Da punição à consagração: interpretações político-espaciais da trama do "linchamento" dos Brito em Araraquara (SP) e a ressignificação do espaço funerário

Abstract

O presente trabalho buscou analisar, através da Arqueogeografia, a história e a espacialidade observada no Santuário dos Brito, localizado no Cemitério das Cruzes, em Araraquara/SP. O espaço funerário guarda os restos mortais de Rosendo Brito e Manoel Brito, vítimas de um brutal assassinato envolto em disputas políticas e ideológicas locais e, também, nacionais. Além disso, ele também guarda um misticismo presente na memória coletiva, que depositam nos personagens citados, a fé e acolhimento de seus supostos milagres, bem como, o medo que a destruição da cidade ocorra, caso a serpente, que representa o mau, seja liberada do subsolo da igreja Matriz de São Bento. Neste sentido, a pesquisa pretente entender as dinâmicas sócioespaciais envoltas do caso dos Brito, entendendo o Espaço enquanto ferramenta ideológica, bem como produto de uma moral social. Para este estudo, foi feito uma pesquisa bibliográfica sobre a cidade de Araraquara e o “Linchamento” dos Brito, além de visitas e observações em campo, inclusive na data de Finados, que é o período de maior visitação ao Santuário dos Brito. Para as analises e interpretações referentes a trama do evento “Linchaquara”, utilizamos as bases da Geografia, Arqueologia e da Arqueogeografia. A partir delas, entendemos que a população araraquarense, diante da brutalidade do assassinato de Rosendo e Manoel construíram uma memória que foi responsável pela ressignificação do espaço funerário onde estão os Brito. O misticismo carregado das práticas funerárias dos Brito, está tão internalizado na memória coletiva da cidade e é tão intenso, que foi capaz de apagar o primeiro significado do enterramento de Rosendo e Manoel e gerar um novo espaço com um novo significado. Antes, onde se via desprestígio, desprezo e punição, hoje, é um lugar consagrado para abrigar os restos mortais de dois milagreiros.

The present work sought to analyze, through Archaeogeography, the history and spatiality observed in the Santuario dos Brito, located in the Cemitério das Cruzes, in Araraquara/SP. The funerary space holds the mortal remains of Rosendo Brito and Manoel Brito, victims of a brutal murder involved in local political and ideological disputes and, also, national. In addition, he also keeps a mysticism present in the collective memory, which deposit in the aforementioned characters, the faith and acceptance of their supposed miracles, as well as, the fear that the destruction of the city will occur if the serpent, which represents evil, is released from the basement of the Igreja Matriz de São Bento. In this sense, the research intends to understand the dynamics socio-spatial aspects surrounding the Brito case, understanding Space as a tool ideological as well as a product of social morality. For this study, a bibliographical research was done on the city of Araraquara and the “Linchamento” of the Britos, in addition to field visits and observations, including on the date of Finados, which is the period of greatest visitation to the Santuario dos Brito. For analysis and interpretations referring to the plot of the event “Linchaquara”, we use the bases of Geography, Archeology and Archaeogeography. From them, we understand that the population of Araraquara, faced with the brutality of the murder of Rosendo and Manoel, built a memory that was responsible for the redefinition of the funerary space where the Britos are. the mysticism laden with the Brito's funerary practices, is so internalized in the city's collective memory and it is so intense, that it was able to erase the first meaning of Rosendo's burial and Manoel and generate a new space with a new meaning. Before, where discredit was seen, contempt and punishment, today it is a consecrated place to house the mortal remains of two miracle workers.