Ictiofauna silvestre como bioindicadora de influências de uma piscicultura em tanques-rede: ecologia trófica e histofisiologia

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Data

2018-02-20

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Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Resumo

O crescimento populacional e a procura por uma alimentação mais saudável tem impulsionado a produção do pescado em escala mundial. Nesse cenário, a aquicultura, em especial os sistemas de pisciculturas em tanques-rede, tem se destacado mundialmente, sendo o principal modelo empregado em reservatórios brasileiros. Esse modelo de cultivo é intensivo, com peixes estocados em alta densidade em estruturas flutuantes, alimentados com intenso aporte de ração. Considerando que os tanques são estruturas imersas nos corpos de água, esse modelo de cultivo é responsável pela entrada de matéria orgânica (ração, fezes e escamas) no ambiente, a qual fica disponível como alimento para a biota aquática. Diante disso, o objetivo do presente estudo foi avaliar se a entrada de matéria orgânica promove alterações na dieta da ictiofauna silvestre nos arredores dos tanques de cultivo, influenciando assim a estrutura trófica da mesma. Ainda, avaliar a influência desses empreendimentos a nível individual e se essas alterações são capazes de promover alterações histofisiológicas, utilizando uma espécie omnívora como modelo. Foram realizadas análises do conteúdo estomacal de dez espécies da ictiofauna silvestre (Geophagus cf. proximus, Plagioscion squamosissimus, Pimelodus cf. platicirris, Serrasalmus maculatus, Raphiodon vulpinus, Triportheus nematurus, Metynnis maculatus, Satanoperca pappaterra, Schizodon nasutus e Roeboides paranensis) amostrada em área sob influência da piscicultura (área tanque) e área livre de influência (área controle), no reservatório de Ilha Solteira, alto rio Paraná, rio Grande, SP. Observaram-se diferenças na alimentação entre os locais de amostragem, sendo o item ração, um dos principais responsáveis por essa diferença. Além disso, verificou-se que dentre as guildas tróficas que compõem a comunidade silvestre, as espécies omnívoras e oportunistas foram as mais influenciadas pela piscicultura em tanques-rede, visto que apresentam plasticidade trófica, consumindo os itens mais disponíveis no ambiente. Ainda, foi aplicada uma abordagem alternativa para o estudo do uso e partilha dos recursos alimentares em nível individual para a população de Geophagus cf. proximus, sob influência de uma piscicultura em tanques-rede. Este estudo demonstrou que populações conhecidas como generalistas podem na verdade ser compostas por indivíduos especialistas e que a variação interindividual e a especialização são influenciadas pelas variações no ambiente, bem como pela disponibilidade de recursos alimentares. Adicionalmente, foram realizadas análises histofisiológicas do tecido hepático (concentração de proteínas totais, do fígado, gônadas e músculo), de Geophagus cf. proximus, espécie omnívora, amostrada nas duas áreas. Verificou-se que a ração, contendo altas concentrações lipídicas e proteicas, promoveu histopatologias severas no fígado, bem como hiperplasia pancreática e esteatose hepática. Assim, conclui-se que a piscicultura em tanques-rede influenciou a ecologia trófica da ictiofauna silvestre, principalmente espécies omnívoras-oportunistas, as quais se alimentaram da ração, um item alimentar altamente disponível e de fácil captura. Esse modelo de cultivo considerado promotor de alterações ambientais, influenciando na disponibilidade de alimento, interferiu também nos padrões de uso de recursos pelos indivíduos. Além disso, o consumo de ração provocou alterações histofisiológicas no tecido hepático e gonadal de uma espécie silvestre. Diante disso, reforça-se a importância do estudo acerca das influências de desses empreendimentos sobre a fauna aquática.

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Palavras-chave

cultivo intensivo de peixes, alimentação, dieta individual, histologia, proteínas totais, ictiofauna

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