A construção da personagem Alexandre em Histórias de Alexandre Magno da Macedônia, de Quinto Cúrcio Rufo

Abstract

Este trabalho dedica-se a reflexões analíticas sobre a obra latina Historiae Alexandri Magni Macedonis, Histórias de Alexandre Magno da Macedônia, escrita por Quinto Cúrcio Rufo em meados do século I d.C. Especificamente, propõe-se ao exame dos procedimentos narrativos, retóricos e temáticos que foram desenvolvidos por esse autor romano na composição de um retrato literário de Alexandre, protagonista da obra. Em vista deste objetivo, em primeiro lugar, será estabelecido um panorama teórico das questões que circundam as Histórias de Alexandre, tais como datação, autoria e gênero literário. Em seguida, serão observados os principais operadores dessa narrativa latina, da maneira como foram desenvolvidos pelo autor em função da caracterização de Alexandre. Nesse quesito, o estudo parte do princípio de que traços formais e temáticos comuns aos gêneros romanesco e historiográfico são igualmente presentes nas Histórias de Alexandre. Portanto, o exame da técnica literária de Cúrcio será conduzido por meio da conciliação de perspectivas historiográficas, na esteira de Mandel (1980) e Marincola (1997), bem como romanescas, com respaldo em Gual (1972), Booth (1983) e Brandão (2005), de maneira atenta às particularidades de tais gêneros na Antiguidade. Por fim, serão discutidos os aspectos temáticos relacionados à personalidade, às motivações e transformações identitárias de Alexandre ao longo da obra, a partir de traduções e análises de excertos selecionados da narrativa latina, os quais iluminam diferentes facetas da personagem, quais sejam, seu generalato, diplomacia, heroísmo ou estatuto divino. Ao cabo de tais considerações, será constatado que as Histórias de Alexandre são uma composição historiográfica de grande refinamento literário, cuja contribuição à tradição clássica transparece noutras obras de eras subsequentes ao século I d.C., quer na coleção “Alexandre latino” (Stoneman, 1999), quer na produção moderna, cinematográfica e literária, sobre o macedônio. Também constará, dentre as conclusões do estudo, a observação de que Cúrcio constrói Alexandre como uma personagem suscetível a influências advindas de forças externas (como a fortuna), internas (a cupido) e do acúmulo de poder político-militar, de modo que sua personalidade e propósito se transformam ao longo do tempo narrativo.

This study is devoted to analytical considerations of the Latin work Historiae Alexandri Magni Macedonis (The Histories of Alexander Magnus of Macedon), written by Quintus Curtius Rufus amidst the first century CE. Specifically, it proposes an examination of the literary, rhetorical and thematic procedures which were elaborated by this Roman author in the composition of his literary portrait of Alexander, the protagonist of the work. In order to conduct this research, the study will first establish a theoretical framework of the issues surrounding the Histories of Alexander, such as its date of composition, authorship and literary genre. Subsequently, the main narrative strategies employed by the author to characterize Alexander will be examined. In this respect, the study considers that formal and thematic features common in both the historiographic and novelistic traditions can be equally found within the Histories of Alexander. Therefore, the exam of Curtius’ literary technique will be conducted via the intersection of historiographic – following Mandel (1980) and Marincola (1997) – as well as novelistic approaches – as presented by Gual (1972), Booth (1983) and Brandão (2005) – with attentive regard towards the particularities of each genre in Antiquity. Lastly, the thematic aspects related to Alexander’s personality, motivation and identity shift throughout the work will be discussed, as prompted by the processes of translation and interpretation of excerpts from the Latin narrative, which in turn illuminate different elements of the character, be it his generalship, diplomacy, heroism or divine status. Following such discussion, the conclusions of this study remark that the Histories of Alexander are a historiographic composition of considerable literary refinement, whose contributions to the classical tradition are detectable in subsequent works succeeding the first century CE, whether in the form of the so-called “Latin Alexander” collection (Stoneman, 1999) or the modern literary and cinematographic production surrounding the Macedonian. The study also concludes that Curtius constructs Alexander as a character susceptible to influences which spawn from external (fortuna) and internal forces (Alexander’s cupido), as well as from the accumulation of military and political power, in such a way that his personality and purpose are transformed over the course of the narrative.