Alegres, para além de tudo: estratégias sensíveis dissidentes no cinema queer brasileiro contemporâneo

Abstract

A contemporaneidade é marcada por novas tecnologias midiáticas e audiovisuais, bem como por uma instrumentalização do sensível que leva autores a considerar nossos tempos uma “época estética”. Nesse mesmo contexto, percebe-se uma crescente produção cinematográfica e audiovisual mobilizada por corpos dissidentes – notadamente LGBTQIAPN+, com recorrentes recortes de raça e classe. A presente pesquisa busca analisar de que formas essa produção cinematográfica dialoga com fenômenos do capitalismo contemporâneo e se apropria de estratégias sensíveis circundantes nas mídias e no audiovisual para propor “algo novo”; de que formas essa produção observa nossos tempos, apropria-se de suas possibilidades e constrói “corpos quebrados”, obras deliberadamente fragmentárias que não podem ser totalmente contidas pelas lógicas do capitalismo. Toma-se como objeto um corpus composto por nove filmes, entre longas e curtas-metragens. A metodologia, de natureza qualitativa, mobiliza uma constelação fílmica (Souto, 2020) com análise inspirada por uma abordagem afetiva das imagens e sons (Del Río, 2008; Ramalho, 2012; Baltar, 2012), com ênfase em sua corporeidade, matéria visível e expressividade, observando-se esses como elementos centrais da produção de sentidos e de experiências estéticas. A partir da análise fílmica, enuncia-se duas chaves de leitura: elogio ao indiscernível e alegria queer, aplicadas como um modo específico de observar obra a obra. Acredita-se que esses filmes, ao modularem novas formas de sensibilidade, podem ser lidos como estratégias sensíveis dissidentes que, ao observarem nossa “época estética”, apropriam-se dela e promovem disputa sobre o que nossos tempos podem ser.

Contemporary times are marked by new media and audiovisual technologies, such as an instrumentalization of the sensibility that leads authors to consider our times an “aesthetic era”. In this same context, we can see a growing cinematographic and audiovisual production mobilized by deviant bodies – notably LGBTQIAPN+, with recurring themes of race and class. The present research seeks to analyze how this cinematographic production dialogues with contemporary capitalism and appropriates sensitive strategies surrounding the media and audiovisual to propose “something new”; in what ways this production observes our times, appropriates its possibilities, and constructs “broken bodies”, deliberately fragmentary works that cannot be fully contained by the logics of capitalism. The corpus is filled with nine films, including feature and short films. The qualitative methodology mobilizes a film constellation (Souto, 2020) with analysis inspired by an affective approach to image and sound (Del Río, 2008; Ramalho, 2012; Baltar, 2012), with an emphasis on their corporeality, visible matter, and expressivity, observing these as central elements in the production of meanings and aesthetic experiences. From the film analysis, two reading keys are enunciated: the Praise of the Indiscernible and Queer Joy, applied as a specific way of approaching work by work. By forging new forms of sensibility, these films can be read as deviant sensitive strategies that, by observing our “aesthetic era”, appropriate it and dispute what our times can be.

La contemporaneidad está marcada por nuevas tecnologías mediáticas y audiovisuales, así como por una instrumentalización de lo sensible que lleva a diversos autores a considerar nuestra época como una “era estética”. En este mismo contexto, se observa una creciente producción cinematográfica y audiovisual impulsada por cuerpos disidentes –notablemente LGBTQIAPN+, con intersecciones recurrentes de raza y clase. Esta investigación busca analizar de qué formas esta producción cinematográfica dialoga con fenómenos del capitalismo contemporáneo y se apropia de estrategias sensibles presentes en los medios y en el audiovisual para proponer “algo nuevo”; de qué maneras esta producción observa nuestra época, se apropia de sus posibilidades y construye “cuerpos fracturados”, obras deliberadamente fragmentarias que no pueden ser completamente contenidas por las lógicas del capitalismo. Se toma como objeto un corpus compuesto por nueve películas, entre largometrajes y cortometrajes. La metodología, de naturaleza cualitativa, moviliza una constelación fílmica (Souto, 2020) con un análisis inspirado en un enfoque afectivo de las imágenes y los sonidos (Del Río, 2008; Ramalho, 2012; Baltar, 2012), con énfasis en su corporeidad, materialidad visible y expresividad, considerándolos como elementos centrales en la producción de sentidos y experiencias estéticas. A partir del análisis fílmico, se enuncian dos claves interpretativas: elogio a lo indiscernible y alegría queer, aplicadas como una forma específica de abordar cada obra. Se considera que estas películas, al modular nuevas formas de sensibilidad, pueden ser leídas como estrategias sensibles disidentes que, al observar nuestra “era estética”, se apropian de ella y promueven una disputa sobre lo que nuestra época puede llegar a ser.