As águas da cidade de Presidente Prudente - SP - Brasil: memória e representação social

Carregando...
Imagem de Miniatura

Data

2018-07-10

Autores

Fagundes, Beatriz

Título da Revista

ISSN da Revista

Título de Volume

Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Resumo

Atualmente, muitas paisagens mostram a conflituosa relação que foi sendo estabelecida entre as cidades e as águas ao longo da história. Um modelo de planejamento urbano voltado para a cidade ideal e higiênica não considerou as águas como um elemento integrante do meio urbano e, sim, na maioria das vezes, como parte de um sistema artificial de tubulações, redes entrelaçadas de canalização fluvial, de distribuição de água potável e coleta e afastamento de águas pluviais e residuais. Neste circuito, as águas fluviais da cidade, que faziam parte de um sistema aberto maior e de troca de relações, passaram a ser confinadas por obras de engenharia – retificações e canalizações - que mudaram seu percurso, suas características e sua função, na tentativa de controle dessas águas. Esta ideia, abraçada pelos administradores de grandes centros brasileiros, levou pequenas e médias cidades a também adotarem a mesma postura, como forma imediatista de resolver problemas de áreas de fundo de vale degradadas pelo próprio movimento de estruturação da cidade. Assim, as intervenções realizadas, principalmente, nos cursos d’água, passam a ser vistas de forma natural, como se a canalização fosse o destino final para as águas urbanas. A partir destas constatações começamos a observar, na vivência cotidiana na cidade de Presidente Prudente, São Paulo, Brasil, poucos ambientes com a presença da água, que a população possa ter acesso, como fontes, córregos e lagos. Isso nos chamou a atenção, principalmente, quando temos conhecimento que a cidade de Presidente Prudente foi se sobrepondo a um denso sistema hidrográfico, constituído por nascentes e pequenos cursos d’água, ou seja, vários córregos que fazem parte das bacias hidrográficas do Rio Santo Anastácio e do Rio do Peixe. Os cursos d’água quando aparecem, aqui e ali, geralmente, estão com canalização aberta, alguns inseridos em parques lineares. Aqueles que ainda não foram canalizados estão quase todos cercados, sem acesso da população, ou degradados com processo erosivo intenso, assoreados e com muito lixo acumulado em suas margens e nas áreas adjacentes ao córrego. Considerando essas verificações, lançamos como hipótese que as relações que foram construídas, ao longo do tempo, entre a cidade de Presidente Prudente e suas águas e, a falta de ambientes que valorizem essas águas na paisagem urbana, em sua maioria, criaram representações negativas em relação a essas águas e desencadeiam, muitas vezes, práticas depreciativas em relação às águas ainda presentes. Propomos assim, para averiguação dessa tese, compreender as relações que historicamente foram estabelecidas entre a cidade de Presidente Prudente e suas águas (nascentes, córregos e lagos), que justificariam representações sociais negativas em relação às águas ainda presentes na paisagem urbana. Para alcançar tal objetivo foram necessários os seguintes procedimentos: amplo levantamento bibliográfico sobre a temática apresentada; a análise de documentos que revelaram as diversas ações do poder público em relação aos córregos urbanos, ao longo do tempo; o acesso à memória e às representações sociais em relação às águas na cidade, que foi possível através da História Oral e da Teoria das Representações e as estratégias de pesquisa associadas a essas. Assim, analisando o conjunto da pesquisa podemos afirmar que, as águas da cidade de Presidente Prudente ficaram sim apenas na memória daqueles que um dia as presenciaram limpas na paisagem e, para aqueles que não tiveram essa oportunidade e, mesmo para quem teve, hoje esses córregos são apenas galerias por onde percorre um líquido que carrega sujeira que a cidade produz. O rio não está mais ali, o que ele representa hoje é toda a negatividade que sua presença na cidade pode trazer como o lixo, esgoto, mau cheiro, insetos e perigo. Essas águas na opinião dos moradores precisam ser escondidas, elas não pertencem mais a cidade. Desta forma, este estudo pretende trazer uma contribuição para a gestão pública municipal, para que a cidade possa vir estabelecer outra relação com as águas que ainda permanecem na sua paisagem, para que estas sejam incorporadas à cidade e à vida da população de forma salutar, e se possível ampliar a qualidade de vida urbana.
Currently, many landscapes show the conflicting relationship that has been established between cities and waters throughout history. An urban planning model, aimed at the ideal and hygienic city, have not considered water as an integral element of the urban environment, but rather, as part of an artificial system of pipes, intertwined networks of river channels, distribution of potable water and collection and removal of rainwater and waste water. In this circuit, engineering works - repairs and plumbing - that changed its course, its characteristics and its function, in an attempt to have control of these waters, confined the river waters of the city, which were part of a larger open system and the exchange of relationships. This idea, embraced by the administrators of large Brazilian centres, led small and medium cities to adopt the same posture, as an immediate way of solving problems of valley bottom areas degraded by the city's own structure movement. Thus, these carried out interventions, mainly in the watercourses, have started to be seen in a natural way, as if the channelling was the final destination for urban waters. Based on these findings, we have observed, in the daily life in the city of Presidente Prudente, São Paulo, Brazil, few water environments where the population can have access to, such as fountains, streams and lakes. This, in particularly have called our attention when we had learned that the city of Presidente Prudente was overlapping itself on a dense hydrographic system, consisting of springs and small waterways, in other words, several streams that are part of the hydrographic basins of Rio Santo Anastácio and Rio do Peixe. When the watercourses appear here and there, they usually are opened channels, some of them inserted in linear parks. Those, which have not been canalized yet, are almost all surrounded, not accessible to the population, or degraded with an intense erosive process, silted and with too much accumulated garbage in their margins and in the adjacent areas to the creek. Considering these verifications we have launched, as hypothesis that the relations built, over time, between the city of Presidente Prudente and its waters, and the lack of environments, which values these waters in the urban landscape, for the most part, have created negative representations regarding these waters and they often trigger depreciative practices in relation to the waters still present. In order to investigate this thesis, we propose to understand the historically established relationship between the city of Presidente Prudente and its waters (springs, streams and lakes), which would justify the negative social representations in relation to the waters still present in the urban landscape. In order to achieve this objective the following procedures were necessary: a large bibliographical survey on the presented thematic; the analysis of documents which revealed various actions of public power in relation to the urban streams, over time; to get access to memory and social representations in relation to the water in the city, which was possible through Oral History and Representational Theory, and the research strategies related to it. Thus, analysing the whole research, we can affirm that the waters of the city of Presidente Prudente were only in the memory of those who once saw them clean in the landscape and, for those who did not have this opportunity and even for those who had, today the streams are just galleries, which a liquid carries through the dirt that the city produces. The river is no longer there, what it does represent today is all the negativity that its presence in the city can bring, such as garbage, sewage, foul smell, insects and danger. These waters, in the opinion of the residents, need to be hidden, as they no longer belong to the city. Therefore, this study intends to contribute to the municipal public management, so that the city can establish another relationship with the waters that still remain in its landscape, in which these would be incorporated into the city and the life of the population in a healthy way, and if possible, a better quality of urban life.
Actualmente, muchos paisajes muestran la relación conflictiva que se ha establecido entre las ciudades y el agua, a lo largo de la historia. Un modelo de planificación urbana, inspirado en la ciudad ideal y higiénica, no consideró el agua como elemento integrante del medio urbano, y sí, en la mayoría de las veces, como parte de un sistema artificial, de tuberías, redes entrelazadas de canalización fluvial, de distribución de agua potable, colecta y separación de aguas pluviales y residuales. En este circuito, las aguas fluviales de la ciudad, que hacían parte de un sistema abierto más grande y de intercambio de relaciones, pasaron a ser confinadas por obras de ingeniería – rectificaciones y canalizaciones – que cambiaron su recorrido, sus características y su función, en el intento de controlar el agua. Esta idea, adoptada por los administradores de grandes centros urbanos brasileños, llevó a las ciudades pequeñas e intermedias a asumir esta misma postura, como forma inmediatista de resolución de los problemas de las áreas de fondo de valle degradadas por el propio movimiento de estructuración de la ciudad. Así, las intervenciones realizadas, principalmente, en los cursos de agua, pasaron a ser vistas de forma natural, como si la canalización fuera el destino final para el agua urbana. A partir de estas constataciones, empezamos a observar en la vida cotidiana de la ciudad de Presidente Prudente, São Paulo, Brasil, pocos ambientes con presencia de agua, a los cuales la población pueda tener acceso, como fuentes, arroyos y lagos. Eso nos llamó la atención, principalmente, cuando tenemos conocimiento de que la ciudad de Presidente Prudente fue sobreponiéndose a un denso sistema hidrográfico, constituido por nacientes y pequeños cursos de agua, o sea, varios arroyos que hacen parte de las cuencas hidrográficas del Río Santo Anastácio y del Río do Peixe. Los cursos de agua, cuando aparecen, aquí y allá, generalmente, están con canalización abierta, algunos insertados en parques lineales. Aquellos que aún no fueron canalizados están casi todos cercados, sin acceso de la población, o degradados con procesos erosivos intensos, sedimentados y con mucha basura acumulada en sus márgenes y en áreas cercanas al curso de agua. Considerando esas verificaciones, lanzamos como hipótesis que las relaciones que fueron construidas, a lo largo del tiempo, entre la ciudad de Presidente Prudente y sus aguas y, a falta de ambientes que valoricen el agua en el paisaje urbano, en su mayoría, crearon representaciones negativas en relación al agua y desencadenan, muchas veces, prácticas despreciativas en relación al agua aún presente. Proponemos, así, para el desarrollo de esta tesis, comprender las relaciones que históricamente fueron establecidas entre la ciudad de Presidente Prudente y sus aguas (nacientes, arroyos y lagos), que justificarían representaciones sociales negativas en relación a esas aguas aún presentes en el paisaje urbano. Para alcanzar esa meta, fueron necesarios los siguientes procedimientos: amplio levantamiento bibliográfico sobre la temática presentada; el análisis de documentos que revelaron las diversas acciones del poder público en relación a los curso de agua urbanos, a lo largo del tiempo; el acceso a la memoria y a las representaciones sociales en relación al agua en la ciudad, que fue posible a través de la Historia Oral, de la Teoría de las Representaciones y a las estrategias de investigación asociadas a estas. Así, analizando el conjunto de la investigación, podemos afirmar que, el agua de la ciudad de Presidente Prudente quedaron solamente en la memoria de aquellos que un día la presenciaron limpia en el paisaje y, para aquellos que no tuvieron esa oportunidad, así como también para quien la tuvo, hoy en día esas corrientes son solamente zanjas por donde transcurre un líquido que carga suciedad que la ciudad produce. El rio no está más ahí, lo que él representa hoy es toda la negatividad que su presencia en la ciudad puede traer, como basura, aguas negras, mal olor, insectos y peligro. El agua, en la opinión de la población, necesita ser escondida, el agua no pertenece más a la ciudad. De esa forma, este estudio pretende traer una contribución para la gestión pública municipal, para que la ciudad pueda, a futuro, establecer otra relación con el agua que aún pertenece a su paisaje, para que sea incorporada a la ciudad y a la vida de la población de forma saludable y, si es posible, ampliar la calidad de vida urbana.

Descrição

Palavras-chave

Águas urbanas, Presidentes Prudente, Representações Sociais, Memória, Urban water, Social Representations, Memory, Aguas urbanas, Representaciones sociales, Memoria

Como citar