UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE ENGENHARIA CÂMPUS DE ILHA SOLTEIRA ENG.º AGRÔNOMO LUCAS MENEZES FELIZARDO ESTOQUE DE CARBONO NOS BIOMAS BRASILEIROS COM ENFOQUE NO CERRADO E NO CULTIVO DE EUCALIPTO NO MATO GROSSO DO SUL Ilha Solteira 2022 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: SISTEMAS DE PRODUÇÃO ENG.º AGRÔNOMO LUCAS MENEZES FELIZARDO ESTOQUE DE CARBONO NOS BIOMAS BRASILEIROS COM ENFOQUE NO CERRADO E NO CULTIVO DE EUCALIPTO NO MATO GROSSO DO SUL Tese apresentada à Faculdade de Engenharia - UNESP - Campus de Ilha Solteira, para obtenção do título de Doutor em Agronomia – Área de Conhecimento: Sistemas de produção Orientadora: Prof a . Drª. Kátia Luciene Maltoni Ilha Solteira 2022 Folha de Julgamento Dedicatória Dedico esta tese à minha esposa e à minha família pelo apoio de todas as horas. “Árvore do cerrado Que sejamos como árvore do cerrado, podendo até ter o porte pequeno, porém tendo grande capacidade de amar. Apesar de sua casca ser rugosa, não torna a madeira sem valor e ainda a protege contra o fogo. Não esqueçamos o nosso valor! Suas características não surgiram por caso. Que tenhamos a capacidade de nos adaptar às intempéries da vida, como as árvores do cerrado têm quanto as intempéries climáticas. Assim como as árvores do cerrado buscam água nos lençóis mais profundos para saciar sua necessidade, que tenhamos raízes profundas, dando-nos suporte para buscar a esperança quando não houver mais água na superfície. Não deixemos de mostrar nossa beleza. Façamos como as árvores do cerrado fazem com suas flores em período seca. Que sejamos destaque em meio a paisagem, por pior que seja. Que possamos produzir frutos mesmo em terra de baixa fertilidade, como as árvores do cerrado. E como o cerrado tem uma importância fundamental para a vida de vários seres, você também tem um valor inestimável.” Ezequias Reis AGRADECIMENTOS À minha família, por todo o amparo, sem o qual não teria sido possível passar por alguns dos empecilhos da vida. À minha companheira Gláucia, pelo apoio em todos os momentos, sendo sempre meu escudo, minha espada e minha fortaleza. À minha orientadora, a Profª. Drª. Kátia Luciene Maltoni, pela orientação e contribuição ao estudo realizado. Por sempre acreditar e confiar no meu trabalho. A todos os funcionários da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira - UNESP, que sempre que solicitados me deram o suporte necessário para a elaboração desse trabalho. À grandiosa instituição Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de Engenharia e ao programa de Pós-Graduação em Agronomia, que vem fazendo parte de minha vida nos últimos 5 anos. Agradeço o apoio da empresa Eldorado por ter disponibilizado o acesso as áreas de coleta e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001 por apoiar os programas de Pós-graduação da UNESP. RESUMO A presença de carbono orgânico no solo e na biomassa vegetal é benéfica para as funções dos ecossistemas e está intimamente associada à redução dos efeitos negativos das mudanças climáticas. Os estoques de carbono do solo são controlados por uma variedade de fatores climáticos e biogeoquímicos, sendo diretamente influenciados por mudanças no uso e ocupação do solo, em particular pela conversão de ecossistemas naturais em áreas cultivadas para agricultura e pecuária. Deste modo, objetivou-se com este trabalho estudar a presença de carbono orgânico no solo e os fatores que podem promover alteração no seu estoque (EstC). Para avaliar tais fatores, este trabalho foi dividido em três capítulos: No capítulo 1, foi realizado um estudo a partir de dados amostrais e resultados de simulações de estoque de carbono no solo, em seis biomas brasileiros (Cerrado, Amazônia, Pantanal, Caatinga, Mata-atlântica e Pampas), bem como verificar a contribuição dos fatores Bioma, Sistemas de uso do solo, Profundidade amostrada e o Tipo de dado (amostrado ou simulado) sobre o estoque de carbono dos solos. Apenas 42 trabalhos em mais de 200 artigos científicos foram qualificados para este estudo. Para analisar os dados, procedeu-se a análise de variância (ANOVA) seguindo o delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial, cujos fatores analisados foram o uso da terra, a camada do solo (0,0 – 0,10 e 0,0 – 0,20 m), o bioma e a interação entre eles, aplicando-se o teste F a 5% de probabilidade para detectar as diferenças dos fatores e a interação entre eles, e o teste de Scott-Knott a 5% foi utilizado para detectar diferenças entre as médias. Complementar à ANOVA, foi aplicada uma técnica com base na análise de componentes principais (CP), com o intuito de verificar a contribuição dos fatores de estudo analisados no EstC. Nos estoques de carbono amostrados de 0,0 – 0,20 m, houve diferença significativa no Bioma Pantanal, com estoques inferiores aos demais biomas na vegetação nativa bem como na pastagem, na interação uso da terra x Bioma Pampas. Nos dados simulados de 0,0 – 0,20 m foram observadas diferenças significativas para Mata Atlântica e Pantanal, com valores acima de 43 Mg ha -1 , e para uso da terra na pastagem o estoque de pastagens do Pantanal foram obtidos os menores valores. Por meio da técnica CP, foi possível observar que o EstC se correlaciona com as práticas de conservação, permitindo inferir que as práticas agrícolas influenciam o estoque de carbono. No Capítulo 2, foi verificado o EstC em diferentes áreas de cultivo localizadas no Sudeste do Mato Grosso do Sul: pastagem degradada, cerrado natural e áreas de plantio de eucalipto em diferentes estádios de desenvolvimento (3, 5, 7, 10 e 14 anos) com coletas de solo realizadas nas linhas e entrelinhas de plantio. Os dados obtidos foram analisados quanto a estatística descritiva e análise de variância (ANOVA), que seguiu o delineamento em blocos casualizados, em esquema fatorial (5 x 2 + 2) com 4 repetições, sendo cinco anos de plantio de eucalipto (3, 5, 7, 10 e 14 anos), duas posições (linha e entrelinha) e dois tratamentos adicionais (cerrado e pastagem) em quatro profundidades (0,0 – 0,10, 0,10 – 0,30, 0,30 – 0,60 e 0,60 – 1,00 m). O teste F foi utilizado para detectar as diferenças dos fatores e das interações, o teste de Tukey para detectar as diferenças entre as médias dos anos de cultivo e o teste de Dunnett para comparações entre essas médias com as médias das testemunhas e entre testemunhas. Na análise do EstC as diferenças significativas de destaque foram encontradas na profundidade 0,30 – 0,60 m no ano 14, na entrelinha, para eucalipto (9,99 ± 0,89 Mg ha -1 ), Cerrado (9,88 ± 0,62 Mg ha -1 ) e pastagem (10,96 ± 0,87 Mg ha -1 ) e na profundidade 0,60 – 1,00 m no ano 14, na linha, para eucalipto (11,04 ± 0,96 Mg ha -1 ), Cerrado (14,47 ± 0,60 Mg ha -1 ) e pastagem (15,19 ± 1,37 Mg ha -1 ). Com base na análise dos dados ficou evidenciado que a preservação do Cerrado mantém o Carbono no solo e que no final dos ciclos do Eucalipto (7 e 14 anos) os valores estão próximos ao encontrado no Cerrado. Por fim, no Capítulo 3 foi avaliada a medição da resistência do solo à penetração (RP) por três metodologias a partir do penetrógrafo manual de molas (SC60), penetrômetro estático de bancada com 60 cm.c.a-coluna d’água (PEB60) e penetrômetro estático de bancada com 100 cm.c.a (PEB100), em 3 áreas de cultivo (eucalipto - EUCP, pastagem - PAST e cerrado conservado – CERC), em 3 profundidades (0 – 0,10; 0,10 – 0,30 e 0,30 – 0,60 m). Os dados obtidos foram convertidos para MPa (para resistência do solo à penetração), analisados quanto a estatística descritiva e análise de variância, sendo o teste F utilizado para detectar as diferenças dos fatores e as interações, e o teste Tukey para comparar as médias quando encontradas diferenças significativas. Foram verificados valores de RP acima de 1,9 MPa com o uso do SC-60 no eucalipto e na pastagem. Foram constatados valores de RP superiores, para pastagem nas profundidades de 0,10 – 0,30 m (1,50 Mpa), no SC60 em cultivo de eucalipto e pastagem (1,90 Mpa) e SC60 a partir da profundidade de 0,10 – 0,30 m (1,75 a 2,07 Mpa), valores considerados moderados e não impeditivos ao desenvolvimento radicular do eucalipto. O SC60 apresentou os maiores valores de RP (1,16 a 2,07 Mpa) independente do cultivo e da profundidade. Não houve variações significativas na RP em relação às colunas d’água utilizadas (60 e 100 cm.c.a.). Palavras-chave: uso do solo; resistência do solo a penetração; carbono orgânico. ABSTRACT The presence of organic carbon in soil and plant biomass is beneficial for ecosystem functions and is closely associated with reducing the negative effects of climate change. Soil carbon stocks are controlled by a variety of climatic and biogeochemical factors, being directly influenced by changes in land use and occupation, in particular by the conversion of natural ecosystems into cultivated areas for agriculture and livestock. Thus, this work aimed to study the presence of organic carbon in the soil and the factors that can promote changes in its stock (EstC). To evaluate these factors, this work was divided into three chapters: In chapter 1, a study was carried out based on sample data and results of simulations of carbon stock in the soil, in six different Brazilian biomes (Cerrado, Amazônia, Pantanal, Caatinga , Atlantic Forest and Pampas), as well as verifying the contribution of the factors Biome, Land use systems, Sampled depth and the type of data (sampled or simulated) on the carbon stock of soils. Only 42 papers in more than 200 scientific articles were qualified for this study. To analyze the data, analysis of variance (ANOVA) was carried out following a completely randomized design, in a factorial scheme, whose factors analyzed were land use, soil layer (0.0 - 0.10 and 0.0 – 0.20 m), the biome and the interaction between them, applying the F test at 5% of probability to detect the differences of the factors and the interaction between them, and the Scott-Knott test at 5% was used to detect differences between the means. Complementary to ANOVA, a technique based on principal component analysis (CP) was applied, in order to verify the contribution of the study factors analyzed in the EstC. In the carbon stocks sampled from 0.0 – 0.20 m, there was a significant difference in the Pantanal Biome, with stocks lower than the other biomes in native vegetation as well as in pasture, in the interaction of land use x Pampas Biome. In the simulated data of 0.0 – 0.20 m, significant differences were observed for Atlantic Forest and Pantanal, with values above 43 Mg ha -1 , and for land use in pasture and pasture stock in the Pantanal, the lowest values were obtained. Through the CP technique, it was possible to observe that the EstC is correlated with conservation practices, allowing us to infer that agricultural practices influence carbon stock. In Chapter 2, the EstC was verified in different cultivation areas located in the Southeast of Mato Grosso do Sul: degraded pasture, natural cerrado and eucalyptus plantation areas at different stages of development (3, 5, 7, 10 and 14 years) with soil collections carried out in the rows and between the planting rows. The data obtained were analyzed in terms of descriptive statistics and analysis of variance (ANOVA), which followed a randomized block design, in a factorial scheme (5 x 2 + 2) with 4 replications, with five years of eucalyptus plantation (3, 5 , 7, 10 and 14 years), two positions (row and between rows) and two additional treatments (Cerrado and pasture) at four depths (0.0 – 0.10, 0.10 – 0.30, 0.30 – 0 .60 and 0.60 - 1.00 m). The F test was used to detect differences in factors and interactions, Tukey's test to detect differences between the averages of the years of cultivation and Dunnett's test for comparisons between these averages with the averages of the controls and between controls. In the analysis of the EstC, significant differences were found at depth 0.30 – 0.60 m in year 14, between the rows, for eucalyptus (9.99 ± 0.89 Mg ha -1 ), Cerrado (9.88 ± 0.62 Mg ha -1 ) and pasture (10.96 ± 0.87 Mg ha -1 ) and at depth 0.60 – 1.00 m in year 14, in the line, for eucalyptus (11.04 ± 0, 96 Mg ha -1 ), Cerrado (14.47 ± 0.60 Mg ha -1 ) and pasture (15.19 ± 1.37 Mg ha -1 ). Based on the data analysis, it became evident that the preservation of the Cerrado maintains the carbon in the soil and that at the end of the Eucalyptus cycles (7 and 14 years) the values are close to those found in the Cerrado. Finally, in Chapter 3, the measurement of soil penetration resistance (RP) was evaluated by three methodologies using manual spring penetrograph (SC60), benchtop static penetrometer with 60 cm.w.c-water column (PEB60) and benchtop static penetrometer with 100 cm.w.c (PEB100), in 3 cultivation areas (eucalyptus - EUCP, pasture - PAST and conserved cerrado - CERC), in 3 depths (0 - 0.10; 0.10 - 0, 30 and 0.30 - 0.60 m). The data obtained were converted to MPa (for soil penetration resistance), analyzed for descriptive statistics and analysis of variance, and the F test was used to detect differences in factors and interactions, and the Tukey test to compare the means when significant differences were found. PR values above 1.9 MPa were verified with the use of SC-60 in eucalyptus and pasture. Higher RP values were found for pasture at depths of 0.10 - 0.30 m (1.50 MPa), in SC60 in eucalyptus cultivation and pasture (1.90 MPa) and SC60 from a depth of 0. 10 – 0.30 m (1.75 to 2.07 MPa), values considered moderate and not impeding the root development of eucalyptus. SC60 showed the highest RP values (1.16 to 2.07 MPa) regardless of cultivation and depth. There were no significant variations in the RP in relation to the water columns used (60 and 100 cm.w.c.). Keywords: soil depth; land use; C determination methods. LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS Amostragem à campo (CMP) Análise de componentes principais (ACP) Análise de variância (ANOVA) Anos de cultivo (Acult) Carbono (C) Carbono Orgânico (CO) Cerrado conservado (CERC) Coeficiente de variação (CV) Coluna d’água (c.a.) Derivada do modelo RP (Ɵm) (dC/dƟ) Densidade do solo (Ds) Espessura da camada considerada (e) Estoques de carbono orgânico do solo (EstC) Eucalipto (EUCP) Matéria orgânica do solo (MO) Megapascal (MPa) Pastagem (PAST) Penetrógrafo manual de molas (SC-60) Penetrômetro estático de bancada (PEB) Perda de massa por ignição (PMI) Plantio convencional (PC) Porosidade total (Pt) Posição (Pos) Práticas conservacionistas (PCS) Processos de retirada de umidade a 100 cm.c.a (B100) Processos de retirada de umidade a 60 cm.c.a (B60) Profundidade (Prof) Quadrado médio (QM) Quilograma-força (Kgf) Resistência do solo à penetração (RP) Resistência à penetração corrigida (RPc) Resistência à penetração medida (RPm) Sociedade Americana de Engenharia Agrícola (ASAE) Teor de Umidade (TU) Testemunhas (T) Umidade medida (Ɵm) Umidade a base de massa de referência (Ɵref) Vegetação nativa (VN) Vegetação plantada (VP) Vegetações (VEGT) SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 14 2 CAPÍTULO 1: ESTOQUE DE CARBONO AMOSTRADO E SIMULADO EM BIOMAS BRASILEIROS ............................................................................................ 17 ......................................................................................................................................... 17 2.1 Introdução ...................................................................................................................... 18 2.2 Material e Métodos ....................................................................................................... 20 2.3 Resultados e Discussão .................................................................................................. 24 2.4 Conclusões ...................................................................................................................... 29 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 30 3 CAPÍTULO 2: ESTOQUE DE CARBONO NO CULTIVO DE EUCALIPTO EM COMPARAÇÃO COM PASTAGEM E CERRADO NATURAL, NO SUDESTE DO MATO GROSSO DO SUL ................................................................. 33 ......................................................................................................................................... 33 3.1 Introdução ...................................................................................................................... 35 3.2 Material e Métodos ....................................................................................................... 37 3.3 Resultados e Discussão .................................................................................................. 40 3.4 Conclusões ...................................................................................................................... 49 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 50 4 CAPÍTULO 3: ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE MÉTODOS DE OBTENÇÃO DA RESISTÊNCIA À PENETRAÇÃO EM SOLOS DO CERRADO ................................................................................................................... 55 ......................................................................................................................................... 55 4.1 Introdução ...................................................................................................................... 57 4.2 Material e Métodos ....................................................................................................... 58 4.3 Resultados e Discussão .................................................................................................. 61 4.4 Conclusões ...................................................................................................................... 71 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 72 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 74 APÊNDICES .................................................................................................................. 76 ANEXO .......................................................................................................................... 85 14 1 INTRODUÇÃO Devido às características climáticas e edafológicas do extenso território brasileiro, seis biomas principais podem ser descritos: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. Com biomas tão distintos, os eventos de mudanças climáticas podem se tornar um imenso desafio ambiental, e impedir que grandes quantidades de carbono sejam adicionadas à atmosfera pode ser solução para esse problema. O solo é um enorme reservatório de carbono, capaz de armazenar cerca de 3 vezes mais C que a atmosfera. Para quantificar esse elemento modelos matemáticos foram desenvolvidos, os quais monitoram as mudanças nos estoques de carbono em diferentes compartimentos do solo, podendo então prever o impacto das práticas de manejo sobre o comportamento do estoque de carbono e assim quantificar o CO2 que se perde para a atmosfera ou se ganha incorporando ao solo. O carbono do solo é considerado um dos importantes indicadores gerais de segurança do solo, pois pode sinalizar se determinado solo esta suscetível ou caminhando em direção à degradação, relacionada à mitigação das mudanças climáticas, ou à capacidade do solo em suprir as necessidades básicas de instalação ou manutenção de um cultivo. A presença de C no solo e na biomassa vegetal é benéfica para as funções dos ecossistemas e está intimamente associada à redução dos efeitos negativos sobre as mudanças climáticas. Os estoques de carbono do solo são controlados por uma variedade de fatores climáticos e biogeoquímicos, sendo diretamente influenciados por mudanças no uso e ocupação do solo, em particular pela conversão de ecossistemas nativos em áreas cultivadas para agricultura e pecuária. Nos últimos anos, no Cerrado houve a intensificação do processo de substituição de suas áreas nativas por áreas com diferentes usos, o que tem acelerado processos de degradação ambiental. Dependendo de como é a transição do Cerrado para outros sistemas de uso do solo pode aumentar o carbono do solo, uma vez que, em geral os solos sob Cerrado são pobres em carbono e nutrientes. No entanto, a perda do carbono armazenado sob Cerrado nativo não pode ser ignorada e chama a atenção para a importância de se analisar as mudanças no uso da terra, pois podem colocar mais carbono na atmosfera. Com a intensificação da ocupação do Cerrado para dar lugar a diferentes usos do solo, surgem relevantes sinais de degradação, sendo a compactação um dos mais importantes problemas, e os solos de textura moderada a moderadamente grosseiras (francos, franco arenosos e franco siltosos) tem se 15 mostrado muito suscetíveis a estes processos, pois suas partículas se reorganizam mais facilmente. A avaliação da resistência do solo a penetração (RP) é um parâmetro muito utilizado para avaliar a compactação e está relacionada às propriedades físicas do solo, sendo considerada um indicador de compactação, como também a textura e umidade que afetam diretamente a compactação do solo. Os dados de RP, associados a outras ferramentas tecnológicas e observações de campo, podem contribuir para formação de um cenário realista das condições em que ele se encontra, onde se pretende implementar planos de produção agropecuária, outras mobilizações do solo, implantação de culturas, e/ou operações com vistas à sua recuperação física e de fertilidade. O eucalipto, nativo da Austrália, adaptou-se muito bem às condições de clima e solo no Brasil, o que favoreceu seu estabelecimento. Este tem sido plantado em extensas áreas, para produção de celulose e, mais recentemente, a cultura tem se expandido na região sudeste do Mato Grosso do Sul, em áreas de pastagens bastante degradadas, ou mesmo em áreas de Cerrado. Para esse estudo foram levantadas algumas hipóteses acerca dos fatores que podem promover alteração no estoque de carbono do solo, são elas: Existem diferenças entre o estoque de carbono entre Biomas brasileiros? O uso e ocupação influenciam no estoque de carbono? O estoque de carbono é maior em região preservada de Cerrado, pastagem ou cultivo de eucalipto? Os anos de cultivo de eucalipto interferem no estoque de carbono? Será que o cultivo de eucalipto em substituição à pastagem degradada no Cerrado do Mato Grosso do Sul pode ampliar o estoque de carbono no solo desse bioma? Se ocorrer aumento do estoque de carbono no solo no cultivo de eucalipto, ele ocorre com maior intensidade na linha ou na entrelinha do plantio? Há diferença nos resultados, para os equipamentos e os métodos utilizados na obtenção da resistência do solo a penetração? Assim, como objetivo geral do trabalho buscou-se quantificar o estoque de carbono para múltiplos usos do solo, determinando a dinâmica do estoque de carbono no solo do Cerrado no sudeste do estado do Mato Grosso do Sul Os objetivos específicos foram: 1) avaliar o estoque de carbono no solo dos biomas brasileiros; 2) identificar diferenciações nos valores de estoque de carbono obtidos a partir de dados amostrados ou simulados, nos biomas estudados; 3) entender como o sistema de uso do solo pode reduzir ou aumentar os estoques de carbono nos biomas; 4) no bioma Cerrado, avaliar como o efeito da mudança da vegetação nativa para pastagem, bem como posteriormente para cultivo de eucalipto, interfere no estoque de carbono no solo; 5) avaliar o 16 comportamento do estoque de carbono ao longo do perfil do solo em múltiplos usos; e, 6) verificar se as médias nos parâmetros para determinação do estoque de carbono no solo do cerrado apresentam diferenças à medida que se utilizam diferentes equipamentos e, ou, metodologias distintas. Para alcançar os objetivos e testar as hipóteses formuladas, dividiu-se este trabalho em três capítulos: No capítulo 1 foi realizado um estudo a partir de dados amostrais e resultados de simulações de estoque de carbono no solo, em seis biomas brasileiros (Cerrado, Amazônia, Pantanal, Caatinga, Mata-atlântica e Pampas), bem como verificar a contribuição dos fatores Bioma, Sistemas de uso do solo, Profundidade amostrada e o Tipo de dado (amostrado ou simulado) sobre o estoque de carbono dos solos. Neste capítulo foram avaliados os resultados das estimativas de modelos relacionados às observações de campo em estudos realizados no Brasil, na tentativa de demonstrar a importância da compreensão do comportamento do carbono em seis biomas e em diferentes cenários de uso da terra agrícola. No Capítulo 2 foi avaliado o estoque de carbono no solo (EstC) em áreas de cultivo localizadas no Sudeste do Mato Grosso do Sul: pastagem degradada, cerrado natural e áreas de plantio de eucalipto em diferentes estádios de desenvolvimento (3, 5, 7, 10 e 14 anos), com coletas realizadas nas linhas e entrelinhas de plantio. No Capítulo 3 foi avaliada a medição da resistência do solo à penetração (RP) por três metodologias: a partir do penetrógrafo manual de molas (SC60), do penetrômetro estático de bancada com 60 cm.c.a (PEB60) e do penetrômetro estático de bancada com 100 cm.c.a (PEB100), em 3 áreas de cultivo (eucalipto - EUCP, pastagem - PAST e cerrado natural – CERC), em 3 profundidades do solo (0 – 0,10; 0,10 – 0,30 e 0,30 – 0,60 m). 17 2 CAPÍTULO 1: ESTOQUE DE CARBONO AMOSTRADO E SIMULADO EM BIOMAS BRASILEIROS Resumo – Com a compilação e avaliação de informações de dados amostrais e resultados de simulações de estoque de carbono do solo (EstC), em seis biomas brasileiros, Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampas e Pantanal. Encontrou-se 42 artigos científicos com as características necessárias para realizar esta análise, que visa entender entre os fatores avaliados quais têm maior efeito sobre o estoque de carbono. Utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado, em esquema fatorial, onde os fatores analisados foram: uso da terra, camada do solo (0,0 – 0,10 e 0,0 – 0,20 m), bioma e a interação entre eles. Nos estoques amostrados de 0,0 – 0,20 m, houve diferença significativa no Pantanal e na interação entre uso da terra, com média e erro médio padrão de 14,75 ± 1,67 Mg ha -1 , inferior à pastagem do bioma Pampas que obteve valores de 20,28 ± 1,86 Mg ha -1 . Nos dados simulados de 0 – 0,20 m para as diferenças significativas foram observadas para Mata Atlântica e Pantanal, no uso da terra das práticas convencionais, 25,66 ± 3,09 Mg ha -1 e na pastagem 37,67 ± 13,39 Mg ha - 1 , no estoque médio de pastagens da Mata Atlântica e Pantanal de 12,67 ± 1,89 Mg ha -1 . No uso convencional da terra, o estoque médio de C foi de 22,63 ± 3,73 Mg ha -1 e na interação entre os biomas Caatinga e Amazônia houve diferença para pastagem na Caatinga, apresentando média de 18,33 ± 6,14 Mg ha -1 , para valores simulados na interação entre os biomas, enquanto que na pastagem na caatinga o EstC foi de 41,23 ± 2,34 Mg ha -1 . Na análise dos componentes principais, o estoque de C está mais correlacionado com as práticas de conservação que nesse estudo foram plantio direto e cultivo mínimo, permitindo inferir que as práticas agrícolas conservacionistas podem influenciar para o aumento do estoque de carbono. Palavras-chave: modelos computacionais; CENTURY; CQESTR; dinâmica do C. Sampled and simulated carbon stock in Brazilian biomes Abstract – With the compilation and evaluation of information from sample data and results of soil carbon stock (EstC) simulations, in six Brazilian biomes, Amazon, Caatinga, Cerrado, Atlantic Forest, Pampas and Pantanal, 42 scientific articles were found with the characteristics necessary to carry out this analysis, which aims to understand among the factors evaluated which have the greatest effect on carbon stock. A completely randomized design was used, in a factorial scheme, where the factors analyzed were: land use, soil layer (0.0 - 0.10 and 0.0 - 18 0.20 m), biome and the interaction between them. In the stocks sampled from 0.0 – 0.20 m, there was a significant difference in the Pantanal and in the interaction between land use, with a mean and mean standard error of 14.75 ± 1.67 Mg ha -1 , lower than the pasture of the biome Pampas that obtained values of 20.28 ± 1.86 Mg ha -1 . In the simulated data of 0 – 0.20 m for the significant differences were observed for Atlantic Forest and Pantanal, in the land use of the conventional practices, 25.66 ± 3.09 Mg ha -1 and in the pasture 37.67 ± 13, 39 Mg ha -1 , in the average stock of pastures in the Atlantic Forest and Pantanal of 12.67 ± 1.89 Mg ha -1 . In conventional land use, the average stock of C was 22.63 ± 3.73 Mg ha -1 and in the interaction between the Caatinga and Amazon biomes there was a difference for pasture in the Caatinga, with an average of 18.33 ± 6.14 Mg ha -1 , for simulated values in the interaction between the biomes, while in the pasture in the caatinga, the EstC was 41.23 ± 2.34 Mg ha -1 . In the analysis of the principal components, the stock of C is more correlated with the conservation practices that in this study were no-tillage and minimum tillage, allowing to infer that the conservationist agricultural practices can influence for the increase of the carbon stock. Keywords: CENTURY; CQESTR; dynamics C; computational models. 2.1 Introdução Devido à ampla gama de características climáticas e de solos ao longo do território brasileiro, seis grandes biomas podem ser descritos: Amazônico, Caatinga, Cerrado, Mata- atlântica, Pampa e Pantanal. Nesses cenários encontra-se o domínio morfoclimático e fitogeográfico Amazônico, a Mata Atlântica, também conhecida como "mata de encosta" que é um bioma de florestas tropicais úmidas, o Cerrado, que não tem uma fisionomia única e uniforme, mas sim três: a campestre (campo limpo de Cerrado), a savânica (campo sujo de Cerrado, campo cerrado e cerrado sensu stricto) e a florestal (cerradão), a Caatinga nordestina bioma de savana semiárida, os Pampas que é um bioma campestre e o Pantanal constituído por um complexo mosaico de diferentes biomas florestais de hidrobiomas e helobiomas (COUTINHO, 2016; BATALHA, 2011). Devido as dimensões continentais, com tantas diferenças entre os biomas, os eventos de mudanças climáticas podem se tornar um desafio ambiental ainda maior no Brasil, e evitar que grandes quantidades de carbono cheguem à atmosfera pode ser uma alternativa para combater esse problema (CERRI et al., 2018; SILVA; FRANÇA, 2018). O solo é um grande reservatório de carbono, pois armazena cerca de 3 vezes mais carbono que a atmosfera 19 (OELKERS; COLE, 2008). Para quantificar esse carbono alguns modelos matemáticos foram desenvolvidos, com a perspectiva de monitorar as mudanças no seu estoque nos diversos compartimentos do solo e prever os efeitos do comportamento deste carbono nas diferentes práticas de manejo (CERRI et al., 2018). Quando ecossistemas nativos são alterados por atividades antrópicas, o equilíbrio dinâmico existente é rompido e, normalmente, as entradas de carbono passam a ser menores do que as saídas, reduzindo a quantidade e alterando a qualidade da matéria orgânica do solo (BONILLA-BEDOYA et al., 2017; MURPHY, BOSCHMA, HARDEN, 2017). Os estoques de carbono do solo são controlados por uma variedade de fatores climáticos e biogeoquímicos e são diretamente influenciados por mudanças no uso e ocupação do solo, em particular pela conversão de ecossistemas nativos em áreas cultivadas para agricultura e pecuária (CERRI et al., 2008; SOARES, 2018), entre outros. O aumento dos estoques de carbono no solo está comumente associado à redução dos efeitos negativos das mudanças climáticas, no entanto, a presença de carbono no solo e na biomassa vegetal é também benéfica para outras funções dos ecossistemas (PARRON; RACHWAL; MAIA, 2015). Muito embora a dinâmica do carbono venha sendo estudada nos solos brasileiros há algum tempo (BRITO et al., 2018; MASCARENHAS et al., 2017; RIBEIRO et al., 2019), muitos autores avaliam os estoques de carbono apenas na superfície do solo, isto é, até 0,40 m de profundidade, considerando que as variações em função das profundidades do preparo do solo e da área de influência de raízes ocorrem principalmente até essa profundidade (PARRON; RACHWAL; MAIA, 2015). Os modelos de simulação, como CENTURY, CQESTR, DNDC, ROTHC, DoSoftware, permitem a extrapolação dos resultados sem deixar de levar em conta as particularidades de cada local. Os modelos explicitam relações, pois integram o conhecimento já existente sobre as interações entre clima/tempo, solos e plantas, de modo a integrar fatores ambientais e ecológicos (WEILER, 2016). Os modelos computacionais são ferramentas que possibilitam simulações de estoque de carbono superando problemas de ordem temporal, espacial e de quantidade de dados à disposição deles. Neste trabalho avaliaram-se os resultados estimados por modelos em relação a observações de campo em trabalhos realizados no Brasil, buscando apresentar a importância da compreensão do comportamento do carbono em seis Biomas e diferentes cenários do uso agrícola dos solos. 20 Assim, o objetivou-se com esse trabalho compilar e avaliar informações de dados amostrais e de resultados de simulações de estoque de carbono no solo, com os modelos CENTURY e CQESTR, em seis biomas brasileiros e verificar a contribuição dos fatores Bioma, Sistemas de uso do solo, Profundidade amostrada e o Tipo de dado (amostrado ou simulado) sobre o estoque de carbono dos solos. 2.2 Material e Métodos Este trabalho envolveu os biomas Cerrado, Amazônia, Pantanal, Caatinga, Mata- atlântica e Pampas, sendo encontrados na análise dos artigos científicos os modelos CENTURY e CQESTR (Figura 1). Na Amazônia foram avaliados seis trabalhos, em solos que variaram entre Latossolos, Argissolos, Cambissolos e Espodossolos, nas camadas de 0 a 2,0 m, sob cultivo convencional, cultivo mínimo, pastagem, agrofloresta e manutenção de floresta nativas (Apêndice I, Tabela 1). 21 Figura 1 – Biomas e indicação dos locais onde foram realizadas as pesquisas que abordaram o estoque de carbono dos solos. Fonte: Elaboração do próprio autor. Na Caatinga foram avaliados seis trabalhos englobando Latossolos, Plintossolos, Argissolos, Cambissolos, Neossolos e Luvissolos, em camadas que variaram de 0 a 0,40 m de profundidade, com uso e ocupação como Caatinga preservada, Caatinga pastejada, reflorestamento e cultivo convencional (Apêndice I, Tabela 2). No Cerrado foram avaliados oito trabalhos envolvendo Latossolos, Gleissolos e Plintossolos, nas camadas de 0 a 0,60 m, com uso e ocupação do solo na forma de lavoura- pecuária-floresta, plantio direto, plantio convencional e pastagem (Apêndice I, Tabela 3). Na Mata-atlântica foram avaliados onze trabalhos em Latossolos, Organossolos, Nitossolos, Neossolos e Chernossolos, na camada de solo 0 a 1,0 m, com uso e ocupação de sistemas agroflorestais, floresta nativa, floresta plantada, cultivo convencional, pastagem, lavoura-pecuária, plantio direto, sendo o solo predominante encontrado no bioma o Latossolo. (Apêndice I, Tabela 4). 22 No Pampa foram avaliados cinco trabalhos em Argissolos, Cambissolos e Chernossolos na camada de solo de 0 a 1,0 m, com sistema de campos naturais, floresta plantada e pastagens (Apêndice I, Tabela 5). No Pantanal foram avaliados cinco trabalhos em Argissolos, Gleissolos, Neossolos e Espodossolos na camada de solo de 0 a 0,40 m, sob campos naturais, floresta plantada e pastagens (Apêndice I, Tabela 6). Os dados analisados neste trabalho ficaram restritos à camada de 0 a 0,20 m de profundidade, devido a existência de dados obtidos tanto por coleta amostral quanto por simulações em modelos, deste modo, a pesquisa ficou reduzida a 42 experimentos, do inicialmente levantado (Apêndice II). Assim, foram avaliados os estoques de carbono do solo (EstC) oriundos desses trabalhos científicos, separados por coleta, pelas camadas de 0 - 0,10 m e 0 – 0,20 m, nos biomas brasileiros. Como fator de análise, os trabalhos foram filtrados para garantir condições semelhantes e práticas de manejo comumente usadas, com os seguintes sistemas agrícolas: vegetação nativa (VN) com a particularidade do cenário dos pampas, onde pastagem natural foi considerada VN; vegetação plantada (VP) sendo abordados trabalhos com eucalipto, pinus e cacau; plantio convencional (PC), práticas conservacionistas (PCS) tendo sido consideradas nesse cenário os dados obtidos no sistema plantio direto ou cultivo mínimo e pastagem (PAS). Inicialmente, os dados coletados foram submetidos à análise exploratória descritiva (Tabelas 2 a 4) e gráfica por boxplot (Figura 2). Testes de aderência foram realizados para testar a hipótese da normalidade, sendo aceita (P> 0,05) por meio do teste de Shapiro-Wilk. As diferenças entre variáveis analisadas ocorreram apenas quanto ao número de níveis dos fatores empregados. Para a camada de 0 – 0,10 m e 0,10 – 0,20 m, na coleta por amostra, sendo utilizado o esquema fatorial 5 x 2 incompleto, sendo 5 sistemas (Plantada, Nativa, Conservacionista, Convencional e Pastagem) e 2 biomas (Amazonas e Caatinga). Para a camada 0 - 0,20 m na coleta por amostra, o esquema fatorial utilizado foi 5 x 4 incompleto, sendo 5 sistemas (Plantada, Nativa, Conservacionista, Convencional e Pastagem) e 4 biomas (Mata-atlântica, Cerrado, Pampas e Pantanal), na coleta por simulação, o esquema foi o 5 x 5 sendo 5 sistemas de uso do solo (Plantada, Nativa, Conservacionista, Convencional e Pastagem) e 5 biomas (Mata-atlântica, Cerrado, Pampas, Pantanal e Caatinga). 23 Figura 2 – Gráfico de Boxplot do estoque de carbono do solo (Estoque), nas camadas de 0,0 - 0,10 e 0,0 – 0,20 m, por sistema de uso do solo (SISTEMA), amostrados e simulados. Fonte: Elaboração do próprio autor. O foco deste trabalho esteve voltado à avaliação de resultados obtidos por meio de amostragem ou simulação com nível de informações dos Biomas, específicas dos Sistemas de uso, envolvendo literaturas que estivessem sob mesmas condições, para uma comparação mais fidedigna. Em todas as situações foram realizadas a análise de variância (ANOVA) aplicando-se o teste F a 5% de probabilidade para detectar as diferenças dos fatores e a interação entre eles e também para detectar as diferenças entre as médias dos fatores com apenas dois níveis, quando encontradas diferenças significativas (P<0,05). Para os demais fatores acima de dois níveis foi utilizado o teste de Scott-Knott a 5% para detectar diferenças entre as médias. Complementar a análise de variância foi realizada a análise de componentes principais, com o intuito de verificar a contribuição do fator de estudo analisado na variável resposta EstC (Figura 3, Tabela 5). As análises estatísticas e os gráficos ilustrativos foram realizados com o auxílio do software R (R CORE TEAM, 2019) versão 3.6.2. 24 2.3 Resultados e Discussão A análise de variância (Tabela 1) mostra diferenças significativas (P<0,05) entre biomas na camada 0 - 0,20 m em material amostrado. Nas camadas de 0 – 0,10 e 0 – 0,20 m simulados, entre sistemas, foram encontradas diferenças significativas (P<0,05) na camada 0 – 0,10 m quando as amostras foram coletadas e de 0 - 0,20 m quando ocorreu simulação. Houve interação significativa (P<0,05) apenas na camada amostrada de 0 - 0,10 m, nas demais variáveis a interação não significativa. Tabela 1 – Quadrado médio (QM) e coeficiente de variação (CV) obtidos na análise de variância do estoque de carbono do solo nas camadas de 0 - 0,10 e 0 - 0,20 m, para dados amostrados (Amostrado) e dados obtidos por simulação (Simulado). FV Amostrado Simulado 0 -0,10 m 0 – 0,20 m 0 - 0,10 m 0 - 0,20 m Biomas (B) 52,21 ns 2940,48 ** 2247,15 ** 1348,55 ** Sistema (S) 544,32 ** 3,05 * 87,06 ns 2931,07 ** B*S 477,25 * 0,52 ns 181,9 ns 396,83 ns CV 35,05 43,44 34,96 41,23 Média geral 31,73 36,96 27,43 37,49 Nota: **, * e ns , significativo a 1%, 5% e não-significativo, respectivamente, pelo Teste F. FV: Fontes de variação Fonte: Elaboração do próprio autor. A Amazônia e a Caatinga apresentam características climáticas distintas, isto pode ter influenciado diretamente o comportamento do EstC. Nesse trabalho são considerados apenas os valores do estoque, independente do que amplia ou diminui o estoque ao longo do tempo. Para dados amostrados na Amazônia, na camada de 0 - 0,10 m, pelo teste de Scott-Knott, o sistema convencional se mostrou como o pior cenário para o EstC, enquanto para dados na camada de 0,10 – 0,20 m, o pior cenário foi na pastagem. Para os demais sistemas não houve diferença (P>0,05) estatística entre as médias (Tabela 2). O uso de uma agricultura com prática convencional não amplia a capacidade do solo em estocar carbono, representando quase a metade dos valores das outras práticas (Tabela 2) que pode ser explicada pela constante movimentação do solo e por consequência oxidação da matéria orgânica. Já a pastagem nesse cenário manteve os estoques bem próximos aos sistemas de vegetação nativa e práticas conservacionistas devido provavelmente ao aporte de 25 massa vegetal (raízes e parte aérea) além da baixa mobilização do solo, resultados similares foram encontrados em outros trabalhos no bioma (ARAÚJO et al.,2011; BELANGER et al., 2017). Tabela 2 – Média do estoque de carbono do solo (Mg ha -1 ) obtido no desdobramento dos sistemas de Uso da terra o bioma para dados amostrados na profundidade 0 – 0,10 e 0,10 – 0,20 m 0 – 0,10 0,10 – 0,20 Sistema Biomas Sistema Biomas Amazônico* Caatinga ns Amazônico** Caatinga ns Plantada - 39,04 aA Plantada ns 24,75 aA 27,84 aA Nativa ns 45,35 aA 35,25 aA Nativa 25,14 a - Conservacionista 49,05 a - Conservacionista 21,08 a - Convencional ns 22,63 aA 28,68 aA Convencional ** 22,63 aA 34,76 bA Pastagem* 43,10 aA 18,33 aB Pastagem** 19,92 bB 41,23 aA Nota: **, * e ns , significativo a 1%, 5% e não-significativo, respectivamente, pelo Teste F. Médias seguidas pela mesma letra minúsculas nas colunas e maiúsculas nas linhas não diferem entre si pelo teste de Scott Knott e F a 5%, respectivamente. Fonte: Elaboração do próprio autor. As boas práticas agrícolas como o cultivo mínimo e o plantio direto, são benéficas ao solo, e essa premissa pode ser aplicada ao incremento no EstC, pois as práticas conservacionistas geram menor emissão de CO2 do solo para a atmosfera, em relação ao sistema convencional, reduzindo os impactos da atividade agrícola no ambiente e o efeito estufa (BURTAN et al., 2017; HAQUE et al., 2016; RODRIGUES et al., 2017). Na Caatinga não foi encontrada diferença significativa (P>0,05) entre os sistemas para nenhuma das variáveis avaliadas podendo ser explicada pelo baixo aporte de matéria orgânica oriunda da vegetação. Neste Bioma os estoques de carbono estão em torno de 30 Mg ha -1 (ALTHOFF, 2015), valor inferior as médias encontradas para outros Sistemas neste trabalho. Na camada de 0 - 0,20 m, para dados amostrados, não foram encontradas diferenças significativas (P>0,05) entre os sistemas nos biomas Mata-atlântica e Cerrado. Enquanto, nos Pampas e Pantanal houve diferenças significativas (P<0,05), sendo o sistema pastagem no pantanal obtendo o pior EstC nas duas situações encontradas (Tabela 3) 26 Tabela 3 – Média do estoque de carbono do solo (Mg ha -1 ) obtidos no desdobramento dos sistemas de uso do solo (Sistema) dentro do bioma para dados amostrados na profundidade de 0,0 – 0,20 m Sistema Biomas Mata Atlântica ns Cerrado ns Pampas * Pantanal * Média Plantada ns 32,20 aA 41,05 aA - - 38,13 a Nativa ** 41,45 aA 44,67 aA 49,70 aA 29,74 aB 37,12 a Conservacionista ns 44,35 aA 31,59 aA 49,11 aA - 43,42 a Convencional ns 45,32 aA 37,64 aA 39,08 aA - 40,17 a Pastagem ** 49,25 aA 38,11 aA 20,28 bB 14,75 bB 26,88 b Média 42,39 A 39,58 A 44,39 A 24,37 B Nota: **, * e ns , significativo a 1%, 5% e não-significativo, respectivamente, pelo Teste F. Médias seguidas pela mesma letra minúsculas nas colunas e maiúsculas nas linhas não diferem entre si pelo teste de Scott Knott e F a 5%, respectivamente. Fonte: Elaboração do próprio autor. Para dados simulados na mesma camada (Tabela 4), Mata-atlântica e Pantanal foram os únicos que apresentaram diferença significativa (P<0,01) entre sistemas, onde na Mata- atlântica os sistemas Plantado e Nativa formaram um grupo superior aos sistemas convencional e pastagem, no que diz respeito ao EstC onde o maior aporte de material vegetal pode ser uma possível explicação. Tabela 4 – Média dos estoques de carbono do solo obtidos no desdobramento dos sistemas dentro de Bioma para dados simulados na profundidade de 0 – 0,20 m. Sistema Biomas Mata-atlantica ** Cerrado ns Pampas ns Pantanal ** Caatinga ns Média Plantada ** 59,32 aA - 29,98 aB - 40,67 aB Nativa ns 50,63 aA 37,17 aA 46,70 aA 43,14 aA 37,91 aA 43,53 a Conservacionista - 39,27 aA - - - 39,27 a Convencional ns 25,66 bA 32,07 aA 45,42 aA - 38,49 aA 34,26 a Pastagem ** 37,67 bA 29,67 aA - 12,67 bB 29,87 aA 21,40 b Média 45,31 A 34,3 B 42,90 A 29,21 B 36,97 B Nota: **, * e ns , significativo a 1%, 5% e não-significativo, respectivamente, pelo Teste F. Médias seguidas pela mesma letra minúsculas nas colunas e maiúsculas nas linhas não diferem entre si pelo teste de Scott Knott e F a 5%, respectivamente. Fonte: Elaboração do próprio autor. Nesse cenário, a pastagem proporcionou diferença significativa dos demais sistemas, tanto na Mata-Atlântica, quanto no Pantanal, embora, a pastagem quando bem conduzida tenha a capacidade de sequestrar carbono para o solo. No entanto, nesse conjunto de dados não foi possível verificar esse comportamento podendo ser um resultado obtido devido a mineralogia dos solos estudados, pelo manejo adotado ou pela qualidade da pastagem (COUTO; OLIVEIRA, 2011). 27 No Pantanal especificamente, Cardoso et al. (2010), informam que menor EstC se deve ao menor aporte de resíduos orgânicos nas pastagens, determinado pela marcante extração de biomassa na aérea desse ecossistema, e pela pressão de pastejo. O comportamento das médias simuladas na profundidade de 0 – 0,10 m do bioma Amazônico e da Caatinga (Tabela 4), apresentou diferenças significativas na interação dos sistemas estudados. Na Amazônia houve possível superestimação da média da pastagem, enquanto na Caatinga, como sugere Althoff (2015), a média dos estoques de carbono giram em torno de 30 Mg ha -1 com valores simulados com o modelo Century na ordem de 29,5 Mg ha -1 . No Pantanal, os modelos para determinar o estoque do carbono devem levar em consideração os efeitos sazonais da hidrologia característica da região, na qual ocorre período de anaerobiose que favorece o acúmulo de matéria orgânica no solo, portanto, sem essa informação, os modelos podem subestimar os valores de carbono nesse bioma (MELLO et al. 2015). O sistema de manejo pastagem na Amazônia apresentou EstC maior que os demais sistemas abordados, comportamento também observado por Campos et al. (2016), os quais explicam os altos valores de EstC em área sob pastagem na Amazônia devido à presença das gramíneas que exibem efeito rizosférico (SOUZA et al., 2012) ou maior densidade de raízes devido ao seu comportamento fasciculado e teores de carbono orgânico altos nessas áreas (SALIMON et al., 2007; BALIN et al., 2017) dependem da relação entre as adições de carbono (C) pelas plantas e as perdas para a atmosfera, resultantes da oxidação microbiana do C orgânico a CO2 (COSTA et al., 2018). A técnica dos componentes principais (ACP), mostra que os dois primeiros ACP foram responsáveis por 64,21% da variação total, sobre o EstC, sendo o PC1 responsável por 35,10% e o PC2, por 29,11% das variações dos dados (Tabela 5). Esses componentes foram escolhidos por apresentarem autovalores superiores a 1, de acordo com o Critério de Kaiser (JOHNSON; WICHERN, 2002). Tabela 5 – Autovalores e percentual da variância explicada de cada componente. Número de componentes Autovalores % da variância explicada Autovalores acumulados % da variância explicada acumulada PC1 1,40 35,10 1,40 35,10 PC2 1,16 29,11 2,57 64,21 PC3 0,86 21,60 3,43 85,81 PC4 0,57 14,19 4,00 100,00 Fonte: Elaboração do próprio autor. 28 O diagrama de vetores (Figura 3) mostra a sensibilidade dos indicadores numa correlação bidimensional entre os fatores nas componentes 1 e 2. O comprimento dos vetores e direcionamento correspondem a sensibilidade do fator na componente. Assim, é possível observar a variabilidade de um indicador numa relação multivariada. O fator Tipo se aproximou do comprimento de círculo +1, mas não está no mesmo quadrante que o EstC. O fator Sistema se aproximou do comprimento de círculo +0,7 e o fator Profundidade +0,64, ambos no mesmo quadrante, mostrando que além de afetaram positivamente o estoque de carbono, demonstram maior sensibilidade (Figura 3). Neste sentido, o Sistema além de apresentar maior comprimento de vetor e estar no mesmo quadrante está mais próximo à variável resposta, o que permite concluir que este é o fator com maior contribuição para EstC. Figura 3. Projeção dos fatores tipo (amostrado ou simulado), sistema de manejo (Sistema), profundidades (Profundidade) e biomas (Bioma) nas componentes principais e sua contribuição na variável estoque de carbono do solo (*Estoque). Fonte: Elaboração do próprio autor. Os valores de EstC estão mais correlacionados com os Sistemas de manejo do solo, seguidos da Profundidade (camada amostrada do solo) como pode ser verificada na análise de componentes principais (Figura 3). Deste modo, o manejo inadequado do solo, ou a alteração 29 da cobertura vegetal nativa, podem levar a grandes perdas do carbono estocado (DENARDIN et al., 2014). O conjunto de dados representou os EstC em todos os Biomas e Sistemas pré- estabelecidos, corroborando com dados de outras pesquisas (SANTOS, 2019; JOVANOVIC, 2017; ROCHA et al., 2014) nas mesmas áreas que não atenderam os critérios de homogeneidade dos dados. Apesar de algumas diferenças nos resultados de carbono do solo, na Caatinga valores amostrados e simulados podem ser usados para comparar com eficácia os EstC nos biomas realizando comparação cruzada de um mesmo sistema agrícola em diferentes fitofisionomias (COSTA et al., 2018). 2.4 Conclusões O sistema de uso do solo é o fator de maior interferência para a o estoque de carbono no solo. Com a análise dos componentes principais ficou evidenciado que os sistemas de uso é o fator que mais influencia o estoque de carbono nos diferentes biomas, tanto para dados amostrados como simulados. As profundidades de 0,0 - 0,10 ou 0,0 - 0,20 m não evidenciaram diferenças na contribuição de estoque de carbono, no conjunto de dados avaliados. Para os dados amostrados, os sistemas convencional e pastagem apresentaram os menores valores de estoque de carbono do solo, nos biomas Caatinga, Cerrado, Pampas e Pantanal Para os dados simulados, os menores estoques de carbono ocorreram no sistema convencional e na pastagem do bioma Mata-Atlântica. A utilização do sistema convencional no bioma Amazônico pode comprometer o estoque de carbono no solo. Os sistemas de vegetação nativa e práticas agrícolas conservacionista apresentam-se como melhores alternativas para manutenção ou ampliação dos estoques de carbono do solo nos biomas brasileiros. 30 REFERÊNCIAS ALTHOFF, T. D. Adaptação do modelo Century para simulação da produtividade de biomassa e ciclagem do carbono e nitrogênio em áreas de caatinga. 2015. 217 f. Tese (Doutorado em Tecnologias Energéticas e Nucleares) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2015. ARAÚJO, E. A. de. et al. 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Tese (Doutorado em Ciência do Solo) - Faculdade de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016. 33 3 CAPÍTULO 2: ESTOQUE DE CARBONO NO CULTIVO DE EUCALIPTO EM COMPARAÇÃO COM PASTAGEM E CERRADO NATURAL, NO SUDESTE DO MATO GROSSO DO SUL Resumo – Extensas áreas do Mato Grosso do Sul eram cobertas pelo Cerrado, bioma considerado limitante para várias culturas e que foram transformadas em pastagem, que com inadequado manejo houve degradação da pastagem e do solo. Essas mesmas áreas têm se mostrado promissoras sendo utilizadas para plantio de eucalipto utilizadas para tal fim por diversas indústrias de celulose. Objetivou-se com este trabalho verificar o estoque de carbono no solo (EstC) em áreas de cerrado natural, pastagem e cultivo de eucalipto em estádios de desenvolvimento, definindo diante desses usos do solo, qual seria o mais adequado para a manutenção ou ampliação do estoque de carbono ao longo do perfil do solo. Para isto, em 7 áreas, sendo 5 áreas de plantio de eucalipto em estádios de desenvolvimento (3, 5 e 7 anos do primeiro ciclo, e 10 e 14 anos do segundo ciclo de cultivo) com coletas realizadas em duas posições (nas linhas e entrelinhas de plantio), uma área de pastagem degradada e uma de cerrado nativo, divididas em 4 conglomerados, foram coletadas amostras indeformadas de solo, com o auxílio de anéis volumétricos (100 cm³), nas profundidades 0,0 – 0,10, 0,10 – 0,30, 0,30 – 0,60 e 0,60 – 1,00 m. Todas as áreas selecionadas estão localizadas no Sudeste do Mato Grosso do Sul, em solos de textura arenosa e clima do tipo Aw (verão chuvoso e inverno seco). Os dados obtidos foram analisados quanto a estatística descritiva, depois procedeu-se a análise de variância, que seguiu o delineamento em blocos, sendo cada bloco composto por um conglomerado (clusters) em esquema fatorial (5 x 2 + 2) x 4, sendo cinco idades das plantas pós plantio do eucalipto (3, 5, 7, 10 e 14 anos), duas posições (linha e entrelinha) e dois tratamentos adicionais (cerrado e pastagem) em quatro profundidades (0,0 – 0,10, 0,10 – 0,30, 0,30 – 0,60, 0,60 – 1,00 m). O teste F foi utilizado para detectar as diferenças dos fatores e das interações, o teste de Tukey para detectar as diferenças entre as médias dos anos de cultivo, e o teste de Dunnett para comparações entre essas médias com as médias das testemunhas e entre testemunhas. Ao analisar o teor de umidade do solo foram verificadas diferenças significativas em profundidade e tempo de cultivo do eucalipto, na profundidade 0,0 – 0,10 m e no ano 14 (eucalipto 4,1%; Cerrado 6,5% e pastagem 8,1%) e na profundidade 0,10 – 0,30 m e no ano 14 (eucalipto 4,6%, Cerrado 6,7% e pastagem 8,8%). Na resistência do solo à penetração (RP) diferenças foram registradas na profundidade de 0,10 – 0,30 m e no ano 14, na entrelinha (eucalipto 4,01 MPa, Cerrado 1,01 MPa e pastagem 2,04 MPa), e na profundidade de 0,30 – 0,60 m e no ano 14, na entrelinha (eucalipto 4,09 MPa, 34 Cerrado 1,50 MPa e pastagem 2,24 MPa). Na análise do estoque de carbono (EstC) as diferenças significativas de destaque foram constatadas na profundidade de 0,30 – 0,60 m e no ano 14, na entrelinha (eucalipto 10,0 Mg ha -1 , Cerrado 9,89 Mg ha -1 e pastagem 10,96 Mg ha -1 ) e na profundidade de 0,60 – 1,00 m, no ano 14, na linha (eucalipto 11,05 Mg ha -1 , Cerrado 14,47 Mg ha -1 e pastagem 15,20 Mg ha -1 ). A preservação do Cerrado mantém o EstC, condição estatisticamente semelhante ao EstC verificado na conclusão dos ciclos do eucalipto, isto é, 7 e 14 anos. O EstC na pastagem degradada mostra a importância da gramínea na manutenção do carbono orgânico no solo, e consequentemente do EstC. Palavras-chave: resistência do solo à penetração; teor de umidade; ANOVA; teste de Dunnett. Carbon stock under eucalyptus cultivation compared to pasture and natural Cerrado, in southeastern Mato Grosso do Sul Abstract – Extensive areas of Mato Grosso do Sul were covered by Cerrado, a biome considered limiting for several cultures, and which were transformed into pasture, which with inadequate management resulted in pasture and soil degradation. These same areas have shown to be promising for planting eucalyptus and have been used for this purpose by several pulp industries. This work aimed to verify the soil carbon stock (EstC) in areas of natural cerrado, pasture and eucalyptus cultivation, defining in view of these land uses, which is the most suitable for the maintenance or expansion of the carbon stock along the profile of the ground. For this, in 7 areas, being 5 areas of eucalyptus plantation in different stages of development (3, 5 and 7 years of the first cycle, and 10 and 14 years of the second cycle of cultivation) with collections carried out in the lines and between the planting lines. , a degraded pasture area and a native Cerrado area, divided into 4 conglomerates, undisturbed soil samples were collected, with the aid of volumetric rings (100 cm³), at depths 0.0 – 0.10, 0.10 – 0 .30, 0.30 - 0.60 and 0.60 - 1.00 m. All selected areas are located in the Southeast of Mato Grosso do Sul, in sandy textured soils and Aw-type climate (rainy summer and dry winter). The data obtained were analyzed in terms of descriptive statistics, then the analysis of variance was carried out, which followed the design in blocks, with each block composed of a conglomerate (clusters) in a factorial scheme (5 x 2 + 2) x 4, being five ages of eucalyptus plants after planting (3, 5, 7, 10 and 14 years), two positions (row and between rows) and two additional treatments (Cerrado and pasture) at four depths (0.0 – 0.10, 0 .10 - 0.30, 0.30 - 35 0.60, 0.60 - 1.00 m). The F test was used to detect differences in factors and interactions, Tukey's test to detect differences between the averages of the years of cultivation, and Dunnett's test for comparisons between these averages with the averages of the controls and between controls. When analyzing the soil moisture content, significant differences were observed in depth and time of eucalyptus cultivation, at depth 0.0 - 0.10 m and in year 14 (eucalyptus 4.1%; Cerrado 6.5% and pasture 8, 1%) and at depth 0.10 – 0.30 m and in year 14 (eucalyptus 4.6%, Cerrado 6.7% and pasture 8.8%). In soil penetration resistance (RP) differences were recorded at the depth of 0.10 – 0.30 m and at year 14, between the rows (eucalyptus 4.01 MPa, Cerrado 1.01 MPa and pasture 2.04 MPa), and at a depth of 0.30 – 0.60 m and in year 14, between the rows (eucalyptus 4.09 MPa, Cerrado 1.50 MPa and pasture 2.24 MPa). In the analysis of carbon stock (EstC) the significant differences were observed at the depth of 0.30 – 0.60 m and in year 14, between the rows (Eucalyptus 10.0 Mg ha-1, Cerrado 9.89 Mg ha-1). 1 and pasture 10.96 Mg ha -1 ) and at a depth of 0.60 – 1.00 m, in year 14, in the row (eucalyptus 11.05 Mg ha -1 , Cerrado 14.47 Mg ha -1 and pasture 15.20 Mg ha-1). Based on the data analysis, it is evident that the preservation of the Cerrado maintains the EstC, a condition statistically similar to the EstC verified at the conclusion of the eucalyptus cycles, that is, 7 and 14 years. The behavior of EstC in degraded pasture shows the importance of grass in the maintenance of organic carbon in the soil, and consequently of EstC. Keywords: soil resistance to penetration; moisture content; ANOVA; Dunnett's test. 3.1 Introdução O eucalipto é oriundo da Austrália e ao chegar ao Brasil, adaptou-se muito bem às condições climáticas e aos solos aqui existentes, fatores favoráveis ao seu estabelecimento e desenvolvimento. Desta maneira, ao longo do tempo o eucalipto se propagou para diversos estados brasileiros devido à rápida produção de madeira e a qualidade da celulose, o que agrega alto valor econômico à cultura (VECHI; MAGAHÃES, 2018). Segundo dados do IBGE disponibilizados no PEVS (2020), o eucalipto ocupa 99,72% da área de florestas plantadas no Mato Grosso do Sul, com 1,13 milhões de hectares, atrás apenas de Minas Gerais (1,7 milhões de hectares). No sudeste do Mato Grosso do Sul, o cultivo do eucalipto ocupa extensas áreas e continua em franca expansão, com destaque para 36 os municípios de Três Lagoas, Brasilândia, Selvíria e Água Clara, onde é comumente implantado em áreas de pastagens degradadas. Estima-se que 80% dos 50 a 60 milhões de hectares de pastagens cultivadas no Brasil Central encontram-se com alguma degradação, ou seja, em processo evolutivo de perda de vigor, sem possibilidade de recuperação natural (CARVALHO et al., 2017), tornando-se assim áreas atrativas para reflorestamentos. As características de um solo, bem como sua qualidade, são determinadas, em grande parte, pelos organismos nele presente. A relação pode ser direta, como na fragmentação de material orgânico, ou indireta como na sua estruturação, podendo interferir em suas propriedades químicas, físicas e biológicas, e neste sentido, a ocorrência da grama batatais (Paspalus notatum) é um dos sinais de degradação das pastagens (KRYCKI, 2019). Antes de serem transformadas em pastagem e seguir assim até sua degradação, extensas áreas do Mato Grosso do Sul eram cobertas pelo Cerrado, bioma que ocorre em condições edafoclimáticas consideradas limitantes para várias culturas, cujo solo era visto como terra improdutiva. O Cerrado é um dos biomas mais importantes do mundo para a conservação da biodiversidade, pois sua vegetação exerce proteção eficaz aos recursos hídricos e florestais, com a vantagem de consumir relativamente menor quantidade de água para sua própria sobrevivência (DURIGAN et al., 2011), além de se encontrar em região de clima tropical com estação chuvosa no verão e seca no inverno. A vegetação deste bioma é caracterizada como aberta ou floresta semidecidual, possuindo habitats xerofíticos, mésicos e enclaves com regiões úmidas, caracterizadas por árvores de médio porte, galhos e troncos retorcidos, raízes densas já adaptadas ao ambiente de reduzida pluviosidade, durante parte do ano (CONCEIÇÃO, 2012; MENDES et al., 2012; ALMEIDA JÚNIOR et al., 2014). O Cerrado natural, em equilíbrio com o ambiente, é limitado pela capacidade de suporte do meio, e em áreas de solos muito arenosos em regiões com estação seca prolongada, a vegetação tende a ser campestre, mesmo protegida, com arbustos esparsos e árvores pequenas (DURIGAN et al. 2003). O solo sob Cerrado, quando conservado com vegetação nativa em equilíbrio, apresenta características físicas, químicas e biológicas adequadas à manutenção da vegetação, mas qualquer alteração em uma dessas características pode repercutir em todo o conjunto. A introdução da silvicultura, em áreas de Cerrado, coloca a vegetação e o solo em contato com as operações do manejo silvicultural, como o tráfego intenso de máquinas agrícolas ou pisoteio de animais, perda de matéria orgânica, alteração na estrutura do solo, podendo causar efeitos negativos como compactação e erosão (PETEAN, 2011; KRAMER, 2012; MONCADA et al., 2014). 37 A compactação é uma das principais causas da degradação do solo (RALISCH et al., 2008) e os solos mais susceptíveis são os de textura média à moderadamente grosseira (francos, franco arenosos e franco siltosos), devido a maior facilidade de reorganização de suas partículas (RICHART et al., 2005). Assim, um parâmetro bastante utilizado para avaliar a compactação do solo é a resistência do solo à penetração (RP), considerado indicador do grau de compactação, sendo útil para localizar camadas de solo compactadas e de maior densidade (MOLIN et al., 2012; LIMA et al., 2013). A densidade é uma propriedade física que juntamente com os teores de carbono é utilizada para quantificar o estoque de carbono do solo. O carbono orgânico (CO) do solo é reconhecido como um dos significantes indicadores universais da segurança do solo, estando ligado não apenas à mitigação da mudança do clima, mas também à capacidade do solo em prover alimentos, fibra, água e biodiversidade (KOCH et al., 2013). Nos mais diversos estudos na literatura (REGO, 2021; REBELO, 2019; MIRANDA et al., 2021) observa-se que muitas variáveis podem controlar os estoques de C no solo. Em escala regional, as variáveis climáticas, como temperatura e precipitação pluvial, exercem grande importância. Na esfera local, as propriedades do solo, como densidade e fertilidade natural, ganham destaque (BRITO et al., 2018). Segundo destacaram Ivo, Santos e Albuquerque (2018) a supressão da vegetação do Cerrado para uso do solo em outros sistemas de cultivo pode em alguns casos aumentar o CO no solo, mas não se pode negligenciar a perda do CO armazenado na vegetação nativa, indicando que mudanças no uso do solo podem, também, promover a emissão de carbono para a atmosfera. O processo de substituição de áreas de Cerrado nativo por áreas com diferentes usos, tem se intensificado nos últimos anos, como consequência ocorre uma aceleração dos processos de degradação ambiental desse bioma. Diante desse contexto, objetiva-se neste trabalho avaliar os estoques de carbono do solo em três sistemas distintos: Cerrado nativo, pastagem degradada e cultivo de eucalipto, definindo diante desses usos do solo, qual o mais adequado para a manutenção ou ampliação do estoque de carbono ao longo do perfil do solo. 3.2 Material e Métodos As áreas selecionadas para desenvolvimento deste trabalho localizam-se na região sudeste do Estado do Mato Grosso do Sul (Figura 1). O clima na região, segundo a classificação climática de Köppen, é do tipo Aw (tropical úmido, com verão chuvoso e 38 inverno seco), em que a estação chuvosa se estende de meados de setembro até o final de abril, concentrando 90% dos valores pluviométricos, restando para o período de final de abril a final de agosto apenas 10% das chuvas (ALVAREZ et al., 2013). As médias anuais de precipitação e temperatura são respectivamente de 1600 mm e de 23ºC (FIBRACON, 2017). Figura 1 – Áreas abordadas no estudo Fonte: Elaboração do próprio autor. Na região investigada predominam solos classificados como Latossolos Vermelhos e Neossolos Quartzarênicos, de textura média e arenosa, em relevo plano a suave ondulado, onde os solos são geralmente ácidos e de baixa fertilidade natural (SALTON et al., 2013). Amostras foram coletadas em cinco áreas de plantio de eucalipto (com espaçamento de 3,0 m X 2,5 m) em diferentes estádios de desenvolvimento (3, 5 e 7 anos de plantio em primeiro ciclo, e 10 e 14 anos de plantio, em segundo ciclo), em uma área de Cerrado e uma área de pastagem. Cada uma destas áreas foi dividida em 4 conglomerados, sendo coletada uma amostra de solo em cada conglomerado, constituindo quatro repetições por área amostral. As amostras indeformadas foram coletadas com cilindros volumétricos (100 cm 3 ), nas profundidades 0,0 – 0,10, 0,10 – 0,30, 0,30 – 0,60, 0,60 – 1,00 m, mesmo local e 39 profundidade onde foram coletadas amostras deformadas para determinação do carbono orgânico pelo método da perda de massa por ignição (BEN-DOR e; BANIN, 1989). Na determinação do teor de carbono total do solo pelo método da perda de massa por ignição (PMI), utilizaram-se cápsulas de alumínio (24 cm 3 ), sendo as pesagens efetuadas em balança analítica (quatro dígitos decimais). As capsulas foram aquecidas em estufa (105 ± 2 °C, 24 h) com circulação de ar e deixadas esfriar, em dessecador, para pesagem. Na sequência, foram usados cadinhos de porcelana pesados antes do procedimento e depois junto com o solo (TFSA), após isso as amostras foram calcinadas em mufla (400 ± 2 °C, 4 h), resfriadas em dessecador, e pesadas novamente. A densidade do solo (Ds) foi determinada a partir de amostras de solo coletadas em cilindro volumétrico e calculada pela relação entre a massa seca e fresca a 105ºC durante 24 h (TEIXEIRA et al., 2017). O estoque de carbono (EstC) foi calculado segundo Veldkamp (1994), pela equação 1: Equação 1. Onde: EstC = estoque de C orgânico em determinada profundidade (Mg ha - ¹); CO = teor de carbono orgânico na profundidade amostrada (g kg - ¹); Ds = densidade do solo da profundidade (kg dm - ³); e = espessura da camada considerada (cm). Como análise inicial dos dados procedeu-se com a estatística descritiva e verificada a existência de outliers, eles foram eliminados e substituídos pela média, permitindo que a análise estatística fosse calculada com maior rigor possível, evitando-se desta forma alterar a amplitude do desvio padrão, o que afetaria o rigor do critério de exatidão, penalizando ou favorecendo tratamentos. A escolha da média foi por essa estatística ser mais abrangente, mais adequada para este conjunto de dados. Quando o conjunto de dados não apresenta distribuição normal, a mediana torna-se uma estimativa pouco confiável, sendo a média a mais indicada, e mesmo nos casos em que o conjunto de dados apresenta distribuição normal, a média estima melhor o valor a ser substituído (GRIEBELER et al., 2016). Na análise amostral, o processo de repetição, leva a formação da curva da distribuição normal ou distribuição de Gauss, que se 40 trata de uma curva simétrica com resultados acima e abaixo do valor da média, de modo que 68,26% dos dados estão em torno da média ± o desvio padrão. Após verificação da normalidade dos dados por meio do teste de Shapiro-Wilk (1965), procedeu-se a análise de variância, que seguiu o delineamento em blocos, onde cada conglomerado foi considerado bloco, em esquema fatorial com tratamentos adicionais e em parcela subdividida (5 x 2 + 2) x 4 (Tabela 1), sendo cinco momentos pós plantio de eucalipto (3, 5, 7 do primeiro ciclo, 3 e 7 anos do segundo ciclo ou 10 e 14 anos de cultivo do eucalipto), duas posições de coleta de solo (linha e entrelinha do eucalipto) e dois tratamentos adicionais ou testemunhas (Cerrado e pastagem) na parcela, avaliados em quatro profundidades (0,0 – 0,10, 0,10 – 0,30, 0,30 – 0,60, 0,60 – 1,00 m) nas subparcelas (com quatro repetições por talhão, sendo a coleta de amostras do solo de forma deformada com o uso de furadeira de solo a gasolina com broca de área útil de 1,0 m e coletor de solo modelo Saci). O teste F foi utilizado para detectar as diferenças dos fatores e suas interações, e uma vez encontradas diferenças significativas, este teste foi utilizado para a comparação entre posições. O teste de Tukey foi utilizado para comparar as médias entre anos de cultivo e o teste de Dunnett foi utilizado para comparação das combinações dos fatores (ano x posição) com as testemunhas, Cerrado e pastagem, e entre elas. Todos os testes estatísticos foram realizados a 5% de probabilidade e a análise dos dados foi conduzida com o auxílio do software R (R CORE TEAM, 2019) versão 3.6.2. 3.3 Resultados e Discussão Independente da profundidade do solo estudada, a interação Testemunhas (Test) x Eucaliptos (EUCP), para o Teor de Umidade (TU), a Resistência do Solo à Penetração (RP) e o Estoque de carbono (EstC) apresentaram diferenças significativas de acordo com o cultivo realizado. Apenas para o EstC não houve diferenças significativas entre Cerrado e pastagem (Tabela 1). 41 Tabela 1 – Resumo da Análise de variância para as variáveis teor de umidade (TU), resistência do solo à penetração (RP) e estoque de carbono (EstC), analisados nas testemunhas (Cerrado e pastagem) e eucaliptos (3, 5, 7, 10 e 14 anos de cultivo nas linhas e entrelinhas (posição), nas profundidades do solo (0,0 – 0,10; 0,10 – 0,30; 0,30 – 0,60; 0,60 – 1,00 m). FV GL QM TU RP EstC Conglomerados 15 199,5989 ** 54,0429 ns 130,0398 ns Testemunhas (Test) 1 116,9497 ** 21,1032 ** 28,2666 ns Testemunhas x Eucaliptos 1 1863,6737 ** 68,3722 ** 955,9918 ** Eucaliptos = Fatorial 9 36,9107 ** 44,1789 ** 60,6047 ** Anos (Acult) 4 74,1958 ** 64,3408 ** 133,6610 ** Posição (Pos) 1 16,0483 ns 109,0123 ** 0,0003 ns Acult*Pos 4 4,8413 ns 7,8086 ** 2,6996 ns Profundidade (Prof) 3 68,5767 ** 57,5441 ** 1957,6092 ** Prof x Test 33 1,6647 ** 2,6101 ** 14,6960 ** Prof x Acult 12 1,2370 ns 3,8376 ** 9,7403 ** Prof x Pos 3 1,0354 ns 5,0447 ** 0,9691 ns Prof x Acult x Pos 12 1,7791 ** 1,1975 ** 8,2543 ** Média 4,19 2,32 6,60 CV parcela 54,44 53,26 43,91 CV subparcela 20,01 44,36 21,91 Nota: ** , * e ns , significativo a 0,01, 0,05 e não-significativo, respectivamente, pelo Teste F. GL – Graus de Liberdade. QM – Quadrados Médio. Fonte: Elaboração do próprio autor. O Cerrado é um ambiente onde a vegetação se encontra em equilíbrio (COSTA, 2020; COSTA et al., 2018) e a pastagem, embora degradada, está ocupada por uma gramínea, (Paspalum notatum) grama batatais, com sistema radicular fasciculado que passa por frequente renovação, o que contribui para deixar no solo resíduo orgânico (NADAL- ROMERO et al., 2016; NELSON et al., 2017; RAMALHO et al., 2019; SANTOS, 2021), justificando o comportamento similar entre as testemunhas para o EstC. Independente da camada de solo (profundidade), na área de cultivo de eucalipto, TU e EstC tiveram influência apenas dos anos de cultivo (Acult), enquanto para RP pode-se verificar efeito dos Acult, da posição de coleta (Pos) e da interação dessas fontes de variação (Acult x Pos) (Tabela 1). Os O TU e o EstC são influenciados pelos teores de matéria orgânica presente nos solos (SOUZA, 2018; REGO, 2021; SILVA et al., 2019), ondesendo que maiores teores de matéria orgânica podem influenciar positivamente o EstC, como relatado por Tavanti et al. (2020) em trabalho com compartimentos de carbono orgânico em área de Cerrado. De acordo com os autores, o mesmo comportamento explica as variações nos TU, isto é, com maiores 42 teores de matéria orgânica no solo, ocorre maior umidade, e em solos arenosos estes efeitos podem ser mais explícitos do que em solos argilosos (CRUZ, 2021; MARTELOCIO, 2019). Em todas as variáveis avaliadas foi constatado efeito da profundidade (Prof) para as testemunhas e para as combinações dos fatores Acult x Pos, Prof x Test e Prof x Acult x Pos, respectivamente. Comportamento aceito, uma vez que os teores de matéria orgânica diminuem em profundidade e com isto reduz também o EstC. Para Umidade (U) o TU no comportamento entre os tratamentos testemunhas (Cerradocerrado e pastagem) e os eucaliptos foi distinto nas profundidades do solo avaliadas, conforme verificado em Prof x Test e Prof x Acult x Pos (Tabela 1). Verifica-se comportamento crescente nos tratamentos avaliados (pastagem e eucaliptos) à medida que a profundidade aumenta (Tabela 2), apenas no Cerrado não foi encontrada diferença entre as profundidades. Segundo Valente et al. (2019), a RP é mais influenciada pela variação nos teores de umidade do solo e justificam, pois, os teores de umidade estão diretamente relacionados à capacidade do solo para suportar e permitir o trabalho do maquinário agrícola e, ou, o pisoteio animal o que corrobora na situação encontrada no estudo. O comportamento crescente do TU também foi verificado no eucalipto ao longo dos anos, independentemente da posição (linha ou entrelinha) amostrada, com exceção do ano 10, ano de rebrota da cultura, embora a profundidade 0,60 a 1,00 m, na linha, não tenha sido afetada (Tabela 2). Os valores da umidade do solo, no sistema silvopastoril e no eucalipto não apresentaram diferenças entre si, mas ao comparar com o solo da mata nativa (Cerrado) o eucalipto apresentou os menores valores, esse comportamento foi observado no trabalho de Silva (2021). Embora crescente, para TU ao longo da profundidade, o eucalipto proporcionou valores menores que o cerrado (Tabela 2), um fator que pode ter influenciado os menores valores da umidade do solo para a área de eucalipto, são os sistemas radiculares característicos da planta, onde a mudança na dinâmica das raízes finas pelas raízes de sustentação, ocasiona maior taxa de renovação das raízes finas, influenciando diretamente na maior necessidade de absorção de água do solo (AGUIAR JUNIOR et al., 2021). Os TU no Cerrado e na pastagem foram superiores ao eucalipto, pelo teste de Dunnett a 5% de probabilidade em relação ao eucalipto, em todas as combinações dos fatores, exceto para idade de 14 anos pós plantio (7 anos do segundo ciclo) na linha, quando apresentou média semelhante à pastagem. Os TU na pastagem não superaram o cerrado apenas na 43 profundidade de 0,30 – 0,60 m (Tabela 2) o que pode indicar a estabilização do carbono ao final dos ciclos. Tabela 2 – Valores médios para teor de umidade (TU) das testemunhas (Cerrado e pastagem) e eucaliptos (aos 3, 5, 7, 10 e 14 anos de cultivo, nas linhas e entre linhas (posição), nas profundidades do solo (0,0 – 0,10;, 0,10 – 0,30;, 0,30 – 0,60 e, 0,60 – 1,00 m). P ro fu n d id ad es ( m ) Anos de cultivo Posição Entrelinha Z ci ** Linha Z ci ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** X ai Y bi ** ** 0 ,0 – 0 ,1 0 3 NS 1,407 ± 0,144 a1 b1 c1 # * 1,522 ± 0,170 a1 b1 c1 # * 5 NS 2,389 ± 0,193 a1a2 b1 c1 # * 2,895 ± 0,179 a2a3 b1 c1 # * 7 * 2,695 ± 0,070 a2 b1 c1 # * 3,472 ± 0,356 a3a4 b2 c1 # * 10 NS 2,054 ± 0,117 a1a2 b1 c1 # * 2,216 ± 0,087 a1a2 b1 c1 # * 14 ** 2,972 ± 0,301 a2 b1 c1 # * 4,082 ± 0,333 a4 b2 c1 # * Cerrado 6,469 ± 0,484 c1 # Pastagem 8,119 ± 0,532 c1 ** ** 0 ,1 0 – 0 ,3 0 3 NS 2,167 ± 0,153 a1 b1 c2 # * 2,826 ± 0,377 a1 b1 c2 # * 5 NS 3,467 ± 0,241 a2a3 b1 c2 # * 3,165 ± 0,184 a1 b1 c1 # * 7 NS 4,011 ± 0,202 a2a3 b1 c2 # * 4,191 ± 0,227 a2 b1 c1c2 # * 10 NS 3,026 ± 0,127 a1a2 b1 c2 # * 3,032 ± 0,127 a1 b1 c2 # * 14 NS 4,167 ± 0,489 a3 b1 c2 # * 4,636 ± 0,421 a2 b1 c1c2 # * Cerrado 6,719 ± 0,575 c1 # Pastagem 8,784 ± 0,629 c1c2 ** ** 0 ,3 0 – 0 ,6 0 3 ** 2,603 ± 0,233 a1a2 b1 c2c3 # * 3,561 ± 0,309 a1a2 b2 c2 # * 5 NS 3,947 ± 0,227 a2a3 b1 c2c3 # * 3,529 ± 0,196 a1 b1 c1c2 # * 7 NS 4,186 ± 0,197 a2a3 b1 c2c3 # * 4,523 ± 0,206 a2a3 b1 c2 # * 10 NS 3,553 ± 0,218 a1a2 b1 c2 # * 3,525 ± 0,224 a1 b1 c2c3 # * 14 * 4,545 ± 0,553 a3 b1 c2 # * 5,410 ± 0,534 a3 b2 c3 # ns Cerrado 7,002 ± 0,567 c1 ns Pastagem 8,750 ± 0,594 c1c2 ** ** 0 ,6 0 – 1 ,0 0 3 NS 2,445 ± 0,082 a1a2 b1 c3 # * 2,970 ± 0,448 a1 b1 c2 # * 5 NS 4,583 ± 0,230 a3 b1 c3 # * 4,141 ± 0,157 a2a3 b1 c2 # * 7 * 4,906 ± 0,081 a3 b2 c3 # * 4,065 ± 0,230 a2a3 b1 c1c2 # * 10 * 3,473 ± 0,173 a2 b1 c2 # * 4,287 ± 0,336 a2a3 b2 c3 # * 14 * 4,249 ± 0,449 a2a3 b1 c2 # * 5,131 ± 0,410 a3 b2 c2c3 # * Cerrado 6,708 ± 0,623 c1 # Pastagem 8,893 ± 0,744 c2 Nota: ** , * e NS , significativo a 0,01, 0,05 e não-significativo, respectivamente, pelo Teste F. X ai , Y bi , Z ci diferenças dos desdobramentos da interação tripla. X diferença entre Acult na mesma Pos na mesma Prof, Y diferença entre Pos para mesmo Acult na mesma Prof e Z diferença entre Prof para o mesmo Acult e mesma Pos. ai, bi e ci com códigos distintos demonstram diferença significativa entre médias pelo teste de Tukey a 5%. ai, compara as médias do EstC entre anos de cultivo, na coluna, dentro de cada Prof, e mesma Pos. 44 bi, compara as médias de TU entre Pos, na linha, para o mesmo ano e a mesma profundidade. ci, compara as médias de TU entre profundidades, na coluna a cada oito linhas, para o mesmo Acult e mesma Pos. #, * e ns, compara as médias de TU entre anos de cultivo e as testemunhas. #, * significativo a 5% pelo teste de Dunnett para pastagem e Cerrado respectivamente, e, “ns” não-significativo a 5% pelo teste de Dunnett. Fonte: Elaboração do próprio autor. Os teores de umidade não variaram significativamente nas posições linha e entrelinhas no eucalipto na maioria das combinações ano x profundidade. No entanto, algumas médias foram superiores, o que ocorreu nas amostras coletadas na linha na profundidade de 0,0 a 0,10 m nos eucaliptos de 7 e 10 anos, na profundidade de 0,30 – 0,60 m aos 3 e 14 anos de cultivo, na profundidade de 0,60 – 1,00 m nos anos 0,10 e 0,14, e situação contrária, com maiores médias nas entrelinhas, na profundidade de 0,60 – 1,00 m no ano 7 do eucalipto (Tabela 2). O comportamento da RP nos tratamentos pastagem e eucalipto foi distinto para as profundidades avaliadas (Tabela 1), não tendo variado em profundidade apenas no Cerrado (Tabela 3). A RP foi crescente para pastagem e eucalipto, com exceção para o eucalipto de 7 e 14 anos, na linha, onde a RP ficou entorno de 2 e 3 MPa. No trabalho, realizado por Freitas et al. (2012), ao estudarem diferentes formas de manejo: floresta nativa, agroflorestal, pastagem e outra área recentemente convertida para uso agrícola, foram observados valores de RP superiores a 4 MPa em áreas de pastagem. Quando comparado às áreas com sistemas agroflorestais, os valores foram menores que 1 MPa; enquanto em uma área de mata nativa cortada, os valores ficaram entre 2 e 3 MPa na camada superficial (0,0 a 0,20 m), valores semelhantes ao encontrados na linha do eucalipto nos anos de 7 e 14 desse estudo. Independente da profundidade e da posição, no eucalipto ao longo dos anos, a menor média para RP foi obtida aos 5 anos, apresentando diferença significativa entre os demais, com exceção da composição profundidade 0,0 – 0,10 m na Linha, em que os valores não diferiram estatisticamente (Tabela 3). No estudo de Serpa et al. (2020), mesmo não havendo diferenças entre as profundidades para RP, os menores valores ocorreram na camada 0 – 0,10 m. Esse resultado foi justificado pelo preparo do solo na área e o tipo de sistema radicular das culturas avaliadas, Cerrado Nativo, Cerrado em Regeneração, eucalipto e Cana-de-açúcar. O preparo convencional mantém a baixa densidade do solo e aumento da porosidade total, principalmente na camada superficial, favorecendo a desagregação da estrutura física do solo e a menor RP (MARASCA et al., 2015). Para a RP, o eucalipto ao longo dos 5 anos não apresentou diferenças das testemunhas (Cerrado e pastagem) pelo teste de Dunnett a 5%, em todas as combinações dos fatores, com 45 exceção da amostra retirada na linha nas profundidades 0,10 a 0,30 e 0,60 a 1,00 m, nestas as médias foram inferiores à pastagem. No ano 14 e na linha de plantio, todas as médias foram semelhantes à pastagem, independente da profundidade. A pastagem foi superior ao Cerrado, com maior resistência, apenas na profundidade de 0,10 a 0,30 m (Tabela 3). Tabela 3 – Valores médios para variável Resistência à penetração (RP) das testemunhas (Cerrado e pastagem) e eucaliptos (aos 3, 5, 7, 10 e 14 anos de cultivo, nas linhas e entrelinhas (posição), nas profundidades do solo (0,0 – 0,10; 0,10 – 0,30; 0,30 – 0,60 e 0,60 – 1,00 m). P ro fu n d id ad e (m ) Ano Posição Entrelinha Z ci ** Linha Z ci ns ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** X ai Y bi ** NS 0 ,0 – 0 ,1 0 3 NS 1,904 ± 0,288 a1a2 b1 c1 ns * 1,312 ± 0,189 a1 b1 c1 ns ns 5 NS 0,974 ± 0,166 a1 b1 c1 ns ns 0,689 ± 0,160 a1 b1 c1 ns ns 7 NS 2,127 ± 0,275 a2 b1 c1 ns * 1,600 ± 0,406 a1 b1 c1 ns ns 10 NS 1,023 ± 0,200 a1 b1 c1 ns ns 1,246 ± 0,194 a1 b1 c1 ns ns 14 * 2,409 ± 0,353 a2 b2 c1 ns * 1,493 ± 0,354 a1 b1 c1 ns ns Cerrado 0,817 ± 0,116 c1 ns Pastagem 1,532 ± 0,116 c1 ** ** 0 ,1 0 – 0 ,3 0 3 ** 3,751 ± 0,369 a2 b2 c1c2 # * 2,1424 ± 0,346 a2a3 b1 c2 ns * 5 NS 1,458 ± 0,099 a1 b1 c2 ns ns 1,0761 ± 0,156 a1 b1 c1 # ns 7 * 3,924 ± 0,316 a2 b2 c2 # * 2,9369 ± 0,300 a3 b1 c1c2 ns * 10 ** 3,255 ± 0,285 a2 b2 c2 # * 1,7965 ± 0,275 a1a2 b1 c2 ns ns 14 ** 4,016 ± 0,495 a2 b2 c2 # * 2,0233 ± 0,308 a1a2a3 b1 c1c2 ns * Cerrado 1,011 ± 0,099 c1 # Pastagem 2,040 ± 0,185 c1c2 ** ** 0 ,3 0 – 0 ,6 0 3 NS 3,541 ± 0,216 a2 b1 c2 # * 3,448 ± 0,371 a3 b1 c2 # * 5 NS 1,154 ± 0,056 a1 b1 c2c3 ns ns 1,160 ± 0,041 a1 b1 c1c2 ns ns 7 * 3,479 ± 0,325 a2 b2 c2c3 # * 2,544 ± 0,292 a2a3 b1 c2 # * 10 ** 4,009 ± 0,333 a2 b2 c2 # * 2,926 ± 0,324 a2a3 b1 c2c3 # * 14 ** 4,086 ± 0,275 a2 b2 c2 # * 2,177 ± 0,221 a1a2 b1 c3 ns * Cerrado 1,496 ± 0,175 c1 ns Pastagem 2,244 ± 0,188 c1c2 ** ** 0 ,6 0 – 1 ,0 0 3 NS 2,999 ± 0,245 a2 b1 c2 # * 2,301 ± 0,230 a2 b1 c2 ns * 5 NS 1,154 ± 0,066 a1 b1 c3 ns ns 1,004 ± 0,114 a1a2 b1 c2 # ns 7 * 3,177 ± 0,254 a2 b2 c3 # * 2,360 ± 0,297 a2 b1 c1c2 ns * 10 ** 2,763 ± 0,214 a2 b2 c2 ns * 1,989 ± 0,194 a1a2 b1 c3 ns * 14 ** 3,504 ± 0,295 a2 b2 c2 # * 1,975 ± 0,281 a1a2 b1 c2c3 ns * Cerrado 1,140 ± 0,095 c1 ns 46 Pastagem 1,896 ± 0,097 c2 Nota: ** , * e NS , significativo a 0,01, 0,05 e não-significativo, respectivamente, pelo Teste F. X ai , Y bi , Z ci diferenças dos desdobramentos da interação tripla. X diferença entre Acult na mesma Pos na mesma Prof, Y diferença entre Pos para mesmo Acult na mesma Prof e Z diferença entre Prof para o mesmo Acult e mesma Pos. ai, bi e ci com códigos distintos demonstram diferença significativa entre médias pelo teste de Tukey a 5%. ai, compara as médias de RP entre anos de cultivo, na coluna, dentro de cada Prof, e mesma Pos. bi, compara as médias de RP entre Pos, na linha, para o mesmo ano e a mesma profundidade. ci, compara as médias de RP entre profundidades, na coluna a cada oito linhas, para o mesmo Acult e mesma Pos. #, * e ns, compara as médias de RP entre anos de cultivo e as testemunhas. #, * significativo a 5% pelo teste de Dunnett para pastagem e Cerrado respectivamente, e, “ns” não-significativo a 5% pelo teste de Dunnett. Fonte: Elaboração do próprio autor. Na profundidade de 0,0 – 0,10 m, todos os eucaliptos foram semelhantes à pastagem pelo teste de Dunnett a 5% (Tabela 3) quanto a RP. Para Cerrado foram verificadas médias superiores e distintas para os anos 3, 7 e 14 na entrelinha. Nas demais profundidades, o eucalipto aos 3, 7, 10 e 14 anos, amostrados na entrelinha, apresentaram médias superiores e distintas das Testemunhas, com exceção do eucalipto aos 10 anos na profundidade 0,60 a 1,00 m que não diferiu da pastagem, independentemente da posição, apesar de apresentar maior e menor valor do que a média para pastagem na linha e entrelinha, respectivamente (Tabela 3). Na linha, o comportamento do eucalipto em relação às testemunhas foi distinto quanto a RP. Houve diferença significativa da pastagem pelo teste de Dunnett a 5%, sendo que foram constatadas médias menores para o eucalipto de 5 anos nas profundidades 0,10 – 0,30 e 0,30 – 0,60 m e médias maiores no eucalipto aos 7 e 10 anos, na profundidade 0,30 a 0,60 m, e nos demais tratamentos não houve diferenças significativas em relação à pastagem (Tabela 3). Em relação ao Cerrado, o eucalipto aos 3, 7, 10 e 14 anos foram significativos e superiores para RP, com exceção do eucalipto aos 10 anos na profundidade de 0,10 a 0,30 m que assim como os demais (mencionados anteriormente) não apresentou diferenças em relação ao Cerrado. Para o EstC, os tratamentos pastagem e eucaliptos apresentaram comportamento crescente e distinto a partir das profundidades, onde nos tratamentos eucalipto aos 7 anos na linha e eucalipto aos 14 anos na entrelinha, o comportamento foi crescente e distinto da profundidade de 0,0 a 0,10 m, até a profundidade de 0,30 a 0,60 m, mas não apresentou diferenças entre a profundidade de 0,30 a 0,60 m e de 0,60 a 1,00 m (Tabela 4). Coser et al. (2018), avaliando a transição de uma pastagem degradada para um sistema de agrofloresta com Panicum maximum e Gliricidia sepium no Distrito Federal - BR, verificaram para o sistema agroflorestal, o aumento do estoque de C na camada superficial de 5,26 a 6,65 Mg ha -1 no decorrer de 4 anos do sistema, além de proporcionar a qualidade da matéria orgânica do solo, confirmando seu potencial para ser usado como prática agrícola em termos de melhoria do solo e sequestro de C de curto prazo. O que se assemelha ao comportamento deste estudo, que foi verificado crescimento de EstC na profundidade 0,0 de 47 0,10 m no sétimo ano dos dois ciclos do eucalipto devido a incorporação da matéria orgânica no período e a pouca movimentação de maquinário no interior dos talhões. A maior média do eucalipto ao longo dos anos para o EstC, independente das profundidades e das posições, foi obtida aos 14 anos, com exceção da profundidade 0,60 – 1,00 m na entrelinha, apresentando diferença significativa entre os demais (Tabela 2) isso se deve ao acúmulo de resíduos, raízes na linha e depois entrelinhas com a inversão de entrelinha para linha no 2º ciclo. Na profundidade de 0,0 – 0,10 m, as médias para EstC aos 3 e 10 anos na entrelinha e 3, 5 e 10 na linha do eucalipto, diferiram estatisticamente das médias da pastagem (sendo observado valores menores de EstC no eucalipto) pelo teste de Dunnet a 5% (Tabela 2). O eucalipto com 10 anos na Entrelinha e 3 anos na Linha apresentaram médias inferiores e distintas do Cerrado na mesma profundidade, para os demais não houve diferenças entre as testemunhas. Na profundidade de 0,10