UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CURSO DE PÓS – GRADUAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM GEOLOGIA REGIONAL ANÁLISE DA SEDIMENTAÇÃO CRETÁCEA NO TRIÂNGULO MINEIRO E SUA CORRELAÇÃO COM ÁREAS ADJACENTES Alessandro Batezelli RIO CLARO (SP) 2003 UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA IGCE - INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS E CIÊNCIAS EXATAS “Campus de Rio Claro” ANÁLISE DA SEDIMENTAÇÃO CRETÁCEA NO TRIÂNGULO MINEIRO E SUA CORRELAÇÃO COM ÁREAS ADJACENTES Alessandro Batezelli Orientador: Prof. Dr. José Alexandre de Jesus Perinotto Tese de Doutoramento elaborada junto ao curso de Pós-Graduação em Geociências Área de concentração: Geologia Regional, para a obtenção do título de Doutor em Geologia. Rio Claro/2003 Comissão Examinadora __________________________________________ Prof. Dr. José Alexandre de Jesus Perinotto – UNESP/UnG __________________________________________ Prof. Dr. Mario Lincoln de Carlos Etchebehere - UnG __________________________________________ Prof. Dr. Luiz Alberto Fernandes - UFPR __________________________________________ Prof. Dr. Joel Carneiro de Castro - UNESP __________________________________________ Prof. Dr. Antonio Roberto Saad – UNESP/UnG ______________________________________ - Alessandro Batezelli - Rio Claro, 08 de Maio de 2003 Resultado: Aprovado à minha querida esposa Maria Carolina. Pensar para aceitar. Calar para resistir. Agir para vencer. (Renato Kehl). AGRADECIMENTOS Meus sinceros agradecimentos: Ao professor Dr. José Alexandre de J. Perinotto pela orientação durante o desenvolvimento do projeto. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP que financiou minha bolsa de estudos, bem como forneceu suporte técnico para os trabalhos de campo e gabinete. À Companhia de Saneamento de Minas Gerais - COPASA (Belo Horizonte – MG), na pessoa do Dr. Sérgio Alvarenga, por fornecer dados de poços tubulares profundos de todo o Triângulo Mineiro. À Sondamar – Poços Artesianos (Piracicaba – SP), Constroli – Poços Artesianos e Saneamento (Garça – SP), Geoplan – Sistemas de Águas e Efluentes (Sorocaba – SP), CPRM (Belo Horizonte – MG) e Arroz Dolar (Ituiutaba – MG) pelos perfis de poços tubulares profundos. À Geosol (Belo Horizonte – MG), Militino Poços Artesianos (Uberlândia – MG), Hidrovida Poços Artesianos Ltda. (Uberlândia – MG), Água Pura Poços Artesianos (Uberlândia – MG), Hidro Campos Poços Artesianos Ltda. (Uberlândia – MG), Hidrogesp (São Paulo - SP), ENGEP – Engenharia, Geologia e Perfurações (Uberlândia – MG), Hidrohorizonte Ltda. (Belo Horizonte – MG) pelas informações de sub-superfície do Triângulo Mineiro. À Lafarge – Fábrica de Cimento Ponte Alta (MG), na pessoa do Sr. Evilmar Gonçalves, por disponibilizar dados de testemunhos de sondagem. Às bibliotecas da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e Serviço Geológico do Brasil (CPRM – Belo Horizonte – MG), pelas referências bibliográficas da área de estudo. Aos professores doutores Newton Souza Gomes (UFOP), Joel Carneiro de Castro (UNESP) e Antenor Zanardo (UNESP), pela grande ajuda com as análises petrográficas. Aos professores doutores Mario Lincoln de Carlos Etchebehere (UnG) e Joel Carneiro de Castro (UNESP) pelas críticas e sugestões no texto final. Ao Geólogo Luiz Carlos B. Ribeiro do Centro de Pesquisas Paleontológicas LLEWELLY IVOR PRICE de Peirópolis, pelas informações paleontológicas e geológicas da região de Uberaba (MG). À Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente de Uberaba, na pessoa do Engenheiro Gilberto Facury Dib, por fornecer gentilmente os mapas do município. À professora Dra. Márcia Ernesto pelas análises paleomagnéticas. Aos professores doutores Paulo Milton Barbosa Landim e Vicente José Fulfaro coordenadores do projeto: “A Bacia Bauru no Triângulo Mineiro – MG: Análise de Bacia como Proposta de uma nova Estratégia Exploratória para Recursos Minerais e Hídricos”. À amiga geóloga Alessandra Cristina Corsi pelo trabalho em equipe. À Darlene de Cássia Armbrust pelo auxílio nas questões de informática. À minha querida esposa Maria Carolina, por seu amor e companheirismo. Por fim, mas não menos importante, um especial agradecimento ao amigo e co- orientador professor Dr. Antonio Roberto Saad, que em nenhum momento mediu esforços para me auxiliar nos trabalhos de campo, gabinete e na confecção dessa tese. Agradeço também pelas críticas e sugestões, sem as quais a realização desse trabalho teria sido bem mais árdua. Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. i ÍNDICE Resumo___________________________________________________________________________v Abstract__________________________________________________________________________vi I – INTRODUÇÃO _________________________________________________________________ 1 II – LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO___________________________________________ 2 III – ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS ______________________________________________ 3 IV – JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS _______________________________________________ 8 V – MATERIAIS E MÉTODOS DE TRABALHO ________________________________________ 9 VI – A BACIA BAURU_____________________________________________________________ 11 VI.1 - Considerações Gerais _____________________________________________________________ 11 VI.2 – Estratigrafia da Bacia Bauru_______________________________________________________ 12 VII – EVOLUÇÃO DOS CONHECIMENTOS GEOLÓGICOS DA REGIÃO DO TRIÂNGULO MINEIRO (MG) __________________________________________________________________ 16 VIII – O GRUPO BAURU NO TRIÂNGULO MINEIRO _________________________________ 31 VIII.1 – Descrição das unidades litoestratigráficas do Grupo Bauru no Triângulo Mineiro _________ 32 VIII.1.1 - Formação Uberaba ____________________________________________________________________32 VIII.1.2 - Formação Adamantina _________________________________________________________________36 VIII.1.3 - Formação Marília _____________________________________________________________________38 VIII.2 – Geologia estrutural e evolução tectônica do Triângulo Mineiro _________________________ 43 IX – ANÁLISE ESTRATIGRÁFICA REGIONAL _______________________________________ 53 IX.1 – Petrografia e evolução diagenética __________________________________________________ 53 IX.1.1 – Aspectos texturais ______________________________________________________________________54 IX.1.2 – Descrição dos minerais do arcabouço ______________________________________________________54 XI.1.3 – Considerações sobre a área fonte __________________________________________________________58 XI.1.4 – Considerações sobre as condições paleodeposicionais _________________________________________58 XI.1.5 – Evolução Diagenética ___________________________________________________________________58 IX.2 – Paleontologia ____________________________________________________________________ 69 IX.3 – Paleomagnetismo ________________________________________________________________ 70 IX.4 – Análise de fácies _________________________________________________________________ 72 IX.4.1 – Considerações Gerais ___________________________________________________________________72 IX.4.2 – Fácies do Grupo Bauru na área de estudo ___________________________________________________74 F______________________________________________________________________________________75 CONJUNTO DE FÁCIES CONGLOMERADO (C) _______________________________________________76 Fácies Conglomerado Maciço (Cm) __________________________________________________________77 Fácies Conglomerado com Estratificação Cruzada Acanalada (Cea) _________________________________77 Fácies Conglomerado com Estratificação Cruzada Tabular (Cetg)___________________________________80 CONJUNTO DE FÁCIES ARENITO (A) _______________________________________________________82 Fácies Arenito Maciço (Am) ________________________________________________________________82 Fácies Arenito com Estratificação Cruzada Acanalada (Aea) _______________________________________84 Fácies Arenito com Estratificação Cruzada Tabular (Aet) _________________________________________89 Fácies Arenito com Estratificação Sub-Horizontal (Aeh) __________________________________________92 Fácies Arenito com Laminação Plano-Paralela (Alp) _____________________________________________92 Fácies Arenito com Marcas Onduladas (Ao)____________________________________________________94 Fácies Arenito Granodecrescente Ascendente (Ar)_______________________________________________97 CONJUNTO DE FÁCIES FINOS (F) __________________________________________________________97 Fácies Argilito Maciço (Fm) ________________________________________________________________98 Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. ii Fácies Lamito Maciço com Lentes de Arenito (Fma) ____________________________________________100 Fácies Siltito (Fs)________________________________________________________________________100 CONJUNTO DE FÁCIES CALCÁRIO (L) _____________________________________________________101 Fácies Calcário Maciço (Lm) ______________________________________________________________101 IX.5 – Elementos Arquitetônicos, Macroformas e Superfícies Hierárquicas _____________________ 104 IX.6 – Elementos Arquitetônicos, Macroformas e Superfícies Hierárquicas do Grupo Bauru no Triângulo Mineiro e adjacências ________________________________________________________ 109 IX.7 – Ambientes de Sedimentação e Sistemas deposicionais do Grupo Bauru___________________ 118 X – ANÁLISE DE BACIA _________________________________________________________ 127 X.1 – Correlação Estratigráfica _________________________________________________________ 127 X.2 – Reconstrução Paleogeográfica da Porção Nordeste da Bacia Bauru_______________________ 146 XI – EVOLUÇÃO TECTONOSSEDIMENTAR DA BORDA NORTE E NORDESTE DA BACIA BAURU ________________________________________________________________________ 154 XII – RECURSOS HÍDRICOS E POTENCIALIDADE ECONÔMICA DA ÁREA DE ESTUDO 157 XIII – CONCLUSÕES ____________________________________________________________ 160 XIV – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS __________________________________________ 164 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 – Mapa de localização da área de estudo. _______________________________________________________2 Figura 2 - Mapa das unidades litoestratigráficas do Triângulo Mineiro. _____________________________________4 Figura 3 – Mapa geomorfológico da região do Triângulo Mineiro (SIQUEIRA & ROSA 1998). _________________5 Figura 4 – Mapa de lineamentos de drenagem do Triângulo Mineiro. _______________________________________7 Figura 5 – Mapa de distribuição das unidades que compõem o Grupo Bauru. _______________________________11 Figura 6 – Coluna litoestratigráfica das unidades do Grupo Bauru nas diferentes áreas de ocorrência (SOARES et al., 1980 - Modificado)._____________________________________________________________________________16 Figura 7 – Coluna litoestratigráfica do Grupo Bauru no Triângulo Mineiro (BARCELOS & SUGUIO, 1987 - Modificado). _____________________________________________________________________________________31 Figura 8 - Diagrama de McBRIDE (1963)._____________________________________________________________33 Figura 9 – Foto do conglomerado basal do Membro Serra da Galga (Formação Marília), ponto 87 (APÊNDICE 1) – Antiga pedreira Caieira em Peirópolis. _______________________________________________________________35 Figura 10 – Afloramento expondo feições acanaladas do Membro Serra da Galga (Formação Marília), ponto 38 (APÊNDICE 1) – BR-262 a 4 km de Peirópolis em direção a Araxá (MG). __________________________________35 Figura 11 – Afloramento expondo arenito fino com estratificação cruzada de alto angulo. Ponto 18 (APÊNDICE 1) – Estrada não pavimentada Honorópolis – Gurinhatã a 11 km do Bairro do Grama em direção a Gurinhatã. ______36 Figura 12 – Afloramento expondo siltitos avermelhados da Formação Adamantina. Ponto 21 (APÊNDICE 1) – Estrada não pavimentada Honorópolis – Gurinhatã, a 17 km do Bairro do Grama em direção a Gurinhatã.______37 Figura 13 – Afloramento expondo argilito maciço com lentes de arenito na base e arenito muito fino a fino com estratificação plano-paralela no topo. Ponto de interdigitação entre as formações Uberaba e Adamantina. Ponto 79 (APÊNDICE 1) – Estrada não pavimentada Veríssimo - Patrimônio do Rio do Peixe, a 11 km de Patrimônio._____38 Figura 14 – Afloramento expondo 2 grandes lentes de arenito médio a grosso, maciço, cimentado por CaCO3. Ponto 100 (APÊNDICE 1) – Entrada de Comendador Gomes (MG). ____________________________________________39 Figura 15 – Foto da camada de calcário explorado como matéria prima para fabricação de cimento Portland. Ponto 88 (APÊNDICE 1) – Pedreira Ponte Alta (MG). ________________________________________________________39 Figura 16 – Foto panorâmica mostrando relevo de chapadas na área de ocorrência do Membro Serra da Galga (Formação Marília). Ponto 68 (APÊNDICE 1). Estrada não pavimentada que liga a BR-050 ao distrito de Palestina, a 3 km da BR-050._________________________________________________________________________________41 Figura 17 – Implantação de processos erosivos em solo arenoso do Membro Serra da Galga (Formação Marília). Ponto 66 (APÊNDICE 1) – Estrada não pavimentada que liga o distrito de Mangabeira (MG) à BR-050 na altura do posto Tijuco, entre Uberaba (MG) e Uberlândia (MG). __________________________________________________42 Figura 18 – Vista panorâmica do relevo em chapadas (Membro Echaporã - Formação Marília). Estrada não pavimentada Grama – Honorópolis, a 3 km do Bairro do Grama. _________________________________________42 Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. iii Figura 19 – Mapa estrutural do oeste de Minas Gerais, segundo HASUI & HARALYI (1991), Mod. ____________44 Figura 20 – Limite do Cráton do Paramirim definido com base em dados gravimétricos. (DAVINO, 1979 - Modificado). _____________________________________________________________________________________45 Figura 21 – Esboço Geológico - Tectônico do sudoeste de Minas Gerais (ALMEIDA et al., 1980). _______________47 Figura 22 – Megaestruturação do Território Brasileiro (HASUI et al., 1993). ________________________________48 Figura 23 – Seções gravimétricas de Minas Gerais e modelo Crustal para as anomalias de tipo 1 (HASUI et al., 1993). ________________________________________________________________________________________________49 Figura 24 – Compartimentação estrutural do Triângulo Mineiro. _________________________________________52 Figura 25 – Coluna Cronoestratigráfica do Grupo Bauru no Triângulo Mineiro (MG). _______________________72 Figura 26 – Principais elementos arquitetônicos (MIALL, 1985) _________________________________________105 Figura 27 – Hierarquia dos elementos. Notar posicionamento dos canais e dos complexos de barras com canais (MIALL, 1985).__________________________________________________________________________________106 Figura 28 – Superfícies hierárquicas em depósitos fluviais (FERREIRA Jr., 1996 – Modificado). ______________108 Figura 29 – Mapa de Paleocorrentes do Grupo Bauru no Triângulo Mineiro e áreas adjacentes._______________111 Figura 30 – Visão em planta e perfil longitudinal idealizado de um sistema de leque aluvial. Arenito cambriano, Van Horn (GALLOWAY & HOBDAY, 1983 - Modificado)._________________________________________________119 Figura 31 – Diminuição do tamanho dos clastos de um leque, acompanhando a redução do gradiente (GALLOWAY & HOBDAY, 1983). ______________________________________________________________________________119 Figura 32 – Relação entre formas de leito e estruturas sedimentares. A dunas linguóides e estratificações cruzadas acanaladas. B “ondas de areia” e estratificações cruzadas tabulares (HARMS et al., 1975, Apud MIALL, 1984) __121 Figura 33 – Interpretação Hidráulica da Seqüência Turbidítica de Bouma (WALKER, 1978). ________________125 Figura 34 – Seção estratigráfica de superfície Itajá (GO) – Pedregulho (SP). _______________________________129 Figura 35 – Seção estratigráfica de superfície Paranaíba (MS) – Trevão (MG). _____________________________130 Figura 36 – Seção estratigráfica de superfície Paranaíba (MS) – Canápolis (MG). ___________________________131 Figura 37 – Seção estratigráfica de superfície Santa Rosa (MG) – Peirópolis (MG).__________________________132 Figura 38 – Seção estratigráfica de superfície Ponte Alta (MG) – Serra do Marimbondo (MG).________________133 Figura 39 – Seção estratigráfica de superfície Quirinópolis (GO) – Prata (MG)._____________________________134 Figura 40 – Seção estratigráfica de superfície Quirinópolis (GO) – Cassilândia (MS). ________________________135 Figura 41 – Seção estratigráfica de sub-superfície Canápolis (MG) – Carneirinho (MG). _____________________136 Figura 42 – Seção estratigráfica de sub-superfície Prata (MG) – Limeira D’Oeste. __________________________137 Figura 43 – Seção estratigráfica de sub-superfície Ponte Alta (MG) – Carneirinho (MG)._____________________138 Figura 44 – Seção estratigráfica de sub-superfície Ponte Alta (MG) – Santa Vitória (MG).____________________139 Figura 45 – Diagrama estratigráfico Gurinhatã (MG) – Prata (MG).______________________________________140 Figura 46 – Diagrama estratigráfico Quirinópolis (GO) – Serra do Marimbondo (MG). ______________________141 Figura 47 – Diagrama estratigráfico Canápolis (MG) – Serra do Marimbondo (MG).________________________142 Figura 48 – Diagrama estratigráfico Ponte Alta (MG) – Pedreira Partesan (MG). ___________________________143 Figura 49 – Mapa de isópacas do Grupo Bauru no Triângulo Mineiro e áreas Adjacentes. ____________________147 Figura 50 – Mapa de isoporcentagem de fácies finas (Associação de fácies I) do Grupo Bauru no Triângulo Mineiro e áreas Adjacentes. ________________________________________________________________________________148 Figura 51 – Mapa de isólitas da Formação Serra Geral no Triângulo Mineiro e áreas Adjacentes. _____________149 Figura 52 – Mapa de Contorno Estrutural do Topo da Formação Serra Geral no Triângulo Mineiro e áreas Adjacentes. _____________________________________________________________________________________150 Figura 53 – Mapa de distribuição paleogeográfica dos ambientes que deram origem às unidades do Grupo Bauru. _______________________________________________________________________________________________153 Figura 54 – Modelo esquemático mostrando a evolução tectonoestratigráfica porção NE da Bacia Bauru.. ______156 ÍNDICE DE FOTOMICROGRAFIAS Fotomicrografia 01_________________________________________________________________________________55 Fotomicrografia 02_________________________________________________________________________________55 Fotomicrografia 03_________________________________________________________________________________55 Fotomicrografia 04_________________________________________________________________________________55 Fotomicrografia 05_________________________________________________________________________________56 Fotomicrografia 06_________________________________________________________________________________56 Fotomicrografia 07_________________________________________________________________________________56 Fotomicrografia 08_________________________________________________________________________________56 Fotomicrografia 09_________________________________________________________________________________57 Fotomicrografia 10_________________________________________________________________________________57 Fotomicrografia 11_________________________________________________________________________________57 Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. iv Fotomicrografia 12_________________________________________________________________________________57 Fotomicrografia 13_________________________________________________________________________________60 Fotomicrografia 14_________________________________________________________________________________60 Fotomicrografia 15_________________________________________________________________________________60 Fotomicrografia 16_________________________________________________________________________________60 Fotomicrografia 17_________________________________________________________________________________61 Fotomicrografia 18_________________________________________________________________________________61 Fotomicrografia 19_________________________________________________________________________________61 Fotomicrografia 20_________________________________________________________________________________61 Fotomicrografia 21_________________________________________________________________________________62 Fotomicrografia 22_________________________________________________________________________________62 Fotomicrografia 23_________________________________________________________________________________62 Fotomicrografia 24_________________________________________________________________________________62 Fotomicrografia 25_________________________________________________________________________________64 Fotomicrografia 26_________________________________________________________________________________64 Fotomicrografia 27_________________________________________________________________________________64 Fotomicrografia 28_________________________________________________________________________________64 Fotomicrografia 29_________________________________________________________________________________65 Fotomicrografia 30_________________________________________________________________________________65 Fotomicrografia 31_________________________________________________________________________________65 Fotomicrografia 32_________________________________________________________________________________65 Fotomicrografia 33_________________________________________________________________________________66 Fotomicrografia 34_________________________________________________________________________________66 Fotomicrografia 35_________________________________________________________________________________66 Fotomicrografia 36_________________________________________________________________________________66 ÍNDICE DE PRANCHAS Prancha 1 ________________________________________________________________________________________78 Prancha 2 ________________________________________________________________________________________79 Prancha 3 ________________________________________________________________________________________81 Prancha 4 ________________________________________________________________________________________83 Prancha 5 ________________________________________________________________________________________85 Prancha 6 ________________________________________________________________________________________86 Prancha 7 ________________________________________________________________________________________87 Prancha 8 ________________________________________________________________________________________90 Prancha 9 ________________________________________________________________________________________91 Prancha 10 _______________________________________________________________________________________93 Prancha 11 _______________________________________________________________________________________95 Prancha 12 _______________________________________________________________________________________96 Prancha 13 _______________________________________________________________________________________99 Prancha 14 ______________________________________________________________________________________102 Prancha 15 ______________________________________________________________________________________103 ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1 – Área ocupada pelas diferentes categorias geomorfológicas (SIQUEIRA & ROSA 1998). _________________6 Quadro 2 – Evolução diagenética das rochas do Grupo Bauru no Triângulo Mineiro (CHOQUETE & PRAY, 1970, Mod.). ________________________________________________________________________________________________59 Quadro 3 – Código de fácies utilizado no estudo do Grupo Bauru no Triângulo Mineiro e áreas adjacentes. __________75 Quadro 4 – Elementos arquitetônicos em depósitos fluviais (MIALL, 1985). ___________________________________106 Quadro 5 – Principais características e significado das superfícies hierárquicas (MIALL, 1988a) __________________107 Quadro 6 – Síntese das principais características das associações de fácies do Grupo Bauru no Triângulo Mineiro (MG) e áreas adjacentes. _________________________________________________________________________________128 APÊNDICES APÊNDICE 1 – Mapa de localização de pontos e poços descritos APÊNDICE 2 – Seções colunares de afloramentos e poços APÊNDICE 3 – Painéis fotográficos APÊNDICE 4 – Quadro de dados referentes a afloramentos e poços tubulares profundos. Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. v RESUMO A Bacia Bauru, entidade geotectônica gerada durante o Cretáceo Superior na porção sudeste da Placa Sul-americana, tem sido alvo de inúmeras pesquisas desde o final do Século XIX. No Triângulo Mineiro os estudos se concentram principalmente nos arredores de Uberaba, devido às descobertas fossilíferas e de depósitos de calcário, economicamente explorados. A partir de dados recentes de superfície e subsuperfície, foi desenvolvida uma análise de bacia integrada para as unidades do Grupo Bauru na região do Triângulo Mineiro, estendendo-se sua correlação às áreas adjacentes. Essa análise permitiu elaborar um modelo de evolução paleogeográfica constituído por 5 ambientes deposicionais em um trato de sistema aluvial/lacustre. A sedimentação ocorreu a partir de fluxos aluviais advindos principalmente de norte/nordeste, em direção a um nível de base lacustre, hoje balizado pelas cidades de Gurinhatã, Limeira D’Oeste e Prata em Minas Gerais, e que se estendia à porção centro-oeste do estado de São Paulo. Dados petrográficos, paleontológicos e paleomagnéticos indicam que a sedimentação na porção nordeste da Bacia Bauru ocorreu entre 80 e 65 Ma (Campaniano – Maastrichtiano). Cessada a sedimentação cretácea, a região do Triângulo Mineiro passou por um intenso processo de reestruturação tectônica que resultou na formação de várias depressões onde encontram-se preservadas as rochas do Grupo Bauru. Palavras Chaves: Bacia Bauru, Triângulo Mineiro, análise de bacia, trato de sistema aluvial/lacustre, reestruturação tectônica. Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. vi ABSTRACT The Bauru Basin, an Upper Cretaceous sedimentary basin in the southeastern South American Plate, has been studied since the end of 19th Century. In the Triângulo Mineiro region the investigations were concentrated mainly near the city of Uberaba, due to the large fossil and limestone deposits economically explored there. Based on recent surface and subsurface data an integrated basin analysis of the Bauru Group was developed in the Triângulo Mineiro region and extending to the neighbouring areas. This analysis permitted the construction of a paleogeographic evolution model, based on five depositional environments that composed an alluvial/lacustrine systems tract. The alluvial sedimentation entered the basin towards the lacustrine base level (Gurinhatã, Limeira D’Oeste, Prata and western São Paulo region) from the northern/northeastern catchment area (Alto Paranaíba Uplift). Petrographic, paleontological and paleomagnetic data indicate that this depositional process occurred between 80 to 65 My ago (Campanian – Maastrichtian). After cretaceous sedimentation ended, the Triângulo Mineiro region was modified by Tertiary tectonic events, which resulted in the formation of various depressions, where remnants of the Bauru Group are preserved. Keywords: Bauru Basin, Triângulo Mineiro region, alluvial/lacustrine system tract, lacustrine base level, tertiary tectonic events. Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 1 I – INTRODUÇÃO No âmbito da Bacia do Paraná, a região do Triângulo Mineiro (MG) corresponde a uma zona intensamente reestruturada pelas movimentações meso-cenozóicas, onde a unidade supra-basáltica (Grupo Bauru - Ks) encontra-se preservada em depressões com diferentes espessuras. Muitos foram os trabalhos de cunho geológico nessa porção da bacia, porém, em quase sua totalidade restritos a pequenas áreas. Com exceção de poucos trabalhos de caráter regional (como por exemplo HASUI, 1967; BARBOSA et al., 1970 e BARCELOS, 1984), a grande maioria dos trabalhos realizados até o momento, refere-se ao conteúdo paleontológico da área, análises petrográficas e diagenéticas, e pesquisas localizadas para calcário e diamante (ALVES, 1995, GOLDBERG, 1995, FERREIRA Jr. 1996, RIBEIRO, 1997). A partir da aquisição de dados inéditos de superfície e de subsuperfície foi efetuada uma análise de bacia integrada com ênfase ao Grupo Bauru no Triângulo Mineiro (MG), noroeste de São Paulo, nordeste do Mato Grosso do Sul e sul de Goiás. Vinculada aos projetos FAPESP 99/00324-1 Análise da sedimentação cretácea no Triângulo Mineiro e sua correlação com áreas adjacentes e 99/00323-5: A Bacia Bauru no Triângulo Mineiro (MG): Análise de Bacia como Proposta de uma nova Estratégia Exploratória para Recursos Minerais e Hídricos, a presente tese expõe um quadro atualizado sobre as unidades litoestratigráficas do Grupo Bauru, buscando responder questões até então em aberto, tais como: relação de contato entre as unidades litoestratigráficas, contemporaneidade das formações, arranjo tridimensional, arquitetura deposicional, padrão de paleocorrentes, idades, proveniência dos sedimentos. Considerações sobre a origem e evolução paleogeográfica da “Bacia Bauru” também estão contempladas. Além de buscar responder essas questões, a aplicação de um método de trabalho que integra as várias ferramentas estratigráficas disponíveis permitiu tecer algumas considerações sobre a potencialidade econômica da área com ênfase à água subterrânea, calcário e argila, servindo de ponto de partida para estudos mais detalhados. Por fim, a partir da integração dos dados estratigráficos e estruturais, propõe-se um modelo de evolução tectonoestratigráfica para a Bacia Bauru, desde sua origem no Cretáceo Superior até sua reestruturação durante o Cenozóico. Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 2 II – LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO A área de estudo abrange o Triângulo Mineiro (MG) e partes da porção norte e noroeste do estado de São Paulo, nordeste do Mato Grosso do Sul e sul de Goiás, na faixa de afloramento das rochas do Grupo Bauru (Figura 1). Compreendida entre os paralelos 17º 30’ 00” e 21º 30’ 00” de latitude sul e os meridianos 47º 00’ 00” e 52º 00’ 00” de longitude oeste, num total aproximado de 80.000 km2, a área abriga importantes núcleos urbanos, com destaque para: Uberaba, Uberlândia, Ituiutaba, Araguari, Frutal, Prata, Campina Verde e outras no estado de Minas Gerais. Franca, São José do Rio Preto, Votuporanga, Fernandópolis, Jales, Pereira Barreto, no território paulista. Aparecida do Taboado, Paranaíba, Selvíria, Cassilândia e Inocência no Mato Grosso do Sul. Itajá, Caçú, Quirinópolis e Rio Verde em Goiás. Figura 1 – Mapa de localização da área de estudo. 0 200 Km100 N Triângulo Mineiro MG MS GO SP Monte Alegre de Minas Monte Alegre de Minas Araguari Ituiutaba Prata Campina VerdeCampina Verde Frutal Uberlândia Uberaba Patrocínio Coromandel BebedouroSão José do Rio Preto São José do Rio Preto Jales Votuporanga Rio VerdeRioVerde Caçu Quirinópolis Aporé Itajá Cassilândia Paranaíba Aparecida do Taboado Aparecida do Taboado Ilha SolteiraIlhaSolteira Pereira Barreto Pereira Barreto Fernandópolis MirassolGeneral Salgado General Salgado São SimãoSãoSimão Cachoeira Dourada Cachoeira Dourada Franca Auriflama 495051 4852 495051 4852 47 47 18 19 20 21 18 19 20 21 0 10050 Escala: Km Veríssimo Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 3 III – ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS A região do Triângulo Mineiro apresenta um conjunto de relevo denominado por AB’SABER (1971) de Domínio dos Chapadões Tropicais do Brasil Central e Planaltos e Chapadas da Bacia Sedimentar do Paraná, estando inserida na sub-unidade Planalto Setentrional da Bacia do Paraná (RADAM BRASIL, 1983). BACCARO (1991) propôs quatro categorias de relevo, cujas características podem ser assim resumidas: Área de relevo intensamente dissecado – correspondendo à borda da extensa chapada Araguari- Uberlândia, estendendo-se até os rios Paranaíba e Grande, que vem sendo intensamente dissecada, entalhada pelos seus afluentes. As feições morfológicas desse compartimento estão relacionadas ao substrato rochoso, representada pelos basaltos da Formação Serra Geral e pelas rochas do Grupo Araxá, predominantemente, com uma presença menos significativa dos arenitos do Grupo Bauru e dos sedimentos cenozóicos (Figura 2); Área de relevo medianamente dissecado – apresenta topos nivelados entre 750 e 900 metros, com formas convexas e vertentes entre 3º e 15º de declividade. A Formação Adamantina, sobreposta aos basaltos da Formação Serra Geral, é a mais representativa na área, recoberta em grandes porções por sedimentos cenozóicos inconsolidados (Colúvios); Área de relevo residual – caracteriza-se por bordas escarpadas, erosivas, de até 150 m, em contornos irregulares, com declividades que podem atingir 45º. Corresponde às porções mais elevadas em topos de divisores de água das principais bacias entre 800 e 900m. Apresenta relevo intensamente dissecado com formas convexas nas vertentes, constituída por arenitos da Formação Marília, mantendo as bordas escarpadas, sustentadas por rochas intensamente cimentadas por carbonato de cálcio; Áreas elevadas de cimeira entre 950 e 1050m, com topos planos, amplos e largos – baixa densidade de drenagem e vales com pouca ramificação, vertentes com baixas declividades (entre 3º e 5º), sustentadas pelas rochas da Formação Marília e recobertas por sedimentos cenozóicos. SIQUEIRA & ROSA (1998) propuseram cinco categorias de relevo nessa região: áreas de chapada, áreas de relevo pouco dissecado, áreas de relevo dissecado, áreas de relevo residual e áreas de planície fluvial (Figura 3). A distribuição percentual dessas categorias no Triângulo Mineiro encontra- se discriminada no quadro 1. It u iu ta b a U b e rl â n d ia U b e ra b a A ra g u a ri Rio Para naíb a G o iá s S ã o P a u lo M in a s G e ra is MatoGrossodoSul 0 1 0 2 0 2 6 k m 6 1 6 5 1 º 0 0 ’ 1 8 º 0 0 ’ 4 7 º 3 0 ’ 1 8 º 0 0 ’ 5 1 º 0 0 ’ 2 0 º 3 0 ’ 4 7 º 3 0 ’ 2 0 º 3 0 ’ L e g e n d a C h a p a d a R e le v o p o u c o d is s e c a d o R e le v o d is s e c a d o R e le v o re s id u a l d e to p o p la n o P la n íc ie fl u v ia l L im it e in te re s ta d u a l D re n a g e m N F ig u ra 3 - M a p a G eo m o rf o ló g ic o d a re g iã o d o T ri â n g u lo M in ei ro (S IQ U E IR A & R O S A , 1 9 9 8 ) R io T iju c o R io U b e ra b in h a R io d a P ra ta R io U bera ba R io Verd e Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 5 Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 6 Categorias km2 % Área de chapada 1.940 3,7 Área de relevo pouco dissecado 40.376 76,5 Área de relevo dissecado 7.272 13,8 Área de relevo residual 2.507 4,7 Área de planície fluvial 665 1,3 Total 52.760 100 Quadro 1 – Área ocupada pelas diferentes categorias geomorfológicas (SIQUEIRA & ROSA 1998). O padrão de drenagem sub-paralelo segue a estruturação do substrato rochoso com direção preferencial NE e NW, conforme constatado no mapa de lineamentos de drenagens fotointerpretados (Figura 4). As características de relevo tornam a área de estudo interessante por apresentar uma grande quantidade de afloramentos. Por todo o Triângulo Mineiro é possível observar alguns morros testemunhos formados por rochas do Grupo Bauru. Esses morros são resquícios da escarpa do Planalto do Triângulo (ALMEIDA, 1958) que foi dissecado pela erosão iniciada pelo Ciclo Sul-americano (KING, 1956) e se estendendo até os dias atuais. Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 8 IV – JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS As grandes movimentações verticais de idades mesozóica e cenozóica no sudeste brasileiro têm sido alvo de grande número de trabalhos, especialmente na faixa costeira do Planalto Atlântico e bacias marginais associadas. O caráter desta manifestação na compartimentação do interior continental e suas respostas sedimentares, no entanto, têm sido preocupação de, comparativamente, poucos trabalhos, a maior parte deles de cunho regional (como por exemplo HASUI, 1967; BARBOSA et al., 1970 e BARCELOS, 1984). Para a observação de campo destas movimentações e suas respostas sedimentares, uma região bastante interessante, pela compartimentação e diversidade de sua coluna litoestratigráfica, é a do Triângulo Mineiro, bem como áreas adjacentes (sul de Goiás, nordeste do Mato Grosso do Sul e norte e noroeste de São Paulo). O Grupo Bauru (Ks), unidade supra-basáltica da Bacia do Paraná, especificamente nos arredores da cidade de Uberaba, tem sido foco de inúmeras pesquisas nas últimas décadas, tanto do ponto de vista econômico (exploração de diamantes e calcário), como do ponto de vista acadêmico (estudos estratigráficos e paleontológicos). Os estudos geológicos no Triângulo Mineiro, com exceção de poucos trabalhos de cunho regional (como por exemplo HASUI, 1967; BARBOSA et al., 1970 e BARCELOS, 1984), dedicam-se a áreas localizadas, principalmente nas proximidades de Uberaba e Ponte Alta, e tratam de questões referentes à paleontologia, petrografia, análise de fácies, diagênese e prospecção. No entanto, questões tais como área geográfica e origem da Depressão de Uberaba, relação de contato entre as unidades litoestratigráficas, contemporaneidade das formações, arranjo tridimensional e arquitetura deposicional, cenários paleogeográficos de caráter mais amplo, idade e proveniência dos sedimentos, permaneceram em aberto. O mesmo pode ser dito para as áreas adjacentes, principalmente o sul do estado de Goiás e nordeste do Mato Grosso do Sul. A partir da descoberta de novos afloramentos na região de Uberaba (MG), Prata (MG), Gurinhatã (MG) e Limeira D’Oeste (MG), assim como de relatórios técnicos de empresas de perfuração de poços tubulares profundos e minerações, viu-se a possibilidade da realização de uma análise de bacia integrada para a região do Triângulo Mineiro e suas adjacências. Dessa forma, uma das metas principais da presente tese é tentar responder questões como as acima mencionadas, bem como apresentar um quadro atualizado sobre a origem, evolução paleogeográfica e reestruturação tectônica da Bacia Bauru no Triângulo Mineiro e sua correlação com áreas limítrofes nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás. Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 9 V – MATERIAIS E MÉTODOS DE TRABALHO Para alcançar os objetivos propostos, foi utilizado como método de trabalho a Análise de Bacia. Essa análise é baseada na integração de dados de superfície e subsuperfície, usando todas as ferramentas estratigráficas disponíveis. Os trabalhos de superfície consistiram da descrição e documentação fotográfica de afloramentos, levantamento de seções colunares, geológicas e estratigráficas, coleta de amostras para análises petrográfica, paleontológica (palinologia e micropaleontolgia) e paleomagnética. Quanto aos trabalhos envolvendo dados de subsuperfície, estão sendo apresentadas seções colunares litológicas de poços tubulares profundos, cujos dados foram obtidos junto aos departamentos de água e esgoto dos estados de Minas Gerais e São Paulo, que servem de base para a confecção de seções estratigráficas, a fim de se interpretar o comportamento das unidades em profundidade. Durante a elaboração da presente tese, realizou-se, primeiramente, a compilação de dados bibliográficos enfocando os principais aspectos geológicos regionais. Essa pesquisa consistiu de um trabalho realizado junto às bibliotecas das principais universidades de São Paulo e Minas Gerais (UNESP, USP, UFOP, UFMG), bem como órgãos de pesquisa desses estados (CPRM – Belo Horizonte e IPT – São Paulo). Concomitante a essa compilação, foram realizadas análises fotointerpretativas de imagens de satélite LANDSAT, do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), em cópias dos canais 5 e 7 (variações de cinza), em escala 1:500.000, das quais foram extraídas os principais lineamentos de drenagem, essenciais à análise estrutural da área. Esses lineamentos foram plotados na base topográfica do estado de Minas Gerais e áreas adjacentes, em escala 1:250.000 do IBGE, resultando no mapa de lineamentos fotointerpretados (figura 4). Ainda na fase inicial de trabalho, foram realizadas pesquisas junto às empresas de perfuração de poços tubulares profundos de São Paulo e Minas Gerais, buscando e compilando dados de subsuperfície da área de estudo (perfis geofísicos e litológicos). Foi também realizada uma pesquisa detalhada de dados de testemunhos de sondagem junto à empresa Lafarge – Fábrica de Cimento Ponte Alta (MG) (APÊNDICE 1). Foram percorridos aproximadamente 3.000 km de rodovias e estradas secundárias na busca de afloramentos em toda a área do Triângulo Mineiro (MG), nordeste do Mato Grosso do Sul, sul de Goiás e norte/noroeste de São Paulo, perfazendo uma área total de aproximadamente 60.000 km2 (APÊNDICE 1). Os trabalhos de campo, por sua vez, consistiram de levantamentos detalhados de seções colunares e estratigráficas, documentação fotográfica e coleta de indicadores de paleocorrente Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 10 em afloramentos-chave, bem como de afloramentos inéditos na literatura, recentemente descobertos ao longo da área de estudo. Ainda nessa etapa, foram selecionados pontos onde foram feitas coletas de amostras para análises laboratoriais (petrográficas, paleontológicas, palinológicas e paleomagnéticas). Os dados obtidos em afloramentos foram submetidos a uma análise estratigráfica baseada em quatro métodos básicos: análise de fácies; análise de elementos arquitetônicos, superfícies hierárquicas e de macroformas; e análise estatística para determinação do padrão de paleocorrentes. Como as informações de subsuperfície não dispõem do mesmo grau de detalhe das informações de afloramento, foi aplicado apenas o método da análise de fácies. A princípio, foram identificadas as principais fácies sedimentares e seus processos geradores, segundo os modelos propostos por MIALL (1977 e 1978). Essas fácies foram agrupadas e empilhadas verticalmente em associações de fácies (APÊNDICE 2), servindo a dois propósitos: identificação dos ambientes deposicionais e correlação lateral. Para afloramentos com grande extensão lateral, foram confeccionados painéis fotográficos para a análise de elementos arquitetônicos, superfícies hierárquicas e de macroformas, segundo o método de MIALL (1985, 1988a e 1988b) (APÊNDICE 3). Durante os trabalhos de campo, na medida do possível, foram medidas atitudes de indicadores de paleocorrente, principalmente estratificações cruzadas. Essas medidas foram tratadas estatisticamente por meio do software STEREONET gerando diagramas em rosetas. Os diagramas foram plotados na base cartográfica da área de estudo gerando um mapa de paleocorrentes. As análises laboratoriais (petrográficas, micropaleontológicas, palinológicas e paleomagnéticas) foram utilizadas como ferramentas auxiliares, fornecendo informações referentes à idade, proveniência dos sedimentos e evolução diagenética das unidades do Grupo Bauru. A descrição dos vários métodos de análises laboratoriais, bem como da análise de fácies, elementos arquitetônicos, superfícies hierárquicas e macroformas serão apresentados nos capítulos seguintes. O tratamento e integração dos dados forneceram como principais produtos: mapa de isólitas e de contorno estrutural do topo da Formação Serra Geral, mapa de isópacas do Grupo Bauru, mapa de fácies sedimentares do Grupo Bauru, mapa de paleocorrentes do Grupo Bauru, mapa paleogeográfico e mapa litoestratigráfico, bem como seções estratigráficas e estruturais (superfície e subsuperfície). Por fim, foi elaborado um modelo de evolução paleogeográfica para a Bacia Bauru, desde sua formação no Cretáceo Superior até sua reestruturação durante o Cenozóico. Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 11 VI – A BACIA BAURU VI.1 - Considerações Gerais Localizada no sudeste brasileiro, a Bacia Bauru ocupa uma área de aproximadamente 330.000 km2, abrangendo o centro-oeste de São Paulo, nordeste do Mato Grosso do Sul, sudeste do Mato Grosso, sul de Goiás e oeste de Minas Gerais (Figura 5). Figura 5 – Mapa de distribuição das unidades que compõem o Grupo Bauru. FERNANDES &COIMBRA (1996, Mod.) 54º54ºW ATUAL DISTRIBUIÇÃO DAS UNIDADES BAURU E CAIUÁ NA AMÉRICA DO SUL ATUAL DISTRIBUIÇÃO DAS UNIDADES BAURU E CAIUÁ NA AMÉRICA DO SUL 50º50º GO COBERTURA SEDIMENTAR DE ORIGEM FLUVIALDE ORIGEM FLUVIAL E COLÚVIO-ELUVIONARECOLÚVIO-ELUVIONAR DE IDADE TERCIÁRIADEIDADE TERCIÁRIA SU TU R A D E ITU M BIAR A SU TU R A D E ITU M BIAR A 54º54º 50º50º 18º18º 18º18º 20º20º 22º22º 22º22º 24ºS24 Sº MS AL. DO PARANAPANEMA AL. DO PARANAPANEMA FM PONTA PORÃ FM PONTA PORÃ RIO PIQUERI GOIO ErÊ GOIO ErÊ MARINGÁ R . IVAÍ LONDRINA R. PARANA PANEMA AL DE GUAPIARAAL DE GUAPIARA AVARÉ BAURU RIO S U T U R A C R U S TA L C R U S TA L D E T R Ê S LA G O A S P A R A N Á TRÊS LAGOAS TRÊS LAGOAS AL. DO RIOTIETÊ AL. DO RIOTIETÊ MONTE ALTO MONTE ALTO JABOTICABAL PR CAMPO GRANDE CAMPO GRANDE S. JOSÉ DO RIO PRETOS.JOSÉ DO RIO PRETO R. GRANDE UBERABA AL. DO RIO GRANDE AL. DO RIO GRANDE R IO PARANAÍBA AL. D O R IO AL. D O R IO PIQ U ER IPIQ U ER I P A R A G UA I MG Soerguimento do Alto Paranaíba MARÍLIA SP PRES. PRUDENTE PRES. PRUDENTE 0 50 100 Km100 Km Escala Gráfica:EscalaGráfica: 250 Km250Km BACIA DO PARANÁBACIADO PARANÁ BACIA BAURU - Ksup.BACIABAURU - Ksup. Fm. Serra Geral - K inf.Fm. Serra Geral - K inf. BACIA CAIUÁ - Kinf.BACIACAIUÁ - Kinf. Unidades Pré- Formação Serra Geral Unidades Pré- Formação Serra Geral FORMAÇÃO MARÍLIAFORMAÇÃOMARÍLIA FORMAÇÃO ADAMANTINAFORMAÇÃOADAMANTINA GRUPO CAIUÁGRUPOCAIUÁ FORMAÇÃO UBERABAFORMAÇÃOUBERABA FORMAÇÃO ARAÇATUBAFORMAÇÃOARAÇATUBA COBERTURA CENOZÓICACOBERTURACENOZÓICA Legenda: GRUPO BAURU GRUPO BAURU} Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 12 A Bacia Bauru desenvolveu-se durante o Cretáceo Superior a partir da superposição de processos tectônicos de abatimento sobre a porção centro-norte da Bacia do Paraná, decorrente dos efeitos da separação Brasil – África. Com formato alongado na direção norte/nordeste, essa bacia foi implantada principalmente sobre substrato basáltico e sobre os depósitos arenosos do Grupo Caiuá, tendo como depocentro a área onde a pilha de basaltos da Formação Serra Geral é mais espessa. Abriga rochas argilo-arenosas na base, gradando essencialmente para arenosas e conglomeráticas no topo, com espessura máxima preservada de quase 300 metros (região de Presidente Prudente e Regente Feijó no estado de São Paulo). O conjunto litológico dessa bacia representa um intervalo deposicional continental no interior da Placa Sulamericana, iniciado com um provável nível de base lacustre, colmatado gradualmente por um sistema aluvial, resultante do soerguimento acentuado de suas bordas norte, nordeste e leste. Seguindo em parte a concepção de FERNANDES & COIMBRA (1996) e RICCOMINI (1997), assume-se na presente tese que os limites atuais da Bacia Bauru são essencialmente erosivos e/ou tectônicos, desenhados pela Antéclise de Rondonópolis (COIMBRA, 1991), a noroeste, Soerguimento do Alto Paranaíba (HASUI & HARALYI, 1991), a nordeste, alinhamentos do Rio Moji Guaçú (COIMBRA et al., 1981), São Carlos-Leme e Ibitinga-Botucatu (RICCOMINI, 1995), a leste, do Paranapanema (FULFARO, 1974), a sul e sudeste. A oeste seu limite é encoberto dada à grande área dominada por depósitos de cobertura sedimentar aluvial de idade terciária (planície do Rio Paraná). Os processos erosivos responsáveis pela atual configuração dos limites da Bacia Bauru estão relacionados ao evento de reestruturação tectônica do Terciário, marcado em sua borda oriental pelo levantamento da Serra do Mar e Soerguimento do Alto Paranaíba. Classificado como Ciclo Sul-Americano por KING (1956), esse ciclo erosivo no estado de São Paulo é representado pela Superfície do Japi (ALMEIDA, 1964), enquanto que no Triângulo Mineiro, pela Superfície Pratinha (ALMEIDA, 1958). VI.2 – Estratigrafia da Bacia Bauru O arranjo tridimensional das rochas sedimentares que preenchem a Bacia Bauru constitui matéria amplamente discutida na bibliografia geocientífica, desde o início do século 20. O termo Bauru foi introduzido na literatura geológica por GONZAGA DE CAMPOS (1905), após ter sido reconhecido e descrito na região oeste do estado de São Paulo, a serviço da construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. A princípio se propôs a denominação de “Grês de Bauru”, Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 13 modificada mais tarde para “Arenito Bauru” (FLORENCE, 1907). Já em 1930 a Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo, atual Instituto Geológico, adotou o nome de “Formação Bauru”. Em 1953, ALMEIDA & BARBOSA dividiram essa unidade em duas formações: Inferior ou Itaqueri e Superior ou Marília seguindo a proposta de SETZER (1943, apud ALMEIDA & BARBOSA, 1953). FREITAS (1955) desenvolveu estudos sedimentológicos, estratigráficos e tectônicos, com objetivo de reconstruir o paleoambiente de sedimentação da “Série Bauru” no estado de São Paulo. A partir daí, outros autores apresentaram trabalhos com o mesmo objetivo, sendo que com o passar dos anos, as reconstruções paleogeográficas foram se refinando devido às descobertas de novas ocorrências de afloramentos dessa unidade fora do estado de São Paulo, além da interpretação de dados estruturais e dados de subsuperfície que indicam processos tectônicos ativos durante a sua sedimentação. A esse respeito podem ser citados os trabalhos de HASUI (1968), HASUI (1969), BARBOSA et al. (1970), BJÖRNBERG et al. (1970), SAD et al. (1971), e SUGUIO (1973). A partir de 1974, os levantamentos geológicos no estado de São Paulo em área de ocorrência do Grupo Bauru, começaram a se intensificar devido aos diversos convênios do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE) com a Universidade Estadual Paulista (UNESP), Universidade de São Paulo (USP) e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) (com destaque para IPT, 1981; AIDAR et al., 1980; ZAINE et al., 1980). Esses estudos melhoraram consideravelmente a visão estratigráfica da unidade, já subdividida em unidades menores mapeáveis na escala 1:25.000, ainda com a denominação informal de litofácies e mesmo de fácies. Na década de 80 muitos dos trabalhos sobre o Grupo Bauru buscaram estabelecer uma hierarquia litoestratigráfica para suas unidades, bem como algumas tentativas de reconstruções paleogeográficas. SUGUIO (1980) propôs as seguintes unidades litoestratigráficas para o Grupo Bauru: - Formação Caiuá (WASHBURNE,1930); - Formação Santo Anastácio, correspondente à fácies Santo Anastácio de LANDIM & SOARES (1976) e proposta como formação por STEIN et al. (op. cit.), representando uma transição entre as formações Caiuá e Adamantina. Lateralmente, rumo a nordeste (região de Araçatuba) essa unidade passa para os sedimentos da Formação Araçatuba, segundo aqueles autores; - Formação Araçatuba, corresponde à unidade homônima de SUGUIO et al. (1977), que passa gradualmente para a Formação Santo Anastácio em direção ao Pontal do Paranapanema. Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 14 - Formação São José do Rio Preto, que corresponde à litofácies homônima de SUGUIO et al. (1977), assumindo que na região do Triângulo Mineiro (MG) seja correlacionável aos arenitos da Formação Uberaba; - Formação Uberaba, que se superpõe aos basaltos da Formação Serra Geral, na região de Uberaba (MG); e - Formação Marília (ALMEIDA & BARBOSA, 1953; SUGUIO, 1973; SUGUIO et al., 1975). SOARES et al. (1980) caracterizaram as seguintes formações para o Grupo Bauru, no estado de São Paulo: Formação Caiuá, Formação Santo Anastácio, Formação Adamantina e Formação Marília. ALMEIDA et al. (1981), após estudo detalhado na região oeste do estado de São Paulo, consideraram esta seqüência com o “status” de grupo. Apresentaram também a seguinte estratigrafia: Formação Caiuá, unidade basal; Formação Santo Anastácio; Formação Adamantina correspondente a Unidade Inferior de STEIN et al. (1979) englobando as litofácies Araçatuba e São José do Rio Preto de SUGUIO et al. (1977) e as fácies Ubirajara e Taciba de SOARES et al. (1979); e Formação Marília. A divisão de Minas e Geologia Aplicada do IPT apresentou, em 1981 (ALMEIDA & MELLO, 1981), uma síntese sobre a geologia do estado de São Paulo, que acompanha o Mapa Geológico do estado na escala 1:500.000. Para o Grupo Bauru manteve-se a divisão proposta anteriormente por SOARES et al. (1980). Nesse mesmo trabalho foi identificada a Formação Itaqueri, com arenitos e conglomerados. COTTAS & BARCELOS (1981) caracterizaram os sedimentos dessa formação como de idade cenozóica. Ainda em caráter regional, BARCELOS (1984) apresentou um dos trabalhos mais abrangentes até então realizado, de correlação do Grupo Bauru, em áreas dos estados do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. FERNANDES (1992) em sua dissertação de mestrado, apresentou uma nova proposta de subdivisão do Grupo Bauru, no norte do estado do Paraná e no Pontal do Paranapanema, elevando a Formação Caiuá à categoria de grupo (já aventado por FULFARO & BARCELOS, 1991), destacando duas formações: Rio Paraná e Goio Erê e associando a Formação Santo Anastácio ao Grupo Caiuá. Ainda segundo esse autor, essas unidades fazem parte de uma seqüência sedimentar única, sugerindo um contexto tectônico distinto da Bacia do Paraná. FULFARO & BARCELOS (1992) entenderam que a Formação Caiuá deveria ser diferenciada do Grupo Bauru. Consideraram que a unidade precedeu à deposição do Grupo Bauru, constituindo um evento tectonossedimentar individualizado, refletindo no interior cratônico, a fase rifte da reativação sul-atlântiana. Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 15 FERNANDES & COIMBRA (1996) endossando o que foi proposto por FERNANDES (1992), apresentaram um estudo regional sobre a Bacia Bauru (grupos Bauru e Caiuá) como entidade geotectônica individualizada. FERNANDES (1998) apresentou uma discussão sobre a estratigrafia e a evolução geológica da parte oriental da Bacia Bauru, utilizando-se a análise de sistemas deposicionais seguindo a distribuição das associações de fácies. Nesse trabalho a seqüência neocretácea é dividida nos grupos Caiuá (formações Rio Paraná, Goio Erê e Santo Anastácio) e Bauru (formações Uberaba, Vale do Rio do Peixe, Araçatuba, São José do Rio Preto, Presidente Prudente e Marília, incluindo os Analcimitos Taiúva) parcialmente cronocorrelatos. BATEZELLI (1998), BATEZELLI et al. (1999) e BATEZELLI et al. (2000) utilizando dados de superfície e subsuperfície propuseram a formalização do “status” de formação para unidade Araçatuba, redefinindo sua área de ocorrência na Bacia Bauru e apresentando um modelo de evolução paleogeográfica para o oeste do estado de São Paulo. FULFARO et al. (1999a), mediante de evidências de campo identificaram características que apontam a Formação Santo Anastácio como um geossolo formado sobre os depósitos arenosos do Grupo Caiuá, sugerindo uma discordância entre essa unidade e o Grupo Bauru. Propuseram também a divisão da Bacia Bauru (sensu FERNANDES & COIMBRA, 1996) em duas grandes unidades geotectônicas: Bacia Caiuá (Cretáceo Inferior) e Bacia Bauru (Cretáceo Superior). FULFARO et al., (1999b) apresentaram um esboço paleogeográfico da Bacia Caiuá, propondo que sua evolução tenha se dado no Aptiano-Albiano quando um nível de base deposicional estabeleceu- se na atual região da mesopotâmia argentina, em contraposição a áreas mais elevadas do platô basáltico a leste. Propuseram também que no Turoniano (Neocretáceo) houve uma reestruturação tectônica na área deprimida da antiga Bacia do Paraná. Nessa época surge um novo nível de base, restrito à atual área do estado de São Paulo, entre os alinhamentos dos rios Tietê e Paranapanema, denominado Bacia Bauru. A última revisão estratigráfica feita, até o presente momento, para a Bacia Bauru (sensu FERNANDES & COIMBRA, 1996), foi apresentada por FERNANDES & COIMBRA (2000), endossando as propostas de FERNANDES (1998). A divisão litoestratigráfica aqui adotada para o Grupo Bauru nas diferentes áreas de ocorrência, segue em parte, as proposições de SOARES et al. (1980) (Figura 6). Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 16 Figura 6 – Coluna litoestratigráfica do Grupo Bauru e sua relação de contato com as unidades cretáceas nas diferentes áreas de ocorrência (SOARES et al., 1980 - Modificado). VII – EVOLUÇÃO DOS CONHECIMENTOS GEOLÓGICOS DA REGIÃO DO TRIÂNGULO MINEIRO (MG) Os estudos geológicos mais antigos na região remontam ao século XVIII, quando o naturalista francês SAINT’HILAIRE teve conhecimento sobre as águas minerais e depósitos superficiais de sais alcalinos no Barreiro do Araxá (SENA, 1921). Desde o advento da descoberta de paleoaluviões diamantíferos em sedimentos pós-basálticos no Alto Paranaíba em 1864 (BARBOSA et al., 1970), diversos pesquisadores voltaram a atenção para esta região. Trabalhos pioneiros sobre a mineralogia e litologia dos jazimentos diamantíferos de Água Suja (atual Romaria), foram realizados por GONZAGA DE CAMPOS (1891), HUSSAK (1891 e 1894), e PORCHERON (1903). GOIÁSMINAS GERAIS MATO GROSSOMATOGROSSO DO SULDOSUL PARANÁ Fm Marília Fm Marília Litoestratigrafia do Grupo Bauru e suas relações de contato com os grupos São Bento e Caiuá nas diferentes áreas Litoestratigrafia do Grupo Bauru e suas relações de contato com os grupos São Bento e Caiuá nas diferentes áreas FM ARAÇATUBA Fm Marília Fm Marília Fm Adamantina Mb. Serra da Galga Mb. Serra da Galga Mb. Ponte Alta Mb. Ponte Alta Gr. CAIUÁ Gr. CAIUÁ Gr. CAIUÁ Gr. CAIUÁ Gr. CAIUÁ Gr. CAIUÁ Fm Serra GeralSerra GeralSerra GeralSerraGeralSerra GeralSerraGeral FmFm Fm Uberaba Fm Uberaba Mb. Echaporã Mb. Echaporã Fm Marília Fm Marília Fm Adamantina Fm Adamantina SÃO PAULO Fm Adamantina Fm Adamantina Fm Adamantina Fm Adamantina Fm Marília Fm Marília Fm Serra GeralSerra Geral Fm Serra GeralSerra Geral G r u p o B a u r u Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 17 As primeiras tentativas de associação entre os depósitos conglomeráticos diamantíferos do Alto Paranaíba e os arenitos da Formação Uberaba foram realizados por HUSSAK (1906) que descreveu a petrologia das rochas aflorantes no perímetro urbano de Uberaba (MG). RIMANN (1917) introduziu os termos “arenito tufoso de Uberaba” e “Série Uberaba”, quando correlacionou esses sedimentos às diversas unidades diamantíferas e vulcanoclásticas, tais como os sedimentos de Romaria, o “arenito de Capacete” (HORACE WILLIAMS, 1914, apud HASUI, 1969) e os “conglomerados diamantíferos de Tiros”, esses dois últimos pertencentes à Bacia São Franciscana. ALBUQUERQUE (1929) descreveu um arenito argiloso vermelho, com cimento calcário sem estratificação, possivelmente do Eoceno ou Cretáceo, jazendo sobre o Arenito do Areado, contendo na base um depósito de clastos rolados, na região do Triângulo Mineiro. Ressaltou que as intrusivas não cortam o arenito argiloso. FREYBERG (1932) concordou com as correlações de RIMANN (1917) da posição e origem do Arenito Areado sob as eruptivas da Série São Bento e apenas acrescentou a existência de duas fácies do Cretáceo da Bacia do Paraná, como: 1) Arenito Bauru (arenito cinzento ou branco) sem contribuição vulcânica; e 2) Rochas de Uberaba, com contribuição vulcânica, conforme o trabalho de HUSSAK (1906). BARBOSA (1934a, b) foi o primeiro a usar o termo Formação Uberaba para denominar os arenitos esverdeados que capeiam os basaltos da Formação Serra Geral, ao estudar águas subterrâneas na região de Uberaba. Posteriormente, vários autores citaram a Formação Uberaba e descreveram novas ocorrências. Aquele autor julgou que boa parte dos arenitos argilosos vermelhos de Uberaba não são mais que produtos da ação de intemperismo sobre possantes camadas de tufitos. Considerou também os tufos de Uberaba como sendo de idade Jurássica, em divisão particular, sotopostos aos Arenitos Argilosos Vermelhos (como possivelmente de idade máxima cretácea, como unidade isolada) sotoposta à “Formação Bauru” (idade senoniana), constando de conglomerado “casco de burro”, porém sem base segura para correlacioná-lo com o encontrado em São Paulo. LACOURI (1934) descreveu, no Triângulo Mineiro, um arenito argiloso vermelho sobreposto ao tufo vulcânico, com intercalações, sem ordem e sem formar leitos contínuos, de horizontes de clastos rolados. Sobreposto a essa unidade vem um conglomerado calcário (“casco de burro”) ocorrendo nas proximidades do córrego Santa Gertrudes (NW de Uberaba), com espessura média de 12 a 18 metros, sendo os clastos sempre pequenos, de 2 a 20 milímetros, de quartzito e quartzo, na maioria. A idade dessas rochas foi considerada Cretáceo Superior. MILWARD (1935) descreveu conglomerados e arenitos com cimento calcífero, apresentando um mapa com a distribuição da unidade Bauru no Triângulo Mineiro. Esse autor relacionou os Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 18 depósitos de cascalho e areia no sopé dos morros como sendo oriundos da erosão e lixiviação do arenito calcífero Bauru. PRICE (1945, 1950a, 1950b, 1953 e 1955) apresentou vários estudos paleontológicos, notificando importantes descobertas de fósseis de dinossauros, crocodilos e quelônios na região de Uberaba. BRAJNIKOV (1953) denominou de Corredor do Quebra Anzol (como uma unidade estrutural) a área entre o Triângulo Mineiro (isto é, a borda da Bacia do Paraná no oeste mineiro) e a Serra da Mata da Corda. Durante os anos de 1953 e 1954, trabalhando no Triângulo Mineiro para o Conselho Nacional de Pesquisa, a PROSPEC S.A. descobriu, por meio de aeromagnetometria, aeroradiometria e de fotografias aéreas, os domos (“chaminés”) de Barreiro, Tapira, Salitre e Serra Negra. Foram, então, reveladas as verdadeiras áreas anômalas com pirocloro, no Barreiro e em Tapira (Relatório Prospec, 1957, apud BARBOSA et al., 1970). Em 1955, a PROSPEC realizou levantamento geológico geral na região de Araxá em escala 1:500.000 que resultou na descoberta de pirocloro em Tapira (BARBOSA et al., 1970). SCORZA & SANTOS (1955) descreveram uma camada com 3 metros de espessura de folhelho pirobetuminoso, calcífero e fossilífero, em São José do Geribá, município de Presidente Olegário (MG), encaixado em arenito vermelho com cimento argilo-calcífero bem estratificado. A idade cretácea foi atribuída devido à ocorrência de Dastilbe (peixe). Correlacionaram os arenitos do local aos arenitos argilosos vermelhos de BARBOSA (1938) que julgaram como da “Formação” Bauru. A correlação aos arenitos argilosos vermelhos constituiu outro ponto duvidoso, pois aqueles arenitos foram colocados abaixo da “Formação” Bauru (ou entre o Uberaba e o Bauru) por BARBOSA (1934a) onde não são conhecidos fósseis. BARBOSA (1965) apresentou um esboço geológico da área, enfocando a importância da região como produtora de minerais úteis (apatita, pirocloro, diamante, etc.), o que deu motivo para que o DNPM resolvesse investigar melhor a região das “chaminés alcalinas”. A retomada dos estudos sobre a Formação Uberaba se deu com HASUI (1967) que apresentou o primeiro mapa geológico das rochas cretáceas do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, e estudou os arenitos, caracterizando-os como rochas epiclásticas que apresentam conglomerado basal seguido por arenitos com cimentação carbonática e/ou matriz argilosa verde, associados a siltitos, argilitos, arenitos conglomeráticos e conglomerados arenosos. Segundo HASUI (1968), a Formação Uberaba ocorre numa faixa que se estende da região de Veríssimo até Sacramento, passando por Uberaba, Peirópolis e Ponte Alta. Entre o Triângulo Mineiro e Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 19 a Serra da Mata da Corda ocorre em áreas esparsas de pequena extensão, tanto em encostas como coroando chapadões (Coromandel, Romaria e Patrocínio). HASUI (1968 e 1969) correlacionou as rochas vulcanoclásticas da região de Uberaba com os vulcanitos do Planalto da Mata da Corda e sugeriu que a ligação entre as duas unidades se deu através de áreas descontínuas e com pequenas extensões laterais através do “Corredor do Quebra Anzol” (BRAJNIKOV, 1953). Ainda na década de 60, iniciaram-se trabalhos de datação radiométrica das rochas vulcânicas mesozóicas do oeste mineiro pelo método K - Ar, por AMARAL et al. (1967) e HASUI & CORDANI (1968), que definiram idade neocretácea. ISOTTA (1969) estudou a mineralogia e o controle estratigráfico dos depósitos diamantíferos Alto Paranaíba. BARBOSA et al. (1970) descreveram na região de Uberaba as seguintes fácies na Formação Bauru: a) fácies Uberaba: “sedimentos tufáceos, ou seja, tufitos e argilitos cineríticos associados a conglomerados, sobrepostos discordantemente sobre o basalto do Grupo São Bento; situamos seu limite superior pouco abaixo do calcário conglomerático”; b) fácies Ponte Alta: “Conjunto de arenitos muito calcíferos, claros e calcários conglomeráticos que ocorrem acima dos tufitos”; c) fácies Bauru: “superiormente esses sedimentos calcíferos vão passando aos arenitos argilosos amarelos a cor de tijolo, com níveis de pedriscos. Para o norte esses arenitos superiores transgridem todas as formações anteriores e vão depositar-se sobre o complexo pré-cambriano.” Mencionaram a existência de nível de calcário conglomerático com caimento de 2,7 m/km para o centro da bacia: acreditaram que “os sedimentos das fácies Uberaba e Ponte Alta constituíam uma grande lagoa alongada no sentido SE- NW. Seus limites aproximados seriam: Itumbiara, Frutal, Barretos, pois em todas essas localidades foram encontrados afloramentos de calcário “casco de burro”. O conglomerado basal da formação localmente chamado “Tauá”, garimpado para diamante, foi descrito em vários pontos, como em Água Suja (atual Romaria - MG). HASUI & PENALVA (1970), ao estudarem as chaminés vulcânicas do oeste mineiro, propuseram a evolução da faixa pré-cambriana e como resultado de movimentos de ascensão do “Corredor do Quebra - Anzol” sugeriram a presença de corpos kimberlíticos que seriam as prováveis fontes dos diamantes daquela região. BRAUN (1970) concordou com a possibilidade de que a deposição dos sedimentos descritos por HASUI (1968 e 1969) na região do Triângulo Mineiro tenha ocorrido em duas bacias, a Bacia sedimentar do Paraná e a Bacia São Franciscana, separadas por uma estrutura denominada por SAD & TORRES (1968) de “Antéclise do Alto Paranaíba”. Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 20 SAD et al. (1971) propuseram a inclusão do termo piroclástico - vulcânico da Série Uberaba (HUSSAK, 1906), na fácies Uberaba da Formação Bauru e afirmaram que “tufos vulcânicos inquestionavelmente intercalam-se com calcários de Ponte Alta, em Peirópolis, de modo que a contemporaneidade é posta fora de dúvida”. E completam: “Justifica-se, portanto, a designação Fácies Uberaba, representada nas partes altas da seqüência”. Entretanto, no mapa de distribuição das unidades e na coluna de correlação das unidades entre as bacias, a fácies Uberaba é colocada respectivamente abaixo e acima das fácies Marília e Itaqueri de forma ambígua (rebaixadas pelos mesmos autores do status de formação à categoria de fácies). LADEIRA et al. (1971), após revisão dos conceitos geológicos sobre a área do Triângulo, apresentaram uma nova visão litoestratigráfica para essas unidades e confirmaram as opiniões aventadas por SAD et al. (1971) a respeito da distinção entre os sedimentos da Bacia do Paraná e Bacia São Franciscana. Correlacionaram os arenitos e folhelhos da fazenda São José do Geribá (descritos por SCORZA & SANTOS, 1955) aos da seqüência Areado. Concluíram não ser possível considerar extensivas ao Triângulo Mineiro as fácies Itaqueri e Marília, descritas em São Paulo por ALMEIDA & BARBOSA (1953). LADEIRA et al. (op. cit.) descreveram duas fácies na Formação Bauru: a)Fácies Uberaba: que tem como característica principal a contribuição vulcânica, constituída de rochas epiclásticas, tais como conglomerado basal, arenito, siltitos e argilitos em níveis centimétricos e de extensão lateral restrita. As cores são avermelhadas, creme e verde, esta última devido à matriz argilosa vulcânica; b)Fácies Ponte Alta: composta de uma sucessão de arenitos muito calcíferos de cor amarelo - esbranquiçada e calcários conglomeráticos. Tal sucessão ocorre geralmente sobreposta à Fácies Uberaba, mas localmente parece passar lateralmente de forma gradacional para esta fácies. Na coluna estratigráfica, os autores acrescentaram arenitos vermelhos argilosos, sobrepostos às duas fácies anteriormente descritas, aparentemente relacionados à Formação Urucuia. LADEIRA et al. (1971) propuseram ainda a denominação de “Arco do Alto Paranaíba” para o divisor paleogeográfico das referidas bacias e que havia sido denominada anteriormente de “Corredor de Quebra Anzol” por BRAJNIKOV (1953) endossado por HASUI (1967, 1968 e 1969), “Arco da Canastra” por MESNER & WOOLDRIDGE (1964), “Antéclise do Alto Paranaíba” por SAD & TORRES (1968) e “Arco da Canastra” por NORTHFLEET et al. (1969). HASUI et al. (1975) apresentaram a evolução tectônica da porção oeste do estado de Minas Gerais, correlacionando os eventos sedimentares e magmáticos das bacias do Paraná e São Franciscana, redefinindo a faixa divisória entre as duas bacias e a chamando de “Soerguimento do Alto Paranaíba”. SUGUIO et al. (1975) estudaram calcários, não estratificados, apresentando boa continuidade em Ponte Alta, julgando integrar o conjunto basal conglomerático da Formação Bauru, pelo menos na Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 21 região de Uberaba, constituindo a Fácies Ponte Alta (de BARBOSA et al., 1970) formada de um material localmente conhecido na região de Ponte Alta por “casco de burro”. Na Serra das Paineiras o conglomerado deixa de ser basal sobrepondo-se a arenitos calcíferos, que jazem sobre os arenitos tufáceos Uberaba, segundo aqueles autores. ALMEIDA et al. (1980) desenvolveram estudos sobre a evolução geotectônica do oeste mineiro com base em dados geofísicos de aeromagnetometria e gravimetria. Suas interpretações quanto ao desenvolvimento da Flexura de Goiânia e do Soerguimento do Alto Paranaíba estão de acordo com HASUI et al. (1975), admitindo que a movimentação e os falhamentos, que então se manifestaram, possibilitaram a sedimentação nas bacias Alto Sanfranciscana e Paraná, e o alojamento de corpos alcalinos e kimberlíticos. Os trabalhos realizados sobre as seqüências cretáceas no Triângulo Mineiro durante a década de 80 enfocaram, principalmente, os problemas estratigráficos e de correlação com as unidades litoestratigráficas do estado de São Paulo. Em 1980, a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) desenvolveu um projeto para avaliar o potencial sobre os recursos hídricos subterrâneos na porção central de Minas Gerais e oeste do estado do Espírito Santo, que resultou no mapa hidrogeológico do estado de Minas Gerais. Foram realizados estudos na região de Uberaba, com ênfase aos aqüíferos sedimentares das bacias do Paraná e São Francisco. SUGUIO (1980) definiu depósitos de caliche no Grupo Bauru cuja implicação paleoclimática, uma vez que esses depósitos estão associados a presença de atapulgita, é indicativo de clima árido, reinante principalmente na fase final da sedimentação do Grupo Bauru. Essa interpretação está de acordo com SUGUIO (1973), LEPSCH et al. (1977) e SUGUIO & BARCELOS (1978). Com o intuito de sugerir novos processos para os estudos de captação de água subterrânea aplicáveis ao Grupo Bauru, VIEIRA (1981) desenvolveu um trabalho no oeste paulista enfocando os alinhamentos estruturais dos rios São José dos Dourados, Tietê, Aguapeí, Peixe e Santo Anastácio como sendo os principais condicionantes do aqüífero Bauru. Baseado nos dados obtidos pelo cadastramento dos poços tubulares profundos e pelas sondagens geofísicas, foram confeccionados mapas de localização de poços, topografia do topo do basalto Serra Geral e isópacas do Grupo Bauru. Porém, a falta de dados disponíveis na época da realização do trabalho ocasionou resultados precários. SVISERO (1981), SVISERO & MEYER (1981) e FEITOSA & SVISERO (1984), através de análises de minerais pesados, sugeriram a existência de kimberlitos nas proximidades de Romaria. BARCELOS et al. (1981) analisaram as seqüências cretáceas pós-basálticas no Triângulo Mineiro, sob o ponto de vista litoestratigráfico, em confronto com as formações cretáceas continentais Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 22 do estado de São Paulo. Propuseram modificações na litoestratigrafia da Formação Marília do Grupo Bauru no Triângulo Mineiro e estabeleceram as possíveis correlações com os depósitos do estado de São Paulo, baseados em ciclos erosivos e deposicionais que atuaram nessa região. Para esses autores a Formação Uberaba, poderia ser, ao menos parcialmente, correlacionada à Formação São José do Rio Preto (SUGUIO , 1980) ou Adamantina (SOARES et al., 1980). PIRES (1982) realizou mapeamento geológico na quadrícula de Patrimônio, com cerca de 2.500 km², com objetivo de conhecer a distribuição em área e as relações verticais da “Formação” Bauru, bem como seus horizontes litoestratigráficos e estudos das condições que predominaram durante a sedimentação. Em seu trabalho PIRES (op. cit.) fez um histórico sobre a evolução dos conhecimentos sobre o Grupo Bauru (até o ano de 1982) e questionou as interpretações paleoambientais sugeridas até então pelos vários autores que trabalharam com a referida unidade. SUGUIO & BARCELOS (1983) estudaram os calcretes da Formação Marília em afloramentos dos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, mas principalmente nas proximidades de Uberaba em Minas Gerais. Desenvolveram seus trabalhos com amostras de superfície e subsuperfície, classificando os calcretes petrologicamente de acordo com NETTERBERG (1967, apud SUGUIO & BARCELOS, op. cit.). Concluíram que o calcário Ponte Alta foi formado em ambiente de “playa lakes” sob clima semi-árido, e que esse clima poderia ter imperado em alguns períodos durante a sedimentação da Formação Adamantina. DAVINO (1983), usando dados geofísicos, reconstituiu a paleogeografia pré-deposicional da Formação Uberaba na região de Romaria , Estrela do Sul e Monte Carmelo. A configuração da antiga topografia da área, assemelha-se muito a uma superfície de drenagem normal e não muito diferente da rede hidrográfica atual. O rio Bagagem e os ribeirões Marrecos e São Félix ocupam hoje os mesmos vales anteriores à sedimentação da Formação Botucatu e da Formação Uberaba. FEITOSA & SVISERO (1984), baseados nos dados de DAVINO (op. cit.), concluíram que a deposição da Formação Uberaba se deu em pequenos depocentros originados da erosão diferencial de rochas proterozóicas, o que seria evidenciado pelo caráter descontínuo do conglomerado basal. BARCELOS (1984), em um extenso trabalho de redefinição e caracterização do Grupo Bauru, apresentou a integração regional das unidades que se estendem no estado de São Paulo e no Triângulo Mineiro e propôs os membros Ponte Alta e Serra da Galga para a Formação Marília. Em 1985, a CPRM desenvolveu um trabalho de mapeamento metalogenético e de previsão de recursos minerais na folha de Uberaba. Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 23 BARCELOS et al. (1987) caracterizaram a Formação Uberaba do ponto de vista petrográfico, redefinindo sua distribuição geográfica e sugerindo possíveis relações estratigráficas com as outras formações do Grupo Bauru, definidas no estado de São Paulo. BARCELOS (1989) apresentou uma revisão sobre a geologia da Bacia do Paraná na área do Triângulo Mineiro, usando o método de análise de fácies sedimentares, dividindo a seqüência de deposição pós-basáltica em cinco unidades faciológicas correspondentes às formações Adamantina, Uberaba e Marília. Para a evolução tectônica da área, adotou o modelo proposto por HASUI et al. (1975) para as movimentações fanerozóicas da faixa entre as bacias do Paraná e Sanfranciscana, onde, entre o Jurássico e o Cretáceo, em associação a eventos vulcânicos, a Flexura de Goiânia retomou a sua atividade com o soerguimento do Alto Paranaíba e o desenvolvimento da depressão de Uberaba. HASUI et al. (1989) delinearam a compartimentação estrutural e a evolução tectônica do estado de São Paulo e parte do Triângulo Mineiro (MG), com base em informações geofísicas e geológicas. Identificaram uma estruturação atribuída ao Arqueano, eventualmente até o Proterozóico inferior, de blocos crustais formados por cinturões de alto grau nas bordas obductadas e por terrenos granito- greenstones no restante, desenvolvidos antes do processo colisional, articulados através das suturas colisionais. Denominaram estes blocos de Brasília, Vitória, São Paulo e Paraná. Os mesmos autores concluíram que a estruturação posterior tem forte relação com esta geometria, apontando a influência crustal nos processos tectônicos e litogenéticos do Proterozóico e Fanerozóico. A evolução proterozóica é devida a processos termais e tectônicos, com falhamentos, embaciamentos, deformação/metamorfismo. No Paleozóico/Mesozóico, a evolução foi do tipo plataformal, com o desenvolvimento da Bacia do Paraná. Do final do Paleozóico ao Terciário, sua evolução esteve associada aos processos de reativação continental, em resposta à abertura do Atlântico Sul e afastamento dos continentes, com movimentação intraplaca. FERRARI (1989), após mapeamento geológico na área do reservatório da Usina Hidrelétrica de Nova Ponte, identificou sedimentos terciários e os denominou Formação Nova Ponte. HASUI & HARALYI (1991) retomaram o assunto quanto ao soerguimento do Alto Paranaíba, classificando-o como palco de intrusões alcalinas, ultramáficas e intermediárias em parte com carbonatitos associados, bem como de kimberlitos, configurando uma província alcalino-kimberlítica. Atribuíram a fase mais ativa deste processo ao Cretáceo Superior, quando, a par da intensa atividade magmática, se desenvolveram as depressões de Uberaba e Patos de Minas. Vincularam este soerguimento a uma anomalia do manto com a expressão das manifestações alcalinas e kimberlíticas e os embaciamentos laterais, endossando o que havia sido proposto por HASUI et al. (1975). Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 24 GARRIDO (1992) apresentou trabalho de mapeamento litológico das unidades do Grupo Bauru nas proximidades de Peirópolis (MG), visando a identificação dos intervalos fossilíferos e definição do exato contexto deposicional destas ocorrências. Naquele trabalho, o autor optou por individualizar apenas as diferentes litofácies observadas no Grupo Bauru, estabelecendo as correspondências deste com as unidades litoestratigráficas formalmente já propostas, a fim de favorecer a compreensão das interpretações. Deste modo, definiu cinco litofácies para a região de Uberaba e as denominou litofácies A, B, C, D e E e em cada uma delas associou os níveis fossilíferos com sua determinada fauna. BARBOSA & CASTRO (1993), em estudo realizado nos conglomerados basais (“casco de burro” segundo PIRES, 1982) da Formação Marília no Triângulo Mineiro, relataram a ocorrência de ventifactos. BARBOSA et al. (1993) apresentaram trabalho mostrando evidências de tectonismo ativo durante a sedimentação que originou as rochas do Grupo Bauru, no Triângulo Mineiro. LARA (1993), desenvolvendo trabalho de graduação junto à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), realizou mapeamento litoestratigráfico das rochas mesozóicas, na região de Ponte Alta e Uberaba, borda nordeste da Bacia do Paraná. Apesar do caráter restrito do trabalho, tratou-se de uma contribuição tanto para a determinação da área de ocorrência das unidades cretáceas, como para as considerações quanto ao seus ambientes deposicionais. FERREIRA Jr. & GUERRA (1993) apresentaram análise preliminar sobre o ambiente deposicional da Formação Uberaba, mostrando a influência do Soerguimento do Alto Paranaíba durante o ciclo sedimentar. FULFARO et al. (1994) descreveram as características tectonossedimentares da borda sul- goiana e sua importância na descrição das unidades litoestratigráficas do Grupo Bauru e os elementos que possibilitaram uma interpretação paleoambiental de toda a unidade. Segundo esses autores, o quadro estratigráfico geral daquela região, onde foi constatada a ocorrência de rochas da Formação Marília, é indicativo de leques fluindo do Arco de Bom Jardim de Goiás para rumo geral sul, em direção aos corpos lacustres da região de Quirinópolis. SILVA et al. (1994) atribuíram a gênese dos calcários maciços do Membro Ponte Alta a processos de calcretização a partir de fluxos de águas subterrâneas, em paralelo à incidência de fenômenos de calcretização pedogenética. Nesta interpretação, os calcários maciços do Membro Ponte Alta seriam análogos cretáceos brasileiros dos nonpedogenetic groundwater calcretes encontrados, atualmente, no deserto de Kalahari, na República da África do Sul, e no interior da Austrália. Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 25 SANTOS et al. (1994), após análise faciológica do Membro Serra da Galga, na região noroeste de Uberaba apontam um sistema fluvial entrelaçado com depósitos de preenchimento de canais, apresentando ciclos de granodecrescência ascendente e depósitos de barras transversais. Trabalhos de mapeamento de detalhe na região de Uberaba, visando a individualização, caracterização e empilhamento estratigráfico das unidades do Grupo Bauru foram realizados. Muito embora tratando-se de trabalhos restritos a pequenas áreas, permitiram um refinamento quanto ao conhecimento da faixa aflorante das unidades cretáceas na região, bem como ao comportamento estratigráfico das mesmas. Sobre esse tema , pode-se citar o trabalho de BARBOSA & LARA (1995). FERREIRA Jr. & GUERRA (1995), também trabalhando com uma escala detalhada, nas cercanias de Uberaba, aplicaram a análise de elementos arquitetônicos, proposta por MIALL (1985, 1988a e b), para discorrer sobre o ambiente deposicional das rochas sedimentares da Formação Uberaba. Com base no registro de macroformas, FERREIRA Jr. & GUERRA (op. cit.), sugeriram um estilo fluvial de rios entrelaçados com baixa a média sinuosidade para os arenitos da Formação Uberaba. FERREIRA Jr. et al. (1995), usando o mesmo método de análise de elementos arquitetônicos, apresentaram trabalho para subsidiar a prospecção de diamantes na Formação Uberaba, na região de Romaria. Para esses autores, a ausência de retrabalhamento dos conglomerados basais, dos depósitos arenosos e conglomeráticos sobrepostos sugeriu que a área estava em processo de subsidência, na época da deposição desta unidades, o que não permitiu o retrabalhamento e a concentração dos diamantes dos depósitos aluviais inferiores. Concluíram, portanto, que não seriam recomendadas campanhas de prospecção nos registros aluviais distais e fluviais da Formação Uberaba, pois estes depósitos não são frutos de retrabalhamento das conglomerados polimíticos diamantíferos basais. GOLDBERG (1995) apresentou uma reconstituição paleogeográfica da área do Triângulo Mineiro (MG) baseada em estudos na região de Uberaba e Campina Verde/Prata. Dividiu a sedimentação que originou o Grupo Bauru e dois estágios: Tempo 1- deposição das rochas das formações Uberaba e Adamantina em uma planície fluvial com retrabalhamento por ventos, sob clima semi-árido; Tempo 2 – deposição das rochas da Formação Marília em sistema fluvial com lagos alcalinos associados, em clima árido. Muitos trabalhos específicos sobre a diagênese das rochas calcárias da Formação Marília foram realizados nos últimos anos. Com base em estudos petrográficos, muitos autores buscaram respostas quanto à origem dos calcretes e silcretes, visto que a definição exata de suas origens, bem como sua distribuição, são fatores que auxiliam os trabalhos de cunho exploratório. Essas definições são de grandes importância, uma vez que, na região de Uberaba, os calcários são exploradas como matéria Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 26 prima para fabricação de cimento Portland (pedreira de calcário Ponte Alta) e como corretivo de solo (pedreiras de calcário Triângulo e Partesan). ALVES et al. (1993) através de estudos de catodoluminescência, encontraram evidências de isótopos estáveis em rochas do Membro Ponte Alta. ALVES (1995) e ALVES & GOMES (1995), baseados nos estágios eo, meso e telodiagenéticos de CHOQUETTE & PRAY (1970) e no regime hidrológico meteórico freático definido por GALLOWAY (1984), descreveram a história diagenética do Membro Ponte Alta, ocorrendo através da infiltração mecânica de argila, formação de calcretes, silcretes, atapulgita, sepiolita e dolomita, no estágio da eodiagênese; calcita e barita na mesodiagênese e dedolomitização ou calcitização de dolomita no estágio telodiagenético. Para aqueles autores, esta fase cimentante contribuiu significativamente para a formação das demais, principalmente na corrosão de silicatos com liberação de sílica e corrosão de feldspato com liberação de Ba para a formação de Barita. PRAÇA LEITE et al. (1995 a, b, c) realizaram trabalhos de reconhecimento de detalhe, levantamento de perfis, petrografia e análises de difratometria de raios X, para os arenitos e conglomerados do Membro Serra da Galga. Os autores concluíram que o ambiente deposicional dos sedimentos que deram origem às rochas do Membro Serra da Galga tratou-se de um sistema fluvial, entrelaçado sob condições climáticas semi-áridas. A análise detalhada dos perfis mostrou que a evolução do sistema entrelaçado foi responsável por uma superposição de ciclos de granodecrescência ascendente (fining upward), amalgamados. Estes ciclos são função da sedimentação episódica do sistema, ocasionada pela sazonalidade do clima árido, que se caracterizou por um regime de enxurradas cuja energia diminuía de forma gradual. Quanto à diagênese, PRAÇA LEITE et al. (op. cit.) afirmaram que os processos eodiagenéticos sofreram influência direta das águas superficiais, e por conseguinte, do regime climático reinante na região de deposição. Estes eventos eodiagenéticos tiveram papel preponderante não só pela sua grande extensão, como também pela quase total inibição de processos mesodiagenéticos, uma vez que obliteraram praticamente toda a porosidade primária das rochas. FERREIRA Jr. (1996) descreveu a Formação Uberaba como constituída por arenitos feldspáticos pobremente selecionados, cuja granulometria varia entre areia fina e muito grossa. O mesmo autor propôs um modelo deposicional para a Formação Uberaba, baseado na associação vertical de fácies e análise de elementos arquitetônicos. Em seu trabalho, FERREIRA Jr. (op. cit.) apontou um ambiente fluvial entrelaçado, marcado pela mobilidade lateral dos canais e fluxos aquosos perenes. Apesar de variações locais, os rios foram preenchidos predominantemente por macroformas de acréscimo a jusante, o que é sugestivo de uma baixa a média sinuosidade. Durante o período de baixa dos rios, os topos destas macroformas foram retrabalhados por um complexo de pequenos canais. Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 27 SGARBI (1996), com base em estudos micro-analíticos, identificou diopsídio como o principal clinopiroxênio existente tanto nos clastos vulcânicos como na matriz dos arenitos da Formação Uberaba, comprovando uma área fonte relacionada com as rochas alcalinas que ocorrem no Arco do Alto Paranaíba. O mesmo estudo mostrou a relativa ausência de augita e Fe-augita, piroxênios típicos dos basaltos que servem de substrato a esses sedimentos. Concluiu que a deposição dos arenitos da Formação Uberaba deu-se em uma bacia exorréica, não incorporando de modo significativo contribuições de seu substrato basáltico. FERNANDES & COIMBRA (1996) revisaram a litoestratigrafia do Grupo Bauru e apresentaram a evolução tectonossedimentar da Bacia Bauru, bem como sua evolução paleogeográfica ao longo do Cretáceo superior. RIBEIRO (1997), em sua dissertação de mestrado, identificou três associações de fácies para o Membro Serra da Galga, que indicam sistema fluvial tipo entrelaçado com ciclos de granodecrescência ascendente. Nesse trabalho RIBEIRO (op. cit.) fez um estudo sobre a diagênese do Membro Serra da Galga baseando-se em análises petrográficas detalhadas, difratometria de raios X, catodoluminescência e microscopia eletrônica de varredura (MEV). A interpretação está de acordo com o que foi proposto por PRAÇA LEITE et al. (1995c) e com a mesma seqüência diagenética proposta por ALVES (1995) para o Membro Ponte Alta. SGARBI & DARDENNE (1998) estudaram a evolução climática do Gondwana nas regiões centro - sul do Brasil (NNE da Bacia do Paraná e porção meridional da Bacia Sanfranciscana) e seus registros geológicos continentais durante o Mesozóico. Nesse trabalho, os autores sugeriram que as variações climáticas que ocorreram ao longo do tempo geológico estão relacionadas às concentrações anômalas de CO2, CH4 e outros gases na atmosfera terrestre. Ainda segundo SGARBI & DARDENNE (1998), com o término do Paleozóico, época em que imperavam condições climáticas amenas no Gondwana Centro-Sul e o subseqüente advento do Mesozóico, as terras do Gondwana assistiram à instalação do maior episódio de desertificação já registrado, que é atribuída à variação no teor de gases presentes na atmosfera. Este fato, associado ao Soerguimento do Alto Paranaíba, relacionado aos esforços intraplaca causados pela separação Brasil-África, teria condicionado a sedimentação nas bacias do Paraná e Sanfranciscana. Do Aptiano Inferior ao Campaniano o clima teria se tornado mais ameno, o que proporcionou sedimentação de leques aluviais e fluvial em condições de clima úmido. O Maastrichtiano mostra a retomada de um novo período árido na região. Sedimentos de borda de escarpa relacionados a leques aluviais da Formação Marília coroam o Grupo Bauru na Borda NNE da Bacia do Paraná. Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 28 FERNANDES (1998), embora não argumentando, admite que os depósitos de Romaria (MG) são mais antigos que os demais depósitos do Grupo Bauru. ALVES & RIBEIRO (1999) endossaram o que foi proposto por RIBEIRO (1997). ANDREIS et al. (1999) estudaram os arenitos da Formação Marília na região de Uberaba e propuseram que essa unidade é indivisa para aquela região, baseando-se principalmente na interpretação evolutiva das sucessões siliciclásticas como produzidas por processos deposicionais sem maiores interrupções. Segundo os diagramas QFL e LqLvLs de VALLONI (1985, apud ANDREIS et al., op. cit.) as amostras dos arenitos situam-se nos campos que indicam área-fonte do embasamento cratônico e embasamento acrescido, indicando que são derivados de uma região intraplaca continental afetada por falhamento, provavelmente relacionada com o soerguimento do embasamento por rifteamento progressivo. ETCHEBEHERE et al. (1999) estudaram o significado da calcretização por água subterrânea nas rochas da Formação Marília e propuseram que o esquema evolutivo desta calcretização tenha passado pelas seguintes fases: findo o ciclo deposicional da Formação Uberaba e a existência de uma rica fauna diversificada, estes depósitos foram expostos concomitantemente a uma mudança climática, o que causou a intensa calcretização por água subterrânea destes sedimentos, controlada pelas litofácies presentes. Segundo esses autores existe um hiato entre estes depósitos da Formação Uberaba e a posterior sedimentação da Formação Marília, incluindo o Membro Serra da Galga, bem como uma discordância entre as formações Uberaba e Marília. Incluíram o Membro Ponte Alta na Formação Uberaba e concluíram que o evento de calcretização se deu no intervalo de deposição entre a Formação Uberaba e Formação Marília. Do ponto de vista regional, HASUI et al. (1999) apresentaram a evolução Mesozóica - Cenozóica da Bacia do Paraná como sendo resultante de um estágio de soerguimento, marcado por formação de relevo e presença de magmatismo alcalino que gerou os pipes de Tapira, Araxá, Salitre, Serra Negra e Pântano, Kimberlito Coromandel, orientados na direção NW-SE a NNW-SSE, foco vulcânico de Patos de Minas, intrusão de São Gotardo e diatrema Bambuí - Flexura Mata da Corda. Segundo HASUI et al. (op. cit.), esse conjunto complexo de processos enfeixou a evolução do Soerguimento Alto Paranaíba. É possível também que o rifteamento que ocasionou o magmatismo já tenha se iniciado no final da deposição da Formação Uberaba, contudo foi mais proeminente a partir da instalação de todo o Grupo Bauru, caracterizado na área pelas formações Adamantina e Marília. Como principais estruturas controlando as rochas do Grupo Bauru e Formação Itaqueri tem-se notáveis alinhamentos NW-SE, entendidos como falhas normais com mergulhos voltados para SW, provavelmente vinculados a leques lístricos. Estas estruturas são seccionadas por falhas de Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 29 transferências orientadas a NE-SW, cuja cinemática ainda carece de mais dados para sua determinação (HASUI et al., op. cit.). FERREIRA Jr. & GOMES (1999) apresentaram estudo sobre a petrografia e diagênese das rochas da Formação Uberaba, classificando-as como litoarenitos e sublitoarenitos, segundo McBRIDE (1963). Segundo esses autores, a fase eodiagenética dessa unidade é marcada pela infiltração mecânica de argilas, favorecida pelas atividades vulcânicas do Soerguimento do Alto Paranaíba. GOLDBERG & GARCIA (2000), a partir de estudos sedimentológicos, paleontológicos e petrográficos, realizados nas regiões de Uberaba (MG) e Prata (MG), propuseram um modelo de evolução paleoclimática para a porção nordeste da Bacia do Paraná, durante o Cretáceo Superior. Para esses autores, as rochas terrígenas e carbonáticas do Grupo Bauru foram depositadas em ambientes fluvial, eólico e lacustre, sob condições de clima árido e semi-árido, com marcada sazonalidade, onde períodos de seca eram alternados com períodos de chuvas torrenciais. No referido trabalho, os autores apresentam um bloco diagrama com a reconstrução paleogeográfica e litoestratigráfica do Grupo Bauru nessas regiões, endossando as propostas de GOLDBERG (1995). FERNANDES & COIMBRA (2000) apresentaram trabalho de revisão estratigráfica, em âmbito regional para a Bacia Bauru, endossando as propostas de FERNANDES (1998). Nesse trabalho, os autores redescreveram as características litoestratigráficas das unidades que compõem o Grupo Bauru, formalizando-as segundo o Código de Nomenclatura Estratigráfica Brasileiro. Assim como em FERNANDES (1998), FERNANDES & COIMBRA (op. cit.) admitem que os depósitos de Romaria (MG) são mais antigos que os demais depósitos do Grupo Bauru. RIBEIRO (2000) apresentou trabalho específico sobre a caracterização dos silcretes do Membro Serra da Galga, mostrando que a principal fonte de sílica para formação desses silcretes esteve condicionada à dissolução de minerais siliciclásticos durante a fase inicial da diagênese. Nos últimos anos, muita atenção tem sido dada aos estudos para determinação da idade de deposição das rochas do Grupo Bauru, tanto no Triângulo Mineiro como em território paulista, com destaque para GOBBO-RODRIGUES et al. (2000a, b e c), DIAS-BRITO et al. (2001), BERTINI et al. (2000), SANTUCCI & BERTINI (2001), GOBBO-RODRIGUES (2001), GOBBO-RODRIGUES (2002), DIAS-BRITO et al. (2002), MUSACCHIO et al. (2002), SANTUCCI & BERTINI (2002) e TAMRAT et al. (2002). RIBEIRO (2001) realizou estudo sobre a petrografia e diagênese das rochas do Membro Serra da Galga (Formação Marília), constatando que a predominância de eventos associados à eodiagênese mostram íntima relação com as condições climáticas de semi-aridez. A autora identificou também a presença de argilas mecanicamente infiltradas, sob a forma de cutículas envolvendo os grãos do Batezelli, A. – Análise da Sedimentação Cretácea no Triângulo Mineiro e sua Correlação com Áreas Adjacentes. 30 arcabouço e como agregados compactos que obliteram, localmente, o espaço poroso da rochas e inibem o desenvolvimento parcial das fas