Avaliação de depressão, ansiedade e estresse em adolescentes antes e após três e seis meses da aplicação do implante subdérmico de etonogestrel

Abstract

Introdução: A adolescência é um período marcado por transformações biopsicossociais que podem levar ao surgimento de transtornos psicológicos e psiquiátricos. Uma alternativa recente de contracepção para essa faixa etária é o implante liberador de etonogestrel, que induz anovulação por meio da liberação contínua de progestina. Os efeitos dos contraceptivos hormonais sobre o humor são controversos, especialmente em relação a métodos de uso mais recente. Objetivos: Avaliar as variações nos escores de saúde mental em adolescentes após a inserção do implante subdérmico de etonogestrel. Métodos: Trata-se de um estudo de coorte prospectiva, no qual foram incluídas participantes do sexo feminino, com idades entre 12 e 19 anos, atendidas no Ambulatório de Contracepção em Adolescentes do HC-FMB. Foram excluídas aquelas com transtornos psiquiátricos diagnosticados, gestantes, lactantes, usuárias de substâncias psicoativas e aquelas com dificuldades de comunicação. A avaliação foi realizada em três momentos, antes e após três e seis meses de uso do implante subdérmico de etonogestrel, por meio de entrevistas presenciais, utilizando a Escala de Depressão, Ansiedade e Estresse para Adolescentes (EDAE-A). Resultados: A amostra consistiu em 66 adolescentes, com idade mediana de 17 anos, sendo 54,6% solteiras e 71% já tendo iniciado a atividade sexual. Embora cerca de 50% das adolescentes apresentassem escores acima do normal nas subescalas de depressão, ansiedade e estresse, as variações entre os períodos não foram estatisticamente significativas. Por outro lado, o uso do implante foi associado a um aumento significativo nas queixas de sangramento, cefaleia, acne e queda de cabelo, além de uma redução na queixa de cólicas menstruais. Observou-se que adolescentes que relataram mais efeitos adversos também apresentaram mais queixas psicológicas. Ao realizar uma análise de subgrupos, dividindo a amostra entre participantes com mais e menos efeitos colaterais, e comparando o momento inicial com os seis meses de uso do contraceptivo, verificou-se o aumento dos escores nas pacientes com mais efeitos adversos, enquanto as pacientes com menos efeitos colaterais mostraram uma melhora nos escores psicométricos. Conclusões: O estudo concluiu que não houve mudanças significativas nos escores de depressão, ansiedade e estresse nos primeiros seis meses de uso do implante de etonogestrel. No entanto, foi observado que a presença de efeitos adversos pode impactar negativamente a saúde mental das adolescentes. Esses achados enfatizam a importância de um monitoramento cuidadoso e do suporte contínuo durante o uso desse método contraceptivo.

Introduction: Adolescence is a period marked by biopsychosocial changes that can lead to the emergence of psychological and psychiatric disorders. A recent contraceptive alternative for this age group is the etonogestrel-releasing implant, which induces anovulation through the continuous release of progestin. The effects of hormonal contraceptives on mood are controversial, especially in relation to the most recent methods of use. Objectives: To evaluate the variations in mental health scores in adolescents after the insertion of the etonogestrel subdermal implant. Methods: This is a prospective cohort study, which included female participants, aged between 12 and 19 years, treated at the Adolescent Contraception Outpatient Clinic of HC-FMB. Those with revealed psychiatric disorders, pregnant women, lactating women, users of psychoactive substances and those with communication difficulties were included. The evaluation was performed at three time points, before and after three and six months of use of the etonogestrel subdermal implant, through face-to- face interviews, using the Adolescent Depression, Anxiety and Stress Scale (EDAE- A). Results: The sample consisted of 66 adolescents, with a median age of 17 years, 54.6% of whom were single and 71% had already initiated sexual activity. Although approximately 50% of the adolescents presented scores above normal on the depression, anxiety and stress subscales, the variations between the periods were not statistically significant. On the other hand, the use of the implant was associated with a significant increase in complaints of bleeding, headache, acne and hair loss, in addition to a reduction in complaints of menstrual cramps. It should be noted that adolescents who reported more adverse effects also presented more psychological complaints. By performing a subgroup analysis, dividing a sample between participants with more and fewer side effects, and comparing the initial moment with six months of contraceptive use, an increase in scores was observed in patients with more adverse effects, while patients with fewer side effects demonstrated an improvement in psychometric scores. Conclusions: The study concluded that there were no significant changes in depression, anxiety and stress scores in the first six months of use of the etonogestrel implant. However, it was observed that the presence of adverse effects can impact the mental health of adolescents. These findings emphasize the importance of careful monitoring and continuous support during the use of this contraceptive method.