Análise funcional e estrutural de pacientes com encefalopatia e descargas periódicas lateralizadas no eletroencefalograma

Abstract

O eletroencefalograma (EEG) é um exame bastante útil na avaliação de pacientes com encefalopatia. As LPDs (do inglês “Lateralized Periodic Discharges”) são um padrão comum de EEG em pacientes gravemente enfermos. Eles são parte do “continuum” ictal-interictal. Os mecanismos destas descargas ainda permanecem em investigação. Várias etiologias podem estar relacionadas a esta apresentação neurofisiológica comum que geralmente ocorre de forma aguda e transitória. No presente estudo foram aplicadas técnicas de análise quantitativa do EEG e da neuroimagem para avaliação das LPDs. A hipótese principal é que alterações estruturais detectadas por neuroimagem se correlacionam com características quantitativas do EEG em pacientes com LPDs, refletindo possíveis mecanismos envolvidos na gênese e manutenção dessas descargas periódicas. O objetivo geral do estudo foi avaliar o perfil de pacientes que apresentam LPDs no EEG e, por meio da análise qualitativa e quantitativa, correlacionar com os achados da neuroimagem desses pacientes. Para esta avaliação, foram selecionados de forma retrospectiva 23 pacientes atendidos pelo setor de neurofisiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu com exames com a presença de LPDs e neuroimagem (tomografia computadorizada de alta resolução e/ou ressonância nuclear magnética) disponível para análise. Mapas de substância cinzenta cerebral foram extraídos, por meio de segmentação automática, e normalizadas em um mesmo espaço padrão. Para análise quantitativa do EEG foi utilizado o programa BESA com obtenção de imagens de intensidade das descargas. Esta avaliação foi voltada a solução determinística do problema inverso e localização da atividade periódica. Por fim, foi realizada análise estatística buscando correlação entre a densidade das descargas periódicas nos EEGs e a quantidade de substância cinzenta na neuroimagem em dois níveis: individual e em grupo. A análise individual mostrou correlação positiva entre os métodos em 56,5%, correlação negativa em 26,1% e não foi significativa em 17,4% dos pacientes. A análise do grupo revelou 14 áreas de correlação, sendo 13 áreas com correlação positiva localizados principalmente nas regiões do córtex frontal, temporal e parietal incluindo giro angular, fusiforme e orbital anterior. Como conclusão, LPDs estão relacionadas a aumento de substância cinzenta em parte dos pacientes. Este achado pode indicar alteração estrutural contribuindo para o mecanismo das descargas.