Teses - Letras - IBILCE

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  • ItemTese de doutorado
    Linguagem, poder e desejo em Acenos e afagos, de João Gilberto Noll
    (Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2023-08-10) Souza, Marcus Vinicius Camargo e; Alves, Maria Cláudia Rodrigues [UNESP]; Universidade Estadual Paulista (Unesp)
    A fortuna crítica em torno da obra de João Gilberto Noll caracterizou seu projeto estético como um trabalho da relação do sujeito consigo mesmo, com o outro e a cidade, sobre o esvaziamento da experiência e a profanação do sagrado, na forma da religião, da normatividade e até mesmo da linguagem enquanto norma. Sua obra é compreendida como uma representação da linguagem neobarroca e como uma ruptura do conceito de romance tradicional, além de trabalhar temáticas como a memória e a sexualidade. Esta tese tem como objeto de estudo a obra Acenos e afagos (2008), décimo segundo e penúltimo romance do escritor gaúcho, e buscou-se demonstrar o roteiro do desejo de seu narrador ao lidar com a linguagem e o poder emanado através dele. Acenos e afagos aprofunda a maneira como o autor lida com a linguagem barroca, ao utilizar a erotização da palavra, e extrapola o conceito do romance de formação e da epopeia por meio do corpo do próprio narrador. O trabalho com a rememoração tem seu uso ressignificado no romance, se comparado às outras obras do escritor, pois torna-se parte constitutiva do desejo desse narrador. A sexualidade, devido à forma diferenciada de lidar com o passado, é explorada pelo narrador a partir da metamorfose de seu corpo, de um homem em busca do caminho da normatividade em uma mulher submissa ao desejo do grande amor de sua vida, o personagem chamado de engenheiro. Ao mesmo tempo, o narrador busca formas inéditas de satisfazer o seu desejo polimorficamente perverso. A principal rota do desejo está em torno da forma ambígua utilizada pelo narrador para lidar com o poder performativo emanado da normatividade em relação ao significado do gênero. Essa perversão da norma sexual é desenvolvida no romance pela metáfora da vulva perfurante, uma genitália inédita e de dupla função criada pela linguagem e capaz de expressar a ruptura dos contextos dos performativos de gênero e afirmar a indeterminação como forma de expressão do narrador de Acenos e afagos.
  • ItemTese de doutorado
    Secularização do mito troiano: Ephemeris belli Troiani e De excidio Troiae historia
    (Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2023-06-02) Silva, Gelbart Souza; Aquati, Cláudio [UNESP]; Universidade Estadual Paulista (Unesp)
    Na presente Tese, propomos uma análise do processo de secularização do mito troiano nas chamadas crônicas troianas Ephemeris belli Troiani (Diário da Guerra de Troia) e De excidio Troiae historia (História da queda de Troia). Escritas em latim nos séculos IV e V d.C., respectivamente, essas duas obras estão incorporadas ao córpus do romance antigo e narram a Guerra de Troia a partir de uma perspectiva historicizante, apoiada em narração em primeira pessoa de supostos participantes do prélio, quais sejam, o grego Díctis, narrador de Ephemeris, e o frígio Dares, narrador de De excidio. Consideradas elo importante na transmissão do mito troiano entre o fim da Antiguidade e o início da Era Medieval, as crônicas troianas apresentam a Guerra de Troia na ordem cronológica de seus eventos e com fortes traços de racionalização do mito. Diante disso, o estudo ora empreendido objetiva: 1) traçar um panorama da transmissão do mito troiano tendo como norteador o espaço ocupado por essas obras nessa trajetória literária; 2) examinar os expedientes literários empregados nos dois romances que favorecem a construção de uma narrativa desmitologizante; e 3) analisar o aspecto divino em alguns episódios selecionados, procedimento por meio do qual pretendemos evidenciar como se entendem literariamente a sua presença ou a sua ausência nas obras estudadas, cotejando-as com a literatura precedente de tema semelhante. Os resultados procuram demonstrar que, nas crônicas troianas, não há supressão completa do aspecto divino, mas uma mudança em seu registro e no modo de sua manifestação.
  • ItemTese de doutorado
    O construto de (Re) apresentação da estética literária dos Haikuístas do Yuba Kukai
    (Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2023-02-10) Souza, Michela Mitiko Kato Meneses de; Nigro, Cláudia Maria Ceneviva [UNESP]; Universidade Estadual Paulista (Unesp)
    Esse doutorado decorre de minha pesquisa do mestrado que descreveu a prática de uma produção literária no interior de uma comunidade nipo-brasileira situada no noroeste paulista. Tal trabalho teve como objetivos principais apresentar e descrever, a partir da observação in loco, a manifestação literária do haiku entre os anos de 2010 e 2012, focalizando os processos de criação, de socialização e de publicação do Coletivo Yuba kukai – escritos em língua japonesa –, e iniciar a organização do acervo literário do poético haiku da Comunidade Yuba. Da coleta realizada utilizarei agora 15 haiku traduzidos e publicados na Revista Kuzu e um premiado no Japão em 2010 no concurso da NHK Zenkoku Haiku Taikai do senhor Eizo Niizu. Como justificava para essa proposta de tese alego a necessária continuidade dos estudos de um objeto apresentado inicialmente durante o mestrado, que já conta com o aval dos haikuístas Yuba. Proponho responder os seguintes questionamentos: 1) Em que medida estes lavradores-artistas nipo-brasileiros “podem falar”? 2) Quais são as implicações desse “poder”? Para tanto serão adotadas as abordagens teóricas e críticas de Spivak (2010) acerca da Subalternidade; Quijano (2005), Mignolo (2007), Grosfoguel (2008) e Ballestrin (2013) sobre os Estudos Decoloniais; Nunes (1995) e Bhabha (1998) relacionados ao Tempo; Santos (2014) tratará do Espaço; Stuart Hall (2003) da Diáspora; Maringolo (2014), Evaristo (1990, 2009, 2017, 2019, 2020, 2021) da Memória; Alexandre (2004) e Pacheco (2005) da Representação e Cunha; Schmitt-Prym (2021) e Edson Iura (2021) do haiku/haikai/haicai, posto que melhor se adequam aos sujeitos supracitados advindos do Japão e nascidos no Brasil como representantes de uma diáspora, que origina a partir de 1926 nos meados do século XX. Nesse sentido, o estudo tem como objetivo arquitetar o construto de (re)apresentação da estética poética dos haikuístas do Coletivo Yuba kukai. Para a realização do estudo utilizaremos metodologicamente das Pesquisas Bibliográficas e Etnográficas, o método quantitativo-qualitativo e a abordagem teórica crítica dos estudos subalternos e decoloniais. Os resultados alcançados nos permitirão apresentar as vozes dos haikuístas da Yama diante da tradição japonesa de produção do haiku em um país da América Latina, o Brasil.
  • ItemTese de doutorado
    O mural à margem: um estudo da configuração narrativa em Chão Bruto e Selva Trágica, de Hernani Donato.
    (Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2023-04-06) Bonez, Carolini Cristina Santos Alpe; Wimmer, Norma [UNESP]; Universidade Estadual Paulista (Unesp)
    A tese aqui apresentada teve como intuito estabelecer e ponderar as relações entre a configuração mural verificada nos romances Chão Bruto (1955) e Selva Trágica (1976) de autoria de Hernani Donato, e as projeções da referida configuração quanto à constituição discursiva presente nas tramas. Ambos os romances em análise contemplam sua esfera ficcional permeada pelo campo histórico – em Chão Bruto (1955) tem-se o povoamento do oeste paulista em virtude da ótica expansionista atuante sobre aquele espaço, e em Selva Trágica (1976), o contexto de exploração da erva-mate no sul do Estado de Mato Grosso - antes de sua divisão territorial, pela Companhia Mate Larangeira, responsável pela concessão das terras constituídas pelos ervais nativos. Projetou-se a análise de como o contexto histórico aliado à articulação discursiva auxiliam na construção de murais e submurais que desvelam os acontecimentos por meio da discursividade neles presentes. Enquanto suporte teórico para a realização das análises, foram elencados autores que pudessem contribuir quanto ao estudo do nível discursivo, como Norman Friedman, Mikhail Bakhtin e Valentin Volochinov. Estudos de teóricos que apresentam sua área de atuação voltada à Historiografia e História também foram utilizados a fim de fornecer informações que amparariam a compreensão das obras enquanto produto social. Nesse sentido, o estudo em questão buscou conceber as correlações históricas e sociais a partir do nível do discurso, analisando as inerências entre o contexto de produção na narrativa e a articulação dos fatos extrínsecos aos textos provenientes de um determinado momento histórico, verificando-se as referidas inerências no plano da linguagem e das instâncias discursivas presentes na narrativa tendo como base a projeção mural, a qual fora verificada enquanto perspectiva norteadora em ambos os romances, para que a narratividade pudesse ser manifesta de modo a contemplar todos os elementos existentes nas narrativas.
  • ItemTese de doutorado
    Katerina Gógou: intimidade política
    (Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2023-05-05) Oliveira, Nicolas Pelicioni de; Aquati, Cláudio [UNESP]; Universidade Estadual Paulista (Unesp)
    A presente pesquisa debruça-se sobre a obra poética de Katerina Gógou (1940-1993), moderna poeta grega, autora que viveu intensa militância política ligada à esquerda radical da Grécia e apresentou, até meados da década de 1990, um conjunto de textos que não só reflete sua militância como também lida com as vanguardas europeias dos anos 1920, em especial o Surrealismo. Propomo-nos tanto a apresentar essa autora para o público brasileiro por meio da tradução de uma consistente antologia de sua obra poética, como também formular uma série de análises de seus textos nos quais subsistem elementos que julgamos suficientes à construção de um processo de autoficção detectável em sua poesia. Se, por um lado, a suposta presença de elementos biográficos em sua obra facilitou a difusão de sua poesia, dado o sucesso anterior que experimentara como atriz, por outro lado, por um período de vinte anos, dificultou a circulação de seus poemas entre a crítica especializada. O que este trabalho busca discutir é que os elementos mobilizados pela autora são muito mais literários que biográficos. Por fim, dada a necessidade imposta pela análise dos textos poéticos, apresentaremos a tradução do manifesto vanguardista de Yiórgos Theotokás. Grande parte dos textos tratados nesta tese, quais sejam, os de Gógou e de Theotokás, são traduzidos para o português pela primeira vez.
  • ItemTese de doutorado
    A presença do cinema no romance brasileiro: da vanguarda modernista à contemporaneidade
    (Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2023-03-08) Oliveira, Marília Corrêa Parecis de; Franco Junior, Arnaldo [UNESP]; Universidade Estadual Paulista (Unesp)
    Esta tese apresenta um estudo acerca da presença da linguagem cinematográfica no romance brasileiro, desde a vanguarda modernista até a contemporaneidade, elegendo, para isso, obras que, em tese, poderiam funcionar como representativas dessas relações: Amar, verbo intransitivo (1927), de Mário de Andrade; Caminhos cruzados (1935), de Erico Verissimo; Perto do coração selvagem (1944), de Clarice Lispector; Em câmera lenta (1977), de Renato Tapajós; Bandoleiros (1985), de João Gilberto Noll; e Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios (2005), de Marçal Aquino. Pretendeu-se, a partir da leitura dessas obras, compreender como a escrita literária reelabora estratégias cinematográficas e dialoga com elas. Para tanto, refletimos, com base num instrumental teórico e crítico, em que medida a incorporação de procedimentos cinematográficos afetou estratégias de escrita na prosa de ficção, tais como a desintegração espaço-temporal, a incorporação da montagem e as repetições e justaposições de cenas. Tem-se como hipótese a ideia de que a presença do cinema, desde a vanguarda modernista, permeou a produção literária brasileira como um sintoma de uma mudança na percepção de mundo, e essa presença continua até a literatura produzida contemporaneamente. Com isso, a perspectiva aqui adotada não diz respeito a comparar duas linguagens diversas (literatura; cinema), mas a permanecer no domínio da escrita e investigar como ela corrobora traços de uma linguagem ligada à tecnologia icônica.
  • ItemTese de doutorado
    O direito na literatura em Camilo Castelo Branco e seu matricídio sem exemplo
    (Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2023-03-13) Parra Filho, Raphael Hernandes; Pavanelo, Luciene Marie [UNESP]; Universidade Estadual Paulista (Unesp)
    Quando pensamos em Camilo Castelo Branco imediatamente vem Amor de perdição no nosso imaginário. Contudo, Camilo não é só o autor ultrarromântico como a maioria dos leitores o conhece e a crítica literária tradicional o classifica. O objetivo principal deste trabalho é mostrar uma face menos conhecida do autor e colorir os aspectos jurídicos inseridos neste pequeno, mas importante fragmento da sua obra literária. Com Maria, não me mates, que sou tua mãe!, um folheto de cordel, baseado em um fato real, que foi sua primeira narrativa e se tornou seu primeiro best-seller, Camilo demonstra a importância do uso do discurso sensacionalista para vender, por meio da confusão entre vida e arte, realidade e ficção. Através de um suposto matricídio usa sua imaginação para mostrar que o que está em volta do crime é tão ou mais importante que o próprio crime. E é neste cenário, por meio do delito e das consequências jurídicas que esse irá acarretar na narrativa, que trazemos à luz o Direito Penal e o Direito Processual Penal dentro da obra camiliana. Nesta confluência entre Literatura e Direito analisamos os aspectos literários da obra, sublinhamos o Direito e procuramos entender o porquê de um crime tão repugnante.
  • ItemTese de doutorado
    Resistência subalterna: diálogo interartes
    (Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2023-03-10) Souza, Davi Silistino de; Nigro, Cláudia Maria Ceneviva [UNESP]; Universidade Estadual Paulista (Unesp)
    A resistência subalterna, caracterizada como o combate a forças hegemônicas, as quais intentam rebaixar, silenciar ou apagar outras vidas, vem sendo estudada há décadas pelos Estudos Subalternos indianos e latinos. A partir da análise de obras de expressões artísticas, como a Literatura e o Cinema, estudiosos dessas abordagens propiciam com que integrantes desses grupos tenham espaço de fala e possam ser ouvidos e compreendidos. A presente tese possui como objetivo estudar de que maneira a resistência subalterna ocorre nos romances Ghostwritten (2001) e Cloud Atlas (2004), escritos por David Mitchell, e no filme Uma história de amor e fúria (2013), roteirizado e dirigido por Luiz Bolognesi. Em nossas análises, evidenciaremos como cada obra apresenta, predominantemente, formas específicas de resistência, sendo o filme representante da resistência de ordem violenta, Ghostwritten aproximando-se da manifestação não violenta e Cloud Atlas expondo personagens atuando com a resistência não violenta ativa. Para tanto, utilizamo-nos dos escritos de Frantz Fanon (2008) e Ranajit Guha (1999), no que tange à presença da violência no contexto indiano e martinico; das teorizações de Henry David Thoreau (2012), Mahatma Gandhi (2010) e Martin Luther King, Jr. (2010), no tocante a conceitos da desobediência civil, do autogoverno e da resistência não violenta por meio da integração, respectivamente; e do pensamento crítico de Ochy Curiel (2014) e Judith Butler (2020), com relação à abordagem decolonial, da necessidade de união entre os subalternos e da consciência da força presente na resistência não violenta ativa. A partir dessa pesquisa, buscamos combater a influência da colonialidade e a manutenção dos eixos de opressão, de modo que a eliminação das precariedades e das desigualdades sociais, aliado com a valorização da cultura, da epistemologia e das vozes subalternas, seja possível na construção de realidades mais justas.
  • ItemTese de doutorado
    Literatura (d)e resistência: o grito aguerrido de escritores quare
    (Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2023-03-09) Morais, Fernando Luís de; Nigro, Cláudia Maria Ceneviva [UNESP]; Universidade Estadual Paulista (Unesp)
    Numa sociedade intransigente, que relega ao limbo os indivíduos cujas identidades raciais/étnicas, de gênero e de classe distanciam-se dos ditames preconizados pelo hegemônico padrão eurocêntrico, cis-heterossexual, de classe média/alta, afirmar-se negro-gay-pobre, valorizando a própria identidade, constitui um processo de resistência e confronto em face da constante invisibilidade, obliteração e silenciamento. À vista disso, interessa-nos, nesta tese, perscrutar esses recintos a fim de investigar de que modo a interseccionalidade entabulada entre raça/etnia, gênero e classe em autores negros-gay (pobres) repercute em suas produções literárias, operando como manobra de insubordinação às inflexíveis diretrizes hegemônicas. A partir de uma triagem dos poemas de Thomas Grimes compilados nas antologias Poets on the Horizon: A Collection of Poetry (1988), Milking Black Bull: 11 Gay Black Poets (1995) e em seu livro Reclamations (1994), da produção poética de Waldo Motta nos livros Eis o homem (1987) e Bundo e outros poemas (1996), e também dos escritos que compõem a coletânea In the Life: A Black Gay Anthology ([1986] 2008), buscaremos desbravar leituras que indiciem como os sujeitos negros-gay-pobres foram – e ainda têm sido – subjugados ao anonimato e invisibilizados não só enquanto escritores mas enquanto sujeitos sociais e políticos. Sustentamos que essas produções escritas atuam como um arsenal de instrumentos de denúncia das discriminações sociais e da precária posição ocupada por sujeitos negros-gay de classe baixa num reduto marcado pelos parâmetros da branquidade, da heterossexualidade e do classismo. As reflexões aqui construídas estão em consonância com as analíticas queer e quare. O aporte crítico-teórico sobre o qual se sustenta este trabalho abrange obras como as de Almeida (2018), Butler (2014, 2016, 2018, 2019), Campbell e Kean (1997), Collins e Bilge (2016), Crenshaw (1995), Hall (2003), Johnson (2005), Lorde (2007, 2019), Restier e Souza (2019) e Wilchins (2004).
  • ItemTese de doutorado
    A representação em questão: colonizador e colonizado em The Other Hand, de Chris Cleave
    (Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2023-02-13) Almeida, Marco Aurelio Barsanelli de; Nigro, Cláudia Maria Ceneviva [UNESP]; Universidade Estadual Paulista (Unesp)
    Lançada em 2008, a obra The Other Hand, de autoria do britânico Chris Cleave, tem como protagonista Pequena Abelha, uma garota negra nigeriana que, fugindo de uma realidade de medo e violência em sua terra natal, busca refúgio na Inglaterra após a destruição de seu vilarejo e o assassinato de sua irmã. Cleave, assim, deseja representar o olhar de uma garota africana em sua luta por sobrevivência e adaptação à nova realidade. O trabalho aqui apresentado tem como objetivo investigar a maneira como Cleave, um homem branco e europeu, representa uma garota negra africana, a visão sobre a sociedade inglesa, a relação com outros refugiados e o convívio com a família de Sarah, uma mulher branca britânica. Para nossas análises, utilizamos os escritos de autoras/es como Gambarato (2005), Foucault (1998), Compagnon (2012) e Olney (1980), entre outros, para estabelecermos uma visão acerca da representação, enquanto processo e produto, que abarque nossas análises do romance de Cleave. Atentamos também para as ideias de Hall (2002, 2003, 2003, 2016), Spivak (2010), Nigro (2017) e Butler (1993, 2016), para citar alguns, acerca dos liames entre representação, poder e gênero. Apresentamos, ainda, uma breve explanação acerca da exploração colonial no continente africano, a partir das considerações de Chagastelles (2008), Matera, Bastian e Kent (2012), Mbembe (2018), Lynch (2012) e Nwosu (1992), e outros. As ideias pós-coloniais e o pensamento decolonial são discutidos por meio das concepções de Said (2001), Spivak (2010), Quijano (1992, 2008), Castro-Gómez (2008), Walter Mignolo (2008) e Catherine Walsh (2008, 2009), de modo a compreendermos como as percepções dos povos anteriormente colonizados moldam a apreensão desses indivíduos sobre a sociedade contemporânea e os permite agir contra os meios de exploração e dominação. Por fim, os escritos de Muraro (1989), Garcia (2015) e Priore (2013) nos proporcionam um panorama histório-social sobre a situação da mulher e o movimento feminista, enquanto hooks (1990, 2019), Crenshaw (1991), Davis (2016) e Collins (2019) voltam seus olhares para os problemas e lutas do feminismo negro. Os autores e autoras elencados fornecem uma sólida base crítica e teórica a partir da qual compreendemos como as relações coloniais continuam inseridas no romance de Cleave. Apesar de oferecer um bom trabalho ao criticar a sociedade britânica e retratar os refugiados, notamos a presença de variados elementos que reforçam papeis de gênero tradicionalmente atribuídos pelo pensamento patriarcal, além da perpetuação de mitos raciais que desabonam o indivíduo negro, principalmente o feminino. Nosso estudo reforça a presença autoral no texto literário ao entrever, na representação criada por Cleave de uma refugiada negra africana, elementos que conservam a mentalidade hegemônica e patriarcal, na qual o pensamento colonizador permanece como artifício de dominação do sujeito colonizado.
  • ItemTese de doutorado
    A desconstrução do mito português no romance poético de António Lobo Antunes
    (Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2022-11-17) Pereira, Daniella Sigoli; Scheel, Márcio [UNESP]; Universidade Estadual Paulista (Unesp)
    O presente trabalho analisa a desconstrução do mito português em romances poéticos representativos da obra do escritor António Lobo Antunes. Entendemos que, no seu processo de construção de narrativas poéticas, o autor gera um movimento pendular, assim como pensa Eduardo Lourenço (1999), de desconstrução e reconstrução antagônica dos mitos ideológicos de Portugal, criando, assim, uma espécie de antimito português. Ora, ainda que tematicamente oposto aos grandes mitos fundadores de Portugal no que concerne às questões temáticas, a linguagem para a desconstrução dessas narrativas não deixa também de ser lírica. Porém, enquanto a construção dos mitos ideológicos apresenta o tom enaltecedor da ode, a sua desconstrução tal como observamos em Lobo Antunes, apresenta o da elegia. Isso porque seu “canto” irônico é marcado por imagens da falência, amargura, solidão, ruína, desamparo e desilusão. A obra de António Lobo Antunes, ao contribuir para o movimento oscilatório da euforia e desencantamento, descobre todas as ilusões pelas quais os mitos foram revestidos durante o governo Salazarista. Por fim, considerando que o escritor português escolhido por nós como objeto de análise apresenta uma obra extensa, foi necessário que uma seleção fosse feita, sendo ela composta pelos seguintes romances: Memória de Elefante, (1979); Auto dos danados, (1985); As naus (1988); A Morte de Carlos Gardel, (1994); Manual dos Inquisidores (1996) e O Arquipélago da Insónia, (2008); e Não é meia-noite quem quer (2012). Tais obras foram escolhidas por representarem diferentes ciclos da escrita de Lobo Antunes e por apresentarem usos diferentes da linguagem e mundos coesos muito singulares, mas que levam a um resultado poético similar.
  • ItemTese de doutorado
    A “linha clara” como estética imagética da palavra proustiana: os casos de "No caminho de Swann" e "À sombra das raparigas em flor", de Marcel Proust, adaptados para narrativas gráficas
    (Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2022-11-11) Espúrio, Karina; Hattnher, Alvaro Luiz [UNESP]; Universidade Estadual Paulista (Unesp)
    A leitura de "No caminho de Swann" (2004) e "À sombra das raparigas em flor" (2004), dois primeiros volumes do romance "Em Busca do Tempo Perdido", de Marcel Proust, adaptados para o suporte de histórias em quadrinhos por Stéphane Heuet, mostra que o tratamento do discurso literário proustiano é um elemento desafiador no processo adaptativo desse quadrinista. Isso é sugerido pelo uso constante que ele faz de balões de fala e, principalmente, de recordatórios. Heuet manteve a palavra proustiana em sua adaptação, não somente ao utilizar esses recursos verbais dos quadrinhos à exaustão, mas, também, quando ele desenhou o discurso de Proust. Para transpor a narrativa proustiana imageticamente, Heuet utiliza a “linha clara”, conhecida por sua nitidez e economia gráfica. Dessa forma, Heuet uniu, em seus quadrinhos, a palavra proustiana, legitimada criticamente, com a “linha clara”, estratégia gráfica considerada clássica, de fácil leitura e validada pela crítica. Assim, ele destaca parte do texto proustiano em seu trabalho, mantendo-o com o uso de balões de fala e recordatórios, elemento verbal este primordial para a construção da adaptação heuetiana e estudado neste trabalho por meio de uma tipologia expandida, e torna visível uma outra parcela da narrativa de Proust por meio de imagens. Com isso, defendemos a tese de que o uso da “linha clara” para desenhar o discurso proustiano criou uma estética imagética que torna clara e graficamente compreensível a palavra do romancista francês para o leitor dos quadrinhos.
  • ItemTese de doutorado
    Tradutores de romances-folhetins nos jornais cariocas do século XIX
    (Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2022-08-29) Marques, Lucas de Castro; Granja, Lúcia [UNESP]; Universidade Estadual Paulista (Unesp)
    Este trabalho tem como objetivo apresentar um estudo sobre os tradutores de romances-folhetins publicados nos jornais do Rio de Janeiro no século XIX, bem como evidenciar alguns aspectos de sua prática tradutória, além de abordar a invisibilidade dos tradutores do gênero folhetinesco. Surgido no início do século XIX, o feuilleton, nome dado ao rodapé dos jornais, era um espaço no qual se inseria textos de diversos gêneros, dentre eles a prosa ficcional em fatias, que teve seu início na França, em 1836. Essa forma de publicação alcançou os jornais cariocas, que rapidamente importaram romances dos escritores franceses para serem traduzidos e publicados em seus rodapés. Assim sendo, obras de romancistas como Eugène Sue, Honoré de Balzac, Alexandre Dumas, Victor Hugo, Xavier de Montépin e Ponson du Terrail, eram traduzidas para o português, geralmente, pelos colaboradores dos jornais. Entre eles, estão Francisco de Paula Brito, Julio Cezar Muzzi e Justiniano José da Rocha, que trabalharam como tradutores para o Jornal do Commercio, nos primeiros anos de publicação de romances-folhetins. Somam-se a esses, por exemplo, nomes pouco conhecidos, tais como Braulio Jaime Moniz Cordeiro, Ananias Ibirapitanga de Araújo e Raimundo Antônio da Câmara Bittencourt, que traduziram narrativas para A Marmota. Há tradutores que, devido ao sucesso de seu trabalho, saíram do anonimato, como nos casos de João Aristides Soares Serpa e Guilhermina Santos. No jornal Cidade do Rio, Emílio Rouède, Coelho Netto, Olavo Bilac e Guimarães Passos teriam se envolvido num caso de tradução “parasitária”; contudo, foram creditados como tradutores apenas Guimarães Passos, Baptista Coelho e Pinheiro Chagas. Alguns romances-folhetins de sucesso, publicados no Jornal do Commercio, foram traduzidos por Justiniano José da Rocha e Antonio José Fernandes dos Reis. Augusto Emilio Zaluar, Jacinto Augusto de Sant’Anna e Vasconcellos, João Cardoso de Menezes e Souza e Manuel Antonio de Almeida traduziram romances-folhetins para o Correio Mercantil. Há também outros tradutores, tais como Machado de Assis, José Alves Visconti Coaracy e José Joaquim Vieira Souto, que não deixam de ser importantes. Justiniano José da Rocha e Caetano Lopes de Moura, em razão de sua relevância na prática de tradução literária, e da existência de uma produção biográfica sobre esses dois tradutores, foram escolhidos para uma análise comparativa de suas trajetórias, na qual se empregou os conceitos da sociologia de Pierre Bourdieu. As fontes primárias desta pesquisa consistem, principalmente, em jornais cariocas do século XIX, além de manuscritos, livros e outros impressos da época, que evidenciam informações biográficas e bibliográficas a respeito dos tradutores. As fontes secundárias, por sua vez, constituem-se, sobretudo, de trabalhos sobre a tradução no Oitocentos brasileiro, especialmente aqueles que abordam o romance-folhetim traduzido, e de trabalhos sobre a História Literária, a História do Livro e da Edição e a História da Imprensa. Observamos que os tradutores de romances-folhetins publicados nos jornais cariocas tinham a tradução, em geral, como uma atividade profissional secundária; além disso, estavam marcados pela invisibilidade decorrente do anonimato, visto que, na maioria dos folhetins, não se creditava o nome do tradutor, possivelmente em razão do desprestígio do gênero folhetinesco e das críticas a respeito das traduções.
  • ItemTese de doutorado
    José de Alencar, leitor de si mesmo
    (Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2022-07-27) Lima, Lilian Tigre; Granja, Lúcia [UNESP]; Universidade Estadual Paulista (Unesp)
    Nesta tese de doutorado, buscamos revisitar a história da recepção crítica da obra de José de Alencar, tendo o olhar direcionado não para as leituras que outros fizeram sobre essa ficção, mas para a leitura que o literato deixou sobre si mesmo. Assim, sem pretender fazer deste estudo uma abordagem linear e exaustiva da avaliação que os livros de Alencar receberam ao longo dos séculos XIX e XX, nosso intuito foi debater, a partir das polêmicas e dos demais textos de natureza crítica, as “ações” do escritor em favor da própria recepção futura. Entre outros aspectos, analisamos de que maneira Alencar, em especial aquele da maturidade (1871-1877), ao apresentar-se como leitor de modelos pouco aproximados de sua obra por seus contemporâneos, parece induzir a crítica a “aceitar” essa vinculação, lançando os holofotes para outras imagens de si como escritor. Tratou-se, pois, de considerar o pensamento crítico de José de Alencar (MARTINS, 2005) ou, mais precisamente, de compreender o esforço exercido por ele no movimento pela própria permanência. Para um entendimento mais aprofundado do efeito dessas “ações”, recorremos aos conceitos de “reputação”, “celebridade” e “glória” (LILTI, 2014). Embora Antoine Lilti, em seu estudo, tenha os olhos voltados para o cenário europeu dos séculos XVIII e XIX, a conceitualização apresentada pelo historiador francês oferece nuances que, a nosso ver, permitem pensar com maior acuidade as chamadas “formas de notoriedade” do nome e da obra de José de Alencar, em seu presente e em sua posteridade. Finalmente, buscamos analisar as dinâmicas produzidas por cada atitude crítica, em movimento e em conflito, a fim de compreender de que maneira contribuem, junto a demais fatores históricos e sociais, para o desvendamento de outras facetas do escritor, esse glorioso “desconhecido” (AMOROSO LIMA, 1965; PELOGGIO, 2009).
  • ItemTese de doutorado
    Os pactários da linguagem: representações do Brasil mediadas por Grande Sertão: Veredas
    (Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2022-05-30) Cruz, Artur Ribeiro [UNESP]; Silva, Antonio Manoel dos Santos [UNESP]; Universidade Estadual Paulista (Unesp)
    O presente trabalho se propõe a mostrar uma possível rede de sentidos que interligam literatura, televisão e sociedade. Por meio da figura do pacto diabólico, como elemento de unidade interpretativa do processo e do produto de uma adaptação, analisa-se o romance Grande Sertão: Veredas, publicado em 1956 por João Guimarães Rosa, e sua recriação em formato televisivo na minissérie homônima, com direção-geral de Walter Avancini, exibida em 1985, reprisada em 1998 e 2017, e disponível em versão digitalizada desde 2010. A perspectiva aqui adotada sugere haver uma tensão entre noções de gêneros narrativos no concurso entre a forma romanesca e as ficções seriadas audiovisuais – especificamente a minissérie –, buscando respostas, nos limites do objeto escolhido, que integrem a apreensão estética à compreensão histórico-social dessas produções culturais. Para fins de abertura analítica, foram mobilizados trabalhos de Candido, Lukács e Frye. Quanto ao texto literário, apresenta-se a hipótese de que o universo imaginário dá forma artística à consciência geracional de um grupo de intelectuais modernistas, que, no afã de trazer o povo brasileiro para o centro da ocupação política e cultural, mediante as utopias de integração nacional, desenvolvimento e coesão social, acabam pactuando com a estrutura burocrática do poder do Estado republicano. Tal compreensão se apoia conceitualmente em Goldmann e Dewey e, de modo mais específico, nos estudos de Bolle. Nesse sentido, o Grande Sertão é lido como a realização literária monumental de um projeto utópico de Brasil que acaba por revelar uma cisão entre algumas propostas modernistas e sua implementação no plano da realidade material do país por conta da mediação das estruturas degradadas de poder do Estado – a serviço dos interesses mais imediatos das camadas dominantes – com as quais esse projeto faz um pacto. Para essa instância interpretativa, propõe-se um diálogo com Viana, Holanda, Fernandes e Hirano. Quanto ao texto audiovisual, para cuja abordagem foram pertinentes os estudos midiáticos de Machado e os de adaptação de Stam e Hutcheon, a minissérie resulta de uma releitura artística que, na dialética entre o formato industrial e a ruptura com os padrões discursivos dos gêneros ficcionais da televisão brasileira, transfigura problemas que permearam a abertura política e a redemocratização do país em meados da década de 1980. Assim, o objetivo de demonstrar as questões acima teve como eixo a figura do “pacto com o diabo” em várias camadas de análise. O processo de reabertura política, em cujo contexto histórico-social estão inseridas a produção e a exibição da minissérie, pode ser compreendido como pacto demoníaco, em outras palavras, como a reiteração de um falso contrato social, pois o retorno à democracia manteve o poder nas mãos de grupos que se rearranjam para manter o Estado como extensão de sua propriedade. Desse modo, a interpretação do pacto de Riobaldo com o diabo, associada à análise da adaptação como pacto dos realizadores com o meio institucional (a emissora) e com o público heterogêneo da tevê, visa compreender a forma com que a narrativa televisiva transforma conteúdos da realidade social em elementos estéticos da minissérie.
  • ItemTese de doutorado
    Adaptação intercultural: as Juliet(a)s de Alice Munro e Pedro Almodóvar
    (Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2022-05-09) Nakanishi, Débora Spacini; Nigro, Cláudia Maria Ceneviva [UNESP]; Universidade Estadual Paulista (Unesp)
    O presente trabalho tem como objetivo buscar, nas obras “Chance”, “Soon”, “Silence” (2004), de Alice Munro, e no filme Julieta (2016), de Pedro Almodóvar, rastros de como a cultura mobiliza-se no processo de adaptação, a partir da perspectiva da adaptação intercultural, na qual um texto localizado em uma matriz cultural é adaptado em outra. Tanto Munro quanto Almodóvar são referências nos respectivos contextos nacionais e, consequentemente, considerados representantes dos países e das culturas natais no cenário internacional. Dessa forma, quando Almodóvar adapta uma narrativa situada no Canadá, com trama e personagens peculiares à sociedade local, e a transfere para a Espanha, com características igualmente próprias, faz-se imprescindível que aspectos culturais passem por um prisma de ressignificância, tornando-os verossímeis a nova localização. Faremos, portanto, um estudo sobre os fazeres artísticos de Munro e de Almodóvar, destacando a forma como a cultura nacional e regional influencia e é influenciada por seus trabalhos. No caso da contista, nos baseamos em textos de Thacker (1988; 2010; 2016), Gibson (2010), Hooper (2008), etc. Já no de Almodóvar, recorremos, entre outros, a autores presentes no A Companion to Pedro Almodóvar (2013), organizado por D'Lugo e Venon, além da entrevista concedida a Strauss (2008). Quanto à metodologia, adotamos a proposta por Silva (2012) de análise estilística de adaptação intercultural, organizada em cinco categorias: língua falada, cronótopo, dominantes genéricas, trama e estilo de encenação. Adicionamos, ainda, uma nova categoria, de cruzamentos temáticos. Em cada etapa, trazemos referências específicas, como, por exemplo, a respeito das relações diplomáticas e sociais entre Espanha e Marrocos, com artigo de Ferrer-Gallardo (2008), e da figura materna como construção social na Espanha, de acordo com Schmoll (2014). Finalizamos trazendo uma reflexão a respeito da adaptação intercultural e as possibilidades dentro da área de Estudos de Adaptação.
  • ItemTese de doutorado
    A busca da imortalidade em Across the River and Into the Trees, de Ernest Hemingway e Du côté de chez Swann, de Marcel Proust
    (Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2022-03-04) Navas, Manoela Caroline; Fernandes, Giséle Manganelli [UNESP]; Universidade Estadual Paulista (Unesp)
    O ser humano é refém da implacabilidade do tempo, não sendo permitida a chance de escapar do cativeiro fenomenológico imposto a ele. Entretanto, algumas pessoas são capazes de fugir de seu destino e alcançam a eternidade, terreno da imortalidade. A presente tese, assim, tem como objetivo analisar as obras Across the River and Into the Trees, de Ernest Hemingway, e Du côté de chez Swann, de Marcel Proust, sob a perspectiva da experiência humana e da subjetividade diante da ação do tempo, calcada na Filosofia Existencial. O caminho trilhado parte da análise da necessidade humana da busca da unidade, trabalhada pelo filósofo Miguel de Unamuno, para que assim, os escritores possam alcançar a graça da eternidade. Essa missão somente será possível no plano da criação do universo romanesco, como abordado por Camus, para, então, o escritor, diante de sua angústia existencial, possa encontrar sua unidade. Uma das formas de atingir a eternidade é por meio do acesso à Ideia, categoria suscitada por Schopenhauer, e esta via é trilhada pelo trabalho do gênio, no caso, ambos Hemingway e Proust. Por fim, serão abordadas, via Santo Agostinho e Kierkegaard, as noções de eternidade e tempo, e como, depois de traçado esse percurso na busca de si, os autores em questão e suas obras rompem com a barreira temporal e se lançam na imortalidade.
  • ItemTese de doutorado
    Recepção e horizontes de leitura do direito na tragédia grega: Prometeu prisioneiro, Antígone e As bacantes
    (Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2021-04-09) Pereira, André Luiz Gardesani; Faria, Gentil Luiz de; Universidade Estadual Paulista (Unesp)
    A Estética da recepção, como vertente da literatura comparada, apresenta concepções teóricas e metodológicas adequadas para a leitura, recepção e exegese do fenômeno jurídico na tragédia grega clássica, notadamente por meio das teorias de Iser sobre o preenchimento dos vazios e negatividades do texto e de Jauss sobre a historicidade da obra literária, sob os aspectos sincrônico, diacrônico e do cruzamento entre a recepção inicial e o processo de juízos históricos de leituras. A tese parte das contribuições fornecidas pelos teóricos do Law and Literature Moviment, bem como dos estudos de literatura comparada, especialmente da confluência entre literatura e o direito. As teorias dos dois principais nomes da Escola de Konstanz, Jauss e Iser, aliadas à teoria de Eco sobre a definição de obra aberta e dos limites da interpretação, permitem, por meio da postura ativa do leitor, o estudo do fenômeno jurídico na tragédia grega clássica, de modo a alcançar o sentido mais original do texto, ou seja, aquele que o espectador provavelmente concebeu ao tempo da sua primeira fruição, bem como aferir a recepção e os efeitos produzidos ao longo da evolução das leituras na cadeia diacrônica. Esta tese também tem por escopo identificar os leitores primários e secundários da tragédia ática, sua adequação aos esquemas e classificações de leitores propostos pelos teóricos da Estética da recepção, analisar a problemática da “competência receptiva”, a atividade do leitor diante das balizas e negatividades do texto trágico e as repercussões do texto no público leitor. O corpus de pesquisa é composto por três tragédias: Prometeu prisioneiro, de Ésquilo; Antígone, de Sófocles e As bacantes, de Eurípides, selecionadas com base na articulação e no intenso diálogo intelectual que os três grandes autores trágicos desenvolvem entre si, bem como na elevada inclinação ideológica e jurídica dessas obras. Como resultado, serão obtidos novos esquemas de leitura do direito na tragédia grega, possibilitando, mediante uma participação mais incisiva do leitor, o intercâmbio entre o sistema cultural e jurídico atual e do passado grego, de modo a promover entendimentos sobre o senso de direito e de justiça, novas visões de mundo e a transformação de horizontes de expectativas.
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    No território do maravilhoso: aproximações e distanciamentos entre os contos de fadas e a trilogia “Jogos vorazes”, de Suzanne Collins
    (Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2022-02-03) Morais, Guilherme Augusto Louzada Ferreira de; Ramos, Maria Celeste Tommasello [UNESP]; Universidade Estadual Paulista (Unesp)
    Nesta tese de doutorado, estudamos a trilogia de ficção científica “Jogos vorazes”, de Suzanne Collins, de modo a comprovar a hipótese de que há pontos de contato entre os romances da série e os contos de fadas clássicos. Nosso estudo, que se desenvolve dentro de uma abordagem metodológica fenomenológico-hermenêutica, busca elucidar, por meio de comparações, as aproximações e os distanciamentos entre a obra de Collins e os contos de fadas da tradição, tendo em vista três níveis de interpretação: i) embora romance e conto sejam tipos de prosa diferentes, objetivamos evidenciar a existência de uma aproximação quanto às funções dos personagens (cf. PROPP, 2010), uma vez que os romances de ficção científica aqui analisados e os contos de magia pertencem ao que Marinho (2009) compreende por poéticas do maravilhoso; ii) partindo da ideia de que a intertextualidade, para Samoyault (2008), é a memória que a literatura tem de si mesma, buscamos demonstrar como a trilogia dialoga com “João e Maria”, dos irmãos Grimm, e com as constantes do próprio gênero contos de fadas, recuperando e atualizando, por exemplo, o conceito de ética maniqueísta; iii) por fim, pretendemos evidenciar que a trilogia configura uma leitura revisionista dos contos de magia (cf. MARTINS, 2006; 2015; 2016), apresentando-nos uma ressignificação das figuras femininas (e masculinas) dessas histórias. Enfim, nosso objetivo é examinar como “Jogos vorazes” retorna aos contos de fadas, atualizando-os para o leitor contemporâneo, e quais significados isso acrescenta à interpretação dos romances para comprovar que a trilogia pertence às poéticas do maravilhoso não apenas por apresentar os aspectos formais desse gênero, mas também por dialogar intertextualmente com “João e Maria” e com as constantes dos contos e por ressignificar as personagens femininas tal como encontradas nessas histórias, dando tons feministas ao enredo da série.
  • ItemTese de doutorado
    A mulher como agouro de morte em lendas fantásticas de Gustavo Adolfo Bécquer
    (Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2021-07-23) Bergantini, Nathália Hernandes; Alvarez, Roxana Guadalupe Herrera [UNESP]; Universidade Estadual Paulista (Unesp)
    Na presente tese de doutorado busca-se defender a tese de que a mulher funciona, em cinco lendas escolhidas do autor espanhol Gustavo Adolfo Bécquer (El beso, El caudillo de las manos rojas, El monte de las ánimas, La cueva de la mora e Los ojos verdes), como um agouro de morte para as personagens masculinas que com elas se envolvem amorosamente. Percebe-se a mulher vista como essencialmente boa ou essencialmente má, chegando, inclusive, a ser, por vezes, aproximada a criaturas sobrenaturais, como o demônio de Los ojos verdes. Nesses contos, é muito importante também a questão do fantástico, pois a maioria dos contos de Bécquer são mais acertadamente compreendidos e classificados como fantásticos, embora alguns — e esse é o caso de El caudillo de las manos rojas — pertençam ao domínio do maravilhoso, dado que nesse conto acontecimentos sobrenaturais são aceitos com naturalidade. Para a melhor compreensão formal dos contos de Gustavo Adolfo Bécquer são importantes algumas considerações sobre conto, lenda e mito. Além disso, para compreenderem-se algumas motivações que levaram esse autor a construir suas personagens femininas da forma como construiu e, enfim, confirmar a tese atual que defendemos, é fundamental considerar aspectos da figura da mulher acerca de questões religiosas, sociais, históricas e literárias.