p.5907 1 A IMPORTÂNCIA DA PREPARAÇÃO DE TUTORES EM UM CURSO DE TECNOLOGIAS ASSISTIVAS A DISTÂNCIA Márcia Debieux de Oliveira Lima (NEC/UNESP) Daniela Jordão Garcia Perez (UNESP) Cicera A. Lima Malheiro (NEC/UNESP) Renata Portela Rinaldi (UFSCar) Eixo temático: Tecnologias de Informação e Comunicação –TIC - no Processo de Ensinar e Aprender e na Formação Docente 1 Introdução A educação a distância (EAD) vem se tornando, ao longo dos últimos anos, uma discussão fundamental para quem vem refletindo sobre os rumos da educação numa sociedade cada vez mais interconectada por redes de tecnologia digital. Inúmeros cursos a distância são criados e difundidos cotidianamente em todas as partes do mundo, utilizando a internet ou outros sistemas de rede similares, como sistema viabilizador de comunicação e interação pedagógica, por exemplo. Vemos ainda, um crescimento acelerado de softwares e tecnologias desenvolvidas e/ou adaptadas para servir a essa modalidade em expansão, que também abrange a área da educação. Este é um processo no qual provoca transformações no cenário educacional atual e perpassa todas as etapas da educação, atingindo principalmente os programas de formação continuada. As amplitudes dessa dinâmica são ainda desconhecidas, pouco estudadas e necessitam de novos olhares para serem analisadas e discutidas. Contudo, percebe-se que aos poucos as políticas públicas educacionais começam a definir posicionamentos mais claros e detalhados sobre essa modalidade de ensino e as temáticas que norteiam a EAD, incentivando muitas vezes a elaboração de propostas e programas para a utilizacao deste recurso. Entretanto, é preciso estar atento, pois como alerta Kenski (2006, p.2), o desenvolvimento de projetos educacionais a distância com qualidade técnica e pedagógica requer cuidados em muitos sentidos. A gestão das mídias para uso em educação é um dos primeiros movimentos para a sua efetivação, pois envolve não apenas a análise do investimento e a aquisição de equipamentos, mas o tratamento do conteúdo que vai ser veiculado e a formação de equipes de profissionais - técnicos e docentes - para o seu p.5908 2 melhor uso pela área educacional, como um todo, e em cada projeto de ensino, em particular. Desse modo, o curso “Tecnologias Assistivas, Projetos e Acessibilidade: promovendo a inclusão de deficientes1”, destinado especialmente a professores da educação básica da rede pública de ensino, foi elaborado tendo como principal objetivo contribuir com a formação continuada dos professores para um melhor atendimento educacional especializado de Pessoas com Deficiência (PD) no âmbito da Educação Especial, de forma a complementar ao ensino regular por meio da utilização das tecnologias de informação e comunicação (TIC). O curso foi desenvolvido no ambiente virtual de aprendizagem (AVA) TelEduc, no qual participaram aproximadamente 514 cursistas distribuídos em 23 turmas de diferentes cidades de nove estados brasileiros: Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Sendo que cada turma foi formada com aproximadamente 25 cursistas (RINALDI et al, 2008). Conforme aponta Kenski (2006), a preparação da equipe responsável pelo desenvolvimento do curso (coordenação, pesquisadores, formadores e tutores) foi pensada para que todos os integrantes tivessem um repertório mínimo comum de conhecimentos técnicos, teóricos e metodológicos dos conteúdos e dos recursos tecnológicos que seriam trabalhados, assim como do AVA TelEduc, para que os cursistas fossem plenamente atendidos em suas necessidades e dificuldades no decorrer do trabalho. É importante destacar que essa preparação visou também a integração da equipe e o estreitamento dos laços pessoais para estabelecimento de uma base relacional entre os envolvidos. Para a condução do curso e acompanhamento dos cursistas, a equipe teve a seguinte configuração: 5 pesquisadores, responsáveis pela elaboração dos módulos (conteúdos, materiais e estratégias de trabalho); 12 formadores, cada qual responsável por duas turmas; cada turma teve para orientação um tutor a distância e um tutor presencial. Com o intuito de possibilitar uma integração desta equipe de profissionais e formar os tutores a distância para a realização de suas funções, antes do início das atividades a coordenação promoveu um curso para a capacitação dos tutores, certificada pela Pró-reitoria de Extensão Universitária da Unesp. Isto porque, a proposta do curso se respalda numa perspectiva teórica denominada Estar junto p.5909 3 Virtual (VALENTE, 2003), o que implica em dizer que às vezes precisamos aprender a desaprender, para incorporar novos conceitos e novas aprendizagens. Este é o foco sobre o qual será desenvolvido o presente texto, tendo como objetivo analisar o processo de formação dos tutores que assumiram o papel de mediadores no curso de extensão. É importante lembrar que pensar a EaD no atual contexto exige, de nós educadores uma reflexão bem mais ampla, que englobe repensar os próprios conceitos de educação, tecnologia e de formação de forma integrada, para que se criem propostas pedagógicas que incorporem as potencialidades que as novas tecnologias, em especial as de suporte digital, trazem para o processo coletivo da construção do conhecimento. 2 Contextualização Entre as atividades que se desenvolveram no decorrer do ano de 2008, no curso de “Tecnologias Assistivas, Projetos e Acessibilidade: promovendo a inclusão de deficientes” (denominado pela equipe como curso de TA) uma delas foi a formação de tutores, por pesquisadores do curso. Essa formação para capacitar os profissionais que assumiriam o papel de tutores para atuar a distancia foi realizada em duas etapas, sendo a primeira desenvolvida por meio do AVA TelEduc2 e a segunda, presencialmente, na Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT/Unesp), campus de Presidente Prudente/SP. A etapa presencial foi realizada no período de 17/01/2008 até 20/01/2008. Após a capacitação, iniciou-se um processo de acompanhamento e assessoramento continuo dos profissionais da equipe no AVA TelEduc. O objetivo da formação de tutores foi proporcionar aos participantes uma introdução do conceito de EaD, familiarização quanto a utilização do AVA TelEduc e sua aplibilidade no curso de TA orientada pela abordagem teórico-metodologica “Estar Junto Virtual”. Ademais, criar um espaço onde todos os profissionais envolvidos pudessem realizar reflexões sobre o uso das TIC e TA na sala de aula, com intuito de instigá-los a perceber que mudanças são necessárias no ambiente educacional, para favorecer a inclusão das Pessoas com Deficiência (PD). Essa proposta visou ainda, a integração dos tutores com os demais membros da equipe (formadores e pesquisadores) e deles entre si, estimulando trabalho coletivo a p.5910 4 distância. Por fim, esse processo foi desenvolvido para criar a possibilidade dos futuros tutores vivenciarem em um contexto real as atividades e os possíveis problemas que poderiam enfrentar com os cursistas durante o desenvolvimento curso de TA. 2.1 Seleção dos participantes A seleção dos participantes (tutores a distância) deu-se a partir dos critérios de experiência em EaD, Educação Especial, Informática na Educação entre outras. Os selecionados em sua maioria eram professores em exercício na educação básica da rede pública de ensino. Vale ressaltar que outros profissionais também compuseram a equipe, assumindo o papel de tutores presenciais. Estes, em sua maioria professores em exercício na escola, foram selecionados pelas secretarias de ensino dos municípios pólos em que o curso foi desenvolvido, entretanto o MEC não viabilizou recursos financeiros para que os tutores presenciais pudessem participar da formação promovida aos tutores a distância. Por esta razão e guardadas as atribuições que este profissional assumiria no curso, a coordenação juntamente com os pesquisadores, promoveram no AVA TelEduc uma ambientalização, destinada a sua própria utilização e familiarização técnica- pedagógica quanto aos conteúdos, recursos e ferramentas que seriam utilizadas no curso. 3 Metodologia do trabalho Participaram do processo de capacitação 33 candidatos a vaga de tutor a distância. Entre estes profissionais 20 foram selecionados para atuarem na função. Esse processo foi apoiado no AVA TelEduc, num ambiente criado especificamente para esse fim e denominado "Ambiente dos Tutores", com duração de 40 horas. Esse ambiente foi utilizado, posteriormente durante o curso de TA para comunicação de toda a equipe e até mesmo a área administrativa. Para o trabalho presencial, foi utilizado um laboratório de informática com 30 computadores, todos conectados a internet e com sistema operacional que permitiu a instalação de aplicativos específicos relacionados ao conteúdo do curso, por exemplo, softwares de tecnologias assistivas (Dox Vox, Teclado virtual entre outros) e recursos digitais (Objetos de aprendizagem - OA). Além, desses recursos, p.5911 5 contou-se com a disponibilização de “datashow” e outros materiais pedagógicos (papéis, textos, canetas, lápis coloridos etc) que foram utilizados no desenvolvimento de dinâmicas durante os dias de trabalho. Nos momentos presenciais os participantes trabalharam de forma individual e em grupos, realizando reflexões sobre sua prática pedagógica, o uso de TIC no contexto da escola e as mudanças necessárias para esse processo, principalmente quando a escola recebe alunos com deficiência; reflexões sobre as potencialidades de se usar as TIC para favorecer o ensino e a aprendizagem dos conteúdos escolares em contextos inclusivos. Concomitantemente, a estas atividades, foram sendo apresentados e utilizados os recursos do AVA TelEduc, para que os participantes pudessem explorar e se familiarizar com alguns deles, por exemplo, Correio, Bate-papo, Fórum de discussão, Portifólio, Grupos. 4 Desenvolvimento da capacitação de tutores O período de capacitação visou habilitar os tutores digitalmente (abordando aspectos técnicos) e também em relação aos conteúdos pedagógicos que seriam trabalhados no curso de TA. Esse processo teve simultaneamente um papel formativo e classificatório para que entre os participantes fossem selecionados 20 profissionais que atuariam como tutores a distância. A escolha do AVA, tanto para o desenvolvimento da capacitação e posteriormente a articulação da equipe, como para o desenvolvimento do curso de TA, deve-se ao potencial desta plataforma de proporcionar um ambiente de aprendizagem significativo, contextualizado e colaborativo, a distância, além de apresentar ferramentas que estimulam ações interativas, tanto síncronas como assíncronas, e por sua fácil navegabilidade. Para Kenski (2006) a escolha dos recursos midiáticos que serão usados em cada curso e/ou capacitação e, em especial, a escolha do tipo particular de mídia para a realização de projetos em EaD vai orientar, por exemplo, a organização e treinamento da equipe responsável, os investimentos em infra-estrutura tecnológica, a forma como serão planejadas e disponibilizadas as atividades educacionais etc. Por meio da dinâmica adotada para essa capacitação, os participantes foram cadastrados, simultaneamente, em dois ambientes do AVA especialmente preparados para esse fim; nestas interfaces todos os participantes desenvolveram p.5912 6 atividades em que puderam vivenciar os papéis de alunos (cursistas) e o papel de formadores e tutores que atuariam a distância. Nesse processo, ora os participantes tinham a visão de formadores, ora tinham a visão de alunos, conforme lembra uma das candidatas a tutora em sua avaliação: "todos puderam sentir na pele o papel de aluno e tutor num curso a distância”. Essa dinâmica de trabalho parece ir ao encontro do que propõe Perk (apud CAMPOS, ROCHA,1998, p.3) quando lembra que "nos ambientes de aprendizagem progressistas os estudantes possuem muito mais responsabilidade sobre o gerenciamento de suas tarefas do que no modelo tradicional e o papel do professor passa a ser o de orientador ou facilitador". Na etapa presencial, os quatros módulos que compunham o curso de TA foram apresentados aos participantes, um em cada dia no período da manhã e tarde; depois, foi disponibilizada uma atividade referente a cada módulo para que os participantes pudessem desenvolve-las participando ora como tutor a distância (papel que posteriormente iriam desempenhar) ora como cursistas. Estas atividades buscavam estimular a ação-reflexão-ação, por meio da interação a fim de que os participantes pudessem buscar e apresentar estratégias, que pudessem ser usadas ao longo do curso. Além da ambientalização do AVA e aprendizagem dos módulos, os próprios participantes, propuseram novas estratégias para serem implementadas no decorrer dos módulos. 5 Resultados e discussões Vislumbrar a importancia e o significado que o processo de preparação dos profissionais têm (ou não), para assumirem uma nova função de tutores a distancia, tornou-se um desafio, tendo em vista as reedições do curso de Tecnologias Assistivas. Desta forma, procurou-se analisar os resultados da capacitação buscando-se "ouvir" os protagonistas desse processo, os tutores a distância. Para a coleta das informações foi elaborado um questionário e enviado, via e-mail, para todos os participantes do processo e que atuaram na equipe como tutores. Este instrumento foi aplicado um ano após o término da capacitação dos tutores e depois da conclusão do curso de TA, pois acredita-se que os participantes teriam um olhar retrospectivo sobre a experiencia vivida com a possibilidade de análise crítica, sem o envolvimento emocional porquê passaram p.5913 7 durante o curso de capacitação podendo, assim, oferecer pistas frutíferas sobre o significado desse tipo de iniciativa na preparação de equipes para o trabalho com EaD. Ao analisar os dados advindos dos questionários percebe-se uma reflexão criteriosa dos respondentes sobre a formação que vivenciaram, suas aprendizagens e também sobre as dificuldades que enfrentaram no curso de preparação de tutores. Os respondentes apresentam sugestões e considerações sobre esse periodo de preparação para assumirem uma nova função e destacam que consideram esse um processo importante e significativo em seu desenvolvimento profissional. A partir de então, os dados foram sistematizados em tres eixos: as aprendizagens, as dificuldades e a avaliação. No que tange as aprendizagens, a maioria dos respondentes cita que durante o curso de capacitação aprenderam a operar no AVA TelEduc e conhecer suas ferramentas. Destacam, a aprendizagem dos conteúdos pedagógicos que seriam trabalhados no curso de TA, além de considerarem importante a aprendizagem sobre: o uso de uma linguagem afetiva e acolhedora no AVA; a necessidade de dar retorno rápido aos cursistas, visando motivá-los para o curso e a não se sentirem sozinhos, fazendo uso da abordagem Estar Junto Virtual; a vivência do papel do aluno de um curso a distância, experimentando suas necessidades, possíveis dúvidas e dificuldades durante a capacitação. A partir das indicações, parece ser primordial no desenvolvimento de cursos mediados pela internet, proporcionar à equipe de trabalho experiencias que os levem a conhecer e explorar o AVA onde o curso será desenvolvido, bem como os conteúdos que serão trabalhados e recursos pedagógicos e tecnológicos que serão utilizados no curso. Porém, esse processo deverá acontecer por meio de uma proposta contextualizada em que a equipe vivencie as situações concretas das atividades que serão desenvolvidas posteriormente com os cursistas. Ainda sobre as aprendizagens, quando questionados sobre o que foi trabalhado na capacitação dos tutores e não foi usado durante o curso de TA, apenas duas das respondentes se lembraram de uma atividade desenvolvida durante a capacitação e que não foi usada durante o curso. Provavelmente essa disparidade ocorreu devido as características particulares de cada turma, considerando que o curso foi desenvolvido em nível nacional. Entretanto, cada equipe (formador, tutor p.5914 8 a distância e tutor presencial) buscou criar suas próprias estratégias e fazer adaptações para garantir o sucesso das turmas. Desta forma, pode-se dizer que praticamente todo o conteúdo trabalhado na capacitação foi útil e importante para os profissionais durante a mediação da aprendizagem no curso de TA junto aos professores da rede pública de ensino que participaram dessa formação em serviço. Contudo, na análise dos dados sobre as dificuldades as respondentes sugeriram o aprofundamento de alguns conteúdos durante a capacitação. Quando inquiridas sobre o que deixou de ser trabalhado na formação e que fez falta durante o curso de TA, apenas duas respondentes afirmaram que não faltou coisa alguma. As demais citaram diferentes aspectos como: técnicas de estímulo aos cursistas por meio de simulações de situações de evasão e não entrega de atividades; informações sobre os softwares que seriam utilizados e os pluguins necessários para seu funcionamento; orientações mais claras sobre como encaminhar o trabalho em grupo no AVA; trabalhar um pouco mais as ferramentas de acessibilidade do Windows e os Objetos de Aprendizagem; e dar maior ênfase nas ferramentas do AVA TelEduc. Vale ressaltar que essas indicações, foram processualmente trabalhadas no ambiente dos tutores ao longo do curso de modo a apoiar o trabalho dos tutores e minimizar as dificuldades que emergiam. A medida que os profissionais se deparavam com dificuldades, relatavam neste ambiente e então os pesquisadores e coordenadores, faziam as orientações e intervenções necessárias para superá-las. Além disso, os próprios tutores e formadores foram criando suas estratégias de trabalho de acordo com as peculiaridades das turmas e compartilhando-as com toda a equipe no ambiente dos tutores, possibilitando a criação de uma comunidade de aprendizagem virtual. Contudo, para as reedições do curso as dificuldades indicadas pelos participantes da capacitação estão melhor explicadas nos materiais de apoio e novas estratégias de trabalho foram desenvolvidas para superá-las. Quanto a avaliação dos participantes sobre os conteúdos abordados nesse processo de preparação e qual a sua importância/contribuição para o exercício da nova função de tutor, todas as respondentes indicam que o conteúdo trabalhado foi de extrema importância para o pleno desempenho de suas funções junto aos cursistas e lembram que esse processo foi fundamental para os p.5915 9 resultados alcançados no curso. O "ambiente dos tutores" no AVA foi um espaço, no qual toda a equipe foi cadastrada e foi usado pela coordenação, supervisão de EAD e pesquisadores para passarem informações e orientações aos formadores e tutores sempre que necessário. Por meio deste ambiente foi possível fazer intervenções e manter um padrão de qualidade comum em todas as turmas do curso, sem deixar de respeitar as particularidades de cada contexto. Além disso, os tutores e formadores também usavam este ambiente para tirar suas dúvidas e compartilhar estratégias de apoio ao desenvolvimento dos cursistas. A maior parte das respondentes julgou imprescindível a troca de experiências e saberes, neste ambiente "como espaço de discussão que potencializa o trabalho de todos da equipe", para o sucesso do trabalho. Algumas ressaltaram a importância do aprendizado colaborativo; outras elencaram as vantagens e facilidades da EAD em "ultrapassar barreiras" e levar o conhecimento a todos, independente de sua localização geográfica e temporal; e ainda, lembraram do preconceito, existente em relação a EaD, por falta de conhecimento dos métodos pedagógicos e avaliativos empregados. O uso de um ambiente no AVA, no qual todos os profissionais da equipe têm a liberdade de manifestar-se, expressar sua opinião, tirar suas dúvidas, dividir suas angústias e sucessos parece fundamental em um curso de formação de professores com turmas situadas em contextos diferentes. Vale destacar que a criação de um ambiente "amigável" e a estratégia de trabalho respaldada numa perspectiva teórica que visa a interatividade e o diálogo como forma de potencializar as aprendizagens coletivas é importante para que os profissionais da equipe sintam-se a vontade e não tenham medo de se manifestar. Desta forma, a coordenação, supervisão de EaD e pesquisadores buscaram estar atentos aos questionamentos dos demais membros da equipe, buscando estimular estes a manifestarem suas dificuldades, para que por meio do diálogo em equipe pudessem encontrar as soluções mais adequadas a cada realidade. A formação presencial que foi ao mesmo tempo formativa e classificatória poderia ter criado um clima de rivalidade entre os candidatos a tutores a distância, porém, três das respondentes consideraram que este fato interferiu em seu desempenho no curso de preparação dos tutores, pois "(...) deixou um clima de apreensão. Impediu a naturalidade uma vez que tudo o que se fazia era avaliado". p.5916 10 Por outro lado, as demais afirmaram que este fato não interferiu em sua formação e consideram que "a questão classificatória é importante e proporciona mais interesse ao estudo e maior dedicação". A partir desta informação, analisando-se o perfil das respondentes observou-se que se sentiram prejudicadas aquelas profissionais que tinham menos conhecimentos sobre informática e/ou AVA TelEduc. Provavelmente, isso deve-se ao fato de terem que assimilar uma quantidade muito maior de informações ao mesmo tempo (a pedagógica e a técnica computacional), além do que, a inexperiência no AVA TelEduc também pode ter comprometido seu desempenho, principalmente em relação ao tempo disponibilizado para cada tarefa. Ainda, no que se refere a formação digital e pedagógica, podemos notar que estas respondentes, quando inquiridas sobre quais conteúdos foram melhor trabalhados, declaram que a parte pedagógica ficou mais clara; enquanto que aquelas que já tinham conhecimentos de outros AVA indicam que o conteúdo pedagógico poderia ter sido melhor trabalhado. É importante lembrar que de acordo com os critérios usados para selecionar os profissionais que participariam da formação de tutores, foram atribuídos pesos maiores para os currículos que apresentavam experiência em EAD, em Informática na Educação e em Educação Especial. Desta forma, os selecionados para a formação eram em sua grande maioria experientes em uma destas áreas e por isso, os que possuíam experiência em EAD ou Informática na Educação, não tiveram dificuldades em manusear o AVA TelEduc, enquanto aqueles que possuíam experiência em Educação Especial, não tinham muita dificuldade com o conteúdo pedagógico. De qualquer forma, vale lembrar que, apesar das dificuldades encontradas, todas as respondentes foram classificadas e desempenham com propriedade suas funções de tutoras e ao responder este questionário colocam-se como sujeitos críticos ao analisar a formação que vivenciaram e o que de fato precisaram para desempenharem bem os seus papeis. Apresentam sugestões para as próximas reedições do curso de formaçao de tutores, entre as quais destacam-se: - destinar maior tempo para que os candidatos a tutores que não conhecem o AVA TelEduc possam explorar cada ferramenta. Como o curso não pode ter maior carga horária presencial, por falta de recursos financeiros, pode-se ampliar a p.5917 11 carga horária do período realizado a distância da formação, que antecede a formação presencial para que os candidatos a tutores possam explorar melhor o ambiente; - trabalhar mais tempo com os Objetos de Aprendizagem (OA). Assim como o AVA, os OA também podem ser explorados antes do período presencial da formação; - atribuir um período para a discussão das principais dificuldades encontradas na versão anterior, com respostas práticas para a resolução desses problemas. - aumentar o número de bolsas que os tutores a distância recebem. Na primeira edição do curso a equipe recebeu apenas 4 bolsas, pois o curso tinha 120 horas de duração. Porém, as atividades do tutor demandam mais tempo, pois além de acompanhar os cursistas avaliando suas atividades, respondendo mensagens nos fóruns e correio ele precisa preencher planilhas e elaborar relatórios para a coordenação do curso. A partir da 2ª edição do curso de TA a carga horária foi ampliada para 180 horas e desta forma, cada profissional receberá 6 bolsas; - estudar a possibilidade dos tutores presenciais voltarem a ser remunerados especificamente para esse cargo. Pois, na 2ª edição, este profissional foi indicado pelos Dirigentes de Educação Especial dos respectivos estados e além de não receberem bolsa para o desenvolvimento deste trabalho, muitas vezes, um único profissional acaba sendo responsável por um grande número de turmas, comprometendo assim seu desempenho na função. - Esclarecer melhor quais são as funções de cada profissional. Como era a primeira vez que o curso de TA seria oferecido não foi possível delinear com antecedência quais seriam todas as atividades de cada profissional. Foram comentadas todas as tarefas que teriam que ser realizadas, mas não estava claro qual profissional deveria executar cada ação. Desta forma, isto foi sendo esclarecido pelos pesquisadores e pela coordenação, por meio do ambiente dos tutores ao longo do desenvolvimento do curso. Esta experiência mostrou que é necessário dividir as tarefas e delegar responsabilidades entre formador, tutor a distância e tutor presencial com antecedência de modo que não haja sobreposição de ações junto aos cursistas. A este respeito, para a 2ª edição do curso foram elaboradas agendas semanais para o ambiente da equipe, explicitando quais são p.5918 12 as atividades de cada um destes profissionais durante cada semana, além de serem delineadas detalhadamente as atribuições de cada membro. De forma geral, em relação aos conteúdos trabalhados na formação dos tutores, pode-se concluir que para os candidatos a tutores que possuem experiência em EaD e/ou informática na educação é necessário dar maior ênfase na discussão dos conteúdos pedagógicos que serão ministrado no curso de TA, como conceitos teóricos que abordam os conteúdos de Tecnologias Assistivas, Objetos de Aprendizagem e Projetos de Trabalho. Por outro lado, para os candidatos a tutores que possuem experiência em Educação Especial, é necessário dar maior ênfase nas ferramentas do AVA TelEduc e recursos tecnológicos que serão usados no curso. E para todos é preciso esclarecer melhor qual é a função de cada um durante o curso e suas respectivas atribuições. Para isso, as respondentes sugerem que se faça uso de situações já vivenciadas na 1ª edição, principalmente nos problemas relacionados a ausência de cursistas no ambiente. Finalmente, foi possível perceber que participar de um processo de capacitação específico para a preparação de tutores para atuar no curso de “Tecnologias Assistivas, Projetos e Acessibilidade: promovendo a inclusão de deficientes” teve grande relevância para a aprendizagem tanto para os candidatos que assumiram a função de tutores, como para a equipe que a partir desta experiência e da parceria estabelecida com esses profissionais, tem a oportunidade de implementar mudanças e avançar em vários aspectos da formação de profissionais que atuarão no AVA TelEduc. 6 Referencias CAMPOS, F. C. A.; ROCHA, A. R. C. Desing Instrucional e construtivismo: em busca de modelos para o desenvolvimento de sortware. In: Congresso RIBIE, 4, Brasilia, 1998. KENSKI,V. M. Gestão e uso das mídias em Projetos de Educação a Distância. Revista E-Curriculum, São Paulo, v.1, n.1, dez./jul. 2005-2006. Acessado em 16 abr. de 2009, Disponível em http://www.pucsp.br/ecurriculum RINALDI, R. P. et al. Tecnologias assistivas e formação de professores em um ambiente virtual de aprendizagem. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE p.5919 13 EDUCAÇÃO ESPECIAL, 3, 2008, São Carlos. Anais, 2008. VALENTE, J. A. Educação a Distância no ensino superior: soluções e flexibilizações. Interface – Comunicação, Saúde, Educação, v.7, n.12, p.139-142, fev., 2003. 1 Este projeto é uma parceria entre a Universidade Estadual Paulista (UNESP) e a Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação (SEESP/MEC). 2 Ambiente desenvolvido pelo NIED/UNICAMP em colaboração com o Instituto de Computação, sob supervisão da Profa. Dra. Heloisa Vieira da Rocha.