Gabapentina versus dexclorfeniramina no tratamento do prurido urêmico de pacientes sob hemodiálise: um ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado

Carregando...
Imagem de Miniatura

Data

2017-12-04

Autores

Gobo-Oliveira, Mariele

Título da Revista

ISSN da Revista

Título de Volume

Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Resumo

O prurido urêmico é uma complicação frequente em pacientes renais crônicos, com impacto na qualidade de vida. Sua etiopatogênese é multifatorial e as evidências para o tratamento com emolientes, anti-histamínicos orais e drogas de ação no sistema nervoso central, como a gabapentina, são limitadas. Objetivos: 1- verificar a prevalência de prurido urêmico e seus fatores associados; 2- avaliar a eficácia na redução do prurido urêmico com a terapia tópica com cold cream após 15 dias e 3-comparar a eficácia e segurança da gabapentina versus dexclorfeniramina na redução do prurido urêmico em um período de 21 dias. Métodos: A pesquisa foi realizada entre abril de 2014 a fevereiro de 2016. Inicialmente para atender ao objetivo 1, foi realizado estudo transversal e prospectivo com pacientes em hemodiálise (etapa 1). Os dados foram obtidos por meio de prontuário eletrônico e pela aplicação de questionário estruturado. Os pacientes que relataram prurido foram convidados a participar da etapa 2 para atender ao objetivo 2, sendo este uma série de casos com seguimento longitudinal não-comparativo, no qual os pacientes receberam cold cream para uso por 15 dias. Foram avaliados a intensidade do prurido através da Escala Visual Analógica (EVA), qualidade de vida (DLQI), número de topografias corporais afetadas, período do prurido e relatório de efeitos adversos. Ao final desta fase, para atingir o objetivo 3, os pacientes (60) que ainda se queixavam de prurido de qualquer intensidade iniciaram a etapa 3, onde foram randomizados, para receber gabapentina 300 mg 3 vezes por semana (grupo GABA) ou dexclorfeniramina 6mg a cada 12 horas (grupo DEX) por 21 dias em ensaio clínico randomizado, controlado, duplo-cego, paralelo. O desfecho primário foi a diminuição do escore do prurido estimado por EVA e melhora do DLQI após os tratamentos. A análise dos dados foi realizada no software IBM SPSS 22.0, sendo considerado significativo valor de p<0,05. Resultados: Na fase 1 foram incluídos 164 pacientes e o prurido foi relatado por 64 (39%). Na análise multivariada, creatinina elevada foi fator de risco para o prurido (RP=1,09 IC95% 1,00 a 1,19; p=0,048) assim como níveis baixos de hemoglobina (RP =0,85 IC95% 0,73 a 0,99; p=0,043). Dislipidemia (β =1,52 IC95% 0,12 a 2,91; p=0,03), obesidade (β =2,40 IC95% 1,03 a 3,78; p=0,001), níveis altos de proteína C reativa (PCR) (β =0,26 IC95% -0,19 a 0,34; p<0,001) e pacientes de cor negra (β =1,50 IC95% 0,42 a 2,58; p<0,006) se relacionaram com a maior intensidade do prurido. O uso de dialisador de alto fluxo, se relacionou com menor intensidade do prurido (β =-1,69 IC95% -3,05 a -0,34; p=0,01). Na fase 2, foram incluídos 71 pacientes (T0) para receber cold cream. Houve redução de 37,5% na mediana da EVA do prurido de 8 (6-10) para 5 (2-7) (p<0,01); assim como de 33,4% na mediana do número de topografias afetadas 3 (2-9) para 2 (1-3) (p<0,01). A mediana dos escores de DLQI apresentou queda de 50%: 4 (2-8) para 2 (1-3) (p<0.01), assim como para a duração do prurido (p<0.01). Nove (12%) dos pacientes apresentaram resolução completa do sintoma. Cinco pacientes (7%) apresentaram alguma queixa, sendo um do mau odor do produto, e quatro acharam o produto oleoso. Não houve nenhum evento adverso local ou sistêmico relacionado ao produto. Sessenta pacientes mantiveram prurido ao final da fase 2 e foram incluídos na fase 3, 30 no grupo GABA e 30 no grupo DEX. Houve redução dos índices de prurido em ambos os grupos (p<0,01), sem diferença entre eles (p>0,7): EVA (T15-T36) reduziu mediana (p25-p75) de 5 (4-8) para 2 (0-3) no grupo GABA e de 5 (3-7) para 1 (0-2) no grupo DEX. O DLQI reduziu mediana (p25-p75) de 2 (1-3) para 1 (0-1) no grupo GABA, e de 2 (1-4) para 0 (0-1), no grupo DEX. Dezenove pacientes (32%) relataram efeitos colaterais leves/moderados, sem diferença entre os grupos, sendo sonolência o mais comum. Conclusões: Prurido urêmico tem alta prevalência em pacientes hemodialíticos e nossos dados sugerem que quanto maior o valor de creatinina e o menor valor de hemoglobina, maiores os riscos para o seu desenvolvimento. Dislipidemia, obesidade, níveis mais altos de proteína C-reativa, foram associados com maior intensidade de prurido, assim como o uso de dialisadores de alto fluxo se relacionaram com menor intensidade do prurido. O prurido urêmico foi reduzido com uso tópico de cold cream e, adicionalmente, com gabapentina ou dexclorfeniramina, com boa segurança, sem diferença entre os tratamentos.
Uremic pruritus is a frequent complication in chronic renal patients, with an impact on quality of life. Its etiopathogenesis is multifactorial and as evidence for treatment with emollients, oral antihistamines and drugs with central nervous system action such as gabapentin are limited. Objectives: 1- to verify the prevalence of UP and its associated factors; 2- evaluate the effectiveness in reduction of uremic pruritus with topical therapy with cold cream after 15 days and 3- evaluate the efficacy and safety of gabapentin vs. dexchlorpheniramine in reducing the uremic pruritus after 21 days. Methods: The study was carried out between April 2014 and February 2016. Initially to reach objective 1, a cross-sectional and prospective study was performed with patients undergoing hemodialysis (stage 1). The data were obtained by electronic medical record and by the application of a structured questionnaire. Patients who reported pruritus were invited to participate in stage 2 to reach objective 2, a series of cases with non-comparative longitudinal follow-up, in which the patients received cold cream for apply for 15 days. The intensity of pruritus was evaluated by the Visual Analogue Scale (VAS), and also the quality of life questionnaire (DLQI), number of affected topographies, pruritus period and adverse effects were assessed. At the end of this phase, to reach the objective 3, patients (60) with any intensity of pruritus were included in stage 3, where they were randomized to receive gabapentin 300 mg three times per week (GABA group) or dexchlorpheniramine 6mg every 12 hours (DEX group) for 21 days in a randomized, controlled, double-blind, parallel trial. The primary end point was the decrease in VAS pruritus score and improvement of DLQI after treatments. The statistical analysis was carried out using multivariate regression models, and statistical significance was set at p<0.05. Results: In phase 1 a total of 164 patients were included, and pruritus was reported in 64 (39%). In the multivariate analysis, a higher creatinine level was risk factor for pruritus (β=1.09, 95% CI 1.00-1.19; p=0.048), as was a lower level of hemoglobin (β=0.85, 95% CI 0.73-0.99; p=0.043). Dyslipidemia (β=1.52, 95% CI 0.12-2.91; p=0.03), obesity (β=2.40, 95% CI 1.03-3.78; p=0.001), higher levels of C-reactive protein (β=0.26, 95% CI 0.19-0.34; p<0.001) and black race (β=1.49, 95% CI -2.57 and 0.42; p<0.006) were associated with a greater intensity of pruritus. The use of a high-flux dialyzer was associated with a lower intensity of pruritus (β=-1.69, 95% CI -3.05-0.34; p=0.01). In phase 2, 71 patients (T0) were included to receive cold cream. The participants had a 37.5% reduction in the VAS median from 8 (6-10) to 5 (2-7) (p<0.01), as well as 33.4% in the median number of topographies affected 3 (2-9) to 2 (1-3) (p <0.01). The median DLQI scores presented a 50% decrease: 4 (2-8) for 2 (1-3) (p <0.01), as well as for pruritus duration (p <0.01). Nine (12%) of the patients had complete resolution of the symptom. Five patients (7%) had some complaint, being one of the product bad odor, and four found the oily product. There were no local or systemic adverse events related to the product. Sixty patients maintained pruritus at the end of phase 2 and were included in stage 3, 30 in the GABA group and 30 in the DEX group. There was a reduction in pruritus score in both groups (p <0.01), with no difference between them (p> 0.7). The median VAS (T15-T36) reduced (p25-p75) from 5 (4-8) to 2 (0-3) in the GABA group and from 5 (3-7) to 1 (0-2) in the DEX group. The median of DLQI reduced (p25-p75) from 2 (1-3) to 1 (0-1) in the GABA group, and from 2 (1-4) to 0 (0-1) in the DEX group. Nineteen patients (32%) reported mild/moderate side effects, with no difference between groups, with sleepiness being the most common. Conclusion: Uremic pruritus has a high prevalence in hemodialysis patients, and the data suggest that the higher the creatinine and the lower the hemoglobin levels are, the greater the risk of developing pruritus is. Dyslipidemia, obesity, and higher levels of C-reactive protein were associated with a greater intensity of pruritus, whereas the use of a high-flux dialyzer was associated with lower pruritus intensity. Uremic pruritus was reduced with topical use of cold cream and, additionally, with gabapentin or dexchlorpheniramine, with safety and no difference between them.

Descrição

Palavras-chave

prurido, unidades hospitalares de hemodiálise, insuficiência renal, dermatopatias, antipruriginosos, uremic pruritus, hemodialysis, antipruritic, dermatopathies

Como citar