Urgência e ruptura: a configuração dos espaços dramáticos em Consuelo de Castro

Abstract

Objetiva-se com este estudo, primeiramente, trazer à tona a obra da dramaturga brasileira Consuelo de Castro. No âmbito dos Estudos Literários, as teorias e a crítica da produção teatral brasileira são discutidas à margem, resultando em poucas pesquisas aprofundadas na produção das autoras que escrevem para o teatro no país. Esta pesquisa perpassa toda a obra dramática publicada de Consuelo de Castro. Por escolha metodológica, alguns desses textos são apenas citados e outros discutidos detidamente. O segundo objetivo do estudo é analisar a configuração de espaço dramático na produção dramatúrgica consuelina. Frente a essa caracterização, estipulam-se duas hipóteses. A autora, estreante na década de 1960 e premiada pela crítica, lança em 1989 a primeira coletânea de seus textos teatrais intitulada Urgência e ruptura. As oito dramaturgias publicadas são divididas em dois grupos: as produções de 1968 a 1978 e as de 1978 a 1988. Na organização do compêndio, em conjunto com Yan Michalski, prepondera uma divisão conteudística. No primeiro grupo, os textos teatrais respondem às arbitrariedades do período ditatorial brasileiro (1964-1985); no segundo grupo, livre de um período censório mais restrito, Castro arrisca na abordagem de outras temáticas, ao mesmo tempo em que transpõe as categorias de espaço e tempo empregadas anteriormente. A primeira hipótese revê a crítica da época e defende não a ruptura na estruturação do espaço, mas uma gradual desconstrução nas últimas quatro peças do espaço dramático, até então uno e de estética realista. O procedimento metodológico compara as rubricas descritivas para os cenários e analisa a crítica da época direcionada, sobretudo, ao texto teatral. A segunda hipótese acrescenta ao estudo dois textos dramatúrgicos não publicados em Urgência e ruptura. A partir de Caminho de volta (1989), O grande amor de nossas vidas (1981), A cidade impossível de Pedro Santana (1978) e Only you (2001), defende-se o uso de espaços dramáticos fechados na dramaturgia de Castro. Perante uma percepção fenomenológica (Bachelard, 1978), em paralelo às considerações de críticos brasileiros como Elza Cunha de Vincenzo, Yan Michalski, Sábato Magaldi e Décio de Almeida Prado, a escolha de Consuelo de Castro pelo microcosmo se destaca, em oposição ao macrocosmo. A proposta tenta compreender como o espaço privado, entre quatro paredes, onde as personagens estão alocadas, abarca o espaço social, pois o diálogo entre as personagens se acirra em paralelo aos contextos sociais de cada uma das obras. A sistematização do lugar cênico tem como base o preceito semiológico (Ubersfeld, 2005), a fim de propiciar a visualidade dos elementos, como a estrutura e os objetos (Barthes, 1987), que compõem os espaços dramáticos (Pavis, 2008) e, ao mesmo tempo, restringem-lhes. O uso do espaço restrito na moderna dramaturgia de Castro é visto em diálogo com a teoria do drama (Szondi, 2001) e a discussão alcança a perspectiva dramatúrgica (Sarrazac, 2013) para salientar não um isolamento do espaço íntimo, mas o contato direto com o espaço do mundo.

The aim of this study is firstly to shed light on the work of Brazilian playwright Consuelo de Castro. Within Literary Studies, theories and criticism of Brazilian theatrical production are often marginalized, resulting in few in-depth research studies on female authors writing for the theater in the country. This research covers all of Consuelo de Castro's published dramatic works. By methodological choice, some of these texts are merely cited while others are discussed in detail. The second objective of the study is to analyze the configuration of dramatic space in Consuelo's dramatic production. In light of this characterization, two hypotheses are formulated. The author, debuting in the 1960s and acclaimed by critics, releases in 1989 the first collection of her theatrical texts titled "Urgência e ruptura". The eight published dramas are divided into two groups: productions from 1968 to 1978 and those from 1978 to 1988. In organizing the compendium, together with Yan Michalski, a content-based division prevails. In the first group, the theatrical texts respond to the arbitrariness of the Brazilian dictatorial period (1964-1985), while in the second group, free from a stricter censorial period, Castro ventures into addressing other themes while simultaneously transcending the previously employed categories of space and time. The first hypothesis revisits the criticism at the time and argues not for a rupture in the structuring of space but for a gradual deconstruction in the last four pieces of dramatic space, at that point unified and of realistic aesthetics. The methodological procedure compares descriptive signatures for the scenarios and analyzes criticism of that period directed mainly at the theatrical text. The second hypothesis adds to the study two dramatic texts not published in "Urgência e ruptura." Based on "Caminho de volta" (1989), "O grande amor de nossas vidas" (1981), "A cidade impossível de Pedro Santana" (1978), and "Only you" (2001), the use of enclosed dramatic spaces in Castro's dramaturgy is advocated. In light of a phenomenological perception (Bachelard, 1978), alongside considerations of Brazilian critics such as Elza Cunha de Vincenzo, Yan Michalski, Sábato Magaldi, and Décio de Almeida Prado, Consuelo de Castro's choice for the microcosm stands out, in opposition, to the macrocosm. The proposal attempts to understand how the private space, within four walls where the characters are located, encompasses the social space, as the dialogue between the characters intensifies parallel to the social contexts of each of the works. The systematization of the scenic place is based on semiological precepts (Ubersfeld, 2005), in order to provide visibility to the elements, as the structure and objects (Barthes, 1987), that compose the dramatic spaces (Pavis, 2008) and simultaneously restrict them. The use of restricted space in Castro's modern dramaturgy is seen in dialogue with the theory of drama (Szondi, 2001), and the discussion reaches the dramaturgical perspective (Sarrazac, 2013) to emphasize not an isolation of intimate space, but direct contact with the world space.

L’objectif de cette étude est d’abord de faire ressortir le travail de la dramaturge brésilienne Consuelo de Castro. Dans le domaine des études littéraires, les théories et la critique de la production théâtrale brésilienne sont discutées en marge, ce qui entraîne peu de recherches approfondies sur la production des auteures qui écrivent pour le théâtre dans le pays. Cette recherche examine l'ensemble de l'œuvre dramatique publiée par Consuelo de Castro. Par choix méthodologique, certains de ces textes sont seulement cités et d’autres discutés longuement. Le deuxième objectif de l’étude est d’analyser la configuration de l’espace dramatique dans la production dramaturgique consueline. Face à cette caractérisation, deux hypothèses sont stipulées. L’auteure, débutante dans les années 1960 et primée par la critique, publie en 1989 le premier recueil de ses textes théâtraux intitulé « Urgência e ruptura ». Les huit textes dramatiques publiés sont divisés en deux groupes: les productions de 1968 à 1978 et celles de 1978 à 1988. Dans l’organisation du compendium, en collaboration avec Yan Michalski, prédomine une division de contenu définie. Dans le premier groupe, les textes théâtraux répondent aux actes arbitraires de la période dictatoriale brésilienne (1964-1985); dans le second groupe, libre d’une période de censure plus restreinte, Castro risque en abordant d’autres thématiques, en même temps transposant les catégories d’espace et de temps précédemment employées. La première hypothèse revoit la critique de l’époque et défend non pas la rupture dans la structuration de l’espace, mais une déconstruction progressive dans les quatre dernières pièces de l’espace dramatique, jusqu’alors unique et d’esthétique réaliste. La procédure méthodologique compare les rubriques descriptives pour les scénarios et analyse la critique de l’époque orientée surtout vers le texte théâtral. La deuxième hypothèse ajoute à l’étude deux textes dramaturgiques non publiés dans « Urgência e ruptura ». À partir de textes comme « Caminho de volta » (1989), « O grande amor de nossas vidas » (1981), « A cidade impossível de Pedro Santana » (1978) et « Only you » (2001), on défend l’utilisation d’espaces dramatiques fermés dans la dramaturgie de Castro. Face à une perception phénoménologique (Bachelard, 1978), parallèlement aux considérations de critiques brésiliennes comme Elza Cunha de Vincenzo, Yan Michalski, Sábato Magaldi et Décio de Almeida Prado, le choix de Consuelo de Castro pour le microcosme se distingue par opposition au macrocosme. Cette proposition essaye comprendre comment l’espace privé, entre quatre murs, où les personnages sont répartis, englobe l’espace social, puisque le dialogue entre les personnages s’installe parallèlement aux contextes sociaux de chacune des œuvres. La systématisation du lieu scénique a pour base la sémiologie (Ubersfeld, 2005), afin de favoriser la visualité des éléments, comme la structure et les objets (Barthes, 1987), qui composent les espaces dramatiques (Pavis, 2008) et en même temps les restreignent. L’utilisation de l’espace restreint dans la dramaturgie moderne de Castro est analysée en dialogue avec la théorie du drame (Szondi, 2001) et la discussion atteint la perspective dramaturgique (Sarrazac, 2013) pour souligner non pas un isolement de l’espace intime mais le contact direct avec l’espace du monde.