Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84216928004 Red de Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal Sistema de Información Científica Aprile, Maria Rita; Unger Raphael Bataglia, Patrícia Qualidade de vida de pacientes com distúrbios do equilíbrio corporal Saúde Coletiva, vol. 8, núm. 48, 2011, pp. 46-51 Editorial Bolina São Paulo, Brasil Como citar este artigo Número completo Mais informações do artigo Site da revista Saúde Coletiva, ISSN (Versão impressa): 1806-3365 editorial@saudecoletiva.com.br Editorial Bolina Brasil www.redalyc.org Projeto acadêmico não lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto http://www.redalyc.org http://www.redalyc.org/comocitar.oa?id=84216928004 http://www.redalyc.org/fasciculo.oa?id=842&numero=16928 http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84216928004 http://www.redalyc.org/revista.oa?id=842 http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84216928004 http://www.redalyc.org/revista.oa?id=842 http://www.redalyc.org/revista.oa?id=842 http://www.redalyc.org http://www.redalyc.org/revista.oa?id=842 46 Saúde Coletiva 2011;08 (48):46-51 Aprile MR, Bataglia PUR. Qualidade de vida de pacientes com distúrbios do equilíbrio corporal idosos e vestibulopatia Aprile MR, Bataglia PUR. Qualidade de vida de pacientes com distúrbios do equilíbrio corporal Qualidade de vida de pacientes com distúrbios do equilíbrio corporal Maria Rita Aprile Pedagoga. Mestre e Doutora e em Educação. Professora e Pesquisadora do Programa de Mestrado em Reabilitação do Equilíbrio Corporal e Inclusão Social da Universidade Bandeirante de São Paulo. ritaaprile@hotmail.com Patrícia Unger Raphael Bataglia Psicóloga. Mestre e Doutora em Psicologia Social. Professora da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – UNESP / Campus Marília e Professora Colaboradora do Programa de Mestrado em Reabilitação do Equilíbrio Corporal e Inclusão Social da Universidade Bandeirante de São Paulo. Também os relatórios divulgados pelo IBGE destacam que se encontra em curso, no país, um processo de envelhecimento da população, cuja estimativa para os próximos decênios é de 172,7 idosos para cada grupo de 100 indivíduos de 0 a 14 anos. Entre os fatores que concorrem para o aumento da longe- vidade se destacam os avanços da medicina associados às no- vas tecnologias e aos novos recursos farmacêuticos. A divulga- ção de informações sobre o envelhecimento em decorrência de investigações sobre o tema e a criação de novas oportunidades sociais para os idosos, considerados, na sociedade contempo- rânea, um novo mercado em face de novos recursos tecnoló- gicos e estéticos, bem como de novas oportunidades culturais e sociais também concorrem para o aumento da longevidade2. Nesse contexto, novas concepções sobre o envelhecimento vêm sendo construídas em oposição às visões passadas e es- tereotipadas sobre envelhecimento, considerado um sinônimo de uma espécie de doença, avaliada pelo grau de degeneração causado ao organismo, ou ainda como um período caracte- rizado pela improdutividade física, sexual e mental aliada ao sentimento de não pertencimento social. Trata-se, portanto, de concepções não mais atreladas aos limites de ordem física dos idosos ou a uma associação direta entre doença e velhice3. As novas concepções decorrem de uma visão mais ampla do en- velhecimento, ao considerarem que os idosos também são in- divíduos saudáveis, produtivos e participantes de redes de rela- cionamentos sociais e culturais. Em decorrência desse quadro, novas expectativas e novos anseios surgem entre a população idosa, especialmente no que se refere a sua autoestima e a sua qualidade de vida. Contudo, apesar dos indicadores mais otimistas, uma parce- la considerável da população idosa, em vários países, inclusi- ve, no Brasil, se encontra em uma situação de vulnerabilida- de social e descoberta de seus direitos. Trata-se de idosos cuja precariedade de recursos econômicos, educacionais e culturais os exclui de um atendimento qualifi cado em relação à manu- tenção e/ou à melhoria da saúde, bem como os excluem das benesses advindas das novas tecnologias. Recebido: 28/04/2010 Aprovado: 13/12/2010 O artigo aborda conceitos sobre a qualidade de vida em pacientes idosos e apresenta a construção de uma escala de quali- dade de vida especialmente desenhada para pessoas com vestibulopatias. Descritores: qualidade de vida, idosos, vestibulopatia. This paper retakes concepts about quality of life in elderly patients and presents the construction of a Quality of Life Scale, especially designed to patients with vestibulopathies. Descriptors: quality of life, elderly, vestibulopathie. Este artículo recoge conceptos a cerca de calidad de vida en personas ancianas y presenta el método de construcción de una escala de calidad de vida diseñada para pacientes con vestibulopatias. Descriptores: calidad de vida, ancianos, vestibulopatia. INTRODUÇÃO N as últimas décadas, a qualidade de vida entre a população idosa se constitui em uma questão central nas pesquisas e estudos sobre envelhecimento. Entre os aspectos que contribu- íram para a relevância da temática se inclui o envelhecimento populacional, fenômeno demográfi co sem precedentes, que se observa em boa parte do planeta. No Brasil, a expectativa de vida duplicou em relação ao sé- culo passado, passando dos 34,7 anos, em 1900, para 68,5 em 2000. Atualmente, esses valores atingem a marca dos 71 anos, com perspectiva de aumentar ainda mais, conforme destaca o Plano Estadual para a Pessoa Idosa – Futuridade, do Governo do Estado de São Paulo1. idoso_vestibulopatia_1.indd 46 14/03/11 16:48 Aprile MR, Bataglia PUR. Qualidade de vida de pacientes com distúrbios do equilíbrio corporal Saúde Coletiva 2011;08 (48):46-51 47 idosos e vestibulopatia Esse fato é extremamente importante ao se considerar que o idoso – independente do grupo social e econômico - continua su- jeito às alterações nos sistemas anatômico e funcional. Entre essas alterações, destacam- se os distúrbios do equilíbrio corporal, ca- racterizados por sintomas como vertigens e tonturas, que interferem em seu bem-estar físico. São sintomas que infl uenciam suas relações pessoais, suas funções cognitivas, seu desempenho físico, sua produtividade, suas expectativas de vida e, portanto, inter- ferem em sua qualidade de vida. A questão da velhice e a qualidade de vida A discussão das possíveis relações entre os distúrbios do equilíbrio corporal e a quali- dade de vida na velhice nos leva a resgatar de antemão o signifi - cado de qualidade de vida entre a população idosa. É importante destacar que, na área da saúde, a relação entre o envelhecimento e a qualidade de vida vem sendo investigada a partir das últimas quatro décadas, quando se intensifi caram os estudos e as pesquisas sobre a temática, permitindo o seu aprofundamento teórico e empírico. Para além da esfera aca- dêmica, o debate se amplia e a temática passa a incorporar a pauta de inúmeros eventos de porte nacional e internacional, realizados sob o comando de diferentes segmentos da socieda- de. Neste cenário, a questão da velhice equacionada à quali- dade de vida também se inclui nas políticas públicas de países de ambos os hemisférios. A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio de vários pronunciamen- tos, tem apelado aos países de todo mundo e às organizações da sociedade civil para a realização de um trabalho em prol de polí- ticas e programas que permitam aos idosos viver em um ambiente voltado à melhoria de suas capacidades e à promoção de sua independência. Nessa direção, Kofi Annah, ex-Secretário Geral da ONU, em pronun- ciamento realizado em 01 de outubro de 2006, durante a comemoração do dia inter- nacional do idoso, ressalta a importância da promoção de uma imagem positiva do en- velhecimento por meio de estratégias desti- nadas à melhoria da sua qualidade de vida. À população ido- sa se deve assegurar moradia, saúde e transporte, entre outras condições, com o propósito de manter a sua independência e sua atividade por um maior período de tempo, buscando tornar sua vida mais enriquecedora, gratifi cante e realizada. Essas es- tratégias se alicerçam especialmente no reconhecimento e no respeito à dignidade, à autoridade, à sabedoria e à produtivida- de dos idosos em todas as sociedades. Alguns documentos incluem a preocupação com os idosos de todo o mundo e, ao mesmo tempo, traduzem os avanços em “NAS ÚLTIMAS DÉCADAS, A QUALIDADE DE VIDA ENTRE A POPULAÇÃO IDOSA SE CONSTITUI EM UMA QUESTÃO CENTRAL NAS PESQUISAS E ESTUDOS SOBRE ENVELHECIMENTO. ENTRE OS ASPECTOS QUE CONTRIBUÍRAM PARA A RELEVÂNCIA DA TEMÁTICA SE INCLUI O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL, FENÔMENO DEMOGRÁFICO SEM PRECEDENTES, QUE SE OBSERVA EM BOA PARTE DO PLANETA” idoso_vestibulopatia_1.indd 47 14/03/11 16:48 48 Saúde Coletiva 2011;08 (48):46-51 Aprile MR, Bataglia PUR. Qualidade de vida de pacientes com distúrbios do equilíbrio corporal idosos e vestibulopatia Aprile MR, Bataglia PUR. Qualidade de vida de pacientes com distúrbios do equilíbrio corporal relação ao “acolhimento” por parte do Estado e da sociedade. Entre esses documentos, se destacam: a Declaração Universal dos Direitos Humanos e o Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento de Madrid, divulgado em 2002. No Brasil, as políticas, diretrizes e estratégias direcionadas à melhoria da qualidade de vida da população em fase de envelhecimento integram os artigos 229 e 230 de sua Constituição Federativa, de 1988. Também se destacam a Política Nacional do Idoso4, o Estatuto do Idoso (Lei nº. 10.741/ 2003)5, a Lei Orgânica da As- sistência Social (LOAS) de n°. 8.842/19936, Direitos Humanos e Pessoa Idosa, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos do Governo Federal7 e a Lei nº. 12.548/2007, que trata da Política Estadual da Pessoa Idosa, no Estado de São Paulo8. É importante registrar que em meio às discussões, o conceito se apresenta ancorado em diferentes matrizes teóricas que, por sua vez, se desdobram em diferentes pro- postas e estratégias em relação aos grupos de idosos e ao contexto social, econômico e cultural em que se inserem. Ao admitir essa multiplicidade de signifi cados, o ter- mo qualidade de vida não pressupõe uma única interpretação: tanto a sua forma, quanto o seu conteúdo variam de acordo com quem o utiliza e em relação à popula- ção a qual se refere. A despeito das várias interpretações, as discussões sobre a qualidade de vida e envelhecimento levam em conta o con- ceito de saúde, divulgado na Carta de Princípios de 07 de abril de 1948 da Or- ganização Mundial da Saúde (OMS). A Carta da OMS considera a saúde “o es- tado do mais completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade”, bem como reconhece o direito universal à saúde e a obrigação do Estado em relação à sua promoção e pro- teção. Portanto, além do aspecto físico, a concepção da OMS incorpora outras dimensões, entre elas, o estado psicológico, as relações sociais, os ambientes físico e social, a espirituali- dade, a religiosidade e as crenças pessoais, além de enfatizar a responsabilidade do Estado. Vale destacar que a própria am- plitude do conceito acarretou a reação de vários autores por considerarem que, sob essa perspectiva, a saúde passa a ser considerada um ideal inatingível9. Para além das críticas, o conceito de saúde da OMS tem infl uenciado a construção de uma nova concepção de qua- lidade de vida. Até os anos de 1940, o foco dos estudos se centrava em aspectos objetivos ou externos. As investigações levavam em conta apenas os aspectos de natureza biológica e epidemiológica. Os estudos norte-americanos específi cos sobre envelhecimento saudável consideravam que envelhecer bem se relacionava à satisfação do indivíduo com o seu status atual de vida e aos planos ou perspectivas que apresenta em relação ao futuro, considerando o desenvolvimento técnico e tecnológico da época. A partir da veiculação do conceito de saúde da OMS, no pós-guerra, os estudos sobre qualidade de vida e saúde come- çam a incluir aspectos subjetivos ou internos, considerando as expectativas individuais e sociais em relação à temática. Na década de 1960, a polaridade entre os parâmetros objetivos e subjetivos é criticada por Elkinton10, que enfatiza a necessidade de correlaciona-los aos aspectos pertinentes ao bem-estar psi- cológico e à satisfação dos pacientes2. Em 1969, Fairwethear e seus colaboradores incluem pela primeira vez medidas para avaliação de aspectos subjetivos nos estudos sobre qualidade de vida dos pacientes2. Na década seguinte, e nas posteriores, as expectativas, ne- cessidades e opiniões dos indivíduos passam a ser incluídas nas investigações sobre qualidade de vida. O conceito de bem estar psicológico é relacionado às características buscadas na fase de envelhecimento, entre elas a satisfação, o senso de controle, a auto-efi cácia, a capacidade de lidar com o estres- se, entre outros. Entre 1980 e 1990, a sociedade norte-ameri- cana registra movimentos de insatisfação de pacientes norte-americanos em relação ao modelo mercantilista de atendimento à saúde. As reivindicações desses indivíduos ratifi cam a importância da inclusão da sub- jetividade nas investigações e, em decor- rência, se instala o processo em que os Re- sultados Referidos pelos Pacientes (Patient Reported Outcomes) passam a constar dos instrumentos de avaliação de intervenções médicas. Daí, a Food and Drug Adminis- tration (FDA) - órgão do governo america- no responsável pelo controle de alimentos e, portanto, dos suplementos alimentares, bem como de medicamentos, cosméticos, equipamentos médicos, materiais biológi- cos, e outros - exige que os resultados das intervenções (aspectos objetivos) obriga- toriamente incluam os autorelatos dos pa- cientes (aspectos subjetivos). A inclusão e a valorização dos aspectos subjetivos passam a ser considerados como um indicador im- portante nos estudos sobre qualidade de vida. Nos anos de 1990, estudos de Cella e cols11, tomando como referência um universo de 10.000 fi nlandeses, verifi cou que o estado emocional dos idosos constitui o fator de maior impac- to sobre os escores de qualidade de vida. Sullivan e colabora- dores12 destacam que sintomas, como ansiedade e depressão, têm os mesmos impactos sobre a qualidade de vida do idoso quando ele se percebe doente. Rogerson13 considera que há 2 grupos de variáveis na determinação da qualidade de vida, as internas que correspondem às psicológicas e as fi siológicas e estão relacionadas ao grau de satisfação e de gratifi cação na vida pessoal e comunitária e, as externas, consideradas as de- sencadeadoras das anteriores. A despeito das várias posições entre os autores, o que se per- cebe é que a subjetividade não pode ser desconsiderada em uma avaliação sobre o envelhecimento, que leve em conta o conceito de saúde da OMS. Apesar das perdas e riscos intrín- secos a essa fase da vida, as manifestações da subjetividade poderão fornecer indicadores importantes para o avanço das pesquisas referentes à temática e explicar o paradoxo entre os indivíduos que se dizem sentir-se bem nessa fase da vida e aqueles que a rejeitam absolutamente. “OS DISTÚRBIOS DO EQUILÍBRIO CORPORAL DE ORIGEM VESTIBULAR AFETAM O IDOSO EM SUA GLOBALIDADE, POSTO QUE OS SINTOMAS DAS VESTIBULOPATIAS ALÉM DE INTERFERIREM NO DESEMPENHO E BEM-ESTAR FÍSICO, INFLUENCIAM SOBRE SUAS RELAÇÕES PESSOAIS E SUAS FUNÇÕES COGNITIVAS” idoso_vestibulopatia_1.indd 48 14/03/11 16:48 Aprile MR, Bataglia PUR. Qualidade de vida de pacientes com distúrbios do equilíbrio corporal Saúde Coletiva 2011;08 (48):46-51 49 idosos e vestibulopatia Instrumento para avaliação da qualidade de vida e pacientes com vestibulopatias Instrumentos utilizados na avaliação da qualidade de vida que desconsideram os chamados aspectos subjetivos, entre eles, o relacionamento familiar, bem como os instrumentos que não apresentam propriedades psicométricas, tais como, validade, confiabilidade, número de itens adequados são criticados por alguns autores14. Em estudo populacional realizado por Bowling15, verificou- se que os fatores determinantes da qualidade de vida, tais como, a percepção sobre a saúde, o padrão de vida e a habili- dade para o trabalho variam segundo o estrato etário, conforme indica o gráfico 1. A análise dos dados obtidos nos estudos de Bowling indica que entre a população estudada, a percepção sobre a saúde é maior (mais de 60%) entre o grupo situado na faixa etária entre 65 e 75 anos, enquanto que na faixa compreendida entre 45 e 55 anos, variáveis como padrão de vida e habilidade para o trabalho eram maiores, isto é, 60% e 20% respectivamente. Browne e colaboradores16 realizando um estudo comparati- vo entre indivíduos de 19 a 51 anos, identificam as variáveis referentes à qualidade de vida, consideradas prioritárias para a população de 51 anos, quais sejam, família, atividades sociais e lazer, saúde, condições sócio-ambientais e lazer, conforme indica o gráfico 2. Estudos realizados por Faquhar17 em uma população de 65 a 85 anos sobre os fatores que interferem em sua qualidade de vida e, em relação a eles, quais acrescentariam ou retira- riam de sua vida para torná-la melhor, não constatou-se gran- des variações nas respostas dos indivíduos das diferentes faixas etárias. Entre os fatores apontados como positivos pelo grupo pesquisado se incluem o contato social, a saúde, a mobilidade, as circunstâncias materiais e a atividade. Entre os fatores qua- lificados de negativos se incluem a desesperança; a má quali- dade da saúde; a infelicidade; o desejo de ser mais jovem e as circunstâncias materiais. Evans e cols18 analisaram grupos de discussão sobre a ques- tão da qualidade e vida, envolvendo a observação de profis- sionais e idosos. Verificou-se que, entre a população idosa, são elementos determinantes: a autoestima, a disposição, o trata- mento recebido das demais pessoas, o transporte e a mobili- dade. Entre os profissionais, verificou-se uma supervalorização dos aspectos negativos da velhice e uma desvalorização dos aspectos positivos. Nesse último grupo, a qualidade de vida era considerada em relação às características em que os idosos apresentavam certa deficiência, como é o caso, de habilidades físicas para a execução de determinadas atividades. Verificaram também que os domínios relevantes, mas não específicos, da velhice eram a ocupação do tempo, lazer, vida social, saúde, finanças, ambiente, segurança, fé e religião. Quando se trata da avaliação da qualidade de vida no idoso, há particularidades que devem ser levadas em conta. A capaci- dade física, por exemplo, é reduzida pela própria condição do desgaste físico. É mais apropriado investigar o nível de ativida- de, a independência para a realização das atividades do dia a dia, controle cognitivo e a produtividade mental. O nível só- cioeconômico não equivale ao acesso à interação social. Daí, a importância de também se considerar em uma investigação o tipo e a intensidade dos contatos que a pessoa idosa de fato estabelece com pessoas que não integram o seu círculo fami- liar, suas relações informais com amigos, grupos de trabalho e outras. Flanagan19 em sua Escala de Qualidade de Vida estabe- lece cinco dimensões de avaliação: Bem-estar físico e metal; Relações com outras pessoas; Atividades sociais, comunitárias e cívicas; Desenvolvimento pessoal e realização e Recreação. Fleck et al20. conduziu a pesquisa sobre o desenvolvimento do WHOQOL-OLD, no Brasil. Esse trabalho é muito interes- sante porque partiu da avaliação de idosos a respeito de ca- tegorias importantes para avaliação da qualidade de vida em idosos. Desde dezembro de 2008, o Laboratório de Reabilitação do Equilíbrio Corporal e Inclusão Social, ligado ao Programa Gráfico 1 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0 Percepção sobre a saúde Padrão de vida Habilidade para o trabalho 65-75 anos 45-55 anos Gráfico 2 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0 Família Atividades sociais e lazer Saúde Condições socio ambientais Religião 51 anos ou mais idoso_vestibulopatia_1.indd 49 14/03/11 16:48 50 Saúde Coletiva 2011;08 (48):46-51 Aprile MR, Bataglia PUR. Qualidade de vida de pacientes com distúrbios do equilíbrio corporal idosos e vestibulopatia Aprile MR, Bataglia PUR. Qualidade de vida de pacientes com distúrbios do equilíbrio corporal de Mestrado em Reabilitação do Equilíbrio Corporal e Inclusão Social da Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN) atua no desenvolvimento de uma escala de avaliação da quali- dade de vida de idosos com vestibulopatias. Inicialmente, foi feita uma extensa revisão da literatura a res- peito do envelhecimento, qualidade de vida e instrumentos de mensuração. A equipe observou que o material utilizado nas pesquisas sobre qualidade de vida nos idosos não satisfaziam a necessidade do Laboratório, uma vez que não abordavam as- pectos fundamentais relacionados aos pacientes com distúrbio do equilíbrio corporal de origem no sistema vestibular. Os distúrbios do equilíbrio corporal de origem vestibular afetam o idoso em sua globalidade, posto que os sintomas das vestibulopatias além de interferirem no desempenho e bem- estar físico, influenciam sobre suas relações pessoais, suas fun- ções cognitivas e produtividade e, portanto, interferem direta- mente sobre a sua qualidade de vida. Para elaboração da nova escala, foram identificadas as ca- tegorias que poderiam incluir indicadores confiáveis e fidedig- nos sobre a qualidade de vida dos idosos com vestibulopatias, apresentadas no Anexo 1, a saber: • Motivos de busca de tratamento; • Prática de atividades físicas; • Hábitos alimentares; • Hábitos de lazer; • Atividades intelectuais; • Relação com o trabalho; • Auto-estima e relacionamentos pessoais; • Avaliação e expectativas de vida. Em seguida, foram estabelecidos indicadores para cada va- riável, ou seja, as perguntas que fornecessem dados a respeito de como os sujeitos se sentem em relação a cada categoria. Fo- ram definidos 91 (noventa e um) indicadores. Até agosto de 2009, foram realizadas 70 (setenta) aplicações do instrumento em uma população de idosos com vestibulopa- tias, em idade entre 65 e 85 anos, de ambos os gêneros. Essa aplicação possibilitou identificar que: a) as categorias estabele- cidas abrangem o espectro de fatores envolvidos na avaliação da qualidade de vida de idosos com vestibulopatias; b) o ins- trumento é adequado à população a que se destina; c) a abor- dagem do questionário permite análises quantitativas e qualita- tivas; d) a aplicação do questionário possibilita a identificação de indicadores primários e secundários; e) o instrumento adap- tado a essa população contribui para o avanço do conheci- mento cientifico na área. CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante o processo, foi possível identificar a necessidade de ampliar o número de categorias para a inclusão de ques- tões referentes ao trabalho e ao sentido da aposentadoria na vida dessa população e, ainda, a revisão de itens conside- rados secundários. Contudo, o instrumento se mostrou ade- quado para verificar o impacto da doença na qualidade de vida destes pacientes e utilização como medida comparativa após tratamento, além de estar de acordo com o conceito de saúde da OMS. Por fim, o instrumento contribui para pesquisas futuras sobre o tema, visto que preenche uma lacuna na literatura cientifica e per- mite sua comparação com outros instrumentos de avaliação de qualidade de vida. Também é importante destacar que a aplicação do instrumento permite colher dados e informações que revelam as avaliações dos idosos sobre a sua própria qualidade de vida. Referências 1. Governo do Estado de São Paulo (SP). 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Exemplos de indicado- res: costuma caminhar; dançar; praticar esporte. Hábitos alimentares - fornece um perfil sobre o tipo de alimentação do vestibulopata, se adota uma alimentação saudável e se tem liberdade para decidir sobre os alimentos que ingere. Exemplo de indicadores: alimenta-se de verdu- ras e legumes; de frutas; de carne vermelha; de carne bran- ca; de massas; de doces; de laticínios; toma café; chá. Hábitos de lazer - possibilita obter informações sobre a relação entre os hábitos de lazer e a ocorrência dos sinto- mas (tonturas, vertigens, zumbidos), o grau de satisfação em relação a esses hábitos e o apoio da família. Exemplo de indicadores: costuma visitar amigos e familiares; ir à praça; viajar; freqüentar clubes ou associações. Atividades intelectuais - verifica a relação entre o desem- penho de atividades que exijam atenção, memória e con- centração e a ocorrência dos sintomas (tonturas, vertigens, zumbidos etc.). Exemplos de indicadores: participa de cur- sos e palestras; faz palavras cruzadas; realiza jogos que exi- jam uso de memória e concentração. Relação com o trabalho - permite verificar o significado do trabalho e da aposentadoria na vida do vestibulopata, inclusive o seu sentido de pertencimento social. Exemplos de indicadores: continua a trabalhar depois da aposentado- ria; desempenha algum trabalho não remunerado; sente-se mais feliz depois da aposentadoria. Auto-estima e relacionamentos interpessoais - identifica como o paciente vestibulopata se vê e se relaciona com as demais pessoas. Exemplos de indicadores: costuma cuidar de sua aparência; considera-se feliz; considera satisfatória sua vida afetiva; tem amigos com quem se encontra. Avaliação e expectativas de vida - indica se o vestibulopa- ta se sente satisfeito em relação à sua vida e se faz planos para o futuro. Exemplo de indicadores: faz planos para se dedicar mais ao lazer; realizar viagens; realizar um novo casamento; construir ou reformar algum imóvel. Normas para publicação A revista Saúde Coletiva tem por objetivo ser um veículo de divulgação de assuntos de Saúde Coletiva e áreas afins, buscando expansão do conhecimento. Assim, recebe artigos de pes- quisa, dialogados (debates), de atualização, de relatos de experiência, de revisão, de reflexão, de estudos de caso e ensaios em Saúde Coletiva. Abaixo as normas para publicação: 01 Deve vir acom pa nha do de soli ci ta ção e autorização para publi ca ção assinadas por todos os autores. 02 Não ter sido publi ca do em nenhu ma outra publi ca ção ou revis ta nacio nal. 03 Ter, no máximo, 26.000 toques por artigo incluindo resumo (português, inglês e es- panhol) com até 700 toques, ilustrações, diagramas, gráficos, esquemas, referências bib- liográficas e anexos, com espaço entrelinhas de 1,5, margem superior de 3 cm, margem inferior de 2 cm, margens laterais de 2 cm e letra tamanho 12. Os originais deverão ser encaminhados em CD-ROM, no programa Word for Windows e uma via impressa. 04 Caberá à reda ção jul gar o exces so de ilus tra ções, supri min do as redun dan tes. A ela cabe rá tam bém a adap ta ção dos títu los e sub tí tu los dos tra ba lhos, bem como o copi des que do texto, com a fina li da de de uni for mi zar a pro du ção edi to rial. 05 As refe rên cias deve rão estar de acor do com os requi si tos uni for mes para manus cri tos apre sen ta dos à revis tas médi cas ela bo ra do pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (Estilo Vancouver Sistema Numérico de Entrada). 06 Evitar siglas e abre via tu ras. Caso neces sá rio, deve rão ser pre ce di das, na pri mei- ra vez, do nome por exten so. Solicitamos des ta car fra ses ou descritores. 07 Conter, no fim, o endereço completo do(s) autor(es) e telefone(s), e-mail e, no rodapé, a função que exerce(m), a instituição a que pertence(m), títulos e formação profissional. 08 Não será per mi ti da a inclu são no texto de nomes comer ciais de quais quer pro du tos. Quando neces sá rio, citar ape nas a deno mi na ção quí mi ca ou a desig na ção cien tí fi ca. 09 O Conselho Científico pode efe tuar even tuais cor re ções que jul gar neces sá rias, sem, no entan to, alte rar o con teú do do arti go. 10 O ori gi nal do arti go não acei to para publi ca ção será devol vi do ao autor indi ca do, acom pa nha do de jus ti fi ca ti va do Conselho Científico. 11 O con teú do dos arti gos é de exclu si va res pon sa bi li da de do(s) autor(es). Os tra- ba lhos publi ca dos terão seus direi tos auto rais res guar da dos por Editorial Bolina Bra- sil e só pode rão ser repro du zi dos com auto ri za ção desta. 12 Os tra ba lhos deve rão pre ser var a con fi den cia li da de, res pei tar os prin cí pios éti cos e tra zer a acei ta ção do Comitê de Ética em Pesquisa (Resolução CNS – 196/96) quando for pesquisa. 13 Os tra ba lhos, bem como qual quer cor res pon dên cia, deve rão ser envia dos para a revista: Saúde Coletiva – A/C CON SE LHO CIENTÍFICO, Al. Pucuruí, 51/59 - Bl.B - 1º andar - Cj.1030 - Tamboré - Barueri - SP - CEP: 06460-100 - E-mail: editorial@ saudecoletiva.com.br. saúdecoletiva idoso_vestibulopatia_1.indd 51 14/03/11 16:48