Comunicação de obrigação: uma proposta conceitual a partir da comunicação de mandato sob a ótica dos assessores parlamentares da Câmara Municipal de Bauru

Abstract

Introdução: Os avanços da mídia e das tecnologias digitais transformaram profundamente a comunicação política, estendendo a lógica da campanha para dentro dos mandatos e exigindo presença constante nas plataformas digitais. Nesta perspectiva, a presente tese analisa a comunicação de mandato sob a ótica dos assessores parlamentares da Câmara Municipal de Bauru, propondo o conceito de Comunicação de Obrigação para descrever a rotina comunicacional permanente exigida pelas redes sociais, em especial o Instagram. O estudo investiga como a atuação dos assessores se transforma diante da necessidade de visibilidade contínua, engajamento público e manutenção da imagem política dos vereadores. Metodologia: A pesquisa adota uma abordagem mista. A etapa quantitativa envolveu o mapeamento dos 35 assessores parlamentares da legislatura 2020–2024, com levantamento de dados sobre a formação profissional e o uso das ferramentas digitais no cotidiano dos mandatos. Na etapa qualitativa, foi realizado um estudo de caso com a equipe da vereadora reeleita mais votada da legislatura, com entrevistas em profundidade e análise de conteúdo das publicações no Instagram. A metodologia buscou integrar percepção profissional, práticas comunicacionais e formatos de atuação digital. Resultados: Os resultados indicam que a maioria dos assessores não possui formação em comunicação, mas reconhece a comunicação digital como um dos principais desafios da função. O conteúdo publicado nas redes, em especial no Instagram, concentra-se na prestação de contas, agendas e bastidores do mandato, com frequência de postagens e linguagem adaptadas aos formatos da plataforma. A presença digital se confirma como uma exigência naturalizada, assumida mesmo por profissionais sem preparo técnico, revelando um padrão de atuação que extrapola o planejamento estratégico. Discussão: A partir dos dados empíricos, a tese propõe o conceito de Comunicação de Obrigação, entendido como a prática contínua e inevitável de comunicar no exercício do mandato. A visibilidade política passa a ser sustentada por uma lógica de exposição constante, marcada pelos affordances das plataformas, pela dinâmica da esfera pública digital e pelas exigências de engajamento. O estudo dialoga com autores como Habermas, Duarte, Gomes, Maia, Manovich, Matos, entre outros, para compreender como a comunicação se torna parte estrutural da prática política, especialmente em ambientes mediados tecnologicamente. O conceito proposto oferece um novo olhar sobre a comunicação de mandato, superando a visão instrumental e integrando a comunicação ao cotidiano legislativo. Conclusões Transitórias: A comunicação no mandato parlamentar, especialmente nos contextos locais, é hoje parte indissociável da atuação política. Mesmo sem formação na área, os assessores assumem a comunicação como parte central da rotina dos gabinetes, respondendo às demandas de presença e engajamento impostas pelas redes sociais. A Comunicação de Obrigação, formulada nesta tese, sintetiza esse fenômeno e contribui para o avanço das pesquisas em comunicação política, assessoria parlamentar, cibercultura e marketing político, ao oferecer uma chave conceitual original para compreender a prática comunicacional contínua nos mandatos contemporâneos.

Introduction: Advances in media and digital technologies have profoundly transformed political communication, extending the logic of electoral campaigns into periods of mandate and demanding a constant presence on digital platforms. From this perspective, this thesis analyzes communication practices during mandates from the perspective of parliamentary advisors at the Bauru City Council. It proposes the concept of "Obligation Communication" to describe the permanent communication routine required by social networks, especially Instagram. This study investigates how the work of advisors is transformed by the need for continuous visibility, public engagement, and maintenance of councillors' political images. Methodology: The research adopts a mixed-methods approach. The quantitative phase involved mapping all 35 parliamentary advisors of the 2020-2024 legislature, collecting data on their professional training and the use of digital tools in their daily work. In the qualitative phase, a case study was conducted with the team of the re-elected councillor who received the most votes in the legislature, utilizing in-depth interviews and content analysis of Instagram posts. The methodology sought to integrate professional perceptions, communication practices, and digital performance formats. Results: The results indicate that the majority of advisors lack formal training in communication but recognize digital communication as one of the primary challenges of the job. Content published on social networks, particularly Instagram, focuses on accountability, agendas, and behind-the-scenes content related to the mandate, with posting frequency and language adapted to the platform's formats. Digital presence is confirmed as a naturalized requirement, assumed even by professionals without technical training, revealing a pattern of action that extends beyond strategic planning. Discussion: Based on the empirical data, the thesis proposes the concept of "Obligation Communication," understood as the continuous and unavoidable practice of communicating throughout the exercise of the mandate. Political visibility is sustained by a logic of constant exposure, shaped by the affordances of the platforms, the dynamics of the digital public sphere, and the demands of engagement. This study engages with authors such as Habermas, Duarte, Gomes, Maia, Manovich, Matos, among others, to understand how communication becomes a structural part of political practice, especially in technologically mediated environments. The proposed concept offers a new perspective on mandate communication, moving beyond an instrumental view and integrating communication into everyday legislative life. Conclusion: Communication within the parliamentary mandate, especially in local contexts, is now an inseparable part of political activity. Even without formal communication training, advisors integrate communication as a central part of their office routine, responding to the demands for presence and engagement imposed by social networks. The concept of "Obligation Communication," as formulated in this thesis, synthesizes this phenomenon and contributes to advancing research in political communication, parliamentary advisory services, cyberculture, and political marketing by offering an original conceptual key to understanding the continuous communication practice in contemporary mandates.