Sintomas referidos por pacientes com câncer de pulmão ou cabeça e pescoço e suas relações com o treinamento físico domiciliar

Abstract

O exercício físico pode ser um complemento a quimioterapia e/ou radioterapia, considerados tratamento oncológico usual (TOU) para câncer de pulmão ou cabeça e pescoço, amenizando efeitos adversos. Porém, os efeitos do exercício físico especificamente nos sintomas experimentados durante o TOU ainda são pouco explorados. Objetivos: Avaliar a intensidade de sintomas durante o TOU para câncer de pulmão ou cabeça e pescoço primários, bem como avaliar o efeito de um programa de treinamento físico domiciliar (TFD) na intensidade destes sintomas. Além disso, analisar a associação entre variáveis físicas e emocionais pré-tratamento com a intensidade dos sintomas durante o TOU. Métodos: Análise exploratória de um ensaio clínico randomizado que recrutou indivíduos diagnosticados com câncer de pulmão ou cabeça e pescoço primários com programação de quimioterapia e/ou radioterapia. Os indivíduos foram aleatorizados em grupo treinamento (GT) e grupo controle (GC). O GT foi inserido em um programa de TFD concomitante ao TOU, com treinamento aeróbico e resistido. O GC foi orientado a manter as atividades usuais durante o TOU. Foram avaliadas, pré-tratamento, a capacidade funcional (Teste de Caminhada de Seis Minutos (TC6) e Teste de Sentar e Levantar em 1 minuto (TSL)), força muscular periférica (dinamometria), composição corporal (bioimpedância elétrica), e sintomas de ansiedade e depressão (Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS)). Todos os indivíduos foram entrevistados semanalmente quanto a intensidade dos sintomas (escala de 0 a 10) experimentados naquela semana por meio da Escala de Avaliação de Sintomas de Edmonton (ESAS-Br). Análise Estatística: A comparação de sintomas entre grupos foi realizada via Modelos Lineares Mistos. As associações entre variáveis pré-tratamento e a intensidade de sintomas durante o tratamento foram verificadas com Modelos Lineares Generalizados. O nível de significância foi de p<0,05. Resultados: Trinta indivíduos foram incluídos (idade: 62 ± 11; 21 homens; câncer de cabeça e pescoço n = 24; duração de tratamento: 10 ± 4 semanas). Nos modelos lineares mistos, a média geral de intensidade dos sintomas foi menor no grupo treinamento nas médias marginais estimadas (GT = 4,5; GC = 5,4; p = 0,045), porém, a interação Grupo x Semana não foi significante. Durante o tratamento, a intensidade da ansiedade tendeu a aumentar mais no grupo controle (p = 0,044), já a sonolência tendeu a aumentar mais no grupo treinamento (p = 0,030). Ainda, níveis mais altos de ansiedade e depressão pré-tratamento foram associados a maior intensidade de sintomas durante o tratamento, enquanto maior massa muscular e força se associaram a menores intensidades. Conclusão: O treinamento físico domiciliar apresentou resultados limítrofes em reduzir a carga sintomática durante o tratamento oncológico, e variáveis físicas e emocionais pré-tratamento demonstraram impacto relevante na intensidade dos sintomas.

Physical exercise can be implemented during chemotherapy and/or radiotherapy, which are standard treatments for lung or head and neck cancer, helping minimizing adverse effects. However, the effects of physical exercise on symptoms experienced during cancer treatment are still not deeply explored. Objectives: To assess Symptom intensity during cancer treatment for primary lung or head and neck cancer. To evaluate the effects of a home-based exercise training program (HBETP) on symptom intensity. To examine the associations between pre-treatment physical and emotional variables and symptom intensity during cancer treatment. Methods: This study was a secondary and exploratory analysis of a randomized clinical trial that recruited individuals diagnosed with primary lung or head and neck cancer scheduled for chemotherapy and/or radiotherapy. Participants were randomized into an intervention group (IG) and a control group (CG). The IG underwent a HBETP during cancer treatment, which included aerobic and resistance training. The CG was instructed to maintain their usual activities during cancer treatment. Pre-treatment assessments included functional capacity (Six-Minute Walk Test (6MWT) and One-Minute Sit-to-Stand Test (1STS)), peripheral muscle strength (dynamometry), body composition (bioelectrical impedance), and symptoms of anxiety and depression (Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS)). All participants were interviewed weekly regarding symptom intensity (0 - 10 scale) using the Edmonton Symptom Assessment Scale (ESAS-Br). Statistical analysis: Group comparisons were performed using Linear Mixed Models. Associations between pre-treatment variables and symptom intensity were assessed using Generalized Linear Models. Results: Thirty individuals were included (62 ± 11 years old; 21 males; head and neck cancer: n = 24; treatment duration: 10 ± 4 weeks). Mean overall symptom intensity was lower in the training group based on estimated marginal means (IG = 4.5; CG = 5.4; p = 0.045), although the Group x Week interaction was not statistically significant. During treatment, anxiety intensity increased more in the control group (p = 0.044), while drowsiness increased more in the training group (p = 0.030). Higher pre-treatment anxiety and depression were associated with greater symptom intensity during treatment, whereas greater muscle mass and strength were associated with lower symptom intensity. Conclusion: Home-based exercise training showed a tendency to reduce symptom burden during cancer treatment. Pre-treatment physical and emotional variables had a considerable impact on symptom intensity.