Nothing, Forever: a práxis enunciativa e a produção de sentido na geração autônoma do audiovisual por inteligência artificial

Abstract

O impacto transformador da inteligência artificial (IA) em múltiplas áreas do conhecimento, entre as quais a comunicação, está presente em diversos segmentos do ecossistema midiático, motivando o surgimento de novas formas de produção e consumo. Esta tese examina a experiência de Nothing, Forever, um produto audiovisual concebido sob este cenário, que apresenta uma estrutura de produção e fruição temporal infinita, sendo realizada integralmente por IA em todas as etapas, desde o roteiro até a exibição, utilizando tecnologias de inteligência artificial generativa. Inicialmente, o trabalho apresenta a transição da IA de uma concepção predominantemente teórica, limitada a contextos acadêmicos e narrativas de ficção científica, para sua aplicação prática abrangente, impulsionada por avanços tecnológicos em processamento de dados, computação em nuvem e metodologias científicas. No contexto de incorporação da IA no âmbito da comunicação, destaca-se como a tecnologia promove uma reconfiguração paradigmática na produção e disseminação de informação, com um enfoque particular na IA generativa, abrangendo o potencial destas ferramentas para criar conteúdos comparáveis aos gerados por humanos, bem como suas implicações na criação de produtos como os audiovisuais. Observou-se no processamento e na geração de linguagem natural por meio dos Large Language Models (LLM) um ponto de inflexão na evolução histórica da interação entre computação e linguística, desde as primeiras teorias sobre a capacidade dos computadores de simular processos cognitivos humanos até a implementação prática de sistemas avançados de LLM, como o Chat GPT. A partir da articulação de postulações teóricas de Chomsky e Saussure sobre a natureza da linguagem e sua aquisição, identificou-se como essas teorias se relacionam com os princípios subjacentes ao design e à funcionalidade dos LLM. A análise de Nothing, Forever sob o arcabouço teórico da semiótica discursiva, notadamente na categoria contínuo versus descontínuo, demonstra uma projeção temporal que desafia a práxis enunciativa de uma narrativa audiovisual no que tange às segmentações dos processos produção e modos de fruição. Isso porque a sitcom apresenta uma estrutura temporal que difere das concepções tradicionais de narrativa. Marcada pela entrada e saída dos espectadores a qualquer momento da exibição ininterrupta de conteúdo, presta a uma determinada forma de segmentação em unidades de significação sob a ótica da semiótica discursiva. Esta segmentação destaca a alternância entre continuidade versus descontinuidade, onde momentos de engajamento contínuo são interrompidos por pausas ou mudanças na narrativa, enriquecendo a experiência do espectador. Diante dessas características de discursivização e estabelecimento de contrato enunciativo a tese propõe denominar tal experiência como “Narrativa Generativa Contínua” para designar conteúdos audiovisuais gerados por inteligência artificial e apresentados de maneira contínua, circunscrevendo um novo modo de compreender e categorizar a realização deste tipo de produção mediada por IA.

The transformative impact of Artificial Intelligence (AI) in multiple areas of knowledge, including communication, is present in various segments of the media ecosystem, motivating the emergence of new forms of production and consumption. This thesis examines the experience of Nothing, Forever, an audiovisual product conceived under this scenario, which presents a structure of infinite temporal production and fruition, being entirely realized by AI in all stages, from scriptwriting to exhibition, using generative artificial intelligence technologies. Initially, the work presents the transition of AI from a predominantly theoretical conception, limited to academic contexts and science fiction narratives, to its comprehensive practical application, driven by technological advances in data processing, cloud computing, and scientific methodologies. In the context of incorporating AI into the realm of communication, it highlights how the technology promotes a paradigmatic reconfiguration in the production and dissemination of information, with a particular focus on generative AI, encompassing the potential of these tools to create content comparable to that generated by humans, as well as its implications in the creation of products such as audiovisuals. A turning point in the historical evolution of the interaction between computing and linguistics was observed in the processing and generation of natural language through Large Language Models (LLMs), from the earliest theories about computers' ability to simulate human cognitive processes to the practical implementation of advanced LLM systems, such as Chat GPT. By articulating theoretical postulations of Chomsky and Saussure regarding the nature of language and its acquisition, it was identified how these theories relate to the underlying principles of LLM design and functionality. The analysis of Nothing, Forever under the theoretical framework of discursive semiotics, notably in the category of continuous versus discontinuous, demonstrates a temporal projection that challenges the enunciative praxis of an audiovisual narrative regarding the segmentation of production processes and modes of fruition. This is because the sitcom presents a temporal structure that differs from traditional narrative conceptions. Marked by the entry and exit of viewers at any time during the uninterrupted exhibition of content, it lends itself to a certain form of segmentation into units of meaning from the perspective of discursive semiotics. This segmentation highlights the alternation between continuity versus discontinuity, where moments of continuous engagement are interrupted by pauses or changes in the narrative, enriching the viewer's experience. Given these characteristics of discursivities and the establishment of enunciative contracts, the thesis proposes to denominate such an experience as "Continuous Generative Narrative" to designate audiovisual content generated by artificial intelligence and presented continuously, circumscribing a new way of understanding and categorizing the realization of this type of IA-mediated production.