Pátria-mãe: maternidade e autobiografia no teatro, a partir de três experiências da cena paulistana

Abstract

A partir da minha experiência e inquietação como mãe e artista, nesta pesquisa me proponho a investigar pontos de cruzamento entre maternidade, autobiografia e a cena teatral contemporânea. Reflito sobre o lugar ocupado pela mãe a partir de uma perspectiva feminista, analisando o diálogo entre a cena e as dimensões estética e política dessa condição, considerando o caráter interseccional e a pluralidade de subjetividades que caracterizam a maternidade. Começo questionando a forma como a maternidade tem sido evocada em obras artísticas criadas por mulheres que escolhem usar materiais pessoais em seus processos criativos, sempre considerando a arte como um vetor capaz de enriquecer e compartilhar o campo de experiência individual e coletiva. Para tanto, me debruço sobre duas criações que flutuam entre os territórios das artes cênicas e da arte da performance: Stabat Mater, de Janaina Leite; e Mãe ou Eu também não gozei, de Letícia Bassit. Nesse percurso também apresento um trabalho artístico autoral, intitulado Pátria-mãe, com a intenção de experimentar os conceitos e procedimentos explorados na pesquisa. Os casos estudados são relevantes por causarem atravessamentos entre linguagens e entre vida e arte, o que faz com que interfiram na autonomia das artes e reinventem metodologias de trabalho. Situam-se, pois, nos limites entre real e autoficção, como reação direta às reivindicações de singularidade e não-isenção das suas poéticas. Relacionando teorias sobre arte, maternidade, feminismos, autobiografia e cena contemporânea, busco produzir um conhecimento crítico e sensível, que estimule a reflexão sobre o papel desempenhado pelas mães na sociedade atual, tendo como recorte a cena contemporânea.

Based on my experience and concern as a mother and artist, in this research I propose to investigate the links between motherhood, autobiography and the contemporary theater scene. I reflect on the place occupied by the mother from a feminist perspective, analyzing the dialogue between the scene and the aesthetic and political dimensions of this condition, considering the intersectional character and the plurality of subjectivities that characterize motherhood. I begin by questioning the way in which motherhood has been evoked in artistic works created by women who choose to use personal materials in their creative processes, always considering art as a tool capable of enriching and sharing individual and collective experiences. To do so, I focus on two creations that fluctuate between the territories of performing arts and performance art: Stabat Mater, by Janaina Leite; and Mother or I Also Didn't Come, by Letícia Bassit. Along the way, I also present an authorial work titled Pátria-mãe, with the intention of experimenting with the concepts and procedures I explored in this research. The cases I study in this thesis are relevant because they create points of contact across languages and between life and art, which causes them to interfere with the autonomy of the arts and reinvent work methodologies. They are situated, therefore, on the borders between real and self-fiction, as a direct reaction to the claims of singularity and non-exemption of their poetics. Relating theories on art, motherhood, feminisms, autobiography and the contemporary scene, my aim is to produce critical and sensitive knowledge that encourages reflection on the role played by artist mothers in today's society.