Comparação dos níveis cérvico-vaginais de elafina de acordo com o status de infecção pelo HPV e presença de vaginose bacteriana

Abstract

O Papilomavírus Humano (HPV) é considerado o agente etiológico de infecções sexualmente transmissíveis mais comum ao redor do mundo. Quando há uma infecção ativa por HPV, pode ou não haver alterações no colo do útero, com possível progressão para neoplasias. A presença isolada do HPV não é fator determinante para a tumorigênese. Este processo depende de diversos fatores, como presença de um genótipo de alto risco oncogênico (hrHPV), hábito tabagista, iniciação sexual precoce e composição da microbiota cervicovaginal que, em estado de eubiose, é caracterizada pelo predomínio do gênero Lactobacillus spp. A vaginose bacteriana (VB) é a disbiose vaginal mais comum em mulheres em idade reprodutiva, caracterizada pelo aumento de bactérias anaeróbias, como Gardnerella spp. Mulheres com VB apresentam menor taxa de clearance viral do HPV. Na presença de lesões com HPV, diversos peptídeos antimicrobianos sofrem alteração na sua produção e liberação. Em particular, a expressão do peptídeo Elafina/Trappin-2, um inibidor de serino-proteases, é significativamente menor quando na presença de infecção pelo HPV. Dessa forma, o objetivo deste estudo consiste em comparar os níveis cérvico-vaginais de elafina em mulheres em idade reprodutiva de acordo com o status da infecção pelo HPV, bem como determinar se a alteração desse mediador durante a infecção pelo HPV está associada à VB. O presente estudo analisou a quantificação de elafina de 626 amostras cérvico-vaginais por ensaio imunoabsorvente ligado à enzima (ELISA) de acordo com status de infecção por hrHPV e composição da microbiota vaginal. Os dados da quantificação foram comparados utilizando os testes não paramétricos de Mann-Whitney e Kruskal-Wallis, com p<0,05 considerado significativo. Os valores de mediana de elafina foram significativamente mais altos em mulheres hrHPV-positivas com VB (1.390 pg/mL) em comparação àquelas com microbiota normal (1.079 pg/mL), p<0,0001. No grupo de participantes hrHPV-negativas, mulheres com microbiota vaginal normal apresentaram níveis estatisticamente maiores de elafina (mediana 1.594 pg/mL) em relação àquelas com VB (904 pg/mL), p<0,0001. Com relação à presença de infecção pelo hrHPV, independentemente da microbiota vaginal, os níveis de elafina não apresentaram diferença estatisticamente significativa quando comparados ao grupo que não apresentava a infecção viral. Concluindo, níveis elevados de elafina na infecção por hrHPV concomitante à VB sugerem envolvimento na resposta imunológica local em resposta a alterações na microbiota.

The Human Papillomavirus (HPV) is considered the most common etiological agent of sexually transmitted infections worldwide. When there is an active HPV infection, cervical alterations may or may not occur, with the potential progression to neoplasia. The mere presence of HPV is not a determining factor for tumorigenesis. This process depends on several factors, such as the presence of a high-risk oncogenic genotype (hrHPV), smoking habits, early sexual initiation, and the composition of the cervicovaginal microbiota, which, in a eubiotic state, is characterized by the predominance of the Lactobacillus spp. genus. Bacterial vaginosis (BV) is the most common vaginal dysbiosis in women of reproductive age, characterized by an increase in anaerobic bacteria, such as Gardnerella spp. Women with BV have a lower HPV viral clearance rate. In the presence of HPV-related lesions, various antimicrobial peptides undergo changes in their production and release. Specifically, the expression of Elafin/Trappin-2 peptide, a serine protease inhibitor, is significantly lower in the presence of HPV infection. Thus, the objective of this study is to compare cervicovaginal elafin levels in women of reproductive age according to their HPV infection status and to determine whether changes in this mediator during HPV infection are associated with BV. This study analyzed Elafin quantification in 626 cervicovaginal samples using enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA), according to hrHPV infection status and vaginal microbiota composition. Quantification data were compared using the non-parametric Mann-Whitney and Kruskal-Wallis tests, with p<0.05 considered significant. Median elafin values were significantly higher in hrHPV-positive women with BV (1,390 pg/mL) compared to those with a normal microbiota (1,079 pg/mL), p<0.0001. In hrHPV-negative group, women with a normal vaginal microbiota had statistically higher elafin levels (median 1,594 pg/mL) compared to those with BV (904 pg/mL), p<0.0001. Regarding the presence of hrHPV infection, regardless of vaginal microbiota composition, elafin levels did not show a statistically significant difference when compared to the group without viral infection. In conclusion, elevated elafin levels in hrHPV infection concurrent with BV suggest involvement in the local immune response to microbiota alterations.