UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS DE MARÍLIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EDNÉIA APARECIDA PERES HAYASHI DIFICULDADES DE LEITURA E PROBLEMAS DE INDISCIPLINA: APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DA EQUIVALÊNCIA DE ESTÍMULOS E O PROCEDIMENTO DE EXCLUSÃO MARÍLIA 2002 EDNÉIA APARECIDA PERES HAYASHI DIFICULDADES DE LEITURA E PROBLEMAS DE INDISCIPLINA: APLICAÇÃO DA METODOLOGIA DA EQUIVALÊNCIA DE ESTÍMULOS E O PROCEDIMENTO DE EXCLUSÃO Trabalho apresentado à Faculdade de Filosofia e Ciências – UNESP - Campus de Marília, sob a orientação do Prof. Dr. Kester Carrara, como parte dos pré-requisitos para obtenção do título de Mestre em Educação. MARÍLIA 2002 Aos meus pais Antonio e Elci e ao meu esposo Rodrigo, pela paciência, carinho e colaboração com que tiveram comigo, a fim de que eu pudesse realizar esse trabalho. AGRADECIMENTOS À Deus, por ter me dado saúde e força para que essa etapa fosse concretizada. À CAPES, por ter me concedido a bolsa de estudos, que se constituiu em estímulo para o desenvolvimento da pesquisa. Ao Prof. Dr. Kester Carrara, pela competência e dedicação dispensadas na orientação dessa pesquisa. Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNESP de Marília, pela competência com que ministraram as disciplinas. Às professoras componentes da Banca Examinadora, Tania Moron Saes Braga e Maria Regina Cavalcante, pelas pertinentes sugestões e pela postura ética e profissional na avaliação da presente pesquisa. À Supervisora do Ensino Fundamental do Colégio em que a pesquisa foi desenvolvida, por ter facilitado o desenvolvimento da mesma em tal instituição. À secretária da diretoria da UNESP, por diversas vezes ter dispendido seu tempo e atenção para que questões relacionadas com a pesquisa fossem solucionadas. A todas as funcionárias do setor de Pós-Graduação, pela atenção quanto ao atendimento e realização das tarefas solicitadas. À Profª. Drª. Verônica Bender Haydu, a qual contribuiu muito com seus ensinamentos acerca da área de equivalência de estímulos, tema da presente pesquisa. Aos sujeitos da pesquisa, por sua inestimável contribuição à ciência. SUMÁRIO RESUMO 1-INTRODUÇÃO .................................................................................1 2-MÉTODO...........................................................................................43 2.1Sujeitos .............................................................................................43 2.2 Materiais e local ..............................................................................43 2.3Procedimento ...................................................................................47 3- RESULTADOS ................................................................................54 4- DISCUSSÃO ....................................................................................67 RESUMO Encontra-se na literatura que dificuldades em atividades acadêmicas estão, comumente, relacionadas com comportamentos considerados como de indisciplina em sala de aula, tais como: comportamentos considerados como de agressividade; isolamento; andar pela sala, perturbar os colegas, etc. Crianças que apresentam dificuldades de leitura e escrita são, em sua maioria, avaliadas de forma negativa por seus professores e por colegas. A Análise Experimental do Comportamento tem proposto métodos de ensino de leitura e escrita, envolvendo os procedimentos de discriminação condicional e de exclusão, e avaliando as possíveis relações emergentes. O objetivo deste estudo foi o de investigar se a tecnologia de equivalência de estímulos e o procedimento de exclusão, reduzindo dificuldades de leitura e escrita, também reduzem comportamentos avaliados como de indisciplina. Participaram uma professora do Ensino Fundamental, que ministra aulas de reforço, e 4 alunos apresentando dificuldades de leitura/escrita e comportamentos considerados indisciplinares, conforme relato dos professores regulares. O procedimento ocorreu em 3 fases: na Fase I realizou-se a seleção dos participantes, um teste de leitura com os alunos, para estabelecer a linha de base de leitura, e aplicação do inventário TRF (Teacher's Report Form) com os professores regulares. Na Fase II houve o treinamento da professora com o método da equivalência de estímulos e, em seguida, a professora conduziu as sessões experimentais com os alunos para a aplicação da tecnologia de equivalência de estímulos e procedimento de exclusão, para o ensino de leitura de palavras. Foram realizadas 12 sessões, sendo 10 para o ensino das palavras de treino (2 em cada sessão) e 2 para os testes extensivos de generalização. E, finalmente, na Fase III reaplicou-se o Inventário TRF com os professores regulares, a fim de verificar se houve redução dos comportamentos antes avaliados como indisciplinares. Os resultados indicam que o programa de ensino de leitura e escrita, por meio da combinação dos procedimentos de discriminação condicional e o de exclusão, contribui para a aprendizagem de leitura de todas as palavras de treino e de novas palavras, as quais não foram diretamente ensinadas aos sujeitos. Quanto aos resultados obtidos com o Inventário TRF, a redução nos escores, embora a maioria tenha apresentado-se baixa, parece considerável e indicadora da eficiência da metodologia utilizada também enquanto promotora de melhora em comportamentos relacionados com indisciplina, conforme avaliação dos professores. Palavras-chave: indisciplina; dificuldades de leitura/escrita; discriminação condicional Abstract In some literature we can find that the problems in academic activities are commonly related to behaviors considered as indiscipline in classroom, like: aggressiveness, isolation, walking around the classroom; disturbing the classmates, etc. Children who present difficulties in reading and writing are evaluated in a negative way by their teachers and classmates. The Experimental Behavior Analysis have proposed teaching methods of reading and writing, involving the procedures of discrimination and exclusion and analyzing the possible relationship that might appear. The objective of this study was to investigate if the ‘stimulus equivalences technology’ and the exclusion procedures, which reduce the difficulties in reading e writing, would also reduce unruly behavior. In this study took part: a teacher of “Ensino Fundamental”, that administers reinforcement classes and 4 students who presented reading and writing difficulties and also unruly behaviors according to their regular teachers. The procedure occurred in three phases: In phase I, there was a selection of the participants, a reading test which the students were submitted to establish the reading line and the applying of the TRF inventory (Teacher’s Report Form) to the regular teachers. In phase II, the teacher was trained with the method of stimulus equivalences and after that she led the experimental sections with the students for the application of the ‘stimulus equivalences technology’ and exclusion procedures, for the teaching of reading words. There were 12 sections, 10 to the training words teaching (2 in each section) and 2 for the generalization of extensive tests. And finally, in phase 3 we reapplied the TRF inventory to the regular teachers, to verify if there was a reduction of the unruly behavior. The results pointed that the reading and writing teaching program combined with the conditional discrimination and exclusion procedures, contributed to the reading learning of all the training words and new ones as well, which were not directly taught to the individuals. Concerning the results obtained from the TRF inventory, the reduction in the scores, although the majority has presented low ones, it seems to confirm the efficiency of the used methodology and the improvement related to unruly behaviors, according to the teachers evaluation. Key words: indiscipline, reading/writing difficulties, conditional discrimination 1- INTRODUÇÃO As dificuldades de leitura constituem fato que, comumente, encontra-se presente na situação educacional e vem acompanhado, em muitos casos, de comportamentos considerados como de indisciplina, como por exemplo perturbar os colegas ou envolver-se em brigas, ou ainda levantar-se e andar pela sala enquanto o professor está explicando a lição. Em muitas escolas regulares, especialmente as públicas, os programas e atividades de ensino são pouco adequados e não têm condições de gerar aprendizagem e nem de manter a participação e engajamento de todos os alunos nas atividades de sala de aula (DE ROSE,1999). Por meio de estudos de laboratório e aplicados, a Análise Experimental do Comportamento desenvolveu uma metodologia educacional que tem facilitado o ensino da leitura. Essa metodologia é baseada no princípio da equivalência de estímulos e envolve o procedimento da discriminação sem erro, mostrando-se como mais um recurso para o ensino. Testar se essa metodologia, quando aplicada a situações típicas de dificuldades de leitura, responde apropriadamente em termos de mudanças dos comportamentos-alvo, bem como investigar eventual generalização dos resultados para comportamentos não diretamente tratados pelo programa, constitui objetivo da presente pesquisa, cujos resultados podem contribuir para a melhor compreensão das interações aluno-ambiente educacional, no que diz respeito aos comportamentos-alvo já mencionados (dificuldades de leitura). Educação, Visão de Homem e Aprendizagem Educação implica processo, o qual envolve a ação do educador sobre o educando, com o fim de estimular sua aprendizagem e o pleno desenvolvimento como homem integral. O objetivo da educação, segundo Makiguti (1995), é orientar o processo de aprendizagem, atribuindo responsabilidades tanto para o educador como para o educando, por considerá-los membros ativos de tal processo. A educação está diretamente relacionada com a filosofia e, de modo particular, com a visão de homem (TOBIAS, 1986). Uma vez que, tendo-se determinada conceituação de homem, tanto os pais e a escola, quanto o Estado e a comunidade em geral, procurarão formar o educando de acordo com a visão de homem adotada por eles. Como as conceituações de educação dependem das filosofias e concepções acerca do homem, existem diferentes e até opostas conceituações de educação. Um ponto em comum entre as conceituações educacionais, conforme aponta Tobias (1986), é o princípio de que a educação existe somente onde inicia o mundo da livre escolha, a qual torna possível a pessoa caminhar para uma diante de várias alternativas. Em termos de educação, pode-se considerar dois conceitos: o conceito de potência, que é a capacidade de transmissão ou recebimento de algo; e o conceito de ato, referente ao fato de ser ou de ter recebido algo. ...Como, porém, atualizar as potencialidades de alguém é realizar atos para este alguém e não para outra pessoa, percebe-se que toda e qualquer educação só pode e deve ser, antes de mais nada, ato da pessoa a ser educada; sem a participação essencial e principal do educando, o ato poderá ter todas as aparências exteriores e toda a aprovação oficial do Estado, ou dos pais, ou da sociedade, ou de todos juntos, que não deixará por isso de ser paródia do ato educacional, caricatura de educação, pois o mal feito não foi percebido. Educar, pois é, atualizar as potencialidades, é enriquecer- se o educando (TOBIAS, 1986, p. 72). Para que as potencialidades do educando possam ser concretizadas, carece da comunidade a que está inserido dispor os meios necessários para isso. Todavia, o educando deverá ter autonomia para se desenvolver e realizar o ato, a partir do auxílio dos adultos. Educação é aquela que coloca o aprendiz como atuante de sua própria experiência, como construtor de sua história. Caso não o seja, não pode ser considerada educação a relação depositante/depositário. Educar, para Tobias (1986), implica em finalidade e, consequentemente, amor. As relações da finalidade educacional com o amor, mediante o conhecimento, são essenciais para a educação, pois revelam como apenas se pode realmente educar para uma meta quando esta for propósito para o educador e para o educando, e não apenas para um. A educação, portanto, inclui amor, indispensavelmente. Constata-se que, ao longo dos séculos, a preocupação com a instrução, somente, foi acentuada, de modo que o amor, a educação propriamente dita, foi sendo esquecida ou posta em segundo plano. O amor educacional pode ser compreendido de diversas formas. Em se tratando do educador, pode ser amor aos objetivos da educação, amor à pátria, amor à escola, amor ao educando enquanto pessoa etc. O amor advindo do educando poderá ser amor à pessoa do educador como instrutor, amor à escola, amor à instrução, amor à educação, dentre outros. O amor no campo educativo possibilita o caminhar do educando para a finalidade da educação, que trata-se do desenvolvimento de suas potencialidades, traduzido na aprendizagem, e a valorização de suas experiências. Releva notar que a finalidade educacional nada mais é do que o planejamento de objetivos a que se quer atingir e os métodos que possibilitarão, ou não, o cumprimento das metas propostas, o aprender. Todo método exige dois constituintes: primeiro, conhecimento, isto é, teorias acerca do assunto e, segundo, experiências, ou seja, prática a respeito desse assunto. O método, em resumo, é o meio para tornar concreto o processo da aprendizagem. Tal processo requer a participação de todos os envolvidos, educadores e educandos, e, comumente, baseia-se em concepções de homem, como por exemplo, as concepções de Vygotsky, Piaget e Skinner. No meio educacional, as obras de Vygotsky e de Piaget são amplamente difundidas, motivo pelo qual serão citadas resumidamente no presente estudo. Já a obra de Skinner, todavia, por ser fundamento dessa pesquisa, será detalhadamente abordada. Para Vygotsky, desde o nascimento da criança, o aprendizado está relacionado ao desenvolvimento e é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas. Conforme cita Oliveira (1997), referente à obra de Vygotsky, existe um percurso de desenvolvimento, em parte definido pelo processo de maturação do organismo individual, pertencente à espécie humana, mas é o aprendizado que possibilita o despertar de processos internos que, não fosse o contato com certo ambiente cultural, não ocorreriam. Ao se abordar desenvolvimento, busca-se compreender o percurso feito pela criança, ou seja, até onde ela já caminhou, o que consegue fazer de forma independente. Tal capacidade de realizar tarefas sozinha é denominada nível de desenvolvimento real, a qual caracteriza o desenvolvimento de maneira retrospectiva, referindo-se a etapas já alcançadas pela criança. Deve-se considerar também o nível de desenvolvimento potencial, que é a sua capacidade de desempenhar tarefas com a ajuda de adultos ou de companheiros mais capazes. A partir desses dois conceitos de níveis de desenvolvimento – real e potencial – que Vygotsky define a zona de desenvolvimento proximal como a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar por meio da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado pela solução de problemas com ajuda do outro. Se o aprendizado proporciona desenvolvimento, e se na situação educacional o aprendizado é um resultado desejável, então a intervenção do educador é um processo pedagógico vantajoso. Assim, o professor tem o papel de interferir na zona de desenvolvimento proximal dos estudantes, provocando avanços que não aconteceriam sem um incentivo. Em se tratando da obra de Piaget, essa constitui um conjunto de teses formuladas para responder a questões relacionadas com a origem e o desenvolvimento da capacidade cognitiva do ser humano. Quanto ao desenvolvimento cognitivo e aprendizagem, Piaget coloca que eles não se confundem: o primeiro é um processo que ocorre naturalmente e apóia-se predominantemente no biológico. Aprendizagem, porém, é um processo mais restrito, causado por situações específicas e subordinado tanto à equilibração quanto à maturação. Segundo COLL et al. (1998), para Piaget, o desenvolvimento cognitivo do indivíduo acontece devido a constantes desequilíbrios e equilibrações. O aparecimento de uma nova possibilidade orgânica no indivíduo ou a mudança de alguma característica do meio ambiente, por mínima que seja, provoca a ruptura do estado de repouso, causando um desequilíbrio. Então, para atingir um novo estado de equilíbrio é preciso acionar 2 mecanismos: assimilação e acomodação. Assimilação trata-se de uma nova experiência que a criança irá adquirir. A partir desse mecanismo é que o organismo desenvolve ações destinadas a atribuir significações, considerando sua experiência anterior, aos elementos do ambiente com os quais interage. Já o mecanismo referente à Acomodação promove o restabelecimento de um equilíbrio superior com o meio ambiente, isto é, o organismo é impelido a se modificar, a se transformar para se ajustar às exigências impostas pelo ambiente. De acordo com a concepção piagetiana, a aprendizagem contribui para o desenvolvimento na medida em que aprender não é copiar ou reproduzir a realidade. Aprendemos quando somos capazes de elaborar uma representação pessoal sobre um objeto da realidade ou conteúdo que pretendemos aprender. Tal concepção oferece ao professor um referencial para analisar e fundamentar muitas das decisões que estipula no planejamento e no decorrer do ensino – por exemplo, dela são extraídos critérios para comparar materiais didáticos; para elaborar instrumentos de avaliação coerentes com o que se ensina; para promover tarefas que sejam desafiadoras para os alunos, provocando desequilíbrios e equilibrações; para elaborar unidades didáticas, enfim, para nortear o educador no processo de aprendizagem dos seus educandos. Quanto à proposta de Skinner, aprendizagem e desenvolvimento são interligados, pois dizem respeito à interação entre o organismo e o ambiente. Um dado comportamento é aprendido quando produz consequências no ambiente e essas retroagem sobre ele, alterando sua probabilidade de ocorrência no futuro. Se as consequências produzidas pelo comportamento forem reforçadoras, essas fortalecerão comportamentos similares ao que as produziu, sendo esse processo denominado condicionamento operante. O termo aprendizagem é utilizado por Skinner para descrever a redistribuição de respostas em uma situação complexa. Ou seja, condicionamento operante é o meio pelo qual o ambiente modela o repertório básico com o qual andamos, falamos, dirigimos um automóvel. Na ocorrência de uma alteração no ambiente, como um novo amigo ou um novo automóvel, o comportamento adapta-se prontamente assim que adquirirmos novas respostas em detrimento das antigas. Skinner e o Behaviorismo Radical na Educação Os princípios do Behaviorismo Radical, que é a filosofia da Análise do Comportamento, de Skinner, apesar de não terem sido formulados especificamente na área acadêmica, podem ser transpostos para o âmbito da escola. Segundo Da Cunha (1998), de certos princípios behavioristas decorrem sugestões consideráveis para a organização do processo de ensino e aprendizagem. Reflexões propostas pelo Behaviorismo, como a análise funcional do comportamento, a instalação de novos comportamentos e modificação de padrões comportamentais existentes, o torna capaz de ser aplicado à educação. Do ponto de vista do Behaviorismo Radical, como aponta Robinson (2001), educação envolve contingências que dizem respeito às condições nas quais os eventos comportamentais acontecem e que são relacionados com outros eventos. Pelo ambiente escolar não remeter-se unicamente à uma contingência educacional, e sim a um conjunto de circustâncias, esse conjunto é denominado macrocontingência. Considera-se outros contextos, atuais e passados, em que os participantes da educação encontram-se: social, político, econômico, religioso, familiar, história de aprendizagem etc., a fim de compreender como se dão as relações ensino-aprendizagem. Releva citar, breviamente, os princípios da abordagem comportamental aplicados à educação e descritos por Robinson (2001): Princípio 1: O comportamento do educador e o do educando é um evento natural e, portanto, passível de observação e de mensuração. Princípio 2: O comportamento tanto do educador como do educando é resultado de sua interação com o ambiente, abrangendo esse eventos físicos, químicos, biológicos e comportamentais. Princípio 3: Sendo o comportamento do educador e do educando um processo natural, ambos encontram-se sujeitos a leis, que são: reforçamento positivo, reforçamento negativo, punição, extinção dentre outras. Princípio 4: As consequências positivas que os educadores obtêm por ensinar e os educandos por estudar é que selecionam e mantêm o comportamento de ensinar, para o primeiro, e o de estudar, para o segundo. Princípio 5: O educador não só ensina comportamentos aos educandos como também os ensina que determinados eventos lhes são reforçadores, neutros ou aversivos. Princípio 6: os comportamentos do educador e do educando estão em constante interação, sendo bidirecional. Princípio 7: Todo educador e todo educando devem ser considerados como pessoas e tratados com dignidade. Esse princípio revela a preocupação do Behaviorismo quanto à cidadania, à individualidade do ser humano, o que muitas vezes é equivocado pela crítica. Princípio 8: O Behaviorismo Radical considera o educador e o educando como pessoas únicas, dentro de um grupo. Essa filosofia promove a utilização de métodos de ensino personalizados e sistemas de avaliação não comparativos. Princípio 9: Todo educador e todo educando são livres e podem modificar seu ambiente. Princípio 10: O comportamento do educador e do educando não está predestinado, de modo que o primeiro pode aprender a ensinar eficientemente e o segundo estudar o obter êxito nessa tarefa. Princípio 11: Para ensinar com efetividade o educador carece conhecer e aplicar os princípios comportamentais da Análise do Comportamento. Princípio 12: O Behaviorismo Radical apóia o emprego do reforçamento positivo para a modelagem e manutenção do comportamento, como fornecer retorno às respostas dos educandos, proporcionar-lhes informações atualizadas, apoiá-los, dar-lhes textos que mantenham seu interesse etc. Princípio 13: A filosofia comportamental da educação enfatiza a utilização do reforçamento natural para a manutenção do comportamento. Princípio 14: O Behaviorismo Radical propõe o uso de extinção para comportamentos considerados pela comunidade verbal com sendo inadequados e reforçamento para os adequados, ao invés do castigo. Princípio 15: É uma das propostas do behaviorismo Radical o emprego da modelagem, que trata-se de reforçar aproximações sucessivas de um comportamento-meta. Princípio 16: Os educadores também devem ensinar habilidades sociais e pessoais, não somente acadêmicas. Tais habilidades seriam: autoconhecimento, autocontrole, auto- educação dentre outras. Princípio 17: A filosofia comportamental incentiva o ensino de comportamentos pró- sociais, os quais contribuem para um mundo melhor para todos. Sobre a aplicação prática dos princípios comportamentais no âmbito educacional, Luna (2001) reconhece que ainda é consideravelmente tímida e lança duas questões acerca da atuação dos analistas do comportamento na educação: 1) que tipo de seleção tem exercido controle sobre nossos comportamentos enquanto pesquisadores em educação? e 2) como a educação nacional tem encarado nossos resultados e nossa atuação? O autor sugere algumas estratégias de ação organizadas: 1. Analisarmos macrocontingências que nos permitam posicionarmo-nos lado a lado com os formuladores das políticas educacionais; 2. Preparar-nos para identificar quais problemas ameaçam – se não o futuro da cultura, como queria Skinner – pelo menos o presente da nossa sociedade; 3. Produzir material educacional possível de ser absorvido pelo professor na situação de ensino e divulgar seus resultados e eficácia; 4. Preparar o professor para usá-lo. O trabalho direto com o professor tem uma possibilidade de multiplicação dificilmente alcançado pelo trabalho direto com o aluno; 5. Marcar presença em todos os eventos em que o tema da educação esteja presente (LUNA, 2001, p.154 e 155). Comportamento e Aprendizagem O termo comportamento é definido pela Análise do Comportamento como a interação organismo-ambiente e é o objeto de estudo dessa ciência (DE ROSE, 1997). O 1organismo e os eventos ambientais interagem entre si, gerando alterações na função dos estímulos e das respostas. Catania (1999) postula que, para estudarmos o comportamento, é necessário estudar as relações funcionais entre o comportamento e suas consequências no ambiente. Para Skinner (1953/1998)1, o fato de se procurar as causas 1 O ano de 1953 refere-se à 1a edição, enquanto que o ano de 1998 remete-se à 10a edição. do comportamento dentro do organismo tende a camuflar as variáveis que se encontram disponíveis para uma análise científica. As variáveis estão fora do organismo, em seu ambiente imediato e em sua história de interação com o ambiente, que, se exploradas, permitem uma explicação adequada do comportamento. Skinner (1953/1998, p.38) salienta: As variáveis externas, das quais o comportamento é função, dão margem ao que pode ser chamado de análise causal ou funcional. Tentamos prever e controlar o comportamento de um organismo individual. Esta é a nossa “variável dependente”- o efeito para o qual procuramos a causa. Nossas “variáveis independentes”- as causas do comportamento – são as condições externas das quais o comportamento é função. Para se fazer uma análise do processo de aprendizagem, portanto, é fundamental a compreensão do comportamento enquanto interação com o ambiente, já que não há sentido em uma descrição de comportamento sem referência ao ambiente, como não há sentido em uma descrição do ambiente apenas. Skinner (1953/1998) ressalta que há dois tipos de comportamentos: o respondente (reflexo) e o operante. O comportamento respondente implica um processo de interação entre um evento ambiental e o organismo, em que há estímulos específicos eliciando respostas específicas, o que significa que a resposta não é emitida, mas provocada. Os eventos ambientais constituem- se como independentes, mas a partir do momento em que um organismo estimulado produz uma reação, ou seja, consequências no ambiente, tal evento ambiental torna-se elemento do processo de interação. Assim, os constituintes da ação reflexa não podem jamais ser concebidos isoladamente. Embora certa parte do comportamento ocorra por ação reflexa, a Análise do Comportamento dá ênfase ao comportamento operante, o qual recebeu essa denominação por Skinner (1953/1998) em função de operar sobre o ambiente, produzindo consequências. As consequências do comportamento podem retroagir sobre o organismo. Quando isso acontece, podem alterar a probabilidade de o comportamento ser emitido no futuro. A probabilidade de emissão de um comportamento varia ao longo dos extremos tudo-ou-nada. As variáveis que interagem com o comportamento não determinam a ocorrência de um comportamento, mas fazem com que essa ocorrência torne-se mais possível. As consequências que produzem aumento na probabilidade do comportamento vir a ser repetido são denominadas estímulos reforçadores positivos ou reforços e as que causam diminuição na probabilidade são chamadas de estímulos negativos ou punição. O processo que resulta em aumento da freqüência do comportamento pelo reforço é conhecido como condicionamento operante. No condicionamento operante um comportamento é “fortalecido” pelo reforço, o qual torna o comportamento mais provável de ocorrer, ou ainda, aumenta sua freqüência. O reforço operante, além de modelar um repertório comportamental, aumenta a eficácia do comportamento e o mantém fortalecido por muito tempo. As relações entre os eventos antecedentes, o comportamento e suas consequências recebem o nome de contingências e são leis essenciais de uma ciência do comportamento. Uma contingência comportamental, segundo Meyer (1997), é definida como uma regra que especifica uma relação condicional entre uma resposta e suas consequências. Ou ainda, este termo remete-se a relações de dependência entre eventos: entre a resposta e o reforço no operante; entre antecedente, resposta e consequente, no operante discriminado; entre uma condição e um antecedente e a resposta e a consequência, em uma discriminação condicional; entre uma resposta, um intervalo de tempo e a consequência, em uma contingência de atraso de reforço. Comportamentos operantes que apresentam complexidade envolvem múltiplas contingências operando em diferentes relações, simultânea e/ou sucessivamente. Os eventos antecedentes que estão presentes na ocasião em que uma resposta ocorre são conhecidos como estímulos discriminativos (CATANIA, 1999). Parece provável que não exista uma classe de comportamentos operantes que não seja uma resposta reforçada diferencialmente em presença de uma situação de estímulos, pois o comportamento não ocorre no vazio. De acordo com Skinner (1953/1998) os estímulos discriminativos não eliciam as respostas operantes, como no caso dos reflexos, mas estabelecem a ocasião em que as respostas produzem o reforço. As respostas reforçadas diante de um estímulo específico podem ser emitidas também em presença de estímulos que possuam características físicas comuns ou que tenham sido relacionados (emparelhados) arbitrariamente. A esse processo dá-se o nome de princípio da generalização ou indução de estímulos. “Uma vez colocado o comportamento sob o controle de um dado estímulo, freqüentemente verificamos que outros estímulos também são eficazes. A extensão do efeito a outros estímulos denomina- se generalização ou indução” (SKINNER, 1953/1998, p.145). O comportamento, objeto de estudo do analista comportamental, é estudado por esse com base em uma metodologia de sujeito único, ou melhor, do sujeito como seu próprio controle. Justificativas para a melhor adequação desse delineamento, ao invés de delineamentos com grupos, são citadas por Guilhardi (1988, p.53): Existem várias dificuldades que minimizam a praticabilidade do uso de grupos: é difícil obter grupos de sujeitos que apresentem problemas comportamentais idênticos; as contingências de reforçamento e punição que controlam repertórios comportamentais semelhantes são, usualmente, muito diferentes entre si. Isto é, as dificuldades para seleção de grupos de sujeitos comparáveis, sua distribuição entre grupo controle e grupo experimental, tornam extensamente criticável este tipo de metodologia. O comportamento do organismo como um todo é produto de três tipos de contingências: filogenéticas, ontogenéticas e culturais (SKINNER, 1990). O primeiro - contingências filogenéticas - é responsável pela evolução da espécie e, consequentemente, pelo comportamento da espécie. O segundo tipo - contingências ontogenéticas - diz respeito ao condicionamento operante, que se refere às interações do indivíduo com as variáveis (estímulos) presentes ao longo de sua vida. E, por fim, o terceiro - contingências culturais - determinado pela vida em sociedade, especialmente o comportamento verbal. De acordo com esses pressupostos, o indivíduo traz consigo características orgânicas selecionadas ao longo da transformação da espécie (contingências filogenéticas). Tal processo é explicado de forma semelhante à abordagem de Darwin, a qual argumenta que a seleção natural ocorre preservando e acumulando variações proveitosas para a adaptação eficaz das espécies. Já as contingências ontogenéticas possibilitam ao indivíduo lidar, durante a sua vida, com as constantes mudanças ambientais. Na análise das contingências ontogenéticas, dois tipos são identificados como sendo produtos da seleção natural. Um desses tipos de contingência é o do condicionamento reflexo e o outro o do condicionamento operante. As respostas bem sucedidas são selecionadas e o resultado é a adaptação (SKINNER, 1974). Conforme cita Ribeiro (1997), em algumas espécies aptas a aprenderem repertórios novos e adequados a um certo ambiente, o condicionamento não suplementa a seleção natural, mas o substitui. Consequências relevantes do comportamento, que não teriam como exercer um papel na evolução porque não são constantes no meio, tornam-se eficientes por meio do condicionamento operante, durante a vida do indivíduo, tornando-o mais apto a lidar com seu mundo. O terceiro nível de seleção pelas consequências é o das contingências que se mantêm na própria espécie humana devido ao contexto social evoluído em que o homem vive. Esse tipo de contingência deve ter iniciado no momento em que a musculatura vocal foi colocada sob controle do condicionamento operante, estabelecendo, assim, o comportamento verbal. As práticas culturais que são efetivas para a solução de problemas de um grupo possibilitam a evolução de uma cultura. A efetividade da ação grupal, e não as consequências reforçadoras do comportamento de cada indivíduo, em particular, é a condição viabilizadora da transformação cultural. O comportamento verbal, o qual é partilhado pela cultura do grupo (CATANIA, 1999), tem sido analisado com ênfase pela Análise Experimental do Comportamento. Comportamento Verbal Skinner (1957) definiu o comportamento verbal como sendo todo comportamento que é mediado por outras pessoas. Catania (1999) argumenta que o comportamento verbal torna-se eficiente somente pela mediação do outro, ou seja, para produzir consequências, e assim ser funcional, necessita de outros indivíduos. Todo episódio verbal é composto pelo falante (ou emitente) e pelo ouvinte, podendo ser os dois uma única pessoa. O comportamento verbal envolve tanto o comportamento do ouvinte, que é modelado pelas suas consequências sobre o comportamento do falante como o comportamento do falante, que é modelado pelas consequências sobre o comportamento do ouvinte. Tais reciprocidades definem o comportamento verbal. Entende-se o comportamento verbal basicamente como uma relação entre o ambiente social, representado pelo outro, o ouvinte, e o emitente. O ouvinte atua como um estímulo discriminativo na presença do qual relatos verbais são emitidos. Os efeitos sobre o comportamento do ouvinte atuam seletivamente sobre a classe de operantes verbais do emitente, modificando-a. “Uma das consequências mais gerais do comportamento verbal é que, por meio dele, um falante pode mudar o comportamento do ouvinte. As palavras são meios de levar as pessoas a fazerem coisas” (CATANIA, 1999, p.272). Deste modo, a comunidade verbal modela correspondências ou equivalências funcionais entre as palavras, suas definições, entre o que dizemos e o que fazemos. O comportamento verbal, como ressalta Skinner (1953), adapta-se ao padrão da contingência de três termos ou tríplice (evento antecedente, resposta, consequência). O indivíduo aprende a nomear objetos pela aquisição de um amplo repertório de respostas, cada qual apropriada a uma situação específica. A contingência tríplice pode ser mostrada ao se ensinar uma criança a ler, quando uma dada resposta recebe o reforço verbal “certo” ou “errado”, de acordo com a presença ou ausência do estímulo visual correspondente. As respostas verbais podem ser diferenciadas pelas contingências que as produzem, podendo ser ocasionadas por estímulo verbal ou não-verbal e produzir consequências verbais ou não-verbais. Nossas comunidades verbais modelam as correspondências entre os objetos e seus nomes, entre as palavras e suas definições, entre o que fizemos e o que dissemos que iríamos fazer, entre o que se promete e o que se cumpre etc. A forma pela qual aprendemos as correspondências e as condições de sua manutenção podem determinar como funcionam em nosso comportamento verbal. Segundo Ribeiro (1997), as condições em que ocorre aprendizagem das correspondências e o que as mantêm oportunizam a análise e a classificação de uma resposta verbal. Skinner (1957) postulou categorias de comportamento verbal do falante sobre o ouvinte, sendo todas compreendidas a partir do modelo da tríplice contingência. Tais categorias são: comportamento ecóico, transcrição, ditado, tato, mando, comportamento textual, intraverbais e autoclítico. O comportamento ecóico é controlado por discriminativos sonoros, em geral palavras ditas por pessoas; a resposta é vocal; e a consequência é social, por exemplo, a aprovação dos outros (MATOS, 1991). Requer um grau de identidade estrutural entre os aspectos sonoros do estímulo antecedente e da resposta. Exemplificando: diante da palavra bola, dita por alguém, o emitente fala bola. Já o comportamento de copiar, ou transcrição, recebe controle de estímulos visuais, em geral de palavras escritas; a resposta é motora; e a consequência é social. Supõe uma identidade estrutural entre as características gráficas do antecedente e as do produto da resposta. Por exemplo: tendo alguém escrito a mão a palavra bola, com letras minúsculas, o emitente escreve a palavra bola, a mão ou a máquina e com letras maiúsculas ou minúsculas. A categoria referente a tomar ditado é controlada por discriminativos sonoros, em geral palavras emitidas por alguém; a resposta é motora; e a consequência é social. Há identidade funcional entre os componentes sonoros do antecedente e as visuais do produto da resposta. A aprovação social supõe que o ouvinte faça parte desse quadro de equivalências, por exemplo: tendo alguém dito a palavra bola, o emitente escreve essa palavra. O tato envolve discriminativos controladores que podem ser objetos, pessoas, acontecimentos, sensações, lembranças, isto é, mudanças no campo sensorial do emitente. A resposta pode ser vocal ou motora (palavras ditas ou escritas, gestos), e a consequência, social. Existe uma identidade funcional entre as características da situação em que ocorre e as características da resposta. Um exemplo seria, diante de determinadas situações, o falante diz dor. O nome da categoria expressa o fato de que o ouvinte é colocado em contato com o evento controlador do comportamento verbal do emitente. Outra categoria, o mando, é controlado por antecedentes que são eventos encobertos relacionados a estados motivacionais ou afetivos; a resposta pode ser vocal ou motora e descreve a natureza da ação do ouvinte; e a consequência é social no sentido estrito, já que deve ser imediatamente seguida de alterações no ambiente quanto aos estados privados. Supõe uma identidade funcional entre a resposta verbal emitida e a ação social produzida, e requer relações estruturais entre a natureza dos eventos antecedentes privados (no emitente) e a natureza dos efeitos da ação (consequente) do ouvinte. O estudo dos mandos é diretamente pertinente ao estudo dos comportamentos controlados por regras. Consideremos outra categoria: o comportamento textual. Esse comportamento, também conhecido como pré-ler, pois embora envolva nomeação oral do estímulo palavra escrita, não necessariamente significa que o emitente esteja compreendendo tal palavra. Os discriminativos controladores são visuais, palavras escritas, e as consequências são sociais. Referente ao comportamento intraverbal, esse diz respeito a qualquer operante verbal cuja variável controladora seja o próprio comportamento verbal anterior do emitente, como por exemplo, contar um “caso”, que está mais sob controle do próprio contar do que do evento que o produziu. Os antecedentes dessa resposta verbal são complexos e diversos, cadeias ou seqüências verbais, conjuntos de associações verbais. Assim como os antecedentes podem ser visuais ou auditivos, a resposta verbal pode ser vocal ou motora e sua consequência é social, a aprovação pelos outros. Por último, tem-se o comportamento autoclítico, que apresenta a característica de se auto seccionar, e, por sua vez, se organizar ou reorganizar, reformulando-se quando ainda está em curso. Essa categoria mostra o falante como ouvinte de si mesmo. Os antecedentes são respostas verbais do próprio sujeito; anteriores, simultâneos ou concorrentes, à resposta articulativa. Essa pode ser vocal ou motora, como por exemplo: redistribuição de palavras escritas, reformulação de um discurso em curso etc, e a consequência é social, todavia é o próprio sujeito que se auto-reforça. No presente trabalho enfocar-se-á a categoria referente ao comportamento textual, por este fazer parte do problema de pesquisa estudado. Comportamento Textual Comportamento textual, de acordo com Skinner (1957) é a nomeação das palavras. Este comportamento, considerado operante, caracteriza a possibilidade de emissão de uma resposta verbal observável, publica ou privadamente, e que se encontra sob o controle de estímulos visuais específicos. No aprendizado de leitura existem muitos comportamentos operantes verbais, sendo que respostas verbais ficam sob o controle de estímulos visuais. No comportamento textual, conforme Catania (1999) a correspondência arbitrária entre a resposta vocal e o estímulo discriminativo visual é evidente, por serem estes de diferentes modalidades. Uma palavra escrita ou um desenho é um estímulo visual, não possuindo som. Já uma palavra falada é um estímulo auditivo, não tendo forma. Todavia, a comunidade verbal estabelece as relações entre esses estímulos, arbitrariamente, e seus membros, por sua vez, familiarizam-se com tais relações ao ponto de, comumente, não perceberem a natureza arbitrária entre eles. O comportamento textual difere de outros tipos de respostas a estímulos verbais escritos. Por exemplo, uma pessoa que esteja dirigindo um veículo depara-se com uma placa com a palavra PARE. Ler a palavra em voz alta é um comportamento textual, mas parar não. Ou seja, respostas textuais são o simples ato de pronunciar as palavras de uma página. Contudo, Skinner (1957) relata que o comportamento textual pode ser reforçado à medida em que auxilia na aquisição de outros tipos de operantes verbais. Respostas textuais, embora envolvam nomeação oral do estímulo palavra escrita, não necessariamente dispõem de um repertório maior de pareamento com objetos, desenhos, situações e eventos. É pertinente se fazer uma distinção preliminar entre oralizar um texto ou compreender um texto. Ler é oralizar, e a resposta seria considerada vocal, como aponta Matos (1991). Entretanto, pode-se imaginar duas situações: uma na qual o emitente vocalize uma palavra escrita frente a um texto, porém esse não controla outras respostas suas; e outra situação, em que o emitente, oralizando ou não um texto, apresente uma variedade de outras respostas consideradas corretas pela comunidade verbal. Considera-se, como exemplo, o seguinte episódio: diante de uma folha com a palavra impressa bola, uma criança diz “bola” (primeira situação), ou desenha uma bola, e/ou aponta uma bola, e/ou define o que seria bola (segunda situação). Em ambos os casos há identidades funcionais entre o evento antecedente e a resposta, no entanto apenas no segundo a expressão ler com compreensão seria corretamente utilizada. A leitura com compreensão inclui outros comportamentos com ou sem fala vocal ou subvocal, portanto ela é mais do que simplesmente um comportamento textual. Assim, para haver o ensino de leitura com compreensão é necessário ensinar equivalência entre as modalidades vocal e escrita do comportamento verbal, ou seja, as relações que são estabelecidas entre os estímulos envolvidos nesse processo. Dificuldades de Aprendizagem e Relacionamento Interpessoal Dificuldades de aprendizagem são problemas muito comuns em nosso meio acadêmico e provavelmente colocam as pessoas envolvidas, como por exemplo a criança que apresenta as dificuldades e a sua família, em situações constrangedoras e aversivas. Isso acontece porque, segundo Oliveira (1992), o próprio sistema escolar atribui ao aluno e à sua família a responsabilidade pelo fracasso escolar. De forma geral, acredita-se que o aluno tem dificuldades porque é pobre; porque é negro, porque os pais são separados; porque tem problemas psicológicos ou mentais etc. Ou seja, os alunos que não conseguem acompanhar as atividades acadêmicas, em sua maioria, são considerados fracassados e incapazes de atenderem à demanda da escola. Frente ao descrédito e à marginalização, muitos abandonam os estudos, aumentando a taxa de evasão escolar. De acordo com Almeida et al. (1995), a análise do que se denomina de dificuldades de aprendizagem só faz sentido se forem considerados aspectos de ordem pessoal, emocional, familiar, pedagógico e social relacionados a cada indivíduo. As dificuldades de aprendizagem que recebem maior destaque são as dificuldades de leitura e, consequentemente, de escrita. A importância da aprendizagem da leitura é destacada pelo fato de que esse comportamento permite ao indivíduo novas interações à medida em que o coloca em contato com novas contingências, conforme ressaltam Rosales-Ruiz e Baer (1997). O primeiro e mais básico desafio da escola é o ensino da leitura e da escrita. Quando a criança apresenta dificuldades de leitura, enfrenta não só problemas escolares, mas também de adaptação ao seu meio social, pois existem cobranças constantes de desempenho de tarefas que envolvem a leitura. Por exemplo, o indivíduo deve responder a sinais, advertências, avisos, instruções, notícias, cartas etc. Em contexto escolar, comumente, dificuldades de leitura podem estar relacionadas a comportamentos considerados como de indisciplina ou dificuldade de interação social. Conforme De Rose (1999), um dos fatores que contribui para isso é que, em muitos casos, os programas educacionais não são suficientemente adequados às necessidades dos alunos e eficazes na promoção da aprendizagem, o que pode facilitar a ocorrência de comportamentos contrários aos avaliados como de disciplina. Sabe-se que na maioria das escolas regulares do Brasil, especialmente nas públicas, a instrução é deficiente. Vários professores nem sempre possuem preparo adequado, contam com recursos precários e possuem turmas com número elevado de alunos, nas quais há uma significativa parcela de alunos cujo repertório acadêmico e cognitivo é reduzido. Nessas condições, os programas e atividades de ensino são, frequentemente, pouco adequados e não têm condições de gerar aprendizagem e manter a participação e engajamento destes alunos. Os comportamentos de atenção e participação precisam ser estabelecidos e mantidos. Se a criança não teve um bom preparo pré-escolar e não tem um ambiente familiar que promova interesse por assuntos acadêmicos, pode-se deparar com atividades de ensino pouco adequadas e que não lhe facilitam atingir as expectativas e exigências do professor, vindo a apresentar dificuldades para ler e escrever. Dessa forma, os comportamentos de manter a atenção nos textos dados pelo professor e participar das atividades, muitas vezes, deixam de ser estabelecidos e mantidos, propiciando comportamentos incompatíveis com aqueles, como olhar para a janela ou para os colegas, conversar com os demais, déficit de atenção, comportamentos agressivos, manusear algum outro material não acadêmico ou, ainda, levantar e andar pela sala. Diante deste quadro, muitos professores acabam culpando o aluno pelo seu fracasso e o marginalizam. Machado (1993) afirma que crianças que apresentam dificuldades escolares geralmente são rotuladas como incapazes, desagradáveis e perturbadoras, sendo seus comportamentos punidos com freqüência ou sendo, elas próprias, rejeitadas pelos professores e colegas de classe. O que se forma, na maioria das vezes, é um círculo vicioso: diante de um aluno que não está acompanhando os demais, o professor culpa-o pela sua dificuldade, ao invés de mudar seu próprio comportamento em relação a esse aluno ou adaptar um programa de ensino que o atenda em suas necessidades. O aluno, por sua vez, passa a não interessar-se pelos conteúdos acadêmicos, contribuindo ainda mais para sua dificuldade. Verifica-se que não há, comumente, preocupação em considerar as possibilidades destas crianças ou modificar a ação e dar oportunidades a elas na tentativa de quebrar este círculo formado. A dificuldade em acompanhar os colegas pode acarretar, ainda, prejuízo no autoconceito do aluno, já que ele é avaliado pelos superiores e pelos outros alunos como incapaz (DEL PRETTE e DEL PRETTE, 2001). O autoconceito é o resultado da experiência do indivíduo com a comunidade verbal a que está inserido e pode ser entendido em termos de como ele define a si mesmo, a partir das dicas fornecidas pelos membros desta comunidade. Para tanto, utiliza-se de dois processos: a auto-imagem e a auto-estima. A auto-imagem refere-se à forma avaliativa como o indivíduo representa-se a si mesmo e a auto-estima é indicadora do sentimento advindo dessas avaliações. O autoconceito é empregado pela pessoa quando faz uma predição sobre o resultado de seu desempenho. Se o aluno tem uma história de fracasso no desempenho escolar, possivelmente seu autoconceito estará comprometido e ele terá uma imagem predominantemente negativa de si mesmo e baixa auto-estima. Tal auto-avaliação poderá levá-lo a evitar contatos sociais ou manter interações consideradas perturbadoras. Del Prette e Del Prette (1998) apontam para os resultados de avaliações feitas por professores em relação aos alunos que apresentavam dificuldades de aprendizagem, revelando uma tendência a diferenciar tais crianças em termos de déficits nas habilidades de juntar-se a um grupo de atividade, desenvolver e manter amizade, encerrar conversação, compartilhar brincadeiras e interagir com colegas. Embora existam poucos estudos em nosso meio que comparem desempenho social e acadêmico, pode-se citar um estudo realizado por Maluf & Bardelli (1991), o qual encontrou que os professores atribuíam maior dificuldade de relacionamento a alunos com dificuldades de aprendizagem e referiam-se a eles como inquietos, desatenciosos, briguentos, inibidos e sem iniciativa. Em uma pesquisa desenvolvida por Del Prette e Del Prette (1998) a uma amostra de 119 alunos com dificuldades de aprendizagem e sem dificuldades de aprendizagem, que encontravam-se na segunda série do Ensino Fundamental e de escolas públicas, foram utilizados instrumentos similares (abordando aspectos globais das crianças como querido, disciplinado, perguntador, desinibido etc.) que foram respondidos por diferentes informantes, como os professores, colegas e a própria criança. Os dados obtidos indicam que, de modo geral, as crianças com dificuldades de aprendizagem se auto-avaliaram de forma negativa no que concerne a características referentes ao relacionamento interpessoal e foram avaliadas também dessa forma por seus colegas e pelos professores do que as crianças que não apresentam dificuldades de aprendizagem escolar. Os resultados dessas pesquisas confirmam estudos de outros pesquisadores (como ELLIOT, RACINE E BUSSE, 1995), os quais constataram que crianças com dificuldades de aprendizagem de leitura, escrita e outras atividades escolares foram descritas como menos desinibidas, controladas, colaboradoras, disciplinadas e queridas pelos colegas e pela professora do que as outras crianças. Tais resultados corroboram a afirmação já mencionada por De Rose (1999) de que muitos professores discriminam os alunos que apresentam certas dificuldades, ao invés de reorganizarem as condições de ensino por meio da instalação de interações sociais mais positivas e a aplicação de programas de ensino eficazes na promoção da aprendizagem. Metodologia da Equivalência de Estímulos por meio da Discriminação Condicional por Exclusão Com o intuito de contribuir para resolução de problemas nas áreas de ensino de leitura e escrita, pesquisadores na área de Análise Experimental do Comportamento vêm estudando e propondo métodos de ensino de leitura, envolvendo procedimentos de discriminação condicional e discriminação por exclusão e analisando o processo de formação de classes de estímulos equivalentes (por exemplo, SIDMAN e CRESSON,1973; MACKAY e SIDMAN, 1984; STROMER, MACKAY e STODDARD, 1992). Destacam-se nessa área os estudos realizados por pesquisadores brasileiros, como os de De Rose, De Souza, Rossito e De Rose, 1989; Matos e d’Oliveira, 1993; Goyos e Freire, 2000; Medeiros e Teixeira, 2000. Como salientam Lopes e Matos (1993), a contingência de três termos, enquanto unidade de análise, é um dos princípios básicos da Análise Experimental do Comportamento para a investigação científica das relações organismo-ambiente. Sidman (1986) coloca que a unidade analítica de três termos descreve as relações entre contingências de dois termos e os eventos ambientais. O ambiente, além de fornecer consequências para determinadas respostas, também estaria exercendo um controle discriminativo para as unidades de dois termos. O mesmo autor propõe ainda uma ampliação do conceito de contingência tríplice, ressaltando que é necessário adicionar um termo à contingência de três termos, para que se possa compreender como o ambiente seleciona a unidade de três termos do controle de estímulos que vai ser eficaz em um dado momento. Se um elemento adicional do ambiente variar, a contingência tríplice é colocada sob controle de estímulos (controle condicional). O estímulo condicional não atua diretamente sobre a resposta, mas controla o outro estímulo que age sobre ela (o estímulo discriminativo). No treino de discriminação condicional, uma resposta a um estímulo discriminativo é reforçada somente na presença de um estímulo condicional particular e não quando estão presentes outros estímulos. De acordo com este procedimento, são apresentados ao sujeito um estímulo modelo e dois ou mais estímulos de comparação, em que ele deverá escolher o estímulo estabelecido como correto. Se fizer a escolha certa haverá a apresentação de um estímulo reforçador. O treino envolve classes de estímulos modelo e classes de estímulos de comparação. Cada estímulo modelo é relacionado condicionalmente a um estímulo de comparação, formando-se uma discriminação condicional. De Rose, Mcllvane e Stoddard (1986) propuseram a combinação do procedimento de exclusão ao de discriminação condicional. Assim, ao ensinar discriminação condicional são programadas tentativas de treino em que um dos estímulos de escolha é facilmente discriminado pelo sujeito, ou seja, é um estímulo conhecido (estímulo definido). Com isso, diante de dois estímulos de comparação, sendo um definido, o sujeito seleciona o estímulo ainda não relacionado a um modelo, o estímulo indefinido, excluindo o estímulo de comparação definido. McIlvane, Serna e Icledaras (1997) expuseram trinta e quatro indivíduos com deficiência intelectual moderada e severa a um protocolo de avaliação, o qual examinava o comportamento em várias tarefas de discriminação, pareamento com o modelo e nomeação. Um dos testes referiu-se ao de exclusão, sendo que em cada tentativa de exclusão era apresentada uma figura desconhecida junto com uma figura familiar e um novo nome era ditado. O propósito é verificar se os sujeitos selecionam a nova figura em resposta a um novo nome, talvez por exclusão do estímulo de comparação conhecido ou relacionando o novo estímulo. Os dados obtidos revelaram a alta proporção de sujeitos que sempre selecionou a figura desconhecida quando o novo nome foi ditado. Dos trinta e quatro sujeitos, trinta apresentaram tal comportamento, enquanto que três dos quatro sujeitos restantes cometeram somente um ou dois erros, indicando que, em geral, os sujeitos da pesquisa cometeram poucos ou nenhum erro nas tentativas de linha de base durante o teste de exclusão. De Rose et al. (1986) concluíram que a exclusão poderia ser um meio de propiciar a aquisição rápida e sem erros de discriminações condicionais. Por meio desta combinação, o sujeito consegue diferenciar a palavra que já conhece daquela que ainda não conhece e aprende a palavra nova por exclusão da conhecida. Em um estudo realizado por De Rose, De Souza e Melchiori (1992) com pré-escolares, houve a combinação de passos de exclusão com testes de equivalência e generalização. Em seus resultados verificou-se que os sujeitos aprenderam a ler as palavras de treino e apresentar leitura generalizada no decorrer do programa. Tais resultados também foram obtidos em um estudo conduzido por Medeiros et al (1997), cujos autores salientam que o procedimento de discriminação condicional e aprendizagem sem erros pode, de fato, constituir-se em estratégia pedagógica fundamental dentro de uma metodologia de ensino. Além de permitir a aprendizagem de leitura correta em crianças com experiência de fracasso escolar ou com dificuldades de leitura, apresenta-se como uma alternativa de trabalho em relação ao método tradicional. De acordo com Sidman e Tailby (1982), quando no mínimo duas discriminações condicionais relacionadas são estabelecidas, além de relações condicionais entre os estímulos, pode-se observar também relações de equivalência que não foram diretamente ensinadas. Quando essas relações são constatadas, afirma-se que os estímulos tornaram-se equivalentes, isto é, membros de uma classe de equivalência, por terem adquirido a mesma função. A determinação de relações de equivalência a partir de treinos de discriminação condicional ocorre, quando se testam relações não treinadas, de reflexividade, simetria e transitividade (SIDMAN, KIRK E WILLSON-MORRIS, 1985; SIDMAN, RAUZIN, LAZAR, CUNNINGHAM, TAILBY E CARRIGAN, 1982; SIDMAN E TAILBY, 1982). A propriedade de reflexividade implica que qualquer elemento deve ser igual a ele mesmo. A simetria diz respeito à reversibilidade entre estímulo modelo e comparação. Para se demonstrar a transitividade é necessário o treino de uma relação condicional adicional. Por exemplo, estabelece-se a relação entre modelos A (palavra ditada) e estímulos de comparação B (figura) e entre modelos B e estímulos de comparação C (palavra impressa). Após esse treino testa-se a possibilidade de emergência da relação AC. Além disso, o teste completo de equivalência consiste em verificar se esta relação transitiva (AC) é simétrica. Ou seja, em constatar se o sujeito estabelece o pareamento entre o modelo C e os estímulos de comparação da classe. “Se, portanto, a equivalência emergiu das unidades de quatro termos de controle condicional, explicitamente construídas, os sujeitos mostrar-se-ão capazes de apresentar discriminações condicionais que nunca lhes foram explicitamente ensinadas” (SIDMAN, 1986, p.14). Para Baptista (2000), dada a equivalência entre desenhos, palavras impressas e palavras faladas, responder a cada um deles é como responder a qualquer outro, pois agora constituem-se membros de um mesmo conjunto. Dessa forma, o metodologia da equivalência de estímulos contribui para a aquisição de leitura compreensiva. O indivíduo é capaz de compreender o que lê porque trata as palavras como equivalentes aos seus referentes, então as palavras são entendidas. A metodologia de equivalência com o procedimento de discriminação condicional possibilita, além da aprendizagem de leitura de palavras com compreensão (pareamento das figuras com as palavras), a identificação textual correta das unidades mínimas (letras e sílabas) dessas palavras, podendo ainda promover o estabelecimento de leitura generalizada de outras palavras que contêm tais unidades. Os estudos de De Rose et al. (1989; 1992; 1996) realizados com crianças que apresentavam dificuldades de leitura, mostraram que o ensino de relações entre palavras ditadas e palavras escritas (AC) produzia os desempenhos emergentes esperados a partir da formação de classes de equivalência (BC, CB e CD). Esses estudos revelaram também que, conforme se expandia o repertório de relações de equivalência para um número maior de palavras, os sujeitos mostravam-se capazes de ler palavras não diretamente ensinadas. Corroborando tais resultados, D’Oliveira e Matos (1993) afirmaram que é possível haver a identificação textual correta das letras e sílabas das palavras treinadas porque o ensino de leitura por meio do procedimento de formação de classes de equivalência pode fazer com que a leitura fique sob o controle das sílabas e letras constituintes das palavras lidas. Conforme Matos e Peres (1997, p.47) “...unidades verbais escritas menores que a palavra (como sílabas e/ou letras) também poderiam vir a controlar operantes verbais textuais. Neste caso, a recombinação dessas unidades e de seus respectivos operantes textuais, produziria leitura generalizada por recombinação”. Se forem ensinadas a uma criança, por exemplo, relações condicionais entre as palavras ditadas “gato” e “fogo” (palavras que a criança não sabe ler) e as palavras impressas correspondentes, partindo da verificação que a criança já consegue relacionar os desenhos com as palavras ditadas (o que nem sempre requer treino), a criança conseguirá relacionar os desenhos com as palavras impressas e vice-versa, bem como provavelmente nomear as palavras impressas, sem que isso lhe tenha sido ensinado diretamente. E, ainda, se forem apresentadas palavras impressas novas, formadas pela recombinação das sílabas das palavras treinadas, como “foto”, por exemplo, a criança provavelmente conseguirá ler tais palavras (leitura generalizada). Quando a criança apresenta dificuldades em ler palavras com sílabas recombinadas, muitas vezes o treino de construção de palavra (anagrama) pode auxiliar na superação desta dificuldade. A construção de palavras consiste em apresentar a palavra escrita como modelo e, juntamente, fornecer as letras que formam a palavra, na forma impressa. Pede-se que a criança forme a palavra de acordo com o modelo, selecionando as letras correspondentes. Esse desempenho é denominado por alguns autores de emparelhamento com modelo com resposta construída (STROMER et al, 1992; DE ROSE, 1999) e a sua eficácia na promoção de leitura generalizada foi demonstrada em estudos como de De Rose et al., 1997; De Souza, 2000. Esse treino parece facilitar a leitura de palavras de generalização (DE ROSE et al., 1989), possibilitando a redução de dificuldades de leitura. O Recurso da Informática e a Aplicação da Metodologia da Equivalência de Estímulos A década de 80 presenciou um crescimento notável no uso de computadores para auxiliar na instrução de estudantes com déficits de aprendizagem (MCILVANE, SERNA e ICLEDARAS, 1997). Em muitos casos, os estudantes têm sido indivíduos que apresentam dificuldades de leitura e/ou retardo mental relativamente moderado. Quanto à utilização do computador para a aplicação da metodologia da equivalência de estímulos, encontra-se, por exemplo, estudos desenvolvidos por Stromer, Mackay e Stoddard (1992), propondo o emprego desse metodologia como complemento do ensino em sala de aula. Suas pesquisas esclarecem a metodologia para o uso do recurso de informática no ensino de leitura para alunos que apresentam dificuldades dessa natureza. Em seu laboratório, o principal equipamento é um microcomputador Macintosh, portátil, que possui um dispositivo para gravar a fala do indivíduo. Nas telas são apresentadas diferentes tipos de tarefas com base no modelo de discriminação condicional. O sujeito seleciona a figura ou a palavra escrita correspondente à palavra ditada. Os treinos são iniciados com a apresentação de apenas um modelo e são treinadas as relações A-B (palavra ditada e figura) e A-C (palavra ditada e palavra impressa). A outra possibilidade de treino é a das relações em que os modelos visuais são apresentados e o sujeito seleciona a palavra impressa referente à figura (B-C) ou o inverso (C-B). As tentativas iniciam pela apresentação de um modelo e a criança faz a escolha indicando a figura, a palavra ou a área escura quando a palavra é ditada. Se a criança aponta a opção correta, há um rápido escurecimento da tela e em poucos segundos é fornecido o evento reforçador. Após um breve período, novo modelo é apresentado. Quando a escolha é incorreta, a tela torna-se escura. Os estudos destes autores demonstram a importância de se enfocar a ortografia para complementar o processo de aquisição da linguagem. Recomenda-se, então, que, principalmente para aquelas crianças que apresentam desenvolvimento aquém do esperado ou deficiência de atenção, ou, ainda, dificuldades consideráveis de aprendizagem, aplique-se um trabalho cuidadoso e com uma metodologia específica. Para essas crianças, são indicados repetidos treinos até que o indivíduo consiga realmente mostrar a aquisição das relações para a leitura e escrita e, por meio da testagem imediata, comprovar se a aprendizagem ocorreu. Embora existam pesquisas comprovando a relevância e eficiência dessa metodologia, estudiosos como Smith (1999) contestam o uso de palavras isoladas no ensino da leitura e escrita. Em sua concepção, a leitura de um texto, por exemplo, não pode prender-se ao significado de cada palavra, mas ao significado do todo. Para isso, propõe a diferenciação entre as informações visuais e as não-visuais. A informação visual é aquela obtida por meio dos olhos. Porém, os olhos devem desempenhar uma função menor na leitura, dispondo o papel central para a informação não-visual. A informação não-visual envolve a compreensão da linguagem, conhecimento prévio do assunto e certa habilidade em relação à leitura. O leitor que prende-se apenas ao que seus olhos vêem em uma página, certamente precisará de um tempo maior de leitura, bem como para a própria aprendizagem da mesma. Smith salienta que, obviamente, para haver leitura, o indivíduo necessita dos dois tipos de informação (exceto para o sistema Braille). Entretanto, ressalta que quanto mais informação não-visual tiver quando está lendo, menos informação visual necessitará e quanto menos informação não-visual dispor, precisará de mais informação visual. Se a criança já possuir informações prévias acerca de um determinado texto, a leitura deste será facilitada e independente das letras impressas. Em sua visão, os leitores devem aprender a dar significado àquilo que lêem, utilizando o seu conhecimento prévio do assunto. Isso porque o significado, ao seu entender, não é representado pela escrita em si ou pelos sons, mas pela experiência de cada pessoa. Em contrapartida, para Skinner (1957), a leitura pode ser definida como uma discriminação na qual uma resposta vocal (ou sub-vocal) encontra-se sob o controle de um estímulo impresso não-auditivo. O objetivo de qualquer programa de leitura deveria, então, ser o de facilitar a aquisição desta disciminação. Completa ainda que, para haver discriminação adequada, é importante que condições antecedentes ao comportamento de ler sejam propícias e as consequências deste comportamento possam implicar em compreensão do material lido. Sendo assim, o ensino de leitura de palavras mostra-se válido como um procedimento eficaz para essa prática, considerando que as palavras estejam sendo compreendidas. Além disso, é relevante assegurar que as letras e sílabas constituintes das palavras ensinadas estejam sendo da mesma forma compreendidas, a fim de que a leitura possa ser generalizada para outras palavras que possuam tais elementos, conforme ressaltam D’Oliveira e Matos (1993). Como afirmou Batista (2000), em citação anterior no presente texto, a metodologia da equivalência de estímulos contribui para a aquisição de leitura compreensiva, pois, por meio dela, o indivíduo torna-se capaz de compreender o que lê porque considera as palavras como equivalentes aos seus referentes, o que permite o entendimento das palavras e, consequentemente, do texto. Stromer, Mackay e Stoddard (1992) finalizam dando ênfase na relevância de tal metodologia por propiciar o pareamento de estímulos auditivos e visuais. Além disso, há a possibilidade da aquisição de tais relações pela criança, o que não ocorre com o ensino tradicional em que as propostas são livros de exercícios com a apresentação apenas do estímulo visual. Como complemento, os autores concluem que o próprio recurso de informática já apresenta um efeito motivador sobre a realização das tarefas pelas crianças. Tais resultados de pesquisas contribuíram para a sistematização metodológica da utilização de procedimentos para a formação de classes de estímulos equivalentes, instrumentalizando o ensino com mais um recurso eficaz para o trabalho com alunos que estejam apresentando dificuldades de leitura e escrita. Diante do exposto, foram objetivos desta pesquisa: 1) Investigar se a combinação da metodologia de equivalência de estímulos e o procedimento de exclusão, reduzindo dificuldades de leitura, reduzem comportamentos considerados como de indisciplina, já que ambos comumente encontram-se relacionados; 2) Assegurar aos professores do Ensino Fundamental, que ministram aulas de reforço, a aprendizagem de uma estratégia informatizada de ensino de leitura, envolvendo a metodologia de equivalência de estímulos e o procedimento de exclusão, para que possam aplicá-la a alunos com dificuldades dessa natureza e que apresentem comportamentos de indisciplina em sala de aula. 2- MÉTODO 1- Sujeitos Participaram deste estudo uma professora do Ensino Fundamental, que atualmente ministra somente aulas de reforço, em horários alternativos, e quatro alunos do Ensino Fundamental, os quais apresentavam dificuldades de leitura e escrita, bem como comportamentos avaliados pelos professores regulares como sendo de indisciplina, como verbalizaram à pesquisadora: “falta de interesse, falta de atenção, perturbar os colegas enquanto a professora explica a matéria etc”. As características de cada sujeito estão descritas no quadro abaixo. Quadro 1: Características dos sujeitos participantes da pesquisa. Sujeito Categoria Idade (anos) Sexo Série F. Aluno 09 M 3a J. Aluno 12 M 4a N. Aluna 09 F 3a M. Aluno 09 M 3a N Professora 51 F - 2- Materiais e Local Foram utilizados: microcomputador Pentium 100, com recurso multi- mídia, placa de som, alto-falantes, CD-ROM, impressora, software Mestre (Goyos e Almeida, 1994, da Mestre Software), Inventário para verificação comportamental para crianças-TRF (Anexo I). O software Mestre é destinado a professores de pré-escola, ensino fundamental, pais e educadores em geral. Em sua página inicial há um menu com as seguintes opções: a) um conjunto de tarefas de leitura, escrita, inglês, geografia, matemática e história, totalizando 150 tarefas; b) acesso a uma tela de programação por meio de um ícone com a imagem de um adulto diante de um microcomputador, que possibilita criar tarefas de escolha de acordo com o modelo, podendo ser estabelecido um modelo e até três estímulos de escolha. Os estímulos-modelo podem ser imagens, sons ou palavras impressas. Os estímulos de escolha podem ser imagens, palavras impressas, letras para formar palavras ou a opção de quadros azuis que podem ser estipulados como estímulo de escolha, correspondendo à resposta correta ou incorreta, diante da emissão do som pela criança; c) acesso a uma tela por meio da qual pode-se selecionar o relatório do desempenho nas tarefas realizadas pelas crianças; d) um ícone na forma de um gravador, o qual dá acesso a uma tela em que estão listados os nomes dos arquivos contendo os sons programados; e) um ícone na forma de uma câmera fotográfica que fornece acesso a uma tela em que estão listados os nomes dos arquivos contendo as imagens que podem ser visualizadas para conhecimento. O programa contém ainda um manual eletrônico para facilitar o aprendizado de seu uso. O Inventário de Verificação Comportamental para Crianças - TRF (Teacher’s Report Form)- é respondido pelos professores e avalia os comportamentos em contexto escolar. Foi formulado por Achenbach (Achenbach, 1991, 1993; Achenbach e McConaugh, 1997) e traduzido para a língua portuguesa por Bordin, Mari e Caeiro (apud Marinho, 1999). É composto por 138 itens, sendo 20 destinados à avaliação da competência social e 118 à avaliação dos problemas de comportamento. A criança é avaliada quanto à presença ou não de oito síndromes comportamentais: isolamento, queixas somáticas, ansiedade e depressão, problemas sociais, problemas no pensamento, problemas na atenção, comportamento delinquente e comportamento agressivo (Anexo II). A categoria isolamento corresponde a comportamentos como: gosta de estar sozinho; não fala; é reservado e guarda as coisas para si mesmo; é tímido ou acanhado; fica de olhar parado; é pouco ativo etc. Queixas Somáticas apresenta como descrições comportamentais: sente tonturas; cansa-se facilmente; tem problemas físicos sem causa conhecida pelo médico; dor de cabeça; enjôo; problemas com os olhos ou de pele; dor de estômago. O item Ansiedade/Depressão diz respeito a comportamentos como: reclama de estar muito sozinho; chora muito; acha que deve ser perfeito; sente-se ou queixa-se que ninguém gosta dele; acha que os outros o perseguem; sente-se pior que os outros; é nervoso; conforma-se excessivamente às regras; tem medo de tudo etc. A categoria Problemas Sociais remete-se a descrições comportamentais do tipo: comporta-se de maneira muito infantil para sua idade; agarra-se demais aos adultos ou é muito dependente; não se dá bem com os outros alunos; reclama de estar muito sozinho; as pessoas riem dele, dentre outras. Na categoria Problemas no Pensamento, encontram-se comportamentos como: já tentou suicídio; tem medo de determinados animais, situações ou lugares, sem incluir a escola; ouve sons ou vozes que não estão presentes; repete várias vezes as mesmas ações; tem idéias estranhas etc. Para o item Problemas na Atenção são listados comportamentos como: comporta-se de maneira infantil para sua idade; não consegue terminar o que começou; tem dificuldade em se concentrar; tem dificuldade em estar sentado; fica confuso ou parece ficar sem saber onde está; mostra-se agitado; sonha acordado ou perde-se nos seus próprios pensamentos etc. A categoria comportamento delinquente refere-se aos comportamentos: não parece se sentir culpado depois de se comportar mal; anda com pessoas que se metem em brigas; mente ou faz trapaças; rouba; fala palavrões; chega atrasado às aulas etc. E, por último, a categoria comportamento agressivo, que abrange comportamentos do tipo: discute muito; é provocador; é vaidoso; manifesta crueldade para com os outros; destrói suas próprias coisas e/ou de outras pessoas; é desobediente na escola, dentre outros. Essas categorias possibilitam a avaliação dos padrões comportamentais relacionados à interação social ou falta de interação. A parte utilizada na presente pesquisa referiu-se ao questionário contendo 118 itens para avaliação dos problemas de comportamento, já que esta constituía um dos objetivos da mesma. As sessões experimentais foram realizadas individualmente, uma vez por semana, conforme horário da aula de reforço de cada sujeito, e ocorriam no Laboratório de Informática do colégio em que os alunos estudam, o qual trata-se de um colégio estadual, localizado na periferia de Londrina, Paraná. Foram realizadas 12 sessões com cada aluno, com duração aproximada de 50 minutos cada. O microcomputador e os acessórios estavam instalados sobre uma mesa da sala, em frente da qual foram colocadas duas cadeiras. Durante a fase de treinamento da professora participante, as cadeiras foram utilizadas pela pesquisadora e pela professora, que aprendeu a manipular o microcomputador e a utilizar o programa. Durante as sessões com os alunos, permaneceram no ambiente três cadeiras: uma em frente ao computador para se sentar o aluno, outra ao lado direito do aluno, ocupada pela professora e a terceira, do lado esquerdo do aluno e dois passos atrás, na qual se sentou a pesquisadora. A cadeira ocupada pela pesquisadora ficou assim disposta para que ela pudesse visualizar o desempenho do aluno e, ao mesmo tempo, não distraí-lo com sua presença. 3- Procedimento O procedimento realizou-se em três fases. Fase I: Coleta inicial de dados A pesquisadora entrou em contato com a supervisora do colégio, explicitando os objetivos da pesquisa e solicitando sua autorização para a realização da mesma. Após o consentimento, a supervisora indicou quatro alunos, os quais estavam recebendo aulas de reforço, e a professora que as ministrava. A pesquisadora contatou a professora, convidando-a a participar da pesquisa, explicando-lhe os objetivos. Nesse contato com a professora, esta declarou que os alunos tinham dificuldades em ler palavras com sílabas simples e que os professores regulares queixavam-se de seus comportamentos em sala. Tais queixas eram: perturbar os colegas, falta de interesse em participar das atividades, falta de atenção, dentre outras. Em seguida à aceitação da professora, houve uma reunião com os alunos selecionados para o esclarecimento do trabalho e solicitação de sua participação. Ao aceitarem, realizou-se um encontro com os pais, a fim de expor o que pretendia a pesquisa e solicitar seu consentimento por escrito, no termo de consentimento esclarecido (Anexo III). Após o consentimento dos pais, os professores regulares de cada sujeito responderam ao Inventário TRF, visando a avaliação comportamental de cada um, segundo a percepção do professor. Os alunos indicados passaram pelo pré-teste de leitura, que consistiu da apresentação de uma lista contendo quarenta e cinco palavras, as quais faziam parte do CD-ROM Mestre. O teste foi feito individualmente, e estavam presentes a professora participante e a pesquisadora, sendo a última a condutora do teste. Cada palavra aparecia na tela do computador e a pesquisadora pedia que o aluno lesse, sendo sua resposta anotada. Esse teste visou selecionar palavras que cada aluno consegue ler e as que apresentam dificuldades. Todos os sujeitos apresentaram dificuldade em ler palavras com sílabas simples, como por exemplo abacaxi. Após o pré-teste com cada sujeito, a pesquisadora selecionou as 20 palavras do CD-ROM que iriam ser ensinadas (palavras de treino), bem como as palavras de generalização. Todas as palavras eram constituídas de sílabas simples e encontram-se listadas no Quadro 2. Quadro 2: Palavras de treino e palavras de generalização utilizadas em cada passo. Passo Palavras ensinadas (treino) Palavras de generalização 1 faca*, abacaxi, elefante abacate, fanta 2 navio, óculos losna, lona 3 banana, gato cabana, galo 4 pato, peixe peito, pano 5 relógio, sorvete sorte, lote 6 xícara, bota boca, cara 7 mesa, tartaruga gata, torta 8 cama, dedo medo, bode 9 fogo, macaco foca, maca 10 janela, ovo panela, voto * palavra definida ( que cada sujeito conseguiu ler no pré-teste.) Fase II: Treinamento de professores e programa de ensino Antes do início do programa de ensino de leitura com os alunos, foram feitas duas sessões com a professora participante para que fossem discutidas questões teóricas relativas à metodologia educacional envolvendo o procedimento de discriminação condicional e de exclusão e para que pudesse manusear o microcomputador, conhecer o software Mestre e aprender a utilizá-lo. Quanto à parte teórica, a pesquisadora explicitou, por meio de transparências, conceitos como: treino de discriminação condicional; discriminação condicional por exclusão; equivalência de estímulos. Cada sessão durou aproximadamente três horas e foram feitas em dias seguidos. Após essas sessões deu-se início ao trabalho com os alunos. Realizou-se, inicialmente, o pré-treino, aplicado pela pesquisadora, com cada aluno. Apresentou-se no micro figuras, uma a uma, referentes às palavras selecionadas para o programa de ensino, e foi pedido que dissesse o nome de cada uma. Se houvesse erro, a pesquisadora diria o nome correto. Teve como objetivo verificar se o aluno conseguia estabelecer relação entre figura e o seu nome. Ao término do pré-treino, foi iniciado o programa de ensino de leitura com cada aluno. A estratégia de ensino combinou os procedimentos de discriminação condicional e o de exclusão, bem como a formação de classes de estímulos equivalentes. A seguir é apresentado o diagrama esquemático das relações envolvidas no processo de leitura utilizado no presente estudo. No diagrama, os retângulos referem-se à classe de estímulos envolvida e as relações são representadas por setas. As setas com traços cheios correspondem às relações que os alunos já conseguiam estabelecer. As setas com traços finos representam as relações treinadas e as setas com linhas tracejadas indicam as relações testadas. FIGURA 1 - Diagrama esquemático das relações envolvidas no programa de ensino Foram realizadas um total de 12 sessões (sendo dez de treinos e testes de equivalência e duas de teste extensivo de generalização), uma vez por semana, com cada aluno, conduzidas pela professora, nas quais a pesquisadora estava presente, mas sem interferências em sua condução. Cada sessão era preparada pela professora e pela pesquisadora com uma hora de antecedência ao horário estipulado para o início da sessão com o aluno. Em cada sessão foram ensinadas duas palavras que o aluno não conseguia ler, denominadas palavras de treino. Os estímulos foram: palavras ditadas (A), figuras (B) e palavras impressas (C). Foram realizados os treinos das seguintes relações: AC (palavra A PALAVRA DITADA B FIGURA C PALAVRA IMPRESSA D NOMEAÇÃO E CONSTRUÇÃO DE PALAVRAS ditada como estímulo modelo e palavra impressa como estímulo de comparação) e CE (palavra impressa como estímulo modelo e construção da mesma com as letras). O Passo 1 teve início com o treino de discriminação condicional por exclusão (treino AC), o qual começou com duas palavras: uma que o aluno não conseguia ler (denominada palavra de treino ou indefinida) e outra que conseguia ler (denominada definida), sendo esta selecionada no pré-teste. Antes da apresentação dos estímulos, era dito ao aluno que uma palavra seria ditada pelo computador e apareceriam na tela duas palavras escritas. Então era pedido que colocasse a seta sobre a palavra igual a que foi ditada e clicasse sobre esta. Após cada tentativa correta era fornecido um reforço verbal (feedback positivo) e, se houvesse erro, era dado um feedback negativo. Tais feedbacks eram liberados pelo próprio programa de ensino e consistem da apresentação na tela, após cada tentativa, de uma figura constituída pelas seguintes frases: “muito bem, você acertou”, para o feedback positivo e “que pena, você errou”, para o negativo. A palavra de treino era apresentada como estímulo modelo (palavra ditada) e a mesma palavra na forma impressa aparecia como um dos estímulos de comparação. O outro estímulo de comparação era uma palavra definida, ou seja, que a criança já sabia ler. Foram realizadas duas tentativas para esse modelo, mudando apenas as posições das palavras impressas. Em seguida, a palavra definida era agora apresentada como estímulo modelo, dando-se duas tentativas para esse modelo. Isso ocorreu para garantir que se estabelecesse o controle pela palavra (texto) e não apenas pela “novidade”(palavra de treino desconhecida). Logo após, a palavra de treino e a palavra definida eram apresentadas como modelo, só que de forma intercalada, fornecendo-se mais duas tentativas para cada um. Se houvesse erro, toda essa parte era repetida integralmente, até que o aluno atingisse 100% de acerto. Posteriormente, foi introduzida no treino AC uma nova palavra de treino, estando agora a palavra de treino anterior como palavra definida. O procedimento foi idêntico ao anterior. Logo após realizou-se o treino de construção de palavra (treino CE). Cada palavra definida e cada palavra de treino era apresentada, uma por vez, como estímulo modelo. Foram apresentadas letras em ordem aleatória e solicitado ao aluno que selecionasse em sequência, por meio do mouse, as letras que compunham a palavra. Apresentou-se entre oito a doze letras para a realização de cada tarefa e essas eram em caixa alta. Foram fornecidas duas tentativas para cada palavra. Em seguida ao treino CE, foram conduzidos os testes de equivalência, constando das seguintes relações: BC (figura como modelo e palavras impressas como comparação), CB (palavra impressa como modelo e figuras como comparação) e CD (palavra impressa como modelo e sua nomeação, sendo neste caso, a leitura da palavra). No teste da relação CD, além da apresentação das palavras de treino, eram apresentadas, de forma intercalada, palavras de generalização, formadas pela recombinação das letras e sílabas das palavras de treino. Para as relações BC e CB foram fornecidas quatro tentativas para cada estímulo modelo, e duas tentativas para cada modelo na relação CD. O critério para avançar ao passo seguinte foi de 90% de acertos nos testes de equivalência para as relações BC, CB e CD. A leitura das palavras de generalização não era considerada para que o critério fosse alcançado. Se esta porcentagem não fosse atingida, o passo era repetido integralmente. A partir do Passo 2, no início de cada um, foi realizada uma sonda de leitura, que consistiu em apresentação individual das duas palavras de treino e palavras de generalização do passo anterior, além das palavras de treino programadas para o presente passo, e solicitado ao aluno a leitura de cada uma. Foram fornecidas duas tentativas para cada palavra. O critério para o aluno avançar para o próximo passo era, então, 90% de respostas corretas na sonda de leitura (somente para a leitura das palavras de treino do passo anterior) e 90% de acertos nos testes de equivalência. Os procedimentos quanto aos treinos das relações AC e CE e os testes de equivalência de estímulos para as relações BC, CB e CD eram idênticos aos descritos no Passo 1, com exceção das palavras de treino, que eram novas. Nos demais passos (Passo 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10) era realizado o mesmo procedimento do Passo 2, exceto que duas novas palavras de treino eram introduzidas em cada passo. Após o Passo 6 e após o Passo 10 foram conduzidos os testes extensivos de generalização, individualmente, que constituíram da apresentação individual das palavras de treino e das palavras de generalização estudadas nos passos anteriores e a solicitação de sua leitura. Cada palavra eram apresentadas duas vezes (duas tentativas). Fase III: Coleta final Foi reaplicado o inventário TRF com os professores, a fim de verificar se houve redução de comportamentos de indisciplina. 3- RESULTADOS Os resultados foram divididos em: 1) dados referentes ao programa de ensino de leitura e escrita e 2) dados obtidos com o Inventário TRF em pré e pós- intervenção. 3.1. Ensino de leitura e escrita Para a análise dos dados referentes ao treino de leitura e escrita, foram calculadas as porcentagens de acerto em cada passo do programa. Nos treinos de discriminação condicional por exclusão (relação AC) e construção de palavras (relação CE), todos os sujeitos apresentaram 100% de acerto em cada um dos passos. Os resultados obtidos diante das relações testadas (BC – figura como modelo e palavra impressa como comparação; CB – palavra impressa como modelo e figura como comparação e CD – palavra impressa como modelo e sua leitura), em cada passo, serão descritos a seguir, referentes a cada sujeito. A Tabela 1 apresenta os resultados dos testes de equivalência de estímulos obtidos por F. Tabela 1: Porcentagem de respostas corretas de F. nos testes de equivalência de estímulos em cada passo do programa. Passos Relações Testadas BC CB CD % acertos Palavras de Treino Palavras de Generalização % acertos 1 100 100 100 0 2 100 100 100 50 3 100 100 100 0 4 100 100 100 50 5 100 100 100 50 6 100 100 100 75 7 100 100 100 75 8 100 100 100 100 9 100 100 100 75 10 100 100 100 100 Conforme pode ser observado na Tabela 1, F. acertou todas as tentativas dos testes das relações BC (figura como modelo e palavra impressa como comparação) e CB (palavra impressa como modelo e figura como comparação). No teste da relação CD (palavra impressa como modelo e leitura da mesma), eram apresentadas duas palavras de treino e duas palavras de generalização, sendo que todas eram apresentadas duas vezes, ou seja, estipulou-se duas tentativas para a leitura de cada palavra. F. apresentou 100% de acerto na leitura das palavras de treino. Quanto à leitura das palavras de generalização, as porcentagens que constam na tabela são assim descritas: 25% correspondem à leitura de uma palavra, em apenas uma vez que foi apresentada (uma tentativa); 50% significa que o sujeito leu uma palavra, nas duas vezes em que foi apresentada, e 75% referem-se à leitura de uma palavra, nas duas vezes em que foi apresentada, e a leitura da outra palavra, em apenas uma tentativa. Verifica-se que até o Passo 3, F. leu somente uma palavra. A partir do Passo 4, entretanto, passou a ler mais palavras, sendo que nos Passos 8 e 10 apresentou 100% de acerto em todas as tentativas. Nos Passos 6, 7 e 9 conseguiu ler uma das palavras nas duas tentativas e a outra palavra na última tentativa (75%, portanto). A Tabela 2 contém os resultados apresentados por J. nas relações testadas. Verifica-se nessa tabela que nos testes BC e CB J. apresentou 100% de acerto em todas as respostas. Quanto à leitura das palavras de generalização, apresentou um aumento no número de palavras lidas a partir do Passo 5, vindo a ler corretamente as duas palavras apresentadas nos Passos 7, 9 e 10. Tabela 2: Porcentagem de respostas corretas de J. nos testes de equivalência de estímulos em cada passo do programa. Passos Relações Testadas BC CB CD % acertos Palavras de Treino Palavras de Generalização % acertos 1 100 100 100 0 2 100 100 100 50 3 100 100 100 75 4 100 100 100 25 5 100 100 100 50 6 100 100 100 50 7 100 100 100 100 8 100 100 100 75 9 100 100 100 100 10 100 100 100 100 Os dados referentes ao desempenho de N. nos testes de equivalência encontram-se na tabela que segue. Tabela 3: Porcentagem de respostas corretas de N. nos testes de equivalência de estímulos em cada passo do programa. Passos Relações Testadas BC CB CD % acertos Palavras de Treino Palavras de Generalização % acertos 1 100 100 100 0 2 100 100 100 0 3 100 100 100 0 4 100 100 100 50 5 100 100 100 50 6 100 100 100 100 7 100 100 100 50 8 100 100 100 50 9 100 100 100 50 10 100 100 100 100 Os dados contidos na tabela acima demonstram acerto de 100% nos testes BC e CB. No que tange ao teste CD, constata-se que N. leu todas as palavras ensinadas e leu corretamente uma palavra de generalização nos Passos 4, 5, 7, 8 e 9. Já nos Passos 6 e 10 apresentou 100% de respostas corretas na leitura das duas palavras de generalização apresentadas. A Tabela 4 apresenta os dados referentes às respostas de M. nos testes de equivalência. Como pode ser visto na Tabela 4, M. apresentou apenas uma resposta incorreta no teste da relação CB, no Passo 5, o que corresponde a 1 erro em 24 tentativas. No teste CD, leu corretamente todas as palavras de treino. Em relação à leitura das palavras de generalização, conseguiu ler uma palavra nos Passos 3, 4, 6, 7, 8, 9 e 10. Tabela 4: Porcentagem de respostas corretas de M. nos testes de equivalência de estímulos em cada passo do programa. Passos Relações Testadas BC CB CD % acertos Palavras de Treino Palavras de Generalização % acertos 1 100 100 100 0 2 100 100 100 0 3 100 100 100 50 4 100 100 100 50 5 100 95 100 0 6 100 100 100 50 7 100 100 100 50 8 100 100 100 50 9 100 100 100 50 10 100 100 100 50 Os dados referentes à porcentagem de acertos de F. na leitura das palavras de treino e palavras de generalização do passo anterior, além das palavras de treino do passo atual, nas sondas de leitura, podem ser visualizados na Tabela 5. Tabela 5 : Porcentagem de acerto de F. na leitura das palavras treinadas e palavras de generalização do passo anterior, e palavras a serem treinadas no passo atual nas sondas de leitura de cada passo. Passos Palavras Treinadas (Passo anterior) Palavras de Generalização Palavras de Treino (Passo atual) Porcentagem de Acertos 2 100 0 0 3 100 50 0 4 100 50 0 5 100 50 0 6 100 75 0 7 100 100 0 8 100 100 50 9 100 100 50 10 100 75 50 Como pode-se observar, as palavras de treino do passo anterior foram lidas corretamente em todos os passos. Nos Passos 7, 8 e 9, F. leu corretamente todas as