"Escrever para não morrer"- a poesia de Stela do Patrocínio: a literatura como dispositivo de resistência, cuidado e produção de subjetividade.

Carregando...
Imagem de Miniatura

Data

2019-06-05

Autores

Barrenha, Taís Sobrinho

Título da Revista

ISSN da Revista

Título de Volume

Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Resumo

A Política de Saúde Mental é instituída no Brasil através da Lei Federal 10.216/01 e tem como premissa fundamental a humanização da assistência prestada ao portador de sofrimento psíquico. A proposta atual da Reforma Psiquiátrica tem como objetivo a desinstitucionalização e inclusão do portador de sofrimento psíquico nos diferentes espaços da sociedade. Para viabilizar essa proposta, diferentes estratégias surgem no âmbito nacional e outras se encontram em construção. A reorientação do modelo assistencial deve estar pautada pelo cuidado e em uma concepção de saúde compreendida como processo e não como ausência de doença, com ênfase na reabilitação psicossocial. Dentre os muitos trabalhos desenvolvidos dentro dessa perspectiva, encontramos as Oficinas Terapêuticas, que em função da sua plasticidade nos permite trabalhar de várias maneiras, uma delas é o trabalho com a literatura. E foi a partir dessa experiência com Oficinas de Escrita/Literatura em equipamentos públicos de Saúde Mental que a questão da relação entre loucura-linguagem-literatura surgiu como um problema de pesquisa. Para pensar essa relação partimos da poesia de Stela do Patrocínio, que foi durante muitos anos uma das internas da Colônia Juliano Moreira, que fica em Jacarepaguá-RJ. É através de seu “falatório” que Stela do Patrocínio relata a experiência do manicômio. Mas como escrever sobre Stela? Uma vida possível de ser narrada é uma vida que se afirma, pois narrar tem relação com a transmissão de um conhecimento, de como a experiência de si se organiza. Mas como esse discurso pode ser legitimado? Essa noção de legitimidade se encontra atrelada ao reconhecimento do direito à palavra por parte daquele que diz. O testemunho não admite substituição, portanto a experiência que Stela comunica é única. De um testemunho que ressuscita a linguagem e pode nomear uma perda. Seu “falatório” produz um efeito poético. A linguagem de Stela é uma linguagem outra, matéria bruta e em fluxo. Uma linguagem que se comunica com seu fora, uma experiência-limite. Para Mosé (2005), o lugar da linguagem não é o do sentido, mas, ao contrário, o da experimentação do vazio, da ausência. A linguagem, a narrativa e a escrita é o que escapa, é o que resiste e possibilita a criação-invenção de um mundo que pode vir a ser habitado/ressignificado. A linguagem que Stela nos comunica é o da experimentação e da vivência. O lugar do “manicômio” é o da aniquilação do sujeito. Mas Stela não desaparece, pois ela anuncia “Eu sou Stela do Patrocínio”. Escrever sobre Stela do Patrocínio é dar visibilidade ao acontecimento Stela. Dentro dessa proposta procuramos visualizar a experiência da loucura enquanto experiência-limite e a poesia de Stela do Patrocínio como arte que resiste a instituição manicomial, na medida em que é vista dentro da categoria estética da experiência-limite.
Mental Health Policy is established in Brazil through Federal Law 10.216 / 01 and has as a fundamental premise the humanization of care provided to the person suffering from psychic suffering. The current proposal of the Psychiatric Reform aims at the deinstitutionalization and inclusion of the bearer of psychic suffering in the different spaces of society. To make this proposal viable, different strategies appear at the national level and others are under construction. The reorientation of the care model must be guided by the care and a conception of health understood as a process and not as an absence of illness, with emphasis on psychosocial rehabilitation. Among the many works developed within this perspective, we find the Therapeutic Workshops, who because of their plasticity allows us to work in various ways, one of them is work with literature. And it was from this experience with Writing Workshops / Literature in public Mental Health equipment that the question of the relationship between madness-language-literature emerged as a research problem. To think about this relationship we start with the poetry of Stela do Patrocínio, who was for many years one of the interns of the Colônia Juliano Moreira, who is in Jacarepaguá-RJ. It is through her "talk" that Stela do Patrocínio relates the asylum experience. But how to write about Stela? A possible life to be narrated is a life that is affirmed, for narrating is related to the transmission of knowledge, of how the experience of itself is organized. But how can this speech be legitimized? This notion of legitimacy is tied to the recognition of the right to the word by the one who says it. The testimony does not admit of substitution, so the experience that Stela communicates is unique. From a testimony that resurrects language and can name a loss. His "talk" produces a poetic effect. The language of Stela is another language, raw and flowing. A language that communicates with your outside, an experience-limit. For Mosé (2005) the place of language is not that of sense, but, instead, of the experimentation of emptiness, of absence. Language, narrative, and writing are what escapes, is what resists and enables the creation-invention of a world that can be inhabited/resignified. The language that Stela communicates to us is that of experimentation and experience. The place of the "madhouse" is that of the annihilation of the subject. But Stela does not disappear, she announces "I am Stela of Patrocínio". Writing about Stela do Patrocínio is to give visibility to the Stela event. Within this proposal, we seek to visualize the experience of madness as experience-limit and the poetry of Stela do Patrocínio as art that resists the insane institution, as it is seen within the aesthetic category of experience-limit.

Descrição

Palavras-chave

Stela do Patrocínio, Saúde Mental, Literatura, Experiência-limite, Stela of Patrocínio, Mental health, Literature, Experience-limit

Como citar