UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO Amanda de Assis Araujo Isaque da Costa e Silva Neto ABAYOMI Documentário sobre o primeiro grupo de Maracatu de Bauru Bauru – SP 2018 AMANDA DE ASSIS ARAUJO ISAQUE DA COSTA E SILVA NETO ABAYOMI Documentário sobre o primeiro grupo de Maracatu de Bauru Trabalho de Conclusão de Curso apresentado em cumprimento parcial às exigências do curso de Jornalismo da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, do Departamento de Comunicação Social da UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” –, para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo. Orientador do Projeto Experimental: Profº. Drº. Francisco Machado Filho Bauru – SP 2018 AMANDA DE ASSIS ARAUJO ISAQUE DA COSTA E SILVA NETO ABAYOMI Documentário sobre o primeiro grupo de Maracatu de Bauru Trabalho de Conclusão de Curso apresentado em cumprimento parcial às exigências do curso de Jornalismo da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, do Departamento de Comunicação Social da UNESP – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” –, para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo. Orientador do Projeto Experimental: Profº. Drº. Francisco Machado Filho Bauru, _____ de __________________________ de 2018 BANCA EXAMINADORA ________________________________________________________ Profº. Drº. Francisco Machado Filho (orientador) __________________________________________________________ Prof. Juliano Ferreira de Sousa __________________________________________________________ Prof. Roberta Cava “Porque hoje, se a gente tirar o sagrado de dentro do Maracatu, ele vira qualquer coisa.” Mestre Chacon Viana AGRADECIMENTOS Agradecemos ao professor Francisco Machado Filho por todo apoio e incentivo de levar o projeto piloto adiante. Somos gratos pelas sugestões, críticas quando necessário e sua prontidão em sempre nos ajudar. Agradecemos à UNESP pela oportunidade de concluir mais uma etapa em nossas vidas por meio dos ensinamentos de professores que nos inspiraram e contribuíram com a nossa formação. Agradecemos à Maria Carolina Dias por ter feito o projeto piloto deste documentário conosco e nos permitido continuar a desenvolver a ideia inicial e ao Danilo Comenda de Britto pela ajuda durante a maioria das gravações. Agradecemos ao grupo Abayomi por ter nos acolhido desde o primeiro contato e nos incentivado muito na produção do documentário. Sem os integrantes não seria possível tirar nossa ideia do papel. Agradecemos aos nossos familiares que sempre estiveram ao nosso lado e fizeram o possível para que pudéssemos concluir o curso. Além disso, nos ajudaram nos momentos difíceis e nos incentivaram a persistir. Agradecemos por todo o carinho e preocupação mesmo à distância. Sem o apoio deles nada disso teria sido possível. “O sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se chegar a um objetivo. Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no mínimo fará coisas admiráveis.” José de Alencar RESUMO Este projeto teve como objetivo contar a origem e a história do primeiro grupo de Maracatu da cidade de Bauru-SP, o Abayomi, por meio da produção audiovisual de um documentário. O Abayomi pretende dar visibilidade a esse tipo de manifestação cultural proveniente das religiões afro-brasileiras e, consequentemente, expandir o conhecimento da população bauruense a respeito do grupo. Além disso, o documentário pretende ajudar a desmistificar alguns preconceitos que as pessoas possam vir a ter em relação ao ritmo Maracatu, principalmente por estar ligado às religiões de cultura africana. O formato predominante foi o participativo, com técnicas e estratégias do observativo. Para isso, este projeto dialoga com teóricos do gênero documentário, como Bill Nichols, com a finalidade de desenvolver o processo criativo do média-metragem. Palavras-chave: Abayomi; Maracatu; documentário; manifestação cultural O Documentário Abayomi produzido como Trabalho de Conclusão de Curso pode ser acessado no seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=WiDE U22LIfw&feature=youtu.be SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11 1.1 Justificativa do Tema ...................................................................................................... 13 1.2 Objetivos ......................................................................................................................... 13 1.2.1 Objetivo Geral .......................................................................................................... 13 1.2.2 Objetivos Específicos ............................................................................................... 14 1.3 Estrutura do Relatório ..................................................................................................... 14 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................................... 14 2.1 Gênero e Formato .......................................................................................................... 14 2.2 Maracatu Nação Porto Rico ........................................................................................... 16 2.3 Técnicas Jornalísticas Empregadas ................................................................................ 18 3 METODOLOGIA DE EXECUÇÃO ................................................................................. 22 3.1 Atividades Desenvolvidas .............................................................................................. 22 3.1.1 Diário de Campo ...................................................................................................... 22 3.2 Pré-Produção .................................................................................................................. 24 3.2.1 Cronograma de Entrevistas ...................................................................................... 24 3.2.2 Cronograma de Captação de Imagens ...................................................................... 25 3.3 Produção Individual ........................................................................................................ 25 3.4 Descrição das Técnicas Empregadas ............................................................................. 26 3.4.1 Imagem e Som.......................................................................................................... 26 3.4.2 Edição ....................................................................................................................... 27 3.5 Descrição do Produto Final ............................................................................................. 27 4 PLANEJAMENTO DO PRODUTO JORNALÍSTICO .................................................. 29 4.1 Público-alvo .................................................................................................................... 29 4.2 Custos do Projeto ........................................................................................................... 29 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 29 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 31 7 APÊNDICES ........................................................................................................................ 33 LISTA DE TABELAS E FIGURAS Tabela 1. Cronograma de Entrevistas.......................................................................................24 Tabela 2. Cronograma de Captação de Imagens.......................................................................25 Figura 1. Imagem do Instrumento Abê.....................................................................................28 Figura 2. Logomarca de Abayomi.............................................................................................28 Tabela 3. Custos do Projeto......................................................................................................29 11 1 INTRODUÇÃO O Maracatu, de acordo com o Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) do Maracatu Nação, é uma dança folclórica de origem afro-brasileira, típica do estado de Pernambuco. Surgiu em meados do século XVIII, durante o período escravocrata, por meio da miscigenação musical das culturas portuguesa, indígena e africana. Com a abolição da escravatura no Brasil, no fim do século XVIII, o Maracatu passou gradualmente a ser caracterizado como um fenômeno típico dos carnavais recifenses, como ocorreu com o frevo e outras práticas populares brasileiras. Os maracatus dançam ao som dos seguintes instrumentos musicais: alfaia, gonguê, atabaque, abê, tarol, zabumba e ganzas. As danças são marcadas por coreografias específicas, parecidas com danças do candomblé. Ocorre, de acordo com Negreiros (2017), um intercâmbio entre cultura e religiosidade, fé e sagrado. “As batidas fortes, os tambores ecoando e indo para fora, atravessam as fronteiras do sagrado ritualístico para um profano” (NEGREIROS, p. 167, 2017). Segundo o dossiê do Maracatu Nação, o fundamento religioso do Maracatu manifesta-se nas formas de interpretação da cantoria, nos temas cantados e também no uso de determinados instrumentos de função ritual de cunho religioso no batuque. “A música, o batuque, e a dança são influências presentes no cotidiano, oriunda dos terreiros, visto que, em todo ritual e liturgia, a música se faz presente” (NEGREIROS, p. 169, 2017). Essa atividade popular começou a chegar ao estado de São Paulo, segundo Mestre Jaílson Shacon Viana, a partir da década de 90, por intermédio da explosão do Manguebeat, criado pelo músico pernambucano Chico Science. O Manguebeat mistura ritmos regionais como o Maracatu com rock, hip hop, funk rock e música eletrônica. Com a popularização do movimento, esse ritmo afro-brasileiro conquistou também o interior do estado, chegando até o município de Bauru. De acordo com o INRC do Maracatu Nação, existem dois tipos de maracatus, o Maracatu Rural, também conhecido como Maracatu de Baque Solto e o Maracatu Nação, também conhecido como Maracatu de Baque Virado. O designativo nação é histórico e foi atribuído ao Maracatu Baque Virado, visto que se refere à forma como as nações de escravos se organizavam ou eram organizadas pelas autoridades coloniais. Essas nações abrigavam indivíduos de diferentes grupos étnicos que eram agrupados a partir da lógica do tráfico negreiro. Atualmente, esse sentido de nação se expressa por meio de diversos aspectos, em 12 grande parte relacionados ao compartilhamento de práticas de fazer e de saber, como, por exemplo, como construir e afinar instrumentos musicais. Enquanto forma de expressão, o maracatu nação ou de baque virado se destaca em seu elemento sonoro dominantemente marcado pelo cântico coletivizado e acompanhado por uma formação instrumental de tambores artesanalmente talhados. Os tambores emitem fortes timbres acústicos contrastados com o som agudo e penetrante das caixas e taróis, tendo como mediador e guia de sua rítmica um único gonguê, que, solitário entre vários tambores e caixas, vê-se preenchido em seus tempos de silêncio pelo chacoalhar de grandes ganzás, também chamados de mineiros (Dossiê do Maracatu Nação: Inventário Nacional de Referências Culturais – INRC do Maracatu Nação, p. 54). De acordo com a co-fundadora do grupo, Michele Távora Julio, o Abayomi é o primeiro grupo de Maracatu de Baque Virado em Bauru, interior paulista. Ele foi fundado em agosto de 2014 em uma oficina de construção de alfaias. Após a oficina, interessados e pesquisadores desta manifestação cultural passaram a se encontrar para ensaios. Ainda sem contato algum com as Nações de Maracatu de Recife, recebeu o apelido de Maracatu Bebê, devido ao processo do nascer e engatinhar em que se encontrava naquele momento. Inicialmente a sede do grupo era a Casa da Capoeira. Entretanto, com a necessidade de um maior aprofundamento, desligaram-se da Casa à procura de ensinamentos que venham direto da fonte. Assim, eles receberam a benção do Mestre Chacon Viana, mestre da Nação Porto Rico, de Recife, para começar a estudar e a tocar a Nação Porto Rico em Bauru. Assim sendo, na atualidade, pode-se fundar um grupo com relativa facilidade, mas adentrar a comunidade dos maracatus nação exige o reconhecimento dos outros, que é obtido na medida em que se reconhece que suas práticas são comuns (formas de tocar, instrumentos utilizados, formas de desfilar e dançar, formas de confeccionar fantasias etc.), bem como há pertencimento religioso (Dossiê do Maracatu Nação: Inventário Nacional de Referências Culturais – INRC do Maracatu Nação, p. 23). Este documentário acompanhou o dia-a-dia do grupo Abayomi, os ensaios, as apresentações e os bastidores, as oficinas, a confecção e a preparação dos instrumentos, as dificuldades para encontrar lugar para ensaiar e etc. Tudo isso de uma forma explicativa, de modo que o espectador possa compreender todo o significado que envolve essa manifestação cultural. Além de tentar desmistificar os preconceitos que as pessoas possam ter em relação ao Maracatu, principalmente por falta de conhecimento e por ele estar diretamente ligado às religiões de cunho africano, as quais são pouco conhecidas pela população em geral, majoritariamente católica. “Agregava-se ao preconceito em relação aos maracatus, praticados por negros e negras, uma visão também bastante preconceituosa em relação às religiões por eles praticadas (Dossiê do Maracatu Nação: Inventário Nacional de Referências Culturais – INRC do Maracatu Nação, p. 43). De acordo com Negreiros (2017), desde o final do século 13 XIX até meados do XX, os maracatuzeiros foram alvos de perseguição policial e sofreram muito preconceito, já que representavam e ainda representam uma reconstrução e resistência da cultura negra. 1.1 Justificativa do Tema O tema Maracatu foi escolhido devido à relevância de abordar um movimento que não costuma ter espaço na mídia tradicional brasileira. O documentário tem como objetivo retratar a importância dessa dança, típica do estado de Pernambuco, que se espalhou por todo o Brasil. “O Maracatu é um mundo rico de significâncias, significados e significações” (NEGREIROS, p. 175, 2017). Além disso, essa forma de expressão dá voz aos grupos marginalizados pela sociedade já que surgiu e se desenvolveu ligado às irmandades negras, além de possuir um forte componente religioso. Dessa forma, o Maracatu pode ser considerado um movimento de resistência, tanto cultural, quanto religiosa. É válido discutir a importância de um movimento como o Maracatu na universidade pública visto que se trata de um ambiente de debate e discussão de questões culturais e sociais. Sendo assim, já que a atividade não é representada em outros espaços da sociedade, é dever da universidade pública abordar temas como esse. Já a motivação do grupo para produzir um documentário sobre o Maracatu foi a curiosidade a respeito dessa expressão cultural, que está presente na comunidade bauruense. O Abayomi tem como uma de suas principais finalidades servir como um documento histórico cultural para a cidade de Bauru, a fim de preservar a história e divulgar o grupo. Em relação ao formato, o trabalho escolhido foi um documentário, visto que consideramos a melhor maneira de aglutinar todos os materiais que tínhamos. Além disso, pelo Maracatu ser uma cultura bastante visual e cheia de cores, músicas e danças, chegamos à conclusão de que a linguagem audiovisual seria a melhor forma de mostrar todas essas questões ao público, a fim de realmente entender a história do Maracatu Abayomi. 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo Geral Aprofundar os conhecimentos jornalísticos sobre audiovisual adquiridos ao longo do curso por meio da produção de um documentário. 14 1.2.2 Objetivos Específicos  Contribuir para a difusão da cultura da cidade de Bauru;  Retratar o valor histórico e cultural do grupo Abayomi;  Contextualizar o que é o Maracatu e os seus desdobramentos;  Mostrar os significados que existem por trás de todos os detalhes que envolvem o Maracatu;  Aprimorar técnicas de entrevistas, gravação e edição jornalística;  Experimentar a linguagem audiovisual em um produto jornalístico;  Aprofundar o estudo em jornalismo;  Deixar para a cidade de Bauru um produto que é espelho de sua própria cultura. 1.3 Estrutura do Relatório Este relatório conta com todo o embasamento operacional que foi utilizado no projeto. É iniciado com a fundamentação teórica dos formatos, métodos e termos usados com mais frequência. Como é o caso de documentário, jornalismo audiovisual e a história do Maracatu no Brasil presentes no Capítulo 2. Já no Capítulo 3, é apresentada a metodologia de execução do projeto, ou seja, de que forma as atividades foram desenvolvidas e o documentário foi construído. Desde a parte da pré-produção até a pós, como, por exemplo, a edição. Logo depois, no Capítulo 4, é abordada a parte do desenvolvimento do produto, desde a definição do público-alvo até os custos do projeto. E, enfim, no Capítulo 5 apontamos todas as contribuições e dificuldades que encontramos durante a produção do Abayomi. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Gênero e Formato Para definir o gênero e o formato do projeto foi preciso, primordialmente, refletir a melhor maneira de retratar a essência do grupo Abayomi. Tendo em vista que o Maracatu é repleto de cores, vestimentas, danças, músicas, e que tudo isso produz um significado, o formato escolhido foi o documentário, para que fosse viável retratar todas essas considerações e, consequentemente, conseguir mostrar o que realmente é o grupo. “O documentário passa a 15 ser considerado como a produção audiovisual que registra fatos, personagens, situações que tenham como suporte o mundo real (ou o mundo histórico) e como protagonistas os próprios sujeitos da ação” (LUCENA, 2012, p. 11). Para Nichols (2010), o termo documentário não tem uma definição completa: A definição de ‘documentário’ é sempre relativa ou comparativa. Assim como amor adquire significado em comparação com indiferença ou ódio, e cultura adquire significado quando contrastada com barbárie ou caos, o documentário define-se pelo contraste com filme de ficção ou filme experimental e de vanguarda (NICHOLS, 2010, p. 46). O documentário é a representação de uma determinada visão de mundo em que vivemos, do mundo histórico, e não uma simples reprodução da realidade. Ele é marcado por escolhas e recortes do(s) documentarista(s), desde o momento da pré-produção até a edição, o que dá um recorte único à realidade. “Para cada documentário, há pelo menos três histórias que se entrelaçam: a do cineasta, a do filme e a do público” (NICHOLS, 2010, p. 92). O importante a ressaltar é que o documentário, diferentemente da ficção, se baseia em informações colhidas no mundo histórico e real para construir sua narrativa. “Em poucas palavras, documentário é uma narrativa com imagens-câmera que estabelece asserções sobre o mundo, na medida em que haja um espectador que receba essa narrativa como asserção sobre o mundo” (RAMOS, 2008, p. 22). Esse gênero reúne provas e utilizam-nas para construir sua própria perspectiva ou argumento sobre o mundo, por meio de sons e imagens, de acordo com Nichols (2010). A principal forma de registro e retratação de informações, como a história e a apresentação dos participantes do movimento, no documentário Abayomi, foi a participação nos ensaios e nas apresentações do grupo, além da realização de entrevistas. Dessa forma, acreditamos que o modo que melhor se encaixou no processo foi o participativo, repleto de entrevistas, com pontuais interferências do observativo, nos ensaios e nas apresentações, segundo as definições de Bill Nichols (2010). O modo participativo, de acordo com Nichols (2010), enfatiza a interação do cineasta e tema. Além disso, os cineastas usam as entrevistas para juntar relatos diferentes em uma única história. No caso da produção Abayomi, a filmagem ocorre, em grande parte, por meio de entrevistas. “Esse modo demonstra como os dois se entrelaçam para produzir representações do mundo histórico provenientes de perspectivas específicas” (NICHOLS, p. 161, 2010). 16 Já no modo observativo, funcionando, nesse caso, como uma complementação do participativo, os atores sociais interagem uns com os outros ignorando os cineastas. Ou seja, salienta a não intervenção do documentarista, o que ocorreu nos ensaios e nas apresentações do grupo Abayomi. “Tais trabalhos são caracterizados por endereços indiretos, sobrecarga de falas ao invés de ouvir, já que os atores sociais se envolvem uns com os outros em vez de falar com a câmera” (NICHOLS, p. 39, 1991). Nossa produção utilizou movimentos de câmera e trilhas sonoras do próprio grupo de Maracatu, a fim de reforçar as informações fornecidas pelos entrevistados. Ademais, a narrativa seguiu o padrão de entrevistados contando as histórias do grupo e sua vivência nele, ou seja, personificando a história a partir de alguns personagens. De acordo com a definição da Agência Nacional do Cinema (ANCINE), o documentário Abayomi é considerado um média-metragem, com cerca de 20 a 25 minutos. A produção foi divulgada por meio da Internet, na plataforma Youtube, e tem como público- alvo os moradores da cidade de Bauru e região. As gravações foram feitas com equipamentos próprios como câmera, microfones (lapela e videomic) e tripé. No momento das entrevistas, utilizamos o tripé para apoiar a câmera e, com isso, ter o enquadramento desejado, que em geral foi o plano médio. Além disso, o microfone utilizado foi o lapela. Já nos ensaios e nas apresentações, por conta do movimento das danças, as gravações foram realizadas com câmera na mão e o microfone utilizado foi o videomic. 2.2 Maracatu Nação Porto Rico O livro Maracatus do Recife, do autor César Guerra Peixe, publicado em 1955, é um dos poucos e mais completos registros sobre a origem e a história do Maracatu. Segundo o autor, foi o Padre Lino do Monte Carmelo Luna que apontou o Maracatu pela primeira vez em 1867; sendo esta a fonte informativa mais antiga. Guerra Peixe relata que os autores da época definiam o Maracatu como um cortejo real, no qual as práticas lembravam as festas de coroação de reis negros, eleitos e nomeados na instituição do Rei do Congo. Para celebrar as coroações, negros e negras encenavam peças teatrais em que interpretavam os personagens da corte, com música e danças próprias. Eram os autos de 17 “Congos”, que, mesmo após o desaparecimento da instituição, em meados do século XIX, restaram no Recife (PEREIRA DA COSTA, 2004). Acerca disso, Guerra Peixe relata que: Se a “instituição Rei do Congo” importava em relações hierárquico-administrativas, o auto dos “Congos” seria uma complementar parte festiva, com teatro, música e dança. Subsistindo à instituição, o auto apresentou-se por mais algum tempo, embora prosseguisse declinado. Depois, eliminada a teatralização, restou o cortejo que derivou para o Maracatu. E este folguedo, somente com música e dança (GUERRA PEIXE, p.17, 1955). O autor, ainda neste livro, diferencia, principalmente, dois tipos de maracatus: O Maracatu Nação, também conhecido como baque virado, e o Maracatu Orquestra, popularmente chamado de baque solto. Neste trabalho focamos somente no Maracatu nação, ou seja, o de baque virado, por conta do grupo de Maracatu da cidade de Bauru, o Abayomi, pertencer a uma nação, a Nação Porto Rico. Segundo Rafael Sanzio Araújo Anjos e Cleison Leite Ferreira, muitas das festas e procissões destinadas a Nossa Senhora do Rosário eram realizadas por homens e mulheres negros, divididos em “nações”, no qual cada nação tinha seu rei e sua rainha, e percorriam pelas ruas da cidade. Cada nação tinha seu rei e sua rainha que eram cobertos por um grande guarda sol colorido. Formavam uma corte real que acomodava um grande número de pessoas que ou estavam como membros assumindo alguma posição de destaque, ou acompanhavam o ato cantando, dançando ou tocando instrumentos musicais (ARAÚJO e FERREIRA, p. 56, 2012). De acordo com o Dossiê Maracatu Nação, o Maracatu passou por transformações e mudanças ao longo do século XX. Atualmente ele é visto como uma manifestação artística da cultura popular e carnavalesca da cultura de Recife, em que um cortejo real desfila pelas ruas, acompanhado de um conjunto musical percussivo. É válido ressaltar que, ainda segundo o dossiê, o Abayomi é um grupo de Maracatu que pertence a Nação Porto Rico. Um grupo de Maracatu trabalha exclusivamente com a cultura do baque virado. Na maioria das vezes, pode, também, não apresentar a estrutura da corte, substituindo-a por um corpo de dançarinos, como é o caso do Abayomi. A Nação Porto Rico a qual o grupo Abayomi faz parte, segundo César Guerra Peixe, tem seu registro mais antigo em 1916. Ao analisar livros antigos sobre o Maracatu Porto Rico, Guerra Peixe encontrou um documento que dizia: “Club Mixto Maracatu Porto Rico/Fundado 18 em 7 de 9 de 1916”. E, baseado no mesmo documento, a diretoria era composta pelos nomes dos soberanos João Francisco da Silva e Maria dos Prazeres. 2.3 Técnicas Jornalísticas Empregadas A produção do documentário sobre o grupo de Maracatu da cidade de Bauru começou com uma profunda pesquisa a respeito tanto do Maracatu em geral quanto da própria história do primeiro grupo de Bauru, visto que esse movimento é caracterizado por envolver muitas vertentes culturais, como a religião, a música e a dança. Sendo assim, antes de começarmos as entrevistas, responsáveis por dar voz ao documentário, passamos por um processo de familiarização, a priori, com o objeto que foi investigado, ou seja, o grupo de Maracatu Abayomi. Ter uma maior proximidade com o universo do objeto de estudo foi fundamental para que pudéssemos realizar da melhor maneira as entrevistas. Para isso, fizemos uma pesquisa exploratória com levantamento bibliográfico, pesquisas de campo e analisamos outros exemplos que estimularam nossa compreensão sobre o tema. Como o universo do Maracatu é amplo e complexo, foi por meio desses procedimentos metodológicos que entendemos um pouco mais acerca do assunto. O documentarista deverá ler tudo aquilo que for possível, dentro dos limites do tempo disponível para a produção, referente ao assunto escolhido; fazer um exaustivo levantamento de material de arquivo, entre fotos, filmes e arquivos sonoros, buscando garantir permissão para uso no filme; fazer pré-entrevistas com todas as pessoas que possam estar envolvidas com o tema; além de visitar os locais de filmagem para se familiarizar com o espaço físico e com as pessoas que os habitam (PUCCINI, p. 32, 2009). No caso deste documentário, utilizamos documentos, dossiês, livros, arquivos pessoais do grupo, sites e artigos pertinentes a fim de dar suporte à investigação. “Pesquisa bibliográfica, num sentido amplo, é o planejamento global inicial de qualquer trabalho de pesquisa que vai desde a identificação, localização e obtenção da bibliografia pertinente sobre o assunto” (STUMPF, p. 51, 2017). Ademais, foi com um estudo de caso que compreendemos todo o contexto e os significados em questão do grupo Maracatu Abayomi. “Um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos” (YIN, p. 32, 2001). 19 Para Yin (2001), o poder diferenciador do estudo de caso é sua capacidade de lidar com uma grande variedade de evidências – documentos, entrevistas, observação direta - e manter o encadeamento dessas evidências. É válido ressaltar que, de acordo com ele, a entrevista é uma das mais importantes fontes de informação para um estudo de caso. E foi esse um dos motivos pelos quais elas deram inúmeros elementos para construir o Abayomi. No geral, as entrevistas constituem uma fonte essencial de evidências para os estudos de caso, já que a maioria delas trata de questões humanas. Essas questões deveriam ser registradas e interpretadas através dos olhos de entrevistadores específicos, e respondentes bem-informados podem dar interpretações importantes para uma determinada situação. Também podem apresentar atalhos para se chegar à história anterior da situação, ajudando-o a identificar outras fontes relevantes de evidência (YIN, p. 114, 2001). A entrevista utilizada, segundo os conceitos definidos por Jorge Duarte (2017), foi a entrevista em profundidade, a qual é uma técnica de pesquisa qualitativa. Nosso objetivo foi, a partir dela, extrair do entrevistado o maior número de informações a respeito do surgimento do grupo Abayomi, experiências de vida, relação com o Maracatu e com as pessoas que fazem parte dele. “A entrevista em profundidade é um recurso metodológico que busca, com base em teorias e pressupostos definidos pelo investigador, recolher respostas a partir da experiência subjetiva de uma fonte, selecionada por deter informações que se deseja conhecer” (DUARTE, p. 62, 2017). Esse tipo de entrevista faz com que o pesquisador busque mapear uma situação ou um campo de análise, além de descrever determinado contexto e ampliar conceitos sobre a situação analisada, segundo Duarte (2017). Grande parte das entrevistas que foram usadas no documentário é classificada como semiaberta, ou seja, parte de um roteiro base. “A lista de questões desse modelo tem origem no problema de pesquisa e busca tratar da amplitude do tema, apresentando cada pergunta da forma mais aberta possível” (DUARTE, p. 66, 2017). Em geral, o resultado da entrevista em profundidade é mais descritivo, analítico, reflexivo do que conclusivo. Com isso, em momento algum o documentário teve como pretensão realizar uma análise crítica sobre o grupo Maracatu Abayomi. Ele apenas evidenciou a história e a importância cultural do grupo para a cidade de Bauru. Em entrevistas em profundidade, a riqueza, a heterogeneidade das respostas é não apenas esperada, como também desejável. Cada respondente apresenta sua visão que pode ter colorido, interpretações, versões diferentes. É papel do pesquisador organizá-las coerentemente em formato compreensível e articulado (DUARTE, p. 81, 2017). 20 Pode-se dizer que, como o documentário foi produzido por meio de atores sociais, ou seja, sujeitos do mundo real – os integrantes do grupo Maracatu Abayomi -, “obriga-nos de certa maneira a elaborar um discurso sobre determinado objeto, alguma pessoa, uma comunidade, o mundo” (LUCENA, 2012, p. 8). Sendo assim, conforme dito anteriormente, realizar o Abayomi consistiu em registrar as experiências vividas durante o estudo de campo priorizando os personagens e as situações do mundo real, mantendo como protagonistas da narrativa os próprios sujeitos da ação. As entrevistas para o documentário foram definidas, de acordo com Jorge Duarte (2017), de forma intencional. Ou seja, a seleção se deu por meio de um juízo particular, como conhecimento do tema ou representatividade subjetiva. Foi por este motivo que optamos por entrevistar, na maioria das vezes, pessoas que tinham mais ligação com o grupo e que estavam nele há mais tempo, como, por exemplo, os fundadores e o regente. A realização das entrevistas nos permitiu contar a história do Abayomi, sua importância para a cidade de Bauru, suas dificuldades e a sua evolução com o passar do tempo. E, diferentemente de um filme de ficção, que tem a tendência de centrar a história na figura de um protagonista, é bastante comum em filmes documentários a condução do assunto não por um personagem, mas por um grupo de personagens (PUCCINI, 2009). Sendo assim, segue a lista de entrevistados: - MESTRE CHACON VIANA: escolhido por ser um especialista do tema e não estar diretamente envolvido com o problema de pesquisa. Ele é mestre da Nação Porto Rico de Maracatu, em Recife, mas tem grande relevância para o grupo Abayomi. Foi ele quem deu a benção para que o grupo começasse a tocar Porto Rico e sempre que possível visita e acompanha o grupo em Bauru. - MICHELE TÁVORA: é uma das co-fundadoras do grupo e foi selecionada por ser considerada uma informante-chave, ou seja, está profunda e diretamente envolvida com o grupo Abayomi. Foi ela que entrou em contato com o mestre e pediu a benção para começar a tocar Maracatu Porto Rico na cidade de Bauru. - PEDRO HAASE: escolhido por ser quem rege, ou seja, apita o grupo Abayomi. Foi selecionado por ser, também, um informante-chave. 21 - IRIANE LEME: considerada uma informante-padrão, foi ela quem nos deu as primeiras informações em relação ao grupo e nos passou os contatos dos responsáveis. É uma informante-padrão por ser uma fonte envolvida com o tema, já que é uma integrante do grupo Abayomi, mas poderia ser substituída sem prejuízo na qualidade da informação. - INTEGRANTES DO GRUPO: também considerados informantes-padrão, eles são importantes para entender a relação deles com o grupo e com o Maracatu de forma geral, o significado dos instrumentos que eles tocam e das cores do Abayomi. - PÚBLICO: outro tipo de informante-padrão utilizado para entender a relação do grupo com a sociedade bauruense. Para que essas entrevistas fossem possíveis, estivemos presentes no máximo de ensaios e apresentações possíveis. Além disso, contamos com a parte da produção para agendarmos algumas delas para outros dias. No que diz respeito à roteirização do nosso documentário, levando em consideração que o percurso da produção do documentário, segundo Puccini (2009), é marcado pela perspectiva que está por vir, a captura de um real que gradualmente vai sendo moldado até se transformar em um filme e que, por isso, não sabíamos o que iria acontecer nos ensaios, nas oficinas e nas apresentações, optamos por produzir apenas um pré-roteiro e deixa-lo bastante suscetível a mudanças. Em muitos casos, o trabalho de roteirização, feito ainda na pré-produção do filme, vai se contentar em estabelecer uma estrutura básica que servirá como mapa de orientação para o documentarista durante as filmagens, com maleabilidade suficiente para que possa ser alterado no decorrer da produção, em razão de possíveis imprevistos (PUCCINI, p. 24, 2009). O Abayomi nasceu durante a sua montagem. O documentário é também resultado de um processo criativo do cineasta, marcado por varias etapas de seleção, comandadas por escolhas subjetivas desse realizador. Essas escolhas orientam uma série de recortes, entre a concepção e a edição final do filme, que marcam a apropriação do real por uma consciência subjetiva (PUCCINI, p. 15, 2009). Com isso, de acordo com a diferenciação das abordagens clássicas do documentário e do chamado “documentário direto” feitas por Puccini (2009), em que no primeiro o roteiro é seguido de forma mais cuidadosa e no outro não há a elaboração de roteiro prévio, podemos considerar o nosso método entre esses dois modos de produção. Isso devido ao fato de que elaboramos pesquisas prévias e analisamos os aspectos que não podiam ficar de fora e os colocamos em um pré-roteiro, mas, ao mesmo tempo, deixamos todas as outras possibilidades 22 em aberto. O documentário, “trata-se de um gênero em que o imprevisto pode desempenhar papel tão importante quanto aquilo que é cuidadosamente planejado” (PUCCINI, p. 17, 2009). 3 METODOLOGIA DE EXECUÇÃO 3.1 Atividades Desenvolvidas 3.1.1 Diário de Campo – do zero ao documentário A primeira vez que nos deparamos com o tema Maracatu foi durante a aula de Roteiros de Comunicação Audiovisual, quando o professor pediu, como uma das atividades avaliativas, que produzíssemos um pré-roteiro de um documentário. Sendo assim, em primeiro lugar era necessário que definíssemos um tema e foi nesse momento que o Maracatu veio em nossa cabeça. No entanto, ainda não sabíamos nada sobre o assunto e muito menos que existia um grupo na cidade de Bauru, chamado Abayomi. Como tudo ficaria apenas no mundo das ideias, ou seja, como não precisaríamos colocar em prática a ideia naquele momento, fazer mesmo um documentário, decidimos fazer sobre esse tema mesmo. Nesse momento amadurecemos a ideia com um grupo com cerca de 5 pessoas. Cada vez que pesquisávamos sobre o assunto, ficávamos mais interessados. Mesmo com todas as pesquisas não tínhamos noção de tudo o que estava por trás dessa manifestação cultural. Foi por este motivo que nosso pré-roteiro ficou bem amplo. Colocamos que pretendíamos fazer várias abordagens do Maracatu em apenas um documentário – o que vimos, mais tarde, que não seria possível. Decidimos que íamos falar sobre a história do Maracatu de Recife, explicar a relação com o Candomblé, falar do Baque Mulher (um grupo de Maracatu feito por e para mulheres) e, depois de tudo, citar o grupo da cidade de Bauru, o Abayomi, como um exemplo. Apesar de tudo fizemos um bom trabalho e entregamos o pré-roteiro para finalizar a disciplina. Não imaginávamos que não seria possível colocar em prática o documentário da maneira como havíamos imaginado. No entanto, logo no próximo semestre cursamos a disciplina de Telejornalismo II, na qual seria necessário produzir um documentário como trabalho final. Como o grupo havia se dividido entre duas turmas diferentes, ficou apenas nós e mais uma colega para realizar esse documentário juntos. Após um tempo pensando sobre um possível tema veio a ideia do Maracatu. Afinal, seria mais prático já que tínhamos o pré-roteiro pronto. Isso era o que imaginávamos. No 23 entanto, acabamos tendo bastante dificuldade, visto que percebemos que nossa ideia inicial era muito ampla e seria quase impossível contemplar tudo em apenas um produto. Por isso tivemos que especificar cada vez mais o tema até chegarmos ao último: contar a história do grupo Abayomi, o primeiro grupo de Maracatu da cidade de Bauru. Depois de amadurecer a ideia, tivemos nosso primeiro contato com o grupo, o qual ocorreu na Unesp, durante um bazar que estava acontecendo em prol do grupo Abayomi. A Iriane Leme foi a primeira integrante que conversamos – que posteriormente seria uma de nossas entrevistadas - e contamos sobre nossa ideia; ela adorou e logo avisou os demais e disse que precisávamos falar com o regente antes de tudo, o Pedro Haase. Como o grupo segue uma hierarquia, a qual só iríamos entender melhor mais tarde, essa conversa era realmente necessária. Sendo assim, ela passou o contato dele e, além disso, avisou que iriam fazer uma apresentação no próximo final de semana e nos convidou. É claro que aceitamos o convite. Contudo, apesar de tudo estar saindo conforme o desejado e de termos pesquisado muito sobre o assunto, havia um grande problema: ainda existia aquela sensação de que não sabíamos quase nada a respeito de todas as coisas que envolviam o Maracatu, seja a religião, o significado das cores, a diferença entre uma nação e um grupo, as diferenças entre os instrumentos e assim por diante. Éramos totalmente leigos no assunto. Por isso mergulhamos em pesquisas. Documentos, artigos, documentários, tudo o que falava e explicava um pouco sobre o Maracatu era válido, mas ainda não foi o suficiente. De qualquer forma, conseguimos montar as perguntas para as fontes que já tínhamos combinado a entrevista. Sendo assim, descobrimos que o melhor jeito de aprendermos mais sobre o Maracatu e, também sobre o grupo Abayomi, seria acompanhar eles durante um tempo. Então começamos a frequentar os ensaios, as apresentações e vivenciar um pouco da rotina deles. É válido ressaltar que desde o início nosso objetivo não foi levantar nenhuma problemática em cima do grupo, mas apenas contar a história e as dificuldades de estruturar um grupo de Maracatu fora de Recife. E com a ajuda de mais uma colega produzimos o primeiro piloto desse documentário para avaliação da disciplina de Telejornalismo II. Ficamos com muito orgulho da produção, mas ainda estávamos sedentos por mais informações e conhecer ainda mais essa manifestação cultural. 24 Por isso decidimos não abandonar nossa ideia e utilizá-la como Trabalho de Conclusão de Curso. E, dessa vez, ficamos só em dois para continuar acompanhando o grupo e aprimorar o documentário, consequentemente, descobrir coisas novas. Acompanhamos o grupo de Maracatu Abayomi por mais de um ano. 3.2 Pré-produção 3.2.1 Cronograma de Entrevistas Data Nome Função Local da Entrevista 10/12/2017 Jaílson Viana Chacon Mestre da Nação Porto Rico Sesc Bauru – Av. Aureliano Cardia, 6-71, Vila Cardia, Bauru, SP. 10/12/2017 Carla Patrícia Juraci de Melo Integrante do grupo Maracatu Abayomi Sesc Bauru – Av. Aureliano Cardia, 6-71, Vila Cardia, Bauru, SP. 10/12/2017 Giuliano Bueno Mastrelli Integrante do grupo Maracatu Abayomi Sesc Bauru – Av. Aureliano Cardia, 6-71, Vila Cardia, Bauru, SP. 10/12/2017 Iriane Leme Integrante do grupo Maracatu Abayomi Sesc Bauru – Av. Aureliano Cardia, 6-71, Vila Cardia, Bauru, SP. 10/12/2017 Marcela Fernandes Integrante do grupo Maracatu Abayomi Sesc Bauru – Av. Aureliano Cardia, 6-71, Vila Cardia, Bauru, SP. 10/12/2017 Palmira Souza dos Santos Filha Integrante do grupo Maracatu Abayomi Sesc Bauru – Av. Aureliano Cardia, 6-71, Vila Cardia, Bauru, SP. 10/12/2017 Lúcio Henrique do Nascimento Integrante do grupo Maracatu Abayomi Sesc Bauru – Av. Aureliano Cardia, 6-71, Vila Cardia, Bauru, SP. 10/12/2017 Daiane Gomes Tavares Pereira Público do grupo Abayomi Sesc Bauru – Av. Aureliano Cardia, 6-71, Vila Cardia, Bauru, SP. 10/12/2017 Juarez Tadeu de Paula Xavier Público do grupo Abayomi Sesc Bauru – Av. Aureliano Cardia, 6-71, Vila Cardia, Bauru, SP. 19/04/2018 Michele Távora Julio Co-fundadora do grupo Maracatu Abayomi Residência – Rua Antônio Pereira, 3-64, Bauru, SP. 23/06/2018 Pedro Henrique Haase Regente do grupo Maracatu Abayomi Residência – Rua Hipólito Porto Neto, Bauru, SP. 31/08/2018 Bárbara Mirela Silva Integrante do grupo Maracatu Abayomi Parque Vitória Régia – Bauru, SP. 23/09/2018 Lúcio Henrique do Nascimento Integrante do grupo Maracatu Abayomi Praça Val Rai – Bauru, SP. 25 Tabela 1. Cronograma de Entrevistas 3.2.2 Cronograma de Captação de Imagens Data Atividade Local 30/09/2017 Captação de imagens da apresentação do grupo Maracatu Abayomi em um Festival de música. Evento Sonora - Festival de música realizado no Espaço Gaia (rua Mário dos Reis Pereira, 3-139), Bauru-SP 08/10/2017 Captação de imagens de um ensaio do grupo. Viaduto Nações Unidas 10/12/2017 Captação de imagens de uma apresentação do grupo Maracatu Abayomi, em um evento destinado à história do Maracatu com a presença do Mestre Chacon Viana de Recife-PE. Sesc Bauru - – Av. Aureliano Cardia, 6-71, Vila Cardia, Bauru -SP 30/07/2018 Captação de imagens de uma apresentação do grupo em um evento para homenagear Xangô. Arraiá Xangô - Parque Vitória Régia, Bauru-SP 23/092018 Captação de imagens de uma oficina produzida pelo grupo Maracatu Abayomi para aproximar a população de Bauru com o Maracatu. Oficina - Praça Val Rai - Núcleo Hab. Pres. Geisel, Bauru-SP Tabela 2. Cronograma de Captação de Imagens 3.3 Produção Individual Optamos, desde o início, por tentar fazer o máximo de coisas juntos. Afinal, queríamos que o documentário ficasse do jeito que havíamos esperado. As produções mais individuais tiveram espaço nos momentos em que alguém não podia comparecer a uma entrevista, evento ou ensaio, por exemplo. O primeiro contato com o Grupo Abayomi foi feito em conjunto. Comparecemos ao Evento Sonora, onde o grupo iria se apresentar e conversamos com Pedro Henrique Haase, regente do Abayomi. Explicamos a ideia do documentário, nos apresentamos aos integrantes e com a autorização do Pedro demos início às filmagens. Amanda Araujo ficou responsável por entrar em contato com as fontes e agendar as entrevistas. Isaque da Costa ficou responsável por elaborar a pauta e o roteiro das perguntas. As gravações das entrevistas, assim como dos eventos e ensaios, foram feitas em equipe, 26 havia sempre o revezamento entre quem fazia as perguntas e quem manejava a câmera. Após o término das gravações, a Amanda ficou encarregada pela decupagem de todos os vídeos. Isaque também ficou com a função de fazer o roteiro da edição. A tarefa de editar o produto final foi feita em conjunto. Para a direção do documentário sempre havia um revezamento. Com exceção das entrevistas que já tinha um enquadramento pré-definido pela dupla, sempre quem estava com a câmera procurava dar o seu ponto de vista, ou seja, fazia o enquadramento que achava que mostraria melhor determinada situação, escolhia os ângulos e o que gravar. Depois as imagens foram escolhidas de forma que melhor se encaixaria no roteiro do documentário e, com isso, melhor retrataria a história que queríamos passar. 3.4 Descrição das Técnicas Empregadas 3.4.1 Imagem e Som A fim de definir os enquadramentos que seriam utilizados durante as gravações das entrevistas optamos por utilizar, na maioria das vezes, a razão áurea. Sendo assim, os entrevistados estão posicionados ou à direita ou à esquerda do vídeo – variamos os lados sempre que possível. Além disso, em algumas entrevistas também optamos por enquadrar os personagens no meio do vídeo por causa do local que foram realizadas, por exemplo. O plano que priorizamos foi o plano médio – durante as entrevistas – e o plano geral, no momento das apresentações, com algumas alterações levando em conta o espaço que tínhamos para gravar em cada momento. Em algumas apresentações pudemos contar com duas câmeras, o que facilitou a captação de imagens com ângulos e enquadramentos diferentes. No momento das apresentações optamos por filmar com a câmera na mão, por conta da dinamicidade das cenas. Além disso, não tínhamos previsão do que iria acontecer e quando. Já durante todas as entrevistas utilizamos a câmera no tripé. No que diz respeito à iluminação, utilizamos majoritariamente a luz natural ou a luz do ambiente que, em geral, estava muito boa. Em relação à captação do som, foram usados dois tipos de microfones em dois diferentes momentos. Na entrevista utilizamos o microfone de lapela, a fim de captar apenas a voz do entrevistado, sem nenhuma interferência externa. Já 27 durante as apresentações e ensaios, ou seja, as imagens mais gerais, o microfone que usamos foi o videomic, o qual fica em cima da câmera e capta a maioria dos sons do ambiente. 3.4.2 Edição O nosso produto final foi editado com o programa Adobe Premiere. Escolhemos esse programa, apesar da complexidade, visto que já estávamos familiarizados com ele. Durante as aulas de Telejornalismo II, nas quais produzimos o piloto do documentário Abayomi, tivemos oficinas para melhor compreender o Adobe Premiere e, posteriormente, ter plenas condições de editar o produto. Além disso, acreditamos ser o programa mais completo para a edição de vídeos. Todas as imagens utilizadas no documentário são originais. Como conseguimos acompanhar o grupo por mais de um ano, foi possível capturar um número significativo de registros; seja de ensaios, apresentações ou oficinas. A trilha sonora do documentário é inteiramente composta pelas canções - também chamadas de loas - que o grupo Maracatu Abyomi toca, na maioria das vezes, destinadas à Nação Porto Ricas e a seus orixás. 3.5 Descrição do Produto Final O Abyomi, de acordo com a Agência Nacional do Cinema (ANCINE), é um documentário curta-metragem – cerca de 23 minutos no total. O produto foi publicado no Youtube e divulgado por meio de nossas redes sociais particulares. Ainda não temos um número exato de visualizações deste projeto, no entanto o piloto conta com quase 350 visualizações. Em relação à identidade visual escolhemos sobrepor o nome do documentário em uma foto do instrumento abê, o qual é tocado somente por mulheres e no decorrer do documentário foi colocado em evidência pelos entrevistados e, também, pelas imagens. Além disso, o abê que escolhemos fotografar possuía as cores do grupo Abayomi – vermelho, branco e rosa. Segue abaixo a imagem do instrumento e, posteriormente, a arte finalizada para compor a identidade visual: 28 Figura 1. Imagem do Instrumento Abê Figura 2. Logomarca de Abayomi Os créditos utilizados para identificar o local da filmagem, a data, o nome dos entrevistados e suas funções no grupo, foram pensados e produzidos de forma minimalista. Como o Maracatu é repleto de cores e, na maioria das filmagens, essas cores saltam à tela, preferimos utilizar uma faixa preta opaca ao fundo e a escrita na cor branca. 29 4 PLANEJAMENTO DO PRODUTO JORNALÍSTICO O Abayomi, além de ser pensado como um projeto para obtenção do título de Bacharel em Jornalismo, também foi feito com o objetivo de ampliar os conhecimentos sobre o audiovisual e não deixá-los apenas na teoria. Nossa intenção com a produção do documentário foi amadurecer e aprimorar fundamentos jornalísticos do formato audiovisual. Além disso, marcar o início de nossos trabalhos com conteúdos audiovisuais. 4.1 Público-alvo O documentário Abayomi é um produto destinado à população da cidade de Bauru, além de estudiosos e pessoas de outras localidades do Brasil que venham a ter interesse em conhecer a história do primeiro grupo de Maracatu da cidade de Bauru. 4.2 Custos do Produto Para a realização do documentário, todos os equipamentos utilizados eram próprios, assim como os recursos que foram necessários para comprar as coisas que ainda não possuíamos. A tabela a seguir especifica os custos de produção: Item Custo Equipamentos (microfone, câmera, tripé, cartão de memória) R$ 3.262,00 Transporte (combustível) R$ 200,00 Ingressos Eventos R$ 30,00 Custo Total R$ 3.492,00 Tabela 3. Custos de Implantação 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Documentar a história do primeiro grupo de Maracatu da cidade de Bauru, o Abayomi, foi uma experiência enriquecedora tanto cultural quanto tecnicamente. Mesmo sem ter conhecimento algum do assunto, decidimos nos arriscar e mergulhar de cabeça nesse universo vasto que é o Maracatu. À medida que fomos pesquisando e nos aprofundando no tema, notamos que seria inviável produzir um documentário que retratasse essa manifestação cultural de forma macroambiental. 30 Sendo assim, sentimos a necessidade de afunilar a pauta inicial, a qual pretendia retratar o Maracatu como um todo – sua origem, suas ramificações, explorar o Baque Mulher, entre outros - e usar o grupo Abayomi apenas como um exemplo. A partir de uma especificação da pauta inicial, decidimos produzir o documentário de forma microambiental, ou seja, usar o grupo Abayomi não como um exemplo, mas como o personagem principal. Assim que resolvemos ter o grupo como foco do documentário, procuramos mais informações sobre o Abayomi e não encontramos muitas coisas. Tudo que descobrimos foi por meio das entrevistas e conversas prévias com os integrantes e pessoas ligadas de alguma forma com o grupo. No entanto, por causa dessa falta de conhecimento ficamos com receio de como seria o primeiro contato e a receptividade do Abayomi. Não sabíamos o quão complexo era o território em que estávamos pisando, mas, para a nossa surpresa, fomos bem recebidos e, além disso, eles demonstraram bastante interesse no nosso projeto, o qual visava contar a história do grupo. Desde o início das gravações até o final delas tivemos uma boa relação com o Abayomi. O respeito sempre foi nossa prioridade, respeitar a religião, a hierarquia que existe dentro do grupo e os momentos de conversas íntimas e mais sérias. No decorrer do convívio com o Abayomi percebemos o preconceito que o maracatu, de forma geral, sofre constantemente. Este preconceito vai desde baixar polícia nos ensaios por conta do barulho, até mesmo a falta de respeito em relação à religião de origem africana, o Candomblé. Portanto, optamos por não problematizar questões estruturais do grupo, com o objetivo de não fomentar ainda mais esse preconceito; apenas decidimos apresentar quem é o grupo de maracatu da cidade de Bauru, o Abayomi, para as pessoas. Isso porque, assim como nós, muita gente não tem conhecimento da existência do grupo. Como jornalistas, produzir um documentário foi de suma importância para o nosso crescimento e desenvolvimento profissional, ainda mais por ter sido uma produção independente. Isso nos provou que é possível escolher um tema ignorado, na maioria das vezes, pela grande mídia e, por meio das mídias alternativas, fazer um produto jornalístico de qualidade e de fácil disseminação. Portanto, o Abayomi pode servir de exemplo e de motivação, tanto para nós quanto para outros jornalistas, retratarem temas que fogem daquilo que é pautado pela grande mídia. 31 Fazer jornalismo é mais do que passar uma informação, é ir pra rua, conversar com as pessoas, contar histórias e, além disso, também aprender com elas. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANCINE. Emissão do Certificado de Produto Brasileiro – CPB. Disponível em: . Acesso em: 05 de junho de 2018. DOSSIÊ DO MARACATU NAÇÃO: Inventário Nacional De Referências Culturais – INRC do Maracatu Nação. Disponível em: . Acesso em: 06 de junho de 2018. DUARTE, J. Entrevista em Profundidade. In: DUARTE, J.; BARROS, A. (Orgs). Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação. São Paulo: Atlas, 2017. cap. 4. FERREIRA, C. L., ARAÚJO, R. S. O Território dos Maracatu-Nação de Pernambuco: Interpretação Preliminar. Revista Eletrônica: Tempo – Técnica – Território, v. 3, n. 1, 2012, p. 49-85. GUERRA-PEIXE, César. Maracatus do Recife. 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