A ilusão digital: discurso tecnofílico e ataque às humanidades na educação básica

Abstract

A nova reorganização produtiva exige dos trabalhadores dos mais diferentes setores maiores autonomia, criatividade e flexibilidade. Todas essas competências individuais derivam diretamente da apropriação de conhecimentos. Todavia, a ampliação dos saberes por parte dos indivíduos oportuniza a ampliação de sua massa crítica e do desenvolvimento de uma consciência de classe para-si, o que a forma de organização social capitalista não pode tolerar. A educação formal contemporânea encontra-se, pois, diante deste dilema: ao mesmo tempo que necessita instrumentalizar os indivíduos para o trabalho nesse atual nível técnico, não pode socializar todo e qualquer conhecimento sistematicamente elaborado. A contradição entre o desenvolvimento das forças produtivas e as relações sociais de produção encontra nos currículos contemporâneos a sua mediação no âmbito da educação. Nossa hipótese é que, diante de tal quadro, os currículos das escolas públicas serão marcados, em escala crescente, pela redução das humanidades no escopo de sustar a capacidade crítica e reprimir a sensibilidade. Em seu lugar, uma proposta de viés tecnicista em que a tecnologia se torna o elemento ideológico legitimador desse processo.

The new productive reorganization demands from workers from different areas greater autonomy, creativity and flexibility. All of these individual competences are directly derived from the appropriation of knowledge. However, the knowledge expansion by individuals provides opportunities for the expansion of their critical capacity and the development of a class consciousness for themselves, which the form of capitalist social organization cannot tolerate. Contemporary formal education is therefore faced with this dilemma: at the same time it needs to equip individuals to work at this current technical level, it cannot socialize any and all systematically elaborated knowledge. The contradiction between the development of productive forces and the social relations of production finds its mediation in the context of education in contemporary curricula. Our hypothesis is that, in view of this situation, the curricula of public schools will be marked, on an increasing scale, by the reduction of the humanities in the scope of suppressing critical capacity and repressing sensitivity. Instead of a proposal of a technicist bias, where technology becomes the ideological element that legitimizes this process.