A descoberta dandista feminina brasileira

Abstract

O presente relatório final apresenta as atividades desenvolvidas em nível de estágio pós- doutoral entre 1º de setembro de 2023 a 1º de outubro de 2024 (período de 12 meses)1 e objetiva articular o viés dandista brasileiro à produção poética da Poesia Marginal dos anos 70 (que se tornou visível a partir da ditadura militar de 1964). Mesmo que tardiamente – com um distanciamento de diversas décadas –, a Poesia Marginal das mulheres encampou visivelmente a estética dandista (que se constituía na radicalização da tendência literária Decadentista), tanto no teor provocativo e reflexivo, como também no aprofundamento de temas-tabus, antes raramente encontrados em nossa literatura. O motivo deste distanciamento do dandismo finissecular masculino do século XIX para ressurgimento de seu ideário praticamente setenta anos depois, dá-se pela própria desigualdade social de gêneros imposta pela sociedade patriarcal – é preciso que nos lembremos que as mulheres só se tornaram cidadãs, com direito a voto, a partir de 1930. Antes disso, rebelar-se era muito perigoso, quase um suicídio para elas (leia-se por exemplo, a trajetória da vida de Pagu, mais adiante, no projeto de pesquisa); era raro aparecimento de poetisas que usavam sua voz para contestar a repressão a que eram submetidas, e algumas, inclusive, escondiam-se atrás de pseudônimos, para não serem difamadas por uma sociedade ferozmente preconceituosa, Não é de se admirar, pois, o lapso de tempo relativamente grande entre o Dandismo deles para o Dandismo delas.

This final report presents the activities developed at the postdoctoral internship level between September 1, 2023 and October 1, 2024 (a 12-month period)1 and aims to articulate the Brazilian dandist bias with the poetic production of Marginal Poetry of the 1970s (which became visible after the military dictatorship of 1964). Even if belatedly – ​​with a distance of several decades –, women's Marginal Poetry visibly embraced the dandist aesthetic (which constituted the radicalization of the Decadentist literary trend), both in its provocative and reflective content, as well as in the deepening of taboo themes, previously rarely found in our literature. The reason for this distancing from the male dandyism of the end of the 19th century to the resurgence of its ideology almost seventy years later is due to the social inequality of genders imposed by patriarchal society – we must remember that women only became citizens, with the right to vote, from 1930 onwards. Before that, rebelling was very dangerous, almost suicidal for them (read, for example, the trajectory of Pagu's life, later in the research project); it was rare to see female poets who used their voices to contest the repression to which they were subjected, and some even hid behind pseudonyms, so as not to be defamed by a fiercely prejudiced society. It is no wonder, then, that there was a relatively long gap between their Dandyism and their Dandyism.