A fala de influenciadores transgênero da mídia social brasileira: relação entre aspectos perceptivos e acústicos da voz e da prosódia
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Data
2024-03-11
Autores
Orientador
Fabbron, Eliana Maria Gradim 
Coorientador
Soncin, Geovana Carina Neris
Pós-graduação
Fonoaudiologia - FFC
Curso de graduação
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editor
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Tipo
Dissertação de mestrado
Direito de acesso
Acesso aberto
Resumo
Resumo (português)
Introdução: Este estudo explora a crescente influência de sujeitos transgênero nas mídias sociais, especialmente no Brasil, destacando o papel dos influenciadores transgênero no Instagram na representação da comunidade trans e na promoção de discussões sobre gênero e identidade. Abordam-se a heteronormatividade na sociedade e os desafios dos movimentos sociais, como o LGBTQIA+, em relação às normas tradicionais de gênero. O conceito de transgênero é discutível, destacando-se a experiência de sujeitos cuja identidade de gênero difere do sexo biológico. A pesquisa foca na análise da percepção de ouvintes na fala de influenciadores transgênero, considerando parâmetros vocais e prosódicos. Objetivo: Investigar a relação entre a percepção e a produção de aspectos vocais e prosódicos na fala de sujeitos transgênero influenciadores da mídia social brasileira. Método: A pesquisa consistiu na seleção de 12 vídeos do Instagram, postados entre janeiro e fevereiro de 2023, por 10 sujeitos transgêneros, 5 homens trans (HT), 5 mulheres trans (MT), e por 2 sujeitos cisgêneros, sendo um homem cis (HC) e uma mulher cis (MC). Os critérios de seleção desses vídeos basearam-se em temas específicos ("Visibilidade Trans" e "Retificação de nome e gênero"), popularidade pelo número de visualizações e idade dos participantes (18-40 anos). Todos os sujeitos atenderam a esses critérios, incluindo HC e MC. Após a seleção, os vídeos foram convertidos para áudio, para evitar influências visuais. Os áudios foram utilizados para a realização das avaliações perceptivo-auditivas, sendo, inicialmente, apresentados para juízas leigas, que avaliaram como percebiam o gênero do falante; depois, para juízas especialistas, que identificaram fronteiras prosódicas e proeminências usadas para fins expressivos. Os dados apontados pela avaliação perceptivo-auditiva foram analisados utilizando o software PRAAT. Mensurou-se a frequência fundamental (f0), a variação de f0, a produção de pausas como parâmetros indicativos de fronteiras prosódicas e, ainda, a variação de f0 e de intensidade para a marcação de proeminências. Resultados: Em relação à identificação do gênero do falante pelo julgamento da voz, a análise perceptivo-auditiva mostrou que 60% das vozes de HT foram julgadas como masculina e 80% das vozes de MT, como feminina, mostrando uma tendência de as vozes dos sujeitos trans serem identificadas conforme o gênero declarado. Em contrapartida, na análise acústica, a média de f0 do grupo HT mostrou estar na faixa de frequência esperada para gênero masculino cisgênero, ainda que o percentual de identificação do gênero conforme o gênero declarado tenha sido menor do que no grupo MT. Para este grupo, as vozes apresentaram valor de f0 mais baixo em relação à MC e se enquadraram na faixa de frequência considerada neutra. Em relação às fronteiras prosódicas, a análise perceptivo-auditiva mostrou que HT apresentou maior índice de fronteiras prosódicas percebidas que HC, enquanto o grupo MT apresentou índice similar de fronteiras comparado à MC. Por sua vez, a análise acústica das fronteiras mostrou que a variação de f0, considerando os valores máximo e mínimo, usada pelo grupo HT, foi, em geral, maior do que a utilizada pelo HC na marcação de fronteiras, enquanto no grupo MT observou-se variação de f0 mais baixa em comparação com MC. Esses dados sugerem que, no grupo HT, eventos tonais de fronteira seriam marcados de forma mais aguda em relação a HC e, na direção oposta, no grupo MT, seriam marcados de forma mais grave em relação à MC; mostrou também que as pausas não ocorreram em todas as fronteiras percebidas na fala de todos os sujeitos com duração variável. Em relação às proeminências, os grupos HT e MT apresentaram índices de proeminências percebidas menores que HC e MC, respectivamente, as quais foram marcadas acusticamente por diferença nos valores de f0 mínima e máxima de, ao menos, 30 Hz. No grupo de HT, a diferença entre mínimo e máximo de f0 foi menor quando comparada ao HC, sugerindo um estilo de fala menos marcado. Já o grupo MT apresentou comportamento diferente de variação de f0 para a marcação de proeminência com valor mais baixo que a variação de f0 observada em MC. Em conjunto, esses resultados sugerem que os sujeitos trans marcam proeminências de forma mais contida, distanciando o seu estilo de fala de um estilo marcado por exageros. Conclusão: Observou-se que a fala dos sujeitos trans, seja por sua expressão vocal, seja por suas características prosódicas, não é percebida exclusivamente por meio da recuperação de padrões acústicos. Na comparação dos parâmetros acústicos mensurados na fala de sujeitos trans e cis, observou-se que a fala de sujeitos trans é dialeticamente constituída, pois existem pontos de aproximação e distanciamento entre a caracterização de aspectos vocais e prosódicos da fala deles e a caracterização desses aspectos na fala do gênero declarado.
Resumo (inglês)
Introduction: This study explores the growing influence of transgender individuals on social media in Brazil. Specifically, the study highlights the role of transgender influencers on Instagram for representing the trans community and promoting discussion about gender and identity. It addresses heteronormativity in society and how social movements, such as LGBTQIA+, challenge traditional gender norms. The concept of transgender is discussed, highlighting the experience of individuals whose gender differs from their biological sex. The research focuses on analyzing listeners' perception of the speech of transgender influencers, considering vocal and prosodic parameters. Objective: This work aims to investigate the relationship between perception and production of vocal and prosodic aspects in speech of transgender people who influence Brazilian social media. Method: 12 Instagram videos posted between January and February 2023 were selected. From the total, five was posted by femaleto-male transgender (FMT), five were posted by male-to-female transgender (MFT) and two were posted by cisgender subjects, one cisgender man (CM) and one cisgender female (CF). The criteria for selecting these videos were based on specific themes ("Trans Visibility" and "Name and Gender Rectification"), popularity by number of views, and age of the participants (18-40 years). All subjects met these criteria, including CM and CF. After selection, videos were converted to audio to avoid visual influences. The audios were used to carry out perceptual evaluations, initially being presented to lay evaluators, who assessed how they perceived the speaker's gender, and then to expert judges, who identified prosodic boundaries and prominences used for expressive purposes. The data indicated by the auditory-perceptual assessment were analyzed using PRAAT software. Fundamental frequency (f0) range, f0 variation and production of pauses were measured as parameters indicative of prosodic boundaries. Also, f0 variation and intensity were measured as parameters for prominence marking. Results: Regarding the speaker's gender identification by judging their voice, the auditory-perceptual analysis showed that 60% of the female-to-male transgender (FMT) voices were judged as male and 80% of the male-to-female transgender (MFT) voices were judged as female. This result showed a tendency for the trans voices being identified according to their declared gender. On the other hand, in the acoustic analysis, the mean f0 of the FTM group was found to be in the expected frequency range for cisgender males (CM), even though the percentage of gender identification according to the declared gender was lower than in the MFT group; for this group, MFT voices had a lower f0 value compared to cisgender female (CF) and fell within the frequency range considered neutral. Regarding prosodic boundaries, the auditory-perceptual analysis showed that FMT had a higher rate of perceived prosodic boundaries than CM, while the MFT group had a similar rate of boundaries compared to CF. In turn, the acoustic analysis of the prosodic boundaries showed that the f0 variation used by the FMT group was, in general, greater than that used by the FMT in marking borders, while in the MFT group a lower f0 variation was observed in compared to CF. These results suggest that, in the FMT group, tonal events in prosodic boundaries would be marked with highest f0 values in relation to FMT and, in the opposite direction, in the MFT group, they would be marked with lower f0 value in relation to CF; It also showed that pauses did not occur at all boundaries perceived in the speech of all subjects with varying duration. In relation to prominences, the FMT and MFT groups presented lower perceived prominence index than CM and CF respectively, which were acoustically marked by a difference in the minimum and maximum f0 values of at least 30 Hz. In the FMT group, the difference between minimum and maximum f0 was smaller when compared to CM, suggesting a less marked speech style. The MFT group, on the other hand, showed different behavior in the f0 variation used in marking prominence with a lower variation than those observed in CF. Taken together, these results suggest that trans subjects highlight prominences in a more restrained way, distancing their speech style from a caricatured style. Conclusion: It was observed that the speech of trans subjects, whether due to their vocal expression or their prosodic characteristics, is not perceived exclusively through the recovery of acoustic patterns. When comparing the acoustic parameters measured in the speech of trans and cis subjects, it was observed that the speech of trans subjects is dialectically constituted, as there are points of approximation and distance between the characterization of vocal and prosodic aspects of their speech and the characterization of these aspects in speaks of the declared gender.
Descrição
Palavras-chave
Idioma
Português
Como citar
BAFUM, Eryne Alves. A fala de influenciadores transgênero da mídia social brasileira: relação entre aspectos perceptivos e acústicos da voz e da prosódia. 2024. 82 f. Dissertação (Mestrado em Fonoaudiologia) - Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista (Unesp), Marília, 2024.