois
cada gás possui um fator de conversão particular. Neste trabalho utilizamos somente argônio.
Os gases da calibração escolhidos foram argônio e hélio, pelo fato de seus fatores de
conversão serem muito próximos (1,39 e 1,45 respectivamente) (MKS, 2018).
Fotografia 1 – Controlado do fluxo dos gases.
Fonte: Simplex connect.
18
Com relação à descarga elétrica foi utilizada uma fonte regulada Lab0 FR 25/50. O sinal
é então amplificado pelos transformadores em cascata da Miniplus 6 da GBS Eletronik e a da
tensão elétrica aplicada é feita com a fonte PS-1440 da Voltcraft. Para o controle da
frequência utilizamos o gerador de funções Rigol DG-1012. Na figura abaixo é possível
visualizar a montagem do sistema de alimentação.
Fotografia 2: Mecanismo para o controle da descarga elétrica.
Fonte: Produção do próprio autor.
19
4.2. MEDIÇÃO DA PLUMA DE PLASMA
Para caracterizar a pluma do plasma utilizamos primeiramente a fotomultiplicadora
Hamamatsu R374 devido a boa resposta na região do ultravioleta visível.
.
Figura 4 – Resposta espectral da fotomultiplicadora.
Fonte: Hamamatsu (1999)
O sinal da fotomultiplicadora (CH3) é enviado para o osciloscópio TDS 2024B da
Tektronix, juntamente com o sinal coletado do divisor de tensão (CH2) e do sinal proveniente
do gerador de funções (CH1).
20
Figura 5: Diagrama da montagem experimental para a coleta de luz.
Fonte: Produção do próprio autor.
4.3. METODOLOGIA
Em uma primeira etapa foram feitas as medições com a utilização de filtros de banda e
da fotomultiplicadora. A vazão de argônio foi sendo alterada de 0,20 ± 0,01 L/min até 1,00 ±
0,01 L/min no capilar e na agulha de 0,20 ± 0,01 L/min até 1,00 ± 0,01 L/min (passo de 0,20
L/min), com a tensão aplicada fixa em 4,8 kV pico-a-pico e a frequência em 37 kHz foi
possível gerar uma micropluma de plasma estável. Após isto o cabo óptico foi posicionado de
uma maneira que fosse possível captar toda luz emitida pelo plasma.
21
Fotografia 3 – Jato de plasma produzido no experimento.
Fonte: Produção do próprio autor.
No canal 1 do osciloscópio obtemos o sinal que está gerando o plasma. No canal 2 é
obtida a tensão que passa pelo resistor indicado no diagrama experimental (figura 5). Com ele
foi possível determinar a potência do plasma. O sinal coletado pela fotomultiplicadora foi
enviado para o canal 3.
Primeiramente foram coletados os sinais da fotomultiplicadora sem filtros. Após isto
utilizamos os filtros de absorção nas faixas do verde, azul e vermelho. Assim pudemos fazer
uma espectroscopia de baixa resolução. Os sinais foram integrados no tempo, durante meio-
semi-ciclo da tensão, pelo método do paralelogramo, e com isto foi possível determinar com
qual é a vazão do gás no capilar e na agulha que apresenta maior luminosidade e maior
potência.
22
Figura 6 – Curvas de transmissão dos filtros de banda utilizados.
Fonte: Edmund optics (2018)
Após esta etapa, fixamos o fluxo de argônio que gerou o jato de plasma com a maior
luminosidade e passamos a utilizar o espectrômetro. Ao acoplar a fibra óptica do aparelho a
um sistema de lentes montado no próprio laboratório pudemos focar pontos específicos do
jato e com isto “varremos” toda a extensão da micro pluma, desde o ponto em que era gerada
até o ponto no qual não era possível detectar mais nenhum sinal; assim conseguimos observar
a região de maior ionização.
23
5. RESULTADOS E ANÁLISE
No sinal da fotomultiplicadora foi possível observar uma série de picos, com maior
predominância nos meio ciclos positivos da tensão aplicada (figura 7a). Mesmo com a
fotomultiplicadora com a máxima sensibilidade a luz, foi possível apenas coletar dados
quando não havia filtro e também com o filtro vermelho. Ao utilizar o filtro azul ou o verde
nenhum sinal foi captado (figura 7b).
Figura 7 – (a) é um sinal típico coletado pelo osciloscópio sem filtro e (b) coletado com o uso
do filtro verde, o canal 3 (CH3) é o sinal do que foi obtido com a fotomultiplicadora.
Fonte: Produção do próprio autor.
Ao efetuar a integração numérica dos dados referentes da luminosidade foi verificado
que há uma maior intensidade luminosa nos meio ciclos positivos, isso implica em
24
possuirmos uma maior ionização no argônio nestes intervalos. Este fenômeno é devido ao fato
de haver uma deposição de elétrons na parede do dielétrico que acaba reduzindo a corrente de
descarga nos meio ciclos negativos subsequentes aos positivos.
Antes da utilização do espectrômetro foi feita uma análise da potência com relação ao
fluxo de argônio, bem como uma relação com a luminosidade, com base na queda de tensão
no resistor e da frequência aplicada (figura 8).
Para a obtenção da potência utilizamos:
Onde T é o período, v é a tensão aplicada, é a tensão no resistor R, i = R/ é a
corrente e t é o tempo, v >> , v é da ordem de kV e de V (figura 7).
Figura 8 – Relação da potência com relação ao fluxo total de argônio.
Fonte: Produção do próprio autor.
Ao comparar a luminosidade integrada com a potência, é possível observar que a
luminosidade integrada cresce juntamente com o crescimento da potência, até alcançarem
seus máximos por volta do fluxo de 1,20 ± 0,01 L/min, após isto ambas grandezas diminuem,
conforme pode ser observado na figura 9.
25
Figura 9 – Comparativo entre o comportamento da luminosidade integrada nos meio ciclos
positivos e negativos com a potência (as unidades na ordenada são arbitrárias).
Fonte: Produção do próprio autor.
No momento em que o espectrômetro foi utilizado para fazermos um estudo sobre a
evolução das linhas espectrais foi possível descobrir o motivo de não termos coletado sinal
algum ao utilizarmos o filtro verde ou o azul.
Figura 10 – Espectro de emissão do jato de plasma com a região do espectro visível separada.
Fonte: Produção do próprio autor.
26
Há uma elevada intensidade de linhas de ArI (átomo de argônio não ionizado) na faixa
do vermelho. As linhas presentes na região do ultravioleta são correspondentes a ArII
(argônio ionizado uma vez) que são correspondentes a uma faixa na qual a fotomultiplicadora
não possui uma boa sensibilidade.
Ao analisar os dados coletados do espectrômetro, varrendo a coleta da luz desde o fim
do capilar até a posição na qual o espectrômetro não conseguia coletar mais nenhuma
informação, verificamos que a evolução das linhas espectrais da primeira ionização apresenta
o mesmo comportamento. Desta forma foi constatado que a região onde há maior ionização é
de 6,0 a 6,6 mm após o fim do capilar. Portanto ao se tratar um substrato esta é a região de
maior interesse.
Figura 11 – Evolução da linha espectral de 337,64 nm do ArII. A distância do eixo horizontal
tem como 0 o fim do capilar, e seu crescimento é no sentido da ponta da pluma do plasma
(ver figura 5).
Fonte: Produção do próprio autor.
27
Figura 12 – Evolução da linha espectral de 727,52 nm do ArI. A distância do eixo horizontal
tem como 0 o fim do capilar, e seu crescimento é no sentido da ponta da pluma do plasma
(ver figura 5).
Fonte: Produção do próprio autor.
5.1. ALTERAÇÃO DE MOLHABILIDADE DE POLIETILENO DE ALTA DENSIDADE.
Com o intuito de verificar como a potência do jato de plasma produzido neste trabalho
modificaria a uma superfície com diferentes potências foi decidido efetuar o tratamento de
polietileno de alta densidade.
Os parâmetros escolhidos foram de acordo com os dados da figura 8, onde para verificar
o comportamento com a menor potência foi escolhido o fluxo de 0,60 ± 0,01 L/min, 2,00
L/min para potência intermediária e 1,20 ± 0,01 L/min para a maior potência.
Foi possível observar que quanto maior a potência menor foi a alteração do ângulo de
contato da superfície, as alterações médias foram: 28º ±7º para 1,20 ± 0,01 L/min, 41º ± 10º
para 2,00 ± 0,01 L/min e 54º ± 8º para 0,60 ± 0,01 L/min. Todas as amostras ficaram
expostas à pluma de plasma por 10 segundos.
28
Figura 13 – Alteração do ângulo de contato do jato de plasma com 1,20 ± 0,01 L/min, cima
(antes do tratamento), baixo (após o tratamento).
Fonte: Produção do próprio autor.
29
6. CONCLUSÃO
Ao analisar a potência do jato de plasma foi possível verificar que o fluxo que
apresenta a maior potência é entre 1,00 ± 0,01 L/min e 1,20 ± 0,01 L/min, consequentemente
é o fluxo que apresenta maior ionização. Após este ponto ser atingido a potência passa a
diminuir (figura 8). Com este parâmetro definido é possível obter maior eficiência do gás
utilizado. Além disso, é um indicador de que é necessário aumentar a energia inserida no
sistema para que se possua maior ionização do gás, pois a queda na luminosidade a partir do
ponto de maior potência indica que há mais gás sendo injetado do que é possível ser ionizado
com a energia dada (figura 9).
Com a análise da luminosidade, verificamos que entre 6,0 ± 0,2 mm e 6,6 ± 0,2 mm de
distância do fim do capilar possuímos as linhas de ArII com maior intensidade, após este
ponto a começam a diminuir, até que que da distância de 11,0 ± 0,2 mm não há mais linhas de
ArII indicando que não há mais ionização do gás.
Na aplicação do jato de plasma para o tratamento de uma superfície de polietileno de
alta densidade foi observado que houve uma redução de seu ângulo de contato, ou seja, a
superfície tornou-se hidrofílica. O efeito é dependente da potência do gás, foi observado que
quão menor a potência, maior é a alteração do ângulo, neste caso a maior mudança do ângulo
de contato foi com a menor potência, onde a redução foi de 87° ± 11° para 33° ± 5° com o
fluxo de 0,60 ± 0,01 L/min. A maior potência, em 1,20 ± 0,01 L/min apresentou uma redução
de 69° ± 7° para 41° ± 10°.
O trabalho aqui apresentado se mostra necessário a ser realizado de modo preliminar
ao tratamento de superfícies via jatos de plasma, pois ao analisar a influência do fluxo na
potência do jato, bem como a evolução das linhas espectrais é possível efetuar tratamentos de
maneira mais eficiente e também poder prever possíveis resultados. Por exemplo, a micro
pluma de plasma estudada neste trabalho não possui uma potência elevada (0,92 ± 0,02 W
sendo o máximo da potência), ou seja, não seria possível efetuar um tratamento de uma
superfície polimérica com o intuito de degradar as ligações moleculares, porém é possível
efetuar a deposição de algum elemento, ou então alterar as propriedades físicas de sua
superfície.
30
REFERÊNCIAS
BITTENCOURT, A. J. Fundamentals of plasma physics. Nova Iorque: Ed. Springer, 2004.
679 p.
BRUGGEMAN, P; BRANDENBURG, R. Atmospheric pressure discharge filaments and
microplasmas: physics, chemistry and diagnostics. Journal of physics D: Applied Physics,
Londres, 2013.
CHEN, F. F. Introduction to plasma physics and controlled fusion. New York; London:
Plenum Press, 1990. 421 p.
EDMUND – EDMUND OPTICS. Mounted color filters. Disponível em:
. Acesso em: 10 nov.
2018.
HAMAMATSU. Fotomultiplier tube R374. Disponível em:
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