A metapolítica da direita nas esferas públicas dos candidatos à prefeitura nas eleições de São Paulo em 2024: uma análise das redes de afiliação discursiva no Instagram

Abstract

Estamos diante de uma guerra travada no campo da cultura, das ideias, onde as armas são operacionalizadas por processos de linguagem, verbal e não-verbal, e suas difusões e circulações se dão, principalmente, nos meios digitais. Assim, o presente trabalho procura investigar a metapolítica - o componente metafísico da política - dos candidatos e influenciadores da direita, nas eleições da cidade de São Paulo, no ano de 2024, por meio do mapeamento do impacto dos conteúdos dos influenciadores digitais e a análise de redes discursivas (LEIFELD, 2020) - DNA em inglês - dos candidatos à prefeitura na mídia sócio-digital Instagram. O objetivo geral do trabalho é quantificar e qualificar a influência desses atores sociais - comunicacionais e políticos - em torno dos temas e subtemas que mais aglutinam esse espectro político, identificando e mapeando a metapolítica do campo durante o pleito. Definimos metapolítica, por meio do quadro teórico de referência, como um fenômeno ideológico - não pragmático - que instrumentaliza a razão comunicativa, atuando como uma força contra-hegemônica frente ao establishment político imaginado. Ela se materializa por meio de contratos de comunicação sustentados por capitais sociais e culturais, articulando contra-públicos. Na internet, a sua operacionalização ocorre através de affordances tecnológicos, que viabilizam estratégias discursivas em plataformas midiáticas, reconfigurando dinâmicas de poder e disputa simbólica no campo político. As hipóteses estabelecidas são: (1) o sucesso dos conteúdos desses atores se baseia na construção de consensos por meio narrativas contra-publicitárias e que são passíveis de mensuração; (2) e que esses discursos assumem padrões diferentes, a depender do ator, mas com o anti-esquerdismo operando como eixo uno dessas estratégias. Enquanto metodologia, o mapeamento do grau de influência digital nos ajudou a entender a agitação da propaganda por meio desses sentimentos contra-publicitários pelos atores comunicacionais, leia-se influenciadores digitais, e a ferramenta DNA permitiu a compreensão das redes discursivas e conceituais dos atores políticos em relação a conteúdos que fazem referência a movimentos anti-sistema, anti-esquerda, anti-institucional e anti-libertário. Argumenta-se que a metapolítica do campo ideológico em análise opera por meio de conteúdos contra-publicitários regressivos, os quais encontram maior ressonância nas interações com os públicos, reforçando sua eficácia discursiva. A análise das redes conceituais e discursivas revela que os atores políticos examinados não estão amalgamados metapoliticamente, expondo a fragmentação e a porosidade da direita em relação aos temas investigados. Por fim, demonstra-se que esse mapeamento da ação política e comunicacional integra atores formais e informais, comunicadores e políticos, dinamizando uma propaganda ideológica que legitima a forma regressiva de contra-publicidade – estratégias típicas de contra-hegemonia sustentadas por affordances midiáticos e capitais culturais, com o anti-esquerdismo sendo o eixo aglutinador das narrativas dessa metapolítica.

We are facing a war waged in the field of culture and ideas, where the weapons are operationalized through processes of verbal and non-verbal language, and their dissemination and circulation occur mainly through digital media. This paper seeks to investigate metapolitics—the metaphysical component of politics—among right-wing candidates and influencers during the 2024 municipal elections in the city of São Paulo. This is achieved through mapping the impact of digital influencer content and analyzing discursive networks (LEIFELD, 2020)—also referred to as DNA (Discursive Network Analysis)—of mayoral candidates on the socio-digital platform Instagram. The general objective of the study is to quantify and qualify the influence of these social actors—both communicational and political—around the themes and subthemes that most strongly unite this political spectrum, identifying and mapping the metapolitics of the field during the electoral process. Based on the theoretical framework, we define metapolitics as an ideological (non-pragmatic) phenomenon that instrumentalizes communicative reason, acting as a counter-hegemonic force against the imagined political establishment. It materializes through communication contracts sustained by social and cultural capital, articulating counter-publics. On the internet, its operationalization takes place through technological affordances that enable discursive strategies on media platforms, reconfiguring dynamics of power and symbolic struggle within the political field. The established hypotheses are: (1) the success of these actors' content is based on the construction of consensus through counter-advertising narratives, which can be measured; and (2) these discourses follow different patterns depending on the actor, but anti-leftism functions as the common axis of these strategies. As a methodology, mapping the degree of digital influence helped us understand how propaganda is stirred through these counter-advertising sentiments by communicational actors, namely digital influencers, while the DNA tool enabled the understanding of discursive and conceptual networks of political actors in relation to content referencing anti-system, anti-left, anti-institutional, and anti-libertarian movements. It is argued that the metapolitics of the ideological field under analysis operates through regressive counter-advertising content, which finds greater resonance in interactions with audiences, reinforcing its discursive effectiveness. The analysis of conceptual and discursive networks reveals that the political actors examined are not metapolitically unified, exposing the fragmentation and porous nature of the right-wing concerning the topics investigated. Finally, it is demonstrated that this mapping of political and communicational action integrates formal and informal actors, communicators and politicians, driving an ideological propaganda that legitimizes the regressive form of counter-advertising—typical counter-hegemonic strategies sustained by media affordances and cultural capital, with anti-leftism serving as the unifying axis of this metapolitical narrative.