Escolher-se livre: uma leitura da obra Lavoura arcaica à luz da concepção sartriana de liberdade e escolha

Abstract

O presente estudo objetiva desenvolver uma perspectiva de leitura da obra Lavoura arcaica, de Raduan Nassar (2016), à luz do existencialismo de J-P Sartre, mediada pelos conceitos “liberdade” e “escolha”, segundo tal concepção. Pretende-se demostrar que na narrativa da referida obra nassariana encontram-se indícios de inspiração ou influência desse pensamento filosófico, principalmente nas passagens onde se evidenciam conflitos entre suas personagens centrais. Conflitos esses que manifestam, na verdade, a tensão entre perspectivas antagônicas de percepção de mundo e da vida: de um lado, uma concepção que privilegia um projeto de liberdade (“escolher-se” livre), e, de outro lado, a visão determinista, perspectiva radicalmente oposta à anterior. Nesse contexto, baseado na leitura existencialista sartriana, a discussão aqui, em face dos conflitos evidenciados na narrativa de Lavoura arcaica, seguiu a tendência de assumir, por conta da acepção de liberdade e nela, que cada indivíduo é livre para fazer as suas escolhas, pois esta, segundo Sartre, é já um ato de liberdade. Para o desenvolvimento dessa discussão, foi feito uma espécie de experimento, ou seja, agregou-se à metodologia inerente ao referencial teórico escolhido, as orientações metodológicas de Roberto Acízelo de Souza (2016) e de Massaud Moisés (1979), além, obviamente, recorreu-se à revisão de literatura. Ao final do percurso reflexivo deste estudo, desvelou-se uma outra perspectiva em face do objetivo inicial desta tese em relação à narrativa nassariana, na verdade, uma outra discussão dentro desta temática aqui desenvolvida. Nesse sentido, foram deixados em aberto interrogações pertinentes, a respeito da própria intenção do “escolher-se livre” de André, personagem-narrador, como também a respeito de uma possível influência de concepção de literatura, segundo Sartre, especificamente nessa obra nassariana.

The present study aims to develop a perspective of reading the work Lavoura arcaica, by Raduan Nassar (2016), in the light of J-P Sartre's existentialism, mediated by the concept’s "freedom" and "choice", according to this conception. It is intended to demonstrate that in the narrative of the mentioned Nassarian work there are indications of inspiration or influence of this philosophical thought, mainly in the passages where conflicts between its central characters are evident. Conflicts that manifest, in fact, the tension between antagonistic perspectives of perception of the world and of life: on the one hand, a conception that favors a project of freedom (“choosing oneself” freely), and, on the other hand, the vision determinist, perspective radically opposed to the previous one. In this context, based on Sartre's existentialist reading, the discussion here, in view of the conflicts evidenced in the narrative of Lavoura arcaica, followed the tendency to assume, due to the meaning of freedom and in it, that everyone is free to make their own choices, for this, according to Sartre, is already an act of freedom. For the development of this discussion, a kind of experiment was carried out, that is, the methodological guidelines of Roberto Acízelo de Souza (2016) and Massaud Moisés (1979) were added to the methodology inherent in the chosen theoretical framework, in addition, obviously, a literature review was used. At the end of the reflective course of this study, another perspective was unveiled in view of the initial objective of this thesis in relation to the Nassarian narrative, in fact, another discussion within this theme developed here. In this sense, pertinent questions were left open, regarding the very intention of “choosing oneself freely” by André, character-narrator, as well as regarding a possible influence of the conception of literature, according to Sartre, specifically in this Nassarian work.