Construção teórica e análise empírica da porosidade de relacionamento entre emissoras e públicos na radiodifusão no Brasil e no Reino Unido

Abstract

O jornalismo enfrenta, no cenário contemporâneo, o desafio de abrir-se ao escrutínio do público, mantendo sua legitimidade e autonomia, particularmente quando consideramos a atividade jornalística praticada por emissoras de televisão mantidas pelo poder público, no contexto de exigências advindas do papel da comunicação pública nas democracias contemporâneas. A abertura pode ocorrer pela adoção de mecanismos de participação e accountability, que estabelecem relacionamentos com o público sob diferentes arranjos e complexidades. Nesse contexto, propomos o conceito de porosidade de relacionamentos entre o jornalismo e seus públicos nas dimensões de participação e accountability. Esta tese investigou os relacionamentos entre emissoras de TV públicas e seus públicos, estabelecidos por mecanismos de porosidade. Comparamos concepções e práticas existentes no Brasil e no Reino Unido, país reconhecido mundialmente por formatos inovadores de governança na radiodifusão pública. Por meio de metodologia de análise de conteúdo de programação, análise documental de manuais e códigos editoriais e entrevistas semiestruturadas com jornalistas, caracterizamos mecanismos (práticas, canais e dispositivos) de porosidade adotados por 27 emissoras. Analisamos como tais realizações podem impactar a criação e manutenção de valores de responsabilidade social, inovação e credibilidade do jornalismo. Os resultados sugerem que, em um sistema de radiodifusão regulado, as emissoras possuem melhor desempenho na porosidade, e em ambientes pouco regulados as instâncias internas de responsabilização e a autorregulação contribuem para o estabelecimento de porosidade. Os resultados indicam, ademais, que inciativas de autorregulação, expressas em compromisso organizacional com a porosidade, são determinantes para a qualidade dos relacionamentos entre o jornalismo e seus públicos, e que a regulação tende a gerar e dar sustentabilidade a instâncias externas e internas de responsabilização. Sugerimos diretrizes para a formulação de mecanismos de porosidade, baseadas nos resultados, necessárias em um contexto de busca por instrumentos capazes de reverter o déficit de credibilidade do jornalismo na atualidade e aumentar a competitividade diante das mídias digitais.

Journalism faces, in the contemporary scenario, the challenge of opening itself to the public's scrutiny, maintaining its legitimacy and autonomy, particularly when we consider the journalistic activity of broadcasters maintained by the State in the context of arising demands over the role of public broadcasting in contemporary democracies. Openness can occur through the adoption of participation and accountability mechanisms that establish relationships with the public under different arrangements and complexities. In this context, we propose the concept of porosity of relationships between journalism and its audiences established by the dimensions of participation and accountability. This thesis investigated the relationships between public TV broadcasters and their audiences, founded by porosity mechanisms. We compare existing concepts and practices adopted in Brazil and in the United Kingdom, country recognized worldwide for innovative governance formats in public broadcasting. Through the methodology of content analysis of programming, documents analysis of guidelines and editorial codes, and semi-structured interviews with journalists, we characterize porosity mechanisms (practices, channels, and devices) used by 27 broadcasters. We analyse how such achievements can impact the creation and maintenance of values of social responsibility, innovation, and credibility in journalism. The results suggest that, in a regulated broadcasting system, broadcasters have better performance in porosity, and in poorly regulated environments, internal instances of accountability and self-regulation contribute to the establishment of porosity. The results also indicate that self-regulatory initiatives, expressed in an organizational commitment to porosity, are determinant for the quality of the relationships between journalism and its audiences, and that regulation tends to give sustainability to external bodies and internal accountability. Based on the results, we suggest porosity guidelines, that seems to be required in a context of searching for instruments capable of reversing the credibility deficit of journalism today and increasing competitiveness in the face of digital media