Projeto de alfabetização de adultos por meio da Educação em Saúde

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Data

2001

Autores

Cyrino, Eliana Goldfarb [UNESP]

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Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Resumo

O presente projeto desenvolve-se desde 1993 a partir da iniciativa de um grupo de dez estudantes da Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP motivado a vivenciar formas de interação social com a comunidade local. Procurando conhecer e apreender as necessidades da população, o projeto teve início como um ciclo de palestras sobre temas de saúde, ministrado aos sábados, para cerca de 15 mulheres que já participavam de um grupo de artesanato e de uma Comissão de Saúde de um bairro da periferia do município de Botucatu. Inicialmente os temas eram propostos pelos próprios estudantes. Num segundo momento as mulheres passaram a ter uma participação mais efetiva, solicitando temas que respondessem às suas necessidades e interesses, momento em que se explicitou, para o grupo, a vontade de serem alfabetizadas. Inicia-se assim, com a orientação de docentes da UNESP das áreas da Educação e da Saúde Pública, um processo de problematização do analfabetismo enquanto limite para o exercício da cidadania, na medida em que dificulta a apropriação de conhecimentos, o acesso a informação e as possibilidades de comunicação e expressão da população no espaço social. Apoiados nas abordagens desenvolvidas por Paulo Freire, Emília Ferreira e Victor Valla em relação à educação, alfabetização e saúde pública, buscou-se construir uma prática de educação em saúde que, incorporando a problemática da alfabetização, estivesse pautada por uma relação dialógica, na qual professores e alunos participassem como sujeitos do processo em que estão inseridos. No que se refere a possibilidade da experiência contribuir para a formação profissional, a preocupação das orientadoras tem sido permitir aos estudantes de medicina uma vivência capaz de despertar e desenvolver a sensibilidade para a percepção de problemas sociais e éticos, assumindo responsabilidades enquanto cidadãos conscientes e comprometidos com a vida comunitária. Com relação ao grupo de alfabetizandos, o desafio se dá no sentido de apropriar-se de conhecimentos teórico-práticos que possibilitem trabalhar com o processo de alfabetização e os conteúdos selecionados de forma dialógica, comprometendo-se com a ampliação de espaços que valorizem o exercício da cidadania. O trabalho em sala de aula desenvolve-se, durante a semana, no período noturno, em uma sala de uma Creche Municipal. As aulas são elaboradas de forma a possibilitar as inter-relações entre professores e alunos, procurando valorizar o processo de construção de conhecimento pelo coletivo do grupo. São estruturadas com atividades de leitura, interpretação e discussão de textos retirados de jornais e revistas e/ou textos elaborados pelas próprias professoras ou, ainda, por alunos em sala de aula. As aulas são organizadas com base na idéia de "temas geradores", desenvolvida por Paulo Freire, procurando problematizar situações próximas da realidade do grupo. O projeto alfabetizou cerca de quarenta adultos e contou com a participação de quinze estudantes de medicina em diferentes momentos. A primeira turma de professores, já formada, cursa hoje o 3º ano de residência médica. O envolvimento dessa primeira turma com a proposta contagiou outros estudantes do campus de Botucatu, atribuindo ao projeto um caráter dinâmico, que assumiu a idéia de uma proposta em construção. Com esta característica, o projeto incorpora, a cada ano, não só novos alunos (adultos não alfabetizados), mas novos estudantes que irão integrar o grupo de professores. Procurando estimular a participação de novos acadêmicos, uma das preocupações dos coordenadores do projeto tem sido valorizar, também, a permanência de estudantes por mais de dois anos - condição que se mostra fundamental para assegurar a continuidade dos fundamentos teórico-práticos assumidos pela equipe inicial e que caracterizam o projeto. Grande parte dos alunos foi alfabetizada e avalia como importante e significativa a experiência de participação no projeto. Alguns adultos permanecem por mais de dois anos no projeto; outros foram encorajados a prosseguir seus estudos sob a forma do ensino supletivo noturno. Para os acadêmicos, a grande dificuldade do projeto, considerando suas características e seu permanente movimento em relação ao grupo de professores, refere-se à possibilidade de dar continuidade e desenvolver uma prática reflexiva, não autoritária nem normativa, que trabalhe criticamente com as dificuldades e obstáculos à realização de uma prática dialógica e construtivista com a população local. Talvez o maior impacto do projeto, pensado sob a ótica de um curso médico, seja a possibilidade do estudante de medicina buscar outras leituras do mundo, da comunicação, da prática profissional, contribuindo para o desenvolvimento de relações mais dialógicas e menos opressoras. Para a população alfabetizada o maior benefício revela-se na possibilidade da percepção de maior autonomia, participação e construção de conhecimentos a partir do processo de alfabetização.

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