UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO E PROCESSOS FORMATIVOS WILLIAN FRANKLIN SAMPAIO A PALEONTOLOGIA NO ENSINO DE CIÊNCIAS: UMA PROPOSTA DE FORMAÇÃO CONTINUADA PARA PROFESSORES Jaboticabal 2020 WILLIAN FRANKLIN SAMPAIO A PALEONTOLOGIA NO ENSINO DE CIÊNCIAS: UMA PROPOSTA DE FORMAÇÃO CONTINUADA PARA PROFESSORES Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ensino e Processos Formativos, junto ao Programa de Pós- Graduação em Ensino e Processos Formativos, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Linha de pesquisa: Ensino de Ciências Orientadora: Prof.ª. Drª. Thaís Gimenez da Silva Augusto Coorientadora: Prof.ª Dr.ª Adriana Coletto Morales Jaboticabal 2020 WILLIAN FRANKLIN SAMPAIO A PALEONTOLOGIA NO ENSINO DE CIÊNCIAS: UMA PROPOSTA DE FORMAÇÃO CONTINUADA PARA PROFESSORES Dissertação apresentada como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ensino e Processos Formativos, junto ao Programa de Pós- Graduação em Ensino e Processos Formativos, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Linha de pesquisa: Ensino de Ciências Orientadora: Prof.ª. Drª. Thaís Gimenez da Silva Augusto Coorientadora: Prof.ª Dr.ª Adriana Coletto Morales MEMBROS COMPONENETES DA BANCA EXAMINADORA: ___________________________________________________________________ Presidente e Orientadora: Profª Drª Thaís Gimenez da Silva Augusto UNESP – Campus de Jaboticabal ___________________________________________________________________ Membro Titular: Profª Drª Lilian Al-Chueyr Pereira Martins USP – Campus Ribeirão Preto ___________________________________________________________________ Membro titular: Profª Drª Ana Maria de Andrade Caldeira UNESP – Campus de Jaboticabal Jaboticabal 05 de Março de 2020 AGRADECIMENTOS À minha orientadora, Profa. Dra. Thais Gimenez da Silva Augusto, pela orientação na graduação, pelo convite para a participação no grupo de pesquisa e por todos os momentos de conversa que muito influenciaram nas decisões que me trouxeram até este momento. Obrigado pelas palavras nos momentos difíceis, pelos conselhos, pela paciência e, por acima de tudo, ter acreditado em mim desde o começo. Eterna gratidão. À minha coorientadora, Profa. Dra. Adriana Coleto Morales, por todos os ensinamentos e discussões a respeito dos conteúdos desta pesquisa. Foram momentos essenciais para repensar caminhos e construir este trabalho. Aos meus professores da graduação em Biologia, que tanto me ensinaram; em especial, ao Professor Jean Zamboni, por ter me apresentado à Paleontologia. À Profa. Dra. Lilian Al-Chueyr Pereira Martins, pelos ensinamentos, conselhos e por ter despertado em mim o fascínio pela História da Biologia; e, à Profa. Dra. Ana Caldeira, pela contribuição nesta pesquisa, pois suas palavras ajudaram muito na realização desta. A todos os professores do programa, pelas palavras de incentivo, pelo auxílio nos momentos desesperadores e por serem tão prestativos. Um agradecimento especial às professoras: Rosemary Rodrigues, pela ajuda durante sua disciplina e também em diversos outros momentos e, à professora Tatiana Noronha, por ter acreditado em mim e por ter me apresentado à minha orientadora. Aos meus pais, João e Elisdeire, obrigado pelo carinho, confiança e por sempre acreditarem em minha capacidade. O amor de vocês me mantém firme. Aos meus irmãos, Larissa, Talita e Henrique, e a todos os meus sobrinhos, que souberam dividir minha atenção e entender minhas faltas constantes sem nunca me cobrar nada. Aos meus amigos e amigas, que sempre me ouviram, forneceram abraços apertados e palavras de incentivo. Selma, Juliana, Rita Helena, Neto e Pablo, vocês contribuíram muito; a leitura atenta e a opinião de vocês foram essenciais para a realização deste trabalho. Sou profundamente grato. Aos amigos que conquistei durante o mestrado, Leticia, Marcel, Pietro, Gisele, Leiri, Isa, Caio, entre tantos outros; essa caminhada só foi menos “dolorosa” graças aos momentos agradáveis e à ajuda de vocês. Aos meus alunos, que souberam compreender minhas ausências, por terem acreditado em mim e me apoiado. Um agradecimento especial ao meu aluno Daniel Felipe que, no momento de maior desespero, me estendeu a mão e me ajudou na coleta de dados. Você tem minha admiração e respeito. À Diretoria de Ensino de Jaboticabal, à coordenadora da área de Biologia, Adriana, e a todos os professores que concordaram em participar desta pesquisa. Muito obrigado. “Tudo que o homem não conhece não existe para ele. Por isso o mundo tem, para cada um, o tamanho que abrange o seu conhecimento.” (Carlos Bernardo González Pecotche) RESUMO O Ensino de Paleontologia desde o Ensino Fundamental é de extrema importância na formação do aluno. Ele é base para a compreensão de conteúdos biológicos como a Teoria Evolutiva e para o entendimento da cultura científica. Os Parâmetros Curriculares Nacionais ressaltam que é necessário não apenas conhecer os fósseis, mas que haja uma aprendizagem conceitual, cultural e crítica sobre o assunto. Contudo, temas paleontológicos ainda estão longe de fazer parte da rotina das salas de aula. Pesquisas apontam que as maiores dificuldades estão nos materiais didáticos utilizados, ou na falta deles, e na formação dos professores que acabam por apresentar dificuldades em abordar esses temas. Dessa maneira, cursos de formação continuada são uma possibilidade do professor adquirir os conteúdos específicos e didáticos necessários para que haja mudanças em sua prática pedagógica. Uma estratégia de ensino que pode colaborar para a abordagem do tema em aula é a História da Ciência: utilizar trechos ou textos originais e episódios históricos que fizeram parte da construção dessa área da Ciência, ajudam o aluno a compreender como um conhecimento foi construído, seu contexto de produção, as várias interpretações dadas a ele e a entender melhor o próprio conteúdo estudado. A História da Paleontologia nos permite reconhecer os vários sentidos atribuídos aos fósseis ao longo do tempo, além de mostrar como cientistas, por exemplo Darwin, os utilizaram na fundamentação de suas teorias. Desta forma, a presente pesquisa tem como objetivo analisar como um curso breve de formação continuada em História da Paleontologia, partindo das necessidades educacionais dos professores do Estado de São Paulo, pode contribuir para o ensino desta área. O presente estudo, de caráter qualitativo, abrange análise documental, questionários e diagnóstico da formação. A primeira etapa do estudo, compreendeu revisão bibliográfica e análise dos materiais que os professores da rede pública estadual paulista possuem como referência (Currículo Estadual, Caderno do Aluno e do Professor, Matriz de Avaliação Processual e o Guia de Habilidades do SARESP). Os dados obtidos serviram de base para a construção dos questionários e para preparação de um encontro de Formação Continuada, tendo como tema a História da Paleontologia. Nesta segunda etapa, os professores responderam a questionários e participaram de atividades que foram filmadas e transcritas em sua totalidade, para serem analisadas posteriormente. Todos os dados foram analisados com base nas técnicas de análise de conteúdo. A análise documental nos permitiu perceber que o currículo estadual apresenta um avanço ao dedicar uma situação de aprendizagem aos fósseis e sua relação com a Evolução. Além disso, as habilidades e os descritores de avaliação contemplam em seus textos, conteúdo dessa área. Contudo, a maneira como eles são abordados no material didático vinculado ao currículo estadual ainda está longe da ideal. Como o mesmo não fornece recursos de apoio como textos e imagens, exige do professor grande domínio do tema e auxílio de materiais didáticos adicionais. As referidas habilidades e descritores poderiam ser abordados através da História da Paleontologia e de atividades didáticas que utilizem trechos de textos originais. A análise dos questionários apontou uma formação superficial na área de Paleontologia, muitos professores não tiveram este conteúdo na formação inicial e os que tiveram não sentem que estão preparados para lecionar esse tema. Os docentes apontaram que os recursos mais utilizados para abordar o assunto são aqueles disponíveis na escola com livros, textos, filmes entre outros. Os professores reconhecem a importância desse campo da Ciência para o entendimento da Evolução. Durante as atividades de formação, constatou-se a importância de debater o currículo com os professores. A discussão das habilidades e do material didático permitiu a troca de informações entre os pares e o compartilhamento de informações entre eles e o formador. A História da Paleontologia mostrou-se ser um recurso válido para tratar o assunto. Atividades como a linha do tempo, leitura de textos com episódios históricos e excertos de textos originais, permitiram discussões de como estes recursos podem ser levados para a sala de aula, apesar dos professores apresentarem como fatores limitantes a linguagem, os conhecimentos prévios dos alunos e a organização da escola e do currículo. De acordo com os dados coletados, verifica-se que a formação continuada em História da Paleontologia oferecida pode contribuir para que os professores de Ciências ampliassem seus conhecimentos sobre os fósseis, a evolução e debatessem como as estratégias didáticas apresentadas durante o curso podem ser adaptadas em sua prática pedagógica. Palavras-chave: Ensino de Ciências, Ensino de Paleontologia, História da Ciência, Formação de professores. ABSTRACT The teaching of paleontology since elementary school is extremely important in the education of the student. It is the basis for understanding biological content such as The Evolutionary Theory and for understanding scientific culture. The National Curriculum Parameters emphasize that it is necessary not only to know the fossils, but also to have a conceptual, cultural and critical learning on the subject. However, paleontological themes are still far from being part of the classroom routine. Researches show that the greatest difficulties are in the teaching materials used, or in the absence of them, and in the training of teachers who end up presenting difficulties in addressing these themes. This way, continuing education courses are a possibility for the teacher to acquire the specific and didactic contents necessary to make changes in his pedagogical practice. A teaching strategy that can collaborate to address the theme in class is the History of Science: using excerpts or original texts and historical episodes that were part of the construction of this area of Science, help the student to understand how knowledge was built, his context of production, the various interpretations given to him and to better understand the content studied. The History of Paleontology allows us to recognize the various meanings attributed to fossils over time, besides showing how scientists, like Darwin, used them to support their theories. Thus, this research aims to analyze how a short course of continuing education in the History of Paleontology, based on the educational needs of teachers in the State of São Paulo, can contribute to the teaching of this area. This qualitative study covers documentary analysis, questionnaires and training diagnosis. The first stage of the study comprised a bibliographic review and analysis of the materials that teachers from the São Paulo state public system have as reference (State Curriculum, Student and Teacher Book, Process Evaluation Matrix and the SARESP Skills Guide). The data obtained served as a basis for the construction of the questionnaires and for the preparation of a Continuing Education meeting, with the theme of the History of Paleontology. In this second stage, the teachers answered questionnaires and participated in activities that were filmed and transcribed in their entirety, to be analyzed afterwards. All data were analyzed using content analysis techniques. The documentary analysis allowed us to perceive that the state curriculum presents an advance in dedicating to learning fossils and its relation with Evolution. In addition to that, the assessment skills and descriptors include content in this area in their texts. However, the way they are approached in the didactic material linked to the state curriculum is still far from ideal. As it does not provide support resources such as texts and images, it requires an extensive knowledge of the subject and the help of additional teaching materials. These skills and descriptors could be approached through the History of Paleontology and didactic activities that use excerpts from original texts. The analysis of the questionnaires showed a superficial training in the field of Paleontology, many teachers did not have this content in their initial training and those who did, do not feel they are prepared to teach this topic. The teachers pointed out that the most used resources to address the subject are those available at school like books, texts, films and others. Teachers recognize the importance of this field of Science for the understanding of Evolution. During the training activities, the importance of discussing the curriculum with the teachers was noticed. The discussion of skills and teaching material allowed the exchange of information between peers and they could also share with the trainer. The History of Paleontology proved to be a valid resource to deal with this topic. Activities such as the timeline, reading texts with historical episodes and excerpts from original texts, allowed discussions of how these resources can be taken to the classroom, despite the fact that teachers present language, students' previous knowledge, the organization of the school and the curriculum as limiting factors. According to the collected data, it appears that continuing education in the History of Paleontology can contribute for Science teachers to expand their knowledge about fossils, evolution and discuss how the didactic strategies presented during the course can be adapted in their pedagogical practice. Keywords: Science Teaching, Paleontology Teaching, History of Science, Teacher training. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Imagem do Quadro contendo informações sobre a Situação de Aprendizagem 8 (SÃO PAULO, 2014, p. 55) ............................................................................................... 100 Figura 2 - Questão do Caderno do Aluno, 7º ano, Volume 1, que trata de conceitos de fossilização (SÃO PAULO, 2014, p.59). ............................................................................ 104 Figura 3 - Questão presente no Caderno do Aluno, 7º ano, volume 1 para discussão da importância dos fósseis (SÃO PAULO, 2014, p. 60) .......................................................... 106 Figura 4 – Questão sobre Evolução com erro conceitual do Caderno do Aluno, 7º ano, volume 1 (SÃO PAULO, 2014, p.60). ............................................................................................ 107 Figura 5 - Questão aplicada na prova do SARESP 2008 que trata da importância dos fósseis como evidência para estudar seres vivos extintos há milhões de anos (SÃO PAULO, 2009). .......................................................................................................................................... 113 Figura 6 - Questão aplicada na prova do SARESP 2008 que avalia o conhecimento dos alunos sobre o que são fósseis (SÃO PAULO, 2009). ................................................................... 113 Figura 7 - Questão aplicada na prova do SARESP 2010 que avalia se o aluno é capaz de reconhecer a importância da evidência fóssil no estudo das características de seres que viveram no passado (SÃO PAULO, 2011). ........................................................................ 114 Figura 8 - Questão aplicada no SARESP 2014 que avalia se o aluno é capaz de reconhecer a importância dos fósseis para o estudo da História da Terra (SÃO PAULO, 2015). ............. 116 Figura 9 - Questão do SARESP apresentada aos professores durante a formação continuada. Fonte: Arquivo pessoal. ..................................................................................................... 156 Figura 10 - Questão do SARESP apresentada aos professores durante a formação continuada. Fonte: Arquivo pessoal. ..................................................................................................... 157 Figura 11 - Linha do tempo produzida durante a atividade com os professores. Fonte: Arquivo pessoal. .............................................................................................................................. 160 Figura 12 - Formador durante a atividade que apresentava a História da Paleontologia. Fonte: Arquivo pessoal. ................................................................................................................ 161 Figura 13 - Questão elaborada pelos grupos durante as atividades de formação continuada em História da Paleontologia. Fonte: Arquivo pessoal. ............................................................ 173 Figura 14 - Questão elaborada pelos grupos durante as atividades de formação continuada em História da Paleontologia. Fonte: Arquivo pessoal. ............................................................ 175 Figura 15 - Questão elaborada pelos grupos durante as atividades de formação continuada em História da Paleontologia. Fonte: Arquivo pessoal. ............................................................ 176 Figura 16 - Questão elaborada pelos grupos durante as atividades de formação continuada em História da Paleontologia. Fonte: Arquivo pessoal. ............................................................ 178 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Pesquisas envolvendo análise do conteúdo de Paleontologia nos livros didáticos nos últimos 20 anos. ............................................................................................................. 42 Quadro 2 - Análise da presença dos conceitos de Paleontologia no Caderno do Aluno e Professor do 7º ano de Ciências do Estado de São Paulo. ................................................... 101 Quadro 3 - Número de questões da Habilidade 9 do SARESP por ano de avaliação. .......... 110 Quadro 4 – Descrição da Habilidade 09 do SARESP – 7º ano (SÃO PAULO, 2015).......... 111 Quadro 5 - Presença do termo “fósseis” na disciplina de Ciências, segundo a BNCC para os anos finais do Ensino Fundamental (BRASIL, 2017, p. 345 e 347). .................................... 118 Quadro 6 - Presença do termo “fósseis” na disciplina de Ciências, segundo o Currículo Paulista para os anos finais do Ensino Fundamental (SÃO PAULO, 2019, p.386 e 393). .... 119 Quadro 7 - Habilidades em que conceitos paleontológicos poderiam ser abordados na disciplina de Ciências considerando o novo Currículo Paulista. (SÃO PAULO, 2019, p.386, 389, 393 e 394). ................................................................................................................. 122 Quadro 8 – Formação de professores de Ciências, da rede pública estadual paulista, em História da Ciência. ............................................................................................................ 127 Quadro 9 – Professores de Ciências da rede estadual paulista que apontam se utilizam HC em suas aulas e como realizam esta inserção. ........................................................................... 128 Quadro 10 – Formação em Paleontologia que professores de Ciências, da rede pública estadual de São Paulo, tiveram durante a graduação. .......................................................... 130 Quadro 11 – Professores de Ciências, da rede pública estadual de São Paulo, que já realizaram cursos na área de Paleontologia .......................................................................................... 132 Quadro 12 – Concepções de professores de Ciências, da rede pública estadual paulista, sobre a importância da Paleontologia na formação docente. ......................................................... 133 Quadro 13 – Concepções de professores de Ciências, da rede pública estadual paulista, sobre a importância do Ensino de Paleontologia. ......................................................................... 136 Quadro 14 – Impressão de professores de Ciências, da rede pública estadual paulista, sobre o interesse dos alunos por aulas de Paleontologia. ................................................................. 138 Quadro 15 – Estratégias de ensino utilizadas por professores de Ciências, da rede pública estadual paulista, no Ensino de Paleontologia. .................................................................... 139 Quadro 16 – Materiais didáticos adotados por professores de Ciências, da rede pública estadual, para a preparação das aulas de conteúdos paleontológicos. .................................. 141 Quadro 17 – Materiais didáticos para o ensino de Paleontologia, utilizados em sala de aula por professores de Ciências, da rede pública estadual paulista. ................................................. 142 Quadro 18 – Dificuldades no Ensino de Paleontologia, apontadas por professores de Ciências, da rede pública estadual paulista. ....................................................................................... 143 Quadro 19 – Como os professores de Ciências, da rede estadual paulista, acreditam ser possível abordar a Paleontologia a fim de ajudar na compreensão da Teoria da Evolução. .. 146 Quadro 20 – Temas paleontológicos que os professores de Ciências da rede estadual paulista acreditam ser necessário aprofundar em sua formação. ....................................................... 182 SUMÁRIO RESUMO ......................................................................................................................... VIII ABSTRACT ........................................................................................................................ X LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................ XII LISTA DE QUADROS .................................................................................................... XIV APRESENTAÇÃO ........................................................................................................ XVIII INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 21 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 26 CAPÍTULO 1 ..................................................................................................................... 27 ENSINO DE PALEONTOLOGIA ...................................................................................... 27 1.1 DIFICULDADES NO ENSINO DE PALEONTOLOGIA .....................................................................33 1.1.1 FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DE PALEONTOLOGIA ................................36 1.1.2 PROBLEMAS NOS MATERIAIS DIDÁTICOS VOLTADOS PARA O ENSINO DE PALEONTOLOGIA .................................................................................................................................................40 1.2 EXPERIÊNCIAS BEM SUCEDIDAS EM ENSINO DE PALEONTOLOGIA ...........................................45 CAPÍTULO 2 ..................................................................................................................... 49 HISTÓRIA DA CIÊNCIA E ENSINO ................................................................................ 49 2.1 CONTRIBUIÇÕES DA HISTÓRIA DA CIÊNCIA PARA O ENSINO ....................................................53 2.2 DIFICULDADES A SEREM SUPERADAS NO ENSINO DE HISTÓRIA DA CIÊNCIA ............................55 2.3 POSSIBILIDADES DE ABORDAGEM HISTÓRICA NO ENSINO DE CIÊNCIAS ...................................57 2.4 HISTÓRIA DA PALEONTOLOGIA E ENSINO ................................................................................60 2.4.1 HISTÓRIA DA PALEONTOLOGIA .........................................................................................61 CAPÍTULO 3 ..................................................................................................................... 68 FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS ............................................................ 68 3.1 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM HISTÓRIA DA CIÊNCIA......................................................69 3.2 HISTÓRIA DA CIÊNCIA E FORMAÇÃO CONTINUADA .................................................................74 CAPÍTULO 4 ..................................................................................................................... 80 QUESTÕES METODOLÓGICAS ...................................................................................... 80 4.1 A PESQUISA QUALITATIVA .......................................................................................................81 4.2 COLETA DE DADOS ..................................................................................................................82 4.2.1 A PESQUISA DOCUMENTAL ...............................................................................................82 4.2.2 QUESTIONÁRIO E INTERVENÇÃO ......................................................................................83 4.3 ATIVIDADES ELABORADAS PARA O ENCONTRO DE FORMAÇÃO CONTINUADA .....................84 4.4 ANÁLISE DOS DADOS ...............................................................................................................92 CAPÍTULO 5 ..................................................................................................................... 94 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS .............................................................. 94 5.1 A ABORDAGEM DADA A PALEONTOLOGIA NOS DOCUMENTOS OFICIAIS .................................94 5.1.1 O CURRÍCULO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO ...........................................................94 5.1.2 A MATRIZ DE AVALIAÇÃO PROCESSUAL DE CIÊNCIAS ........................................................96 5.1.3 O CADERNO DO ALUNO E DO PROFESSOR ........................................................................98 5.1.4 – O SISTEMA DE AVALIAÇÃO DO RENDIMENTO ESCOLAR DO ESTADO DE SÃO PAULO (SARESP) .................................................................................................................................109 5.1.5 – O NOVO CURRÍCULO OFICIAL .......................................................................................118 5. 2 – QUESTIONÁRIO INICIAL ......................................................................................................125 5.2.1 PERFIL DOS PROFESSORES PARTICIPANTES .....................................................................126 5.2.2 ANÁLISE DAS QUESTÕES SOBRE HISTÓRIA DA CIÊNCIA E PALEONTOLOGIA .....................127 5. 3 A FORMAÇÃO CONTINUADA.................................................................................................148 5.3.1 OS FÓSSEIS E O CURRÍCULO PAULISTA ............................................................................148 5.3.2 ANÁLISE DAS QUESTÕES DO SARESP ...............................................................................152 5.3.3 FORMAÇÃO DA LINHA DO TEMPO ..................................................................................157 5.3.4 APRESENTAÇÃO SOBRE A HISTÓRIA DA PALEONTOLOGIA ...............................................160 5.4.5 EVOLUÇÃO DAS DINO-AVES ............................................................................................161 5.3.6 DARWIN E OS FÓSSEIS ....................................................................................................167 5.3.7 FORMULAÇÃO DE QUESTÕES..........................................................................................172 5.4 QUESTIONÁRIO FINAL ...........................................................................................................180 CONCLUSÕES ................................................................................................................ 184 REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 192 ANEXO A – DECLARAÇÃO DE ACEITE DA PARCERIA FIRMADA COM A DIRETORIA DE ENSINO ............................................................................................... 204 ANEXO B – TRECHOS DO LIVRO A ORIGEM DAS ESPÉCIES ................................. 205 APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .............. 211 APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO INICIAL ................................................................... 214 APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DA FORMAÇÃO ....................... 217 APÊNDICE D – TEXTO PRODUZIDO PARA A FORMAÇÃO ..................................... 218 APRESENTAÇÃO O interesse pela temática abordada nessa pesquisa parte de motivações pessoais e foi se aprofundando durante a minha trajetória profissional. Dessa maneira, neste tópico, o texto será apresentado em primeira pessoa para tornar a relação leitor e autor mais próxima. Desde a infância, seres pretéritos como dinossauros e tigres-dentes-de-sabre sempre me fascinaram. Isso influenciou muito na minha escolha universitária. Cursar Ciências Biológicas me permitiu entrar em contato com novos conhecimentos da área e frequentar uma disciplina específica para estudar esses seres que me fascinavam tanto: a Paleontologia. Após o término da disciplina, no sexto semestre fui convidado pelo professor para ser monitor de Paleontologia no ano seguinte. O estágio na área e as viagens de campo para coletar fósseis me permitiram entrar em contato com pesquisadores da área e conhecer melhor a importância dos fósseis para a Teoria da Evolução. Parte das atividades de monitoria, consistia em auxiliar os alunos em suas dúvidas e organizar grupos de estudo para provas e seminários. Esse contato com o Ensino de Paleontologia acabou por influenciar muito na maneira como eu abordaria o tema no futuro. Ao me formar, ingressei na carreira do magistério e pude tratar o assunto com meus alunos, tanto no Ensino Fundamental quanto no Médio. Com estes pude desenvolver vários projetos sobre a temática e até mesmo aprofundar o conhecimento que eu já possuía. Outro momento decisivo durante essa trajetória, foram os encontros de formação continuada que pude participar, sobre História da Biologia, ofertados pela Diretoria de Ensino em parceria com a UNESP Jaboticabal. Esse contato com novos saberes me levou a repensar muitas de minhas práticas e a maneira como determinados conteúdos são abordados em sala de aula. A ideia do presente projeto de pesquisa surge então, quando durante as aulas, pude identificar em minhas turmas que o assunto fósseis era abordado muito superficialmente nos materiais didáticos e que os alunos tinham dificuldade em relacioná-los com os conteúdos de Evolução, ou seja, entender sua importância para a corroborar esta teoria. Todavia, o assunto despertava um grande interesse nos alunos: dinossauros, seres da megafauna e plantas fósseis mexem com o imaginário dos alunos. Durante as aulas sobre a temática, sempre que possível eu tratava com os alunos a viagem de Darwin a América do Sul e os fósseis que aqui encontrou. Isso acabava abrindo espaço para diversas discussões. Dessa maneira, surgiram algumas inquietações: seria possível trabalhar o assunto fósseis de maneira diferente em sala de aula? Como poderia trazer esses elementos históricos para minha prática? Como seria possível trabalhar esse assunto de uma maneira diferente do proposto no material disponível nas escolas? Pensar em atividades que podem ser desenvolvidas em sala de aula é sempre um trabalho árduo. Durante a elaboração de uma proposta de formação continuada para professores, refleti muito sobre minha própria prática pedagógica, ou seja, de que maneira eu poderia abordar os fósseis, Evolução e História da Ciência com recursos que fossem de fácil acesso ao professor e que fossem plausíveis de serem tratados. Assim, começamos o trabalho de pesquisa. A primeira parte da investigação seria encontrar referenciais teóricos que discutissem o assunto. Percebi através de revisões bibliográficas e de buscas em meios eletrônicos, que as dissertações e/ou teses no catálogo da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que abordavam a temática sobre o ensino de Paleontologia na Educação Básica são escassas, mesmo considerando outros níveis ou tipos de ensino. Quando passei a buscar por artigos ou outros trabalhos, encontrei pesquisas pontuais sobre o ensino de Paleontologia, publicadas em Congressos, Simpósios e Encontros. O segundo passo deste estudo foi pensar sobre como coletar os dados que iriam compor as análises e organizar a formação continuada que seria proposta. Essa etapa exigiu um aprofundamento teórico tanto da História da Ciência quanto do Currículo Escolar. Era necessário pensar em algo que fizesse sentido para o professor, uma formação que partisse de uma necessidade, pois estava presente em seu trabalho. Após os trâmites necessários para organização, preparação e execução da pesquisa pudemos produzir esta dissertação. Ela está organizada da seguinte maneira: O Capítulo I tem por finalidade situar o leitor a respeito do Ensino de Paleontologia, qual a sua importância, contribuição para o entendimento de outros conteúdos e suas possibilidades de ensino. São mencionados ainda os principais obstáculos apontados pelas pesquisas que dificultam a abordagem dos temas paleontológicos em sala de aula. No Capítulo II há uma discussão a respeito das razões da inserção de elementos da História da Ciência no Ensino de Ciências e como esta pode contribuir para a aprendizagem de conteúdos científicos e outros aspectos da Ciência. O Capítulo III traz um panorama da importância da formação continuada para os professores, em especial aquelas ligadas a História da Ciência, apresentando casos em que formações desse tipo foram desenvolvidas com professores e suas contribuições para o ensino. No Capítulo IV são detalhadas as questões metodológicas da pesquisa com base nos referenciais teóricos adotados. Há também um detalhamento das atividades propostas para o encontro de formação continuada, assim como os objetivos das questões utilizadas nos questionários. No Capítulo V é feita a descrição e análise dos resultados obtidos durante o processo de coleta de dados, os dados documentais aparecem na primeira parte, seguido pelos questionários e as atividades da formação continuada. No Capítulo VI são apresentadas as considerações finais a respeito da pesquisa. 21 INTRODUÇÃO Hohemberger (2018) ao fazer um estudo que analisava a quantidade de artigos publicados sobre o Ensino de Paleontologia, entre os anos de 2013 e 2017 pode constatar que há um baixo número de trabalhos e que estavam distribuídos em periódicos ou eventos tanto da área da Educação quanto das Geociências. Apesar de haver poucos trabalhos, esse número é significativo se consideramos a magnitude de áreas dentro da Ciência. Em uma pesquisa realizada por Gatinho e Almeida (2019), ao fazerem um levantamento do número de trabalhos que abordam a Paleontologia no Encontro de Pesquisa em Ensino de Ciências (ENPEC) entre os anos de 2011 e 2017 também puderam constatar que há poucos trabalhos. Dos quatro encontrados, dois tratavam de propostas de ensino, um de formação de professores e um sobre currículo. Os fósseis geralmente atraem a atenção das pessoas. Bergqvist e Prestes (2014) apontam que esta curiosidade pela Paleontologia está relacionada ao fato de que os fósseis sejam encontrados de maneira incompleta ou quando estão completos contam apenas uma parte da história do planeta, montando assim um quebra-cabeça em que faltam muitas peças. Isso acaba por aumentar a vontade das pessoas em obter mais informações. Anelli (2018) relata que na sua prática como professor universitário apesar dos alunos chegarem a um curso de graduação em Geologia sabendo o que são fósseis, sabem muito pouco sobre a pré-história do planeta. Essa ideia é confirmada por Hohemberger (2018), ao afirmar que apesar da abundância de fósseis no país, o ensino de Paleontologia ainda é pouco desenvolvido e divulgado. Apesar desse interesse pelos fósseis, a Paleontologia acaba por não ser algo atrativo nas escolas, onde ocorre a maior parte de sua divulgação e aprendizagem, pois seu ensino ainda segue um modelo tradicional. Para Bergqvist e Prestes (2014), ainda que haja a inserção de novas estratégias de ensino em sala de aula, geralmente elas consistem apenas em visualizar e mostrar algum dado, não permitindo interações mais ativas com os materiais estudados por essa Ciência. Em termos curriculares, a Paleontologia no Ensino Fundamental, é mencionada pela primeira vez nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e está presente no terceiro ciclo, que hoje engloba o 6º e 7º anos. Os fósseis são mencionados no documento de Ciências da 22 Natureza, sendo que eles ganham destaque porque são considerados como Patrimônio Cultural e Científico do país (BRASIL, 1998). Silva et al. (2019), ao analisar os PCNs e os documentos curriculares do Estado do Paraná, constataram que o documento federal possui uma abordagem mais ampla da Paleontologia, conteúdos paleontológicos estão presentes em vários momentos, contudo não há um detalhamento de como e em que momento deve ser tratado. Nos Parâmetros, os conteúdos de Paleontologia são mencionados em três dos quatro eixos existentes. Já no documento estadual, há poucas citações sobre o tema, estando presente apenas quando se abordam as Eras Geológicas, Evolução Biológica e Biodiversidade. Para os autores, essa fragilidade nos documentos acaba fazendo que a abordagem do tema fique a cargo do professor, o que pode resultar num tratamento insuficiente em sala de aula, uma vez que a formação dos professores neste tema costuma ser precária. Silva et al. (2019) ainda ressaltam que os conteúdos acabam aparecendo pouco também nos currículos escolares e outros materiais norteadores da prática docente. Os autores destacam que A relação entre a Paleontologia e o Ensino de Ciências é estreita, visto a grande quantidade de conceitos que podem ser abordados a partir deste tema. A exemplo disso cita-se a formação da Terra, origem da vida, evolução biológica, formação dos ecossistemas, combustíveis fósseis, entre outros, que podem ter como ponto de partida os diferentes tipos de registros fósseis. (SILVA et al., 2019, p. 113) Assim, a Paleontologia é tratada de maneira fragmentada e descontextualizada na educação básica (SILVA et al., 2019), não sendo explorado todo o seu potencial pedagógico. Para Bergqvist e Prestes (2014), o estudo dos fósseis permitem o entendimento da biodiversidade, interpretação do tempo geológico, compreensão da Evolução das espécies, características climáticas, evidências de formas de vida passadas, extinções e pode ajudar na formação de um pensamento crítico quanto a preservação do meio ambiente. Essa ideia é corroborada por outros autores [...] a paleontologia tem importância reconhecida para o ensino de ciências, é alvo de curiosidade, tem destaque nos meios de comunicação, mas não tem recebido atenção suficiente no currículo escolar brasileiro. Por ser uma disciplina não obrigatória, a ciência que investiga o passado da terra através de fósseis é abordada de forma indireta e superficial (CHAVES; LIRA-DA- SILVA; LIRA-DA-SILVA, 2017, p. 1077 - 1078) As dificuldades para o Ensino da Paleontologia são diversas e serão discutidas no presente trabalho. 23 Martello et al. (2015) destacam que nossos alunos associam a palavra fóssil na grande maioria das vezes a dinossauros, isso não seria um problema em si, na verdade os professores poderiam se aproveitar dessa fama e introduzir novas discussões sobre a Paleontologia. Schwanke e Silva (2010) enfatizam que a escola é a principal via de acesso aos conhecimentos sobre os fósseis, assim sendo, há uma necessidade de maior ênfase da Paleontologia nos currículos. Mello, Mello e Torello (2015) juntamente a Pereira e Almeida (2018) concordam que o assunto é pouco abordado em sala de aula. Isso poderia ser amenizado levando os alunos a museus ou exposições paleontológicas. Assim eles compreenderiam sua importância para o estudo de várias áreas da Ciência. Na região onde esta pesquisa foi realizada, existe o Museu de Paleontologia de Monte Alto-SP. Este possui um vasto acervo com fósseis de dinossauros e principalmente de crocodilos pré-históricos encontrados na região. Pereira e Almeida (2018), indicam em sua pesquisa, que há uma grande importância dos professores abordarem exemplos de fósseis da região em que os alunos vivem. Heirich et al. (2015) aponta que a Paleontologia é considerada uma área da Ciência de difícil compreensão. Aliado a esse fator há a carência de recursos didáticos, o que acaba não permitindo uma contextualização correta da importância dos fósseis para os alunos. Os autores ressaltam que A carência de abordagem desta temática pelos professores pode ocorrer por diversos motivos, tais como: a deficiência do conteúdo nos livros didáticos; a complexidade do assunto; a ausência de materiais paradidáticos (livros de apoio e réplicas de fósseis) e a falta de conhecimento científico para responder aos questionamentos em sala de aula. Assim, os alunos pouco sabem sobre o rico patrimônio natural próximo a eles. (HEIRICH et al., 2015, p. 3) Em trabalho realizado em Madri na Espanha, Nieto e Fesharaki (2014) puderam perceber que a maior parte dos alunos entrevistados têm pouco conhecimento da Paleontologia e os que tem algum conhecimento, aprenderam na escola, seguido pelo cinema e poucos disseram obter informações de outras fontes. Percebemos então, que as dificuldades enfrentadas no Ensino de Paleontologia não estão restritos ao Brasil e que a escola ainda é o principal espaço para a aprendizagem desses conceitos. Novais et al. (2015) já sinalizava que o Ensino de Ciências apresenta uma visão limitada sobre o assunto, isso acaba acarretando na 24 formação de concepções equivocadas sobre a Paleontologia, o que resultaria nos baixos índices de aprendizagem. Em outro trabalho, Nieto, Fesharaki e Yelo (2014) apontam que os alunos espanhóis apresentam um conhecimento muito básico sobre Paleontologia, principalmente aqueles que se referem a questões relacionadas a Evolução e ao tempo da História da Vida no planeta. Outro fator importante, é que a Paleontologia está pouco representada nos currículos, aparecendo apenas na educação secundária nas disciplinas de Biologia e Geologia. Para Anelli (2018), países que investem em educação sabem explorar o potencial de sua pré- história. O Brasil, neste caso, não aproveita esse recurso e a perspectiva é ainda pior quando considerada a nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada em 2017, e se nota que os fósseis só são estudados no 6º ano do Ensino Fundamental e como exemplo de combustível fóssil não sendo mencionados em nenhum outro momento do documento. A pouca representatividade do Ensino de Paleontologia já havia sido relatada por Babin (1981), há quase quarenta anos. Para o autor, o ensino naquela época focava na sistemática dos grupos, não que isso seja um problema, mas os ensinamentos desta área deveriam considerar as demandas externas, principalmente o interesse do grande público pela área e renovar seu ensino privilegiando os métodos e conceitos desta área. Passados quase 40 anos da pesquisa de Babin (1981) ainda há um vasto caminho a ser percorrido para melhorar o Ensino de Paleontologia. Vários obstáculos para a inserção deste tema em sala serão oportunamente discutidos, contudo como já apontado, a falta de pesquisas na área e a pequena ênfase ao tema ou fragmentação excessiva nos currículos e especialmente, a falta de materiais didáticos e a formação precária dos professores, são os principais problemas e acabam afetando a aprendizagem dos alunos Assim, o objetivo central deste trabalho é produzir um curso de formação continuada para professores de Ciências e analisar sua pertinência. Um dos objetivos indiretos desta pesquisa, é apresentar uma nova proposta para que o assunto seja abordado em sala de aula, através da utilização da História da Ciência como estratégia didática. O levantamento histórico do presente trabalho não pretendeu detalhar todo o período que corresponde a História da Paleontologia, nem um episódio histórico específico. Muito menos era pretensão aprofundar-se em algum autor específico. Como o objetivo era a formação de professores, suas necessidades frente ao currículo e a importância de tratar elementos da Paleontologia em sala de aula, procuramos apresentar uma visão geral, mas consistente, de como os fósseis foram estudados ao longo do tempo e como autores estudados 25 pelos alunos no Ensino Fundamental se valeram da contribuição dessas evidências para corroborar suas teorias. 26 OBJETIVOS Objetivo Geral O presente trabalho tem como objetivo analisar uma proposta de formação continuada sobre o ensino de Paleontologia para professores de Ciências, abordando a História da Ciência. Objetivos Específicos  Analisar os conteúdos de Paleontologia nos documentos oficiais e nos materiais didáticos de ensino de Ciências do Estado de São Paulo (Currículo, Caderno do aluno e professor, relatórios de desempenho do SARESP);  Investigar se professores de Ciências compreendem a importância da Paleontologia para o ensino de outros conceitos, em especial Evolução;  Analisar a formação que professores de Ciências tiveram para tratar a Paleontologia na sala de aula.  Elaborar uma proposta de formação de professores em Ensino de Paleontologia tendo como base a História da Ciência.  Avaliar os efeitos dessa proposta sobre a formação do professor. 27 CAPÍTULO 1 ENSINO DE PALEONTOLOGIA A Paleontologia é uma Ciência que tem como objeto de estudo os fósseis, vestígios ou restos de seres pretéritos. Seu nome tem como significado o estudo dos seres antigos (palaios = antigo, ontos = ser, logos = estudo). Fundamenta-se basicamente em duas Ciências: a Biologia, porque estuda seres vivos, fornecendo informações sobre estes seres ao longo do tempo e sobre sua evolução; e a Geologia por estudar rochas, fornecendo informações sobre datações, ordenação das sequências sedimentares, ambientes antigos entre outras (CASSAB, 2004). Por muitos anos, o papel desta Ciência esteve restrito ao estudo de formas de vida pretéritas ou reduzida a evidências do processo evolutivo. Hoje a Paleontologia busca responder perguntas mais amplas como: o papel das extinções ao longo do tempo, como se deram as irradiações adaptativas dos seres vivos, como explicar a diversidade do seres vivos e o papel das interações ecológicas, sendo estas apenas algumas das suas possibilidades. Os fósseis sempre estiveram presentes nas discussões sobre Evolução, contudo sua relação com o pensamento evolutivo mudou ao longo do tempo (NETO; SANTOS; MELO, 2017). Mesmo após a Teoria de Darwin ganhar força no final do século XIX, muitos cientistas ainda apresentavam outras explicações para o surgimento ou extinção dos seres presentes no registo fóssil, como as explicações neolamarcksitas e catastrofistas. Após muitos anos de discussão e do surgimento da Síntese Evolutiva, já no século XX, é que os fósseis ganharam destaque, pois forneciam importantes informações para acessar a Evolução numa escala de tempo profunda (NETO, SANTOS & MELO, 2017). Cientistas do século XVIII, que acreditavam nas ideias de mudanças graduais das espécies, como Buffon e Lamarck, se valeram das informações do registro fóssil para corroborar suas explicações. Apesar do baixo impacto na época, sabemos hoje que essas informações são relevantes. Muito desta dificuldade em evidenciar a Evolução através dos fósseis, estava na falta dos fósseis de transição, o que é facilmente explicado pela Paleontologia, uma vez que o registro não é constante e nem todas as formas de vida são fossilizadas. Se a aceitação da Teoria Evolutiva ocorreu após muitos debates no meio científico, o ensino de Evolução Biológica para adolescentes pode ser considerado um dos maiores 28 desafios para os professores de Biologia e Ciências. Alunos do Ensino Médio no Brasil, muitas vezes recorrem às concepções religiosas e culturais para explicar a evolução dos seres vivos, o que denota uma formação científica precária (SANTOS; SANTOS; PIRANHA, 2015). Oliveira e Bizzo (2015), em estudo realizado com estudantes brasileiros, puderam constatar que o domínio de conhecimentos evolutivos pelos alunos é baixo e sofre influência de algumas variáveis, como a formação do professor, a cognição do aluno, as questões sociais, culturais e de crenças que acabam por influenciar no entendimento da teoria evolutiva. Um dos resultados da pesquisa mostra que a maioria dos estudantes (81%) sabem que os fósseis são evidências de formas de vida do passado mas não conseguem situar isso no tempo e dentro da Teoria Evolutiva. Dessa maneira, se a história da vida na Terra e a Paleontologia estivessem mais presentes no currículo de Ciências, as dificuldades dos alunos seriam menores. O estudo da Paleontologia busca compreender os diversos processos que ocorreram no planeta e que ainda vem ocorrendo. Esta Ciência tem como principal função estudar o passado da Terra, servindo como evidência favorável a Evolução, Origem da Vida entre outras áreas da Ciência, contudo seu estudo na Educação Básica acabou se resumindo ao estudo dos fósseis como exemplo de rocha sedimentar (ALENCAR & WILLIAN, 2011). O próprio Darwin, autor do livro A Origem das Espécies (1859), utilizou os fósseis para corroborar sua teoria, em especial fósseis de mamíferos da Argentina (FULAN et al., 2014, DARWIN, 2018). Na Educação Básica, apesar de não haver uma definição clara, nos documentos curriculares, em relação ao momento em que deve ser abordada essa Ciência e vinculada a quais conteúdos, compartilha-se com Silva (1998) o entendimento que conteúdos como a introdução histórica a Paleontologia, importância e conceito dos fósseis, fossilização, tempo geológico, extinções, fósseis como evidência do estudo da Evolução e da História da Terra, além de explorar a fama dos Dinossauros e outros grandes animais deveriam estar presentes neste nível de ensino. Carvalho (2010) salienta ainda que a Paleontologia é uma Ciência multidisciplinar que auxilia na compreensão da Evolução e não se limita ao estudo dos fósseis e dos dinossauros. Estudar os fósseis como exemplo de rochas sedimentares e não explorar outros aspectos deste material acaba não permitindo uma ligação entre a Paleontologia e a Evolução. Ambas são 29 fundamentais para se conhecer o passado da Terra e compreender os processos que ocorrem no planeta. O Ensino de Paleontologia, tanto para a compreensão de conceitos biológicos quanto para a cultura científica, é essencial na formação do indivíduo. Esse pensamento é corroborado por Santana e Batista (2007, p.2) A ausência dos temas paleontológicos nas escolas não reduz apenas as possibilidades de interação desses conhecimentos com as demais ciências e a biologia, mas impossibilita, sobretudo, uma atuação mais direta no que concerne a função social que o ensino da paleontologia pode oferecer. Deve- se levar em consideração que o objeto de estudo da paleontologia, os fósseis, são patrimônio da União e testemunhos da história da vida na Terra que precisam ser conservados. A Paleontologia está presente no Ensino Superior principalmente nos cursos de graduação em Biologia e Geologia. Ela aparece como uma disciplina nesses cursos e, muitas vezes, está integrada ao estudo de outras disciplinas como a Zoologia e a Botânica, que fazem uso dos fósseis para corroborar outras teorias (SCHWANKE & SILVA, 2004). No Brasil, o Ensino de Paleontologia nos níveis fundamental e médio só se iniciou no final da década de 1990. Antes disso, era ausente ou pouco abordado. Um dos possíveis motivos para essa inserção se deve ao fato dos conteúdos aparecerem nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) lançados em 1998 e a uma proposta de incentivo de universidades e museus que levaram o tema ao grande público (NOBRE, 2014). O conteúdo está inserido nos PCNs de Ciências Naturais, é mencionado em três eixos temáticos e ganha destaque no Eixo “Vida e Ambiente”. Dessa maneira, os fósseis são estudados como parte dos conteúdos das Geociências (rocha sedimentares) e como evidência e base para o estudo da Evolução dos seres vivos (BRASIL, 1998). Um fator relevante no Ensino de Paleontologia que é ressaltado pelos PCNs (BRASIL, 1998) e por Zucon et al. (2010): não basta apenas conceituar e ilustrar as principais descobertas deste campo para que haja aprendizagem, é necessário informar aos alunos os achados fossilíferos de sua região, proporcionando uma aprendizagem conceitual, cultural e crítica. Essa abordagem regional é extremamente importante, mas infelizmente não ocorre. Mendes, Nunes e Pires (2015) puderam constatar que um grande número de alunos do Tocantins não sabia sobre a existência de fósseis no seu estado. Pereira e Almeida (2018) apontam que a falta de conhecimento de fósseis regionais pode estar relacionada ao fato de que no Ensino de Ciências há uma ênfase em fósseis de 30 outras regiões e países em detrimento dos fósseis das regiões em que os alunos vivem. Os autores puderam constatar que o conhecimento que os alunos possuíam sobre o tema, era apenas razoável mesmo vivendo em uma região próxima a uma zona fossilífera. Além disso, sabiam apenas alguns exemplos de fósseis de sua região. Hohemberger (2018), ao estudar o conhecimento que os alunos de Santa Maria - RS, região rica em fósseis de plantas, pode constatar a importância de desenvolver atividades que exploram a realidade local dentro dos diferentes níveis de ensino. Uma vez que comparando as respostas dadas ao questionário pré intervenção o conhecimento paleontológico local era reduzido e após a intervenção os alunos ao serem questionados sobre os fósseis locais as respostas foram mais satisfatórias. Em uma pesquisa realizada por Novais et al. (2015) a respeito do Ensino de Paleontologia em diferentes regiões do Brasil, eles puderam constatar que os alunos na maioria das vezes sabem o que é esta Ciência e para que ela serve, mas quando são indagados acerca dos fósseis da sua região, a maioria não sabia responder as perguntas. Nas cidades onde existem projetos ou propostas de divulgação científica os resultados foram melhores. Isso nos mostra a importância e a urgência de discutir esses temas. Se em localidades com relevância na descoberta de fósseis há esse problema, podemos inferir que a situação seja pior no estado de São Paulo, que não tem tradição nessa área. No estado de São Paulo não há nenhuma pesquisa semelhante, mas Godoy et al. (2017) acreditam que esse seja um dos motivos de professores não terem interesse em fazer cursos de extensão em Paleontologia, quando comparados, por exemplo, aos professores do Rio Grande do Sul que tem tradição nessa área. Os conteúdos paleontológicos são frequentemente abordados nos livros didáticos desde a publicação dos PCN (1998). Contudo, os livros didáticos são produzidos para serem distribuídos em todo o país e por isso não tratam de aspectos regionais. Apesar de a Paleontologia ser mencionada nos PCNs (BRASIL, 1998) e fazer parte dos currículos escolares, não há uma valorização da mesma em sala de aula e ela acaba por ser negligenciada uma vez que não é um conteúdo comumente presente nos exames vestibulares (DUARTE et al.,2016). Isso pode levar ao desinteresse pelo tema, principalmente entre os professores do Ensino Médio. No Ensino Fundamental já há avanços, as provas do Sistema de Avaliação Bimestral do processo de Ensino e Aprendizagem das Escolas do Rio de Janeiro (SAERJINHO), que avaliam a educação neste estado, já apresentaram questões de Paleontologia em suas últimas edições. No estado de São Paulo, o Sistema de Avaliação do 31 Rendimento Escolar (SARESP) também já apresentou questões com esse tema, além de descritores específicos que serão analisados nesse trabalho. Podemos observar que a inserção do tema na realidade escolar e nas avaliações externas é importante para uma valorização da Paleontologia no currículo. Essa ideia é corroborada por Duarte et al. (2016, p.125), ao afirmar que “a conscientização de que a Paleontologia também é um conteúdo importante das Ciências para ser cobrado nas avaliações e ser trabalhado nas salas de aula”. A introdução desse conteúdo, muitas vezes, é dada por meio dos dinossauros e acaba por não abordar outros assuntos da área como a origem da vida, definição e tipos de fósseis etc. Essa é a realidade apresentada aos nossos jovens da educação básica e que acaba por dificultar a compreensão destes conteúdos (MELLO, MELLO e TORELLO, 2005). Para os autores, a dificuldade na inclusão do tema está na maneira como os conteúdos devem ser abordados: realmente a Paleontologia apresenta certo grau de complexidade, já que é multidisciplinar, tendo conhecimentos científicos advindos de várias áreas. Para Schwanke e Silva (2004), o conhecimento da Paleontologia dos professores se restringe ao que está nos materiais e a própria escola em seu currículo, tem uma visão limitada do assunto. Essa limitação se torna evidente quando não há uma associação entre os seres do passado com grupos viventes. As autoras ressaltam que o conhecimento da área está restrito aos museus e as universidades e as novas descobertas são dificilmente incorporadas ao ensino, isso se torna um entrave para a melhoria do ensino nessa área. Vencer essa barreira que existe entre o meio acadêmico e a população, seria uma maneira de tornar a Paleontologia uma Ciência mais presente no dia a dia de estudantes e sociedade. Essa ideia é corroborada por Calonge et al. (2003, p.118). Um caso practico de lo anterior es el de los fosiles que durante la última década se han convertido en um tema popular y atractivo. Probablemente este hecho há sido favorecido por lá “invásion” de dinosaurios, a la que mos han sometido los médios de comunicación y la indústria del cine. Esto no há sorprendido a los paleontólogos ya que la disciplina que practican engloba interesantes mundos tales como nuestra própria historia. Sin embargo, esta materia no suele aparecer em los textos de educácion. En este sentido, hasta hace poco mucha gente asociaba el termino fósil exclusivamente com el domínio universitário e el de los Museos. Aproximar os alunos dos fósseis, discutir questões acerca do tempo, Evolução, surgimento dos grandes grupos como os Amniotas e os Artrópodes, Patrimônio Científico e Cultural, entre tantos outros que estão ligados a Paleontologia, permite uma formação mais crítica e contextualizada para os alunos em relação ao planeta em que vivem. 32 Colange et al. (2003) ressaltam que as réplicas de fósseis são atrativos para a maioria dos jovens e são um recurso didático valioso para trabalhar assuntos mais complexos e que exigem um maior entendimento. Para os autores, a maior dificuldade dos alunos está em compreender três aspectos desta Ciência: a nomenclatura científica, a noção de tempo e idade dos fósseis e os ambientes em que eles foram formados. A abordagem de temas paleontológicos em sala de aula é necessária para que se rompa com determinados paradigmas e conhecimentos de senso comum relacionados a esses materiais. É comum em sala de aula, a associação de fósseis a ossos, assim como os alunos não associarem os fósseis de seres pretéritos a seres atuais (Colange et al., 2003). Alguns alunos interpretam os fósseis apenas como um resquício de um ser que já existiu e não os associa à Evolução, além de acreditarem que seres muitos próximos a eles, encontrados no registro fóssil, como tubarões e mamutes, não possam ser chamados de fósseis. É possível ter um panorama do Ensino de Paleontologia no Brasil quando consideramos a produção acadêmica na área. No Banco de Teses e Dissertações da Capes há apenas duas dissertações e nenhuma tese acerca do Ensino de Paleontologia na Educação Básica (NOBRE, 2014; HOHEMBERGER, 2018). Quando olhamos para os trabalhos apresentados em congressos da área a situação parece estar melhorando. Alves e Melo (2007) ao fazerem uma pesquisa do tipo Estado da Arte das publicações relativas à educação no Congresso Nacional de Paleontologia, 1983 a 2005, puderam constatar que aumentou o número de trabalhos na área de ensino nas últimas edições. Mesmo assim, o percentual continua baixo e as pesquisas acabam por privilegiar o Ensino não-formal e o Ensino Superior, o que corrobora a ideia que ainda falta muito para que se reconheça a importância do ensino de Paleontologia na Educação Básica. Parte dessa dificuldade em tratar a Paleontologia na educação básica está relacionada a falta de especificação sobre o conteúdo nos próprios documentos legais. Sendo assim, os currículos de cada sistema de ensino deveriam especificar o que deve ser trabalhado. Como apontam Faria et al. (2012) isso leva os professores a tratarem o assunto em anos diferentes e com abordagens diferentes. Quando o autor entrevistou professores de Ciências, a maioria tratou em suas aulas sobre a definição de fósseis, mas não trataram do tema, por exemplo, quando foram abordados assunto como Origem da Vida e Evolução, que utilizam os fósseis como evidência para corroborar suas explicações. 33 1.1 DIFICULDADES NO ENSINO DE PALEONTOLOGIA Há um consenso entre os pesquisadores da área de Ensino de Ciências que apontam a existência de dois problemas básicos no Ensino de Paleontologia: o primeiro é a falta de preparação dos professores e, o segundo, a qualidade dos livros didáticos (MARQUES, 1999; PEREIRA et al., 2001; OLIVEIRA et al., 2003; MOURA & BARRETO, 2003; TORELLO DE MELLO, 2005; SARKIN & LONGHINI, 2005, ZUCON et al., 2010, VASCONSELOS, 2009, SOUTO, 2012). Souto (2012), em seu trabalho, aponta que, principalmente na educação básica, existe pouca divulgação da Paleontologia por parte dos professores e uma carência de recursos didáticos. Para Nobre e Farias (2015) o aumento da divulgação científica relacionada a Paleontologia e do interesse dos professores por formação continuada é necessário para vencer os obstáculos presentes no ensino desse conteúdo. Nobre et al. (2014) ao estudar as concepções teóricas de professores sobre o Ensino de Paleontologia, pode verificar que a falta de formação e a abordagem ineficiente foram apontadas como causa da má qualidade do ensino, mas também foi apontada a pouca ênfase nos currículos e PCNs para o tema. Para os pesquisadores, melhorar a qualidade da formação cabe às universidades, uma vez que estes estejam mais bem preparados, a qualidade do ensino pode melhorar. Os conteúdos de Paleontologia são escassos nos materiais didáticos e quando estão presentes são tratados de maneira superficial, geralmente ganhando um destaque maior quando o assunto dos grandes répteis – dinossauros - é abordado (LIMA et al., 2015). Isso acaba por impedir discussões acerca de outros tipos de fósseis como os vestígios (MELLO; MELLO; TORELLO, 2005). Mello, Mello e Torello (2005) destacam que além dos problemas encontrados na formação dos professores e na qualidade do material didático ainda apresentamos como agravante o fato de haver um distanciamento entre as Universidades e a Sociedade. Esse problema, somado a complexidade do assunto, acaba gerando um ciclo de desinteresse da população. Os autores afirmam [...] As deficiências no ensino e nos materiais disponíveis causam distanciamento das crianças em relação à Paleontologia, o que faz com que elas ignorem seus ícones e conceitos mais elementares. Desconhecendo as informações básicas não se cria demanda suficiente para manter museus e exposições, onde a formação escolar poderia ser complementada. Se não há 34 demanda, não há grande interesse dos paleontólogos acadêmicos em gastarem parte do tempo de suas pesquisas com o desenvolvimento de materiais complementares e exposições, ficando a Paleontologia restrita aos laboratórios. Dessa forma, os profissionais que se formam na universidade, e que têm contato com a Paleontologia, são estimulados a desenvolverem pesquisa e atuarem em laboratórios, ao passo que os profissionais que atuarão diretamente com os ensinos infantil, fundamental e médio acabam tendo apenas uma formação paleontológica superficial, e não conseguem despertar o interesse pelo tema em seus alunos. [...] (MELLO; MELLO; TORELLO, 2005, p. 399) Dodick (2003) aponta que a Paleontologia tem papel central na compreensão da Biologia e da História da Terra e propõe que o uso de fósseis e o emprego de outros conceitos sejam usados como facilitadores do entendimento da Evolução. Contudo, seu ensino está longe do ideal já que os alunos enxergam essa Ciência de forma abstrata e conceitual (SOBRAL; SIQUEIRA, 2007). Essa ideia é corroborada por Nobre (2004, p.24): No âmbito escolar, a Paleontologia tem variadas possibilidades didático- pedagógicas e apresenta um expressivo potencial interdisciplinar, pois contribui para a compreensão de complexos processos ambientais. Contudo, nota-se que a Paleontologia tem sido trabalhada de forma tradicional, sem possibilidades de discussões e/ou inter-relações com outras disciplinas curriculares. Para Schwanke e Silva (2010), não devemos apenas fazer uma inclusão dos conteúdos de Paleontologia no currículo escolar, assim como não devemos colocar mais conceitos paleontológicos nos livros didáticos, apenas para incrementá-los. Torna-se necessário que professores busquem estratégias que aproximem mais a Ciência dos alunos. As autoras apontam que em algumas áreas, o conhecimento científico torna-se meramente acadêmico e com a Paleontologia não é diferente: mesmo com a grande quantidade de fósseis descobertos no Brasil e o fascínio pelos dinossauros, a Paleontologia ainda é uma Ciência restrita ao meio acadêmico. Essa ideia é corroborada por Vieira, Zucon e Santana (2010). Para elas, apenas a comunidade paleontológica ou aqueles ligados a Geociências do Brasil tem acesso a informações dessa área. As informações sobre coleções e a própria história dessa área estão restritas ao meio científico. Fazer a ponte entre o meio acadêmico e a escola seria a chave para melhorar o ensino da Paleontologia. Os professores, dessa maneira, deveriam aproveitar todo o interesse que os alunos demonstram pelos dinossauros e outros seres pré-históricos para criar oportunidades de aprendizagem. 35 Sobral, Sá e Zucon (2010) afirmam que esse seria um momento ideal para a realização de análises críticas e debates construtivos acerca da Paleontologia. O ensino de Paleontologia sofre grande influência da mídia. A divulgação científica feita pelos diversos meios de comunicação acaba por interferir diretamente na compreensão desta Ciência. Segundo Neves et al. (2008) as informações paleontológicas tanto para os alunos quanto para os professores chegam a partir destes meios. A abordagem do tema é superficial, muitas vezes contém erros conceituais e acaba por restringir a Paleontologia apenas aos dinossauros. As discussões a respeito da Paleontologia e a importância dos fósseis na mídia dificilmente auxiliam no entendimento da Origem e Evolução da vida na Terra. Cabe ressaltar que não defendemos a ideia que essa divulgação seja prejudicial. Izaguirry et al. (2013) afirma que ainda hoje existe pouca divulgação da Paleontologia para os estudantes do Ensino Fundamental e Médio. O que se defende é um maior rigor nessas publicações e que elas possam ser realmente utilizadas como ferramentas pedagógicas pelos professores. Além dos problemas expostos até agora, abordar a Paleontologia e a Evolução na sala de aula pode se tornar um pouco mais complexo do que as outras temáticas da Biologia, porque esses assuntos trazem à tona crenças religiosas, que influenciam sua aprendizagem (LIMA et al., 2015 e OLEQUES, BARTHOLOMEI-SANTOS, BOER, 2011, DUARTE et al., 2016). A Teoria Evolutiva, embora já aceita nos meios acadêmicos e tratada como um fato na Biologia, ainda causa dilemas no pensamento de professores influenciados por questões culturais e religiosas. Assim, até mesmo a Paleontologia acaba por receber explicações de fundo religioso que se aproximam muito das dadas por estudiosos do passado como Georges Cuvier (1769-1832). Um último problema que dificulta o Ensino da Paleontologia, está ligado a ênfase que é dada a microevolução (ocorre em nível de espécie através de mutações, seleção natural, recombinação gênica, etc.) em detrimento da macroevolução (evolução de grupos acima do nível de espécie). Bizzo e El-Hani (2009) já haviam apontado esse problema anteriormente. Para eles, essa ênfase dada a microevolução acaba levando os alunos a construir modelos abstratos para compreender questões de tempo profundo e origem dos grupos dos seres vivos. Dessa maneira, desenvolver esse conteúdo de maneira pontual em algumas aulas de Ciências e Biologia na educação básica, centrado em apenas alguns conceitos, não permite perspectivas futuras para um bom entendimento da Paleontologia. 36 Como visto, para evitar que a Paleontologia não se mantenha distante das salas de aulas deveríamos: a- promover melhorias nos materiais didáticos produzidos em relação ao Ensino de Paleontologia, b – possibilitar uma abertura nos currículos para que a Paleontologia seja abordada ao longo da escolarização, c – possibilitar que os professores se mantenham atualizados em relação aos conceitos científicos por meio de formação continuada e maior aproximação com a pesquisa na área. 1.1.1 FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DE PALEONTOLOGIA A formação dos professores de Ciências ocorre em cursos de nível superior. A maior parte dos professores que lecionam essa disciplina no Ensino Fundamental são oriundos de cursos de Ciências Biológicas, mas podemos encontrar também professores com formação em Química, Física ou Matemática. A Universidade permite, muitas vezes, que o professor em formação esteja em contato com as últimas descobertas científicas e técnicas de ensino. Na Paleontologia isso é importante uma vez que novas descobertas acontecem o tempo todo. Uma pesquisa com professores em formação inicial de Biologia, realizada por Zucon e colaboradores (2010), mostrou que a maioria dos alunos desta amostra (78%) possuía conhecimentos muito rasos de Paleontologia o que seria insuficiente para lecionar esses conteúdos na Educação Básica. Em outra pesquisa, realizada com alunos de Licenciatura em Biologia, Nascimento e Torres (2014) puderam constatar que os alunos também veem falhas em sua formação em relação à temática e acreditam que um maior número de aulas práticas e uma maior articulação do currículo poderiam ajudar a diminuir essas falhas. Lima et al (2015), ao analisarem as respostas a um questionário para alunos que já haviam passado pela disciplina de Paleontologia na Universidade Federal da Paraíba, verificaram que a maioria deles nunca teve contato com esta Ciência antes da Universidade. O total de entrevistados apontou que ela devia ter mais destaque na formação docente e mais da metade diz não se sentir preparado para ensiná-la na Educação Básica. Dados como esses nos mostram que repensar a formação inicial em relação a Paleontologia no Ensino Superior é de extrema importância devido à complexidade do tema. Dessa maneira, temos que repensar a 37 formação dos licenciados em Ciências, já que são eles que vão ensinar Paleontologia nas escolas. Quando pensamos em professores já atuantes na educação básica, a situação se agrava. Muitos desses professores não tiveram Paleontologia em sua formação inicial e não sabem como proceder em sala de aula. Geralmente, o único contato com o assunto ocorre por meio do livro didático. Godoy et al (2017) aponta que a falta de atualização do professor, têm grande influência em sua prática. Dessa maneira, ele necessitaria acompanhar as mudanças no meio científico. Assim, investir em cursos de formação continuada que abordem o tema seria uma alternativa, mas geralmente não ocorre. Nobre e Farias (2015) evidenciaram que os fatores que podem levar o professor a não tratar de assuntos paleontológicos são vários, destacando-se a [...] defasagem na formação docente inicial, insuficiência de conteúdos nos livros didáticos, ausência do tema Paleontologia no currículo, desatualização profissional e influências das crenças religiosas nas atividades pedagógicas (NOBRE e FARIAS, 2015, p. 01) Na pesquisa mencionada acima, ao investigar as respostas de professores, as autoras puderam perceber que assuntos de Paleontologia não são tratados em sala de aula pois há uma falta de apropriação das temáticas pelos docentes e muitas vezes, noções religiosas ainda estão presentes. Em suas respostas, os professores apontam que abordar a Paleontologia está diretamente relacionado com conhecer a Evolução Biológica. Saber dessa inter-relação seria importante para que os alunos não atribuíssem apenas explicações de crenças religiosa ou cultural para fatores que podem ser explicados por essas Ciências (NOBRE e FARIAS, 2015). Repensar o Ensino da Paleontologia está diretamente relacionado com a formação dos professores. A superficialidade com que os temas são tratados nas licenciaturas e a falta da abrangência de outros temas ligados a Paleontologia poderiam ser resolvidos com a utilização de outras técnicas de ensino em sala de aula, como a realização de saídas a campo, visitas a museus e uso de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), mas mesmo essas alternativas didáticas exigiriam uma formação mais sólida dos professores. Santos (2014), ao entrevistar professores de Santaluz, BA, encontrou dados que corroboram a ideia da formação deficiente: a maioria dos professores entrevistados se atualizam ou buscam informações acerca da Paleontologia na internet. Apenas um professor disse ler artigos e periódicos e poucos são aqueles que já tiveram uma formação continuada na área. A maioria dos professores disseram ter dificuldades em abordar os assuntos da 38 Paleontologia em sala de aula, confirmando os dados coletados por outros pesquisadores. Antunes, Costa e Ruivo (2013), ao realizar entrevistas com professores no Pará, também chegaram aos mesmos resultados: os professores têm dificuldade em abordar a Paleontologia em sala de aula e acreditam que os livros estão defasados ou incompletos. A má formação e a precariedade dos conhecimentos paleontológicos também foram constatados por Santana e Batista (2007). Ao entrevistarem professores já atuantes e em formação, perceberam que muitos não cursaram ou não tinham a disciplina de Paleontologia durante a graduação e mesmo entre os que fizeram a disciplina, as respostas dadas nos questionários demonstravam que eles não conheciam o assunto em profundidade. Quando questionados sobre quais materiais utilizavam, os dados se repetem: usam o livro didático e a internet e reclamam de dificuldades em encontrar materiais para a preparação das aulas. Em pesquisa realizada por Hohemberger (2018) na cidade de Mata, RS, reconhecida por sua riqueza paleontológica, o autor pode constatar por meio dos questionários aplicados aos professores de Ciências e Biologia da cidade, que eles reconhecem a importância do estudo dos fósseis e da riqueza fossilífera local. Contudo, quando é pedido que os professores citem exemplos de fósseis, os que ocorrem na cidade não são os mais citados, apesar deles revelarem conhecer fósseis vegetais. Quanto a prática docente, algo que chamou a atenção é que apesar dos professores reconhecerem a importância dos fósseis locais a maioria aborda a Paleontologia em sala de aula de forma expositiva ou por meio de documentário, não explorando a riqueza que existe em parques, ruas e casas. Apesar do ensino de Ciências, ainda hoje, ser predominantemente focado na memorização de conceitos, Nobre (2014) mostra que é possível abrandar os problemas encontrados na formação de professores com cursos de formação continuada. Sua proposta foi levar conceitos de Paleontologia e Palinologia aos docentes. A autora trabalhou com professores de Biologia da região Metropolitana de Porto Alegre, RS ofertando um curso na modalidade on-line que tratava de temas da Paleontologia em diferentes níveis educacionais e pediu aos professores que respondessem a questionários antes e após a formação. A análise dos resultados permitiu concluir que o que limitava a preparação das aulas era a falta de formação dos professores. Na pesquisa de Nobre (2014), observa-se outro problema para professores atuantes: apesar do interesse, há falta de tempo para participar de formações. Esta situação é comum, já que a sobrecarga da jornada de trabalho acaba por desestimular os professores. No curso ofertado, a proponente disponibilizou várias estratégias para se abordar a Paleontologia em 39 sala de aula e diversos artigos científicos para atualização. Ao final, constatou que a maioria dos professores apesar de tomar conhecimento das estratégias, não leram os artigos alegando falta de tempo. Outra experiência de formação continuada para professores envolvendo temas paleontológicos foi exposta por Soler et al. (2012), ao oferecer um curso de Paleontologia sob a perspectiva da Educação Patrimonial, eles puderam perceber que os docentes demonstravam interesse pelo assunto. Quando indagados nas entrevistas, eles apontaram que gostariam de maior aprofundamento em temas específicos dentro da área como diversidade fóssil e temas atuais na Paleontologia. A formação, que ocorreu em uma cidade que tem zonas fossilíferas, ajudou a despertar o interesse para o tema. Os autores apontam que tornar o assunto significativo para os professores foi o primeiro passo para uma transformação (SOLER et al., 2012). O curso “Oficina de Paleontologia: os fósseis dentro da sala de aula” (GODOY et al., 2017) também foi pensando como uma formação continuada para professores. A proposta original do curso era ofertar 20 vagas para docentes da região de Ribeirão Preto, contudo na primeira edição houve apenas cinco inscritos e na segunda edição, seis. A baixa adesão é explicada pelos pesquisadores a partir de problemas na divulgação ou no tempo para se realizar as inscrições. Os autores (GODOY et al., 2017) compararam o número de inscritos com dados de um curso semelhante ofertado no Rio Grande do Sul (região reconhecida pelo número de fósseis) e perceberam que o número de inscritos no Sul foi maior. Essa popularidade da Paleontologia na região pode ter sido fundamental para o interesse, o que vai ao encontro dos resultados de Soler (2012). A região de Ribeirão Preto possui um Museu de Paleontologia, na cidade de Monte Alto, essa proximidade poderia ter sido explorada ou até mesmo discutida com os professores. Ao analisar os resultados das experiências com formação continuada na área de Ensino de Paleontologia, os autores apontam que os participantes acreditam que as aulas práticas são as de maior relevância, uma vez que poderiam ser utilizadas em sala de aula (GODOY et al., 2017; SOLER et al., 2012). Godoy e colaboradores (2017) ainda apontam que a formação continuada é uma excelente oportunidade para que os pesquisadores – aqueles que geram conhecimento – possam entrar em contato com os professores, que multiplicarão esse conhecimento. Desse modo, as Universidades, ainda na formação inicial, poderiam possibilitar que seus alunos desenvolvessem estratégias de ensino inovadoras e materiais instrucionais que 40 ajudassem a compreender os conceitos dessa área. Assim, os conhecimentos seriam ensinados de maneira mais atraente para os alunos. 1.1.2 PROBLEMAS NOS MATERIAIS DIDÁTICOS VOLTADOS PARA O ENSINO DE PALEONTOLOGIA O segundo ponto limitador para um ensino de maior qualidade são os livros didáticos. Estes representam o recurso mais utilizado pelos professores e não raro sua única fonte de informação. Os problemas apontados pelos pesquisadores são o fato dos livros serem inadequados e/ou ineficientes, muitas vezes apresentando erros conceituais ou não explorando o conteúdo adequadamente (SILVA 1998; MORAES et al., 2007; VASCONSELOS, 2009; JUNIOR & PORPINO 2010; ZUCON et al., 2010, ZUCON e SANTANA, 2010; ALONÇO et al., 2016). Cabe ressaltar que os obstáculos evidenciados nos livros didáticos, acabam por influenciar o trabalho pedagógico porque muitos professores não sabem como explicar ou contornar determinadas situações em sala de aula. Santos (2014), ao realizar uma entrevista com professores, pode constatar que os próprios acreditam que os livros não oferecem um bom suporte para as aulas, enquanto outros disseram que os livros são parcialmente bons. Fato relevante é que nenhum entrevistado classificou os livros como bons. Outro problema apontado por Júnior e Porpino (2010), também pode contribuir para essa dificuldade em trabalhar o tema: a Paleontologia é uma Ciência que muda muito rápido e novos conceitos ou abordagens não são incorporados nos materiais didáticos. Moraes et al. (2007) também diagnosticaram problemas conceituais ao analisar a abordagem da Paleontologia em livros didáticos da rede pública de Salvador, BA. Esses resultados também são encontrados em Santos (2014) e Antunes, Costa e Ruivo (2013). Esses dados indicam uma necessidade emergente de se rever como essa Ciência é tratada nos materiais didáticos. Moraes, Santos e Brito (2007) apontam que as deficiências encontradas nos livros didáticos estão relacionadas diretamente com a má compreensão da Paleontologia pelos alunos. Para elas, seria necessário uma maior ênfase nesta Ciência nos livros didáticos. Em sua pesquisa, constataram que a maioria dos livros do Ensino Fundamental não aborda a 41 questão do tempo geológico e a Evolução da vida durante as eras, assim torna-se improvável que os alunos consigam relacionar a Paleontologia com outras ciências como a Evolução. O material didático utilizado faz toda a diferença nos resultados apresentados pelos alunos. Compagnon et al. (2017), constatou que nas escolas que apresentam livros didáticos mais completos e com maior qualidade, os alunos se saíram melhor ao responder os questionários com conceitos paleontológicos. É visível que quando o material didático é melhor planejado e há mais recursos para desenvolver o tema, a aprendizagem é mais efetiva. Uma das alternativas para resolver o tratamento dado a Paleontologia nos livros didáticos poderia ser a criação de um capítulo específico para tratar de assuntos ligados a ela (ALONÇO e BOELTER, 2016), e além disso, integrar os conteúdos a outros capítulos, como aqueles que falam de Evolução, Origem da Vida e surgimento dos grandes grupos. Quando os autores analisaram livros de ensino médio, estavam praticamente ausentes os conteúdos de Paleontologia, o que se distancia muito do esperado. Eles encontraram erros conceituais nos livros analisados e abordagem superficial do tema – problema já exposto por outros pesquisadores. Assim, consideram necessária uma revisão nos referenciais que guiam a produção desses livros. Atualmente, como referência curricular têm-se o PCNs (BRASIL, 1998), estes indicam que os temas da Paleontologia deveriam ser abordados quando outros assuntos são discutidos, por exemplo, o conceito de fóssil deveria valorizar e corroborar a Evolução. Já o outro documento recentemente elaborado, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) não cita em momento algum o termo Paleontologia, há apenas o estudo de rochas sedimentares no 6º ano, em que os Fósseis ganham destaque como conteúdo e no 8º ano em que são discutidos os principais combustíveis fósseis. Contudo, há outras temas estudados e citados pelo documento que poderiam ter conceitos paleontológicos introduzidos ou citados como uma evidência favorável, como no Estudo da Deriva Continental ou Evolução (BRASIL, 2017). Moraes, Santos e Brito (2007, p.72) afirmam que “[...] o fato dos conteúdos de Paleontologia não serem tratados de forma clara e abrangente nos livros didáticos, evidencia uma deficiência que deveria ser corrigida através dos PCN[...]”. Estes deveriam especificar melhor onde e quando os conteúdos paleontológicos poderiam ser tratados. Pesquisas que analisam os conteúdos de Paleontologia em livros didáticos vêm aparecendo nos últimos anos, como mostra o quadro abaixo 42 Quadro 1 - Pesquisas envolvendo análise do conteúdo de Paleontologia nos livros didáticos nos últimos 20 anos. Autor e Ano Tipo de Trabalho Nível de escolaridade do livro didático SILVA, 1998 Artigo de revista Ensino Fundamental MORAES, SANTOS e BRITO, 2007 Capítulo de livro Ensino Fundamental e Médio. SATO et al., 2010 Anais de Congresso Ensino Médio JÚNIOR e PORPINO, 2010 Artigo de revista Ensino Médio VIEIRA, ZUCON e SANTANA, 2010 Anais de Congresso Ensino Médio SANTOS, SANTOS e PIRANHA, 2015 Anais de Congresso Ensino Médio ALONÇO e BOELTER, 2016 Anais de Congresso Ensino Médio COMPAGNON et al., 2017 Anais de Congresso Ensino Fundamental Para compor as referências utilizadas nesta pesquisa, utilizamos apenas os trabalhos completos que constam em anais de eventos, além dos artigos e capítulos. Podemos perceber que o número de trabalhos é baixo (oito). Além disso, há uma predominância pela análise dos conteúdos no Ensino Médio em detrimento do Ensino Fundamental. Há ainda que se considerar que todos eles são do 6º ao 9º ano, não havendo nenhuma análise de livros dos anos iniciais. Um dado recorrente nos trabalhos é a presença de erros conceituais, abordagem superficial e incompleta. Outro dado que podemos perceber, é que em todas as análises é visível uma predominância de assuntos como: conceito de fóssil, fossilização e Origem da vida. Outros como, tipos de fósseis, datação dos fósseis e eras Geológicas são praticamente inexistentes. Moraes, Santos e Brito (2007) ao quantificarem a porcentagem de páginas por livro que continham conceitos paleontológicos em relação ao total do livro perceberam uma clara desvalorização desse tema. Além disso, na maioria das vezes, a parte de Paleontologia aparece no capítulo dedicado ao estudo da Evolução, como um quadro informativo ou texto complementar, o que descaracteriza sua importância. Analisando as obras de Biologia, Júnior e Porpino (2010), perceberam que em nenhuma obra havia informações a respeito dos fósseis transicionais que são muito importantes para o estudo da Evolução. Além disso, Alonço e Boelter (2016) ressaltaram o fato que maior parte dos livros didáticos trazem textos complementares e ilustrações 43 científicas de modo insatisfatório. Esse é um problema grave, já que esse tipo de recurso poderia ajudar a melhorar a aprendizagem desse tema. Apesar de haver um consenso a respeito dos problemas encontrados nos livros didáticos e das dificuldades acima mencionadas, Zucon et al. (2010) e Reis et al. (2005), salientam que os docentes não deveriam elaborar suas aulas utilizando apenas esse recurso. O uso de livros científicos, artigos especializados da área, participação em cursos e congressos deveriam fazer parte da rotina de planejamento do professor. Assim, além de estar constantemente buscando atualização teórica, o docente deveria pensar como tornar essa aprendizagem mais dinâmica, levando informação paleontológica de diferentes maneiras aos alunos. Resolver os problemas do Ensino de Paleontologia é um desafio, assim como do ensino de outras temáticas científicas. Iniciativas ocorrem de diversas maneiras. Duarte et al. (2016) mostram que o meio acadêmico já vem se movimentando por meio de projetos e cursos de extensão para professores, a fim de aproximar a Paleontologia das salas de aula. Ações desse tipo podem ser observadas, por exemplo, no trabalho de Barreto et al. (2014), em que a universidade oferece cursos de Paleontologia para professores com cartilhas e vídeos que podem ser usados em sala de aula. Existem ações também voltadas para a popularização dessa Ciência para os alunos. Perez, Andrade e Rodriguez (2015) desenvolveram oficinas em Porto Velho para divulgar a Paleontologia, principalmente entre o público jovem. Contudo, essas inciativas não devem ficar restritas a poucas pessoas. Divulgar e fazer com que os conteúdos cheguem a todos deveria ser uma meta dos cientistas. Isso pode ser feito por meio de materiais didáticos, como mostram Mello, Mello e Torello (2005, p.398): As informações contidas em materiais didáticos são uma boa alternativa de complementação ao conhecimento paleontológico geralmente oferecido, podendo ser utilizadas tanto nas escolas como fora delas. Contudo, a produção desse tipo de material pelos paleontólogos brasileiros ainda é tímida, embora alguns exemplos possam ser apontados como iniciativas de reconhecido mérito […]. A divulgação da Paleontologia vem ganhando força nos últimos anos. O site da revista Ciência Hoje mantém on-line uma Coluna chamada “Caçadores de Fósseis”, editada pelo paleontólogo e professor do Museu Nacional do Rio de Janeiro, Alexander Kellner. Outra ação importante foi o material organizado por Marina Bento Soares chamado “Paleontologia na Sala de Aula”, que é composto por material teórico de apoio ao professor e 44 diversas atividades para serem trabalhadas com os alunos como jogos de tabuleiro, cartaz e experiências práticas (SOARES, 2015). Outra experiência que exemplifica com sucesso como a parceria entre Museus e escolas funcionam, é o projeto “Vertebrados fósseis do Rio Grande do Sul”. A Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB), criou em 2007 um kit didático composto por 10 réplicas de fósseis e fichas informativas acerca dos organismos. Apesar de a maioria das escolas solicitantes do material ser de Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, nas quais a Paleontologia não é nem ao menos citada nos Parâmetros Curriculares, vemos um avanço pelo interesse no tema e valorização do patrimônio de seu estado. Porém, a baixa procura por parte de escolas de Ensino Médio e anos finais do Ensino Fundamental é preocupante, já que conceitos paleontológicos são citados nos documentos legais para essa etapa (BRAUNSTEIN, SPADONI & FARIAS, 2013). Na pesquisa realizado por Braunstein, Spandoni e Farias (2013) foram entrevistados professores acerca do uso do kit didático desenvolvido. Os pesquisadores puderam perceber que as estratégias utilizadas pelos professores foram variadas, desde a apresentação de seminários, comparação de estruturas, reconstrução do organismo passando pela contação de histórias e construção de maquetes. Atividades do tipo comparação entre estruturas, teriam um grande ganho para o ensino de Evolução, uma vez que permitem discussões mais aprofundadas sobre seu surgimento e porque permaneceram nas espécies ao longo da Evolução. Outro Kit didático foi construído pela equipe do laboratório de Macrofósseis da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O material que contém réplicas de fósseis de duas bacias brasileiras e uma cartilha, aposta num modelo investigativo para que os alunos compreendam o que aqueles fósseis significam para o estudo daqueles locais. Após a utilização do material com os alunos, as autoras puderam constatar que o material é eficiente e que motiva para a aprendizagem, além de estimular a cooperação. Também ressaltam a importância do papel do professor como mediador durante a investigação (BERGQVIST; PRESTES, 2014). Podemos citar ainda como possibilidade para o trabalho em sala de aula, o uso de histórias em quadrinhos, desde os anos iniciais até o ensino médio. Esse tipo de recurso sempre atrai atenção dos alunos por mostrar os conteúdos de uma maneira mais lúdica e com uma linguagem que se aproxima da dos alunos. Porém, alguns cuidados devem ser tomados. Gonçalves & Machado (2005) alertam que, muitas vezes, esse tipo de recurso pode conter 45 erros conceituais, principalmente quando é produzido para entretenimento. Mesmo com os erros, eles podem ser utilizados para gerar discussões em que os alunos poderiam identificar e criticar os erros encontrados. Outro recurso que está ao alcance da maioria dos professores e alunos é a utilização de filmes e documentários. Estes, muitas vezes, estão disponíveis na internet e acabam sendo mais fáceis de serem adquiridos. O recurso audiovisual é interessante porque torna o conteúdo mais atrativo. É importante lembrar, como ressalta Nieto & Fesharaki (2014), os professores devem estar atentos a erros conceituais que possam estar presentes nestes materiais. Por último, pode-se mencionar como recurso o uso de livros paradidáticos. Farias et al. (2007) ressaltam que este recurso deveria ser mais explorado uma vez que apresenta uma linguagem mais próxima do público infanto-juvenil e pode apresentar conceitos paleontológicos e localidades fossilíferas à população. O livro paradidático como recurso, acaba atraindo os jovens para o mundo paleontológico além de incentivar a leitura. Ainda é escasso o número de livros com essa temática, por isso paleontólogos deveriam investir nesse tipo de divulgação. 1.2 EXPERIÊNCIAS BEM SUCEDIDAS EM ENSINO DE PALEONTOLOGIA No ensino de Ciências e Biologia para a Educação Básica, os conteúdos de Paleontologia geralmente apenas são tratados atrelados ao estudo da Evolução. Quando abordados, se restringem ao conceito de fóssil e fossilização e outros conceitos importantes, como tempo geológico, acabam não sendo tratados. O estudo dos fósseis vinculado à Evolução apresenta falhas, já que os alunos não compreendem realmente a importância destes para o estudo dessa temática. Essa ideia é confirmada por Nobre [...]pode-se constatar que o ensino de Paleontologia, em específico, precisa ser repensado e reformulado, pois a maioria dos professores aborda os temas de maneira superficial, quando aborda, dando maior importância apenas a algumas temáticas (Evolução e Origem da vida), não apresentando todo o conteúdo e a abrangência que envolve esta Ciência (NOBRE, 2014, p.81). Algumas estratégias de ensino e materiais didáticos foram apresentados nos últimos anos para promover o ensino da Paleontologia na educação básica, como por exemplo o Livro Digital de Paleontologia (SOARES, 2009), gincanas (SANTOS et al., 2013), artes plásticas 46 (CHAVES et al., 2011, GOMES; FILHO; JUNIOR, 2015), CD-Rom (DANTAS & MELO, 2009, DANTAS & ARAUJO, 2006, REIS et al., 2007, SOBRAL & ZUCON, 2010), jogos (MELLO et al., 2007, SOBRAL & SIQUEIRA, 2007, SOBRAL, SIQUEIRA & MACHADO, 2007, NEVES; CAMPOS; SIMÕES, 2008), construção da linha do tempo geológico (MELLO et al., 2005), oficinas (IZAGUIRY et al., 2013), uso de réplicas (SILVA et al., 2016, FULAN et al., 2014, SOBRAL, SIQUEIRA; MACHADO, 2007), cartilha educativa (PEREZ et al., 2009) filmes (NIETO; FESHARAKI; YELO, 2014), histórias em quadrinhos (GONÇALVES & MACHADO, 2005). Estes trabalhos mostram como é importante desenvolver estratégias e materiais para se abordar o tema em sala de aula, mas ainda são necessárias mais pesquisas e que estas cheguem as escolas e professores que são os verdadeiros agentes responsáveis pela inserção da Paleontologia na educação básica. Santos (2014), em sua pesquisa, constatou que a maior parte dos professores ainda aborda a Paleontologia de maneira expositiva, alguns utilizam filmes e trabalhos em grupos, mas o trabalho de campo, visitas ou outras estratégias como as apresentadas não fazem parte de suas rotinas. Isso pode ser observado também no trabalho de Fulan et al. (2014). Ao desenvolver um trabalho com réplicas, os autores puderam perceber claramente que os alunos associam os fósseis somente a dinossauros (90%) e que não imaginam que eles têm relação com a Evolução. Contudo, os pesquisadores reforçam a ideia de que se o professor não tiver uma formação com forte embasamento teórico, a utilização das peças para simples demonstração não surtiria efeito. Silva et al. (2016), após desenvolver réplicas para professores do Ensino Médio, pode constatar que a maioria deles não utiliza esse recurso por não t