RESSALVA Atendendo solicitação do(a) autor(a), o texto completo desta dissertação será disponibilizado somente a partir de 22/08/2017. UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” – UNESP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÍDIA E TECNOLOGIA Samantha Sasha de Andrade JORNALISMO DA MULTIDÃO: ESTUDO SOBRE AS FORMAS DE FINANCIAMENTO COLETIVO DA AGÊNCIA PÚBLICA BAURU 2016 Samantha Sasha de Andrade JORNALISMO DA MULTIDÃO: ESTUDO SOBRE AS FORMAS DE FINANCIAMENTO COLETIVO DA AGÊNCIA PÚBLICA Trabalho de conclusão de Mestrado apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Mídia e Tecnologia, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita de Filho” (UNESP), para obtenção do título de Mestre em Mídia e Tecnologia, sob a orientação do Prof. Dr. Juliano Maurício de Carvalho. BAURU 2016 Samantha Sasha de Andrade Jornalismo da Multidão: estudo sobre as formas de f inanciamento coletivo da Agência Pública Área de Concentração: Ambientes Midiáticos e Tecnológicos Linha de Pesquisa: Gestão Midiática e Tecnológica Banca Examinadora: Presidente/Orientador: Prof. Dr. Juliano Maurício de Carvalho Instituição: Universidade Estadual Paulista “Júlio De Mesquita De Filho” Prof. Antonio Francisco Magnoni Instituição: Universidade Estadual Paulista “Júlio De Mesquita De Filho” Prof. Dr. Gerson Luiz Martins Instituição: Universidade Federal do Mato Grosso do Sul Andrade, Samantha Sasha. Jornalismo da Multidão: Estudo sobre as formas d e financiamento coletivo da Agência Pública / Samanth a Sasha de Andrade, 2016 106 f. Orientador: Juliano Maurício de Carvalho Dissertação (Mestrado)–Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Bauru, 2016 Aos meus pais e irmã, Pelo apoio incondicional e a dedicação que me permitem aproveitar todas as oportunidades do mundo. AGRADECIMENTOS Ao concluir mais esta fase, não posso deixar de agradecer primeiramente aos meus pais, Samuel e Andreia, pelo infinito amor e incentivo de sempre. Obrigada por me apoiar em mais essa decisão, mesmo ficando tanto tempo longe de casa. E à minha irmã, Natasha, pelo apoio e carinho das incontáveis risadas, sempre tão características dela. Sem vocês nada na minha vida seria possível. Aos meus familiares, pelo carinho de sempre e por compreenderem minha ausência em tantos eventos e momentos familiares. Aos meus queridos amigos-irmãos, que ao longo desses anos estiveram ao meu lado mesmo longe e me desculparam pela constante ausência. Amanda, Guilherme, Mariana, vocês são demais. E também àqueles com quem partilhei todos estes anos aqui em Bauru, dia após dia, trabalho após trabalho, e que fizeram os dias mais alegres. Aos novos amigos que pude conhecer, dividir angústias e sucessos, e são parte da minha vida, Tainan, Lucas e Letícia. Às queridas Vivianne Lindsay e Aline Bastazini, pelos ensinamentos de Economia Política da Comunicação e as inúmeras revisões/traduções de todos os meus trabalhos, além do incentivo e amizade de todas as horas, meu muito obrigada. I’m also very thankful for my host family, that since we met in 2009 made my life full of international culture. Thank you for showing me how amazing it is to learn new cultures and for understanding my absence. Não poderia deixar de agradecer ao meu orientador, Prof. Dr. Juliano Maurício de Carvalho, pela enorme dedicação e presença em cada uma das fases desta caminhada do conhecimento. Muito obrigada pela paciência e fé no meu trabalho, aos outros professores que fizeram parte da minha formação e também a todos do Lecotec, que compartilharam e estiveram presentes nessa conquista. E por fim, mas não menos importante, a Deus, por me tornar capaz e por me dar a chance de ter tantas coisas a agradecer. “Jornalismo genuinamente objetivo é aquele que não apenas apura os fatos, mas compreende o significado dos acontecimentos. É impactante não apenas hoje, mas resiste à passagem do tempo. É validado não apenas por ‘fontes confiáveis’, mas pelo desenrolar da história. E dez, vinte, quinze anos depois ainda serve como espelho verdadeiro e inteligente do que aconteceu.” T.D. Allman ANDRADE, S. S. de. Jornalismo da Multidão: estudo sobre as formas de financiamento coletivo da Agência Pública. 2016. 103f. Dissertação (Mestrado em Mídia e Tecnologia) – FAAC - UNESP, sob a orientação do prof. Dr. Juliano Maurício de Carvalho, Bauru, 2016. RESUMO A pesquisa busca compreender as estratégias e possibilidades que o cenário positivo do financiamento coletivo pode oferecer para o jornalismo de mídia. O crowdfunding, modelo de financiamento onde a arrecadação é feita em grupo e em pequenas quantias, tem movimentado milhões de reais em plataformas para viabilizar projetos. Está pesquisa fez um estudo do caso da campanha “Reportagem Pública”, disponibilizado no site no ano de 2013 e que apresentou um novo modelo de flexibilização financeira para a realização dos projetos da Agência Pública. O estudo dialogou com as categorias das indústrias criativas para compreender a construção desse modelo de financiamento e utilizou como base para análise exploratória o modelo norte-americano. Seguimos uma metodologia mista, com base nos conceitos de relações sociais da teoria da Economia Política da Comunicação buscando uma explicação do caso. Concluímos que o crowdfunding tem como principais características a diversificação, engajamento do público e até o momento, não possui regulamentação. Palavras-chave : Crowdfunding. Jornalismo. Financiamento Coletivo. Agência Pública. Mídia Digital. Economia Política da Comunicação. ABSTRACT The research aims to understand the strategies and possibilities that the positive scenario of the crowdfunding can offer for media journalism. The crowdfunding, funding model where the collection is done in groups and in small amounts, has moved millions of reais into platforms for implementing projects. In this research made a case study of the campaign "Reportagem Pública", available on the website in 2013 and introduced a new model of financial flexibility to achieve the projects of the Agência Pública. The study spoke with the categories of creative industries to understand the construction of this financing model and used as a basis for exploratory analysis the American model. We follow a mixed methodology, based on the concepts of social relations of the Political Economy of Communication theory, seeking an explanation of the case. We conclude that the crowdfunding's main features diversification, public engagement and so far, does not possess regulations. Keywords: Crowdfunding. Journalism. Rewards Crowdfunding. Agência Pública. Digital Media. Political Economy of Communication. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Circulação de jornais no Brasil (mil exemplares)...................................... 31 Figura 2 – Investimentos publicitários no Brasil em 2013 ......................................... 32 Figura 3 – Investimento publicitário total por setor econômico no Brasil (U$$) ......... 33 Figura 4 – Evolução da audiência por emissora no Brasil ......................................... 34 Figura 5 – Relatório financeiro do jornal The New York Times de 2014 ................... 35 Figura 6 – O aumento do número de demissões ao longo de 3 anos ....................... 37 Figura 7 – Porcentagem de assinantes e preferência de assinatura por países ....... 58 Figura 8 – Balanço anual de receitas Agência ProPublica ........................................ 60 Figura 9 – Resumo do The Texas Tribune Festival ................................................... 63 Figura 10 – Receitas do site em 2010 e objetivo para 2013-2014 ............................ 64 Figura 11 – Gráfico com a projeção de despesas do site em 2010 ........................... 65 Figura 12 – Atividades fiscais do site no ano de 2014 .............................................. 66 Figura 13 – Descrição do orçamento do Reportagem Pública .................................. 75 Figura 14 – Evolução das recompensas e descrição dos brindes por cota ............... 78 Figura 15 – Descrição das fases de ação do Reportagem Pública – Parte 1 ........... 83 Figura 16 – Descrição das fases de ação do Reportagem Pública – Parte 2 ........... 84 Figura 17 – Evolução do número de doadores ao longo da campanha .................... 87 Figura 18 – Verba fornecida pela Ford Foundation para a ProPublica em 2015 ....... 89 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Lista de plataformas de financiamento colaborativo ativas no Brasil...... 48 Quadro 2 – Comparações entre o mercado lucrativo e o mercado sem fins lucrativos ... 57 Quadro 3 – Outros exemplos de jornais financeiramente sustentáveis ..................... 61 Quadro 4 – Financiadores da Agência Pública desde 2011 ...................................... 71 Quadro 5 – Meios republicadores de conteúdo da Pública ....................................... 73 Quadro 6 – Lista de recompensas-relâmpago do Reportagem Pública 2013. .......... 79 Quadro 7 – Lista de publicações do Facebook e Twitter da Pública ......................... 82 Quadro 8 – Lista dos meios que publicaram sobre o projeto Reportagem Pública ... 85 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 26 1.1 Metodologia ..................................................................................................... 28 2 OS MODELOS DE NEGÓCIO DO JORNALISMO ............................................. 30 2.1 Conteúdo colaborativo: o crowdsourcing ......................................................... 42 2.2 O crowdfunding ............................................................................................... 43 2.3 As plataformas ................................................................................................. 46 2.4 Dinâmica do crowdfunding .............................................................................. 49 3 O NOVO FINANCIAMENTO ............................................................................... 51 3.1 Algumas experiências de financiamento na cultura americana ....................... 58 4 A AGÊNCIA PÚBLICA DE JORNALISMO INVESTIGATIVO ............................. 68 4.1 Recompensas e brindes oferecidos aos doadores .......................................... 76 4.2 Planejamento e execução do Reportagem Pública 2013 ................................ 79 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 91 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 95 APÊNDICE .............................................................................................................. 101 1 INTRODUÇÃO Em todo o mundo, o acesso à internet vem acompanhado de mudanças na sociedade. Os reflexos das novas tecnologias e do acesso à banda larga estão presentes na cultura, comportamento, educação e até saúde das sociedades. Para o jornalismo, as novas mídias digitais trouxeram principalmente o amplo acesso à informação e a necessidade de adaptação diante da velocidade de propagação da comunicação. Com os smartphones, tablets, câmeras digitais e acesso rápido à internet, qualquer pessoa torna-se produtora de informação e a disponibiliza em sites como YouTube, publica em redes sociais como Facebook, Twitter, Instagram, transmitem por streaming, Facetime, Skype e tantos outros. A presença do público nas mídias digitais é cada ano mais significativa, o que causa reflexos nos outros meios de comunicação e no perfil do consumidor de informação. Segundo o relatório Brazil Digital Future in Focus (BANKS, 2014), elaborado pela consultoria Comscore, 40% da audiência de internet da América Latina está no Brasil. Os Estados Unidos é o país que passa mais horas on-line por mês, com 32,6 horas, enquanto aqui no Brasil são gastas 29,7 horas por mês na internet apenas nos computadores, sem levar em consideração as horas nos smartphones e tablets. O acesso a portais de informação e notícias cresceu 8% em 2014 em relação ao ano anterior. O Brasil é ainda o segundo maior no mundo em alcance de blogs, atrás apenas do Japão. A interação do brasileiro nas fan pages do Facebook cresceram 148% em 2014, e as ações de propaganda na rede Instagram aumentaram 896% no mesmo ano. É inegável que o meio digital tem uma grande audiência e participação do público. A importância do jornalismo está em muitos fatores, especialmente na sua vocação para o interesse público. O jornalismo digital está presente na liberdade em iniciativas não tradicionais que resultam em acontecimentos históricos, como o trabalho de Andy Carvin durante sua transmissão dos acontecimentos da Primavera Árabe na National Public Radio ou dos Mídia Ninjas nas manifestações aqui no Brasil. A informação, que ideologicamente pertencia somente aos profissionais de jornalismo e instituições da imprensa recupera sua função popular. E para o jornalismo, feito hoje de forma a comercializar notícia, as adaptações ainda não foram tão bem absorvidas. 27 A compreensão acadêmica desses fenômenos está ficando para trás em relação ao movimento empreendedor e inovador que a indústria está caminhando, e por isso nos debruçamos em debater os seus reflexos. Este trabalho busca debater e compreender quais as possibilidades que o crowdfunding pode oferecer na sustentabilidade de novos modelos de negócio para o jornalismo. O objetivo da pesquisa é esmiuçar e apresentar as características do crowdfunding que possam fazer desse modelo uma alternativa de financiamento para os novos formatos de jornalismo. Para isso, utilizamos como base para análise o modelo norte-americano, que foi onde o crowdfunding surgiu. Ao obter toda a teoria, seguimos para o estudo do caso da Agência Pública de Jornalismo, que segue um novo modelo de financiamento e fez um projeto de financiamento coletivo chamado Reportagem Pública, onde 808 pessoas participaram com doações que variavam de R$20 a R$ 2 mil. Ao compararmos a teoria com a prática do projeto de jornalismo, observamos diversas características do crowdfunding, além das suas vantagens e desvantagens em relação ao formato tradicional de financiamento. Seguiremos o seguinte raciocínio ao longo dos capítulos No segundo capítulo, discutiremos a crise no modelo de negócio do jornalismo. Ao contrário do que se diz, não é o jornalismo que está em crise e sim seu formato de negócio com uma única fonte de financiamento para diversos meios. A partir daí, apresentaremos as mudanças que o cenário digital pode trazer para o formato e as novas formas possíveis de sustentabilidade do jornalismo, principalmente o financiamento coletivo na modalidade crowdfunding. Definida a crise e seus cenários de mudança, seguiremos no terceiro capítulo com os novos financiamentos para o negócio. As alternativas financeiras oferecem novas possibilidades para a sustentabilidade de um jornalismo fora do formato tradicional baseado no mercado publicitário. Apresentaremos experiências e alternativas utilizadas nos Estados Unidos para a solução da crise no modelo de negócio do jornalismo. No quarto capítulo, apresentamos o caso brasileiro da Agência Pública de Jornalismo Investigativo, que estabeleceu um modelo de negócio independente de publicidade e anunciantes, obtendo através do financiamento coletivo e da flexibilização financeira uma nova forma de financiamento para seus projetos de jornalismo. 28 Por fim, apresentamos nossas conclusões em relação ao crowdfunding e o que os novos modelos de negócio podem acrescentar tanto para o jornalismo digital, quanto para o tradicional modelo de jornalismo comercial utilizado pelos grandes meios. 1.1 Metodologia Examinamos nessa pesquisa o processo envolvido no crowdfunding para mídia em seu aspecto mais amplo, com uma explicação e compreensão do objeto sendo, portanto, uma pesquisa exploratória em que será utilizada uma metodologia mista para “ilustrar argumentos, demonstrar a validade ou refutar hipóteses de trabalho previamente levantadas” (MACHADO; PALACIOS, 2007, p. 8). Para realizar nossos estudos, seguiremos como base a teoria da Economia Política da Comunicação, que de uma forma mais restrita estuda as relações sociais que constituem a produção, distribuição e consumo de recursos – incluindo os de comunicação (MOSCO, 1999). O estudo foi feito em três etapas principais de pesquisa: 1- Estudo documental e bibliográfico, 2- Observação indireta e entrevista, e 3- Estudo do caso da Agência Pública. Buscamos, na primeira parte, os conceitos e definições para os estudos de financiamento coletivo no Brasil com base no modelo americano. Coletamos dados de documentos, notícias, eventos e estudos feitos sobre financiamento coletivo nos Estados Unidos e que estivessem relacionados ao desenvolvimento do crowdfunding para a Agência Pública. Definido os conceitos para o projeto de financiamento coletivo, a segunda etapa que seguimos foi a verificação das características e condições para que o projeto fosse aplicado. Para isso, observamos de forma indireta o desenvolvimento da campanha Reportagem Pública nas mídias, com foco na estrutura do caso e nas características do financiamento coletivo que foram aplicadas dentro do recorte temático do projeto. Como um complemento à observação indireta, entrevistamos a coordenadora de comunicação da Agência Pública, Marina Dias, com o objetivo de compreender como foi o processo de idealização, planejamento do projeto e o seu impacto direto no formato de financiamento da Agência. 29 A importância da entrevista é oferecer novas perspectivas aos fatos que não podem ser obtidos no estudo e observação do caso. Marina confere uma nova abordagem para os assuntos relacionados a objetivos, possibilidades e intenções da Pública com o financiamento coletivo e as estratégias – tanto as que foram utilizadas, quanto as que não saíram do papel – para tornar o projeto real. Em uma última etapa, o estudo do caso levantou os contrapontos entre a estrutura teórica do financiamento coletivo e a prática feita pela Agência Pública, de forma que o caso ofereça uma ampla compreensão do modelo de financiamento coletivo para projetos de comunicação alternativa, como é o caso do Reportagem Pública. O intuito com o estudo do caso foi explicar e explorar as situações observadas, de forma a esmiuçar as questões levantadas ao longo da pesquisa, para que ao final pudéssemos ter uma visão geral das possibilidades e características do modelo crowdfunding. 91 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo de todo o estudo, buscamos responder como o financiamento coletivo poderia oferecer sustentabilidade ao jornalismo. A resposta está no engajamento do público, também produtor e distribuidor de conteúdo, mas que se conscientiza da necessidade de financiamento para a produção de conteúdo jornalístico de qualidade. O questionamento principal é em relação à alternativa financeira, o que de fato não é a que dá sustentabilidade ao jornalismo. Pudemos, então, observar que apesar de ainda recente no país – a primeira agência de jornalismo a adotar um novo modelo de negócio aqui no Brasil foi em 2011 – o formato tem alcançado bons resultados com a proximidade do consumidor e na busca por novas opções de financiamento. Nos Estados Unidos, onde já se tem uma regulamentação do financiamento coletivo e das agências de notícias sem fins lucrativos, o processo se estabeleceu de forma fixa, com negócios alcançando a marca de 15 milhões de dólares por ano. Em busca de sustentabilidade financeira, as empresas com novos modelos de negócio fazem uso de formas de financiamento que trazem resultados positivos para o jornalismo ao oferecer conteúdo, utilizar a grande audiência das mídias digitais e permitir a participação do público, deixando de ser detentora do poder. Ao incorporar outras formas de receita financeira para os meios digitais, como doações, pagamento por conteúdo, eventos com patrocinadores, bolsas de fundações e assinatura para diferentes dispositivos, o jornalismo conquista a possibilidade de inovação e absorção dos novos consumidores. Os reflexos são proximidade com o público leitor, engajamento e possibilidade de novos postos de trabalho para os jornalistas em um novo formato de geração de renda. Ao adotar outros formatos econômicos, os meios de comunicação participantes dos novos negócios rompem parte da estrutura da função econômica do capital no sistema de comunicação de massas. O modelo de financiamento coletivo exige planejamento e engajamento para que se obtenha a atenção do público, figura principal nos financiamentos feitos coletivamente. Muito além disso, o público é a grande aposta para o financiamento das notícias nos novos modelos de negócio. O interesse, a participação, o compartilhamento e até mesmo o uso dos conteúdos digitais é parte do engajamento que se busca no público digital para que haja investimento. Entretanto, apesar do interesse em pagar por alguns conteúdos digitais, ainda existe um enorme desafio 92 para que isso ocorra de fato. O público presente nas mídias digitais tem acesso a um conteúdo diferenciado com mais facilidade que aquele público que apenas recebia a notícia nos meios tradicionais anteriores a digitalização. Para o novo público, a credibilidade e transparência são um diferencial do que se tem no país hoje e trazem o leitor para a notícia de forma que ele possa obter todas as informações necessárias para formar sua opinião. O projeto de financiamento coletivo precisa fornecer ao leitor o que ele busca e não encontra, seja em uma agência de notícias que tem um formato único de apuração ou nos planos de reportagens com temas muito relevantes e ignorados pelos outros meios. Apesar de ser muito bem aceito, o financiamento coletivo não funciona para todos os modelos de negócio. No caso das agências de notícia, o sistema de financiamento coletivo exige que se tenha um sistema de financiamento mais sólido por trás, ou seja, não é capaz de manter os altos custos dos meios impressos, radiofônicos e televisivos. O público participa e se engaja nas doações dos projetos, mas não é capaz de fornecer verba suficiente para que um grande projeto de jornalismo se sustente única e exclusivamente por esse meio. A agência brasileira Pública, por exemplo, necessita de mais de 250 mil dólares de apoio da Ford Foundation para sobreviver, o que seria inviável ser arrecadado exclusivamente por financiamento coletivo. Uma prova disso é a rede de notícias Outras Palavras, que em seis anos de existência busca se manter nos formatos de financiamento coletivo e ainda não obteve sucesso. Apesar do questionamento sobre o poder de doação do brasileiro, essa não é o maior impedimento do sucesso em casos de financiamento coletivo. O jornal Chicago News Cooperative (CNC) é o reflexo americano da ausência de controle financeiro e de que uma única fonte de receita, mesmo que grande como foi o caso do jornal por meio de fundações, não é capaz de manter os custos. O público brasileiro tem engajamento nas doações e em casos bem estruturados, com um orçamento transparente, que prove suas diferenças em relação à grande mídia tradicional. Mesmo no caso do site que não obteve todo o valor solicitado, a proposta dos projetos brasileiros tem demonstrado a força da inovação nos modelos de negócio. A flexibilização financeira é capaz de conceder ao público a chance de ser também participativo. Ao contrário do que se imagina, o público que financia os conteúdos de jornalismo valoriza o trabalho do profissional de comunicação. Mesmo 93 sugerindo, participando, questionando os tópicos de debate e até mesmo corrigindo os jornalistas do meio digital, o público dá ainda mais credibilidade a esse formato colaborativo que o antigo detentor da informação. Como ressaltou Marina Dias, o público precisa ter conhecimento que fazer jornalismo custa dinheiro e que o tipo de notícia investigativa vale o seu investimento. O novo negócio surge em observar quais aspectos devemos analisar para obter resposta do público conectado. A primeira das formas de se obter renda com o público on-line é através do engajamento, ou seja, fazer com que o leitor republique a notícia, visite novamente o site e se torne doador/assinante do negócio. Para isso, devemos observar onde está a participação desse público, da mesma forma como antigamente analisávamos os dias com maiores vendas para aumentar o número de anúncios e publicidade. O público no Brasil passa mais tempo na rede social que os mexicanos e argentinos juntos em toda a internet (BANKS, 2014). Significa dizer que os novos modelos de negócio digitais que não estiverem na rede social perdem parte da atenção dos internautas. A segunda forma de se obter mais doadores e, consequentemente, mais renda é com a transparência. As agências americanas que obtiveram sucesso disponibilizam seus balancetes anuais no próprio site, o que oferece credibilidade no funcionamento do projeto de crowdfunding do meio. No caso da Pública, o leitor tem acesso apenas a forma como a agência é financiada e os resultados dos projetos de financiamento coletivo, sem dispor ao leitor o que seria o diferencial desse modelo diante dos grandes meios. A diferenciação em relação aos grandes meios de comunicação é também uma forma de se obter renda para o negócio de comunicação. Observar esses aspectos é também uma alternativa para se avaliar qual o limite do formato de financiamento digital. No caso das redes sociais e do meio digital, que sofrem constantes mudanças, tudo que é inovador tem um prazo de validade, podendo atingir seu esgotamento. Concluímos que o crowdfunding tem como principais características a diversificação, engajamento do público e, até o momento, ausência de regulamentação. Falta para o crowdfunding a certeza de que o valor arrecadado será bem empregado, os objetivos serão todos alcançados e que, caso isso não aconteça, o doador terá legalmente como exigir esse retorno. Modelos como o equity, utilizado principalmente por startups, ainda não dá respaldo legal para que 94 pequenas empresas utilizem o financiamento coletivo como forma de obtenção de renda. Essa foi a última das modalidades a ser regulamentada nos Estados Unidos, o que permitiu ações como investimento de qualquer pessoa, não apenas aquelas com renda comprovada como é o caso dos investidores e divulgação das empresas que buscavam por investimento. Aqui no Brasil, além da modalidade não ter uma regulamentação e ser feita por títulos, as empresas não podem divulgar a venda das “ações” fora da Bolsa de Valores, o que torna o processo muito restrito e com alto custo. O site Broota, por exemplo, trabalha com aportes de títulos de dívida mínimo de R$4 mil reais, o que limita algumas das principais características do crowdfunding. O financiamento coletivo é sim uma das formas de flexibilização financeira dos novos modelos de negócio, desde que feito com um planejamento e orçamento nas devidas proporções do projeto. Em relação às outras formas de financiamento tradicionais, como anúncios e publicidade, o crowdfunding concede maior liberdade em aspectos como tema, abordagem e opinião, já que a verba não vem de uma única fonte. Aliada a um bom projeto de jornalismo que ressalte o conteúdo, a flexibilização financeira nos novos modelos de negócio só tem a acrescentar à comunicação no país. O espaço para concorrência está cada vez maior, e projetos como o Reportagem Pública, Texas Tribune e ProPublica só podem nos demonstrar o poder de inovação da mídia digital e das novas tecnologias. 95 REFERÊNCIAS 3 ANOS DE SONHOS REALIZADOS. Catarse Blog , 2014. Disponível em: . Acesso em: 15 jan. 2015. A CONTA dos “passaralhos”. Observatório da Imprensa , n. 862, ago. 2015. Disponível em: . Acesso em: 17 jan. 2016. AGÊNCIA PÚBLICA. Reportagem Pública. Catarse , 2013a. Disponível em: . Acesso em: 3 maio 2015. AGÊNCIA PÚBLICA. Reportagem pública: um projeto de jornalismo colaborativo . Agência Pública, 2013b. 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