Adolescentes e construção de redes sociais

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Data

2001

Autores

Martinez, Marlene Castro Waideman [UNESP]

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Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Resumo

Respondendo a todo um apelo da comunidade científica, da mídia, dos órgãos públicos de saúde, e tentando fazer frente a uma nova realidade que se impõe, manuais de educação sexual são publicados, os nossos representantes no poder legislativo começam a apresentar projetos, tornando obrigatória a educação sexual nas escolas. Esses projetos, se não contemplam a todos os segmentos, e que se tornam por isso, alvo fácil de crítica, por outro lado, vêm ao encontro de um apelo dos próprios alunos, e por extensão, dos pais desses. Coloca-se aí a questão de sua forma e aplicabilidade. Dentro desta perspectiva, estamos desenvolvendo uma pesquisa ação onde pretendemos como trabalho a inserção da psicologia junto a escolas de ensino público do público. Tendo em vista os possíveis contrastes sócio-econômico-educacionais intervenientes, propomos uma investigação das práticas e, principalmente, das concepções, dos significados atribuídos aos comportamentos sexuais e suas conseqüências pelos jovens, pela família e pela escola. No caso específico da Aids, surgem questões de caráter individual e coletivo que sempre fizeram parte da vida das pessoas, mas que não tinham ou se dava visibilidade. Dizer que a Aids tem a ver com a morte, não contribui necessariamente para que os profissionais, famílias e especialmente os jovens desenvolvam suas ações com especial atenção para a vida, a saúde, seus direitos e responsabilidades. Num sentido mais estrito e imediato, o projeto de trabalho que hora desenvolvemos visa propiciar espaços de vivência e reflexão com o objetivo de, através do desenvolvimento de intervenção de redes, gerar alternativas ao exercício da sexualidade do adolescente. Num sentido mais amplo, pretendemos abrangência aos pais ou responsáveis e professores, objetivando proporcionar entendimento e favorecer oportunidades para que os adolescentes, no construir de sua identidade, possam fazer opções que lhes promovam saúde mental. Metodologia Ao construir práticas integradas e integradoras, é necessário a articulação de saberes das diferentes áreas implicadas, buscando a complementaridade e a cooperação, bem como a construção transdisciplinar que resgate o potencial criativo presente nas diferentes instâncias envolvidas. Neste sentido a prática de redes sociais, que ora desenvolvemos, vislumbra soluções não apenas restritas às questões da sexualidade, aids e gravidez, mas às condições mais amplas da situação de crianças e adolescentes. A rede que nos interessa é a chamada rede aberta, onde a informação é constantemente repartida e o poder é distribuído, circulando entre os componentes, de maneira a facilitar a produção de multiplicadores. O profissional psicólogo funciona como catalisador de recursos, confiando e apostando nas potencialidades presentes. Isto permite que a rede se aproprie de seu saber profissional e de seu poder institucional para tornar-se mais dinâmica, mais competente sem, no entanto, perder sua autonomia. O objetivo do trabalho é que nesta prática se recupere os espaços de vida coletiva perdidos na sociedade moderna, num processo denominado de "retribalização", que corresponde aos princípios que ligam indivíduos aos canais do intercâmbio e das comunicações de uma sociedade, o que significa dizer que as aprendizagens diversas que uma pessoa realiza se potencializam quando são socialmente compartilhadas em busca da solução de um problema comum. Assim, propomos a construção de redes em diferente níveis: a. Rede entre os adolescentes: organização de grupos operativos de adolescentes com o objetivo de obter informações, discussão e reflexão da experiência sexual do jovem, no que diz respeito à iniciação, contracepção, prevenção da aids, valores, comportamentos, opiniões, padrões de relacionamento, etc. b. Rede entre os pais: os objetivos iniciais com os grupos de pais estão em: 1- como os pais relacionam-se com as diferentes experiências sexuais dos filhos e filhas; 2- como vivenciam a evolução do comportamento sexual dos filhos e filhas e quais são os temas de maior dificuldade; 3- se e como os pais percebem as principais dificuldades associadas aos comportamentos seguros e de risco evidenciados na pesquisa com os jovens. c. Rede entre as instituições: este representa o nível de maior desafio, mas também pode ser o de maior riqueza. Ao se construir uma rede integrada entre família e escola, de maneira a facilitar e explicitar as competências de cada uma destas instituições, de modo que o processo de construção coletiva possibilite a otimização de seus recursos para oferecer alternativas às crianças e adolescentes. Para a construção desses níveis de rede, adotamos os seguintes passos: A primeira etapa é a organização da intervenção, através da apresentação da proposta de trabalho aos diferentes segmentos (adolescentes, pais e professores), sem no entanto estabelecer rigidez na constituição dos grupos. O segundo passo é a organização em torno dos problemas que as pessoas designarem como tais, por se entender que este é o melhor caminho de acesso ao crescimento da capacidade de auto-independência. O terceiro momento é constituído pela geração de uma história comum, ou seja, os problemas similares que os unem, as diferenças de origem, familiares, de interesses, perdas e ganhos. Nesta etapa é importante incluir o rastreamento dos resultados obtidos nas tentativas de solucionar o problema e onde se localizam os obstáculos, explorando todas as vozes e alternativas, lembrando que quem fala são as pessoas, não as organizações. A partir daí, surge a quarta etapa, a oportunidade de dar lugar ao aparecimento de propostas alternativas, possibilitando modos alternativos de descrever e encontrar soluções que surgem das histórias alternativas anteriores. A finalização do processo de intervenção está centrada na consolidação de alternativas, ou seja, permitir um espaço para que as pessoas possam confrontar no próprio terreno as novas histórias-propostas, introduzindo modificações necessárias. Enfim, podendo realizar uma aprendizagem social que apresente novas maneiras de enfrentar problemas. Inicialmente, no ano de 1998, foi desenvolvido projeto piloto em apenas uma escola, com alunos matriculados nas 6ª e 7ª séries, bem como os pais e professores envolvidos com estes alunos. Esta faixa etária de 12-14 anos foi escolhida por termos constatado em nossas pesquisas anteriores, e confirmado em outros trabalhos consultados, que é por volta dos 13/14 anos que os adolescentes têm iniciado a prática sexual. É também em torno da 5ª e 6ª séries que os currículos das escolas prevêem na disciplina de Ciências, conteúdos referentes aos aspectos anátomo-fisiológicos da sexualidade. O trabalho foi avaliado em conjunto com a escola e em vários momentos. Por Ter sido considerado pelos envolvidos (universidade e comunidade) de extrema relevância e considerado de grande importância a sua continuidade, estamos propondo, após esta etapa, alguns arranjos com pequenas alterações na proposta básica. Por entendermos que a tomada de consciência sobre a capacidade de organização na apropriação de um projeto, da mesma forma como o desenvolvimento deste, vai construindo a primeira, passaremos a oferecer o projeto a outras escolas da rede pública de ensino.

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