A consciência do corpo e do movimento: contribuições da teoria histórico cultural para a educação física escolar

Abstract

A dicotomia estabelecida entre corpo-mente, tema discutido na filosofia e na ciência, determinou a fragmentação e por decorrência, a oposição entre a educação intelectual e a educação corporal. Como símbolo dessa divisão, a Educação Física assume a educação do corpo através do disciplinamento e instrução das capacidades físicas, com a finalidade de regenerar a raça humana. A concepção de corpo adotada pela Educação Física desde o século XIX imposta pelas instituições médica e militar, de base científica biológica, mantém a dicotomia corpo-mente e reduz o corpo humano à sua função orgânica, estritamente anatômica e fisiológica. Não obstante, o corpo também foi considerado como meio para controlar a mente, de modo que o seu disciplinamento implica na construção de indivíduos moralmente passivos, que aceitam a sua posição social e se submetem à ordem estabelecida. Torna-se necessário, portanto, superar a visão naturalizante que compromete a Educação física e a limita à reprodução de movimentos e ao fazer acrítico. Nesse sentido, o objetivo dessa pesquisa é investigar e discutir como os estudos sobre a consciência, a partir da teoria histórico cultural, podem contribuir para a educação escolar. Para alcançar tais objetivos, foram utilizados livros e artigos dos autores soviéticos precursores da teoria histórico cultural, particularmente, Vigotski, Leontiev e Luria. Ao longo deste trabalho, propusemos discussões iniciais que visam compreender e tratar pedagogicamente o corpo e o movimento como dimensões fundamentais que constituem o indivíduo em sua totalidade. Podemos concluir que os aspectos biológicos e hereditários desempenham um papel crucial no desenvolvimento da consciência - seja ela a consciência do corpo e do movimento ou a consciência em sentido mais amplo. No entanto, é o processo educacional, e em particular o ensino escolar, que impulsiona esse desenvolvimento, assegurando a formação de uma consciência crítica. Para tanto, é essencial que o(a) professor(a) se aproprie de uma base teórico metodológica sólida, capaz de orientar sua práxis pedagógica.

The dichotomy established between body and mind, a theme discussed in philosophy and science, has led to fragmentation and, consequently, to the opposition between intellectual and physical education. As a symbol of this division, Physical Education assumes the role of educating the body through discipline and instruction of physical abilities, aiming to regenerate the human race. The conception of the body adopted by Physical Education since the 19th century, imposed by medical and military institutions based on biological science, maintains the body-mind dichotomy and reduces the human body to its organic function, strictly anatomical and physiological. Nevertheless, the body has also been considered a means of controlling the mind, in such a way that its discipline implies the construction of morally passive individuals who accept their social position and submit to the established order. Therefore, it is necessary to overcome the naturalizing perspective that compromises Physical Education and limits it to the mere reproduction of movements and uncritical practice. In this sense, the objective of this research is to investigate and discuss how studies on consciousness, based on cultural-historical theory, can contribute to school education. To achieve these objectives, books and articles by Soviet authors who pioneered cultural-historical theory, particularly Vygotsky, Leontiev, and Luria, were used. Throughout this work, we have proposed initial discussions aimed at understanding and pedagogically addressing the body and movement as fundamental dimensions that constitute the individual as a whole. We can conclude that biological and hereditary aspects play a crucial role in the development of consciousness—whether it be body and movement awareness or consciousness in a broader sense. However, it is the educational process, particularly school-based teaching, that drives this development, ensuring the formation of critical awareness. To this end, it is essential that teachers develop a solid theoretical and methodological foundation capable of guiding their pedagogical practice.