Projeto de extensão: processo de trabalho docente e doenças ocupacionais

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Data

2001

Autores

Nunes, Marilene [UNESP]

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Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Resumo

Antes de expor o conteúdo desse projeto urge esclarecer o que entendemos por extensão universitária. Essa atividade se caracteriza pelo retorno à comunidade de conhecimentos produzidos a partir de pesquisas acerca das problemáticas evidenciadas no seu âmbito e que serviram de base concreta para a geração de novos saberes. A extensão não é em si mesma uma prestação de serviços ela é uma das formas de socialização do conhecimento oriundos das pesquisas. Sem pesquisa não há extensão, mas filantropia e prestação de serviços. As instituições filantrópicas não estão preocupadas em gerar novos conhecimentos, o seu objetivo se resume em fazer caridade. A palavra extensão se autodefine, a extensão universitária é extensão do processo de pesquisa e de produção de conhecimento, a essência do trabalho universitário e que enriquecerá o trabalho docente que atinge a formação de uma gama de novos profissionais nos cursos de graduação e pós-graduação. Assim, a partir desta conceituação o nosso projeto de extensão se destina a fornecer subsídios teóricos e práticos para a melhoria das condições de trabalho de professores do ensino fundamental e médio das escolas da rede pública estadual e municipal do Estado de São Paulo e, também esclarecer os sindicatos quanto a existência de doenças ocupacionais de origem emocional produzidas pelas relações sociais de trabalho nas organizações escolares públicas. Entende-se como melhoria das condições de trabalho não somente a ampliação de recursos físicos de caráter infraestrutural ou a capacitação docente em nível de formação metodológica, sobretudo, entendemo-nas como um problema de gestão organizacional. O projeto é de iniciativa recente e originou-se da pesquisa "Trabalho Docente e Sofrimento Psíquico:proletarização e gênero" desenvolvida junto ao Departamento de Didática do curso de pedagogia da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP de Marília. A partir da referida pesquisa constatou-se que na rede pública de ensino os professores estão sujeitos a condições de elevado sofrimento psíquico decorrente da organização social de trabalho vigente nessas instituições. Foram observados 240 professores da rede pública do ensino fundamental em situação de sala de aula. Da análise dos dados foi possível evidenciar incidência de elevada exaustão emocional, stress e sentimento de diminuição de realização profissional que interferem na produtividade do trabalho pedagógico. Estes sintomas revelam que número expressivo de trabalhadores docentes sofrem de distúrbios emocionais como a síndrome de burnout e de depressões reativas. Catalogadas pela Organização Mundial de Saúde como doenças ocupacionais, elas são decorrentes da própria organização social do processo de trabalho. No Brasil esta problemática tem sido ignorada e, portanto, negligenciada pelo poder público. A solução do problema não se resume em estabelecer políticas públicas de saúde que visam a medicalização e tratamento dos docentes de forma individualizada, porque além dos custos serem elevados isto é apenas um paliativo que não resolve a questão. Se faz necessário estabelecer políticas de prevenção. Se a causa do sofrimento decorre das relações sociais de trabalho, portanto são estas relações que precisam ser modificadas e isto atinge diretamente a gestão do trabalho docente. No Brasil, a Legislação de Ensino é clara, de acordo com o Direito Educacional Brasileiro, o processo de trabalho docente tem como foco o processo ensino-aprendizagem, esta definição privilegia o processo de trabalho docente como núcleo, central e gerador da aprendizagem. Gerenciar o trabalho docente tem então o significado de maximização dos recursos e estratégias para otimizar o desenvolvimento pleno da atividade docente.O modelo de gestão vigente na escola pública brasileira se alicerça num paradigma altamente prescrito e disciplinar que oprime as iniciativas criativas dos professores promovendo baixa estima dos docentes e conseqüente queda da produção. Estes conflitos atingem a saúde emocional do professor comprometendo o processo ensino-aprendizagem. Como administrar o processo ensino-aprendizagem e o trabalho docente de forma a minorar o sofrimento psíquico dos professores? Esta é uma das principais tarefas da gestão moderna não só na escola, mas em todo o processo produtivo. Ignorar a subjetividade dos trabalhadores no processo produtivo em favor de uma gestão racionalista implica em negligenciar o principal produtor de riqueza, o próprio trabalhador. O projeto tem como objetivo assessorar as administrações escolares e os sindicatos para que localizem os entraves organizacionais que promovem sofrimento emocional prevenindo o desencadeamento de doenças emocionais de caráter ocupacional. Destina-se a dois públicos alvos, os agentes da organização escolar: administradores, professores e funcionários e alunos das escolas públicas e aos sindicatos de profissionais da educação. Assim optou-se por duas formas metodológicas para a consecução do objetivo. No primeiro caso é necessária a intervenção junto as escolas e é preciso que a comunidade escolar aceite esta intervenção. Se o projeto é aceito desenvolve-se o trabalho em duas etapas. A primeira se consubstancia em coleta de dados junto aos professores, administradores e funcionários. O instrumento utilizado é a entrevista coletiva com cada seguimento, afim de detectar as dificuldades e o grau de sofrimento experimentados pelos sujeitos. Em seguida em reuniões em comum com os distintos seguimentos é estabelecido o diagnóstico das possíveis causas e o encaminhamento das soluções. Podem participar desse processo alunos das habilitações: Administração e Supervisão Escolar dos Cursos de Pedagogia. Na segunda modalidade, o projeto se dirige aos sindicatos, nesse caso, optou-se por desenvolver cursos de capacitação que visam esclarecer as direções sindicais quanto a existência de doenças ocupacionais de caráter psíquico decorrentes das relações sociais de trabalho na escola. O curso a princípio está montado em 3 módulos em que são abordados os seguintes temas. 1) O processo de proletarização docente 2) doenças ocupacionais da profissão docente 3) Formas alternativas de gestão do trabalho docente. Esse curso tem em média 30 horas de duração.Os possíveis resultados decorrentes dessa iniciativa para a comunidade escolar é a melhoria das condições de trabalho e a redução do sofrimento emocional, aspecto que resulta em maior produtividade do trabalho pedagógico. No caso dos sindicatos, o alerta quanto a existência das depressões reativas e do burnout como doenças ocupacionais, possibilita a esta instituição o conhecimento de que a insalubridade no trabalho docente não reside apenas na exposição dos professores a elementos exógenos de natureza química como, por exemplo o pó-de-giz, ou os de caráter estrutural como a inadequação das instalações infra-estruturais,uma vez que as doenças emocionais são oriundas das gestões hierárquicas centralizadoras e disciplinar as verdadeiras promotoras da insalubridade na profissão docente. A consciência desta problemática mune os sindicatos de conhecimentos sobre o trabalho docente de forma a intervir nas políticas públicas educacionais e trabalhistas atingindo em nível macro-estrutural o sistema de ensino. Para a universidade o contato direto com a comunidade por meio das organizações escolares e sindicatos proporcionam subsídios práticos que servem de base para as construções teóricas de novas pesquisas.

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