Linguagem e transcendência na poesia experimental de Ana Hatherly

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Data

2018-09-03

Autores

Amaral, André Luiz do

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Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Resumo

Este trabalho é uma análise da poesia experimental de Ana Hatherly (Porto, 1929 – Lisboa, 2015), artista multifacetada que se movimenta pelos terrenos da literatura, das artes plásticas, do cinema e da crítica literária. Partindo de uma tentativa de definição do conceito de poesia experimental e de uma delimitação do corpus a ser estudado, demonstra-se que, muito embora essa designação faça referência ao fenômeno literário internacional surgido na segunda metade do século XX, a dificuldade de uma definição teórica mais rigorosa decorre, em parte, das múltiplas – quase incontáveis – poéticas identificadas sob esse rótulo ao longo das últimas décadas (Poesia Concreta, Visual, Fonética, Sonora, Cinética, Digital, Holopoesia, Biopesia, E-poetry, etc.). Soma-se a isso a incompreensão da crítica convencional sobre os métodos e processos experimentais ao subsumir manifestações estéticas diversas como representativas da mesma categoria generalizante. Ademais, o uso indiscriminado do termo experimental confere ao conceito um tom de imprecisão, provocado não só por parte da crítica, mas também alimentado pelo hermetismo dos poetas. O experimentalismo poético se transformou, desse modo, num “hiperônimo elástico”, imenso guarda-chuva empunhado pela crítica, fetichizado pela lógica do mercado literário e, ainda, pelo seu inacabamento intrínseco, o que impede, de saída, o estabelecimento de fixações conceituais sumárias. Este trabalho pressupõe, portanto, a impossibilidade de afirmações inequívocas sobre o experimentalismo poético, levando em conta a advertência de Ana Hatherly quanto à compulsão contemporânea por significação. Nesse sentido, vislumbra como solução para o impasse uma inversão metodológica: afastado de teleologias e de teorias totalizantes, pretende deslindar as práticas que engendram o conceito. Essas práticas apontam para uma noção de imanência da linguagem, mas também para o potencial de transcendência na linguagem mesma.
This study analyses Ana Hatherly’s (Porto, 1929 – Lisbon, 2015) experimental poetry. She is a multifaceted artist who circulates in the fields of literature, the plastic arts, cinema, and literary criticism. This research initially tries to define the concept of experimental poetry and to delimit a corpus to demonstrate that, despite this designation referring to the international literary phenomenon which arose in the second half of the XX Century, it is hard to define experimental poetry with theoretical rigor. This is partly due to the multiple – almost countless – poetics which have been thus labelled (Concrete, Visual, Phonetic, Sound, Kinetic, Digital Poetry, Holopoetry, Biopoetry, E-poetry, etc.) in the last decades. Moreover, conventional criticism misunderstands the methods and experimental processes by subsuming different aesthetic manifestations under the same generalising category. Besides, the indiscriminate use of the term experimental renders it imprecise, which is to blame on critics and also on the poets’ hermeticism. Consequently, poetic experimentalism has become an “elastic hypernym”, a huge umbrella wielded by critics, fetishised by the logics of the literary market and by its intrinsic unfinishedness which flatly rejects fixed conceptual categorizations. Hence, the premise of this research is that unequivocal affirmations about poetic experimentalism are impossible to make, and it takes into account Hatherly’s warning about the contemporary compulsion for signification. Therefore, this study proposes a methodological inversion as the solution to this impasse: it eschews teleologies and totalising theories to demarcate the practices that engender the concept. These practices indicate a notion of immanence of the language and a transcendent potential in language itself.

Descrição

Palavras-chave

Ana Hatherly, Poesia experimental, Linguagem, Transcendência, Experimentalism, Language, Transcendence

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