UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CÂMPUS DE JABOTICABAL RESPOSTA FISIOLÓGICA E MOLECULAR DE DOIS GENÓTIPOS DE MILHO À LIMITAÇÃO HÍDRICA Rafaela Josemara Barbosa Queiroz Engenheiro Agrônomo, MSc. JABOTICABAL - SÃO PAULO - BRASIL Outubro de 2010 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS CÂMPUS DE JABOTICABAL RESPOSTA FISIOLÓGICA E MOLECULAR DE DOIS GENÓTIPOS DE MILHO À LIMITAÇÃO HÍDRICA Rafaela Josemara Barbosa Queiroz Orientador: Prof. Dr. Jairo Osvaldo Cazetta Coorientador: Prof. Dr. José Frederico Centurion Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp, Câmpus de Jaboticabal, como parte das exigências para obtenção do grau de Doutor em Agronomia – Área de concentração Produção Vegetal. JABOTICABAL - SÃO PAULO - BRASIL Outubro de 2010 Queiroz, Rafaela Josemara Barbosa Q3a Resposta fisiológica e molecular de dois genótipos de milho à limitação hídrica. – Jaboticabal, 2010 xi, 154f.; 28 cm Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 2010 Orientador: Jairo Osvaldo Cazetta Coorientador: José Frederico Centurion Banca examinadora: Manuel Pedro Salema Fevereiro, Carlos Alberto Martinez Y Huaman, Janete Aparecida Desidério, David Ariovaldo Banzatto Bibliografia 1. Zea mays 2. Osmoprotetores. 3. Estresse hídrico I. Título. II. Jaboticabal – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. CDU 633.61 Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação – Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de Jaboticabal. DADOS CURRICULARES DO AUTOR RAFAELA JOSEMARA BARBOSA QUEIROZ - nascida em São Luis, Maranhão, em 19 de novembro de 1980, é Engenheiro Agrônomo, pela Universidade Federal Rural da Amazônia – Belém, PA. Título esse concedido em 06 de novembro de 2003. Durante a graduação, foi bolsista de Iniciação Científica do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), participando ativamente em projetos de pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Amazônia Oriental). Obteve título de Magister Scientiae pelo programa de Pós-Graduação em Agronomia (Produção Vegetal) da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Câmpus de Jaboticabal. Em Junho de 2006 foi aprovada para Curso de Doutoramento na mesma área e instituição em que realizou o Mestrado. Em Março de 2009, foi selecionada e contemplada com bolsa “sandwich” para desenvolver parte da sua tese no exterior por meio do Programa de Doutoramento no País com Estágio no Exterior Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal Superior (PDDE-CAPES). A verdadeira beleza da ciência está em saber não saber, em preferir ter mil dúvidas a uma certeza. Em compreender que os “achados” podem ser relativos, passíveis e mutáveis. É ter prazer em desvencilhar-se deles, sem medos; pois “saber não é uma supremacia sobre o quê os outros não sabem, e sim um asilo dos achados de outros”. E é isso que me instiga a uma incessante busca dos porquês... Penetrando-me cada vez mais aos meus deslumbramentos e devaneios científicos... Rafaela Josemara Barbosa QueirozRafaela Josemara Barbosa QueirozRafaela Josemara Barbosa QueirozRafaela Josemara Barbosa Queiroz (Inverno Jaboticabalense de 2008) "Entender é sempre limitado. Mas não entender... pode não ter fronteiras..." [ Cecília Meireles ] AA DDeeuuss,, ssoobbrreettuuddoo,, ppoorr mmee ccoonncceeddeerr mmuuiittaass ggrraaççaass!! MMeeuu aalliicceerrccee ee aalliimmeennttoo ddiiáárriioo ddee mmiinnhhaa aallmmaa.. OFEREÇO ÀÀ MMiinnhhaa aammaaddaa MMããee,, MMaarraa IInnêêzz,, aa qquueemm ddeevvoo mmiinnhhaa vviiddaa ee ttuuddoo qquuee ggaallgguueeii aattéé hhoojjee!! MMiinnhhaa IInnssppiirraaççããoo,, MMiinnhhaa VViiddaa!! AAoo mmeeuu ggrraannddee aammoorr,, MMaarrcceelloo ((ccaarriinnhhoossaammeennttee JJuunniioorr)),, AAooss mmeeuuss qquueerriiddooss iirrmmããooss SSaauulloo,, PPaauullaa ee FFeelliippee,, aa mmiinnhhaa VVoovvóó IInnêêzz ((iinn mmeemmoorriiaamm)),, aaoo mmeeuu PPaaii JJoosséé MMaarriiaa,, aaooss mmeeuuss ““bboonnssddrraassttooss””:: AArrlliiss ee DDuullccee,, aaooss mmeeuuss ttiiooss,, aaooss pprriimmooss ee aaooss mmeeuuss aammiiggooss!! TTooddooss!! SSeemmpprree mmee iinnssttiiggaarraamm aa ccoorrrreerr aattrrááss ddooss mmeeuuss ssoonnhhooss ee aa nnããoo eessmmoorreecceerr ffrreennttee aaooss oobbssttááccuullooss.. DEDICO AGRADECIMENTOS Ainda que uma tese seja um trabalho individual, há contribuições de natureza diversa que não podem, nem devem deixar de ser ressaltadas. Por esse motivo, desejo expressar os meus sinceros agradecimentos: A Deus, meu Pai Celestial e Guia. À minha família, minha Mãe Mara Inêz Mascarenhas Barbosa, meus Irmãos, Saulo José Barbosa Queiroz e Paula Jéssica Chaves da Costa Barbosa, minha cunhada Geovanna Oliveira Machado Queiroz e claro, aos meus filhotes Yorkshires, Rubisco e Susy, e também meu Pitt Bull Bb bizon, meu primogênito. Vocês são as Borboletas do meu Jardim! Passamos pelas crisálidas da vida, mas nós transformamos nossas vidas num imenso, perene e colorido jardim! Ao meu grande amor, meu marido, Marcelo Lira Pinheiro, pelo incentivo, carinho, amizade e amor a mim confiados; principalmente, pela paciência em esperar o término da Pós-Graduação, mostrando-me que seu amor é inabalável e persistente; fazendo-me acreditar que para “estar junto” não-necessariamente se precisa estar perto”. Você é a Ágape da minh’alma... Ao Prof. Dr. Jairo Osvaldo Cazetta que me norteou desde os tempos de Mestrado, cujo valor e contribuição em minha formação são incalculáveis. Mostrou-me que para orientar, antes de tudo, é necessário ser amigo e ter muita paciência e, principalmente, humildade. Para ele nunca foi um demérito dizer: - Vamos aprender juntos! Pelo contrário, asilou-se de conhecimentos; e isso, para mim, é fazer ciência! O que o faz grande, em todos os aspectos: Número, Gênero e Grau! Ao Prof. Dr. José Frederico Centurion pelas orientações prévias à montagem do ensaio experimental e Coorientação nas pesquisas da tese. Ao Prof. Dr. Manoel Pedro Salema Fevereiro que sempre se mostrou solícito ao pedido do doutoramento “sandwich”, sobretudo a sua receptividade em realizar parceria com Instituições acadêmico-científicas brasileiras, bem como o quadro de Investigadores Científicos do LBCV. Ao Prof. Dra. Mara Cristina Pessoa da Cruz, pelo auxílio e interpretação das análises de solo, bem como implantação do manejo nutricional do experimento. Aos Pesquisadores, Dr. Eniel David Cruz e Dr. Moacyr B. Dias-Filho da Embrapa Amazônia Oriental, meus queridos e eternos orientadores, mestres e amigos, a quem sempre disponho para conselhos profissionais e pessoais, responsáveis pelos meus “despertar” e “aguçar” à pesquisa científico-acadêmica. Aos “irmãozinhos” de Pós-Graduação da Unesp/FCAV, Marcos Donizete Revoredo e Helen Cristina de Arruda Rodrigues, e ao antigo orientado e “escragiário” Guilherme Batista do Nascimento (Power), às estudantes de graduação, Jacqueline Nayara Ferraça Leite (Abafa), Cilene Cristina Mathias Mazzarelli (Dou-méstica), Nayara Patrícia Morotti (Philco), Mariana Gianneschi Demetrio (Mariza, Mãe), Amanda de Faria Santos (Dou-rada) e Jaqueline Cristina Fernandes (Sinistra), pela solicitude durante a condução do ensaio experimental e análises, convívio e amizade. Aos colegas do Laboratório de Análises Química e Bioquímica de Plantas (Unesp/FCAV), sempre dispostos a deixar a realização das tarefas mais prazerosa e menos maçante. Aos amigos decênios Maria das Graças Sant’Anna Ferreira dos Santos, Poliana Bento Bejo Altafim, Juliana Regina Rossi, Milena do Nascimento e suas respectivas famílias e a Família Valadão. Que nunca deixaram esmorecer os laços de amizade. Às minhas queridas irmãs e (ex) companheiras da república “Farfaruei”, Vanessa Cristiane Vollet; Natacha Deboni Cereser; Fernanda Malva Ramos Costa; Juliana Moraes Boldini; Johanna Ramírez Díaz; Sônia Regina Alves Tagliari; Greicy Mitzi Bezerra Moreno; Meire Aparecida Silvestrini Cordeiro; Verónica Gonzalez Cadavid; Ludmilla Carregari e à agregada mor Samira Domingues Carlin Cavallari pela amizade, incentivo, convivência alegre, paciência mútua, descobertas, pelos sorrisos e situações inusitadas, porém, divertidas, compartilhadas; pelo apoio nos momentos mais difíceis durante a conclusão do Mestrado e andamento do Doutorado. Saibam que mesmo em um lugar muito, muito longe, sempre me lembrarei dos anos, meses, dias, horas, segundos partilhados com vocês! À Família Vollet, minha segunda família, que amenizaram a saudade de minha casa, deixando-me fazer parte das suas vidas! Temos um laço afetivo que nem o tempo e o espaço o desatarão. A todos meus amigos e colegas do curso de Pós-Graduação, pela troca de experiências, ensinamentos e bons momentos partilhados. Aos meus primeiros alunos de graduação, Turma Bio08 da Unesp/FCAV, que foram pacientes em assistir aulas de uma eterna aprendiza! Porém, que responderam, grandiosamente, às exigências da disciplina de Química I; saibam que vocês tornaram-me uma pessoa melhor e que houve um aprendizado mútuo! Espero ter despertado em vocês o gosto em obter mais e mais conhecimento! Aos funcionários da Unesp/FCAV, pelo apoio infra-estrutural . À Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp/FCAV), ao Programa de Pós-Graduação em Agronomia/Produção Vegetal (PG/PV), bem como seu corpo docente, pela oportunidade e contribuição em minha formação profissional e aos Departamentos de Tecnologia e Biologia Aplicada à Agropecuária pelo apoio e uso infra-estrutural para realização desta pesquisa. À Coordenação de Aperfeiçoamento Superior (CAPES), pela concessão da bolsa de estudos de doutoramento no Brasil e pela bolsa “sandwich” para estágio no Exterior. “E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, se não tivesse amor, nada seria... agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido... Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor. (1 Cor-13, 2;12-13) ix SUMÁRIO Página RESUMO.......................................................................................................................... x SUMMARY ...................................................................................................................... xi CAPÍTULO 1: Considerações Gerais .......................................................................... 04 CAPÍTULO 2: Reação osmoprotetora na germinação de sementes de milho sob crescente potencial hídrico......................................................................................18 2.1. Introdução......................................................................................................20 2.2. Material e Métodos...........................................................................................21 2.3. Resultados e Discussão.....................................................................................24 2.4. Conclusões......................................................................................................35 2.5. Referências Bibliográficas..................................................................................35 CAPÍTULO 3: Tolerância de dois híbridos de milho à seca .......................................... 39 3.1. Introdução......................................................................................................41 3.2. Material e Métodos...........................................................................................43 3.3. Resultados e Discussão.....................................................................................48 3.4. Conclusões......................................................................................................63 3.5. Referências Bibliográficas..................................................................................64 CAPÍTULO 4: Quantificação da expressão gênica relativa do milho em resposta à disponibilidade hídrica no solo por meio de qRT-PCR.................................................70 4.1. Introdução......................................................................................................72 4.2. Material e Métodos...........................................................................................76 4.3. Resultados e Discussão.....................................................................................89 4.4. Conclusões.....................................................................................................113 4.5. Referências Bibliográficas................................................................................113 Considerações finais..............................................................................................118 APÊNDICE............................................................................................................119 x RESPOSTA FISIOLÓGICA E MOLECULAR DE DOIS GENÓTIPOS DE MILHO À LIMITAÇÃO HÍDRICA RESUMO – Nesta pesquisa foi avaliado o metabolismo de dois genótipos de milho (Zea mays L.) ao estresse hídrico e a correlação entre o teor de compostos responsáveis pela a aclimatação à limitação hídrica desses genótipos na germinação e no estádio vegetativo. Foram instalados dois experimentos. Inicialmente, um ensaio de germinação foi montado com o objetivo de verificar a tolerância de dois genótipos de milho, DKB 390 e DAS 2B710 ao déficit hídrico e de quantificar a prolina e a trealose nos tecidos endospermático e embrionário com intuito de descrever as suas funções fisiológicas na germinação. O segundo avaliou o ajustamento osmótico através das respostas bioquímicas e fisiológicas e moleculares de dois híbridos de milho sob duas disponibilidades hídricas no solo, em um latossolo vermelho. A partir desses resultados, verificou-se a tolerância destes híbridos a seca nesse estádio e o reflexo da expressão relativa de genes relacionados à síntese de solutos compatíveis em reposta à limitação hídrica no solo. Palavras-Chave: Zea mays, solutos compatíveis, expressão gênica relativa, mRNA, tolerância, seca. xi PHYSIOLOGICAL AND MOLECULAR RESPONSE OF TWO MAIZE GENOTYPES TO WATER RESTRICTION SUMMARY – The metabolism of maize genotypes (Zea mays L.) to soil water avaibility and the correlation between the content of compounds responsible for this acclimation to water limitation of these genotypes at the germination and the silking stage. Two experiments were carried out. First, the germination test was evaluated the tolerance of two genotypes of maize, DKB 390 and DAS 2B710 to water available and also to quantify the proline and trehalose in the endosperm and embryonary axis tissues with the aim of describe their physiological functions in germination. The second assay it was examined the osmotic adjustment through biochemical and physiological responses of two hybrids growing in two soil water availability. The results of that experiment, checking the degree of tolerance of these hybrids and the reflection of the gene expression related to synthesis of these compatible solutes in response to soil water availability. Keywords: Zea mays, compatible soluble, relative gene expression, mRNA, tolerance, drought 1 CAPÍTULO 1. CONSIDERAÇÕES GERAIS 1.1. Introdução O milho (Zea mays L.), uma das gramíneas de maior importância econômica do mundo, é cultivado em países de clima tropical, subtropical e de clima temperado com verões quentes. O estresse pela baixa disponibilidade hídrica (seca) é um dos principais problemas da agricultura e a habilidade das plantas para resistir a tal estresse é de suma importância para o desenvolvimento do agronegócio de qualquer país. Estudos de tolerância à seca envolvendo o milho podem trazer melhorias no crescimento e no rendimento da cultura em regiões com limitação hídrica, já que o milho é conhecido pela sua alta sensibilidade a este estresse. Grandes avanços em estudos sobre melhoramento do milho para a seca têm trazido resultados satisfatórios, gerando genótipos tolerantes. Contudo, pouco é conhecido sobre os mecanismos fisiológicos para a tolerância à seca. Nesse sentido, a caracterização dos materiais genéticos, assim como a elucidação dos possíveis mecanismos responsáveis pelo comportamento diferencial de genótipos sob condição de estresse, pode facilitar o processo de geração de novos materiais genéticos, além de contribuir para o desenvolvimento de técnicas de seleção que podem reduzir o tempo e o trabalho para avaliação de fontes genéticas de tolerância ao estresse hídrico. Diante do exposto, é importante que se estude o acúmulo de solutos compatíveis e a expressão gênica de enzimas-chaves que regulam a biossíntese desses compostos e se estes influenciam na tolerância de plantas de milho submetidas a condições subótimas de água disponível no solo. 2 1.2. Revisão de Literatura: 1.2.1. O cultivo do milho propenso à limitação hídrica no solo Previsões meteorológicas, através de projeções de modelos de simulação climática, indicam um aumento do aquecimento global nas próximas décadas, sendo esperada até o final do século XXI, uma variação de 1,4 a 5,8 ºC na temperatura. Em decorrência disso, fenômenos como as secas são eminentes. Estima-se que este aquecimento reduzirá em 20% a disponibilidade de água, não apenas nas zonas propensas à seca, mas também nas regiões tropicais e subtropicais. Posto isso, deduz- se que uma grave crise hídrica é esperada, pois a falta de água dificultará o aumento da área agrícola irrigada e, consequentemente, a produção de alimentos, não havendo água suficiente para a agricultura, que é responsável por 70% do consumo mundial (Revisado por VIDAL et al., 2005). De acordo com o cenário traçado pelos especialistas, as grandes culturas terão suas áreas de cultivo reduzidas praticamente pela metade quando a temperatura média da Terra estiver 5,8 ºC acima da atual, situação prevista para ocorrer num prazo de 50 a 100 anos (TILMAN et al., 2001). O milho é cultivado em regiões cuja precipitação varia de 300 a 5.000 mm anuais, sendo que a quantidade de água consumida por uma planta, durante o seu ciclo, está em torno de 600 mm, apresentando relativa tolerância à limitação hídrica durante a fase vegetativa. Porém, apresenta extrema sensibilidade na fase reprodutiva. Dois dias de estresse hídrico no florescimento diminuem o rendimento em mais de 20%, e quatro a oito dias no estádio de enchimento de grãos diminuem em mais de 50%. O aumento na deposição de matéria seca nos grãos está intimamente relacionado à fotossíntese e, uma vez que o estresse afeta este processo, reduz a produção de 3 carboidratos, implicando em menor acúmulo de matéria seca nos grãos (MAGALHÃES et al., 2002). Na maioria das áreas cultivadas com milho no mundo, a ocorrência de seca ou períodos de estresse hídrico são fatores abióticos causadores de substanciais reduções na produtividade. No Brasil, as áreas cultivadas com milho são predominantemente desenvolvidas sem irrigação e mesmo em anos regulares de precipitação pluvial observam-se, normalmente, perdas na produção em virtude de períodos de estiagem denominados “veranicos”. As oscilações nas safras de milho, das principais regiões produtoras do Brasil, estão associadas à disponibilidade de água, sobretudo no período crítico da cultura. Por isso é fundamental avaliar os efeitos da disponibilidade hídrica durante todo ciclo da cultura. Os efeitos dos fatores climáticos no crescimento e desenvolvimento, assim como, a partição de assimilados entre os órgãos são importantes nas taxas de crescimento da cultura (MAGALHÃES et al., 2009). O solo e a atmosfera são os constituintes físicos do ambiente no qual a maioria das espécies vegetais de interesse agronômico cresce e se desenvolve. São eles que fornecem, de forma natural, as substâncias necessárias ao crescimento e ao desenvolvimento das plantas, regulando a magnitude desses processos com o concurso da energia disponível no meio (ANGELOCCI, 2002). A restrição causada pela baixa disponibilidade de água do solo ou pela alta demanda evaporativa acionam certos mecanismos bioquímico-fisiológicos que permitem aos vegetais tolerar essas limitações climáticas. Dentre os mecanismos que contribuem para a tolerância à seca, os que têm sido discutidos pela comunidade científica é o ajustamento osmótico. Esse, por sua vez, inclui adaptações fisiológicas e bioquímicas de mecanismos que mantém o turgor celular em condições de baixo potencial hídrico celular, pelo acúmulo e translocação de solutos compatíveis nas células (VERSLUES et al., 2006). 4 1.2.2. Resposta de plantas ao déficit hídrico: aspectos bioquímico-fisiológicos e moleculares O estresse é geralmente definido como um fator externo que exerce uma influência desvantajosa sobre a planta. Esse conceito está intimamente associado com tolerância ao estresse, que é a capacidade da planta para enfrentar as condições desfavoráveis. Já a tolerância à seca é a aptidão da planta para enfrentar um ambiente desfavorável. Se a tolerância aumenta como consequência da exposição anterior ao estresse, diz-se que a planta está aclimatada (TAIZ & ZEIGER, 2010). Em ambas as condições, naturais e agrícolas, fatores ambientais, como temperatura do ar, podem tornar-se estressantes em apenas alguns minutos. Conteúdo de água no solo pode levar dias ou semanas, enquanto que outros fatores como a deficiência mineral do solo, podem levar meses para se tornar estressantes. Respostas celulares ao estresse podem incluir mudanças no ciclo e divisão celular, as membranas celulares, a arquitetura da parede celular e metabolismo, por exemplo, a acumulação de substâncias osmoticamente ativas (BRAY et al., 2001). 5 Figura 1. Resposta de plantas ao estresse hídrico (adaptado de BRAY et al., 2001). O déficit hídrico em plantas inicia um complexo de respostas (Figuras 2 e 3), começando com a percepção do estresse, o qual desencadeia uma cascata de eventos moleculares que é finalizada em vários níveis de respostas fisiológicas, metabólicas e de desenvolvimento. Em termos moleculares, o sinal de estresse, uma vez produzido pela célula vegetal, deve ativar uma rota de transdução que envia esta mensagem aos fatores de transcrição, que regulam a expressão dos genes encarregados da resposta ao estresse. A perda do volume e da turgescência celular ou a concentração de solutos altera a conformação de proteínas da parede celular e da membrana plasmática da célula vegetal, ativando rotas de transdução de sinais que dão lugar à expressão de determinados genes, transformando assim o fenômeno físico do déficit hídrico em uma resposta bioquímica (BRAY et al., 2001). Mudanças Mudanças Mudanças Mudanças no genótipono genótipono genótipono genótipo SusceptibilidadeSusceptibilidadeSusceptibilidadeSusceptibilidade ACLIMATAÇÃOACLIMATAÇÃOACLIMATAÇÃOACLIMATAÇÃO SobrevivênciaSobrevivênciaSobrevivênciaSobrevivência CrescimentoCrescimentoCrescimentoCrescimento ADAPTAÇÃOADAPTAÇÃOADAPTAÇÃOADAPTAÇÃO VariedadesVariedadesVariedadesVariedades MutantesMutantesMutantesMutantes MORTEMORTEMORTEMORTE E S TR ES S E H ÍD R IC O E S TR ES S E H ÍD R IC O E S TR ES S E H ÍD R IC O E S TR ES S E H ÍD R IC O SeveridadeSeveridadeSeveridadeSeveridade Número de Número de Número de Número de exposiçõesexposiçõesexposiçõesexposições CombinaçãoCombinaçãoCombinaçãoCombinação de estressesde estressesde estressesde estresses Características Características Características Características da plantada plantada plantada planta Órgão Órgão Órgão Órgão ou ou ou ou tecido tecido tecido tecido afetadoafetadoafetadoafetado Estádio Estádio Estádio Estádio de de de de desenvolvimentodesenvolvimentodesenvolvimentodesenvolvimento GenótipoGenótipoGenótipoGenótipo ResultadosResultadosResultadosResultadosRespostasRespostasRespostasRespostas EscapeEscapeEscapeEscape R e si st ên ci a R e si st ên ci a R e si st ên ci a R e si st ên ci a TolerânciaTolerânciaTolerânciaTolerânciaDuraçãoDuraçãoDuraçãoDuração CaracterísticasCaracterísticasCaracterísticasCaracterísticas do estressedo estressedo estressedo estresse 6 Figura 2. Modelo esquemático de um complexo de respostas à limitação hídrica (adaptado de BRAY et al., 2001). Essas substâncias osmoticamente ativas são moléculas ou íons atóxicos que não interferem no metabolismo e se acumulam predominantemente no citoplasma, onde têm função de manter a turgescência celular, além de estabilizar proteínas e estruturas celulares nas condições subótimas dos fatores ambientais. O potencial osmótico da solução celular, ou simplástica pode aumentar por perda de água ou por aumento da síntese desses solutos (ANGELOCCI, 2002). Há algum tempo, adota-se a hipótese de que o ajuste osmótico (osmoproteção) é uma característica importante de aclimatação que confere vantagens às plantas tolerantes ao estresse hídrico, porque é um modo de se manter o conteúdo de água da célula em níveis adequados à atividade fisiológica (TAIZ & ZEIGER, 2010). No entanto, existe outra vertente, que faz ressalvas ao ajuste osmótico como um mecanismo de Alterações no Alterações no Alterações no Alterações no metabolismo celularmetabolismo celularmetabolismo celularmetabolismo celular Percepção Percepção Percepção Percepção estresseestresseestresseestresse Transdução Transdução Transdução Transdução dos sinaisdos sinaisdos sinaisdos sinais Modificações bioquímicoModificações bioquímicoModificações bioquímicoModificações bioquímico---- fisiológicasfisiológicasfisiológicasfisiológicas , es Problema: a parte que “percebe” (raízes) não é a mesma que “gasta” água (folhas) Solução: um sinal deve ser derivado das raízes para os ramos e folhas 7 manutenção da turgescência e do crescimento do tecido sob deficiência hídrica ou estresse, pois o processo seria limitado pela própria fotossíntese, que é a fonte de solutos orgânicos, que em condições de estresse hídrico é reduzida (SERRAJ & SINCLAIR, 2002). Figura 3. A complexidade da resposta das plantas ao estress abiótico (adaptado de Prata, 2008 apud VINOCUR & ALTMAN, 2005). Estresse Secundário Estresse Osmótico Estresse Oxidativo Seca Frio Sal Calor Poluição Química Falha na homeostasia osmótica e iônica; Danos de proteínas funcionais e de estrutura e membranas. Mecanismos de resposta ao estresse Sinais sensoriais, percepção e transdução Chaperoninas funcionais (Hsp, SP1, LEA) Movimento de moléculas água e íons (aquaporinas, transportadores de íons) Desintoxicação Osmoproteção: prolina, açúcares, polióis, etc. Controle da transcrição Osmosensores, enzimas de clivagem de fosfolipídios e mensageiros secundários (e.g. Ca2+, ROS), MAP cinases, sensores de Ca2+ e proteínas cinases dependentes de cálcio. Fatores de transcrição Ativação de Genes Restabelecimento de homeostase celular, proteção de proteínas funcionais e de estrutura e membranas. Tolerância ao estresse 8 Assim, uma função do ajuste osmótico poderia estar potencialmente ligada à eliminação de radicais livres, mas gerando, como função adicional, a retenção de água (revisado por ANGELOCCI, 2002). O estresse hídrico quebra o equilíbrio oxidativo/redutivo (redox) em várias organelas celulares, como os cloroplastos e as mitocôndrias. O declínio na funcionalidade dos cloroplastos, inevitavelmente, leva à geração de espécies como radicais livres. O estresse desempenha importante função na determinação de como o solo e o clima limitam a distribuição de espécies vegetais. O estresse é medido em relação à sobrevivência da planta, produtividade agrícola, crescimento (acúmulo de massa seca), processo primário de assimilação (absorção de CO2 e de minerais), que estão relacionados ao crescimento e desenvolvimento vegetal (TAIZ & ZEIGER, 2010). Dentre os mecanismos de tolerância ao estresse hídrico, variações das respostas fisiológicas, bioquímicas, bem como estratégias de crescimento têm sido comparadas e discutidas em relação a características de tolerância de plantas à deficiência hídrica no solo (STRECK, 2004; BARTELS & SUNKAR, 2005). O grau de tolerância de uma espécie ou cultivar pode ser determinado através da capacidade de acumular solutos compatíveis, os quais, além de atuarem no ajustamento osmótico, protegem as estruturas celulares contra os danos induzidos pela desidratação e oxidação (ANAMI et al., 2009). Por essa razão o nome soluto compatível utilizado algumas vezes para designar estes osmólitos não é o mais apropriado devido estes compostos não serem apenas compatíveis, ou seja, não prejudiciais quando em elevada concentração, mas também protetores. Medidas da variação da concentração de solutos têm sido usadas como meio para avaliar a capacidade de ajustamento osmótico das plantas. Supõe-se que o estresse hídrico pode afetar vias metabólicas ou "bombas" de íons ou causar um desbalanceamento entre fotossíntese e translocação de solutos. O grau de ajustamento osmótico na escala diária e em médio prazo varia bastante entre as espécies e até 9 mesmo entre genótipos. Desenvolve-se, preferencialmente, em plantas que sofrem uma secagem lenta, não persistindo mais que alguns dias. As reações bioquímicas e fisiológicas em resposta ao estresse hídrico podem ser monitoradas através de alterações do padrão de expressão atividade que codificam determinadas enzimas, como a nitrato redutase, glutamina sintetase, sacarose sintase, trealase-fosfato-sintase, trealase, entre outras. O aumento ou redução da expressão de um gene em plantas submetidas a condições de déficit hídrico pode ser fator determinante da capacidade de aclimatação dessas plantas, podendo ser identificada como um marcador molecular de tolerância ao estresse (VINOCUR & ALTMAN, 2005). Por exemplo, alterações no metabolismo a nível molecular provocam, entre outras reações, redução no teor de proteínas, como conseqüência da redução na sua síntese ou na decomposição acentuada, resultando uma liberação reforçada de aminoácidos. Neste caso há um acréscimo da atividade da enzima glutamina sintetase, responsável pelo metabolismo dos aminoácidos, como a prolina (FERREIRA et al., 2002). Um exemplo de redução da atividade enzimática é o decréscimo da conversão da sacarose para amido nas folhas devido à diminuição da atividade da invertase, enzima- chave que converte sacarose para hexose (SILVA & ARRABAÇA, 2004). Entretanto, o estudo da atividade de enzimas de catabolismo de solutos compatíveis também é importante, como a trealase. Esta enzima responsável pela hidrólise da trealose tem atividade mais acentuada em plantas que as enzimas de síntese, pois para que este dissacarídeo funcione como osmoprotetor, deve estar em concentrações baixas nos tecidos vegetais, pois existem evidências científicas de que quando presente em altas concentrações influencia negativamente nas chaperoninas, que são responsáveis pela homeostase das proteínas (WINGLER, 2002). A habilidade de algumas espécies ou genótipos de ajustar osmoticamente suas células em condições de estresse hídrico é uma resposta bioquímica-fisiológica que indica a capacidade destes organismos em aumentar a tolerância a períodos curtos de seca (NEPOMUCENO et al., 2001). Muitos trabalhos evidenciam que o acúmulo da 10 trealose e da prolina livre constitui-se em um critério para estudos de tolerância à seca, sendo estes osmoprotetores utilizados como indicadores bioquímico-fisiológicos de estresse hídrico (VINOCUR & ALTMAN, 2005; ANAMI et al., 2009; ROSA et al., 2009, DÍAZ et al., 2010). Em condições de estresse, o metabolismo de aminoácidos é amplamente alterado, sendo a síntese de proteínas diminuída e a proteólise aumentada. Como uma consequência disto, ocorre a indução da biossíntese de prolina promovida pelo incremento de metabólicos como poliaminas, amônia, arginina, ornitina, glutamina, glutamato (FERREIRA et al., 2002). Várias funções são propostas a este acúmulo: ajustamento osmótico; reserva de carbono e nitrogênio utilizados no crescimento para restabelecimento após estresse; desintoxicação do excesso de amônia; estabilizador de proteínas e membranas e eliminadores de radicais livres. Adicionalmente, existem evidências de que a biossíntese desse aminoácido poderia estar também associada à regulação do pH citosólico ou mediação do incremento da razão NADP+/NADPH, influenciando o fluxo de carbono devido à via oxidativa da pentose fosfato. Além disso, pode atuar como fonte acessível de energia, onde uma única molécula oxidada é capaz de produzir 30 ATP (KAVI KISHOR et al., 2005). A prolina livre é classificada como um “α – iminoácido”, pois seu grupo amino está ligado a dois átomos de carbono, conferindo características de neutralidade à molécula. O acúmulo deste aminoácido pode ocorrer por duas vias paralelas nas plantas, uma direta e outra via ornitina (KAVI KISHOR et al., 2005). A principal diferença entre as duas vias está na acetilação dos intermediários em uma delas. Pela via direta (dependente de glutamato), após a formação do glutamato semi-aldeído, a molécula se transforma em uma estrutura cíclica (∆’-pirrolina-5- carboxilato), precursor da prolina. A estrutura cíclica é formada pela reação intra- molecular (não-enzimática) dos grupos amino e aldeído do glutamato-semi-aldeído. Na via dos derivados acetilados (dependente de ornitina), a presença dos grupos acetil ligado ao grupo 2-amino impede essa reação interna, e uma estrutura aberta, a ornitina, 11 é formada. A ornitina pode ainda levar à formação da estrutura cíclica da prolina, após perda do grupo amino por transaminação. Embora as duas vias de biossíntese de prolina livre sejam igualmente importantes em condições normais, existem evidências que favorecem a via direta do glutamato (sem acetilação) em condições de estresse hídrico (BARTELS & SUNKAR, 2005; FUNCK et al., 2008). Figura 4. Rota metabólica do aminoácido prolina. NONONONO3333 ---- NONONONO2222 ---- NHNHNHNH3333 RN RNi ∆∆∆∆ ’Pirrolina 5’- Carboxilato sintetase Redutase nitrato Glutamina sintetase ∆∆∆∆ ’Pirrolina 5’- Carboxilato redutatase Pro oxigenase Ortina aminotransferase 12 Quando ocorre a assimilação de uma fonte de nitrogênio (amônio) pela planta, esta exige uma alta demanda por esqueletos de carbono que poderia ocasionar em um desvio de esqueletos de carbono para produção desse aminoácido (TAIZ & ZEIGER, 2010). Entretanto, estudos indicam que a prolina desempenha um importante papel durante o desenvolvimento das plantas servindo como uma fonte rápida e acessível de energia. Além disso, a oxidação de uma molécula de prolina fornece 30 ATPs para a célula. Neste contexto, é importante saber como o acúmulo de prolina influencia outras vias de energia relacionadas, bem como no metabolismo de carbono durante e após o período de submissão a estresses abióticos (revisado por KAVI KISHOR et al., 2005). O acúmulo de prolina livre em condições de estresse tem sido estudado por mais de 45 anos. Dentre os osmólitos, a prolina é aquele que é mais pesquisado nas respostas de vegetais superiores a estresses abióticos (KAVI KISHOR et al., 2005, FUNCK et al., 2008). Com relação aos compostos advindos do metabolismo do carbono, a trealose tem despertado interesse pela comunidade científica. A trealose é um dos mais efetivos osmoprotetores, em termos de concentração mínima requerida. É um dissacarídeo que, por várias décadas, tem sido relatado em bactérias, fungos e leveduras como um dos responsáveis pela capacidade desses organismos de tolerar altos níveis de desidratação. Somente no final da década passada foi identificada em plantas superiores. A dificuldade na identificação de trealose, provavelmente, foi devido à alta atividade da enzima trehalase em plantas superiores. A trealose liga-se às membranas celulares e diminui sua temperatura de fusão, mantendo-as, assim, na sua fase líquido-cristalina (Revisado por NEPOMUCENO et al., 2001; PAUL et al., 2008). A trealose é dissacarídeo não-redutor, solúvel, é composto de duas moléculas de glicose (α-D-glicopiranosil-[1,1]-α-D-glicopiranosídeo). Esse carboidrato é isômero químico de outros dois dissacarídeos amplamente encontrados em plantas, a sacarose (α-D-glicose-[1,2]-β-D-frutose) e a maltose (α-D-glicose-[1,4]-α-D-glicose). Eles têm a mesma fórmula química (C12H22O11), entretanto, diferentes estruturas. Além destes 13 isômeros, existem três outros isômeros do dissacarídeo trealose: α,α-trealose, α,β- trealose e β,β-trealose. Destes, apenas o α,α-trealose é encontrado endogenamente em plantas. Apesar da biossíntese deste composto ser similar à da sacarose, evolutivamente, a origem da trealose é mais antiga, devido à sua presença em todos os reinos (GODDIJN & DUN, 1999) (Figura 5). A sacarose é dissacarídeo não-redutor que pode ser hidrolisado em glicose e frutose pela ação da invertase, ou então separada em frutose e uridina difosfoglicose (UDPG) pela frutose sintase, conservando energia sob esta forma. Sendo os polissacarídeos da parede celular sintetizados a partir de UDPG, é de extrema importância a regulação da quantidade dos produtos deste açúcar. Pela figura 5 é possível visualizar o papel central que este açúcar representa para o metabolismo das plantas e como se relaciona com a trealose. Figura 5: Modelo esquemático das vias metabólicas da sacarose e trealose Glicose + Frutose FOTOSSÍNTESE S6P Sacarose UDP-Glic Glic-1-P Glic-6-P Amido UDP-Glicose + Glicose-6-P Trealose 6 -P Trealose 2 Glicose Trealase Pi H2O TPPTPS UDP H2O SuSy SPS UDP-Glic ADP-Glic UDP-Glicose pirofosforilase ADP-Glicose pirofosforilase Sacarose Sintase Sacarose fosfato Sintase Frutose-6-P 14 Quando submetidas à limitação hídrica, as plantas desenvolvem alguns mecanismos de resposta a esse tipo de estresse, que se resumem em três principais eventos: percepção dos sinais, respostas em nível molecular e respostas morfofisiológicas. 15 1.1. Referências Bibliográficas ANAMI, S.; DE BLOCK, M.; MACHUKA, J.; VAN LIJSEBETTENS, M. Molecular improvement of tropical maize for drought stress tolerance in Sub-Saharan Africa. Critical reviews in plant sciences, Boca Raton, v. 28, n. 1, p. 16-35, 2009. ANGELOCCI, L. R. Água na planta e trocas gasosas/energéticas com a atmosfera: introdução ao tratamento biofísico. 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São conhecidos pelos efeitos na proteção de enzimas e integridade de membranas, bem como no ajustamento osmótico. O teor de prolina e de trealose nos tecidos endospermático e embrionário foi estudado com o objetivo de descrever as suas funções fisiológicas na germinação de dois híbridos de milho (DKB 390 e DAS 2B710) em resposta a diferentes potenciais hídricos. As sementes germinaram em substrato de papel contendo soluções de PEG 6000 (Polietilenoglicol) com diferentes potenciais hídricos: 0,0; -0,3; -0,6; -0,9 ou -1,2 MPa. A diminuição do potencial hídrico reduz a germinação e a massa seca da parte aérea e raiz das plântulas dos híbridos DKB 390 e DAS 2B710. Em condição de limitação hídrica, o índice de germinação de sementes sob tratamento foi semelhante entre os híbridos DKB 390 e DAS 2B710, contudo, o índice de velocidade de germinação foi maior e o tempo médio de germinação foi menor no híbrido DAS 2B710. A prolina pode ser utilizada como indicador metabólico de resposta dos híbridos de milho (DKB 390 e DAS 2B710) à limitação hídrica durante a germinação quando quantificada no eixo embrionário. No híbrido DAS 2B710 há o acúmulo de prolina conforme a redução do potencial hídrico. A trealose está presente na constituição do endosperma e eixo embrionário dos híbridos DKB 390 e DAS 2B710, mas não indica resposta metabólica à limitação hídrica na germinação. Palavras-chave: Prolina, trealose, Zea mays, estresse hídrico, híbridos, genótipos. 19 Reaction osmoprotectant on germination of maize seeds under increasing water potential ABSTRACT – The amino acid proline and the disaccharide trehalose occur widely in higher plants, and usually accumulate in the tissues as a response to drought stresses. Those compounds are known to have positive effects on protecting enzyme and membrane integrity along with adaptative roles in mediating osmotic adjustment in plants. The variability in proline and trehalose content in endosperm and embryos tissues was studied with the objective to describe their physiological role in two genotypes (DKB 390 and DAS 2B710) germinating maize in response to different water potentials. Seeds were germinated on filter paper soaked with polyethylene glycol (PEG- 6000) solution corresponding to the water potentials of 0.0; -0.3; -0.6; -0.9 or -1.2 MPa. The decrease of water potential reduces the germination and dry weight of shoot and root of seedlings of DKB 390 and DAS 2B710 genotypes. Under water stress, the germination index of the seeds under treatment was similar among the hybrids, however, the speed of germination was higher and average time of germination was shorter in DAS 2B710. Proline can be used as an indicator of metabolic response of maize hybrids (DKB 390 and 2B710 DAS) to water limitation during germination when quantified in the embryos axis. The DAS 2B710 hybrid accumulates proline as the reduction of water potential. Trehalose is present in the constitution of the endosperm and embryo axis of DKB and DAS 2B710 390 but does not indicate the metabolic response to water limitation on seed germination. Key words: Proline, trehalose, Zea mays, water stress, hybrids, genotypes. 20 2.1. Introdução A seca é um dos fatores ambientais mais limitantes na produção do milho. Por isso, há uma demanda por sementes de híbridos mais tolerantes aos estresses abióticos. Os esforços da pesquisa nesse campo têm se concentrado no estudo da fisiologia de plantas sob a seca, para determinar parâmetros e métodos rápidos de seleção de híbridos tolerantes (MAGALHÃES et al., 2002; ANAMI et al., 2009). Há indícios de que haveria plasticidade no grau de tolerância à limitação hídrica do milho, em função do estádio fenológico da cultura, isto é, dependendo da fase de desenvolvimento, uma planta pode ser mais ou menos suscetível à deficiência hídrica (MOHAMMADKHANI & HEIDARI, 2008; ABO-EL-KHEIR & MEKKI, 2007; ANAMI et al., 2009). Todavia, são escassos os relatos de tolerância à seca, durante o processo de germinação, embasados em respostas bioquímico-fisiológicas (THAKUR & SHARMA, 2005). Dessa forma, há um interesse em se comprovar a diferenciação de híbridos de milho quanto à susceptibilidade e/ou tolerância à seca mais precocemente, utilizando ensaios de germinação, além da avaliação bioquímico-fisiológica da semente, para uma melhor compreensão da fisiologia da germinação em condição de deficiência hídrica. Uma resposta à limitação hídrica é o acúmulo de solutos osmoticamente compatíveis com o metabolismo celular. Preconiza-se que essa resposta pode conduzir a um ajustamento osmótico e à manutenção de um estado hídrico favorável para o metabolismo e, nesse caso, os solutos denominam-se osmorreguladores. Em contrapartida, a síntese de certos solutos compatíveis pode ter uma função primordial na proteção de proteínas, na estabilização de membranas celulares e no controle de espécies reativas de oxigênio, cuja produção aumenta em condições de deficiência hídrica. Os solutos para tal finalidade são designados de osmoprotetores (MUNNS, 2002). Essas moléculas também podem ser reservas de energia e, também de nitrogênio, no caso da prolina, para o restabelecimento da planta após período de 21 limitação hídrica (MUNNS, 2002; ANAMI et al., 2009). A prolina e a trealose são alguns dos principais solutos compatíveis estudados na avaliação e distinção da tolerância de plantas à seca. Situações de estresse hídrico no solo podem ser simuladas em condições de laboratório, utilizando-se soluções aquosas com diferentes potenciais osmóticos, como as soluções de manitol e/ou de polietilenoglicol (PEG). Potenciais osmóticos muito negativos, geralmente, ocasionam atraso ou mesmo diminuição na porcentagem de germinação. O PEG é um agente osmótico, quimicamente inerte, atóxico para as sementes e constituído por macromoléculas que dificultam a absorção da água pelo tegumento (VILLELA et al., 1991). No presente trabalho foi usado esse artifício para estudar a variabilidade do teor de prolina e de trealose nos tecidos endospermático e embrionário, com o objetivo de descrever as suas funções fisiológicas na germinação de dois híbridos de milho (Zea mays L): DKB 390 e DAS 2B710; bem como verificar o grau de tolerância relativa à limitação hídrica desses genótipos. 2.2. Material e Métodos O experimento foi desenvolvido na Unesp – Universidade Estadual Paulista, FCAV – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Jaboticabal, SP. Tratamentos (simulação do estresse hídrico): inicialmente, o grau de umidade foi avaliado em 25 sementes com quatro repetições pelo método de estufa a 105 ± 3 oC durante 24 h (BRASIL, 2009). Foram utilizadas sementes com características biométricas semelhantes, sendo estas previamente tratadas com solução de nistatina a 1% (fungicida) para manutenção da sanidade das mesmas. A cada três dias, as sementes foram transferidas para novas caixas gerbox, contendo papéis umedecidos com o respectivo tratamento, para manutenção constante dos potenciais osmóticos. As parcelas foram distribuídas ao acaso em câmara de germinação (tipo BOD), em 22 condições controladas, 30 °C ± 2 °C, 60 ± 2 % UR e fotoperíodo de 12 h, de acordo com BRASIL (2009). As contagens da germinação foram realizadas, diariamente, até o término do ensaio experimental (10 dias após a imposição dos tratamentos), considerando-se como germinadas as sementes com protrusão da raiz primária (2 mm). Índice de germinação de sementes sob tratamento (IGT): a partir das contagens diárias dos números de sementes germinadas para cada tratamento, calculou-se o IGT: número de sementes germinadas sob estresse / número de sementes germinadas da testemunha) x 100 (ZEID & EL-SEMARY, 2001). Índice de velocidade de germinação (IVG): com os dados diários do número de sementes germinadas, foi calculado o IVG, empregando-se a fórmula proposta por MAGUIRE (1962). Tempo médio de germinação (TMG): a partir das contagens diárias dos números de sementes germinadas para cada parcela experimental, pode-se estimar o TMG segundo EDMOND & DRAPALA (1958). Massa seca dos tecidos (g MS): após a liofilização, a parte aérea (PA), as raízes (R), o endosperma (EN) e o eixo embrionário (EE) foram separados manualmente, utilizando-se luvas e lupa para melhor separação desses tecidos. Após o manuseio, foram acondicionados em sacos de papel e armazenados em desumidificador até atingirem massa constante; subsequentemente foram pesados em balança de precisão (±0,01 g). Teor de prolina (Pro): após a liofilização, o eixo embrionário e endosperma foram separados e macerados em nitrogênio líquido e armazenados, separadamente, até a determinação da prolina. O acúmulo de prolina livre foi quantificado no endosperma (EN) e eixo embrionário (EE), segundo BATES et al., 1973. Teor de trealose (Tre): a enzima trealase conidial foi preparada e purificada por método de NEVES et al. (1994), com modificações. Realizou-se cromatografia de filtração em gel em CM-cellulose column (0,6 x 30 cm). A trealose foi determinada segundo método enzimático, utilizando-se 0,1 g de tecido liofilizado do EN e EE. 23 Tratamento estatístico: o delineamento experimental foi o inteiramente casualizado em arranjo fatorial 2 x 5 (híbridos x potenciais hídricos - HxP) com 4 repetições. Cada parcela experimental foi constituída de duas caixas tipo gerbox, cada uma contendo 25 sementes depositadas sobre papel germitest esterilizado e, dependendo do tratamento, umedecido com água destilada estéril (testemunha) correspondendo ao potencial 0,0 Mega Pascal (MPa) ou com diferentes concentrações de PEG 6000, obedecendo aos potenciais osmóticos: -0,3; -0,6; -0,9; e -1,2 MPa (sementes sob estresse). Os resultados foram submetidos à análise de variância (teste F) e as médias comparadas pelo teste de Tukey (5%) e análises da regressão polinomial foram utilizadas para o desdobramento dos graus de liberdade do fator quantitativo potencial osmótico e para o estudo da interação híbrido x potenciais osmóticos (BORGHETTI & FERREIRA, 2004; SANTANA & RANAL, 2004). Realizou-se análise de correlação linear de Pearson entre as variáveis avaliadas. Figura 1. Esquema metodológico do ensaio da germinação de sementes de milho sob crescente potencial hídrico. 24 2.3 – Resultados e Discussão A diminuição da disponibilidade hídrica para a germinação (DHG), simulada pelo polietilenoglicol (PEG), ocasionou redução de até 52% no índice de germinação de sementes (IGT) sob o menor potencial osmótico, aos 10 dias após a imposição dos tratamentos (DAT), independentemente do híbrido (Figura 2). Figura 2. Efeito da limitação hídrica na germinação de híbridos simples de milho, simulado pela solução de Polietilenoglicol (PEG 6000), no 10º dia após a semeadura. Índice de germinação de sementes sob tratamento (IGT) de híbridos de milho (Interação HxPns; p>0,05) IGE = -38,889x2 - 7,6667x + 99,4 R² = 0,99** 0 25 50 75 100 -1,2 -0,9 -0,6 -0,3 0,0 Índice de germ inação de sem entes sob tratam ento (% ) Potencial Hídrico (MPa) IGE DKB 390 = -47,675x2 - 14,413x + 98,395 R² = 0,98** IGE 2B 710 = -38,889x2 - 7,6667x + 99,4 R² = 0,99** 0 25 50 75 100 -1,2 -0,9 -0,6 -0,3 0,0 IGE DKB 390 IGE DAS 2B710 25 Para o índice de velocidade de germinação (IVG) e o tempo médio germinação (TMG), observou-se que o IVG reduziu-se proporcionalmente à menor DHG, enquanto para o TMG a relação é inversa, isto é, maior foi o tempo despendido à germinação das sementes. Nas variáveis IVG e TMG, verificou-se a diferença entre os híbridos, cujo maior IVG e menor TMG foram verificados no híbrido DAS 2B710 (Figuras 3A e 3B). Apesar do IGT de ambos híbridos assemelharem-se, averiguou-se que o IVG do híbrido DAS 2B710, no maior e menor potencial osmótico (0,0 MPa e -1,2 MPa), foi de 10,9 e 2,8 sementes germinadas por dia, respectivamente, contrapondo os 9,1 e 1,6 sementes germinadas por dia do híbrido DKB 390, para os mesmos potenciais. Para o TMG do híbrido DAS 2B710 foram despendidos 2,4 e 6,5 dias para que 100% e 58% das sementes germinassem sob os potenciais 0,0 MPa e -1,2 MPa, respectivamente; já para o híbrido DKB 390 foram utilizados 2,8 e 7,3 dias para que 100% e 45% das sementes germinassem, respectivamente. Constatou-se que as variáveis que melhor descreveram o processo de germinação em condições adversas foram o IVG e o TMG, principalmente na distinção da resposta dos híbridos à limitação hídrica. Outra observação pertinente seria que, possivelmente, a diminuição do IVG e o aumento do TMG em crescente limitação hídrica poderiam ter sido ocasionados pela quiescência, para assegurar uma boa germinação e o estabelecimento das plântulas em condições normais (FINCH-SAVAGE & LEUBNER- METZGER, 2006). Verificou-se que além do PEG diminuir a disponibilidade hídrica para a germinação, comprometeu o estabelecimento das plântulas. A massa seca (g MS) em diferentes tecidos das plântulas não foi reduzida proporcionalmente à disponibilidade hídrica, por exemplo, nos tecidos endospermático (EN) e embrionário (EE). Tal fato foi também observado por ZEID & EL-SEMARY (2001) e GILL et al. (2002), onde a biomassa de tecidos como EN e EE não se reduziu, porém, a parte aérea e o sistema radicular tiveram drásticas diminuições conforme a supressão da água, concordando com os resultados apresentados na Tabela 1. 26 Figura 3. Efeito da limitação hídrica na germinação de híbridos simples de milho, simulado pela solução de Polietilenoglicol (PEG 6000), no 10º dia após a semeadura. Interação HxP* (p<0,05) para as variáveis Tempo médio (TMG) e Índice de velocidade germinação (IVG). A) TMG e IVG do híbrido DKB 390 B) TMG e IVG do híbrido DAS 2B710. **Regressão linear significativa (p<0,01). IVG= -6,899x + 10,43 R² = 0,98** TMG = -3,3767x + 2,1875 R² = 0,97** 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 -1,2 -0,9 -0,6 -0,3 0,0 Tem po m édio de germ inação (dias) Ín di ce d e ve lo ci da de d e ge rm in aç ão (s em en te s ge rm in ad as / d ia ) Potencial Hídrico (MPa) DAS 2B710 IVG = 5,6967x + 8,4745 R² = 0,96** TMG = 3,388x + 2,819 R² = 1,00** 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 -1,2 -0,9 -0,6 -0,3 0,0 Tem po m édio de germ inação (dias) Ín di ce d e ve lo ci da de d e ge rm in aç ão (s em en te s ge rm in ad as / d ia ) Potencial Hídrico (MPa) DKB 390 A B TMG IVG IVG TMG 27 Tabela 1. Modificações na massa seca (g/plântulas MS) de dois híbridos de milho em diferentes potenciais hídricos (MPa) e tecidos*: parte aérea, endosperma, eixo embrionário e raiz no 10º dia após imposição dos tratamentos. Potencial hídrico (MPa) Tecidos (g MS)1 Parte Aérea Endosperma Eixo Embrionário Raiz DKB 390 DAS 2B710 DKB 390 DAS 2B710 DKB 390 DAS 2B710 DKB 390 DAS 2B710 0,0 1,64 ± 0,11 1,52 ± 0,13 5,03 ± 0,55 5,25 ± 0,23 1,87 ± 0,24 1,67 ± 0,18 2,08 ± 0,15 1,67 ± 0,69 -0,3 1,10 ± 0,19 1,65 ± 0,16 7,94 2,14 6,06 ± 2,07 1,91 ± 0,12 1,75 ± 0,19 1,69 ± 0,43 1,88 ± 0,33 -0,6 0,99 ± 0,03 1,53 ± 0,54 5,29 ± 0,58 5,13 ± 0,64 1,66 ± 0,03 1,62 ± 0,10 2,09 ± 0,26 2,72 ± 0,99 -0,9 0,90 ± 0,16 1,72 ± 0,00 6,90 ± 0,16 5,31 ± 0,37 1,58 ± 0,19 2,04 ± 0,09 1,22 ± 0,15 0,98 ± 0,06 -1,2 0,29 ± 0,01 0,57 ± 0,01 6,97 ± 0,90 7,40 ± 0,85 1,52 ± 0,07 2,38 ± 0,21 0,06 ± 0,00 0,73 ± 0,17 *Interação significativa entre híbridos x potenciais hídricos (p<0,05). 1Valores da média e desvio padrão. Essa resposta é esperada, pois a parte aérea e a raiz dependem da semente (órgão fonte de reserva de energia de carbono e nutrientes minerais), podendo até serem denominados de órgãos “comensais”, uma vez que há uma interdependência com a semente, principalmente da interação entre endosperma e eixo embrionário, para a formação desses órgãos (parte aérea e raiz), até que haja a autonomia dos mesmos (MARCOS FILHO, 2005). O teor de prolina no híbrido DKB 390, para os tecidos endospermático (EN) e embrionário (EE), nessa ordem, foi de 0,2 e 2,6 µmol g-1 MS em 0,0 MPa. Contudo, em situação de limitação hídrica (-0,3 a -1,2 MPa) acresceu-se, em média, em 2,8 e 2,7 vezes (Tabela 2). Em contrapartida, o teor do aminoácido nos tecidos EN e EE do híbrido DAS 2B710 (0,2 e 0,5 µmol g-1 MS) aumentou em duas e oito vezes, respectivamente. O acúmulo de prolina foi gradativo conforme houve a limitação hídrica para o genótipo 2B 270, em ambos tecidos. Entretanto, para o DKB 390 apenas no EN houve similaridade na tendência linear. No EE, o teor do aminoácido foi oscilante, tendo um acúmulo máximo de 9,23 µmol g-1 MS em -0,32 MPa e mínimo de 3,66 µmol g-1 MS em -0,93 MPa (Figura 4). 28 O acúmulo de prolina no EN e no EE das sementes em função dos diferentes potenciais hídricos pode evidenciar a capacidade de osmoproteção dessas plantas durante o processo de germinação em condição adversa. Outro fato, é que o EN é um tecido altamente dependente do EE à mobilização de compostos. De acordo com MOHAMMADKHANI & HEIDARI (2008), o acúmulo desse aminoácido é relativamente dependente dos níveis de carboidratos nos tecidos e mencionam ainda que a sacarose tenha um efeito positivo no acúmulo de prolina. Sabe-se que o eixo embrionário possui maiores concentrações de açúcares não- redutores e redutores, e que o endosperma tem seu metabolismo reduzido, pois a sua função principal é a de reserva e fonte energética, ou seja, há a predominância em sua constituição de macromoléculas como o amido (LOPES & LARKINS, 1993; BORGHETTI & FERREIRA, 2004). Tabela 2. Teor de solutos compatíveis (µmol/g MS) de dois híbridos de milho em diferentes potenciais hídricos (MPa) e tecidos, endosperma e eixo embrionário no 10º dia após imposição dos tratamentos. Potencial hídrico MPa Solutos compatíveis (µmol/g MS)1 Prolina* Trealose DKB 390 DAS 2B710 DKB 390 DAS 2B710 Endosperma Eixo embrionário Endosperma Eixo embrionário Endosperma Eixo embrionário Endosperma Eixo embrionário 0,0 0,20 ± 0,00 2,61± 0,49 0,20± 0,00 0,54 ± 0,04 3,37 ± 0,60 8,02 ± 1,36 5,63 ± 1,67 7,75 ± 0,63 -0,3 0,31 ± 0,01 10,83 ± 0,59 0,20 ± 0,00 3,35 ± 0,42 2,36 ± 1,03 6,44 ± 1,29 2,75 ± 1,17 6,27 ± 1,50 -0,6 0,44± 0,10 4,38 ± 0,52 0,27 ± 0,04 3,52 ± 0,59 3,96 ± 1,03 6,17 ± 2,74 6,58 ± 1,13 6,93 ± 1,77 -0,9 0,56 ± 0,06 5,30 ± 0,62 0,40± 0,07 5,82 ± 0,82 3,00 ± 1,36 7,39 ± 1,11 3,23 ± 1,05 3,23 ± 1,05 -1,2 0,60 ± 0,08 7,62 ± 0,42 0,76 ± 0,04 6,61 ± 0,35 2,80 ± 0,44 4,18 ± 1,41 2,61 ± 0,44 2,61 ± 0,44 *Interação significativa entre híbridos x potenciais hídricos (p<0,05). 1Valores da média e desvio padrão. Adicionalmente, esse aminoácido pode ser considerado um indicador metabólico de tolerância à seca para esses híbridos, principalmente se quantificado no EE das sementes, onde o teor é até oito vezes superior ao do EN, mostrando-se acumulativo a partir do potencial -0,3 MPa com leve declínio no potencial -1,2 MPa (Figura 5). 29 Figura 4. Efeito da limitação hídrica (simulada pela solução de polietilenoglicol) no conteúdo de prolina (µmol g-1 MS) em sementes germinadas de milho aos dez dias após a imposição dos tratamentos. Interação significativa HxP**(p < 0,01). Tecidos: endospermático (EN) e embrionário (EE). Regressões significativas: **p < 0,01. Com isso, observa-se que a síntese de prolina (Pro), possivelmente, tenha um limite ótimo, o qual é dependente da condição de restrição hídrica em que a semente germina. O decréscimo do aminoácido pôde ter ocorrido em detrimento da semente requerer energia para manutenção do seu metabolismo, podendo estar associado à degradação de moléculas de Pro, resultantes da regulação recíproca das vias de síntese e de degradação o que a torna fonte energética. A versatilidade do aminoácido foi verificada por KAVI KISHOR et al. (2005) que relatam que a oxidação de 1 mol de prolina pode gerar 30 mol de ATP (Adenosina trifosfato). DKB 390 (EN) = -0,3488x + 0,2133 R² = 0,80** 2B 710 (EN) = -0,4386x + 0,1043 R² = 0,75** 2B 710 (EE) = -4,8715x + 1,0458 R² = 0,87** 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 -1,2 -0,9 -0,6 -0,3 0,0 C onteúdo de P rolina (µ m o l g -1M S) Potencial Hídrico (MPa) DKB 390 (EN) DKB 390(EA) 2B 710 (EN) 2B 710 (EA) 30 Figura 5. Efeito da limitação hídrica (simulada pela solução de polietilenoglicol) sobre a distribuição média da prolina nos tecidos endospermático e embrionário de sementes germinadas de milho, aos dez dias após a imposição dos tratamentos. Com relação ao conteúdo de trealose (Tre) nas sementes no 10º DAT, houve oscilação nos teores nos tecidos endospermático (EN) e embrionário (EE), independente do híbrido estudado (HxPns, p > 0,05). Contudo, o teor de trealose no EE foi o dobro em relação ao EN (Figura 6). A distinção quanto à concentração de metabólitos nesses tecidos é esperada, como mencionado anteriormente. Apesar disso, notou-se a mesma tendência em ambos tecidos conforme o estresse hídrico, em que nos potenciais -0,29 MPa e -0,78 MPa apresentaram acúmulo máximo de 6,62 µmol g-1 MS e mínimo de 5,90 µmol g-1 MS para EE, enquanto para o EN, 4,34 µmol g-1 MS foi o máximo acumulado (- 0,81 MPa), e mínimo 3,48 µmol g-1 MS (-0,29 MPa ). Observou-se que há um feedback negativo entre EE e EN, corroborando com a literatura DOWNIE et al. (2003). O potencial em que houve maior acúmulo de Tre no eixo embrionário (-0,29 MPa), foi o de menor acúmulo no EN (-0,29 MPa ) e vice-versa 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 0-0,3-0,6-0,9-1,2 P orcentagem m édia de prolina acum ulada Potencial hídrico(MPa) Eixo embrionário Endosperma 31 (Figura 6). Com isso, o aumento e declínio de Tre (Figura 7) indica que há uma regulação metabólica entre os dois tecidos. O aumento, possivelmente, atrelou-se à redução de polímeros, em grande parte compartimentalizados, metabolizados a partir da demanda dessas moléculas na preservação da membrana plasmática, que estaria desestabilizada pela seca (PAUL et al., 2008). Figura 6. Efeito da limitação hídrica (simulada pela solução de polietilenoglicol) no conteúdo de trealose (µmol g-1 MS) em sementes germinadas de milho aos dez dias após a imposição dos tratamentos. Já a redução no teor de trealose (Tre) em ambos os tecidos poderia estar conexa ao dispêndio de energia para sintetizar cada mol desse açúcar, que é limitado nas plantas em condições adversas. Adicionalmente, há relatos do efeito deletério de elevadas concentrações da Tre nas células do tecido vegetal, pois podem influenciar negativamente as chaperoninas, responsáveis pela homeostase das proteínas (WINGLER, 2002). y = 8,7449x3 + 14,434x2 + 6,1588x + 4,268 R² = 0,24* y = 6,2721x3 + 10,104x2 + 6,5359x + 7,8219 R² = 0,65* 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 -1,2 -0,9 -0,6 -0,3 0,0 T realose (µ m ol g -1 M S ) Potencial Hídrico (MPa) Endosperma Eixo embrionário 32 Tal hipótese permite explicar as oscilações do teor nos distintos tecidos no presente trabalho. Assim, para que haja a manutenção do nível ótimo deste açúcar nos tecidos estudados, há um balanço entre a síntese e a degradação. De tal modo, percebe-se que nem sempre existe a relação direta entre a síntese de Tre com o aumento da limitação hídrica. Possivelmente, o soluto pode ter conduzido à manutenção de um estado hídrico favorável para o metabolismo, atendendo a função de osmorregulador. Do mesmo modo, como o acúmulo de Pro é relativamente dependente dos níveis de sacarose (MOHAMMADKHANI & HEIDARI, 2008), analogicamente, a trealose poderia ter função comum, uma vez que possui função semelhante ao seu isômero (WINGLER, 2002). Figura 7. Efeito da limitação hídrica (simulada pela solução de polietilenoglicol) sobre a distribuição média da trealose nos tecidos endospermático e embrionário de sementes germinadas de milho, aos dez dias após a imposição dos tratamentos. 0% 25% 50% 75% 100% 0,0-0,3-0,6-0,9-1,2 P orcentagem m édia acum ulada de trealose Potencial Hídrico (MPa) Eixo Embrionário Endosperma 33 Os estudos sobre a interação dos mecanismos dessas respostas, tanto do ponto de vista fisiológico quanto bioquímico, podem ser observados na análise de correlações de Pearson (Tabela 3). Verificou-se a dependência entre algumas variáveis avaliadas em resposta à germinação dos híbridos em limitação hídrica. Constatou-se que as variáveis que quantificam a germinação têm correlação entre si, bem como com algumas variáveis metabólicas. As sementes que germinaram mais rapidamente (alto IVG e baixo TMG) e em maior percentual, apresentaram biomassa seca na parte aérea e radicular proporcionais, bem como o teor de trealose (Tre) no eixo embrionário (Tre EE). O inverso ocorreu para o teor de prolina (Pro), tanto no endosperma (Pro EN) quanto no eixo embrionário (Pro EE). Com isso, demonstrou-se que esse dissacarídeo seria mais constitutivo, uma vez que apresentou tendência similar às variáveis de crescimento. Tabela 3. Estimativas dos coeficientes de correlação de Pearson (r) entre variáveis estudadas: Índice de velocidade de germinação (IVG), Tempo médio de germinação (TMG), Índice de germinação sob tratamento (IGT), Teor de prolina no endosperma (Pro EN), Teor de prolina no eixo embrionário (Pro EE), Teor de trealose no endosperma (Tre EN), Teor de trealose no eixo embrionário (Tre EE), Massa seca da parte aérea (MSPA), endosperma (MSEN), eixo embrionário (MSEE) e Raiz (MSR) no 10º dia após semeadura. IVG TMG IGT Pro EN Pro EE Tre EM Tre EE MSPA MSEN MSEE MSR IVG -0,98** 0,88** -0,89** -0,68* 0,47ns 0,65* 0,75* -0,55ns -0,19 ns 0,68* TMG -0,98* -0,96** 0,92** 0,64* -0,46 ns -0,67* -0,83** 0,57 ns 0,17 ns -0,79** IGT 0,88** -0,96** -0,89** -0,47 ns 0,36 ns 0,63 ns 0,83** -0,49 ns -0,14 ns 0,85** Pro EN -0,89** 0,92** -0,89** 0,49 ns -0,41 ns -0,43 ns -0,85* 0,57 ns 0,32 ns -0,73* Pro EE -0,68* 0,64* -0,47 ns 0,49 ns -0,64* -0,56 ns -0,56 ns 0,82** 0,27 ns -0,47 ns Tre EN 0,47 ns -0,46 ns 0,36 ns -0,41 ns -0,64* 0,35 ns 0,38 ns -0,65* -0,42 ns 0,57 ns Tre EE 0,65* -0,67* 0,63 ns -0,43 ns -0,56 ns 0,35 ns 0,63 ns -0,44 ns 0,18 ns 0,48 ns MSPA 0,75* -0,83** 0,83** -0,85** -0,56 ns 0,38 ns 0,63 ns -0,69* 0,01 ns 0,68* MSEN -0,55 ns 0,57 ns -0,49 ns 0,57 ns 0,82** -0,65* -0,44 ns -0,69* 0,27 ns -0,55 ns MSEE -0,19 ns 0,17 ns -0,14 ns 0,32 ns 0,27 ns -0,42 ns 0,18 ns 0,01 ns 0,27 ns -0,21 ns MSR 0,68* -0,79** 0,85** -0,73* -0,47 ns 0,57 ns 0,48 ns 0,68* -0,55 ns -0,21 ns Correlação significativa *p < 0,05 e **p< 0,01; nsnão-significativa; N=10 34 O mesmo não ocorreu para Pro EN e Pro EE, havendo uma relação inversa, pois as sementes que estiveram em condições hídricas ótimas para a germinação, não necessitariam acumular o aminoácido. Dessa forma, esse soluto compatível atuaria, efetivamente, na osmoproteção desses tecidos para assegurar o adequado estabelecimento das plântulas em condições subótimas. Outra hipótese seria de que além da prolina agir como uma molécula atóxica de proteção em condições de estresse, também atuaria na dormência secundária da semente. De acordo com THAKUR & SHARMA (2005), possivelmente, esse aminoácido faça parte do sistema que mantém o desenvolvimento do eixo embrionário em repouso, o que corrobora com os resultados de o teor acumulado de prolina ser maior nesse tecido (Figura 5), além da relação inversa com IVG e direta com TMG (Tabela 3). A relação negativa do teor de Pro EN com MSPA e MSR pode estar relacionada à localização, atuando como fonte energética, uma vez que, com o aumento MSPA e MSR há uma demanda energética para o estabelecimento da plântula, com isso o metabolismo de moléculas de prolina é necessário. A relação inversa do MSEN com teor de Tre EN poderia estar aliada ao metabolismo dos carboidratos (DOWNIE et al., 2003). Acréscimos no potencial osmótico celular ocorrem pelos aumentos na concentração de solutos compatíveis presentes na célula túrgida. Todavia, no caso da trealose, a osmorregulação ocorreria devido à degradação do açúcar para atender a manutenção do metabolismo, como fonte energética, atendendo a demanda celular na síntese de moléculas como a prolina (relação inversa Tre En e Pro EE). Dessa forma, o estudo da resposta na germinação de milho sob condições adversas é complexo e muitos aspectos necessitam ser mais estudados, elucidados e discutidos. 35 2.4. Conclusões A diminuição do potencial hídrico reduz a germinação e a massa seca da parte aérea e raiz das plântulas dos híbridos DKB 390 e DAS 2B710; Em condição de limitação hídrica, o índice de germinação de sementes sob tratamento foi semelhante entre os híbridos DKB 390 e DAS 2B710, contudo, o índice de velocidade de germinação foi maior e o tempo médio de germinação foi menor no híbrido DAS 2B710; A prolina pode ser utilizada como indicador metabólico de resposta dos híbridos de milho (DKB 390 e DAS 2B710) à limitação hídrica durante a germinação quando quantificada no eixo embrionário; No híbrido DAS 2B710 há o acúmulo de prolina no eixo embrionário conforme a redução do potencial hídrico; A trealose está presente na constituição do endosperma e eixo embrionário dos híbridos DKB 390 e DAS 2B710, mas não indica resposta metabólica à limitação hídrica na germinação. 2.5. Referências Bibliográficas ABO-EL-KHEIR, M. S. A.; MEKKI, B. B. 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As plantas foram cultivadas em vasos (54 dm3) contendo Latossolo vermelho distrófico (LVd). Houve a redução na fotossíntese, na condutância estomática e no crescimento dos híbridos DKB 390 e DAS 2B710. O estresse hídrico induziu acúmulo de sacarose e prolina, que podem ser indicadores metabólicos de resposta à limitação hídrica dos híbridos DKB 390 e DAS 2B710. O híbrido DKB 390 mantém os teores de açúcares redutores e de amido, reduz o teor de trealose e aumenta o teor de aminoácidos livres quando exposto a uma condição hídrica adversa. Já o híbrido DAS 2B710 reduz os teores açúcares redutores e de amido na menor disponibilidade hídrica no solo e mantém os de trealose e aminoácidos livres nessas condições. Os híbridos DKB 390 e DAS 2B710 apresentam tolerância semelhante à limitação hídrica no estádio vegetativo. Palavras-chave: Zea mays, fotossíntese, metabolismo, solutos compatíveis, estresse hídrico. 40 Tolerance of two maize hybrids to water stress ABSTRACT: Plants can trigger responses to water limitation as changes in metabolism, growth and development. The levels of sucrose, trehalose, reducing sugars, starch, total free amino acids and proline in leaves maize (Zea mays L.), DKB 390 and DAS 2B710 varieties, were determined in response to a water deficit at the silking stage. The experiment carried out in greenhouse. Plants were cultivated in pots (54 dm3) containing Oxisoil. There was a reduction in photosynthesis, stomatal conductance and growth of DKB 390 and DAS 2B710 hybrids. The water stress induced accumulation of sucrose and proline, which can be indicators of metabolic response to water limitation of DKB and 390 DAS 2B710. The DKB 390 hybrid maintains the reducing sugars and starch content, reduces the level of trehalose and increased the free amino acids content when exposed to adverse water conditions. Since the DAS 2B710 hybrid reduces the levels of reducing sugars and starch in less soil water availability and maintain the trehalose and free amino acids in these conditions. The DKB 390 and DAS 2B710 hybrids show similar tolerance to water limitation in the vegetative stage. Key words: Zea mays, photosynthesis, metabolism, soluble compatible, water stress 41 3.1. Introdução Durante o ciclo de vida das plantas nem sempre as condições ambientais são ótimos ao seu crescimento e desenvolvimento. Um importante fator ambiental que frequentemente limita o crescimento é a redução na disponibilidade hídrica do solo. O estresse hídrico ocorre geralmente na natureza e em ecossistemas de produção, de maneira gradual e, por isso, as plantas tolerantes desenvolveram mecanismos para se adaptarem às limitações hídricas do solo (MAGALHÃES et al., 2002; DURÃES et al., 2004). A tolerância de plantas a ambientes adversos ou a condições de fatores ambientais subótimos envolve a adaptação a estresses múltiplos, com interações diretas e indiretas. Assim, torna-se de grande importância a caracterização de genótipos contrastantes, bem como os estudos sobre a interação e a sobreposição de mecanismos, tanto do ponto de vista fisiológico quanto bioquímico (DURÃES et al., 2004; ANAMI et al., 2009). A capacidade de acúmulo de solutos compatíveis é uma resposta comum em organismos sob condições adversas, e vem sendo muito investigada nas plantas nos últimos anos (ZEID & EL-SEMARY, 2001; ABO-EL-KHEIR & MEKKI, 2007; MOHAMMADKHANI & HEIDARI, 2008; DÍAZ et al., 2010). Os vegetais superiores em condições de estresse hídrico acumulam açúcares, prolina livre, ácidos orgânicos, íons, entre outros solutos (BARTELS & SUNKAR, 2005; ANAMI et al., 2009). Estes solutos compatíveis são moléculas ou íons atóxicos que não interferem no metabolismo e se acumulam predominamente no citoplasma, onde têm função de manter a turgescência celular, além de estabilizar proteínas e estruturas celulares nas condições subótimas dos fatores ambientais (BRAY et al., 2001; BARTELS & SUNKAR, 2005). O crescimento vegetal é reflexo do balanço de carbono na planta, que depende dos processos de fotossíntese e de respiração nos vegetais, os quais, por sua vez, dependem de uma complexa série de fatores ambientais, como disponibilidade de água, de nutrientes e de energia (ANGELOCCI, 2002). A redução da capacidade fotossintética é uma importante resposta ao estresse hídrico. Para conservar água, nutrientes e 42 carboidratos necessários para a sobrevivência, as plantas apresentam modificações morfofisiológicas, como a redução da expansão foliar e o fechamento dos estômatos. Como o estômato controla a difusão de CO2 e de vapor de água, suas respostas à deficiência hídrica são fundamentais no controle da eficiência de assimilação de CO2 e da economia de água (TAIZ & ZEIGER, 2010). A cultura do milho (Zea mays L.) encontra-se amplamente disseminada no Brasil e no mundo. Dessa forma, o cultivo desta espécie é realizado em determinadas regiões cujo ciclo de desenvolvimento coincide com os períodos em que ocorre a limitação hídrica, afetando o desenvolvimento das plantas, e, portanto, a produção da biomassa vegetal. Estima-se que na região tropical, 95% do cultivo são realizados em áreas propensas à deficiência hídrica, ocasionando um declínio de 10% a 50% da produção, dependendo do estádio fenológico em que a cultura se encontra (MAGALHÃES et al., 2002; MOHAMMADKHANI & HEIDARI, 2008). O estresse pela baixa disponibilidade hídrica é um dos principais problemas da agricultura e a habilidade das plantas para tolerar a tal estresse é de suma importância para o desenvolvimento do agronegócio de qualquer país. Estudos de tolerância à limitação hídrica envolvendo o milho podem trazer melhorias no crescimento e no rendimento da cultura em regiões com limitação hídrica, pois o milho é conhecido pela sua alta sensibilidade a este estresse (revisado por MAGALHÃES et al., 2009). Por isso, o objetivo deste trabalho foi avaliar o acúmulo de solutos orgânicos e suas respectivas contribuições para o ajustamento osmótico em folhas de diferentes híbridos de milho, em distintas disponibilidades hídricas no solo. 43 3.2. Material e Métodos 3.2.1. Instalação e condução do experimento O experimento foi desenvolvido na Unesp – Universidade Estadual Paulista, FCAV – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Jaboticabal, SP. Com o intuito de se observar as respostas bioquímico-fisiológicas à limitação hídrica foi desenvolvido um experimento em casa de vegetação com os híbridos DKB 390 e DAS 2B710 que possuem as características apresentadas na Tabela 1. Tabela 1. Características dos híbridos de milho Empresa Híbrido Base genética* ciclo grão Dekalb DKB 390® HS Precoce semidentado Dow AgroSciences DAS 2B710® HS Precoce semiduro *Base Genética: HS-Híbrido simples. Após a germinação e desbaste, foram mantidas três plantas por vaso com capacidade para 54 dm3, as quais foram cultivadas em Latossolo Vermelho distrófico (LVd), típico, textura média, A moderado caulinítico, hipoférrico (ANDRIOLI & CENTURION, 1999) sem restrição hídrica até o estádio V3, quando as plantas foram submetidas a duas distintas tensões hídricas (-0,01 e -0,06 MPa). Sendo assim, os quatro tratamentos implantados foram os seguintes: Tratamento 1 = Híbrido DKB 390 cultivado em solo com tensão hídrica de -0,01 MPa (Controle); Tratamento 2 = Híbrido DKB 390 cultivado em solo com tensão hídrica de -0,06 MPa (déficit hídrico); Tratamento 3 = Híbrido DAS 2B710 cultivado em solo com tensão hídrica de -0,01 MPa (controle); 44 Tratamento 4 = Híbrido DAS 2B710 cultivado em solo com tensão hídrica de -0,06 MPa (déficit hídrico). Para o controle do conteúdo de água no solo foram instalados dois tensiômetros em cada unidade experimental, sendo um na profundidade de 10 cm e o outro na de 30 cm. Através de tensímetro digital, foi mensurada a umidade (tensão hídrica) do solo com o monitoramento diário das leituras das tensões do solo, mantendo a umidade concernente a cada tratamento (Figura 1). A estimativa da umidade do solo de cada vaso foi realizada a partir da média das leituras dos tensiômetros instalados nos vasos. A reposição de água foi realizada com uso de regas superficiais e de um tubo de PVC com perfurações ao longo de toda a extensão do vaso, instalado no centro geométrico, para garantir uma rápida e uniforme distribuição da umidade no solo do vaso. Figura 1. O controle do conteúdo de água no solo foi realizado através de tensiometria. Após a germinação foram mantidas três plantas por vaso, as quais foram mantidas sem limitação hídrica até estágio vegetativo V3. A partir deste estádio, houve a diminuição da tensão do solo conforme estabelecido nos tratamentos, mantidos até o estádio V10 (Figura 2). As adubações de base e de cobertura foram realizadas de acordo com as recomendações para a cultura do milho (RAIJ et al., 1997; FORNASIERI FILHO, 1992; 45 Vide apêndice A.3). A temperatura e a umidade relativa do ar foram monitoradas na casa de vegetação, com auxílio de um termohigrômetro até o término do experimento. Figura 2. Mantiveram-se três plantas/vaso. Visão geral do experimento 4.3.2. Avaliações bioquímico-fisiológicas Durante o período de limitação hídrica, o comprimento de uma folha jovem em expansão (com a lígula ainda não evidente) foi medido diariamente, no mesmo horário, em todas as unidades para cálculo da taxa de elongação foliar. O alongamento diário foi adquirido da diferença entre a medida do dia corrente com a do dia anterior. A elongação foliar está relacionada à expansão da célula que é dependente do turgor celular, o qual é extremamente sensível à limitação hídrica. Com auxílio de uma trena mediu-se a altura das plantas (do solo até a inserção da folha +1) e a altura de inserção 46 de espiga (do solo até a inserção da espiga principal). O diâmetro foi avaliado com auxílio de paquímetro no terceiro internó a contar do solo. Na primeira folha jovem e completamente expandida foi medida a fotossíntese líquida e condutância estomática, com auxílio de um medidor portátil de fotossíntese (LI-6400, Li-Cor, Inc. EUA), equipado com uma fonte artificial de luz, ajustada para 3000 micro mol/m2/s, entre 9 e 12 h, horário local (Figura 3). No estádio V6, foi coletada a folha +1 (caracterizada como primeira folha com aurícula visível) no início da manhã e imediatamente armazenadas em nitrogênio líquido e posteriormente transferidas para ultra-freezer ajustado a –80 ºC até serem realizadas as quantificações dos metabólitos (Figura 4). Figura 3. Mensuração da fotossíntese líquida e condutância estomática, com auxílio de medidor portátil de fotossíntese (LI-6400, Li-Cor, Inc. EUA). 47 Figura 4. Amostras de folhas liofilizadas maceradas em nitrogênio líquido para análises bioquímicas. Para a extração dos metabólitos sacarose, açúcares redutores, amido e aminoácidos livres, utilizaram-se 25 mg de cada amostra. Em seguida a amostra foi agitada em um tubo de centrífuga contendo 1 mL de etanol 80% e em seguida colocou- se em banho-maria a 60 ºC, por 30 minutos. Após centrifugação durante 20 minutos a 1.200 x g o sobrenadante foi retirado, adicionado mais 1 mL de etanol 80% repetindo- se o processo por mais duas vezes, juntou-se os sobrenadantes e o volume completado para 8 mL com água deionizada (FALEIROS et al., 1996). Neste extrato foram determinados os teores de açúcares redutores através da reação com DNSA (ácido 3,5-dinitrosalicílico), com posterior determinação espectrofotométrica a 520 nm, seguindo as indicações de FALEIROS et al. (1996). Os teores de sacarose foram determinados através da reação quantitativa com resorcinol, com posterior leitura espectrofotométrica a 520 nm (FIEW & WILLENBRINK, 1987). Os teores de aminoácidos livres foram determinados pela reação quantitativa com ninhidrina, com posterior determinação espectrofotométrica a 570 nm (MOORE, 1968). A prolina livre foi extraída e mensurada de acordo com método descrito por BATES et al.(1973). 48 A trealose foi determinada por reação enzimática através da ação hidrolítica da trealase em meio tamponado, sendo posteriomente, quantificado o produto glicolítico, através da enzima glicoseoxidase e, posterior leitura espectrofotométrica a 505 nm (NEVES et al., 1994). Para as avaliações biométricas, a parte área foi separada nas partes: lâminas foliares, colmo+bainha, flores e espiga, sendo acondicionadas em saco de papel e colocadas para secar em estufa de circulação forçada de ar a 80 ºC até atingir peso constante. Posteriormente foram pesadas em balança digital com precisão de ± 0,01 g. 3.2.3. Delineamento experimental e tratamento estatístico O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado em um arranjo fatorial 2x2 (dois híbridos x duas disponibilidades hídricas no solo) com cinco repetições, a fim de se ter um melhor controle das variáveis ambientais dentro da casa de vegetação. Realizou-se a análise de variância pelo teste F, utilizando-se do teste de Tukey para a comparação entre médias dos fatores qualitativos, híbridos (H) e disponibilidade hídrica no solo (DHS), segundo BANZATTO & KRONKA (2006). 3.3. Resultados e Discussão Para a grande maioria das respostas bioquímico-fisiológicas, a interação híbrido x disponibilidade hídrica no solo (HxDHS) foi não-significativa (p>0,05), ou seja, os efeitos da disponibilidade hídrica sobre a fotossíntese (A), a condutância estomática (gs), a elongação foliar (EFM), a altura da planta (Alt), a altura de inserção de espiga (Alt.I.E), o diâmetro do colmo (Diam.), a sacarose (sac.), a trealose (Tre) e a prolina (Pro) independem do tipo de híbrido. Para as variáveis açúcares redutores (Aç.Red.), amido e aminoácidos livres (AA) a interação foi significativa (p<0,05) (Tabela 1). 49 As plantas sob estresse hídrico apresentaram reduções significativas (≈ 98%) na fotossíntese líquida (Figura 5). O híbrido DKB 390 apresentou valores 26,05 e 1,47 µmoles de CO2/m2/s nas DHS -0,01 e -0,06 MPa, respectivamente. Enquanto que para o híbrido DAS 2B710 foram 29,43 e 1,47 µmoles de CO2/m2/s, nas mesmas condições. A condutância estomática (Figura 6) também foi afetada no potencial mais negativo (-0,06 MPa), de forma similar nos híbridos de milho: de 0,37 para 0, 019 mmol de H2O/m2/s, para o híbrido DKB 390, e de 0,30 para 0,020 mmol de H2O/m2/s no DAS 2B710. 50 Tabela 5. Análise de variância por meio do Teste F das respostas bioquímico-fisiológicas (p value) de híbridos de milho submetidos a diferentes disponibilidades hídricas no solo. **significativo (p<0,01); *significativo (p<0,05); nsnão-significativo (p>0,05). Causa da variação G.L. p value dos parâmetros bioquímico-fisiológicos A Gs EFM Alt. Alt.I.E Diam. MST Sac. Tre. Ac.Red Amido AA Pro Híbridos (H) 1 0,46ns 0,12ns 0,78ns 0,33ns 0,57ns 0,74ns 0,77ns 0,01** 0,01** 0,01** 0,10ns 0,01** 0,30ns Disponibilidade hídrica no solo (DHS) 1 0,01** 0,01** 0,01** 0,01** 0,01** 0,01** 0,01** 0,01** 0,01** 0,01** 0,01* 0,01** 0,01** Interação HxDHS 1 0,46ns 0,15ns 0,67ns 0,79ns 0,46ns 0,80ns 0,73ns 0,06 ns 0,06ns 0,01** 0,02* 0,01** 0,97ns (Tratamentos) 3 Resíduo 16 Total 19 C.V - 19,42 15,64 11,11 16,14 18,23 14,06 19,32 8,25 10,75 10,07 9,48 9,06 7,26 51 Figura 5. Fotossíntese líquida de híbridos de milho em resposta a diferentes disponibilidades hídricas no solo. **Diferença estatística entre as disponibilidades hídricas no solo independente do híbrido (p<0,01). Figura 6. Condutância estomática de híbridos de milho em resposta a diferentes disponibilidades hídricas no solo. **Diferença estatística entre as disponibilidades hídricas no solo independente do híbrido (p<0,01). Efeito da interação híbrido x disponibilidade hídrica no solons Barras verticais denotam 0,95 de intervalo de confiança Hibrido DKB 390 Hibrido 2B 710 -0,01 MPa -0,06 MPa Disponibilidade hídrica no solo (MPa) -10 -5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 F o to ss ín te se L íq u id a (µ M o l/ m 2 /s ) ** ** Efeito da interação híbrido x disponibilidade hídrica no solons Barras verticais denotam 0,95 de intervalo de confiança Hibrido DKB 390 Hibrido 2B 710 -0,01 MPa -0,06 MPa Disponibilidade hídrica no solo (MPa) -0,2 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 C o n d u tâ n ci a es to m át ic a (m m o l/ m 2 /s ) ** ** 52 Esses resultados indicam que as plantas de milho sob deficiência hídrica possuem um decréscimo da fotossíntese, devido à diminuição da condutância estomática, ocasionando o fechamento dos estômatos e a redução da transpiração (GRZESIAK et al., 2007; GHANNOUM, 2009). Decréscimos na fotossíntese e na condutância foram também observados por XU et al. (2009) em uma variedade de milho chinesa sob deficiência hídrica. Estudos de HUND et al. (2009) indicaram diferenças na tolerância de híbridos de milho ao estresse hídrico por meio da avaliação das taxas fotossintéticas e condutância estomática, contrariamente, neste estudo os híbridos apresentaram respostas semelhantes em ambas DHS, corroborando com MAGALHÃES et al. (2009) que caracterizaram linhagens de milho contrastantes à seca no estádio de florescimento através de parâmetros de trocas gasosas, e não verificaram diferenças significativas entre as linhagens sob estresse hídrico. O decréscimo na elongação foliar média foi semelhante para os dois híbridos (Figura 7). Contudo, houve diminuição significativa do crescimento do híbrido DKB 390 sob limitação hídrica. Como o alongamento foliar depende da expansão celular, em déficit hídrico, há uma inibição da expansão celular. Há evidências que fatores como síntese da parede celular e de membranas, divisão celular e síntese protéica coordenam essa resposta (TAIZ & ZEIGER, 2010), corroborando com os resultados de SANTOS & CARLESSO (1998) que verificaram menor redução na expansão de folhas de milho em plantas cultivadas em solo de textura arenosa, submetidas a déficit hídrico. Os efeitos deletérios do estresse hídrico sobre o crescimento das plantas dos dois híbridos de milho foram detectados em todos os parâmetros analisados (Tabela 1). As características biométricas: altura, altura de inserção de espiga, diâmetro do colmo e massa seca total apresentaram diferenças quando as plantas foram submetidas à disponibilidade hídricas distintas. Conforme houve a supressão hídrica, a altura, a altura de inserção de espiga, o diâmetro do colmo e a massa seca total apresentaram reduções drásticas, aferindo redução no cresci